Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Viver na caatinga por si só já é uma tarefa árdua e requer toda uma dinâmica
Ab’Saber (1999).
1
precipitação guardam alta dose de irrealidade, servindo como
mera referência genérica, para efeito de comparação com as
regiões úmidas e subúmidas do país (..) os terrenos que
constituem a região semi-árida nordestina, em áreas de
vertentes e interflúvios das colinas sertanejas, possuem uma
complexa associação regional de solos, totalmente diversa de
todos os outros conjuntos existentes no país. Sua especificidade
decorre da presença de solos igualmente distanciados, tanto dos
solos salinos típicos quanto dos excessivamente carbonáticos.
Por outro lado, raramente se aproximam das características dos
solos oxidados, que comportam concentrações de sesquióxidos
de ferro e alumina (oxissolos, latossolos). Estes últimos restritos
apenas às serras úmidas” (Ab’SABER, 1999:10-11).
porque, com uma temperatura média alta com pouca chuva, é a região mais povoada
“entre os quais, quatro milhões de camponeses sem terra - marcados por uma relação
telúrica com a rusticidade física e ecológica dos sertões, sob uma estrutura agrária
Ainda, segundo o autor, nessa porção do nordeste há "(...) muito mais gente do
humano, atípico para uma região semi-árida, acentua a debilidade do seu ecossistema.
2
É de fundamental importância para aqueles que se interessam pela problemática
interplanálticas, onde os altos sertões típicos são todos aqueles que de alguma forma se
3
vazantes do leito dos rios até os altos secos e pedregosos das colinas sertanejas. Mas
muitos desses homens não têm nada de seu, a não ser a esperança e a força do seu
trabalho.
da Capivara não é diferente, pois é uma prática comum ainda hoje os homens irem
para a região de Serrana, no interior de São Paulo, na época do corte de cana, trabalhar
nas usinas de álcool. Outro destino muito procurado pelos sertanejos dessa região são
esse contingente humano no seu lugar de origem, com um padrão de vida digno, é o
discurso dominante nas ações que tem por objetivo promover o desenvolvimento da
1.2. A População
4
O povoamento da região da Serra da Capivara se originou principalmente dos
No final do século XIX, início do século XX, as pessoas construíram suas casas
na confluência do baixão “vereda” com o rio Piauí, que formava um baixio de boas
úmido, o solo era cercado por águas paradas durante o inverno e sujeito às inundações
nas grandes enchentes. Foi assim que em várias oportunidades o local foi vítima de
grandes inundações, arrastando uma quarta parte das casas e provocando outros tantos
pessoas, mercadorias, utensílios para as partes mais altas que não tinham sido atingidas
pelas águas.
destruídos.
começo do século XIX, quando a região era densamente habitada por uma população
5
Os registros do começo do extermínio indígena são do século XVIII, com a
posseiros.
Por volta da década de 20 do século XIX, deu-se início uma verdadeira guerra,
que durou 8 anos, quando “sua majestade, o senhor D. João”, confiou a tarefa de
expulsar e se apoderar das terras dos Pimenteiras, a José Dias Soares, além de resgatar
Contudo, ele devia evitar o derramamento de sangue. Mas o famoso “cel. José
Dias” teve a base da sua empreitada na guerra e extermínio ou escravização dos índios.
nata e o requeijão.
econômico da região foi lento. Formou-se uma sociedade rústica de fazendeiros até
6
1890, quando a maniçoba tornou-se um produto rentável, perdurando até as primeiras
habitada, em grande parte, por uma população que vive abaixo das necessidades
maior valor agregado ao produto, é feito fora da região. As demais culturas têm pouca
expressão.
área do Parque, mas a extração da lenha ainda é significativa na região, mesmo sendo
7
A pecuária de médio porte constitui a principal atividade produtiva voltada para
manejo. O animal é vendido “em pé”, ou seja, vivo. A pele é comercializada pelo
são imóveis abaixo do módulo fiscal da região (70 ha), com uma área média de 30 ha.
Outros 31% são pequenos produtores de até 140 ha, perfazendo um total de
91% dos imóveis, ocupando 38% das terras, o equivalente à área de apenas 15 outros
mesma quantidade de terras que é utilizada por 1.018 pequenos produtores. (IBGE,
2007)
Observamos ainda, que 83% da área total dos imóveis se encontram ociosa, o
como base o trabalho de mestrado da profª Emília Pietrafesa de Godói, que estudou a
da cultura local.
8
Para tratar do período que antecede à criação do Parque Nacional Serra da
em que os camponeses, sentindo a pressão sobre seu território, ativam sua memória
coletiva.
Contudo, aqui, vamos nos ater aos elementos que possam nos dar um quadro de
anos setenta ainda não havia ocorrido o desmembramento dos municípios, e a maior
parte das terras que mais tarde constituiria o Parque Nacional Serra da Capivara
microrregião que leva o seu nome. À época estudada pela autora, o município contava
com uma população de 57.721 habitantes e era como continua sendo, eminentemente
Iremos encontrar as raízes para tal situação no fato de que a maior concentração
9
Desde o século XVII, ainda sob a égide do sistema de sesmarias, deu-se início
posseiro obstinado e o sesmeiro, este habitante das cidades, muitas vezes na Bahia,
tendo suas terras trabalhadas por terceiros – agregados ou foreiros (Porto, 1955)”
(GODOI, 1999:43)
sítio e posse, para que entendamos mais à frente essas noções dentro da dinâmica local.
No caso da região em questão, após debate sobre a noção de posse, a autora nos
10
A necessidade de subir a serra, ultrapassando os limites da fazenda, pode ser
Esse subir a serra contribuiu para que a origem dos direitos sobre a terra se
pessoa pelo seu tronco familiar, bem como a identificação da propriedade, ou seja,
Para além das fronteiras físicas das fazendas, quando subiram a serra, os
moradores da região também avançavam nas fronteiras sociais, pois, segundo GODOI
“os limites deste grupo não são dados exclusivamente pela área
territorial da primitiva fazenda, mas por um elemento
simultaneamente de ordem histórica e simbólica, ou seja, o
partilhar de uma história primordial e paradigmática: a origem
da “grande família”. (1999:88)
A autora nos mostra que o muro e o quintal são dois espaços sempre contíguos
11
casa, formam uma unidade, mais pelo manejo das relações no interior dos mesmos do
“fase no seu próprio ciclo populacional” 2, não obedecendo a nenhuma posição rígida.
Entretanto, é fato que o muro, o quintal e a casa são espaços marcadamente femininos,
adolescência, onde as mesmas tarefas são desempenhadas por meninos e meninas, sem
distinção.
Outra prática comum é a tomada para si de funções masculinas por parte das
mulheres, ocasionadas pela migração sazonal (maio a agosto), quando muitos homens
estão ausentes ou, ainda, pela diminuição da participação dos homens na unidade
2
FORTES, M. “Introduction”, in J.Goody (Ed), The Developmental cycle in domestic groups.
Cambridge, pp.1-4, 1969 . Citação da autora
12
produtiva, em função da busca de trabalhos temporários para os períodos de seca,
Ela prossegue em sua análise mostrando que no âmbito da casa são atribuições
propriamente domésticas.
manhã pra roça colher o feijão para o consumo do dia, além de preparar uma refeição
extra, levada por volta das dez horas na roça para os homens que já se encontram no
O muro, via de regra, tem menos de uma tarefa (625 braças, sendo uma braça
mulher.
Paulista, descobriu que as garatujas dos caboclos que enfeitavam as paredes de muitas
roças tinham importância para a ciência e, voltando a São Raimundo Nonato, enviou as
fotos das “pinturas dos neguinhos” para a arqueóloga Niède Guidon, que ficaria
13
Detalhe de pintura rupestre. Foto: André Pessoa
impressões obtidas nos anos 60 não faziam jus ao tesouro arqueológico que se
ser objeto de estudos aprofundados, tanto ao nível cultural, pelos vestígios facilmente
14
preservassem tanto o patrimônio cultural quanto o patrimônio natural encontrados.
Unidade de Conservação.
classificada como área semi-árida, com paisagens variadas na serras, vales e planícies,
Por fim, na ótica da equipe de pesquisa, a motivação social aparecia por meio
turismo.
Naquele momento eles entendiam que, sob o argumento de que com paisagens
para a região.
15
1.3.1. O Parque Nacional Serra da Capivara
fazendo limite com os municípios de São Raimundo Nonato, Cel. José Dias, João
Costa e Brejo do Piauí. Quando da sua criação, sua área era de aproximadamente
100.000 hectares, pelo decreto nº 83.548 de 05/06/1979, e teve sua área ampliada para
Por decreto presidencial nº. 99.193 de 12/03/90 foram criadas três Áreas de
perímetro de 60 quilômetros;
16
Em 1988 foi assinado o convênio entre a FUMDHAM e o IBAMA para a
dentre as opções legais, esta permite uma ação antrópica na área de entorno.
17
As pesquisas científicas, quando autorizadas pelo órgão responsável pela sua
dos pesquisadores da Missão Franco-Brasileira não foi uma ação isolada, mas estava
pautada numa discussão que se dava ao nível mundial e que serviu de subsídio para as
Para LEITE E MEDINA (2001), foi a partir da segunda metade do século XX,
No mesmo período foi criado o Clube de Roma, tendo como membros trinta
18
Esse grupo publicou o relatório “The limits of growth” (os limites do
o Meio ambiente, que resultou na criação do Programa das Nações Unidas para o Meio
(PIEA) para enfrentar a crise ambiental no planeta, tendo como evidência o princípio
n° 10 da Conferência:
compreendendo meio ambiente “não somente o meio físico biótico, mas também o
19
Após 10 anos de Tbilisi foi realizada em Moscou a Conferência Internacional
serem aplicadas a partir dos anos 90. Foi também nesse encontro que se reconheceu a
diversos países.
O Brasil, que até então não era muito presente, chegando mesmo a ser omisso,
ambiental no artigo 225 do capítulo VI, no título Da Ordem Social, que trata:
Janeiro, que contou com a participação de 170 países. Nesse encontro foi elaborada a
20
1.3.3. – O Parque e a sua dinâmica
estabelecida entre a natureza e o uso pelo homem dos recursos naturais disponíveis.
Milton Santos, por exemplo, não trabalha diretamente com o conceito de meio
racionalizada pelo homem, instrumentalizada pela razão. Essa idéia remete a uma
21
ambiente não se explica apenas pela organização das forças físicas da natureza, mas
fato, não existe consenso sobre esses termos nem mesmo na comunidade científica
Por outro lado, muitos estudiosos da área ambiental consideram que a idéia
para a qual se vem dando o nome de “meio ambiente” não configura um conceito que
possa ou que interesse ser estabelecido de modo rígido e definitivo. É mais relevante
estabelecê-lo como uma “representação social”, isto é, uma visão que evolui no tempo
intensa. Sistemas inteiros de vida vegetal e animal são tirados de seu equilíbrio. E a
riqueza, gerada num modelo econômico que propicia a concentração da renda, não
22
Hoje esta relação está permeada com o discurso do meio ambiente. De um lado,
ele vem direcionado para interesses próprios e muitas vezes mundializados. A mídia,
tempo.
que lutam para diminuir o acelerado ritmo de destruição dos recursos naturais ainda
Para outros, a questão ambiental representa quase uma síntese dos impasses que
século XXI, não é só uma crise ambiental, mas uma crise civilizatória e que a
natureza, de poder, de bem-estar, tendo por base novos valores individuais e sociais.
Para outros ainda, o homem deveria se comportar não como dono do mundo,
23
dessa natureza, respeitada e celebrada por diversas culturas tradicionais antigas e
contemporâneas.
fatores estratégicos. O desnível econômico entre grupos sociais e entre os países, tanto
Com a constatação dessa inevitável interferência que uma nação exerce sobre
outra por meio das ações relacionadas ao meio ambiente, a questão ambiental torna-se
exigências, com base numa percepção de mundo em que as ações sejam consideradas
24
ambiente, o que leva os países a se posicionarem quanto a decisões ambientais de
alcance mundial.
de conservação foi adotado para o Parque Nacional Serra da Capivara, sendo um dos
Estados Unidos com o objetivo de proteger a vida selvagem ameaçada pelo avanço da
civilização urbano-industrial.
mundo.
biosfera pelo ser humano são inevitáveis, sendo necessário conservar pedaços do
mundo natural em seu estado originário antes da intervenção humana - lugares onde o
ser humano possa reverenciar a natureza intocada, refazer suas energias materiais e
definido pelo Estado, cujas autoridades decidem as áreas a serem colocadas sob
modo nenhum dessas decisões. Mais que isso, as decisões costumam ser mantidas em
25
sigilo até sua transformação em lei, justamente para evitar movimentações sociais que
Esse modelo embute uma dicotomia, um conflito entre ser humano e natureza,
pois acaba por supor que as comunidades locais não são capazes de desenvolver um
manejo mais sábio dos recursos naturais. Essa suposição, em alguns casos, se torna
escala. Mas esse fato não pode ser tomado como a verdade absoluta. Outro fator que
contribui para o conflito é acreditar que essas áreas podem ser perpetuadas num estado
de natural equilíbrio.
humanas.
origem. Mesmo tendo que sair das terras, que hoje faz parte da Unidade de
dos recursos naturais inerentes ao seu modo de vida e sobrevivência passaram a ser
26
Esse modelo acaba trazendo conseqüências tão indesejadas quanto a
principalmente, para outras regiões do Brasil como, por exemplo, a região canavieira
Os que não conseguem ou não querem mudar para novas áreas são obrigados a
Muitas vezes passam a encarar os recursos naturais da área como perdidos para sua
comunidade. Em função disso, a população não contribui nas ações em prol do manejo
interior da própria área, o que agrava ainda mais o conflito, principalmente em relação
ao IBAMA.
não são cumpridos. Ao mesmo tempo em que as populações locais são incriminadas e,
27
preservação da sociobiodiversidade e, finalmente, da credibilidade e aceitação dos
malefícios desse modelo também foram tentadas, como a implantação dos projetos
pesquisas desde os anos 70, bem como desencadeou o processo de criação do Parque
28
convênio assinado em 1994, a co-gestão do parque. Esta experiência de co-gestão
permanece como uma das poucas experiências do tipo no Brasil, e foi o que viabilizou
parque está submetido. Uma gestão que não distingue o que é público e o que é
Capivara que, além dessa parcela da população ter total desconhecimento do papel do
IBAMA na sociedade, eles também não assimilam que o trabalho de preservação pode
o diabo que transformou suas vidas “em um inferno”” (CASTRO, 2004:95. Grifos da
autora).
29
pela administração do Parque são os elementos principais do clima de conflito latente
recursos que os agentes governamentais e amplia seu campo de ação, muitas vezes,
local como uma organização não governamental mais forte que o próprio Estado,
arqueológicos seriam mínimas se a população local não fosse informada sobre o que
ligados à apicultura, cerâmica artesanal e seis escolas no entorno, na zona rural, onde
era oferecido o ensino básico e assistência médica, além de incentivar o turismo como
Com essa ampliação das atividades da FUMDHAM, ela assume funções que
30
1.4.2.1 – Educação e Saúde
comunidade Sítio do Mocó, situado ao sul do parque, no município de Cel. José Dias.
cuidavam das hortas. Além disso, as professoras passavam por cursos de formação em
arqueologia.
agentes.
31
Na tentativa de dar continuidade ao programa, a FUMDHAM buscou a
uma vez que os mesmos só podem ser liberados pelo Estado para o poder público
local.
até hoje.
1.4.2.2.1. Turismo
Naquele momento, o turismo foi eleito como motor para gerar desenvolvimento
para a região, tendo o Parque como principal atrativo. Para tanto, foram solicitados
arredores.
32
A região é considerada pelo Plano Diretor do Turismo Arqueológico e Plano
como apta para a implantação de um dos principais pólos turísticos nacionais, devido à
1.4.2.2.2. Apicultura
33
retorno. Dentro da cultura tradicional, a prática extrativa do mel se dava através da
derrubada da árvore e da queima do enxame para se tirar o mel. Esse mel era colhido
sem nenhum cuidado com a higiene e ainda era contaminado com as cinzas da queima
do enxame.
Essa prática extrativista é agressiva à natureza, uma vez que, além de provocar
prejudica muito o sistema de polinização da caatinga. Entretanto, tal atividade não era
considerada rentável e não era amplamente praticada como forma de gerar recursos.
um mel de qualidade.
Mocó, no município de Cel. José Dias. Além de toda infra-estrutura necessária, cursos
3
Local onde se faz a primeira manipulação do mel, para que o produto chegue em tambores, já no
estado líquido à fábrica de envaze.
34
através dos intermediários, que manipulavam o preço do produto de acordo com seus
próprios interesses.
segurança da continuidade de recursos para o projeto, este4 passa a sofrer com o corte
venda do complexo apícola a um dos grupos empresariais mais fortes do Piauí – Grupo
Jorge Batista.
intermediários.
1.4.2.2.3. Cerâmica
4
“De acordo com Guidon, a idéia inicial do parque era construir uma série de projetos sociais para
atender a população, o que acabou não aconteceu por falta de recursos. "Tivemos que fechar algumas
escolas construídas na região do parque porque não tínhamos como mantê-las", exemplifica.
http://www.comciencia.br, Atualizado em 18/03/05.
35
Da mesma forma que a apicultura, no início dos anos noventa, dada a grande
variedade de argilas que a região possui, a cerâmica foi outra atividade incluída nos
flora da caatinga.
padrões rigorosos, os produtos têm certificação, por serem produtos socialmente justos
Contudo, não podemos nos esquecer que o sucesso da cerâmica se deu a partir
do momento que se tornou uma empresa privada que visa o mercado, se distanciando
da proposta inicial de inclusão social das comunidades, numa dimensão maior que a
36
Tanto o projeto da apicultura como o da cerâmica avança na construção física e
tecnológica, bem como na formação dos produtores, contudo, não decola em direção
gerencial dos produtores dentro dos empreendimentos cria uma relação de dependência
em relação aos recursos dos projetos. Quando esgotados tais recursos, os projetos se
projeto foi planejado corretamente, mas o que não levou eles à frente foi a inexistência,
natural do Parque e os resultados, ainda que aquém das expectativas, dos projetos
das comunidades a contar com energia elétrica, estradas de acesso, sendo as principais
captação de água da chuva na maioria das propriedades, telefonia por via convencional
auto-suficiente, uma vez que tal processo de desenvolvimento não estava previsto no
projeto.
37
direção ao conceito de desenvolvimento local. Para compreender melhor esse
tal conceito.
38
Capítulo 2: DEBATENDO SOBRE DESENVOLVIMENTO LOCAL
Uma vez que o Parque Nacional Serra da Capivara está inserido em um dado
envolve os laços que se formam entre os agentes que pertencem ao lugar: indivíduos,
governamentais, entre outros. Também tem grande peso as interações com o ambiente
externo.
sócio-territorial, o que lhes permite ser capaz de mobilizar seus integrantes em torno de
Outros espaços, no entanto, inibem esses processos, num ambiente que “apóia-
39
população tem acesso aos meios necessários e suficientes para o desenvolvimento
quanto se está produzindo para como isto está afetando a qualidade de vida da
população. Dessa forma, para atingir o desenvolvimento humano temos que reduzir a
do bem-estar das pessoas. Para tanto, é necessário lembrar que esse modelo precisa ser
criatividade”.
246).
40
Muito embora essa discussão tenha surgido como instrumental para favorecer o
dos seus mercados, ela incorpora outras dimensões, uma vez que se reconhece a
vínculos que estabelecem nas suas relações sociais. Isso não significa que nos espaços
Abre-se, com essa idéia, a oportunidade para que instituições que atuem
transformação dos lugares não deve ser subestimada. Afinal, esse conjunto de ações
vislumbrada forma de atuação, uma vez que consistem num meio à margem do
mercado, baseando-se em relações outras que não apenas nas excludentes transações
41
solidariedade, ao contrário do que SANTOS5 (2005) denomina por “sociabilidade
territorial deve considerar os arranjos sociais formados pela comunidade local, suas
A maneira como se molda esse contexto, por sua vez, torna-se uma
cidadãos. Esses elementos tão importantes têm sido estudados através da recente
impossíveis para as pessoas individualmente, ou que seriam muito mais custosas caso
5
De acordo com Santos (2005), um dos maiores problemas da sociedade contemporânea de consumo é
que ela se apóia fundamentalmente numa sociabilidade de mercado, que empobrece as relações sociais
na medida em que as pessoas passam a compreender as demais como ameaças ou como fonte de ganhos,
ao invés da convivência pautada nos valores da solidariedade humana
42
Nas palavras de DOWBOR (2006ª: 12), a palavra-chave é “conectividade”, na
medida em que “o problema de ser grande já está deixando de ser essencial, quando
Nas palavras do autor, isso implica reconhecer que a interação entre os agentes
capital social, que se soma ao capital físico, ao capital humano, ao capital natural e ao
potencializador dos outros fatores, sendo geralmente abordado a partir das redes de
instituições geralmente possuem capital social em maior escala, desde que existam
por Robert Putnam6 envolve três categorias: uma primeira diz respeito aos vínculos
6
Robert Putnam, professor de Economia norte-americano, é um dos maiores responsáveis pela
emergência da concepção de capital social, a partir dos seus estudos realizados sobre o caso italiano
denominado por terceira Itália, onde a cultura local de interação entre os agentes teria desencadeado o
processo de desenvolvimento econômico que aquele território assistiu nas últimas décadas do século
passado. De acordo com Cerullo (2006), a abordagem desse autor quanto ao capital social difere de
outra destacada corrente, a neo-institucionalista, na medida em que, para esta última, as agências
públicas encontram-se numa “posição central como incentivadoras de cooperação e de formação de
43
formados por agentes em posição socioeconômica semelhante (bonding social capital),
capital), que embora apresentem laços mais fracos, permitem a integração de agentes
uma ação que depende em muito da capacidade das organizações locais em promover
Nos lugares cada vez mais conectados e interdependentes do mundo atual estão
autóctones, de uma “ordem global” (SANTOS, 1996:272). Esta é a razão pela qual os
redes sociais de engajamento cívico entre os cidadãos”. Já na posição de Putnam, são os interesses
individuais ou comunitários os elementos mais potenciais para a emergência de comunidades ativas e
independentes, um processo que seria prejudicado com a intervenção direta do Estado. Ponto do qual
discordamos, pois entendemos que em algumas regiões a intervenção direta do Estado se faz necessária
através de políticas públicas de ações afirmativas.
44
problemas atuais, via de regra, não podem ser completamente entendidos e analisados
muitas vezes indispensáveis; por outro, tais ações devem ser mediadas e reguladas em
contingentes”, o lugar possui sua própria ordem a ser acionada diante das demandas e
(SANTOS, 1996:272).
Eis a dimensão humana identificada pela relação entre as pessoas, entre estas e
dialética entre elementos naturais e humanos, está associada à busca por estratégias
45
Está claro que a elevação da produtividade e a conquista de mercados
pública na busca por alternativas que possibilitem a inclusão social via participação
Sobre a configuração territorial, VEIGA (2002:35) coloca muito bem que esta
não deveria ser ignorada pelos formuladores das políticas públicas, porque é necessário
brasileira de considerar urbana toda sede de município sejam quais forem suas
Capivara, pois a mesma é formada por vários pequenos municípios que, sem uma ação
46
entender a necessidade de novas formas institucionais de arranjos, coordenação,
como uma oportunidade de consumo produtivo, fazendo com que muitas comunidades
nevrálgico da Serra da Capivara, pois sua população ainda não atingiu o patamar de
produtivo.
valorizada economicamente.
47
Em relação ao patrimônio, VEIGA afirma que este permite uma diferenciação,
investimentos.
48
tecnológicas (BRACYK, COOKE and HEIDEMEIDR, 1999) e ciência política
(LOCKE, 1994).
políticos.
MATOS (2005) destaca, contudo, que esse novo paradigma já vem rompendo
49
tecnológica, partindo de possibilidades reais dentro de uma evolução dialética nas
possam articular o caráter subsidiário dos interesses entre países e regiões com
principalmente porque defende o homem e sua qualidade de vida sobre a terra, como
melhor a partir do local. O global e o local são complementares, criam sinergia social e
econômica.
Contudo, não se pode esquecer que o papel da sociedade civil, aqui entendida
por movimento e por instituição, com ações coletivas desenvolvidas por uma
50
pluralidade e heterogeneidade de atores no sentido da democratização da sociedade e
incipiente, pois é ele que ainda executa a ação de agente promotor e regulador do
coordenação por parte dos poderes locais não responde a um modelo único, dada a
51
possibilitam criações institucionais harmonizadas de forma consciente, estratégica e
WOLFF (1991) afirma que este novo paradigma tem seu alicerce no
transnacionais.
52
tradições e os modos diferenciados de desenvolvimento e avança no seu pensamento
desenvolvimento local, pois não exclui o Estado nem os agentes econômicos como
Aqui o local aparece com certa autonomia, porém, articulado globalmente e o sentido
O segundo autor especifica que o alvo prioritário das iniciativas locais devem
ser as pequenas e médias empresas que, a longo prazo, possuem um maior potencial de
53
absorção de mão-de-obra. Nesse sentido, o autor situa como papel do governo local a
dos agentes econômicos e dirigentes políticos locais. A orientação, nesse caso, seria
tecnologias, melhoria dos serviços e da paisagem urbana para tornar a cidade mais
54
O autor denomina de desenvolvimento auto-sustentável, que seria uma
para duas formas de realização: uma liberal, voltada para administração pragmática
que poderia ser a elitista, e outra radical, que enfatiza a justiça social e a participação
cidades ou regiões que não têm como desenvolver vantagens comparativas a menos
55
que estabeleçam as relações intermunicipais, redefinindo o território como aponta
VEIGA (2002).
concentração dos piores indicadores sociais estão fortemente presentes pode oferecer
modelo de sociedade, “novos olhares” também estão sendo lançados sobre o meio rural
que, aos poucos, está sendo reconhecido como “portador de soluções”. Sendo assim, a
muito embora num ritmo mais lento em comparação aos países da União Européia.
Wanderley procura chamar a atenção para uma dupla face do “mundo rural”
56
particularidades de certos espaços ou certos grupos sociais”
(WANDERLEY, 1997: 39)
construir e acumular um capital social que seja capaz de desvelar os potenciais dos
homens e mulheres do campo nos seus locais de origem, perpassando pela vida e pelo
1998).
Uma das grandes transformações que ocorreu no meio rural foi a diversificação
sociais que podem dinamizar ou se tornar fonte de conflito, expresso na distinção que
57
“para os primeiros, a presença de “estranhos” pode provocar
sentimentos de que o seu ambiente de vida não corresponde
mais a um espaço de interconhecimento, no qual está inscrita
sua própria história social, e que ele pode ser profundamente
afetado pelos usos da terra e das paisagens rurais para fins
diferentes” (WANDERLEY, 2000:98-99. Grifos da autora),
que é rural e dos usos que podem ser dados aos espaços rurais.
cultural existente.
Quanto aos distintos atores coletivos, que estabelecem entre si relações sociais
variadas, estes passam a disputar o uso daquele espaço rural, mas não atingem a
completamente:
58
desenvolvimento territorial e o lugar da agricultura e dos agricultores neste novo
contexto. Entretanto, para este estudo nos ateremos apenas às duas primeiras questões.
distribuição desigual no espaço da riqueza, fazendo com que a população que habita
59
2.2.1.2. As políticas de desenvolvimento territorial
local, com sua história e sua dinâmica social interna e redes de integração com o
conjunto da sociedade em que está inserida. O território precisa ser percebido como
fazendo com que a valorização do patrimônio natural e cultural de cada localidade seja
60
2.3. – Conceituando Identidade
expondo perspectivas que devem ser objeto de investigação dos cientistas sociais.
61
é uma recusa, uma constrição voluntária de experiências que o
eu comum pode se permitir”. (SENNETT, 1988:378).
de outro:
problemas para a identidade. A busca por uma hegemonia proposta e controlada pelo
62
isso, percorre um trajeto em que, de um lado, está a regulação; e, de outro, a
(emancipação).
Para demonstrar melhor essas oscilações, ele propõe uma relação entre
subjetividade e cidadania, entendendo que esta última é mais restrita e exemplifica essa
distinção por meio da teoria liberal, na qual a sociedade (enquanto sociedade civil) não
indivíduo.
63
Outra relação de tensão e, ainda mais complexa, é a relação entre cidadania e
constitutivos.
política e, “[...] em última instância, uma nova qualidade de vida pessoal e coletiva
Olhando por este prisma, podemos pensar que a comunidade sofreu uma
social.
64
“estranhamento”, onde o homem não se reconhece como constituinte desse processo.
Para ampliar o debate, far-se-á uma incursão nas idéias de GIDDENS (1991) sobre o
assunto.
desenvolve essa relação, onde situações tão diferentes e localizadas estão diretamente
especificidades.
Esse dilema pode, talvez, ser mais bem compreendido por meio da exposição
constante:
65
“[...] – o mundo que se transforma gradativamente da
familiaridade do lar e da vizinhança local para um
tempo – espaço indefinido – não é de modo algum um
mundo puramente impessoal... Vivemos num mundo
povoado, não meramente um mundo de rostos anônimos,
vazios, e a interpolação de sistemas abstratos em nossas
atividades é intrínseco à sua realização”. (GIDDENS,
1991:144)
limites e imposições.
com CIAMPA (1984). O emprego popular de tal termo apresenta-se marcado por uma
reflete a dificuldade nos mais variados campos do conhecimento que têm se dedicado a
66
“A importância conferida ao estudo da identidade foi variável
ao longo da trajetória do conhecimento humano,
acompanhando a relevância atribuída à individualidade e às
expressões do eu nos diferentes períodos históricos”
(JACQUES, 1998: 159).
termo identidade social, uma vez que os elementos que o compõem parecem apontar
67
É preciso compreender qual visão de homem orienta o estudo dessa categoria
de análise - a identidade social, por constituir-se numa lente que regerá todo o processo
um elemento que é utilizado como referencial para submeter um objeto a uma análise;
alternativas de identidade. O termo identidade pode, então, ser utilizada para expressar,
um, são necessários dois, não apenas do ponto de vista da concepção, da genética, da
68
sobrevivência, mas, sobretudo em se tratando do homem ser reconhecido como tal; o
rede de representações, onde cada personagem reflete tantos outros, todos constitutivos
de uma identidade social expressa em múltiplas ordens relacionais que se dão ao nível
carregam suas possibilidades futuras de ser, criar, bem como um presente de angústias,
aspirações e incertezas do seu vir a ser que terminam por compor o sentido de
autores foi o sociólogo alemão Norbert Elias, cuja teoria é bastante relevante para
concebida como formas concretas, por meio das quais os indivíduos se agrupam. Sua
tese tem sido interpretada, ora como evolucionista, ora como teoria do progresso.
69
Suas proposições surgiram a partir de um projeto de pesquisa realizado na
isoladamente.
70
entre indivíduo e sociedade, como se fossem objetos separados e independentes uns
homens são “dependentes uns dos outros e se orientam uns em relação aos outros”
Contudo, tais dependências não são sempre as mesmas, mas relativa aos
(ELIAS, 1980:147).
maioria dos habitantes de determinada tribo na medida em que ela permanece pequena.
unidades maiores” (p.150), com o intuito de perpetuar suas relações afetivas. Dessa
71
maneira reconhecemos que os símbolos fortalecem ligações entre sujeitos, vinculando
que algumas afeições às unidades sociais maiores, são tão intensas como as relações
que os indivíduos despendem aos seus entes mais queridos. E tal fato é facilmente
perceptível quando seus apreços são menosprezados por adversários, como ocorre, por
Ainda utilizando a Serra da Capivara, mais uma analogia pode ser utilizada
dos indivíduos, que pode ser grupos que atuam em posições distintas, como
sendo possível identificar ações sociais nas quais se medem relações de força,
72
interminável movimento, designado por ELIAS e DUNNING (1992) como “modelo
de jogo”.
inovadora na teoria das relações de poder. Apresentada pela primeira vez em 1965, no
moradores.
indivíduos melhores do que os mais novos, com status inferior, estigmatizados como
ocupação) que determinassem diferenças relevantes entre os dois grupos, mas tão
considerados com status inferior os moradores mais antigos, pois os novos moradores
7
Na concepção empregada por Elias, establishment é um grupo que se reconhece como uma "boa
sociedade", um grupo unido, mais poderoso e melhor do que os outsiders, considerados “não membros
da ‘boa sociedade’’ ou os que estão fora dela.. (Elias, 2001).
73
que vieram com o Parque têm o conhecimento acadêmico, a força da lei e o poder
econômico.
gerando conflitos que dependendo da distribuição de poder entre eles, legitima o uso
da força.
modelo de como seres humanos individuais ligam-se uns aos outros em uma
que a consciência que temos como sociedade é significativamente diversa daquela que
Com isso Elias (1994), infere que o todo é diferente da soma de suas partes,
indivíduos isolados, refutando, assim, a idéia que o indivíduo é mais importante que a
sociedade e vice-versa. Para o autor, as pessoas estão presas umas às outras e essas
74
Todos os indivíduos nascem em um grupo pré-existente que lhes impõem
determinada por cada geração, por cada sociedade, de acordo com a situação dos pais,
sociedade”, ou seja, a criança deve ser adaptada pelo outro, à vida em comunidade.
existentes antes dele e que ele mesmo futuramente ajudará a formar e, é essa ordem,
ou seja, “a história é sempre a história de uma sociedade, mas, sem a menor dúvida,
75
Capítulo 3. DESENVOLIMENTO LOCAL ATRAVÉS DA ATIVIDADE
TURÍSTICA
exclusão social.
institucionais para mudar esse cenário. Dentre essas ações, foi criado pelo Ministério
Tal programa entende que o poder público tem a função de fomentar a ascensão
76
Para acomodar o número crescente de pessoas que se tornam economicamente
ativa e
A questão que o autor coloca é saber se a modernização poderia ter sido menos
Para o autor,
O Brasil não está sozinho nesse desafio, pelo contrário, o mundo todo está às
2004:115).
vários fatores, como a substituição de mão de obra por tecnologia, uma política de
uma vez que se apóia em salários excessivamente baixos, longas jornadas de trabalho e
77
Contudo, existem aqueles que acreditam que a epidemia de crescimento sem
A razão para tal entendimento reside no fato de que, através da inserção dos
78
Em nível social, deve-se, ao contrário, promover a
homogeneização da sociedade, reduzindo as distâncias sociais
abismais que separam as diferentes camadas da população.”
pessoais em formas de ocupações decentes para trabalhadores por conta própria, seja
O turismo, por exemplo, tem sido um setor onde tem havido grandes
investimentos nessa direção, mas o sucesso das ações dependerá do modelo adotado
tanto para a exploração turística como para a forma de inclusão de trabalho decente a
ser incentivado.
alto poder aquisitivo está sendo considerado para além do seu valor real. A
dispendiosos.
consolidados.
Mesmo o turismo ecológico, que não pode ser encarado como um nicho de
79
3.2 – Proposta de Desenvolvimento Local do Ministério do Turismo para a Serra
da Capivara
80
Espanhola. Comprovada a existência de todas as características exigidas para a
tecnológica.
região;
necessário;
O alto nível de satisfação turística deve ser atingido, de forma que o destino
81
Os benefícios do turismo devem ser amplamente distribuídos em todos os
níveis da sociedade.
ambiental.
Era ambição inicial do projeto, a partir da agenda de ações, construir uma linha
de política pública de inclusão social com base nas atividades turísticas tornando-se,
82
debilitada, objetivando a melhoria das condições sócio-econômicas das populações do
Espanha foi formada uma equipe mista que visitou a região, primeiramente para
tópicos e eixos por uma opção didática. Esse material serviu, posteriormente, de base
Capivara.
3.3.1 – A Problemática
dados oficiais apontam que em média o número de visitantes 8 é de cinco mil pessoas
8
Na cadeia turística, para se considerar uma pessoa visitante ela precisa pernoitar ao menos uma noite;
caso contrário, ela não entra nas estatísticas como visitante, mas sim como turista. A implicação dessa
diferenciação é que a pessoa que não pernoita na cidade não deixa recursos, ou seja, não traz benefícios
econômicos ao local.
83
por ano (IBAMA), mas a capacidade de recepção pode ser bem maior, uma vez que o
primeiro eixo.
consideração. Não vamos entrar no mérito se tal visão procede ou não. Para nós, neste
84
pertencimento perante qualquer ação que envolveu o Parque e o desenvolvimento da
participação vazia, quase nula. Como resultado, a região apresenta um quadro social
frágil.
BRANDÃO (1990).
de construção desse novo território foi marcado pela solidão e pelo desenraizamento.
um sentimento de não-pertencimento.
Capivara nos leva à percepção de que há uma dicotomia entre o fato de habitarem um
“lugar”, mas esse “lugar” não ser mais a “casa deles” e sim o território do “outro”,
limite entre o social e o individual se confunde. Para existir um, são necessários os
85
Quando um componente não está presente é gerado o sentimento de não-
pertencimento. Mas o indivíduo, para ser reconhecido como tal, precisa também
ser reconhecido pelos seus pares. Sob essa perspectiva, é possível conceber a
duas instâncias. Tal ação se tornará a missão do projeto. Tal ação se tornou a
missão do projeto.
fundamentais como gestão dos recursos, tanto ao nível jurídico como contábil, nem
86
3.3.1.2. Aspectos econômicos, infra-estrutura e investimentos
investimentos, onde foi possível detectar que a economia regional não teve
em índices estáveis nos últimos 20 anos, ou seja, não surgiu nenhum elemento
Na região existem três agências bancárias que possuem linhas de crédito para
Os gerentes afirmam que a baixa procura por esses créditos faz com que os
economia local.
Embora nos últimos cinco anos a atividade turística tenha crescido de forma
87
Há na região a convicção que a construção de um aeroporto possa mudar esse
quadro. Esse é um projeto que se arrasta há anos e as obras ainda não foram
finalizadas.
problemas, tais como mão-de-obra local desqualificada para atuar na cadeia turística,
entraves mais críticos para que qualquer projeto obtenha êxito na região: recursos
desenvolvimento.
88
Essa realidade reflete o processo histórico regional e o atual tecido sócio-
desenvolvimento.
quebra desse círculo vicioso, de modo a abrir uma possibilidade para um novo modelo
Nesse desafio deve estruturar-se uma plataforma maior para todos os atores
locais e, em especial, para que a população mais carente possa ser harmonizada em
de Janeiro (UFRJ).
89
A ITCP foi concebida como um centro de tecnologia que disponibiliza os
pois entende que não há divisão entre a exclusão econômica e a exclusão social,
Este conceito, que dissocia o econômico do social, fez com que as opções
90
alternativas distintas de busca individual pela sobrevivência. A proposta coletiva
poderia ser adotado por várias instituições públicas e privadas e não apenas por uma
universidade pública.
ações através dos programas de extensão universitária como é capaz de garantir maior
91
cada ano. A renovação constante dos grupos mantém a dinâmica e a coragem do novo,
que as propostas não são inovadoras, mas sim o tempo em que elas acontecem. A
tolerância para que coisas ocorram nesse ritmo. Com alocação efetiva de recursos e
de pessoas, parte do êxito desse projeto deve-se ao momento em que foi deflagrado.
Essa conjuntura favorável que viabilizou e imprimiu com cores fortes o caráter
estrutural do projeto. Sua força tem origem na forma como demonstra a possibilidade
Ministério do Turismo entendeu que esta seria a melhor alternativa para implantar seu
92
pesquisar. Eu conhecia um pouco de pesquisas e iniciativas, de
geração de trabalho e renda. Fui ver o que o governo federal
estava fazendo e sabia das iniciativas de economia solidária.
Marquei reuniões na Secretaria Nacional de Economia
Solidária, no Departamento de Fomento à Economia Solidária,
porque ali eles trabalhavam com incubação de cooperativas
populares. Marquei reunião com diretor do departamento e com
um dos coordenadores, e a gente começou a desenhar uma
proposta de incubação de cooperativas populares, em conjunto
com a Secretaria Nacional de Economia Solidária. Nós iríamos
implementar essa proposta por meio da Secretaria Nacional de
Economia Solidária, mas por razões de ordem burocrática não
foi possível, porque não tinha os mecanismos ou instrumentos
formais para a execução e tínhamos orçamento para isso e
quando eu faço essa pesquisa da questão de incubação de
cooperativas ou mesmo a questão dos empreendimentos de
economia solidária, você tem ali a incubadora de cooperativas
populares que é do projeto, que é do PRONINC, que é das ações
de 95/96, que aqui foi financiado pela FINEP. E você cai nas
experiências mais bem sucedidas ou mais próximas de serem
bem sucedidas, mais pioneiras, que são as da ITCP
COPPE/UFRJ. Fui procurar o coordenador que é o Gonçalo
Guimarães e, aí como eu tinha agenda de reuniões de outras
ações no Rio de Janeiro e tinha o aval da Secretaria Nacional
de Economia Solidária, porque um dos técnicos que trabalhou
conosco na Secretaria Nacional de Economia Solidária, tinha
vindo do governo do Rio Grande do Sul e conhecia as
experiências de Caxias e do próprio governo do RS, fui
procurar a coordenação da ITCP, com um projeto que eu tinha
pra incubação de cooperativas e disse pra ele que eu precisava
implementar aquilo aí ele colocou que aceitava o desafio, me
contou um pouco o que eles faziam, como eles faziam, e ele me
apresentou a metodologia de incubação, achava que dava
incubação via remota e ali ele faz uma proposta de implementar
dentro das diretrizes que a gente tinha dado do projeto que a
gente desenhado, os projetos para o Piauí e maranhão. Neste
primeiro momento a gente só faz o convênio, de acordo com a
disponibilidade orçamentária que a gente tinha naquele
momento, só para esses dois territórios” (SILVA, 2008)
93
deles era trabalhar especificamente com uma cadeia produtiva definida, em um setor
definido - o turístico.
Para este desafio encontraremos em HAMEL (1990) uma base teórica que
não seria tanto promover a cidade enquanto um negócio rentável, mas atender às
muito distante da sede da ITCP, no rio de Janeiro. Para se ajustar à nova realidade, a
Desse modo, o primeiro passo foi a instalação de uma sede do projeto, com o
94
reuniões quinzenais, talvez até com mais intensidade do que
propriamente uma equipe local, o fato de existir uma equipe
local, era ter a construção de uma equipe local, de um
estabelecimento, de um ponto como referência institucional.
Aquilo seria um novo marco para que os cooperados ou o grupo
do entorno assim identificasse aquela como uma ação
diferenciada do treinamento, da qualificação que era histórico.
A gente queria construir outra imagem não aquele que vai fazer
consultoria, mas aquele que trabalho é continuado. Pra ter essa
visão se fazia necessário para se ter uma institucionalidade
local.” (GUIMARÃES, 2008)
Essa escala humana que se identifica pela relação entre as pessoas e entre estas
em comum, corrobora o segundo ponto importante para que a equipe técnica fosse
no fato de que a prioridade não estava no empreendimento em si, mas na ação piloto de
95
proposta, que esses grupos fossem reconhecidos também como atores locais,
econômicos, através do reconhecimento não mais como grupos populares, mas como
não significaria que o conjunto das pessoas se constituiu em ator político local.
uma identidade local como atores políticos para serem reconhecidos, inclusive, pelos
Esse é um ponto chave para este trabalho, pois ele vem sendo destacado ao
do território “identificado por uma consciência social” (MARTINS, 2007:03) tem para
96
que as pessoas possam se identificar com sua cultura e sua história. Desse modo,
lugar, mas também quando consegue compreender em que medida aquele lugar é dele
2000:26).
Podemos avançar aqui no sentido de que, além das pessoas se tornarem atores
sociais coletivos, vemos que quando o projeto estabelece essas diretrizes termina por
incorporar as razões colocadas por SACHS (2004:117) para que as políticas públicas
instrumentos de geração de trabalho decente, uma vez que assim as soluções são
definitivas e geram nas pessoas uma realização profissional que resulta na elevação da
auto-estima.
97
Na medida em que a incubadora vai se instituindo como interlocutor local,
não só em um empreendimento bem sucedido, mas sim numa proposta que apontasse
local todas as ações de fortalecimento de grupos populares são positivas. Além disso,
98
justificável. Numa visão restrita de atividade turística, ou seja,
se tivesse a leitura simplista de que quem trabalha com limpeza
não é turismo, quem trabalha com artesanato não é turismo,
primeiro precisaríamos construir novos empreendimentos;
segundo, a própria desestruturação da cadeia produtiva local
não permitia nichos de mercado para novos empreendimentos.
Daí, a questão: vamos criar o que? Além do fato que qualquer
empreendimento diretamente ligado ao turismo requer
investimento alto.” (GUIMARÃES, 2008)
ou seja,
Desse modo, a estratégia foi fortalecer o que já existia e também construir uma
rede, uma interlocução entre esses empreendimentos, mesmo que tivessem origens e
do projeto. O propósito era que, ao final do projeto em 2008, houvesse uma base
99
Outro diferencial e desafio da proposta foi o fato da microrregião de São
Raimundo Nonato ser, em sua grande maioria, de origem rural, de atividade rural. Até
urbanas, com problemas urbanos. Aqui, ressaltamos que estamos nos utilizando da
origem rural.
dizer,
imposto ao trabalho de incubação foi vencer a própria descrença das comunidades, dos
intervenções externas.
A razão dessa descrença reside no fato apontado no documento inicial que deu
origem ao projeto, que é o fato desse território já ter sofrido várias intervenções ao
longo do tempo, inclusive com projetos de peso, projetos de qualidade, mas, que foram
De fato, até o momento não se fez uma avaliação mais detalhada desse
100
“Todos que nós vimos que eram projetos bem estruturados, não
eram projetos que questionaríamos pela qualidade, porém a
avaliação sempre foi tendenciosa, de colocar como o fracasso,
o término, a não continuidade uma conseqüência direta das
comunidades seja pelo seu nível educacional, seja pelo que eles
chamavam de ignorância, isso gera uma descrença e uma
desconfiança por parte da comunidade.” (GUIMARÃES, 2008)
modelo de desenvolvimento neoliberal que não condiz com a realidade nem com as
resolver essa dicotomia, pois apresenta um enfoque que introduz como fator decisivo -
vivem e trabalham.
possível apontar para novas construções do que se entende por interesse comum, por
101
O conceito de solidariedade horizontal interna também foi norteador para
projeto, alcançaram algum nível de integração solidária nos aspectos econômico, social
e cultural.
102
Capítulo 4: COOPERATIVAS DA SERRA DA CAPIVARA: análise dos dados
tendo como primeira atividade a seleção de grupos produtivos com perfil necessário
para o processo de incubação. Essa seleção foi realizada com os técnicos e instrutores
seguir.
Neste tópico nos preocupamos apenas em situar o leitor quanto à formação dos
grupos sua trajetória, até serem incubados. A caracterização dos cooperados será
103
4.1.1.1. COOPERART
4.1.1.2. COOPEARTFRUT
104
Cooperados em reunião. Detalhe. Foto:ITCP
chamado FECUNDAÇÃO. Dentro desse projeto, uma das ações foi formar a
eles se uniram e formaram um único grupo, embora as comunidades onde eles vivam
dia, uma vez que as reuniões tinham que acontecer de forma a não interferir na rotina
da unidade produtiva.
105
Entretanto, as relações sociais do grupo eram mais frágeis que as relações
quantidade de participantes.
4.1.1.3. ECOART
106
João Costa é um município que faz limite com a área norte do Parque, onde
não é permitida nenhuma atividade de exploração turística por ser área de proteção
localidade.
disputa na escolha para o local das reuniões, que só ocorria com a presença dos
técnicos da ITCP.
comunidade. Essa é a formação que permanece até hoje, mesmo com o término do
projeto.
107
4.1.1.4. COOPELZABELÊ
assentamento Novo Zabelê, com objetivo de aumentar a renda familiar. Este grupo,
para obtenção de capital de giro, que muito contribuiu para o fortalecimento do grupo.
Entretanto, o grupo tem uma situação instável porque seus produtos precisam
9
Secretaria de Estado de Assistência Social e Cidadania
108
qualificação, nem laboratórios com essa competência. Tais análises obrigatoriamente
para que consigam o CNPJ e possam emitir nota fiscal, o que torna o custo da
sem considerar os desdobramentos da ação – não poderão aumentar a renda sem que
produtos.
4.1.2.1. SEXO
109
Fonte ITCP/COPPE/UFRJ
(78%). Esse ponto merece destaque porque, quando comparamos com a amostra do
Nonato a população feminina é maior (52%). Em Cel. José Dias e em João Costa,
fazem por duas motivações: contribuir com a renda familiar e garantir o sustento da
família. Neste caso, mesmo sendo casadas, elas se declaram como as principais
4.1.2.2. IDADE
110
Fonte: ITCP/COPPE/UFR
Contudo, tem ocorrido com maior freqüência a adesão dos jovens ao trabalho
cooperados, o que nos leva a afirmar que um dos pontos positivos do projeto foi a
são mais despojados de pré-conceitos, estão mais abertos às novas propostas que
possam lhes trazer uma perspectiva de vida diferente da que os pais tiveram e
contribuem para a melhoria dos resultados nos cursos de formação devido ao melhor
4.1.2.3. COR/RAÇA
111
Fonte: ITCP/COPPE/UFRJ
o somatório dos que se declaram negros e pardos, perfazendo um total de 63% das
Ao contrário do que os livros didáticos ensinam - que no Piauí não existe mais
nenhuma nação indígena - elas estão espalhadas pelo estado e embora não falem mais
a língua mãe, não vivam em aldeias, sejam pobres, não possuam terras demarcadas e
indígena do Piauí, que de acordo com o censo do IBGE de 2000 contam com mais de
112
Com relação à declaração de cor ou raça, o perfil dos cooperados não
difere da população residente na região que, em sua grande maioria, se declara parda.
4.1.2.4. ESCOLARIDADE
Fonte: ITCP/COPPE/UFRJ
interessantes: 33% ainda não concluiu o Ensino Fundamental e 40% concluiu o Ensino
Médio.
Da mesma forma essa oposição se estende aos extremos, uma vez que
superior, o que nos leva a concluir que em relação à escolaridade temos um quadro
heterogêneo.
113
4.1.2.5. RENDA
como familiar.
4.1.2.6. Trabalho
114
33,3% dos cooperados declararam trabalhar antes de entrarem no
que compõe os 66, 7% que não têm a agricultura como atividade principal, 53,8% são
Duas observações importantes: dentre aqueles que mantêm outra atividade fora
do empreendimento, a maioria informa que exerce atividade por conta própria e sem
garantias trabalhistas. Daí, uma das motivações para entrar para a cooperativa se deve
Entre os que não trabalham por conta própria, somente uma minoria tem
registro em carteira. Esse fato demonstra que um dos propósitos do projeto é atingido,
caminho para a inserção de grande parte dessas pessoas, hoje excluídas e sem
115
Nesta seção iremos analisar os dados gerados a partir dos questionários
aqueles que possam nos demonstrar que o projeto de incubação tem elementos que
Contudo, antes de entrarmos na análise dos dados por cooperativa, vamos tratar
116
incubação que modificou tanto os resultados das cooperativas como obrigou a equipe
4.2.1.1. COOPERLOJAS
renda, o objetivo principal era a criação de uma central de negócios que possibilitasse
ao público atendido pelo projeto não só escoar seus produtos, mas, também, a sua
secundárias.
117
Em maio de 2007 a ITCP contava com um espaço ocioso numa área central da
cidade de São Raimundo Nonato e, neste momento, já era sabido que o maior
problema para as vendas das cooperativas era o escoamento dos produtos. Dessa
forma, foi proposto um desafio – em sistema de mutirão, montar uma loja no espaço
cada um disponibilizava para a montagem da loja. Foi com surpresa que constataram
suficiente para abastecer a loja. No prazo estabelecido a loja estava montada no anexo
do escritório da ITCP.
118
Com a abertura da loja, questões tratadas em cursos como controle de caixa,
Landim:
119
O entusiasmo de ter superado o primeiro desafio levou os cooperados a
prefeitura municipal de Cel. José Dias, que cedeu um prédio localizado na estrada que
dá acesso à principal entrada do Parque Nacional Serra da Capivara, onde por anos
120
Porém, o maior ganho que esta iniciativa trouxe aos cooperados foi a assinatura
municipal de Cel. José Dias também está regularizando a situação do prédio cedido,
Dessa forma, entendemos que tal estratégia está em harmonia com a idéia de
que, quando criamos espaços que garantam o direito ao trabalho e este oferece
121
estruturas produtivas; no nível social, ao contrário, promover a homogeneização da
econômica e nos dados levantados ao longo do projeto, como cada cooperativa evoluiu
neste aspecto. Entretanto, salientamos que somente este ponto será tratado dessa
maneira por entender que cada cooperativa teve suas especificidades em relação aos
aspectos econômicos.
4.2.1.2.1. COOPERART
Viabilidade Econômica:
COOPERART
5,5 5,0
4,8
5,0 4,7
4,4
4,5
4,0
2006.1 2006.2 2007.1 2007.2
122
No processo de fortalecimento do grupo, um ponto importante e que foi
trabalhavam em suas casas e só tinham algum controle sobre sua própria produção.
cerâmica.
aumento, com a exposição dos produtos nas lojas, dos convites e das oportunidades de
10
Projeto Cooperativo é uma ferramenta fundamental dentro da metodologia de incubação. É um
documento construído coletivamente. Para sua elaboração são realizadas sete oficinas onde se inicia
com o resgate da história do grupo e avança até a elaboração do plano de ação de cooperativa para curto,
médio e longo prazo. O documento é revisado de seis em seis meses.
123
No que tange ao investimento tecnológico no empreendimento, a
da Capivara. Até a criação das lojas e sem uma visão empresarial, mesmo que
história. Uma pesquisa realizada entre os cooperados indicou que a maioria nunca
tinha visitado o Parque, embora alguns deles tivessem vivido naquelas terras durante a
infância.
para que os cooperados criassem entre eles um sistema de controle de qualidade das
peças.
cooperados, uma vez que a renda obtida no empreendimento ainda está aquém da
desejada.
124
4.2.1.2.2. COOPEARTFRUT
Viabilidade Econômica:
COOPEARTFRUT
entraram numa disputa interna como concorrentes pela venda de seus produtos.
Os produtos são feitos nas próprias casas, em condições não muito favoráveis
cooperativa tinha o mesmo produto com cor e sabor diferenciado, de acordo com a
125
na maior parte do tempo as ações giraram em torno da solução de crises internas entre
do projeto, em 2007 ela conseguiu evoluir em relação à sua receita, custo, número de
4.2.1.2.3. ECOART
Viabilidade Econômica:
ECOART
2006, explicada pela saída em massa dos integrantes da sede. Com a entrada de novos
de 2007.
126
da cooperativa, e já conseguiram elaborar seus documentos internos como estatuto e
regimento.
cooperativa e por maior rigor no cumprimento dos prazos, o que acarreta um aumento
Mas, a exemplo dos demais empreendimentos a renda ainda não alcança os índices
desejáveis.
4.2.1.2.4. COOPELZABELÊ
Viabilidade Econômica:
COOPELZABELÊ
127
Inicialmente o grupo produzia apenas para consumo próprio, pois seus
assentamento.
esta cooperativa foi investir no fortalecimento do trabalho coletivo para garantir uma
em 60%.
consideravam que o negócio não tinha condição de dar retorno financeiro. Desse
comercial e constatou que estes não tinham qualidade inferior às marcas do mercado.
cooperativa.
128
Como parte da estratégia de entrada no mercado, as cooperadas investiram na
COOPERLOJAS - fez com que o empreendimento, que até então se mantinha com dez
maior e ficaram responsáveis pelo setor de vendas dos produtos. Eles formaram uma
periferia de São Raimundo Nonato, onde os entraves legais não seriam impedimento
para que eles conseguissem, mesmo que informalmente, vender seus produtos. A
iniciativa foi além das expectativas e a cooperativa conseguiu formar uma carteira de
clientes fixos.
129
Isso prova que a inclusão, através da participação em ações coletivas, recupera
cidadãos.
área econômica com as práticas do turismo social em nível federal que permeiem as
falaremos de modo global, pois os resultados das análises dos indicadores inclusão
forma.
130
Período de
Aplicação
Aumento
Indicadores 2006.1 2006.2 2007.1 2007.2 percentual
Inclusão social e
econômica 4,85 5,32 5,55 5,35 50%
Participação Política 6,37 6,83 6,40 6,48 11%
131
gerenciamento da cooperativa11. Além disso, estimula a formação do coletivo, de novas
subjetividades que dêem origem a novos atores políticos que reivindiquem seus
Jessé de Souza
Os dados nos mostram que há uma diferença significativa nas respostas dos
11
Sobre a complexa relação entre trabalho e autonomia, vide CATTANI, Antonio David, Trabalho e
Autonomia, Petrópolis, Vozes, 1996.
132
cooperativa pelo aumento da auto-estima que dele advém, fruto do sentimento de
Durante todo o período que durou este trabalho, buscamos encontrar nos dados
133
mundo social. Ao vislumbrar a possibilidade da solidariedade e da ação conjunta em
benefício comum, o novo cidadão estará também mais atento ao que lhe cerca.
das organizações para o aumento do nível de satisfação dos seus membros e para a
134
O sentimento de pertencimento resgatado pelo grupo permitiu o
atores sociais. Como Carlos Rodrigues Brandão nos coloca, o ser humano é
fazer
135
Neste tópico analisaremos a evolução do indicador de viabilidade cooperativa,
cooperativistas e de autogestão.
redes.
evolução do indicador foi de 158% e, para nós, esse aumento se deu pela
COOPERLOJAS.
social, com a exploração e a degradação sem limites dos recursos ambientais (BAVA,
2003)
Apesar disso, esse modelo traz no seu bojo as práticas de movimentos sociais e
136
Para construir tais alternativas de desenvolvimento e organizações com esses
fóruns que elaboram e debatem os novos paradigmas nas relações entre o local e o
incipientes, essas experiências podem ser avaliadas e valorizadas pela sua dimensão
137
Esses depoimentos são de duas cooperadas da COOPELZABELÊ. O primeiro
dimensão de experiência-piloto.
buscar a mudança na relação entre Estado e sociedade civil. O Estado deve exercer um
Novamente,
exemplo de como no Brasil essa iniciativa não têm peso significativo nas formas de
organização do trabalho.
138
A burocratização e as altas taxas atingem a todos que se aventuram nesse
caminho, como prova o resultado do projeto, pois apenas uma cooperativa conseguiu
exigências para liberação dos recursos, muitas vezes, inviabiliza seu acesso. Tal
mobilização de forças endógenas para criação de uma nova relação da sociedade com
Voltando à Milton Santos (2000), ele nos coloca como ação fundamental a
139
Como vimos anteriormente, a existência das lojas fortaleceu as cooperativas do
Essa rede reúne todas as cooperativas das quatro áreas envolvidas no projeto
140
Naquela oportunidade reuniram-se mais de 160 cooperados, muitos deles
saindo de suas regiões pela primeira vez. As discussões ocorreram em torno dos temas
território maior, e não mais nas suas localidades de origem através da criação da Rede
141
“Favorecer a integração entre os cooperados e cooperativas
por meio de parcerias entre atividades econômicas existentes na
rede e instituições governamentais e não governamentais;
fortalecer as entidades e seus membros promovendo a
capacitação e troca de conhecimento, contribuindo para a
melhoria e qualidade dos serviços (segurança, pontualidade,
etc); potencializar a geração de renda proporcionando o
intercâmbio de experiências e troca de idéias entre os
cooperados; promover a divulgação dos produtos e serviços das
cooperativas e associações populares no segmento do turismo,
elaborando um plano de marketing integrado; viabilizar o
escoamento dos produtos e serviços regionais; e, possibilitar o
reconhecimento da rede em todos os estados envolvidos (selo de
qualidade)” (Carta de Parnaíba, 2007)
Dentre essas ações, uma teve destaque: as discussões sobre os eixos de marco
142
II Seminário Regional de Cooperativas Populares do Nordeste. Foto:ITCP
os palestrantes.
encaminhados aos palestrantes para que estes adequassem suas participações sobre o
tema ao foco de interesse dos cooperados. Os grupos voltaram para os seus territórios
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
143
A criação do Parque Nacional Serra da Capivara implicou na transformação da
região em um novo território. Essa transformação foi favorecida pela nova legislação
madeira, entre outras questões ligadas ao modo de vida daquele local, e pela revelação
estrutura, provocou o afastamento do Estado da esfera das decisões, seja pela omissão
dos vários órgãos representativos que deveriam atuar mais intensivamente na região,
Outro ponto a ser destacado foi o papel que coube à população local nesse
obra nas atividades ligadas ao circuito inferior da economia, como destaca Milton
Santos,
144
Esse quadro teve sobre a população o efeito de que aquele não era mais o
“lugar deles”, expresso através do sentimento de não-pertencimento, uma vez que ela
Essa opção foi colocada em prática através de um projeto piloto que trouxe
lutas sociais.
145
O conceito de desenvolvimento13 que adotamos foi fonte de conhecimento em
proveitosa que permitiu-nos adotar como texto os aspectos de uma situação social
estudada.
mesmo, mas que possa funcionar, quem sabe, como referência para o aprofundamento
daquele território.
para que ações de desenvolvimento local possam atingir seu êxito. Foram evidenciados
elementos quando colocados em prática. Nesse sentido, nosso foco recaiu sobre os
ponto de observação interno àquele território. Por outro lado, impunha-se um olhar
13
Neste trabalho adotamos o conceito de desenvolvimento elaborado por Amartya Sen “o
desenvolvimento requer que se removam as principais fontes de privação de liberdade:pobreza e
tirania, carência de oportunidades econômicas e destituição social sistemática, negligência dos
serviços públicos [...] Às vezes, a ausência de liberdades substantivas relaciona-se diretamente com a
pobreza econômica, que rouba das pessoas a liberdade de saciar a fome, de obter uma nutrição
satisfatória ou remédios para doenças tratáveis, a oportunidade de vestir-se ou morar de modo
apropriado, de ter acesso a água tratada ou saneamento básico. Em outros casos, a privação de
liberdade vincula-se estreitamente à carência de serviços públicos e assistência social [...]. Em outros
casos, a violação da liberdade resulta diretamente de uma negação de liberdades políticas e civis por
regimes autoritários e de restrições impostas à liberdade de participar da vida social, política e
econômica da comunidade”.(2005:18)
146
externo, capaz de vislumbrar o cenário mais amplo no qual se encontram essas
não-previstos por elas. Esses dois pontos de observação nos permitiram captar as
Capivara.
Esses dois pontos de observação nos permitiram captar as oposições entre dois
147
Pelos mecanismos materiais e políticos de que dispõe para se difundir e para
porém, pulsante, que faz parte das transformações econômicas, sociais e culturais em
novos interlocutores nos debates políticos acerca dos projetos de desenvolvimento para
a região.
apontar para o fato de que se vive no Brasil um momento de demanda por canais de
programas assistencialistas. Torna-se necessário, então, criar condições para que essas
148
A pesquisa empírica junto ao universo dos excluídos do processo do modelo de
excluídos possuem uma percepção elaborada a respeito da exclusão a que vêm sendo
modificar os rumos desse modelo. Trazer isso à tona é acenar para a possibilidade de
que ações futuras tenham no seu bojo o espaço garantido da participação deles no
capitalista.
149
Essa proposta retoma a dimensão pública, impondo o reconhecimento de que o
ser humano é capaz de exercer sua consciência moral e de ser responsável pelos seus
atos. Isso significa entender que toda pessoa é capaz de fazer um juízo crítico da
pela sociedade, interiorizar algumas como suas, rejeitar outras, enfim, de decidir, de
necessário para que a pessoa seja capaz de problematizar e por em questão a realidade
possa responsabilizar uma pessoa por seus atos: certificar-se de que, ao praticar uma
ação, ela não esteja submetida a uma coação externa, de ordem física, moral ou
psicológica.
não pela força física ou intimidação moral, mas pela capacidade de argumentação dos
sujeitos envolvidos.
150
processo participativo, a agregação das aspirações da maioria, principalmente dos
como fonte de realização de uma pessoa) não será possível sem o pleno exercício da
151