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PAT

PANORAMA
ANTIGO
DO

TESTAMENTO

I G R E J A
Panorama do Antigo Testamento www.igrejabiblica.pt

Panorama 1 do Antigo Testamento

Plano de Estudos

Descrição: Estudo baseado numa visão geral do AT, no qual se procura destacar a autoria, data
aproximada e enquadramento histórico de cada livro, bem como a sua mensagem, o seu propósito e seu
desenvolvimento (esboço).

Propósito: Proporcionar uma visão panorâmica do AT e o entendimento da mensagem de cada livro.


Oferecer uma fonte de outras informações relevantes para o estudo da Bíblia. Incentivar o estudo da
Palavra de Deus baseado em informações enquadradas historicamente.

Objetivos: No final deste curso o aluno deverá ser capaz de:


V Citar, pela ordem bíblica, todos os livros do AT.
V Identificar as principais divisões (género literário) dos livros e a sua importância na interpretação da
Bíblia.
V Expor o panorama da história (pano de fundo) e da mensagem dos livros destacando alguns factos
importantes sobre cada um.
V Identificar os principais eventos, propósitos e mensagens dos livros do AT.
V Ter uma visão geral do período intertestamentário, especialmente a sua importância no contexto
político-económico-social do mundo do NT.

Bibliografia:
ARCHER Jr., Gleason L. Merece confiança o AT? São Paulo: Vida Nova, 2000
COLE, R. Alan. Êxodo – Introdução e Comentário. São Paulo: Vida Nova, 1996
COLEMAN, William L. Manual dos Tempos e Costumes Bíblicos. Venda Nova - MG: Editora Betânia, 1991
FRANCISCO, Clyde T. Introdução ao Velho Testamento. Rio de Janeiro: Juerp, 1985
GEISLER, Norman. Christ, the theme of the Bible. Chicago: Moody Press, 1968
GEISLER, Norman. NIX, William. Introdução Bíblica. São Paulo: Vida, 1997
KIDNER, Derek. Génesis – Introdução e Comentário. São Paulo: Vida Nova, 1999
LASOR, William S. HUBBARD, David A. BUSH Frederic W. Introdução ao AT. São Paulo: Vida Nova, 1999
MERKH, David. Síntese do Antigo Testamento. São Paulo: SBPV, 1998.
MORRIS, Leon. Rute – Introdução e Comentário. São Paulo: Vida Nova, 1992
PACKER, J. I. TENNEY, Merril C. WHITE JR., William. O Mundo do AT. São Paulo: Vida, 2002
PINTO, Carlos Osvaldo Cardoso. Foco e Desenvolvimento no AT. São Paulo: Hagnos, 2006
TENNEY, Merril C. PACKER, J. I. WHITE JR., William. Vida Cotidiana nos Tempos Bíblicos. São Paulo: Vida,
2001
WALTON, John H. O Antigo Testamento em Quadros. São Paulo: Vida, 2001
YANCEY, Philip. A Bíblia que Jesus Lia. São Paulo: Vida, 2000

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Vocábulo formado a partir das palavras gregas pavn (pan) “todo, total” e o{rama (horama) ”visão, vista”.

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Plano de Aulas:

Aula Conteúdo

1 Introdução; Prova 1; Inspiração; Canonicidade

2 Génesis

3 Êxodo

4 Levítico

5 Prova 2; Números

6 Deuteronómio

7 Josué

8 Juízes, Rute

9 Prova 3; 1 e 2 Samuel

10 1 e 2 Reis; 1 e 2 Crónicas

11 Esdras; Neemias

12 Prova 4; Ester; Jó

13 Salmos

14 Provérbios; Eclesiastes; Cantares

15 Prova 5; Isaías; Jeremias

16 Lamentações; Ezequiel

17 Daniel

18 Prova 6; Oséias; Joel

19 Amós; Obadias; Jonas

20 Prova 7; Miquéias, Naum

21 Habacuque; Sofonias; Ageu

22 Prova 8; Zacarias; Malaquias

23 Prova 9; Período Intertestamentário; Prova 10; Exerc. Mens. dos livros do AT

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INTRODUÇÃO

A Bíblia é um livro singular. Trata-se de um dos livros mais antigos do mundo e, no


entanto, ainda é o bestseller mundial por excelência. É produto do mundo oriental antigo;
moldou, porém, o mundo ocidental moderno. Tiranos houve que já queimaram a Bíblia, e os
crentes a reverenciam. É o livro mais traduzido, mais citado, mais publicado e que mais
influência tem exercido em toda a história da humanidade.2
A Bíblia compõe-se de duas partes principais: o ANTIGO TESTAMENTO (AT) e o NOVO
TESTAMENTO (NT). O AT foi escrito em Hebraico e Aramaico3 pela comunidade judaica, e por ela
preservado um milénio ou mais antes da era de Jesus. O NT foi escrito em grego e composto
pelos discípulos de Cristo ao longo do século I d.C.
A palavra testamento, que seria melhor traduzida por “aliança”, é a tradução de palavras
hebraicas e gregas que significam “pacto” ou “acordo” celebrado entre duas partes (“aliança”).
Portanto, no caso da Bíblia temos o contrato antigo celebrado entre Deus e seu povo, os judeus,
e o pacto novo celebrado entre Deus e os cristãos (Jr 31.31-33; Ez 36.26ss; Hb 8.6-8; Mt 26.28;
Lc 22.20; 1Co 11.25).
Estudiosos cristãos frisaram a unidade existente entre esses dois testamentos da Bíblia
sob o aspeto da Pessoa de Jesus Cristo, que declarou ser o tema unificador da Bíblia.4 Agostinho
dizia que o NT se acha velado no AT, e o AT, revelado no NT. Outros autores disseram o mesmo
em outras palavras: “O NT está no AT ocultado, e o AT, no NT revelado”. (O NT contém 260
capítulos; 209 citam o AT). Assim, Cristo esconde-se no AT e é desvendado no NT. Os crentes
anteriores a Cristo olhavam adiante com grande expectativa, ao passo que os crentes dos nossos
dias vêm em Cristo a concretização dos planos de Deus.
V Lc 24.25-27, 44-45; 1Co 10.11-12.

2
GEISLER, Norman. NIX, William. Introdução Bíblica. São Paulo: Vida, 1997.
3
Ed 4.8–6.18; 7.12-26; Jr 10.11; Dn 2.4-7,6
4
GEISLER, Norman. Christ, the theme of the Bible. Chicago: Moody Press, 1968.

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AS SECÇÕES DA BÍBLIA

A Bíblia divide-se habitualmente em oito secções; quatro do AT e quatro do NT:

LIVROS DO ANTIGO TESTAMENTO


A Lei (Pentateuco) – 5 livros Poesia – 5 livros

1. Génesis 1. Jó
2. Êxodo 2. Salmos
(Não correspondem
3. Levítico 5
(Até 1406 a.C.) 3. Provérbios a nenhum período
histórico específico)
4. Números 4. Eclesiastes
5. Deuteronómio 5. Cântico dos cânticos

História – 12 livros Profetas – 17 livros

A. Maiores

1. Josué (1406 a.C. – 1380 a.C.) 1. Isaías (740 a.C. – 680? a.C.)
2. Juízes (1380 a.C. – 1050 a.C.) 2. Jeremias (627 a.C. – 580 a.C.)
3. Rute (1200 a.C. – 1150 a.C.) 3. Lamentações (586 a.C.)
4. 1 Samuel (1100 a.C. – 1010 a.C.) 4. Ezequiel (592 a.C. – 570 a.C.)
5. 2 Samuel (1010 a.C. – 971 a.C.) 5. Daniel (606 a.C. – 530 a.C.)
6. 1 Reis (971 a.C. – 853 a.C.)
7. 2 Reis (853 a.C. – 560 a.C.) B. Menores
8. 1 Crónicas (1010 a.C. – 971 a.C.)
9. 2 Crónicas (971 a.C. – 539 a.C.) 1. Oséias (760 a.C. – 730 a.C.)
10. Esdras (539 a.C. – 450 a.C.) 2. Joel (830-825 a.C.)
11. Neemias (445 a.C. – 410 a.C.) 3. Amós (760 a.C.)
12. Ester (465 a.C.) 4. Obadias (845 a.C.)
5. Jonas (785-760 a.C.)
6. Miquéias (737 a.C. – 710 a.C.)
7. Naum (663-612 a.C.)
8. Habacuque (607 a.C.)
9. Sofonias (625 a.C.)
10. Ageu (520 a.C.)
11. Zacarias (520 a.C. – 518 a.C.)
12. Malaquias (430-400 a.C.)

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Data aproximada do conteúdo

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LIVROS DO NOVO TESTAMENTO


Evangelhos História

1. Mateus (década de 60 d.C.)


2. Marcos (Final da década de 50 ou início de 60 d.C.)
1. Atos dos Apóstolos (61 d.C.)
3. Lucas (60 d.C.)
4. João (Final da década de 80 ou início de 90 d.C.)

Epístolas (Cartas)

1. Romanos (55 d.C. 3ª viagem)


12. Tito (62 d.C.)
2. 1 Coríntios (54 d.C. 3ª viagem)
13. Filemom (60 d.C.)
3. 2 Coríntios (55 d.C. 3ª viagem)
14. Hebreus (década de 60 d.C.)
4. Gálatas (49 d.C.)
15. Tiago (Na década de 40 ou 50 d.C.)
5. Efésios (60 d.C.)
16. 1 Pedro (63 d.C.)
6. Filipenses (61 d.C.)
17. 2 Pedro (63-64 d.C.)
7. Colossenses (60 d.C.)
18. 1 João (Final da década de 80 ou início de 90 d.C.)
8. 1 Tessalonicenses (50-51 d.C. 2ª viagem)
19. 2 João (Final da década de 80 ou início de 90 d.C.)
9. 2 Tessalonicenses (50-51 d.C. 2ª viagem)
20. 3 João (Final da década de 80 ou início de 90 d.C.)
10. 1 Timóteo (62 d.C.)
21. Judas (década de 60 ou 70 d.C.)
11. 2 Timóteo (63 d.C.)

Profecia

1. Apocalipse (Final da década de 80 ou início de 90 d.C.)

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A divisão do AT em quatro secções baseia-se na disposição dos livros por tópicos, com
origem na tradução das Escrituras Sagradas para o grego. Essa tradução, conhecida como a
Septuaginta (LXX), iniciara-se no século III a.C. A Bíblia hebraica não segue essa divisão tópica
dos livros em quatro partes. Antes, emprega-se uma divisão de três partes, talvez baseada na
posição oficial de seu autor. Os cinco livros de Moisés, que entregou a lei aparecem em primeiro
lugar. Seguem-se os livros dos homens que desempenharam a função de profetas. Por fim, a
terceira parte contém livros escritos por homens que, segundo se cria, tinham o dom de profecia,
sem serem profetas oficiais. É por isso que o AT hebraico apresenta a estrutura do quadro
seguinte:

DISPOSIÇÃO DOS LIVROS DO ANTIGO TESTAMENTO HEBRAICO

A Lei Os profetas Os escritos


‫תורה‬ ‫נביאים‬ ‫כתובים‬
(Tôra) (Nebî’îm) (Ketûbîm)

1. Génesis A. Profetas Anteriores A. Livros poéticos


(No princípio)
1. Josué 1. Salmos (Louvores)
2. Êxodo
(Estes são os nomes) 2. Juízes 2. Provérbios
3. Levítico 3. Samuel 3. Jó
(E Ele chamou) 4. Reis
4. Números
(No deserto) B. Cinco rolos
5. Deuteronómio B. Profetas posteriores 1. Cântico dos cânticos
(Estas são as palavras) 1. Isaías 2. Rute
2. Jeremias 3. Lamentações (Como!)
3. Ezequiel 4. Ester
4. Os Doze 5. Eclesiastes (O pregador)

C. Livros Históricos
1. Daniel
2. Esdras – Neemias
3. Crónicas
(Os eventos / factos dos dias)

A razão dessa divisão das Escrituras hebraicas em três partes encontra-se na história
judaica. É provável que o testemunho mais antigo dessa divisão seja o prólogo ao livro de
Siraque, ou Eclesiástico, durante o século II a.C. O Mishna (ensino) judaico, Josefo, primeiro
historiador judeu e a tradição judaica posterior também deram prosseguimento a essa divisão
tríplice de suas Escrituras. O NT faz uma possível alusão a uma divisão em três partes do AT
quando Jesus disse: “… era necessário que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na lei
de Moisés, nos Profetas e nos Salmos” (Lc 24.44).
A despeito do facto de o Judaísmo ter mantido uma divisão tríplice até à presente data, a
Vulgata latina, de Jerónimo e as Bíblias posteriores a ela seguiram o formato mais tópico das
quatro partes em que se divide a Septuaginta. Se combinarmos essa divisão com outra, mais
natural e largamente aceita, também de quatro partes, do NT, a Bíblia pode ser dividida na
estrutura geral e cristocêntrica apresentada no quadro seguinte:

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Lei Fundamento da chegada de Cristo


ANTIGO História Preparação para a chegada de Cristo
TESTAMENTO Poesia Anelo pela chegada de Cristo
Profecia Certeza da chegada de Cristo

Evangelhos Manifestação de Cristo


NOVO Atos Propagação de Cristo
TESTAMENTO Epístolas Interpretação e aplicação de Cristo
Apocalipse Consumação em Cristo

Ainda que não existam razões de ordem divina para dividirmos a Bíblia em oito partes, a
insistência cristã em que as Escrituras devam ser entendidas tendo Cristo por centro baseia-se
nos ensinos do próprio Cristo. Cerca de cinco vezes no NT Jesus afirmou ser Ele próprio o tema
do AT (Mt 5.17, Lc 24.27, Jo 5.39, Hb 10.7). Diante dessas declarações é natural que analisemos
essa divisão das Escrituras em oito partes, por tópicos, sob o aspeto de seu tema maior – Jesus
Cristo.

OS DOIS TESTAMENTOS: COMPARAÇÃO E CONTRASTE


ANTIGO NOVO

Antecipação Consumação

“Sombra” “Realidade”

Repetição de sacrifício Sacrifício Uma Vez…

Monte Sinai Monte do Calvário

Início: Páscoa Início: Ceia do Senhor

Lei Externa – Mata Lei Interna – Vivifica

Fracasso garantido Sucesso garantido

Sinal da participação: circuncisão Sinal da participação: Batismo

Salvação pela Graça Salvação pela Graça

Recetáculos: Israel (prosélitos por extensão) Recetáculos: Israel (Igreja por extensão)

Elementos: Leis civis, morais e cerimoniais Elementos: A lei de Cristo (Amor)

Condicional: Bênção e Maldição Incondicional: pela Graça mediante a Fé

Acesso restrito ao Pai: Dia da Expiação Acesso direto ao Pai: Trono da Graça (rasgou-se o véu)

Sacrifício de cordeiros por sacerdotes Sacrifício do Cordeiro pelo Sumo-Sacerdote

CAPÍTULOS E VERSÍCULOS DA BÍBLIA


As Bíblias mais antigas não eram divididas em capítulos e versículos. Essas divisões foram
feitas para facilitar a tarefa de citar as Escrituras. Stephen Langton, professor da Universidade de
Paris e mais tarde arcebispo da Cantuária, dividiu a Bíblia em capítulos em 1227. Robert
Stephanus, impressor parisiense, acrescentou a divisão em versículos em 1551.

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A INSPIRAÇÃO DA BÍBLIA
A característica mais importante da Bíblia não é a sua estrutura e sua forma mas o facto
de ter sido inspirada por Deus. Não se deve interpretar de modo erróneo a declaração da própria
Bíblia a favor dessa inspiração. Quando falamos de inspiração, não se trata de inspiração poética
mas de autoridade divina. A Bíblia é singular. Ela foi literalmente “soprada por Deus”.

(Anexo sobre Inspiração Bíblica)

EVIDÊNCIAS DA INSPIRAÇÃO DA BÍBLIA

A CAPACIDADE TRANSFORMADORA DA BÍBLIA


Evidência denominada “interna”, pois refere-se à capacidade que a Bíblia tem de converter
o incrédulo e de o edificar na fé cristã. Assim lemos em Hebreus: “A palavra de Deus é viva e
eficaz e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes…” (4.12). Milhares e milhares têm
experimentado esse poder. Viciados em drogas têm sido libertos pela Palavra; delinquentes têm
sido transformados; o ódio tem cedido lugar ao amor (etc.); tudo isso pela leitura da Palavra de
Deus (1Pe 2.2). Os entristecidos recebem conforto, os pecadores são repreendidos, os
negligentes são exortados pelas Escrituras. A palavra de Deus tem o poder, o dinamismo
transformador de Deus. A evidência de que Deus atribuiu sua autoridade à Bíblia está em seu
poder evangelístico e edificador. “O melhor argumento de Deus é o Homem ressurrecto”.

A UNIDADE DA BÍBLIA
Sendo constituída por 66 livros escritos ao longo de 1500 anos, por cerca de 40 autores,
em diversas línguas, com centenas de tópicos é muito mais que mero acidente que a Bíblia
apresente espantosa unidade temática – Jesus Cristo. Um problema – o pecado – e uma solução
– o Salvador Jesus – unificam as páginas da Bíblia, do Génesis ao Apocalipse. Se a compararmos
a um manual médico redigido sob tão grande variedade, a Bíblia apresenta marcas notáveis de
unidade divina. Essa é uma questão de inigualável validade, uma vez que nenhuma pessoa ou
grupo de pessoas engendraram a composição da Bíblia. Os livros iam sendo colecionados e
acrescentados à medida que iam sendo escritos pelos autores, os profetas. Eram guardados
simplesmente por serem tidos como inspirados. Só mediante reflexão posterior, tanto da parte
dos profetas (e.g. 1Pe 1.10,11) quanto de autores de gerações futuras é que se descobriu que na
verdade a Bíblia é um livro só, cujos “capítulos” foram escritos por homens sem conhecimento
visível de sua estrutura global. O papel desses autores da Bíblia seria comparável ao de
diferentes escritores que estivessem a escrever capítulos de uma novela sem que tivessem nem
mesmo um esboço geral da história. Toda a unidade que a Bíblia demonstre certamente adveio
de algo que se achava fora do alcance de seus autores humanos.

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A HISTORICIDADE DA BÍBLIA
Grande parte do conteúdo bíblico é história e, por isso mesmo, passível de constatação.
Existem duas espécies principais de apoio da história bíblica: os artefactos arqueológicos e os
documentos escritos. No que diz respeito aos artefactos desenterrados nenhuma descoberta
arqueológica invalidou um ensino ou relato bíblico.
A Bíblia é o livro do mundo antigo mais bem documentado que existe. É verdade que
nenhuma descoberta histórica representa evidência direta de alguma afirmação espiritual feita
pela Bíblia, como por exemplo a reivindicação de ser inspirada por Deus; no entanto, a
historicidade da Bíblia fornece com certeza uma comprovação indireta de sua inspiração. É que a
confirmação da exatidão da Bíblia em questões factuais confere credibilidade às suas declarações
e ensinos em outros assuntos. Disse Jesus: “Se vos falei de coisas terrenas e não crestes, como
crereis se vos falar das celestiais?” (Jo 3.12).

A INFLUÊNCIA DA BÍBLIA
Nenhum outro livro tem sido tão largamente disseminado, nem exercido tão forte
influência sobre o curso dos acontecimentos mundiais do que a Bíblia. Nenhuma outra obra
religiosa ou de fundo moral no mundo excede a profundidade moral contida no princípio do amor
cristão e nenhuma apresenta conceito espiritual mais majestoso sobre Deus do que o conceito
que a Bíblia oferece. A Bíblia apresenta ao homem os mais elevados ideais que já pautaram a
civilização.

Mc 13.31 “Os céus e a terra passarão, mas as minhas palavras jamais passarão.”
1Pe 1.25 “... mas a Palavra do SENHOR permanece para sempre.”

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CANONICIDADE (Cânon Bíblico) – É o resultado do estudo que trata do reconhecimento e da


compilação dos livros que nos foram dados por inspiração de Deus. É o processo pelo qual a
Bíblia recebeu a sua aceitação definitiva. É a inspiração de Deus num livro que determina sua
canonicidade. Deus dá autoridade divina a um livro e os homens o acatam. Deus revela e seu
povo reconhece o que o Senhor revelou. A canonicidade é determinada por Deus e descoberta
pelos homens de Deus. A Bíblia constitui o “cânon” ou “medida” pela qual tudo mais deve ser
medido e avaliado pelo facto de ter autoridade concedida por Deus.

OS PRINCÍPIOS DE DESCOBERTA DA CANONICIDADE


V A Autoridade de um livro: O livro é autorizado – afirma vir da parte de Deus? (Ex. “Assim
diz o Senhor…”, “e o Senhor me disse”, “veio a mim a palavra do Senhor”)
V A Autoria Profética de um livro: É profético – foi escrito por um servo de Deus? Os livros
proféticos só foram produzidos pela atuação do Espírito que moveu alguns homens
conhecidos com profetas (2Pe 1.20,21). A Palavra de Deus só foi entregue a seu povo
mediante os profetas de Deus. Todos os autores bíblicos tinham um dom profético ou uma
função profética, ainda que tal pessoa não fosse profeta por ocupação (Hb 1.1).
V A Confiabilidade de um livro: É digno de confiança – fala a verdade acerca de Deus, do
Homem, …?
V A Natureza dinâmica de um livro: É dinâmico – possui o poder de Deus que transforma
vidas? O quarto teste de canonicidade, às vezes menos explícito do que alguns dos demais,
era a capacidade do texto de transformar vidas: “… a palavra de Deus é viva e eficaz…” (Hb
4.12). O resultado é que ela pode ser usada “para ensinar, para repreender, para corrigir,
para instruir em justiça” (2Tm 3.16,17).
V A Aceitação de um livro: É aceito pelo povo de Deus para o qual foi originalmente escrito –
é reconhecido como proveniente de Deus?

FIXAÇÃO DO CÂNON
Antigo Testamento – 400 a.C. – De acordo com Josefo (Contra Ápion, I,8) e com o
Talmude, a sucessão de profetas encerrou-se com Malaquias nos dias de Neemias. Assim regista
o Talmude: “Depois dos últimos profetas, Ageu, Zacarias e Malaquias, o Espírito Santo apartou-
se de Israel”. Além disso, jamais o NT cita algum outro livro, depois de Malaquias, como
autorizado.
Novo Testamento – 397 d.C. – Atanásio (c. 373 d.C.), o Pai da Ortodoxia, relaciona
com clareza todos os 27 livros do NT como canónicos (Cartas 3,267,5). Dentro de uma geração,
tanto Jerónimo quanto Agostinho teriam confirmado a mesma lista de livros, de modo que os 27
livros permaneceram no Cânon aceito do NT (v. AGOSTINHO, Da doutrina cristã, 2.8.13).
O Testemunho de apoio ao cânon do NT não se limitou a vozes individuais. Dois concílios
locais ratificaram os 27 livros canónicos do NT – Os concílios de Hipo (393 d.C.) e de Cartago
(397 d.C.).

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Génesis
‫ בראשית‬No Princípio
Autor
Moisés

Data
Entre 1450 a.C. e 1410 a.C.

Frase Chave
“Começos”

Verso
“Em Génesis tudo começou e Abraão Deus abençoou”.

Versículos chave
12.1-3 (1.1, 3.15)

Propósito
Revelar Deus como Criador, Juiz e Redentor do mundo que escolheu o povo de Israel como canal
da Sua bênção.

Mensagem6
A eleição e separação de Israel como povo pactual de Deus deram-se em um contexto de conflito
entre o propósito benevolente do Criador e a vontade rebelde das criaturas, a quem Ele pune em
justiça e restaura em amor.

Personagens em destaque
Adão, Noé, Abraão, Isaque, Jacó, José

Contribuição para o Cânon


V Sem Génesis nós não conheceríamos nada sobre os “começos”.
V Dá um fundamento histórico, salvífico e teológico para a Bíblia inteira.

Começos em Génesis
V O mundo V A civilização V A dor
V A raça humana V As nações V O sacrifício
V O pecado V A raça hebraica V A poligamia
V A família V Idiomas V O sábado
V A promessa de redenção V O julgamento V O governo
V O casamento V A morte

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PINTO, Carlos Osvaldo Cardoso. Foco e desenvolvimento no Antigo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2006

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Esboço 1
I. O começo da Raça Humana (1-11)
A. Criação (1-2)
B. Queda (3-5)
C. Dilúvio (6-9)
D. Nações / Babel (10-11)
II. O Começo da Raça Hebraica (12-50)
A. Abraão (12-25)
B. Isaque (21-27[35])
C. Jacó (25-36[49])
D. José (37-50)

Esboço 2
I. O alvo da criação de Deus: domínio, bênção e relacionamento (1.1 – 2.25)
II. O pecado, suas consequências e a graça salvadora de Deus (3.1 – 11.32)
III. Abraão: a obediência da fé (12.1 – 22.19)
IV. Isaque: o elo com as promessas de Deus a Abraão (22.20 – 25.18)
V. A luta de Jacó pelas promessas (25.19 – 36.43)
VI. A libertação mediante José (37.1 – 50.26)

O Messias (Jesus) em Génesis: A semente…


V da mulher (3.15)
V de Abraão (22.18)
V de Isaque (26.4)
V de Jacó (28.14)
V de Judá (49.10)

Na verdade, Génesis está de várias maneiras quase que mais perto do NT do que do AT, e
de alguns dos seus tópicos mal se ouve falar de novo até suas implicações surgirem plenamente
nos evangelhos. A instituição do casamento, a queda do homem, a inveja de Caim, o juízo do
dilúvio, a justiça imputada ao que crê, a rivalidade entre os filhos da promessa e da carne, a
profanidade de Esaú, o povo de Deus em sua condição de peregrino, são todos eles temas
predominantes do NT. Finalmente, há a simetria com que algumas das cenas e figuras dos
primeiros capítulos reaparecem no livro do Apocalipse, onde Babel (Babilónia) e “a antiga
serpente… o sedutor de todo o mundo” são levados à ruína, e os remidos, conquanto sejam
agora veteranos e não inocentes ainda não tentados, voltam a passear pelo paraíso, nas
cercanias do rio e da árvore da vida.7

7
KIDNER, Derek. Génesis – Introdução e Comentário. São Paulo: Vida Nova, 1999, p.14

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Períodos do Dilúvio

REFERÊNCIA EM
DATA NÚMERO DE DIAS ACONTECIMENTO
GÉNESIS
por toda a parte (7.24)

10 do mês 2 Esperaram 7 Entraram na arca 7.4,10


150 dias de águas

*17 do mês 2 Durou 40 Início da chuva 7.4-6,11,12

*26 do mês 3 Final de 40 Interrupção da chuva 7.4,11

*17 do mês 7 Final de 150 A arca para no Ararate 7.24; 8.4


150 dias para escoamento das águas (8.3)

Os topos das montanhas


*1º do mês 10 Esperaram 40 8.5,6
passam a ser visíveis

10 do mês 11 Esperaram 1 Um corvo é enviado 8.7

Uma pomba é enviada;


11 do mês 11 Esperaram 7 8.8,9
retorna

Uma pomba é enviada;


19 do mês 11 Esperaram 7 8.10,11
retorna com folha de oliveira

Uma pomba é enviada; não


27 do mês 11 8.12
retorna

As águas escoam
17 do mês 12 Final de 150 8.3
completamente

A cobertura da arca é
*1º do mês 1 8.13
retirada
Número
de dias

Seca-se a terra; todos


*27 do mês 2 8.14-19
deixam a arca
Estatística

1 mês contém 30 dias.


Tempo total passado na arca = 1 ano e 17 dias = 360 + 17 = 377
7 dias de espera + 150 dias de água por toda a parte + 150 dias de
Escoamento das águas + 70 dias para a terra a secar = 377

* Datas especificamente mencionadas nas Escrituras (todas as demais são deduzidas)

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Comparação entre os relatos bíblico e babilónico do Dilúvio

Uma importante e completa história mesopotâmica de dilúvio encontra-se na décima primeira placa da Epopeia
de Gilgamés – uma narrativa comovente sobre a busca frustrada da vida eterna por Gilgamés e seu amigo Enkidu. Essa
narrativa mesopotâmica do dilúvio não diverge tanto do relato bíblico como ocorre com as histórias da criação. Na
verdade, as semelhanças são por demais admiráveis para serem acidentais.
Em ambas as histórias, Deus ou os deuses dão início ao dilúvio por causa do desagrado com a humanidade, mas
informam o personagem principal sobre o desastre iminente e aconselham-no a construir uma embarcação enorme
coberta com betume, de acordo com dimensões predeterminadas. Em ambas as histórias, o herói e sua família são salvos
da inundação de longa duração, e o herói envia um pássaro para ver se as águas do dilúvio haviam baixado. Em ambas
as histórias o herói oferece sacrifício e cultua a Deus ou aos deuses após o dilúvio e é elogiado por sua fidelidade.
Por outro lado, a diferença principal entre as duas histórias está na conduta de Deus e dos deuses
mesopotâmicos. Na Bíblia, Deus é ultrajado moralmente pela perversidade dos homens. Os deuses na Epopeia de
Gilgamés são imaturos, ficam perturbados e perdem o sono por causa dos ruídos que a humanidade faz. Em Génesis, a
vontade graciosa de Deus é salvar os que estão na arca. O herói da Epopeia de Gilgamés descobriu o dilúvio que estava
por vir contra a vontade da maioria dos deuses. No fim, o herói da Epopeia de Gilgamés tornou-se um deus, algo muito
diferente da experiência de Noé em Génesis 9.
Muitos detalhes das histórias, tais como as dimensões da arca e a duração do dilúvio, também são bem
diferentes. Essas diferenças são tão importantes que tornam altamente improvável a existência de uma relação literária
entre os dois textos. Entretanto, as semelhanças favorecem alguma associação. Uma vez que o dilúvio foi um evento
histórico, é plausível que a memória do acontecimento tenha sido preservada pelos sobreviventes e seus descendentes.

ITEM NARRATIVA DE GÉNESIS EPOPEIA DE GILGAMÉS

Planeado no conselho dos deuses Anu,


Dilúvio divinamente planeado Planeado por Deus
Enlil, Ninurta, Ennugi, Ea, Istar

Revelação divina do plano Deus queria poupar Noé Ea advertiu o herói Utnapistim
ao herói por causa de sua justiça através de um sonho

O barulho dos homens incomodava


Motivo do Dilúvio Pecado do homem
o descanso dos deuses

Eticamente ambíguo e
Punição Altamente ético e justo
lamentado posteriormente

Salvação do herói Incluída no plano de Deus Feita secretamente


Representantes de todos
Oito pessoas (família),
Vidas preservadas os seres viventes, animais, várias
representantes de cada animal
famílias, artesãos, técnicos
Fundo achatado, retangular, Em forma de Zigurate (templo
135 x 22,5 x 13,5 metros, mesopotâmico) 54 x 54 x 54 metros, 7
Construção do barco
3 andares, porta, janela, níveis, 9 secções, porta, janela, coberta
coberta com betume com betume
Mais abrangente: alterações
Causas físicas do Dilúvio geofísicas, águas subterrâneas, Chuvas, ventos e rompimento de diques
chuvas pesadas

Duração do Dilúvio 40 dias e 40 noites 6 dias e noites

Parada do barco Monte Ararate Monte Nisir

Aves enviadas Corvo, pomba (3 vezes) Pomba, andorinha, corvo

Atos de culto Sacrifício de adoração Sacrifício de apaziguamento

Bênção ao herói Aliança na terra Divindade, imortalidade

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Êxodo
‫שמות‬ Estes são os nomes

Autor
Moisés

Data
Entre 1445 a.C. e 1406 a.C.

Frase Chave
Saindo do Egipto (“Redenção”)

Verso
“Com Êxodo vem redenção e leis para santificação”.

Versículos chave
19.4-6 (3.14; 18.10-11)

Propósito
Descrever o nascimento da Nação de Israel que eventualmente traria bênção ao mundo, para
combater a idolatria e revelar a identidade do SENHOR.

Mensagem
A preservação do relacionamento entre YHWH e Israel como nação escolhida exigia a libertação
do povo do cativeiro e sua obediência corporativa a Ele mediante as estipulações da aliança
mosaica.

Personagens em destaque
Moisés, Arão, Faraó

Contribuição para o Cânon


V Traça o começo da Nação de Israel
V O grande livro do AT sobre Redenção
V Revela a fidelidade de Deus à sua aliança com Abraão
V Estabelece padrões de conduta e um alicerce de doutrina para o NT (redenção, santificação,
Páscoa, sacrifício)

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Esboço

I. Redenção (1-18)
A. Opressão de Israel (1)
B. Preparação do Líder (2-6)
C. Pragas e Redenção (7-12)
D. Preservação no deserto (13-18)
II. Revelação da Aliança Mosaica (19-40)
A. A Lei (19-24)
B. O Padrão do Tabernáculo (25-31)
C. Idolatria – Aliança Quebrada (32-34)
D. A construção do Tabernáculo – Aliança Cumprida (35-40)

No Pentateuco, considerado como um todo, há apenas cinco temas principais - a


promessa de Deus aos patriarcas; o êxodo; a auto-revelação de Deus na aliança e na lei, no
Monte Sinai; a longa jornada pelo deserto; a entrada em Canaã. Três desses cinco temas são
tratados extensivamente no livro do Êxodo.

Relevância do livro de Êxodo


É difícil afirmar que livro se constitui no centro, no coração do AT, mas, certamente, é
difícil igualar os méritos de Êxodo. Para os que consideram a teologia essencialmente uma
narrativa dos atos redentores de Deus, Êxodo 1-15 dá o supremo exemplo, em torno do qual
todo o restante da narrativa bíblica pode ser incorporado. Para os que consideram o AT um
produto da vida devocional da comunidade, no coração do livro de Êxodo se encontra o relato da
instituição da Páscoa, a maior e mais característica das festas de Israel. Sem dúvida, a narrativa
de Êxodo pode ser vista como a explicação da origem daquela festa, recitada ou lida em voz alta
durante sua celebração. Para os que vêem a Tôra, a Lei de Deus, como o centro da vida e do
pensamento do Israel bíblico, Êxodo contém a doação da lei e o próprio cerne da lei sob a forma
dos Dez Mandamentos.
Para escritores israelitas mais recentes, com interesses sacerdotais, que viam a
continuidade da adoração no templo como um dos pilares do universo, Êxodo continha o relato
da construção do Tabernáculo, o precursor do templo. Ao mesmo tempo, não eram apenas os
sacerdotes que olhavam para o passado, venerando Moisés e Arão. Moisés também se sobressai
como o protótipo de todos os profetas em Israel (Dt 18.18) e os profetas mais recentes, embora
cheguem a sondar de perto a mente e os propósitos de Deus, foram, em essência, reformadores,
procurando voltar ao espírito da revelação mosaica e à experiência salvadora de Israel ao ser
libertado do Egipto.

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É natural, portanto, que o êxodo do Egipto, interpretado na fé israelita como o exemplo


supremo da graça, fidelidade e poder de Deus, tenha dominado completamente o pensamento de
Israel nos séculos subsequentes. O êxodo chegou a eclipsar, por um longo período da história de
Israel, os grandes eventos da Criação e do período patriarcal, embora, tanto o poder criativo de
Deus e Sua promessa a Abraão estejam relacionados ao êxodo e até mesmo “cumpridos” nele,
em parte. Nem mesmo a promessa posterior à linhagem de Davi (2Sm 7.5-17) foi capaz de
obliterar a memória da libertação do cativeiro no Egipto (cativeiro que durou 430 anos - cf. Ex
12.40-41). Pelo contrário, o êxodo tornou-se um modelo ao qual se comparavam outras
libertações. Quando os exilados voltaram da Babilónia, não foi motivo de espanto que tal retorno
fosse encarado como um segundo êxodo, ainda mais impressionante (Jr 23.7-8), uma outra
partida de um outro Egipto.
Se de facto o êxodo e, portanto, o livro do Êxodo, era precioso para o judeu, tornou-se
duplamente precioso para o crente. Quando Moisés e Elias apareceram conversando com Cristo
sobre Sua morte que estava próxima, na narrativa da transfiguração, o evangelista
deliberadamente usa a palavra grega e[xodo" (exodos) para descrever essa morte (Lc 9.31).
Paulo torna essa identificação bem específica ao chamar Cristo de “nosso cordeiro pascal” (1Co
5.7). João, em seu estilo alusivo, sugere essa mesma identificação ao enfatizar que nenhum osso
de Cristo fora quebrado na cruz (Jo 19.33,36), tal como osso algum do cordeiro pascal podia ser
quebrado (12.46). Daí por diante, em todo o NT, as alusões se multiplicam. A Páscoa dava início
à “festa dos pães asmos” que durava uma semana: assim, o crente deve comer seu “pão asmo”
de sinceridade e verdade, livre da corrupção do pecado (1Co 5.6-8).
Prova de que essa associação do Êxodo com a redenção não foi uma invenção posterior da
Igreja, surgindo porém da mente do próprio Cristo, é a maneira em que, conforme relatado por
Paulo, Ele considerava Sua morte como o sacrifício da nova aliança (1Co 11.25), selando com
sangue a nova aliança de Deus, tal como no distante passado do livro de Êxodo o sangue havia
selado a antiga aliança entre Deus e Israel (24.6). Se a antiga aliança havia levado à lei, esta
nova aliança, profetizada por Jeremias (Jr 31.31), levaria à lei do amor, explicada em detalhes
em muitas epístolas do Novo Testamento (Rm 13.8, por exemplo).
Seja qual for o ângulo sob o qual estudemos o livro de Êxodo, seus grandes temas, bem
como o resto da “Velha Aliança” (que deriva seu nome de factos narrados em Êxodo), foram
cumpridos e não abolidos em Cristo (Mt 5.17). É por isso que, quando o canto dos remidos
ressoa nos céus, tem como título o “cântico de Moisés e do Cordeiro” (Ap 15.3). Nenhum outro
livro, portanto, dará melhor recompensa a um estudo cuidadoso se desejarmos entender a
mensagem central do NT do que Êxodo, que é o núcleo do AT e relato do estabelecimento da
Velha Aliança.8

8
COLE, R. Alan. Êxodo – Introdução e Comentário. São Paulo: Vida Nova, 1996, p.16

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O S N OMES DE D EUS
NOME REFERÊNCIA SIGNIFICADO EQUIVALENTE EM ARA9

Elohim
Gn 1.1-2.3 Deus, Criador (Deus de todos os deuses, o transcendente). Deus
‫ֱאלהִֹם‬
El
Conhecido pelos cananeus como o senhor de muitos
Gn 14.18-22 deuses. Os hebreus usavam livremente em referência ao Deus
‫ֵאל‬ próprio Deus, geralmente em nomes compostos.

Adonai É uma forma especial da palavra comum Adon (senhor).


Adonai é empregado só em referência ao único Deus
Sl 2.4 verdadeiro, jamais em referência a homens ou a outros Senhor
‫ֲאדֹנָי‬ deuses.

Esta é uma forma reduzida da resposta de Deus a Moisés


YHWH quando este lhe perguntou qual o nome do Deus dos
Ex 3.13-14 patriarcas. O nome completo identifica Deus como o Deus SENHOR
‫יהוה‬ Vivo (EU SOU o que Sou). Foi este Deus que se apresentou
em Jo 8.58 - ejgw; eijmiv

El-Beryt
Jz 9.46 Deus da Aliança El-Berite
‫ֵאלבּ ְִרית‬
El-Elyon
Gn 14.18-20 Deus Altíssimo / Excelso Deus Altíssimo
‫ֵאל ֶעלְיוֹן‬
El-Olam
Gn 21.33 O Deus Eterno Deus Eterno
‫ֵאל עוֹלָם‬
El-Shaddai
Gn 17.1-2 Deus Todo-Poderoso Deus Todo-Poderoso
‫שׁדַּ י‬
ַ ‫ֵאל‬
Qedosh Yisra’el
Is 1.4; 5.19; 43.3 O Santo de Israel O Santo de Israel
‫שׂ ָר ֵאל‬
ְ ִ ‫ְקדוֹשׁ י‬
Shophet
Gn 18.25 Juiz / Governante Juiz
‫שֹׁפֵט‬
YHWH Yir’eh
Gn 22.14 “EU SOU” provê O SENHOR proverá
‫יהוה י ְִר ֶאה‬
YHWH Tseba’ot
1Sm 1.3; Sl 24.10;
“EU SOU” dos Exércitos SENHOR Onipotente
Zc 1.34
‫יהוה ְצבָאוֹת‬
YHWH Shalom
Jz 6.24 “EU SOU” é Paz O SENHOR é Paz
‫שׁלוֹם‬
ָ ‫יהוה‬
YHWH Tsidqenu
Jr 23.6 “EU SOU” nossa Justiça SENHOR, Justiça Nossa
‫צִדְ ֵקנוּיהוה‬

9
Almeida Revista e Actualizada

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Outros Nomes

Em sua adversidade, o povo da aliança clamava a Deus pelo seu nome familiar, “nosso

Pai” [‫( ]אָבִינוּ‬Is 63.16; 64.8). Jesus convida a todos que se chegam a Deus por seu intermédio a

chamar Deus de “nosso Pai” [pavter hJmw'n] ou “Aba” [ajbba] (Mc 14.36; Rm 8.15; Gl 4.6).
Entre outras designações de Deus estão “a Rocha” [‫( ]צוּר‬1Sm 2.2; 2Sm 22.47); Pastor [‫]רֹעֶה‬,

[poimhvn] (Is 40.11; Jr 31.10; Sl 23.1, Jo 10.11-14) e Rei [‫מלֶך‬


ֶ ] (Sl 5.2; 24.7,10).

NOMES ARAMAICOS
NOME REFERÊNCIA SIGNIFICADO

Attyq Yomyn ‫ע◌ַ תִּ יק יוֹ ִמין‬ Dn 7.9 Ancião de Dias

Illay ‫ִעלָּי‬ Dn 7.25 Altíssimo

19
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As pragas e os deuses do Egipto 10

AS PRAGAS REFERÊNCIA PROVÁVEL DIVINDADE EGÍPCIA A QUE SE REFERE

NILO
Knum: guardião do Nilo; Hapi: espírito do Nilo; Osíris: o
TRANSFORMADO EM Ex 7.14-25
Nilo era seu sangue
SANGUE

Hect: com forma de rã; deus da ressurreição


RÃS Ex 8.1-15
Hapi: espírito do Nilo

PIOLHOS Ex 8.16-19 Hathor: deusa mãe; Nut: deusa do céu

Uatchit: um deus que se manifestava na forma de mosca;


MOSCAS Ex 8.20-32
Shu, Ísis

Hathor: deusa-mãe, com forma de vaca; Apis: touro do


MORTE DOS REBANHOS Ex 9.1-7 deus Ptá; símbolo de fertilidade; Mnevis: touro sagrado
de Heliópolis

Sekhmet: deusa com poder de curar


FERIDAS PURULENTAS Ex 9.8-12
Serápis: deus curandeiro

Nut: deusa do céu; Ísis: deusa da vida; Set: protetor da


GRANIZO Ex 9.13-35
colheita; Geb

GAFANHOTOS Ex 10.1-20 Ísis: deusa da vida; Set: protector da colheita; Serápis

TREVAS Ex 10.21-29 Rá, Aten, Atum, Horus: todos deuses do Sol

MORTE DOS
Ex 11.1-12.36 A divindade de Faraó: Osíris, o doador da vida
PRIMOGÉNITOS

Estes são apenas alguns dos deuses contra os quais as pragas provavelmente se dirigiram. Não é uma lista conclusiva.

10
Ex 12.12, 18.11; Nm 33.4; A Bíblia Anotada expandida p. 68; Bíblia de estudo MacArthur p. 99.

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Tabernáculo - ‫שׁכָּן‬
ְ ‫ִמ‬

A presença de Deus entre o povo exigia um local apropriado de manifestação, onde a própria
natureza santa de YHWH ficasse evidente aos israelitas.
Esta presença santa exigia certos cuidados, pois a absoluta santidade de Deus não aceitaria
contaminação pelo inevitável pecado de Israel.
Assim, o Tabernáculo revelava de maneira objetiva a santidade e a graça de Deus (em sua provisão
para o pecado), bem como o pecado do homem e sua necessidade de perdão.
Quando o Tabernáculo é encarado dentro desta perspetiva de livramento e manutenção do
relacionamento entre Deus e Seu povo (Israel), é mais fácil entendê-lo tipologicamente e aplicá-lo ao povo
de Deus atual (a Igreja).
A lista que se segue é uma sugestão de como encarar tipologicamente as várias partes do
Tabernáculo e os objetos nele contidos.

Cerca de linho branco Santidade e inacessibilidade de Deus


Porta(s) Cristo como meio de acesso a Deus
Altar do Sacrifício Calvário – o lugar da expiação
Bacia de bronze Purificação diária para o crente
Pães da proposição Cristo o pão da vida
Candelabro Cristo, a Luz do Mundo
Altar de Incenso Oração intercessória de Cristo
Véu Corpo de Cristo, velando Sua glória
Arca Trono glorioso de Deus; Santa Majestade
Querubins Um trono vazio para YHWH (Ez 1)
Maná Cristo, o Pão da Vida
Vara de Arão Cristo, o Doador da Vida
Tábuas da Lei Santidade Divina x Incapacidade Humana
Propiciatório Obra substitutiva de Cristo, que suportou a ira de Deus em nosso lugar.
Local de manifestação divina e comunhão com Deus através do sangue
expiatório.

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Levítico
arqyw E Ele Chamou
Autor
Moisés

Lugar
Monte Sinai (27.34)

Data
Entre 1445 a.C. e 1406 a.C.

Versículos Chave
20.7-8 (11.44-45; 19.2; cf. 1Pe 1.15-16); 17.11 (cf. Mt 26.28; Ef 1.7; Hb 9.22; Ap 1.5)

Frase Chave
Leis para ficar santo!

Verso
“Como viver na presença de Deus? Levítico dá regras aos Judeus”.

Propósito
Promover reverência nacional e individual à santidade de YHWH, apresentando as condições que
permitem a Israel aproximar-se Dele e preservar a Sua presença santa entre o povo escolhido.

Mensagem
A presença santa de YHWH entre Seu povo exige purificação regular por meio de sacrifícios
apropriados e separação nacional de toda sorte de impureza.
cf. Hb 10.11-14, 19-22

Personagens em destaque
Moisés, Arão, Nadabe / Abiú

Contribuição para o Cânon


V Revela a importância de santidade no povo.
V Apresenta o sistema religioso à nação.
V Estabelece alguns padrões de relacionamento entre Deus e o homem (sacrifício, mediação).
V Dá um profundo sentimento de horror ao pecado.

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Esboço

I. Aproximação de Deus (1-17)


A. Ofertas (1-7)
B. Sacerdotes (8-10)
C. Santidade de Vida (11-15)
D. Expiação (16-17)
II. Preservação de Santidade (18-27)
A. Povo Santo (18-20)
B. Sacerdotes Santos (21-22)
C. Festas Santas (23-25)
D. Outros (26-27)

Informações Interessantes / Importantes

V O nome Levítico vem da LXX “pertinente aos Levitas”. Os levitas, porém, não são as
personagens principais do livro. O título destaca mais a utilidade do livro para o seu
ministério como líderes do culto e mestres da moral.
V Em vários pontos da Lei Deus “antecipou-se” à ciência / medicina (cf. 12.3).
V Adoração – aspeto central na vida do povo de Deus.
V O ritual que não brota de corações dedicados a Deus é inútil (Pv 15.8; Is 1.11-17; Os 6.6;
Am 5.21-24; Ml 1.10 – cf. Mt 23.23; Mq 6.6-8).
V Deus exige sempre o melhor nas ofertas do Seu povo (2.1 – “tl,so” NVI; cf. Gn 18.6).

V Existe um padrão mais elevado para o ministro que serve o Senhor (caps 8-9; 10.8-11).
V O pecado tem um preço terrível (4.27-35; Hb 9.22).

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O Sistema Sacrificial

NOME REFERÊNCIA ELEMENTOS SIGNIFICADO

Gado, novilho, carneiro, pombo ou Voluntária.


rolinha sem defeito (sempre Significa propiciação do pecado
Holocausto Lv 1; 6.8-13 animais machos, mas a espécie e rendição, devoção e
variava de acordo com a condição compromisso completo com
económica do indivíduo). Deus.

Oferta de manjares,
Farinha, pão ou grão preparados Voluntária.
também chamada
Lv 2; 6.14-23 com azeite e sal (sempre não Significa gratidão pelas
oferta de farinha ou
levedados); ou incenso. primícias.
tributo

Voluntária.
Oferta de comunhão, Simboliza comunhão com Deus.
também chamada Qualquer animal sem defeito (a (1) Significa gratidão por uma
oferta pacífica: inclui espécie do animal variava de bênção específica; (2) oferece
Lv 3; 7.11-36
(1) oferta de gratidão, acordo com a condição uma expressão ritual de um
(2) oferta de voto e económica do indivíduo). voto; e (3) simboliza gratidão
(3) oferta voluntária geral (levada a um dos cultos
religiosos exigidos).

Animal, macho ou fêmea, sem


defeito – conforme se segue:
Obrigatória.
gado pelo sumo-sacerdote e
Lv 4.1-5.13 Oferecida por quem tivesse
congregação; bode pelo rei;
Oferta pelo pecado 6.24-30 cometido pecado involuntário
cabra ou cordeira por qualquer
12.6-8 ou estivesse impuro, para
pessoa; rola ou pombo pelo
obter purificação.
pobre; um décimo de efa (2-4 lt.)
de farinha pelo mais pobre.

Obrigatória.
Lv 5.14-6.7 Oferecida por quem tivesse
Oferta pela culpa 7.1-6 Carneiro ou cordeiro sem defeito privado alguém de seus
14.12-18 direitos ou profanado algo
santo.

25
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As Festas de Israel

NOME DATA REFERÊNCIA SIGNIFICADO

Lv 23.3
Sábado Comemora o descanso de Deus após a Criação e a
Sétimo dia da semana Ex 20.11
tB;v' libertação da escravidão no Egipto.
Dt 5.15

Comemora a libertação que Deus concedeu a Israel,


Páscoa
Lv 23.5-8 tirando-o do Egipto (ênfase na última praga).
js'P, 14-21 de Nisã (mar/abr)
Ex 12.2-20 Inclui um Dia das Primícias pela colheita da
(Festa dos Pães Asmos)
cevada. (Leitura do livro Cântico dos Cânticos)

Pentecostes Lv 23.15-21 Comemora a entrega da lei no monte Sinai. Inclui


t[obuv; 6 de Sivã (mai/jun – sete
Ex 23.16; um dia das Primícias pela colheita de trigo.
(Festa das Semanas ou semanas após a Páscoa)
colheita)
34.22 (Leitura do livro de Rute)

Dia da Expiação Lv 16; 23.26-


Nesse dia o sumo-sacerdote faz expiação pelo
10 de Tisri (set/out) 33
rPuKi ‫ם‬/y Ex 30.10
pecado da nação. Também um dia de jejum.

Lv 23.33-43
Festa das Cabanas ou
Nm 29.12-39 Comemora os quarenta anos de peregrinação no
dos Tabernáculos 15-21 de Tisri (set/out)
Dt 16.13 deserto. (Leitura do livro de Eclesiastes)
t/Ksu
Ne 8

Festa da Dedicação ou
Comemora a purificação do templo promovida por
das Luzes 25 de Quisleu (nov/dez) Jo 10.22
Judas Macabeu em 164 a.C.
hK;nUj}

Festa de Purim Comemora o livramento do povo judeu (plano de


14 de Adar (fev/mar) Et 9 Hamã) nos dias de Ester. (Leitura do livro de
‫ם‬yriWP Ester)

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O Calendário Judaico11

Ano Ano Mês Equivalência


Estações agrícolas Clima Dias especiais
Religioso Civil Hebraico ocidental

14. Páscoa
1 7 Nisã Março-Abril Colheita de cevada
21. Primícias
Últimas
chuvas
(malqosh)

2 8 Iar Abril-Maio Colheita geral

Colheita de trigo E
3 9 Sivã Maio-Junho 6. Pentecostes
Poda das videiras
S
T
4 10 Tamuz Junho - Julho Primeiras uvas A
Ç
Ã
Uvas, figos
5 11 Ave Julho-Agosto 9. Destruição do templo
e azeitonas O

S
6 12 Elul Agosto-Setembro Vindima
E
C
1. Ano Novo
7 1 Tisri Setembro-Outubro Aradura A 10. Dia da Expiação
15-21. Festa das cabanas

8 2 Marquesvã Outubro-Novembro Plantio de grãos

Primeiras
9 3 Quisleu Novembro-Dezembro chuvas 25. Dedicação
(yoreh)

Crescimento da
10 4 Tebete Dezembro-Janeiro
primavera

11 5 Sabate Janeiro-Fevereiro Figos de inverno

Retirada do linho Estação


12 6 Adar Fevereiro-Março Florada de das 13-14. Purim
chuvas
amêndoas

Adar-Seni Mês de Intercalação

11
WALTON, John H. O Antigo Testamento em Quadros. São Paulo: Vida, 2001, p. 19.

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Números
rbdmb No Deserto

Autor
Moisés

Lugar
No deserto / Moabe

Data
Entre 1445 a.C. e 1406 a.C.

Versículos Chave
14.7-9, 22, 23 (33.1, 10.9, 29)

Frase Chave
“Andando no Deserto”

Verso
“Em Números o povo anda por não observar o que Deus manda.”

Propósito
Demonstrar à nova geração de Israel (pronta para entrar na terra prometida) as consequências
da descrença e da desobediência ao Deus da Aliança e a fidelidade de Deus à mesma.

Mensagem
O estabelecimento de Israel como nação na Terra Prometida sob a autoridade de YHWH foi adiado
devido à incredulidade do povo e de sua rebeldia contra os líderes designados por Deus.

Personagens em destaque
Moisés, Arão, Miriã, Josué e Calebe.

Contribuição para o Cânon


V Revela a importância de fé e obediência na vida do povo de Deus.
V Prepara uma nova geração para entrar na terra de Canaã.
V Ensina através de exemplos negativos (1Co 10.11).

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Esboço

I. Esperança Viva no Monte Sinai (1-10)


A. Organização de Israel (1-4)
B. Santificação de Israel (5-10)

II. Esperança Morta no Deserto (11-21)

III. Esperança Ressuscitada nas Planícies de Moabe (22-36)


A. Reorganização de Israel (26-30)
B. Conquista e Divisão da Terra (31-36)

Informações Interessantes / Importantes

V Números descreve uma jornada de 40 dias que durou 40 anos.


V O livro da “numeração”12 é realmente o livro da “murmuração”.
V 1200 homens morreram mensalmente durante 40 anos (40 / dia).
V 38 anos de peregrinação praticamente ignorados na história.
V A rebeldia contra Deus é um pecado seríssimo e tem duras consequências.
V A falta de fé produz vidas gastas sem valor, propósito ou contribuição para o Reino.
V A voz do povo nem sempre é a voz de Deus (13.26ss).
V A “amizade” com o mundo é extremamente perigosa para o povo de Deus (25.1-8).
V Os líderes do povo de Deus têm grandes responsabilidades, por isso as consequências dos seus
erros têm o mesmo tamanho – são grandes (20.12).
V Deus usa o deserto para purificar e preparar o seu povo.
V Duas passagens extensas no NT baseadas no livro de Números: 1Co 10 e Hb 3.7-4.6.
V “A circunferência do campo que abrangia o arraial dessa forma e que ficava de frente para o
tabernáculo, supõe-se ter tido uns 20 km. Que vista imponente deveria ter sido para quem olhasse
de fora e de longe, no meio do deserto, com Deus estendendo-se sobre eles numa nuvem de dia e
numa coluna de fogo à noite (9.15-23). Os sapatos não se gastavam, nem suas roupas
envelheciam. Imagine 600.000 homens, de vinte anos para cima e ao todo 3.000.000 de pessoas
nesse grande arraial! Mas a presença de Deus no meio do arraial era a coisa mais gloriosa”.13
V A maior parte do livro (bem como do Pentateuco) focaliza vários rituais e detalhes de organização
cuja leitura pode ser enfadonha, cuja compreensão é difícil e que aparentemente não têm
importância para a igreja do séc. XXI. No entanto, o mero volume de leis rituais no Pentateuco
indica a sua importância para os escritores bíblicos. Este juízo é confirmado pelos antropólogos
modernos. Para eles a chave para se entender os valores fundamentais de uma sociedade é o seu
sistema ritual: “Os rituais revelam os valores em seu nível mais profundo… os homens expressam
nos rituais o que mais os comove, e visto que a forma de expressão é convencionada e obrigatória,
os valores do grupo é que são revelados. Encontra-se no estudo dos rituais a chave para a
compreensão da constituição essencial das sociedades humanas”.14

12
O título grego ajriqmoiv que, sobrevive no título português, enfatiza os dois recenseamentos nele registados (que estão longe de ser o
elemento mais importante do livro).
13
Mears, citado por David Merkh.
14
M. Wilson: American Anthropologist, 56, 1954, p.241, citado por Victor W. Turner em The Ritual Process (1969), p.6.

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Rebeldia Humana e Reação Divina

REBELDIA E JUÍZO EM NÚMEROS

Rebeldia Juízo Referência

Reclamação das dificuldades Fogo do Senhor 11.1-3

Reclamação sobre alimentação Praga do Senhor 11.4-35

Miriã e Arão opõem-se a Moisés por


Miriã atacada de lepra; curada depois 12.1-16
ciúme de sua autoridade

Recusa de entrar em Canaã Quarenta anos no deserto 13, 14

Relatório negativo dos espias Morte por uma praga 14.36-38

Tentativa de invasão em Horma Derrota na batalha 14.39-45

Violação do Sábado Apedrejamento 15.32-36

Rebelião de Corá, Datã e Abirão Engolidos pela terra; devorados pelo fogo 16.1-40

Reclamação sobre o juízo Praga do Senhor 16.41-50

Moisés fere a rocha (indo contra uma Moisés e Arão castigados; não entrarão em
20.1-13
ordem de Deus) Canaã

Murmuração contra Deus e Moisés Serpentes venenosas 21.4-9

Adoração a Baal Peor Praga do Senhor 25

A resposta de Israel à liderança de Moisés e Arão e às exigências da aliança em geral


ditou o grau de sucesso ou fracasso que caracterizou a sua jornada pelo deserto. O princípio é
claro: sempre que havia obediência irrestrita, havia sucesso ilimitado. Sempre que
havia rebelião obstinada, vinha o fracasso. A exigência de compromisso com Deus não é
hoje menos real e necessária. O sucesso na vida depende não só de fazer a vontade de Deus,
mas de fazê-la da maneira por Ele prescrita.

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Deuteronómio
‫ם‬yrbdh hla Estas são as palavras

Autor
Moisés

Lugar
Planície de Moabe

Data
Entre 1445 a.C. e 1406 a.C.

Versículos Chave
6.4, 5 (30.19-20; 10.12-13)

Frase Chave
“Lembrem-se da Aliança”

Verso
“Deuteronómio diz ao Judeus: Lembrem-se da Lei e da Aliança com Deus.”

Propósito
Preparar Israel para desfrutar a prosperidade e permanência na Terra Prometida pelo
encorajamento do amor nacional a YHWH por meio da obediência à Sua vontade, conforme
revelada na aliança.

Mensagem
Um amor leal a YHWH, expresso em obediência à aliança, é o requisito essencial para a
prosperidade e a permanência na Terra Prometida.

Personagens em destaque
Moisés

Contribuição para o Cânon


V A base do restante AT (principalmente caps. 28-30).
V Revela o Amor de Deus no AT.

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Esboço

I. 1º Sermão: O Passado e a Fidelidade de Deus - Prólogo Histórico (1-4)


A. Prefácio (1.1-5)
B. Retrospectiva: Fidelidade de Deus / Incredulidade do Povo (1.6-
4.43)

II. 2º Sermão: As Estipulações da Aliança com Deus (4.44-26.19)


A. O Decálogo explicado (4.44-11.32)
B. Outras leis (12-26)

III. 3º Sermão: Consequências e confirmação da Aliança (27-34)


A. Ratificação / Confirmação (27-28)
B. A Aliança palestina (29-30)
C. Transição do Mediador da Aliança (31-34)

Informações Interessantes / Importantes

V Em nenhum outro livro do Pentateuco lemos tanto a respeito do Amor de Deus (4.37, 7.7-
8, 10.15).
V A prova para os profetas (18.20-22) – nunca podem errar!
V Talvez fosse o livro favorito de Cristo (cf. Mt 4.4, 7, 10 [8.3, 6.16, 6.13, 10.20]; 22.37-38
[6.5]; Mc 7.10 [5.16]; 10.19 [5.16-20]).
V Este livro é citado perto de 200 vezes em 17 dos 27 livros do NT.
V Profecias bem específicas contidas neste livro tiveram seu cumprimento anos mais tarde
na história de Israel (17.14, 31.29).
V A natureza do homem é propensa ao esquecimento. Precisamos de lembranças,
memoriais (4.10, 40, 6.12, 8.2, 11, 18, 9.7, 32.1, 44; “Guarda” 19 ocorrências no livro).
V Os pais têm a responsabilidade da transmissão da fé à próxima geração.
V Na caminhada do povo com Deus há consequências inevitáveis tanto para a obediência
quanto para a desobediência.
V A aliança de Deuteronómio prenuncia aquela nova aliança – não escrita em pedra mas no
coração dos homens (Jr 31.33-34) – que por fim se cumpre em Cristo (Mt 26.28, Mc
14.24, Lc 22.20). O Deus de Israel redimiu o povo da servidão e do caos e escolheu
identificar-se com eles numa aliança eterna. Em seu filho Jesus Cristo e por meio Dele,
oferece pela graça o mesmo para todos os povos, em todos os lugares.
V O frequente apelo de Deuteronómio ao amor de Deus (6.5, 10.12, 11.1, 13, 22, 19.9,
30.6, 16, 20) mostra que o alvo da lei do AT era não o legalismo mas o serviço inspirado
no amor (cf. 1Jo 3.18, 4.19-21, Dt 10.19).

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Josué
[‫ש‬why Y ehôshu’a

Nome
Josué (YHWH é Salvação)

Autor
Josué (e Eleazar, filho de Arão – de acordo com o Talmude15 - cf. 24.29-33)

Lugar
Canaã

Data
Entre 1406 a.C. e 1380 a.C.

Versículos Chave
1.8 (1.3, 24.15)

Verso
“Em Josué, vitória vem e cada tribo sua terra tem.”

Propósito
Mostrar a ação de Deus na história como um Deus que cumpre Suas promessas.

Mensagem
A conquista de Canaã e o estabelecimento do povo de Israel na Terra Prometida aconteceram de
acordo com as promessas pactuais de YHWH, baseados em Seu poder, por meio da fé obediente
da nação.

Personagens em destaque
Josué, Raabe, Calebe

Contribuição para o Cânon


V Proporciona uma conexão histórica entre o Pentateuco e os livros históricos.
V Revela a importância da Palavra de Deus ESCRITA (1.8).
V Mostra Deus como um Deus de Pactos que cumpre Suas promessas.

15
Coleção de escritos dos judeus, contendo explicações e tradições referentes à Lei de Moisés. Foi escrito entre o terceiro e o sexto século
da era cristã.

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Esboço

I. Conquista de Canaã (1-12)


A. Preparação (1-5)
B. Subjugação (6-12)

II. Divisão de Canaã - Escritura (13-21)


A. Leste (13)
B. Oeste (14-19)
C. Levitas (20-21)

III. Despedida de Josué - Consagração (22-24)

Informações Interessantes / Importantes

V O nome “Josué” em Hebraico tem o mesmo significado de “Jesus” em Grego: “YHWH é


Salvação” (cf. Nm 13.16).
V Josué é mencionado 35x fora do livro de Josué.
V Raabe faz parte da linhagem messiânica de Jesus (cf. Mt 1.5).
V Temas que se repetem no livro:
o “Sê forte e corajoso” / “Não temas”: 1.6,7,18, 8.1, 10.8 (25), 11.6 (23.6)
o “Tem cuidado de fazer segundo toda a Lei”: 1.7-9, 8.32-35, 23.6, 24.1-27
o “Deus, o SENHOR, está contigo”: 1.5,9,17, 3.7, 6.27, 10.42
o “Levantou-se Josué de madrugada”: 3.1, 6.12,15, 7.16, 8.10
o “Segundo a Palavra do SENHOR” (Obediência): 8.27, 10.40, 11.9,15,23, 15.13

V A natureza do homem é propensa ao esquecimento. Precisamos de lembranças,


memoriais (4.1-24, 5.1-15, 24.26-27).
V Biografia de Josué:
o Escravo (Ex 1.6-14)
o Servo de Moisés (Ex 24.12-14, 33.11, Nm 11.28, Dt 1.38, Js 1.1)
o Soldado (comandante do exército contra Amaleque – Ex 17.9-14)
o Espião (Nm 13.8,16-14.38, 26.65)
o Sucessor de Moisés (Nm 27.15-23, Dt 31.3,7,14,23, Js 1.7)
o Profeta (6.26, cf. 1Rs 16.34)
o Um grande líder (Jz 2.7)

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Batalhas nas conquistas de Josué

GARANTINDO A REGIÃO CENTRAL

ADVERSÁRIO LOCAL DA BATALHA REFERÊNCIAS EM JOSUÉ

Jericó Jericó 6.12-27

Ai Ai 7.2-6

Ai e Betel Ai 8.1-29

A COLIGAÇÃO DO SUL

Coligação dos
Encontro inicial em Gibeom
amorreus, liderada por
com perseguição através
Adoni-Zedeque, de
de Bete-Horom e o vale 10.1-27
Jerusalém, incluindo
de Aijalom terminando
Hebrom, Jarmute,
em Azeca
Láquis e Eglom

Acompanhado do cerco de Maquedá, Libna, Láquis, Gezer, Eglom, Hebrom e Debir (10.28-39)

A COLIGAÇÃO DO NORTE

Encontro inicial junto às águas


Coligação liderada por de Merom, perseguindo os
Jabim, de Hazor, incluindo inimigos a oeste, em direção a 11.1-9
muitas cidades do Norte Sidom, Misrefote-Maim e o vale
de Mispá, a nordeste

Acompanhado do cerco de Hazor e outras cidades reais sem nomes (11.10-15)

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Juízes
‫שפטים‬Shophetim
Autor
Samuel? (De acordo com a tradição judaica)

Data
Entre 1380 a.C. e 1050 a.C.

Versículos Chave
2.19, 3.1, 17.6, 18.1, 19.1, 21.25

Frase Chave
“Ciclos de Falhas”

Verso
“Em Juízes o povo esqueceu a lei e o homem se tornou seu próprio rei.”

Tema
A desobediência (idolatria e imoralidade) do povo de Israel ao Deus da Aliança e as suas
consequências.

Propósito
Demonstrar a necessidade de Israel de uma liderança espiritual unificada que mantenha a nação
fiel à aliança, desfrutando assim suas bênçãos.

Mensagem
O fracasso da teocracia no período dos juízes deveu-se à infidelidade de Israel à aliança e à falta
de uma liderança espiritual e política permanente.

Personagens em destaque
(Calebe), Débora, Gideão e Sansão

Contribuição para o Cânon


V Mostra a importância da obediência à Aliança na história de Israel e a fidelidade de Deus à
Sua Aliança.
V Explica o clamor pela monarquia.

36
Livramento / Descanso Apostasia / Pecado (corrupção interna)

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Esboço
Arrependimento Punição / Escravidão (opressão externa)

I. Ciclos de falhas (1-16)


A. Razão para o estabelecimento dos Juízes (1-3.6)
B. História de 12 Juízes (3.7-16.31)

II. Apêndice - Corrupção (17-21)

Informações Interessantes / Importantes

V 7 apostasias, 7 opressões por 7 nações com 7 ciclos de falhas/livramento – paciência


completa do Senhor.
V O livro de Juízes descreve os ciclos de falhas em cada parte da terra: sul, norte, centro,
leste e oeste.
V Um dos livros mais tristes da Bíblia, apresentando a “Idade do Obscurantismo” do povo de
Israel.
V É grande a responsabilidade dos pais em ensinar os filhos no caminho do Senhor (2.10)
V O período dos Juízes foi um dos mais longos da história de Israel (cerca de 400 anos)
V Ciclos de Falhas:

V Deus deixou algumas nações em Canaã para pôr à prova o Seu povo (3.1,4).
V Comparação entre os livros de Josué e Juízes:

Josué Juízes
Liberdade Servidão
Progresso Declínio
Conquista através da fé (crença) Derrota através da incredulidade
“Longe de nós o abandonarmos o Senhor “Os filhos de Israel fizeram o que era mau perante o
para servirmos a outros deuses” (24.16) Senhor, e se esqueceram do senhor seu Deus” (3.7)
O pecado julgado O pecado tolerado
Fé e obediência Incredulidade e desobediência
O conhecimento do Senhor Uma geração que não conhecia o Senhor
Visão celestial Interesses terrenos
Um líder forte Muitos líderes fracos
Conquistou 7 nações em 7 anos Derrotado por 7 nações
Unidade Desunião

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O SENHOR é o verdadeiro Juiz de Seu povo; é Ele que o entrega nas mãos de seus
opressores; é Ele quem suscita libertadores do povo; é Seu Espírito, ao descer sobre os homens,
que os qualifica para as suas tarefas (3.10, 6.34, 11.29, 14.6,19, 15.14).

OS JUÍZES DO ANTIGO TESTAMENTO

NOME (TRIBO) REFERÊNCIA IDENTIFICAÇÃO

Otniel (Judá) 1.12-13, 3.7-11 Conquistou uma cidade cananeia

Eúde (Benjamim) 3.12-30 Matou Eglom, rei de Moabe, e derrotou os moabitas

Sangar 3.31 Matou 600 filisteus com uma aguilhada de bois

Convenceu Baraque a liderar um exército na vitória contra as


Débora (Efraim) 4-5
tropas de Sísera

Gideão (Manassés) 6-8 Liderou 300 homens na vitória contra 135.000 midianitas

Tola (Issacar) 10.1-2 “Julgou” por 23 anos

Jair (Manassés) 10.3-5 “Julgou” por 22 anos

Jefté (Manassés) 11.1-12.7 Derrotou os amonitas depois de fazer um voto ao Senhor

Ibsã (Judá) 12.8-10 “Julgou” por 7 anos

Elom (Zebulom) 12.11-12 “Julgou” por 10 anos

Abdom (Efraim) 12.13-15 “Julgou” por 8 anos

Matou 1.000 filisteus com uma queixada de jumento; foi


Sansão (Dã) 13-16 enganado por Dalila; destruiu um templo filisteu; “julgou”
por 20 anos

Samuel (Efraim) 1 e 2Sm Foi o últimos dos juízes e o primeiro dos profetas

O pecado humano precisa de governos que imponham a moralidade. Nos dias dos juízes,
quando não havia rei, “cada um fazia o que achava mais reto” (21.25). Os governos recebem de
Deus a responsabilidade de punir o erro (cf. Rm 13.3-5). A história posterior de Israel revela,
porém, que o simples facto de ter um rei não era a solução para o fracasso moral de Israel. Aliás,
os reis de Israel e Judá levaram muitas vezes o povo de Deus a atos de desobediência ainda
maiores. O mais necessário não era a aliança de Deus imposta de fora, mas escrita no coração do
Seu povo (cf. Jr 31.31-34).

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Rute
twr Rut

Autor
Samuel ? (De acordo com a tradição judaica)

Data
Entre 1200 a.C. e 1150 a.C.

Versículos Chave
1.16, 2.12, (4.14) 4.17

Verso
“Mas Rute mostra a história mais bonita: Amor fiel de uma moabita.”

Propósito
Demonstrar a maravilhosa graça de Deus em preservar um remanescente fiel numa época
sombria que culmina com o nascimento do Rei Davi.

Mensagem
A soberania e a bondade de YHWH transformam tragédia individual em bênção nacional por meio
da fé pujante de uma mulher gentia e de um israelita comprometido com a aliança.

Personagens em destaque
Rute, Noemi, Boaz, Davi

Contribuição para o Cânon


V Demonstra a graça (amor fiel) de Deus para com o mundo (gentios incluídos).
V Mostra a presença constante de um remanescente fiel.
V Aponta a Soberania de Deus (2.12). Não se pode dizer que o livro tenha sido escrito por
causa dos seus personagens principais. Entretanto a implicação por toda a obra é que Deus
está a vigiar o Seu povo, fazendo com que lhe aconteça o que é bom. O livro é a respeito de
Deus. Ele governa sobre todas as coisas e abençoa os que confiam nele.
V Revela a importância da Terra Prometida para o povo de Israel.
V Demonstra a fidelidade de Deus à aliança Abraâmica.
V Providencia um “tipo” de Cristo – o parente remidor, antecipando desta forma em muitos
séculos a Sua graça redentora. Qual nosso “parente chegado” Ele se torna carne – vindo
como ser humano (Jo 1.14, Gl 4.4, Fp 2.5-8).

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Esboço

I. Amor fiel revelado (1-2)


A. Rute escolhe (1)
B. Rute serve (2)

II. Amor fiel premiado (3-4)


A. Rute obedece (3)
B. Rute recebe a recompensa (4)

Informações Interessantes / Importantes

V As nossas escolhas têm consequências maiores do que podemos prever ou imaginar.


V A providência de Deus está, muitas vezes, camuflada nos “acasos” da vida.
V O resgatador precisava:
o Ser parente de sangue (2.20) – tal como Jesus foi Deus-homem (Gl 4.4).
o Possuir o valor necessário para comprar a herança perdida (4.9) – tal como Cristo
possuía o necessário para nos comprar por preço altíssimo (1Co 6.20).
o Dispor-se a casar com a esposa do seu parente falecido (3.13) – tal com Cristo se
dispôs a casar com uma noiva que tinha servido outro senhor (Ef 5.25-27).
V Num mundo de racionalidade a história de Rute nos ensina fidelidade.
V Apenas 4 mulheres são mencionadas na genealogia de Jesus – Rute é uma delas!
V Boaz era filho de Raabe, ou Racabe - Ῥαχάβ - Mt 1.5 (KJV); Comparar Js 2.1 (LXX) – Ρααβ,
Hb 11.31 – Ῥαὰβ, Tg 2.25 - Ῥαὰβ.
V O livro de Rute é lido pelos judeus na festa de Pentecostes [t[obuv;] (Shavuot) – celebração

da entrega da Torá (Lei) no Monte Sinai. Rute é considerada pelos judeus um modelo de
aceitação da Torá e sem ela a história judaica não continuaria.
V Porque o livro termina com a genealogia?

O autor não nos diz por que fez isto, e somos obrigados a criar hipóteses. De qualquer forma, pelo menos podemos
fazer este comentário. Através de todo o livro, em toda a sua simplicidade ingénua, vê-se o “fio da meada” da
supremacia de Deus. Ele toma conta de pessoas como Noemi, Rute e Boaz e dirige os seus passos. Deus nunca se
esquece de Seus propósitos salvíficos. O propósito do casamento de Boaz com Rute era conduzir, no devido tempo, ao
grande rei Davi, o homem segundo o coração de Deus, o homem em quem os propósitos de Deus foram executados de
modo extraordinário. Estes acontecimentos em Moabe e Belém desempenharam seu papel em conduzir àqueles que
redundariam no nascimento de Davi. Os crentes considerarão, também, cuidadosamente, a genealogia que aparece no
começo do evangelho de Mateus, e refletirão que a mão de Deus cobre a história toda. Ele executa Seu propósito,
geração após geração. Visto que somos limitados a uma única vida, cada um de nós vê apenas um pouquinho daquilo que
acontece. Uma genealogia é uma maneira extraordinária de trazer diante dos nossos olhos a continuidade dos propósitos
de Deus através dos tempos. O processo histórico não é casual. Há um propósito em tudo. Esse propósito é o propósito
de Deus.16

16
MORRIS, Leon. Rute – Introdução e Comentário. São Paulo: Vida Nova, 1992, p.300

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1 e 2 Samuel
lawm‫ש‬ Shemuel

Autor
Samuel ? (1Sm 10.25)
Natã / Gade ? (1Cr 29.29)

Data
Entre 1100 a.C. e 971 a.C.

Versículos Chave
1Sm - 15.22 (12.13, 13.14, 16.7, 17.26, 45-47)
2Sm - 7.12, 13, 16 (22.21)

Frase Chave
“O Reino estabelecido”

Verso
“Em Samuel o povo reclama e Deus lhe dá dois reis de fama”.

Propósito
Demonstrar as consequências da obediência e da desobediência à aliança deuteronómica na
monarquia, segundo a fidelidade de Deus à mesma.

Mensagem
1Sm – Os preparativos divinos para o estabelecimento da monarquia em Israel revelam que a
sobrevivência e segurança da nação não dependem da monarquia em si, mas de um monarca
cujo coração seja humilde e confiante perante o Deus da aliança.

2Sm – O estabelecimento da monarquia por YHWH é operado conforme Sua lealdade pactual que
castiga com justiça e sustenta com graça uma nação enfraquecida pelo pecado de seus líderes.

Personagens em destaque
Samuel, Saul, Davi (Eli, Golias, Salomão)

Contribuição para o Cânon


V Descreve a transição histórica dos juízes para os reis.
V Demonstra as consequências particulares da obediência e da desobediência.
V Explica a aliança davídica.
V Narra a história da “época de ouro” da nação de Israel.

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Esboço

I. Samuel (1Sm 1-7)


II. Saul (1Sm 8-31)
A. O começo do reino (1Sm 8-15)
B. A perseguição de Davi (1Sm 16-30)
C. Derrota e morte (1Sm 31)
III. Davi (2Sm 1-24)
A. Reino estabelecido (2Sm 1-10)
B. Reino enfraquecido (2Sm 11-24)

Informações Interessantes / Importantes

V Deus controla o ventre materno e dá filhos em reposta à oração segundo a Sua vontade.
V A consagração e treinamento bíblico de uma criança (começando mesmo antes do
nascimento) são determinantes na sua criação.
V Eli e Samuel (homens piedosos) perderam seus próprios filhos, tendo sido negligentes na sua
educação, estando ocupados na obra de Deus (1Sm 2.12-17, 8.3-5).
V Moisés previu (e predisse) a vinda do reinado (Dt 17.14-15).
V Davi é um dos personagens mais fascinantes de toda a Bíblia - pastor, músico (cantor, poeta)
ungido, soldado, fugitivo, rei de Israel. Existem 58 referências ao seu nome no NT.
V 1 e 2 Samuel eram, originalmente, um só livro.
V Existem pelo menos 2 referências de Jesus aos escritos de Samuel – Mt 12.3-4 (1Sm 21.6) e
Lc 16.15 (1Sm 16.7).
V As consequências do pecado, mesmo que perdoado, podem ser tremendas. Cuidado! (2Sm
12.13-14).

Resumo da cronologia deste período

c. 1200 a.C. Os povos do Mar invadem a Palestina


c. 1100 a.C. Nascimento de Samuel
c. 1080 a.C. Nascimento de Saul
c. 1051 a.C. Saul ungido rei em Israel (1Sm 10.1)
1040 a.C. Nascimento de Davi
1025 a.C. Davi ungido rei por Samuel (1Sm 16.1-13)
1011 a.C. Morte de Saul; Davi coroado em Hebrom (1Sm 31, 2Sm 2)
1004 a.C. Davi coroado rei sobre todo o Israel (2Sm 4-5)
992 a.C. Incidente com Bate-Seba (2Sm 11)
991 a.C. Nascimento de Salomão
980 a.C. (?) Censo (2Sm 24)
971 a.C. Morte de Davi; Salomão coroado rei (1Rs 2.10-11)

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1 e 2 Reis
‫ם‬yklm Melachim

Autor
Jeremias (cf. 2Rs 25, Jr 39 e 52)

Data
Antes de 586 a.C.
1Rs (971 a.C. – 853 a.C.)
2Rs (853 a.C. – 560 a.C.) – cap. 24 e 25

Versículos Chave
1Rs - 11.11 (9.4-5)
2Rs - 23.27 (17.9,22,23)

Frase Chave
“O Reino dividido e cativo”

Verso
“Reis descrevem o reino dividido e cada país, no exílio, cativo.”

Propósito
Motivar o povo de Judá, antes e depois do cativeiro babilónico a ser fiel à aliança de Deus,
porque Ele mesmo é paciente e fiel à aliança.

Mensagem
A infidelidade nacional para com as alianças deuteronómica e davídica trouxe o juízo deliberado
de YHWH sobre a monarquia teocrática depois de várias demonstrações de Sua paciência e
misericórdia em virtude das promessas davídicas que aguardavam um cumprimento final.

Personagens em destaque
1Rs – Salomão, Elias, Acabe
2Rs – Eliseu, Jezabel

Contribuição para o Cânon


V Demonstra uma vez mais como a fidelidade ou a infidelidade de Israel à aliança determina a
sua história.
V Mostra a soberania de Deus sobre as nações, os líderes e a história.

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Esboço

I. Reino Unido (1Rs 1-11)

A. A morte de Davi (1-2); transição Davi - Salomão

B. Glória de Salomão e o Templo (3-11)

II. Reino Dividido (1Rs 12-22)

A. Divisão (12-16)

B. Elias (17-19)

C. Acabe (20-22)

III. Reino Dividido / Cativo (2Rs 1-25)

A. Declínio / Cativeiro de Israel [Assíria] (1-17)

B. Declínio / Cativeiro de Judá [Babilónia] (18-25)

Informações Interessantes / Importantes

V Salomão:

o Escreveu 3000 provérbios e 1005 cânticos (1Rs 4.32).

o Gastou 7 anos para construir o Templo e 13 para construir a sua própria casa.

o O rei com um coração dividido deixou um reino dividido.

o A idolatria, introduzida na nação por Salomão (através das suas esposas)

aumentou cada vez mais, tendo sido julgada e eliminada no cativeiro, assim

permanecendo até hoje.

o Comparar Dt 17.16-20 e 1Sm 8.10-18 com o reinado de Salomão – ele

multiplicou para si cavalos (1Rs 4.26, 10.25,28), mulheres que desviaram o

seu coração (11.1-8) e prata e ouro (10.1-25) contra a Lei e aliança do Senhor.

V A prosperidade pode seduzir o coração do homem e levá-lo a esquecer-se do seu Deus.

V Em Israel houve 9 dinastias e 19 reis (nenhum deles bom).

V Em Judá houve 1 dinastia e 20 reis (8 bons).

45
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V Este foi um dos 3 períodos de milagres (os outros dois aconteceram nos tempos de Moisés e

Jesus).

V O rei Ezequias ao saber da iminência da sua morte orou ao SENHOR e foram-lhe concedidos

mais 15 anos de vida. Fez um péssimo uso deste acréscimo de sua vida, desagradando ao

SENHOR. Foi também durante este período que nasceu seu filho Manassés, o rei mais ímpio

dentre todos.

V A responsabilidade de um líder (espiritual ou político) é grande. O povo vai seguir o exemplo

dos seus líderes.

V Reis apresentam o aspeto político da época, enquanto as Crónicas apresentam o aspeto

sacerdotal do mesmo período.

V Logo após grandes vitórias, o líder espiritual pode sentir-se enfraquecido, desencorajado e só.

V Sugestão para vencer a depressão: sono, alimento, perspectiva renovada de Deus e do

propósito da vida.

V Deus sempre preserva um remanescente fiel a Ele.

V Eliseu pediu uma porção dobrada do espírito de Elias (2Rs 2.9) – estão registados 12 milagres

por ele realizados e 6 por Elias.

V A soberania de Deus é expressa no livramento de Joás, conservando assim a linhagem

messiânica (2Rs 11.1-3).

V A leitura da Palavra de Deus provoca “avivamento” (2Rs 22 e 23).

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1 e 2 Crónicas
‫ם‬ymyh yrbd Os eventos / factos dos dias

Autor
Esdras (cf. 2Cr 36.22, Ed 1.1-2)

Data
450 a.C.
1Cr (1010 a.C. – 971 a.C.)
2Cr (971 a.C. – 539 a.C.)

Versículos Chave
1Cr – 17.11-14 (29.26)
2Cr – 7.14 (15.2, 16.9)

Verso
“Crónicas conta a mesma história enfatizando o Templo e a sua glória.”

Propósito
Dar à comunidade pós-exílica uma interpretação teológica da história nacional na qual a aliança
davídica, o ministério levítico no templo e um sentido estrito da ação retribuidora da aliança de
Deus têm papel predominante, motivando assim a fidelidade à lei e a esperança nas promessas
messiâncias escatológicas da aliança.

Mensagem
As bênçãos partilhadas pela linhagem davídica como recipientes da promessa ainda estão
disponíveis para o remanescente restaurado, se eles esperarem pelo total cumprimento da
aliança davídica em fiel obediência.

Personagens em destaque
Davi, Salomão

Contribuição para o Cânon


Crónicas serve de encorajamento para o remanescente fiel. Um futuro glorioso permanece como
esperança para o povo de Deus. A linhagem davídica é preservada.

47
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Esboço

I. Davi – Preparação para o Templo (1Cr 1-29)


A. Registos genealógicos (1-10)
B. Reinado de Davi (11-29)
II. Salomão – Construção do Templo (2Cr 1-9)
III. Judá – Destruição do Templo (2Cr 10-36)
A. Os reis de Judá (10-36)
B. Cativeiro babilónico e restauração (36)

Informações Interessantes / Importantes

V É o último livro da bíblia hebraica, longe de 1 e 2 Reis, muito provavelmente por ser bem
diferente no seu propósito.
V Crónicas tem um papel semelhante ao de Deuteronómio no Pentateuco e de João nos
evangelhos: apresentar detalhes e explicações de eventos, que não constam nos outros
relatos, da perspectiva divina (espiritual).
V Cobre um período mais abrangente do que qualquer outro livro do AT (Adão até Ciro).
V Pensa-se que o altar das ofertas queimadas ficava sobre o lugar (indicado pela tradição
judaica) onde Abraão ofereceu Isaque (Gn 22.2 – 2Cr 3.1).
V A obra do SENHOR deve ser realizada de acordo com a vontade e orientação do SENHOR (1Cr
13.9, 10).
V “Não apresentarei ao Senhor uma oferta que não me custe nada” (1Cr 21.21-26).

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Esdras
arz[ ’esra

Autor
Esdras (cf. 7.28-9.15 – “1ª pess. sing.”)

Data
539 a.C. – 450 a.C.

Versículos Chave
7.10 (1.3)

Verso
“Com Esdras vem restauração; Primeiro o Templo, depois a nação”

Tema
A fidelidade de Deus à aliança restaurando Seu povo na terra santa depois de 70 anos de
cativeiro babilónico.

Propósito
Descrever o restabelecimento de Israel como uma comunidade adoradora na Terra Prometida e
como isso exigia um reavivamento da verdadeira religião da aliança.

Mensagem
O restabelecimento de Israel como comunidade adoradora na Terra Prometida exigia um
reavivamento da verdadeira religião da aliança com a separação necessária das influências
gentias para a lealdade ao Deus das promessas.

Personagens em destaque
Zorobabel, Esdras

Contribuição para o Cânon


V Esdras demonstra mais uma vez o amor de Deus para com Seu povo. Começa exatamente
onde 2 Crónicas termina.
V Mostra a importância do estudo, da vida e do ensino na comunidade adoradora.

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Esboço

I. Reconstrução do Templo (1-6)


A. Primeiro retorno (1-2)
B. Reconstrução do Templo (3-6)
II. Restauração do Povo (7-10)
A. Segundo retorno (7-8)
B. Reforma do Povo (9-10)

Informações Interessantes / Importantes

V “Esdras” = hb. “Ajuda”


V Na Bíblia Hebraica é apresentado junto de Neemias formando um só livro.
V O decreto de Ciro, rei do império Medo-Persa, cumpriu a profecia de Isaías feita 200 anos
antes! (Is 44.28, 45.1)
V A profecia de Jeremias (Jr 25.11-12, 29.10; cf. 27.19-22, 28.6) serve de base para a oração
de Daniel em Dn 9.1-19.
V Deus coordenou os talentos e capacidades de Esdras e Neemias para fazer essas grandes e
necessárias restaurações: dois homens cujos dons se completam mutuamente.
V 3 deportações com 3 profetas maiores (606 – Daniel, 597 – Ezequiel, 586 – Jeremias)
V 3 retornos com 3 grandes líderes (536 – Zorobabel, 457 – Esdras, 444 – Neemias)

RETORNOS À TERRA SANTA

DATA PERSONAGEM REI PROPÓSITO

536 Zorobabel Ciro Reconstruir o Templo

457 Esdras Artaxerxes I “Reconstruir” o Povo

444 Neemias Artaxerxes I Reconstruir o muro

V Zorobabel, neto do rei Jeconias, está incluído na genealogia de Jesus (1Cr 3.17-19, Mt 1.12-
13)
V É a partir desta altura que os israelitas passam a ser chamados judeus, uma vez que a maior
parte pertencia à tribo de Judá.
V A viagem de regresso: 1.350 Km – 6 meses
V “O coração do rei é como um rio controlado pelo Senhor; Ele o dirige para onde quer” – Pv
21.1 (ex. Ciro – Ed 1.1)
V O livro de Ester cabe no intervalo de Esdras (entre cps. 6 e 7)

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V Os livros da “Reconstrução” (período pós-exílico):

536 Zorobabel 516 450 444 432


Esdras 1-6 c. 60 anos Esdras 7-10 Neemias
Ageu Ester Malaquias
Zacarias
2Cr 34
Sl 126
Sl 137
Is 44,45

PANORAMA HISTÓRICO DO PERÍODO PÓS-EXÍLICO17

DATA [EVENTO] TEXTO

Ciro conquista a Babilónia. Seu reinado começa oficialmente em Nisã,


539 Dn 5.30,31
em 538.
Ciro faz um decreto para os judeus retornarem e reconstruírem o
538 Templo (cf. a profecia de Jeremias; 25.11-12, 29.10. Ver também Ed Ed 1.1-4
6.3-5).
49.897 judeus voltam a Judá sob o domínio de Sesbazar e Zorobabel. O
537 Ed 2; 3.1-6
altar é reconstruído. A festa dos tabernáculos é celebrada.

536 São lançados os alicerces do Templo. A oposição paralisa a obra. Ed 3.8-12

536-520 A obra do Templo é negligenciada. Atrasos económicos; secas em Judá. Ag 1-2

Morre Ciro (530). Cambises, em 525, sobe ao trono e conquista o Egito.


530-522
Cambises morre na Palestina, em 522.
Dario I toma o poder depois de derrotar pseudo-Esmeridis. De 522 até o
522
começo de 520, ele esmaga rebeliões no império.
Ageu exorta o povo a arrepender-se e continuar a obra do Templo. Ag 1-2
520
Oficiais persas assediam os judeus. Ed 5.1-17
Zacarias encoraja o povo a reconstruir o Templo. Suas profecias
519 Zc 1-8
messiânicas acendem as esperanças dos judeus.
Dario faz um decreto legalizando a construção e libertando fundos
518 Ed 6.1-12
persas de impostos provinciais para reconstruir o Templo.
O Templo é concluído, pouco mais de 70 anos depois de sua destruição
515 Ed 6.15
pelos babilónios.

515 Os judeus celebram a Páscoa e pães ázimos, em Jerusalém. Ed 6.19-22

490 Dario ataca a Grécia. Os persas são derrotados em Maratona.

Xerxes (Assuero) sobe ao poder. Ele planeia uma vingança contra a


486 Et 2.16
coligação grega que derrotou seu pai.
Xerxes dá uma festa de 6 meses para seus oficiais. Heródoto indica que
483 Et 1
isso é preparação para a invasão da Grécia. A rainha Vasti é deposta.
O exército de um milhão de homens de Xerxes é rechaçado pelos
480
gregos, em Platéia. Sua força naval é aniquilada na baía de Salamis.
Ester é escolhida para substituir Vasti, como a principal rainha da
479 Et 2.16
Pérsia.

478 Mardoqueu descobre uma conspiração para assassinar Xerxes. Et 2.21-23

17
PINTO, Carlos Osvaldo Cardoso. Foco e desenvolvimento no Antigo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2006. p.383

51
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Hamã planeia a destruição de todos os judeus no império Persa. Na


Et 3.7
474 véspera da Páscoa, Xerxes assina o decreto permitindo o genocídio
Et 3.12,13
contra os judeus. A data marcada é 13 de Adar (fev. – mar. 473).
Ester expõe o genocídio de Hamã e Xerxes ordena sua execução. Um
Et 7.1-10
474 novo edito feito dá aos judeus o direito de defender a si mesmos e suas
Et 8.1-17
propriedades.
Os judeus defendem-se e derrotam seus agressores. O edito é Et 9.1-19
473
estendido por mais um dia, em Susã. A festa de Purim é instituída. Et 9.20-32

464 Artaxerxes I (Longimanus) segue Xerxes ao trono.

Sob o decreto de Artaxerxes, Esdras lidera um grupo de cerca de 1.700


458 Ed 8.31
homens de volta para Jerusalém.
Ed 7.8-9
458 Esdras e o grupo chegam a Jerusalém com presentes dos judeus
Ed 8.31-36
(Jul. - Ago.) babilónios para o Templo. Casamentos mistos são dissolvidos.
Ed 9-10
A tentativa dos judeus para reconstruir os muros é frustrada por
c. 450 vizinhos e pelo decreto de Artaxerxes. Estragos feitos por samaritanos Ed 4.7-23
são possíveis.
Agitação na satrapia Trans-Eufrates sob a liderança do general persa
449
Megabizus.
Neemias recebe, em Susã, notícias da situação deplorável de Jerusalém.
446
Ele jejuou, lamentou e orou, confessando pecado e clamando as Ne 1.1-11
(Mar. – Abr.)
misericórdias da aliança de Deus para com Israel.
Neemias pede permissão para ir à Judéia para reconstruir os muros de
446
Jerusalém. Artaxerxes concede-lhe dispensa e o título de governador de Ne 2.1-8
(Nov. – Dez.)
província.
445 Neemias viaja para Jerusalém, determina o que precisa ser feito e
Ne 2.9-18
(primavera) começa a reconstruir os muros da cidade.
445
Os muros de Jerusalém são terminados depois de 52 dias de trabalho. Ne 6.15
(Ago. – Set.)
A primeira gestão de Neemias, como governador. Neemias, além de
445 – 432 reconstruir o muro, institui reformas sociais e religiosas. Jerusalém é Ne 8-12
repovoada e seus muros são consagrados.
Neemias retorna a Susã, onde permanece por período desconhecido.
432 Hanâni, seu irmão, pode ter servido como governador durante sua Ne 13.6
ausência.
Malaquias profetiza contra a negligência religiosa e declínio moral,
c. 430 Malaquias
avisando sobre o juízo e chamando Israel ao arrependimento.
Neemias, em seu retorno de Susã, efetua várias reformas religiosas e
430 sociais. Sua segunda gestão termina algum tempo antes de 409-408, Ne 13.4-29
quando certo Bigvai é registado como governador de Judá.

52
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Neemias
hymjn Nehemyâ

Autor
Neemias (ou Esdras e Neemias - cf. 7.6-12.26, 12.44-13.3)

Data
445 a.C. - 410 a.C.

Versículos Chave
8.9 (2.4-5,20, 6.15-16)

Verso
“O muro Neemias edificou e a Aliança com Deus renovou.”

Tema
A reconstrução do centro político e espiritual da nação, mostrando a fidelidade de Deus na
restauração do povo.

Propósito
Mostrar que a reconstrução da cidade e seus muros apontam para o restabelecimento de
Jerusalém como a cidade escolhida de Deus na terra.

Mensagem
A reconstrução de Jerusalém como cidade escolhida de Deus exige a restauração de Seu povo
como uma comunidade adoradora em sintonia com a santidade de Seu Soberano Restaurador.

Contribuição para o Cânon


Serve como ponte para o Novo Testamento – o povo restabelecido na terra.

Esboço

I. Reconstrução dos Muros (1-7)


A. Preparação (1-2)
B. Reconstrução (3-7)
II. Restauração da Aliança (8-13)
A. Renovação da Aliança (8-10)
B. Resposta à Aliança (11-13)

53
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Informações Interessantes / Importantes

V “Neemias” = hb. “YHWH é conforto, consolo.”


V O capítulo 3 apresenta diferentes tipos de obreiros (tal como existem nos nossos dias):
o os que trabalham com zelo (ardor) – v.20
o os que realizam tarefas extra – vs.4,21
o os que não ajudam em nada – v.5
o os que realizam um trabalho notável – v.13
o o sumo-sacerdote (v.1) e algumas mulheres (v.12) não se recusaram a sujar as
mãos no trabalho!
V No fim do livro, tudo (o templo, a cidade, os muros, o povo, a aliança) é restaurado, exceto o
rei (cf. Dn 9.25-27).
V Deus sempre cumpre os Seus propósitos, mesmo que para isso seja necessário usar reis
pagãos - Pv 21.1 (ex. Artaxerxes – 2.1-8).
V Semelhanças entre os livros de Esdras e Neemias:
o Começam na Babilónia e terminam em Jerusalém.
o As histórias começam com um decreto de um rei da Pérsia.
o O tema principal é construção.
o Incluem uma longa oração de humilhação e confissão (cap. 9 dos 2 livros).
o Terminam com a purificação do povo.
V O cativeiro da Babilónia curou os judeus da idolatria!
V Deus preservou o Seu povo no centro dos acontecimentos mundiais, enquanto que as
grandes potências – Assíria, Babilónia, Pérsia, Roma e Grécia – desapareceram. Contra todas
as probabilidades, a pequena nação de Israel permanece até hoje.
V Muitos judeus permaneceram no “cativeiro” e não voltaram à terra da bênção (cf. Livro de
Ester).
V As obras de real valor para Deus sempre enfrentarão oposição externa e interna.
V Deus usa leigos piedosos e consagrados para cumprir os Seus propósitos (ex. Neemias).
V A oração (dependência do Senhor) deverá ser a minha primeira reação a qualquer oposição e
antes de qualquer ação (1.4, 2.4, 4.4, 4.9, 5.19, 6.9).
V Um planeamento cuidadoso, deverá seguir a oração (1.11, 2.1-9, 2.11-18, cap.3, 4.9)
V A confiança em Deus, e não em estratégias humanas, conduzirá ao sucesso na obra de Deus
(2.20, 4.10, 4.14, 4.20, 6.16).
V A leitura da Palavra de Deus produz “avivamento”, reforma (cf. Josias - 2Rs 22,23; Martinho
Lutero e a reforma protestante).
V O casamento entre crentes e incrédulos é extremamente perigoso (13.23-29, cf. 2Co 6.14-
18).

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PRINCÍPIOS DE LIDERANÇA EM NEEMIAS

V Interesse (1.1-3)
V Atenção (1.4)
V Oração (1.5-11)
Passos de Ação
V Fé (1.9)
V Plano (1.11)
V Ação (2.1-8)

V Todos têm tarefas importantes (2.18, 6.3)


V Primeiro planeamento, depois trabalho (2.17, cap.3)
V Colocar pessoas em trabalhos pelos quais tenham interesse (3.28-32)
O Bom Plano
V Trabalhar com famílias (3.12)
V Completar a tarefa iniciada (6.15-16)
V Nunca desistir, apesar da oposição (4.4-9)

V “Ira justa” contra o pecado (5.6, 13.8,11,17,21,25)


V Compaixão pelos pobres (cap. 5)
V Coragem para enfrentar injustiça, oposição, pecado (6.9)
A Boa Liderança
V Integridade (5.15)
V Trabalho para Deus, com Deus e por Deus (2.20, 4.10,20, 6.16, 13.14)
V Consagração completa (tempo, dons, recursos, energia) à obra de Deus (10.28-39)

55
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Ester
rtsa a#sT@r

Autor
Judeu anónimo

Data
483 a.C. - 473 a.C.

Versículos Chave
4.14 (8.17)

Verso
“Ester revela o Protetor que guarda Seu povo como Salvador”

Tema
A providência de Deus no cuidado do Seu povo (apesar do cativeiro) cumprindo a aliança.

Propósito
Fornecer a base histórica para a Festa de Purim (cf. 3.7 e 9.24-26). Demonstrar como o Deus da
aliança abraâmica trabalha por meio das circunstâncias e detalhes aparentemente acidentais
para cumprir Sua antiga promessa de proteção, recompensa, e castigo, dependendo de como o
indivíduo ou a nação tratasse Israel (Gn 12.1-3).

Mensagem
A fidelidade de Deus à aliança abraâmica é demonstrada na maneira soberana e providencial
como Ele preserva Seu povo do ódio gentílico, mesmo quando Israel está alheio à intervenção
divina na história.

Contribuição para o Cânon


Mostra como Deus protegeu o Seu povo durante o exílio.

Esboço

I. O Perigo para o Povo de Deus (1-4)


A. A descoberta de Ester (1.1-2.20)
B. O plano de Hamã (2.21-4.17)
II. A Libertação do Povo de Deus (5-10)
A. A derrota de Hamã (5.1-7.10)
B. A vitória de Israel sobre os seus inimigos (8.1-10.3)

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Informações Interessantes / Importantes

V O nome Ester rTes]a, (a#sT@r) aparentemente deriva da palavra persa para “estrela”, stara.

Alguns tentam identificar o nome Ester com o da deusa babilónica Istar, e o nome do seu tio
com o deus babilónico Mardoqueu. Ester tinha nome hebraico, hS;d'h} (H&d^ss>), que significa

“murta”.
V Um dos últimos livros aceitos no cânon.
V O único livro do cânon onde não aparece o nome ou uma referência a Deus. Embora o nome
de Deus não seja mencionado, Sua soberania e providência são evidentes em toda a
narrativa. “Se o nome de Deus não está aqui, Seu dedo certamente está” (Matthew Henry).
Evidências:
o A rejeição de Vasti (1.12)
o A escolha de Ester (2.9,15,17)
o A dívida de gratidão de Assuero (2.21-23)
o A noite de insónia de Assuero (6.1)
o A “queda” de Hamã (7.8)
o A forca prontinha (7.9-10)
V Deus enfrenta situações inesperadas pelo seu povo com pessoas preparadas por Ele (4.14).
V Faça o que é certo, o resto deixe com Deus! (4.16)
V Na história, o povo de Deus sempre foi, é, e será odiado pelo mundo (cf. Jo 15.18-19, 17.14).

57
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bwya ayyob

Autor
Desconhecido

Data
Época patriarcal? (Sem sinais da aliança e da lei; Jó como sacerdote da família; longevidade)

Versículos Chave
1.21, 42.5-6 (13.15, 23.10, 37.23-24)

Verso
“A dor em Jó dúvida produz, até de Deus ver a luz.”

Propósito
Encorajar a dependência em YHWH como o Deus que é inescrutável e justo em Seu trato
soberano com Suas criaturas.

Mensagem
A soberania inescrutável de Deus em Seu lidar com Suas criaturas é vindicada mediante o ciclo
de prosperidade - sofrimento - e recuperação na vida de Jó, quando este é levado do ceticismo e
justificação de si mesmo para uma atitude de humilde fé.

Contribuição para o Cânon


V Trata o tema sofrimento e suas causas como nenhum outro livro. Apresenta respostas
apropriadas ao crente.
V Nenhum outro livro da Bíblia revela tanto da pessoa e caráter de Satanás.
V Contém a maior concentração de teologia natural (as obras de Deus na natureza).
V Mostra a necessidade do justo confiar em Deus mesmo quando sofre.

Esboço

I. Prólogo / A Tragédia de Jó (1-2)


II. Diálogo / O Trauma de Jó (3-42.6)
III. Epílogo / O Triunfo de Jó (42.7-17)

58
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Informações Interessantes / Importantes

V O livro de Jó talvez seja uma das mais antigas obras existentes.


V Jó é mencionado em Ezequiel 14.14-20 e em Tiago 5.11.
V Uma parte do livro é citada explicitamente uma vez no NT - 1Co 3.19 (Jó 5.13).
V O nome do Deus dos patriarcas - yD'v' (v~DD~y)- ocorre 31 vezes neste livro, enquanto que no
restante do AT existem 16 ocorrências, o que ajuda confirmar a teoria do pano de fundo não
israelita.
V Indica que a terra é esférica (22.14), suspensa no espaço (26.7).
V Behemote (40.15) - referência a uma espécie de dinossauro: diplodoco / braquiossauro?!
V Satanás no livro de Jó: o acusador / submisso a Deus / teve acesso à presença de Deus /
anda em derredor (cf. 1Pe 5.8) / com poder, mas limitado.
V Se eu sou um filho / servo de Deus, Satanás vai me acusar, armará as suas ciladas e atirará
contra mim os seus dardos inflamados (Ef 6.10-18).
V Jó e seus “consoladores”:
Jó Autojustificação - Justo aos seus próprios olhos 29.1-25
Esposa A voz do desespero - a religião é um fracasso 2.9
Elifaz O religioso dogmático (fariseu) 4.8, 5.17
Bildade Consolador com banalidades 8.8
Zofar senhor de toda a sabedoria religiosa (moralista) 20.20-29
Eliú Impetuoso / Piedoso ? 37.23

V O SENHOR deu a Jó o dobro de tudo quanto tinha antes (42.10-13; 1.2-3) - cf. o número de
filhos - demonstração maravilhosa da doutrina da ressurreição!
V YHWH não se vê forçado a suprir uma explicação humanamente palatável para os sofrimentos
de Jó. Este é um caso teste de Sua inescrutável soberania, mas não em um sentido fatalista.
Embora Jó não receba qualquer indicação de por que sofreu tanto, ele compreende Quem
soberanamente designou tempos e circunstâncias de modo a lhe oferecer a melhor maneira
de enfrentar a vida. Mesmo em meio à aflição e ao sofrimento, o crente não precisa saber
por que sofre, desde que saiba Quem o conduz ao longo da estrada.18

18
PINTO, Carlos Osvaldo Cardoso. Foco e desenvolvimento no Antigo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2006. p.433

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Salmos
‫ם‬ylht Louvores

AUTORES NÚMERO DE SALMOS DISTRIBUIÇÃO POR AUTORIA


3-9, 11-32, 34-41, 51-65, 68-70, 86, 101,
Davi 73
103, 108-110, 122, 124, 131, 138-145
Asafe 12 50, 73-83

Filhos de Coré 12 42, 44, 45, 47-49, 84, 85, 87

Salomão 2 72, 127

Hemã 1 88

Etã 1 89

Moisés 1 90
1, 2, 10, 33, 43, 46, 66, 67, 71, 91-100,
Anónimos 48 102, 104-107, 111-121, 123, 125, 126,
128-130, 132-137, 146-150

Data
Desde c. 1500 a.C. até 450 a.C.

Verso
“Os salmos cantam meditações, gratidão, louvor e lamentações.”

Propósito
Motivar e conduzir o povo de Deus (individual ou coletivamente) a louvar o SENHOR como
resposta natural e necessária às bênçãos e provações.

Mensagem
A soberania de Deus é invocada e celebrada em petição e louvor por aqueles que, em meio à
instabilidade da vida, anseiam por vê-la estabelecida definitivamente na terra em cumprimento
das promessas pactuais a Israel.

Contribuição para o Cânon


V Oferece ao povo de Deus a expressão de todos os sentimentos humanos, no temor do
SENHOR.
V Mostra de forma eloquente o valor da Palavra de Deus na vida diária do crente.

60
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Esboço

O livro dos Salmos é, de facto, uma coleção de cinco livros. Esses livros são os seguintes:

LIVROS SALMOS CONTIDOS

Livro I Salmos 1-41

Livro II Salmos 42-72

Livro III Salmos 73-89

Livro IV Salmos 90-106

Livro V Salmos 107-150

Cada um desses livros encerra-se com uma doxologia, sendo que no caso do quinto livro todo um
salmo (150) cumpre essa função, formando um grand finale para toda a coleção.

Classificação dos Salmos


Este trabalho não pode ser feito de forma exaustiva nem definitiva, uma vez que há salmos que
reúnem elementos de dois ou mais tipos de classificação, o que demonstra a grande
“flexibilidade” do Espírito Santo em Seu trabalho de orientar os autores bíblicos na produção do
texto inspirado.

3, 4-7, 10, 12, 13, 17, 22+, 25-28, 31, 35, 38, 39,
Lamentos do indivíduo 42, 43, 51, 52, 54-59, 61, 63, 64, 69, 71, 77, 86,
88, 102, 108, 109, 120, 130, 140-143
Lamentos da nação 44, 60, 74, 79, 80, 83, 85, 137

Salmos individuais de 18, 21, 30, 32, 34, 40, 41, 66, 92, 94, 116, 118,
ação de graças 138

Salmos nacionais de
65, 67, 75, 76, 100, 107, 124, 126, 129, 133
ação de graças

Hinos (salmos de louvor 8, 19, 24+, 29, 33, 36, 46-48, 68, 76, 87, 95, 98,
descritivo) 103-105, 111, 113-115, 117, 135, 136, 145-150

Salmos reais 2+, 20, 21, 45+, 72+, 89, 110+, 132, 144

Salmos de entronização 47, 93, 95-97, [98], 99

1, 14, 15, 19*, 34*, 37, 49, 50, 53, 62, 73, 78, 82,
Salmos didáticos
[107], 112, 119, 127, 128, 133, [139]

+
salmos que possuem conteúdo messiânico
* salmos que se encaixam parcialmente na categoria
[] salmos de classificação duvidosa

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Características Literárias
A essência da poesia hebraica é a combinação de paralelismo e ritmo, e ambos os elementos
estão presentes em Salmos. Desses dois, o mais importante é o paralelismo.
Os hebreus utilizavam várias maneiras para reforçar uma ideia Usavam semelhança (paralelismo
sinónimo), contraste (paralelismo antitético), comparação (paralelismo emblemático) e
desenvolvimento (paralelismo sintético). Quase tão importante quanto o sentido era a forma de
paralelismo; paralelismo direto e quiástico (ou cruzado) são as formas mais frequentes no
saltério.
Outra das principais características literárias da hinódia hebraica é o uso abundante de figuras de
linguagem. Figuras de comparação e substituição são empregadas em todos os tipos de salmo.
Antropomorfismos são o meio normal de expressar ações e sentimentos divinos.
Uma última característica literária digna de nota é o uso de acrósticos - poemas em que as letras
do alfabeto são usadas como meio de comunicar a totalidade, de exaurir determinado assunto.
Os salmos 25, 34, 112 e 119 empregam esse recurso.

Informações Interessantes / Importantes

V Os Salmos foram os cânticos de Israel. O livro foi o hinário da nação e, por extensão, é a
expressão das emoções e das experiências do povo de Deus hoje.
V Os judeus referiam-se a ele como o “Livro dos Louvores”, enquanto que a Septuaginta o
intitulou o “Livro de Salmos” (derivação de uma palavra grega que indica canções
acompanhadas por instrumentos de corda).
V É o livro mais conhecido e usado na literatura mundial de todos os tempos.
V Os salmos são mencionados 90 vezes no NT, mais do que qualquer outro.
V 21 salmos referem-se à história de Israel (desde o Êxodo até ao Retorno).
V Os salmos apresentam o Messias de maneira semelhante à dos evangelistas:

Rei Mateus 2, 18, 20, 21, 24, 47, 110, 132

Servo Marcos 17, 22, 23, 40, 41, 69, 109

Filho do Homem Lucas 8, 16, 40

Filho de Deus João 19, 102, 118

V A expressão selah hl;s, (s#l`), que ocorre 71 vezes nos Salmos e 3 vezes em Habacuque 3,

provavelmente era uma notação musical indicando um interlúdio ou uma mudança de


acompanhamento musical.
V Existe uma possibilidade muito grande de que estas orações (salmos) tenham sido arranjadas
em cinco livros de forma a corresponderem aos primeiros cinco livros da Bíblia, a Torá
(pentateuco) fazendo o contraste e a conexão entre a fala Divina (Torá) e a resposta humana
(Salmos).

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V Pelo menos 3 homens envolveram-se na coleção / compilação dos salmos: Davi (1Cr 15.16),
Ezequias (2Cr 29.30, Pr 25.1), Esdras (Ne 8).
V 116 dos salmos têm títulos aumentados pelos editores. No texto hebraico, os títulos são
numerados como os restantes versículos do salmo. Os títulos identificam os salmos de acordo
com a situação histórica, acompanhamento musical e/ou o tipo de salmo.
V Outros salmos no AT: Ex 15, Dt 32, Jz 5, 1Sm 2, 2Sm 22 (Sl 18), Jó 3, 7, 10, Is 12, 38, Lm
3, Jn 2, Hq 3.
V Deus é digno de louvor em todas as circunstâncias da nossa vida.
V Dúvidas surgem na vida do filho de Deus e podem ser expressas, mas deverão ser resolvidas
culminando em louvor.
V Quando nos sentirmos com profundas necessidades, poderemos sempre encontrar um salmo
que expresse o nosso sentimento mais íntimo.
V Interpretação dos salmos: Devemos procurar entender o salmo à luz do seu contexto
histórico, à luz da sua forma literária própria, buscando descobrir qual é a sua mensagem
para a geração do autor, que relação pode haver com a pessoa e obra de Jesus Cristo e
qual(quais) a(s) aplicação(ões) válida(s) para o crente hoje em dia.

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Provérbios
yl‫ש‬m m!vl?

Autores
Salomão (1.1, 1Rs 4.32)
Agur (30.1)
Lemuel (31.1)

Data
950 a.C. - 700 a.C.

Versículos Chave
9.10 (3.5-6, 1.5-7)

Verso
“Provérbios dá o segredo da alegria: o temor do Senhor é a sabedoria.”

Propósito
Dar ao povo de Deus um guia prático e memorável de como aplicar o conhecimento de Deus (o
Temor do SENHOR) à vida diária, para aqueles que já entraram num relacionamento com Ele.

Mensagem
O plano moral de Deus para uma vida regrada (hm;k]j; - jokm>)19 precisa ser abraçado em

atitude de reverente obediência a YHWH por aqueles que aspiram a uma vida significativa como
indivíduos e como membros de uma sociedade pactual.

Contribuição para o Cânon


V O livro mais prático da Bíblia (como viver segundo a perspetiva eterna de Deus).
V Mostra o interesse que Deus tem pelos mínimos detalhes da vida (cf. 6.6-8).
V Revela como a aliança com Deus tem uma aplicação extremamente prática no dia-a-dia.

Esboço

I. Prólogo (1.1-7)
II. Provérbios aos Jovens (1.8-9.18)
III. Provérbios de Salomão - vários assuntos (10-24)
IV. Coleção de Ezequias (25-29)
V. Apêndice por Agur e Lemuel (30-31)

19
“Capacidade de viver habilidosamente”.

64
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Informações Interessantes / Importantes

V Provérbios dá ao leitor uma estrutura básica para a vida, isto é, o conceito que a sabedoria
(hm;k]j; - jokm>, “capacidade de viver habilidosamente”) deriva de um relacionamento

adequado com YHWH, o Deus pessoal da aliança (1.7, cf. 9.10).


V “A função dos tipos de provérbios preservados neste livro era basicamente aquela de moldar
homens e mulheres para serem membros, social e religiosamente, úteis na sociedade.”20
V Deus quer que o relacionamento com o Seu povo seja bem prático. Esse relacionamento tem
expressão em cada área das nossas vidas (cf. Levítico).
V A lei de Deus dada no Pentateuco é reforçada pela admoestação de Provérbios.
V Existem pelo menos 14 citações ou alusões a Provérbios no NT.
V O capítulo 31 contém um poema acróstico - a primeira palavra de cada versículo começa com
uma letra do alfabeto hebraico (cf. 10-31). Este é um dos mais belos capítulos da Bíblia,
elevando e louvando a posição da mulher consagrada ao SENHOR.
V A expressão “Meu filho” pode significar aluno e não necessariamente filho. É possível que
Salomão tenha dirigido uma “escola” de sábios (cf. Ec 12.9).
V Muitas vezes a perspetiva divina não se harmoniza com a lógica humana (e.g. disciplina dos
filhos) mas deve ser observada para se alcançar sucesso.
V Deus quer tornar acessível a Sua sabedoria (cf. Tg 1.5). Ele não esconde a Sua vontade - o
segredo do sucesso!

20
Idem. p.506

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Eclesiastes
tlhq q)h#l#t Pregador

Autor
Salomão (cf. 1.1, 16; 1Rs 4.29-30)

Data
935 a.C.

Versículos Chave
12.13, 14

Verso
“Somente Deus converte a vaidade - Eclesiastes afirma em verdade.”

Propósito
Estimular o temor do SENHOR como a chave para uma vida significativa em um mundo que é, em
tudo o mais, desprovido de significado.

Mensagem
Todo esforço humano é desprovido de significado se a vida não for vivida como uma dádiva a ser
desfrutada sob o temor de Deus, não como um enigma a ser resolvido.

Contribuição para o Cânon


O livro que expressa a inutilidade (vaidade) e o vazio da vida sem Deus.

Esboço

I. Prólogo: Tudo é vaidade / inutilidade (1)


II. Monólogo: Vida sem sentido (1-12)
A. As provas (1.12-6.12)
B. Os conselhos (7.1-12.8)
III. Epílogo: A solução (12)

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Informações Interessantes / Importantes

V A Hermenêutica é uma disciplina fundamental para o estudo e entendimento deste livro.


V A expressão “debaixo do sol” surge 33 vezes neste livro. Indica a perspetiva terrena, a esfera
de suas observações.
V Outra expressão-chave para a interpretação de Eclesiastes é a palavra lb,h, (h#b#l), cujo

significado sugere a ideia de enigma, contendo algumas das implicações negativas de


traduções como “vaidade”, “futilidade” e “absurdo”, mas permite o desenvolvimento de um
contraponto positivo de um modo que as outras traduções citadas não permitem.
V Um dos últimos livros aceitos no cânon. Um dos menos compreendidos na Bíblia.
V Algumas tradições hebraicas colocavam o q)h#l#t entre os cinco rolos (Megilloth) empregados
em ocasiões festivas oficiais, destinando-o aos Tabernáculos. Outros agrupamentos hebraicos
associam o q)h#l#t a Provérbios e a Cânticos dos Cânticos de Salomão, como fazem nossas
versões. Os motivos são claros: as referências implícitas a Salomão em 1.1,12,16 e as
relações óbvias entre os 3 livros como exemplos de literatura de sabedoria associada ao
nome de Salomão.
V O livro mostra que a filosofia (empirismo ou racionalismo) é inútil. Só a revelação /
iluminação de Deus pode esclarecer o sentido da vida (cf. Ef 1.18, Jo 16.12,13).
V O crente deve apreciar a vida no temor do SENHOR, lembrando que a vida é breve e seguida
de julgamento (Mc 8.36).
V A vida debaixo do sol quase não vale a pena ser vivida, mas a vida acima do sol, nas regiões
celestiais, que Paulo descreve, é gloriosa! (cf. Ef 1)
V Deus criou o trabalho, a boa comida e a vida em família para serem apreciados pelo homem.
V Deus leva a sério os votos do homem. Devo pensar cuidadosamente antes de fazer qualquer
voto, e quando o fizer devo cumpri-lo (cf. 5.5).
V Os argumentos do livro não são os argumentos de Deus e sim os registos de Deus para os
argumentos do homem.

67
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Cântico dos Cânticos


‫םי‬ry‫ש‬h ry‫ש‬
Autor
Salomão (1.1)

Data
Entre 965 e 1000 a.C.

Versículos Chave
8.7 (6.3)

Verso
“O amor descrito em Cantares deve estar em todos os lares.”

Propósito
Exaltar o valor do amor conjugal como uma preciosa dádiva divina que deve ser obtida em
pureza e preservada com perseverança.

Mensagem
O verdadeiro amor une profunda e crescentemente aqueles que a ele se entregam em paciência,
pureza e perseverança.

Contribuição para o Cânon


Contribui para a revelação de Deus ao exaltar o tipo de amor que segue o padrão criativo de
Deus e evita aquelas distorções das quais a própria Escritura dá amplo testemunho. Num mundo
em que tais perversões praticamente se tornaram a norma, o Cântico dos Cânticos é ao mesmo
tempo contemporâneo e relevante.

Esboço

I. O verdadeiro amor como um compromisso paciente que aguarda seu legítimo


desfrute (1.2-3.5)
II. O verdadeiro amor é fisicamente consumado sob a bênção de Deus (3.6-5.1)
III. O verdadeiro amor fortalece-se por meio da resolução de conflitos e do elogio
mútuo (5.2-8.4)
IV. O verdadeiro amor origina-se em Deus e é obtido por meio de escolhas
responsáveis (8.5-12)
V. O verdadeiro amor é um desejo interminável de suprir os anseios mais profundos
do cônjuge (8.13,14)

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Informações Interessantes / Importantes

V Este livro era lido na festa da Páscoa dos Judeus.


V Nesta época Salomão já tinha 60 rainhas e 80 concubinas (6.8) - cf. 1Rs 11.3 (700 rainhas e
300 concubinas).
V Um livro completamente dedicado ao amor conjugal, romântico e sexual.
V Este livro foi um dos “antilegomena”, de difícil aceitação no cânon (ausência do nome de
Deus? cf. 8.6 - problema textual; assunto estranho, nenhuma citação no NT).
V Um dos livros mais difíceis de esboçar, interpretar, explicar. A identificação dos personagens
é feita geralmente pelos pronomes pessoais utilizados.
V O amor conjugal é ordenado por Deus, abençoado por Ele e precioso aos Seus olhos.
V O relacionamento entre marido e esposa deve ser íntimo e cheio de grandes expressões
físicas de amor e fidelidade um ao outro. O verdadeiro amor manifesta-se em desejo físico,
emoção forte e pensamento puro.

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Reis / Profetas
har aybn
JUDÁ ISRAEL
DATA REI PROFETA DATA REI PROFETA
(a.C.) (a.C.)

931 Ano da morte de Salomão. A nação divide-se em dois reinos - Judá e Israel.

931 Roboão 931 Jeroboão I


913 Abias
911 Asa 909 Nadabe
886 Baasa
885 Elá
885 Zinri
Onri
873 Josafá 874 Acabe Elias (870-845 a.C.)
848 Jeorão Obadias (845 a.C.)* 853 Acazias
841 Acazias 852 Jorão Eliseu (845-798 a.C.)

Jeú mata os reis de ambos os reinos, apodera-se do trono de Israel


841
e destrói o generalizado culto a Baal no reino do norte.

841 Atalia 841 Jeú


835 Joás Joel (830-825 a.C.) 814 Jeoacaz
796 Amazias 798 Jeoás
792 Azarias (Uzias) 793 Jeroboão II Jonas (785-760 a.C.)**
753 Zacarias Amós (760 a.C.)
750 Jotão 752 Salum Oséias (755-725 a.C.)
752 Menaém
734 Acaz Isaías (740-680? a.C.) 742 Pecaías
740 Peca
728 Ezequias Miquéias (737-710 a.C.) 732 Oséias
Os assírios destroem Samaria e exilam Israel para a Assíria.
722
Judá é preservado devido à reforma de Ezequias e do extermínio da idolatria.
(Ezequias)
696 Manassés Naum (663-612 a.C.)**
642 Amon
640 Josias Jeremias (627-580 a.C.)
Sofonias (625 a.C.)
609 Jeoacaz Habacuque (607 a.C.)
609 Jeoaquim
597 Joaquim Daniel (606-530 a.C.)
597 Zedequias Ezequiel (592-570 a.C.)

Os babilónios destroem Jerusalém e exilam os judeus para a Babilónia.


586
Em 538, a Pérsia liberta e devolve os exilados para que estes reconstruam o templo em Jerusalém.

536 Zorobabel Ageu (520 a.C.)


Zacarias (520-518 a.C.)

444 A Pérsia manda Neemias reconstruir os muros de Jerusalém e tornar-se governador.

444 Neemias Malaquias (430-400 a.C.)

* Edom
** Nínive

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Isaías
why[‫ש‬y
Data
740-680 a.C.

Versículos Chave
6.1-3 (9.6-7, 53.6)

Verso
“Depois de dura condenação Isaías vê grande salvação.”

Propósito
Em primeiro lugar, servir como uma condenação judicial de Judá e das nações circunvizinhas, um
aviso solene de juízo iminente. Em segundo lugar, servir como uma mensagem de conforto
àqueles cuja experiência da ira disciplinadora de Deus os teria levado a pensar que toda
esperança futura estaria perdida. Um remanescente arrependido retornaria à Terra Prometida
para experimentar a plenitude das bênçãos pactuais sob a égide do Servo do Senhor.

Mensagem
A salvação prometida por YHWH consiste na remoção da presente ordem rebelde e no
estabelecimento de uma ordem teocêntrica sob a direção de Seu Servo, em Quem as bênçãos
universais são concretizadas.

Contribuição para o Cânon


V Apresenta com clareza a esperança da nação - o Messias de Israel.
V Apresenta a plenitude da ira e da graça de Deus.
V Prediz a nova ordem teocêntrica - o Reino de Deus na terra.

Esboço

I. Condenação (1-39)
A. Contra Judá (1-12)
B. Contra as Nações (13-23)
C. O Dia do Senhor (24-27)
D. Julgamento e Bênção (28-35)
E. Parêntesis histórico (36-39)
II. Consolação (40-66)
A. A Salvação da Nação (40-48)
B. O Salvador “Servo” (49-57)
C. O Futuro da Nação (58-66)

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Informações Interessantes / Importantes

V O livro de Isaías recebe seu título do nome de seu autor Why:[]v'y] (y+v^y*hW) que significa

“YHWH salva”. O título em português é a transliteração do nome hebraico.


V Isaías foi martirizado (segundo a tradição judaica) durante o reinado de Manassés (696-642
a.C.) tendo sido serrado ao meio dentro de um tronco oco (cf. Hb 11.37).
V O livro de Isaías é citado no NT mais do que qualquer outro profeta (mais de 400 citações).
V Isaías é frequentemente chamado “o profeta evangélico” por falar muito sobre a obra
redentora do Messias. Em suas páginas encontra-se mais sobre a pessoa e obra de Cristo do
que em qualquer outro livro do AT.
V O decreto de Ciro (o monarca persa) promovendo o retorno do cativeiro babilónico é predito
cerca de 200 anos antes - cf. 44.28-45.4 (41.25).
V A segunda parte do livro tem gerado muitos debates quanto à sua autoria, especialmente
devido às profecias referentes ao futuro que se cumpriram. Todavia muitas das teorias e
questões levantadas perderam a sua sustentação com a descoberta, em março de 1947, do
rolo de Isaías (que contém todo o livro) nas cavernas de Qumran, que foi datado no 2º século
a.C.
V A comunidade de Qumran preservou pelo menos cinquenta manuscritos ou fragmentos dele.
V Há quem considere este livro como que uma “miniatura” de toda a Bíblia: 39 capítulos de
“Desespero / Julgamento / Condenação” seguidos de 27 capítulos de “Libertação / Consolação
/ Esperança”.
V A Palavra do Senhor nunca voltará vazia! As Suas promessas sempre são cumpridas. (55.11)
V Deus envia mensageiros para falarem aos homens sobre o perigo no qual se encontram e
sobre o Seu desejo em ajudá-los.
V Só o governo de Deus (Teocracia) pode resolver os problemas da humanidade.
V Um princípio hermenêutico que deve nortear qualquer tentativa de captar a mensagem de
Isaías: Deve-se procurar, como sempre, conhecer a situação em que “o profeta” falou. Mas,
nesse caso, o Sitz im Leben estende-se desde o Israel do pré-exílio, à espera do terrível
julgamento do Senhor, a quem havia rejeitado, até os exilados, que precisavam saber que
sua experiência de julgamento divino fora completada e ouvir palavras de consolo.
V Eis uma razão da grandeza da profecia de Isaías: ela se coloca entre dois mundos. Fala aos
pecadores que vêem diante de si um Deus irado (1.21-26) e também aos remanescentes que
receberão salvação desse mesmo Deus (40.1ss), revelado a eles como Pai e Redentor
(63.16). Dessa perspetiva, a profecia de Isaías fala com autoridade a todas as pessoas de
todas as épocas.
V Como Israel, toda a humanidade tem pecado repetidas vezes em pensamento, palavras e
atos. Como Israel, todos necessitam de salvação. O livro de Isaías proclama que a salvação é
proporcionada pelo Deus que tem pleno controlo deste mundo com suas nações, fortes ou
fracas, e que pode revelar a seus profetas o que ocorrerá no futuro.

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Jeremias
whymry
Autor
Jeremias (1-51)
Baruque (52, cf. 2Rs 24.18-25.30)

Data
Entre 627 e 580 a.C.

Versículos Chave
6.16, 18; 11.8 (31.33)

Verso
“Em Jeremias, rendição é o recado de Deus à nação.”

Propósito
Descrever o julgamento e a restauração do povo nos termos da antiga e nova alianças, para
encorajar os cativos a serem fiéis ao Senhor.

Mensagem
O intenso julgamento de YHWH contra a infidelidade nacional à aliança é o prólogo necessário
para o Seu programa de estender a plenitude da bênção ao remanescente de Israel cuja
restauração Ele mesmo garante.

Contribuição para o Cânon


V Revela o fim da paciência de Deus com o pecado do Seu povo.
V Prediz a nova aliança.
V Prediz a restauração do povo na terra depois do cativeiro de 70 anos.

Esboço

I. A chamada de Jeremias (1)


II. Profecias contra Judá (2-45)
A. Condenação da nação (2-25)
B. Conflitos do profeta (26-29)
C. Consolação da nação (30-33)
D. Queda da nação (34-45)
III. Profecias contra as nações (46-51)
IV. A queda de Jerusalém (52)

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REIS E DATAS EVENTOS PRINCIPAIS PALAVRAS DE JEREMIAS

Jeremias é chamado (627)


Josias (640-609) Queda de Nínive (612)
Caps. 1-6
Morte de Josias (609)
Jeoacaz (609) Suserania egípcia
Batalha de Carquêmis (606) 7.1-13.17
Jeoaquim (609-597) Cerco de Jerusalém (606) 13.20-20.18
Primeira deportação (606) 25-26; 35-36; 45-49
Cerco de Jerusalém 13.18, 19
Joaquim (597)
Segunda deportação Caps. 22 e 23
Cerco de Jerusalém 21; 24; 27-34
Zedequias (597-586) Auxílio egípcio (587) 37-39; 46.13-28
Queda de Jerusalém 50-52
Gedalias é assassinado 40-44
Fuga para o Egito
Deportação extra (582)
Gedalias (586-?)
O Egito é conquistado (568)
O livro é editado (?)
Joaquim é honrado (560) 52

Informações Interessantes / Importantes

V O nome Why:m]r]yI (y!rm=y*hW) Jeremias significa “YHWH exalta” ou “YHWH funda, estabelece”.
V Foi uma pessoa sensível (14.17), franca (15.17, 18), moralmente zelosa (cap. 5) e corajosa
(cf. seus vários encontros com a morte: 20.1-6; 26.11-24 e 38.6-13). Foi contemporâneo de
Sofonias, Habacuque, Daniel e Ezequiel.
V Jeremias e Lamentações são considerados como um só livro em algumas versões antigas.
V A ordem dos capítulos em Jeremias é mais temática do que cronológica.
V Jeremias predisse a duração de 70 anos para o cativeiro (cf. 25.9-11). Daniel leu a profecia,
buscou a Deus e recebeu resposta (cf. Dn 9.2, 3).
V O livro foi escrito tendo como “pano de fundo” a competição entre 3 grandes nações: Assíria,
Egito e Babilónia.
V Quando Deus concebe acontecimentos importantes, em geral envia alguém para interpretá-
los. Ao longo de 4 décadas turbulentas, Jeremias declarou a palavra de Deus igualmente ao
rei e ao povo, com alto custo pessoal. Seu livro relata sua vida e sua mensagem e apresenta
o paradigma para toda a profecia verdadeira.
V Se a obediência total ao Senhor da graça da aliança é a lição principal das Escrituras,
ninguém, no AT, a ensinou melhor que Jeremias.

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Lamentações
hkya a?k> ”Quão / Oh”
Autor
Jeremias (cf. 2Cr 35.25; estilo semelhante ao seu livro; testemunha da destruição da cidade; de
acordo com a tradição.)

Data
586 a.C.

Versículos Chave
2.5 (3.22, 23; 1.1)

Verso
“Lamentações chora pela cidade, destruída por sua iniquidade.”

Propósito
Expressar angústia nacional por uma tragédia cujas proporções a mente ocidental moderna não
pode sequer começar a compreender. Demonstrar que a destruição de Jerusalém pelos caldeus
não foi um capricho do destino, ou um mau cálculo divino, mas o resultado de um pecado
completo e descarado contra YHWH e a aliança que Ele estabelecera com Seu povo.

Mensagem
A profunda aflição em virtude da merecida destruição da impenitente Judá encontra expressão no
profundo lamento e na esperançosa petição do profeta pela restauração de Jerusalém,
fundamentada na fidelidade e soberania de YHWH.

Contribuição para o Cânon


V Lembra a fidelidade de Deus nas maiores dificuldades.
V Demonstra que Deus é justo no castigo do pecado.
V Mostra com exatidão as consequências da desobediência à aliança, profetizadas no
Pentateuco.

Esboço

I. Miséria - Destruição de Jerusalém (1)


II. Pecado - A Ira do Senhor (2)
III. Consolação - Esperança (3)
IV. Queda - O cerco à cidade (4)
V. Oração - Pedido por restauração (5)

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Informações Interessantes / Importantes

V O título hebraico hk;ya (a?k>) que significa Quão ou Oh é uma interjeição que indica espanto,

perplexidade e/ou tristeza. O título em português descreve com precisão o conteúdo.


V Nascido de uma calamidade, este pequeno livro vem, há mais de 25 séculos, expressando de
maneira pungente as angústias do povo de Deus em tempos de sofrimento.
V Os cinco capítulos contêm lamentações de Judá, que chora a destruição sofrida por Jerusalém
e seu templo (586 a.C.). As narrativas históricas de 2Rs 25 e Jr 52 dão os factos; os cinco
poemas de Lamentações captam as emoções.
V A causa da destruição da cidade: Rebeldia contra Deus e a sua aliança (1.5, 8, 9, 4.13, 5.7, 16).
V Lido pelos judeus no dia 9 do 4º mês (Tamuz: Junho/Julho) - o dia da destruição da cidade de
Jerusalém (52.6, 7).
V Algumas evidências de destruição na cidade:
o Massacre dos reis (2.6, 9; 4.20), príncipes (1.6; 2.2, 9; 4.7, 8; 5.12), presbíteros
(1.19; 2.10; 4.16; 5.12), sacerdotes (1.4, 19; 2.6, 20; 4.16), profetas (2.9, 20) e
cidadãos comuns (2.10-12; 3.48; 4.6).
o Canibalismo (2.20; 4.10)
o Deportação (1.3, 18)
o O fim do centro religioso do culto da nação (1.4, 10).
V Cada capítulo do livro é um poema e os capítulos 1-4 na Bíblia hebraica têm a forma
acróstica. O acróstico é um recurso poético em que linhas ou estrofes sucessivas começam
com letras que, lidas de alto a baixo, apresentam um padrão. A Bíblia hebraica apresenta
acrósticos alfabéticos em que linhas ou estâncias sucessivas começam com letras hebraicas
consecutivas (ex. Sl 25, 34, 37; Pv 31.10-31).
V Possíveis razões para escrever em acróstico?
o Descrever a grandeza do sofrimento (t-a)(A-Z)

o Limitar a expressão do sofrimento (t-a)(A-Z)

o Ajudar na memorização
V Devemos nos arrepender dos pecados pessoais, nacionais e mundiais.
V A fidelidade do Senhor é grande, a Sua misericórdia não tem fim (3.22, 23).

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Ezequiel
laqzjy

Data
592-570 a.C.

Versículos Chave
36.33-35 (3.17-19, 39.23-29)

Verso
“Em Ezequiel lemos que o povo exilado um dia será restaurado.”

Propósito
Demonstrar à nação exilada que a glória de YHWH não fora de nenhuma maneira ameaçada pela
captura e destruição de Jerusalém e do Templo, mas que tais eventos eram parte do plano de
YHWH para revelar Sua glória não só ao Seu povo, mas para todas as nações, enquanto Ele
julgava o pecado em Israel e além.

Mensagem
A manifestação universal da glória de YHWH virá quando Jerusalém for humilhada com destruição
e cativeiro, e depois restaurada como habitação da glória de YHWH quando Ele obtiver a vitória
máxima contra Seus inimigos e julgar o pecado de todas as nações.

Contribuição para o Cânon


V Revela a grandeza e a glória do Soberano Rei e Sua santidade.
V Demonstra como Deus se afasta do pecado, mas também como providencia uma solução.
V Traça a história do povo de Deus desde o cativeiro até à consumação da sua redenção.

Esboço

I. Julgamento (1-32)
A. Comissão (1-3)
B. Jerusalém (4-24)
C. Nações (25-32)
II. Restauração (33-48)

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Informações Interessantes / Importantes

V O livro toma o seu título do nome de seu personagem principal, um sacerdote chamado
Ezequiel laqez]j,y] (y=j#zq@al). O nome do autor significa YHWH fortalece, que vem a calhar

com a espinhosa missão para a qual o profeta fora comissionado; a garantia de que a nação
no exílio se oporia amargamente ao seu ministério exigia o constante fortalecimento de
YHWH.
V A expressão “saberão que eu sou o Senhor” aparece cerca de 65 vezes!
V A expressão “Filho do homem” aparece aproximadamente 90 vezes e enfatiza o facto de que
ele é meramente um mensageiro do Soberano do Universo, que planeou todos os eventos
que acontecerão, os quais ninguém pode impedir que se cumpram.
V Foi durante este período que, provavelmente, surgiu a sinagoga. Também foi nesta época que
o povo finalmente abandonou a idolatria.
V Jerusalém foi sitiada em 588 a.C. e caiu em Julho de 586 a.C. No dia 14 de Agosto de 586
a.C., toda a cidade e o templo foram queimados.
V Mais do que qualquer outro profeta Ezequiel envolveu-se pessoalmente nas suas profecias:
o 4.1-3 (tijolo - sítio)
o 4.4-8 (deitar lado direito / esquerdo - sítio / julgamento)
o 4.9-14 (comida imunda - exílio)
o 5.1-4 (cabelos - destruição)
o 12.3-14 (bagagem / buraco na parede - sítio / exílio)
o 12.17-20 (comer pão / beber água a tremer - sítio)
o 21.6-17 (suspiro / espada - exílio / destruição)
o 21.18-23 (placa / sinal - invasão)
o 24.15-24 (morte da esposa - invasão / morte)
o 36.22-36 / 37.1-14 (ossos secos - restauração)
o 37.15-17 (pau - restauração da nação)
V Daniel (embora companheiro) recebe, por 3 vezes, menção especial no livro de Ezequiel
(14.14, 20, 28.3).
V A visão da saída da glória do Senhor em preparo para o julgamento (cf. 9.3, 10.3,4,18,19,
11.22-25).
V A visão da volta da glória do Senhor (43.2-5, 10, 44.4).
V “Saberão as nações que os da casa de Israel, por causa da sua iniquidade, foram levados
para o exílio, porque agiram perfidamente contra mim, e eu escondi deles o rosto, e os
entreguei nas mãos de seus adversários, e todos eles caíram à espada. Segundo a sua
imundícia e as suas transgressões, assim me houve com eles e escondi deles o rosto.
Portanto, assim diz o SENHOR Deus: Agora, tornarei a mudar a sorte de Jacó e me
compadecerei de toda a casa de Israel; terei zelo pelo meu santo nome.” (39.23-25)

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Daniel
laynd

Data
606-530 a.C.

Versículos Chave
4.34, 35 (2.20-22, 44, 1.20)

Verso
“Daniel aponta ao Deus soberano, com reis e tempo no Seu plano”

Propósito
Estimular esperança na restauração futura de Israel demonstrando como YHWH está
concretizando Seus objetivos para a nação por meio de impérios humanos até que o reino divino
seja estabelecido.

Mensagem
A soberania divina sobre a História garante a sobrevivência de Israel como nação durante o
tempo em que, por meio das nações gentílicas, YHWH purifica Seu povo e prepara Israel para
sua gloriosa redenção na vinda e no reinado do Filho do Homem.

Contribuição para o Cânon


V Mostra a exatidão da profecia na palavra de Deus.
V Revela a história do tempo dos gentios.
V Essencial para a interpretação do livro de Apocalipse.

Esboço

I. Contexto histórico de Daniel e seu ministério (1)


II. As intervenções soberanas de Deus na história gentílica (2-7)
III. As intervenções soberanas de Deus na história israelita (8-12)

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Informações Interessantes / Importantes

V O título deste livro, em hebraico, grego e nas línguas ocidentais é o mesmo, Daniel laeYID;
(D`n!yy@al) “Deus é meu juiz”, o personagem principal do livro.
V O seu nome babilónico Beltessazar significa “Bel protege sua vida”.
V O autor e personagem principal do livro foi um israelita de nobre nascimento (1.3, 6),
intelectual e fisicamente acima da média (1.4), provavelmente ainda adolescente por ocasião
de seu exílio na Babilónia (606 a.C.), uma vez que ainda estava vivo no terceiro ano de Ciro
(como rei na Babilónia) em 536 a.C.
V A estrutura do livro pode ser vista de ângulos diferentes. Literariamente, os caps. 1-6 são
narrativas relacionadas às atividades de Daniel na Babilónia durante o império neobabilónico
e o estabelecimento da Medo-Pérsia como o poder dominante no Oriente Médio. Os capítulos
7-12 relatam as visões de Daniel sobre Israel e o estabelecimento do reino divino. Na
primeira divisão, Daniel interpreta os sonhos de outras pessoas; na segunda, os anjos
interpretam suas visões.
V Linguisticamente, o livro oferece uma introdução em hebraico (1.1-2.3), seguida por uma
divisão em aramaico (2.4-7.28), e uma divisão final em hebraico (8.1-12.13). Isso parece
correlacionar-se às ênfases em questões gentílicas (caps. 2-7) e história israelita (8-12).
V Embora o capítulo 7 tenha sido apontado como uma passagem de transição, uma vez que
contém tanto história gentílica quanto história israelita (com atenção especial à sua
consumação), é parte integral de um arranjo quiástico que pode ser assim representado:

Capítulo 2
Quatro impérios mundiais; pedra; reino
Capítulo 3
O ato de arrogância de Nabucodonosor e o triunfo de YHWH ao vindicar Seus servos
leais.
Capítulo 4
A vindicação definitiva de YHWH como o Soberano da história na vida de
Nabucodonosor.
Capítulo 5
A vindicação definitiva de YHWH como o Soberano da história na vida de Belsazar.

Capítulo 6
O ato de arrogância de Dario e o triunfo de YHWH ao vindicar Seu servo leal.

Capítulo 7
Quatro impérios mundiais; Filho do Homem; reino.

V As conquistas de Alexandre (o grande) e a divisão do império são profetizadas (11.3, 4).


V As guerras entre os Selêucidas e os Ptolomeus são descritas (11.5-20).
o Ptolomeu I e Seleuco Nicator (11.5)
o Ptolomeu II e Antíoco I (11.6)
o Ptolomeu III (11.7, 8)
o Seleuco II (11.9)
o Seleuco III (11.10)
o Ptolomeu IV (11.11, 12, 14, 15)
o Antíoco III (11.10, 11, 13, 15-19)
o Seleuco IV (11.20)

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V Daniel foi mencionado por Ezequiel por ser sábio e justo (Ez 14.14, 20, 28.3).
V Um dos poucos homens de quem não há registo de imperfeição.
V 9 dos 12 capítulos descrevem sonhos / visões.
V Cronologia do livro:

1, 2, 3, 4 7, 8, 5 9, 6, 10-12

Nabucodonosor Belsazar Dario / Ciro

V Daniel conhecia a profecia de Jeremias sobre os 70 anos de cativeiro (Jr 25.12, 29.10; cf. Dn
9.2, 3).
V Foi cativo na primeira deportação (606 a.C.).
V O sonho de Nabucodonosor predisse 4 reinos: Babilónia, Medo-Persa, Grécia e Roma. O 5º (a
Pedra - o Reino de Deus) “já chegou mas ainda não”!
V 70 semanas (Cap.9):
o “desde a saída da ordem para restaurar e para edificar Jerusalém, até ao Ungido, ao Príncipe, sete
semanas e sessenta e duas semanas; as praças e as circunvalações se reedificarão, mas em tempos
angustiosos.” (v. 25)
o Cálculo da profecia: [(7+62)x7x360] = 173.880 (7 anos + 62 anos = 69 anos lunares x 7 anos (1
semana) = 483 anos x 360 dias (1 ano lunar) = 173.880 dias / 365 dias (1 anos solar) = 476 anos, a
partir de 444/5 a.C. quando Artaxerxes Longimanus emitiu a ordem (Ne 2.5-9). Anteriormente, Ciro
autorizara a reconstrução do templo (538 a.C.; 2Cr 36.22-23; Ed 1.1-4). As praças e as circunvalações
foram reedificadas ao cumprir-se as primeiras sete semanas (49 anos a partir do decreto).
o De 444 a.C. até 33 d.C. = 476 anos solares (nosso calendário) … chegamos ao dia 30 de Março (03) de
3321 (Nisã 10 - 33 A.D.) dia em que o cordeiro era separado (Ex 12.3) para ser sacrificado - Daniel
profetizou a Entrada triunfal de Jesus em Jerusalém (Lc 19).

V Tentativas de estabelecer detalhes históricos ou de determinar épocas e estações podem, de


facto, diminuir a capacidade do livro anunciar uma mensagem eterna no tempo intermediário.
Ainda que essa mensagem seja buscada em primeiro lugar, não é necessário que se percam
os detalhes, pois eles se tornarão mais claros com a aproximação do tempo do fim. É
altamente desejável um interesse sadio pela apocalíptica bíblica, um interesse que procure
primeiro distinguir a Palavra falada pelo Espírito, especialmente em períodos conturbados.
“Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas”. (Ap 3.22)22
V Nós oramos para que o Senhor aja (Mt 9.38) e também para percebê-Lo a agir (Dn 9.3).
V “Daniel foi para sua casa, para o seu quarto… e ali fez o que costumava fazer: 3 vezes por
dia ele se ajoelhava e orava…” (6.10)
V “Mas, nos dias destes reis, o Deus do céu suscitará um reino que não será jamais destruído;
este reino não passará a outro povo; esmiuçará e consumirá todos estes reinos, mas ele
mesmo subsistirá para sempre…” (2.44)

21
Na segunda-feira e não no “Domingo de ramos”!?
22
LASOR, William S. HUBBARD, David A. BUSH Frederic W. Introdução ao AT. São Paulo: Vida Nova, 1999. p. 634

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Profetas Menores

PROFETA DATA CARÁTER DE DEUS MENSAGEM DA ALIANÇA

I. Antes do Cativeiro do Norte - Assíria (722 a.C.)

Oséias 755 Amor Aliança violada por Israel

Joel 830 Julgamento Aviso a Judá do julgamento devido ao pecado

Amós 760 Justiça Aviso a Israel do julgamento

Obadias 845 Vingança Advertência a Judá acerca da proteção da aliança

Jonas 785 Misericórdia Censura a Israel pelo egoísmo da nação

Miquéias 737 Perdão para o mundo Censura a Judá pelas injustiças sociais

II. Antes do Cativeiro do Sul - Babilónia (606 - 586 a.C.)

Naum 663 Zelo Terror de Deus sobre os atacantes de Judá

Habacuque 607 Santidade Uso divino de estrangeiros para a disciplina

Sofonias 625 Indignação Cumprimento da aliança no dia do Senhor

III. Depois do regresso do Cativeiro na Babilónia (536 - 425 a.C.)

Ageu 520 Glória Glória verdadeira na presença de Deus

Zacarias 520 Livramento Cumprimento da aliança através do Messias

Malaquias 430 Grandeza Obrigações da aliança até que o Messias venha

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Oséias
[‫ש‬wh

Data
760-730 a.C.

Versículos Chave
1.2, 4.1 (4.6)

Verso
“Oséias demonstra de um Deus leal, por Israel amor real.”

Propósito
Revelar a amorosa fidelidade de Deus para com o Seu povo (Israel / norte) apesar da sua
“prostituição espiritual” e motivar ou encorajar uma nação que seria restaurada depois de severa
punição.

Mensagem
O amor leal de YHWH por Israel, Seu povo da aliança, garante sua sobrevivência e futura
restauração apesar dos julgamentos devastadores exigidos por sua infidelidade espiritual.

Contribuição para o Cânon


V Revela a tristeza de Deus quando Seu povo dá a vida a outros deuses.
V Revela a base do castigo do reino do norte - Israel.
V Revela a identidade do país que iria destruir a nação - Assíria (7.11, 8.9, 10.6, 11.11).

Esboço

I. Ilustração pessoal: Oséias / Gomer (1-3)


II. Aplicação Nacional: YHWH / Israel (4-14)
A. O pecado de Israel (4-8)
B. A punição futura de Israel (9-11)
C. O arrependimento de Israel e a restauração (12-14)

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Informações Interessantes / Importantes

V Os nomes Oséias, Josué e Jesus vêm da mesma raiz hebraica que significa “salvação” ou
“YHWH é Salvação”.
V Oséias é conhecido como o “profeta do amor divino”.
V “Efraim”, a maior tribo no norte, várias vezes significa “Israel” no texto bíblico (5.3,5,11,13).
V Oséias esteve para o reino do norte (Israel) como Jeremias esteve para o reino do sul (Judá)
profetizando imediatamente antes do exílio.
V Deus usa a vida do profeta para ilustrar a sua mensagem (cf. Isaías, Jeremias e Ezequiel).
V O livro de Oséias foi escolhido para encabeçar a coletânea dos Profetas Menores, todos
escritos num único rolo - o livro dos Doze. Oséias estava entre os mais antigos dos profetas
escritores, e seu livro, a mais longa das obras proféticas do pré-exílio, contém os temas
proféticos da destruição e da esperança.
V Oséias foi contemporâneo de Isaías, Miquéias (Judá) e Amós (Israel).
V Os filhos de Oséias:
o la[,r]z]yI (y!zr=u#al) “Deus espalha” (s.m. - o povo do norte seria espalhado)
Jezreel
o LoRuhamah hm;j;ru aOl (Oa r%j*m>) “Desfavorecida” (s.f. - julgamento está perto)
o LoAmmi yMi[' aOl (Oa u^M!) “não meu povo” (s.f. - a rejeição do povo)

V Citações / Alusões:
o 1.10 (Rm 9.25-27, 2Co 6.18)
o 2.23 (Rm 9.25-26, 1Pe 2.10)
o 6.6 (Mt 9.13, 12.7)
o 10.8 (Lc 23.30, Ap 6.16)
o 11.1 (Mt 2.14-15)
o 13.14 (1Co 15.55)
o 14.2 (Hb 13.15)
V Durante o reinado de Jeroboão II, a nação gozou de muita prosperidade. Não poucas vezes a
prosperidade nos faz esquecer de Deus (Pv 30.9).
V A nossa confiança deve estar no Senhor e não em políticos, governos ou países (7.11).
V Amor verdadeiro é invencível, mas sofre quando existe pecado.
V Repetidas vezes Oséias atribui os problemas espirituais e morais à falta de conhecimento de
Deus (4.1ss, v.6, 5.4, 6.6). O conhecimento de Deus não é somente saber acerca Dele; é ter
o devido relacionamento com Ele em amor e obediência. Israel não precisava de mais
informação acerca de Deus, mas de um desejo intenso de estar em comunhão com Ele. No
AT, conhecer é viver em relacionamento íntimo com algo ou alguém, um relacionamento
chamado comunhão.

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Joel
lawy

Data
830-825 a.C.

Versículo Chave
2.13

Verso
“Como gafanhotos e seca causam temor, Joel vê castigo no Dia do Senhor.”

Propósito
Promover arrependimento nacional e fé em YHWH como o Deus que julgará cosmicamente a
humanidade de modo a trazer as bênçãos de que Israel é recetor e canal.

Mensagem
O julgamento histórico contra um povo espiritualmente insensível anuncia um julgamento
cósmico por meio do qual o remanescente de Israel receberá as bênçãos prometidas e as
canalizará para todo o mundo.

Contribuição para o Cânon


Revela muito sobre o caráter do grande “Dia do Senhor”.

Esboço

I. A previsão do Dia do Senhor (1.1-2.17)


A. O julgamento (1.1-2.11)
B. A chamada ao arrependimento (2.12-17)
II. As bênçãos prometidas (2.18-3.21)

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Informações Interessantes / Importantes

V Joel laewyO (y)a@l), cujo nome é uma genuína profissão de fé israelita (significa “YHWH é

Deus”), oferece pouca informação sobre si mesmo. Ele é o filho de um desconhecido chamado
Petuel (1.1)
V É um dos primeiros livros proféticos.
V A praga de gafanhotos é uma das piores calamidades que pode sobrevir a uma comunidade
agrícola. Foi seguida por uma seca desastrosa.
V 2 aspetos do Dia do Senhor: Julgamento e Restauração.
V Dia do Senhor:
o Is 2.12, 17-20, 3.7-18, 4.1-2, 13.6-9
o Jr 46.10
o Ez 13.5, 30.3
o Am 5.18
o Sf 1.7, 14ss
o Ml 4.5
o 1Co 5.5
o 1Ts 3.2
o 2Ts 2.2
o 2Pe 3.10
V A profecia do derramamento do Espírito Santo (2.28-32) tem, muito provavelmente, 2
cumprimentos - em At 2.16-21 e no “Dia do Senhor” no fim do “tempo dos gentios”.
V O retrato que Joel faz do futuro promissor de Israel contém um elemento de responsabilidade
bem como de privilégio. O derramamento do Espírito de Deus sobre o povo imporá ao
remanescente redimido as pesadas obrigações do ofício profético. Ninguém estará imune -
jovem ou velho, escravo ou livre, homem ou mulher (2.28ss).
V O Dia ainda não chegou (2Ts 2.2, 2Pe 3.10).
V Deus tem todos os eventos, todas as nações e todos os povos do universo sob o Seu controlo.

86
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Amós
swm[

Data
760 a.C.

Versículo Chave
4.12

Verso
“Amós prevê a calamidade mandada por Deus contra a falsidade.”

Propósito
Revelar o julgamento de Deus contra a hipocrisia do povo de Israel e sua desobediência à aliança
e para o encorajar à fidelidade à aliança tendo em vista a restauração da nação.

Mensagem
A indiferença complacente de Israel para com as exigências morais da aliança mosaica torna sua
religião abominável e faz inevitável seu julgamento pelo Deus que inspeciona os pecados das
nações, mas soberanamente promete restaurar para Seu povo as bênçãos da aliança davídica.

Contribuição para o Cânon


Mostra como a fidelidade de Deus às promessas da aliança exige seu julgamento da infidelidade
de Israel.

Esboço

I. 8 profecias contra as nações - “Por 3 transgressões… e ainda por 4…” (1-2)


II. 3 sermões - “Ouçam esta palavra…” (3-6)
III. 5 visões - gafanhotos, fogo, prumo, cesta de frutas maduras, destruição do
altar (7-9.10)
IV. 5 promessas - restauração (9.11-15)

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Informações Interessantes / Importantes

V Amós, cujo nome hebraico swOm[; (u*mos) se relaciona com o verbo sm'[; (u*m^s), que significa

“carregar”, fornece a seus leitores informação substancial sobre si mesmo:


o Residia em Tecoa, uma cidade localizada a 8 km ao sul de Belém.
o Não fora treinado para ser profeta, nem pertencia à linhagem sacerdotal (7.14,15).
o Sua ocupação era a procriação de carneiros (a inusitada palavra hebraica dqenO
(n)q@d) é usada para descrever a sua atividade [1.1], em vez de h[erO (r)u@h),
comummente usada para pastor; cf. a descrição de Messa, rei de Moabe, em 2Rs
3.4).
o Ele também plantava sicómoros, um tipo de figo silvestre (cf. 7.14), como
ocupação alternativa.
o Amós era um homem simples, como se evidencia pelo seu vocabulário comum e
suas figuras de linguagem derivadas da vida rural. Todavia, ele era bem versado
na lei e história de Israel, e seus escritos, apesar de não estarem à altura de um
Isaías, por exemplo, são vigorosos e atraentes.23

V Nas profecias contra as nações, Amós começa no norte, passa para oeste, depois sul, leste,
Judá e finalmente Israel.
V Citações no NT:
o 4.11 - Rm 9.29
o 5.25-27 - At 7.42-43
o 8.9 - Mt 24.29
o 9.11,12 - At 5.16-18
V Amós e a Lei (Pentateuco):
o 2.7 - Dt 23.17, 18
o 2.8 - Ex 22.26
o 2.12 - Nm 6.1-21
o 4.4 - Dt 14.28, 26.12
o 4.5 - Lv 2.11, 7.13
V Os antigos profetas proclamavam as palavras de YHWH em contínuo conflito com os
governantes, sacerdotes e outros que não davam ouvidos a seus pronunciamentos (7.12ss).
V Amós profetizou em Betel, um dos centros religiosos da idolatria do norte e também a
residência do rei (7.10-13).
V Como Oséias, Amós ataca a horrível infidelidade de Israel contra YHWH. Enquanto Oséias
critica severamente a nação por sua idolatria, Amós focaliza os problemas éticos e sociais
causados pelo sincretismo religioso de Israel.
V Na condenação das nações, a expressão “e ainda mais por 4…” representa a gota de água
que fez transbordar o cálice (1,2).
V Prosperidade material não implica, necessariamente, em saúde espiritual, nem vice-versa.
V Deus despreza a “religiosidade” (hipocrisia) mas atenta para a retidão e para a justiça (5.21-
24).
V Aquele que vive sob uma revelação maior tem maior responsabilidade (cap. 6).

23
PINTO, Carlos Osvaldo Cardoso. Foco e desenvolvimento no Antigo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2006. p.715

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Obadias
hydb[

Data
845 a.C.

Versículo Chave
18 (21)

Verso
“Em Obadias o julgamento é dado: o fim de Edom está decretado.”

Propósito
Revelar o julgamento contra Edom por seu extremado orgulho e violência contra Judá e lembrar
o povo da sua importância conforme a aliança abraâmica.

Mensagem
O julgamento de Deus contra Edom por seu orgulho extremo e violência injustificada contra Judá
é necessário para o cumprimento das promessas divinas a Jacó e Davi.

Contribuição para o Cânon


Mostra a fidelidade de Deus aos termos da aliança abraâmica, especialmente o lugar especial da
nação de Israel no Seu plano.

Esboço

I. Julgamento de Edom (1-18)


A. Profecias de julgamento (1-9)
B. Razões pelo julgamento (10-14)
C. Punição de Edom (15-18)
II. Restauração de Israel (19-21)

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Informações Interessantes / Importantes

V Obadias, cujo nome hebraico é hy:d]b'[o (uob^dy>) significa “servo de YHWH” ou “adorador de

YHWH”.
V A data é uma das questões mais debatidas sobre este livro, contudo existe uma relação do
livro de Obadias com uma batalha contra Jerusalém na qual os edomitas estiveram
associados (vv. 11-14). Portanto, há uma inclinação para relacioná-lo aos sofrimentos do
tempo de Jeorão, quando Jerusalém foi atacada pelos exércitos combinados dos filisteus,
vindos do Oeste, e árabes, vindos do Leste. Forças edomitas podem ter se juntado mais tarde
à luta (apesar de não termos registo de sua presença contra Jerusalém). O facto de ter
havido uma rebelião nessa época torna essa ocasião preferível ao tempo de Acaz, quando
nenhum ataque a Jerusalém é registado. A frase “Pois de novo os edomeus, tendo invadido
Judá…” em 2Cr 28.17 (com relação ao reinado de Acaz), encontraria explicação natural se um
primeiro ataque tivesse ocorrido 100 anos antes, no reinado de Jeorão.
V O menor livro do AT. Talvez o primeiro livro profético.
V Obadias é, de certa forma, um microcosmo da visão e conteúdo proféticos do AT. Ele extrai
elementos das promessas abraâmica24 e davídica para pintar seu sucinto, porém vívido,
quadro da justiça divina em ação.
V A aliança abraâmica garante a maldição dos que amaldiçoarem Israel.
V A nação de Edom surgiu de Esaú (v.6) irmão gémeo de Jacó (Israel). Esperava-se um
tratamento melhor (vv. 10-14) [cf. Nm 20.14-21].
V O Amor nunca se alegra com a injustiça (v.12, cf. 1Co 13.6).
V A sabedoria dos edomitas era proverbial (cf. Jr 49.7). A mensagem contra Edom era em parte
a condenação de sua sabedoria (v.8) e de seu orgulho (v.3). Será possível que não nos seja
importante ouvir isso hoje, quando o humanismo secular, no orgulho e na altivez de suas
realizações, ameaça colocar-se contra a Palavra de Deus?
V As pessoas ainda sofrem com as injustiças deste mundo e anseiam por um dia em que tudo
será “como deve ser”. A intervenção humana, por mais importante que seja, não é a resposta
final para essa sede de justiça. Entretanto, ouvir o Deus que promete que esse dia virá é
crucial. E quando isso acontecer, todos de facto conhecerão Aquele que conserta todos os
erros, restaura as posses justas (v.19ss) e faz Sua vontade na terra assim como ela é feita no
céu.25

24
Gn 12.1-3
25
LASOR, William S. HUBBARD, David A. BUSH Frederic W. Introdução ao AT. São Paulo: Vida Nova, 1999. p. 406

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Jonas
hnwy

Data
785-760 a.C.

Versículo Chave
4.2 (3.2)

Verso
“Depois da primeira e segunda comissão, Jonas se curva à divina compaixão.”

Propósito
Relembrar o povo de Israel da sua responsabilidade de ser uma bênção para o mundo inteiro (Gn
12.1-3).

Mensagem
A soberania de YHWH em conceder salvação, apesar da atitude de Seu servo, deve motivar
obediência humilde e interesse amoroso pela humanidade.

Contribuição para o Cânon


V Mostra o amor de Deus pelo mundo inteiro.
V Profetiza o resultado da iniquidade e idolatria.
V Revela a fidelidade de Deus à aliança abraâmica.

Esboço

I. A primeira comissão (1-2)


A. Chamada e Resposta (1)
B. Oração (2)
II. A segunda comissão (3-4)
A. Chamada e Resposta (3)
B. Reclamação e Repreensão (4)

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Informações Interessantes / Importantes

V Jonas, de forma distinta de alguns profetas não se encontra num vácuo histórico. Seu tempo
de vida e ministério estão marcadamente determinados por uma menção específica em 2Rs
14.25, o que posiciona sua vida e ministério no reinado de Jeroboão II (793-753 a.C.). Isto o
torna contemporâneo de Oséias e Amós.
V Seu nome hebraico, hn:wyo (yon>) significa “pomba”, e ele era nativo de Gate-Hefer, um

vilarejo na tribo de Zebulom, atual Galiléia.


V É o livro mais biográfico dos profetas.
V É possível que 2 pragas (765, 759 a.C.) e 1 eclipse solar (763 a.C.), eventos considerados
pelos antigos como indícios de juízo divino, tenham preparado o povo da Assíria para receber
a mensagem do profeta.
V A historicidade deste livro está intimamente ligada à veracidade do ministério de Jesus (cf. Mt
12.39-41).
V Ironia:
o Todos obedecem a Deus, menos Seu próprio profeta (1.3).
o Os marinheiros estão a orar enquanto o profeta de Deus está a dormir (1.5).
o Jonas tenta fugir da presença do Deus que ele acredita ser o criador do céu e da
terra (1.9).
o O profeta fica chateado quando o povo acredita na sua mensagem (4.1).
V Por vezes, Deus dá uma outra chance ao crente que “pisou na bola”.
V Assíria - o país mais cruel da época; Israel, gozava de muita prosperidade, mas fechado em /
para si mesmo e com uma visão limitada em termos de sua responsabilidade para com o
mundo.
V O livro demonstra que o Deus dos hebreus preocupa-se com todo o mundo.
V Da perspetiva da teologia da criação (1.9), o livro instiga uma visão equilibrada das nações e
de seu destino. Aqui começa João 3.16: “Deus ama muito o mundo”.
V Mudando de Ideia:
“E foi Jonas batendo os pés
para o seu posto à sombra
e esperou que Deus
mudasse de ideia,
pensasse como ele.

E continua Deus ainda esperando


que uma hoste de Jonas
mude de ideia,
ame como ele.”26

26
T. J. Carlisle in LASOR, William S. HUBBARD, David A. BUSH Frederic W. Introdução ao AT. São Paulo: Vida Nova, 1999. p. 422

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Miquéias
hkym

Data
737-710 a.C.

Versículo Chave
6.8 (6.2)
“Ele te declarou, ó homem, o que é bom e que é o que o SENHOR pede de ti: que pratiques a justiça, e ames a misericórdia, e andes
humildemente com o teu Deus.”

Verso
“Miquéias exorta a sua comunidade - a troca do mal por equidade.”

Propósito
Encorajar o povo a aplicar os princípios da aliança à sua vida diária porque, apesar do julgamento
contra a injustiça, ele seria restaurado no reino com um Rei (Messias).

Mensagem
O juízo divino contra a opressão e a idolatria nutridas por falsos líderes será contrabalançado
pela manifestação do Messias como Líder e Pastor de Israel, bem como Juiz e Benfeitor das
nações.

Contribuição para o Cânon


Mostra a relação entre fé e preocupações sociais.

Esboço

I. Julgamento (1-3)
A. Contra o povo (1-2)
B. Contra a liderança (3)
II. Restauração (4-5)
A. Reino / Cativeiro (4)
B. Rei (5)
III. Chamada ao arrependimento (6-7)

93
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Informações Interessantes / Importantes

V Como alguns outros profetas, Miquéias é praticamente desconhecido, exceto por pequenos
detalhes dados pela própria profecia. Seu nome hebraico, hk;ymi (m!k>) é uma versão

abreviada de Why]k;ymi (m!k*y=hW), “Quem é como YHWH?”, um nome dado também a um

profeta não-escritor do século 9 a.C. (cf. 2Cr 18.1-27).


V Como o nome de seu pai não é mencionado, parece razoável concluir que ele era um homem
de origem humilde (William S. LaSor, David A. Hubbard e Frederic W. Bush, Introdução ao
AT, p. 293, sugerem que Miquéias não era profeta por “profissão”, e que talvez fosse um
camponês ou pequeno proprietário); isto de certo modo transpira em sua preocupação pela
plebe muito explorada de Israel, sujeita a grande miséria por uma nobreza sem escrúpulos.
V Apesar de sua origem humilde, Miquéias certamente influenciou sua sociedade, como
Jeremias 26.17-19 deixa claro, creditando-o com pelo menos parte da responsabilidade pelo
reavivamento que aconteceu no reinado de Ezequias.
V A acusação divina torna-se específica em 6.9-16. As práticas da violência, do engano e das
fraudes nos negócios são gritantes. Isso trará desolação e destruição à terra. A referência a
Onri e a Acabe indica que os mesmos tipos de corrupção que destruíram o reino do norte
agora se disseminam por Judá.
V Os escribas do começo do primeiro século bem sabiam que o lugar onde haveria de nascer o
novo Rei era Belém (5.2, Mt 2.2-6, Jo 7.42). A profecia foi feita 700 anos antes do evento.
V Outra citação no NT: 7.6 (Mt 10.34-36, Mc 13.12, Lc 12.53).
V Este livro é muito parecido com o de Isaías. Tem sido chamado o “mini-Isaías”.
V A citação de Mq 3.12 em Jr 26.18 (100 anos depois) foi providencial para Jeremias escapar da
morte.
V Nesta época, o mundo estava debaixo do império Assírio, mas Miquéias viu a conquista de
Judá pelo Babilónios (4.10)!
V Injustiça na terra: 2.1-11, 3.1-4, 3.5-8, 6.16.
V Justiça na sociedade: pagamento dos impostos, misericórdia (aos pobres), pagamento das
dívidas, pagamento dos salários, responsabilidade nos compromissos.
V Descrições do reino do Messias sobre o mundo inteiro: 2.12-13, 4.1-8, 5.4-5.
V Profecias cumpridas:
o A queda de Samaria (1.6-7: 722 a.C.)
o A invasão de Judá (1.9-16: 702/701 a.C.)
o A queda de Jerusalém (7.13, 3.12: 586 a.C.)
o O exílio na Babilónia (4.10: 586 a.C.)
o O retorno (4.1-8, 13, 7.11, 14-17: 520 a.C.)
o Nascimento do Messias em Belém (5.2: 6/4 a.C.)

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Naum
‫ם‬wjn

Data
663-612 a.C.27

Versículo Chave
3.5-7
“Eis que eu estou contra ti, diz o SENHOR dos Exércitos; levantarei as abas de tua saia sobre o teu rosto, e mostrarei às nações a tua
nudez, e aos reinos, as tuas vergonhas. Lançarei sobre ti imundícias, tratar-te-ei com desprezo e te porei por espetáculo. Há de ser que
todos os que te virem fugirão de ti e dirão: Nínive está destruída; quem terá compaixão dela? De onde buscarei os que te consolem?”

Verso
“Naum proclama a execução - Nínive morre sem compaixão.”

Propósito
Revelar a violenta destruição de Nínive (e do império Assírio) e a misericordiosa preservação de
Judá encorajando o povo de Deus com Sua soberania, justiça e fidelidade à aliança.

Mensagem
A violenta derrota de Nínive e a restauração misericordiosa de Judá revelam a soberania de Deus
na História e Sua retidão em julgar, razões para a esperança daqueles que Nele confiam.

Contribuição para o Cânon


V Demonstra a necessidade de perseverança na fé.
V Mostra a Judá o julgamento de Deus contra a idolatria e a injustiça.
V Revela a fidelidade de Deus à aliança abraâmica.

Esboço

I. Decreto da destruição (1)


A. O caráter de Deus: Ao julgamento segue-se longanimidade (1.1-12)
B. A destruição de Nínive trará libertação a Judá (1.13-15)
II. Descrição da destruição (2-3)
A. O sítio e a destruição de Nínive (2)
B. As razões e a certeza da destruição (3)

27
depois da destruição de No-Amom (Tebas) em 663 a.C. (3.8) e antes da queda de Nínive em 612 a.C.

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Informações Interessantes / Importantes

V O nome hebraico ‫ם‬Wjn: (n*jWm) significa “consolado / confortado” e bem pode ser que haja

uma ligação proposital entre esse nome e o consolo derivado de sua mensagem de castigo
completo contra a feroz inimiga de Israel, Nínive.
V Os ninivitas (assírios), convertidos pela pregação de Jonas (mais de 100 anos antes de
Naum), não haviam transmitido a seus filhos o conhecimento do Deus verdadeiro, e o povo
retornara rapidamente às suas práticas cruéis e pagãs.
V Nínive caiu em 612 a.C. cumprindo a profecia de Naum. O rio Tigre inundou as margens, e o
dilúvio destruiu uma parte do muro (1.8) onde os Babilónios entraram e queimaram tudo
(1.10, 2.13, 3.13,15). A cidade foi descoberta somente em 1845 d.C. (cf. 2.9, 3.11)!
V Jonas / Naum:

Jonas Naum
A misericórdia de Deus O julgamento de Deus
Arrependimento de Nínive Rebeldia de Nínive
Ênfase: o profeta Ênfase: a profecia
Profeta desobediente Profeta obediente
Nação obediente Nação desobediente
Salvação da água Destruição pela água
770 a.C. 660 a.C.

V Se alguns profetas parecem gostar da perspetiva de aniquilação de seus velhos inimigos, é


porque o sofrimento de seu povo tem sido agudo. O entusiasmo deles com respeito a tal
punição pode ultrapassar os limites, pois embora conhecessem a lei do amor ao próximo (Lv
19.17ss) não a tinham visto aplicada claramente em Cristo. Mas a revelação cristã também
confirma o que os membros da antiga aliança bem sabiam: o amor tem seu lado duro. Seu
fogo tanto pode queimar como aquecer: “O homem profunda e verdadeiramente religioso é
sempre um homem de ira. Uma vez que ama a Deus e a seu próximo, ele odeia e despreza a
desumanidade, a crueldade e a perversidade. Todo homem bom às vezes profetiza como
Naum”.28
V Em certo sentido, a destruição de Nínive representa o destino de todas as nações cuja
confiança última repousa “em tubos de fumaça e cacos de ferro”29. O poderio militar não
exclui obrigações de justiça e retidão. As pedras esmagadas da cidade arrogante são um
lembrete assustador de que somente as nações que confiam no Deus que é a fonte da
verdadeira paz verão “sobre os montes os pés Do que anuncia boas-novas, Do que anuncia a
paz” (1.15 [TM 2.1], cf. Is 52.7, At 10.36, Rm 10.15).

28
LASOR, William S. HUBBARD, David A. BUSH Frederic W. Introdução ao AT. São Paulo: Vida Nova, 1999. p. 349
29
Kipling in idem.

96
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Habacuque
qwqbj

Data
607 a.C.

Versículo Chave
2.4 (3.17-19)
“O ímpio está envaidecido; seus desejos não são bons; mas o justo viverá pela sua fidelidade.”30

Verso
“Habacuque ora em submissão e vive pela fé que Deus tem razão.”

Propósito
Motivar o povo de Judá a confiar (ter fé) na justiça, santidade e soberania de Deus apesar das
circunstâncias.

Mensagem
A fé que se baseia na revelação passada do caráter e poder de Deus permite que o justo se
regozije no futuro exercício da justiça divina apesar dos aparentes paradoxos do presente.

Contribuição para o Cânon


V Mostra a base da aceitação de Deus: “o justo viverá pela fé”.
V Revela a divindade de Deus, a humanidade do Homem e a necessidade da fé no
relacionamento entre o Homem e Deus (o homem não vê nem entende tudo no plano de
Deus).

Esboço

I. Ciclo 1: Um Deus Omnipotente que permite o mal (1.1-11)


A. Reclamação (1.1-4)
B. Resposta (1.5-11)
II. Ciclo 2: Um Deus Santo que utiliza o mal (1.12-2.20)
A. Reclamação (1.12-2.1)
B. Resposta [5 “Ais”] (2.2-20)
III. Conclusão: Oração de louvor e submissão (3)

30
NVI - Várias versões dizem sua fé, com possível base na Septuaginta (LXX).

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Informações Interessantes / Importantes

V É muito provável que o nome hebraico qWQb'j} (j&b^QWq) derive da raiz qbj (jbq), que

significa “abraçar”.31
V Habacuque é o mais sapiencial dos profetas. Seu livro é estruturado em torno de uma série
de diálogos entre o profeta e Deus. Nesses diálogos encontramos questionamentos tão
veementes quanto à justiça divina como os que encontramos em Jó, apesar da amplitude do
sofrimento que os causou ser bem maior.
V A profecia de Habacuque originou-se na profunda preocupação do profeta pela manifestação
da justiça divina em sua sociedade.
V O livro consiste de uma teodiceia, uma defesa da bondade e do poder de Deus em vista da
existência do mal.
V A ideia da profecia em 2.14 “a terra se encherá do conhecimento da glória do SENHOR” é
repetida mais 4 vezes no AT (Nm 14.21, Sl 72.19, Is 6.3, 11.9).
V O capítulo 3 é um salmo, apropriado para o uso na adoração da nação.
V A mensagem de Habacuque serviu de preparação estratégica para o evangelho do NT (cf. Rm
1.17, Gl 3.11, Hb 10.38s.).
V O versículo chave teve um forte impacto nas vidas de Lutero e Wesley.
V Compreensão mediante dúvida honesta. A dúvida honesta pode ser uma atitude religiosa
mais aceitável que a confiança superficial.32
V Numa comparação entre o início e o fim do livro percebemos que as dúvidas iniciais são
resolvidas - não com a compreensão de todos os propósitos, mas com fé na soberana
sabedoria de Deus.
V Deus conhece as nossas dúvidas, contudo podemos expressá-las se terminarmos com oração
de louvor e submissão!
V A fidelidade de Deus no passado é uma grande motivação para a fé no presente (cap. 3).

31
DITAT, pp. 419-420
32
LASOR, William S. HUBBARD, David A. BUSH Frederic W. Introdução ao AT. São Paulo: Vida Nova, 1999. p. 354

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Sofonias
hynpx

Data
625 a.C.

Versículo Chave
1.14-16 (2.3)
“O grande dia do SENHOR está próximo; está próximo e logo vem. Ouçam! O dia do SENHOR será amargo; até os guerreiros gritarão. Aquele
dia será um dia de ira, dia de aflição e angústia, dia de sofrimento e ruína, dia de trevas e escuridão, dia de nuvens e negridão, dia de
toques de trombeta e gritos de guerra contra as cidades fortificadas e contra as torres elevadas”.

Verso
“Em Sofonias condenação termina em restauração.”

Propósito
Advertir o povo de Judá contra a idolatria e as nações contra o seu orgulho e ainda encorajar o
povo de Deus com a certeza da salvação e participação no Reino após o julgamento do Dia do
Senhor.

Mensagem
O iminente Dia do Senhor será tempo de terror para a idólatra Judá e as arrogantes nações
circunvizinhas, mas tempo de ternura para o remanescente de Israel que confia em Deus e
partilhará as bênçãos prometidas.

Contribuição para o Cânon


V Revela muito sobre os 2 aspetos do Dia do Senhor.
V Mostra a justiça de Deus no castigo do pecado.

Esboço

I. Condenação no Dia do Senhor (1.1-3.8)


A. Contra a Terra e Judá (1.1-18)
B. Contra as Nações (2.1-3.8)
II. Salvação no Dia do Senhor (3.9-20)

99
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Informações Interessantes / Importantes

V O nome hebraico hy;n]p'x] (x+p^ny>) significa “YHWH guarda” ou “YHWH entesoura”. Podemos

crer que há exemplos de paronomásia entre os nomes dos profetas e suas mensagens (cf. Is
- YHWH salva; Naum - o consolado). Sofonias pode ser um desses casos, já que ele fala da
proteção terna de Deus para Seu remanescente durante o dia do julgamento por vir (3.12).33
V Sofonias, nascido em berço nobre (1.1), muito provavelmente ajudou a preparar Judá para o
reavivamento que ocorreu sob a liderança do bom rei Josias em 621 a.C. (2Cr 34.3),
convocando o povo ao arrependimento.
V A reforma aconteceu, mas depois da morte de Josias, os líderes e grande parte do povo
voltaram à antiga vida de pecado.
V Sofonias tem mais referências ao Dia do Senhor do que qualquer outro profeta. Seu tema
predominante é julgamento, manifesto tanto na versão histórica iminente do Dia do Senhor
quanto em sua plenitude escatológica. Esta ênfase no julgamento é complementada pelas
promessas de proteção divina e preservação do verdadeiro remanescente.
V A palavra “Dia” na expressão “Dia do Senhor” não significa um período de 24 horas, mas uma
época ou um período de tempo. É um “Dia” de ira e salvação que afeta todo o mundo.
V Como Isaías, Sofonias viu a grandeza de Deus e foi transformado por ela. Ele viu que Deus
não pode tolerar a altivez e que a única esperança do povo repousa no reconhecimento da
própria fragilidade. O orgulho é um problema enraizado na natureza humana: “Eu, e mais
ninguém” [NVI], “Eu sou a única, e não há outra além de mim” [RA] (2.15). Tal rebelião, a
declaração de independência espiritual de Deus é o mais hediondo dos pecados. O que escapa
da fúria de Deus é o humilde que confia e “se refugia no Nome do SENHOR” (3.12).
V “As grandes causas de Deus e da humanidade não são derrotadas pelos ataques diretos do
Diabo, mas pelas massas lentas e esmagadoras de milhares de “ninguéns” indiferentes que
avançam como geleiras. As causas de Deus não são destruídas por algum explosivo que se
lhes lança em cima, mas por pessoas que se sentam sobre elas”34 (1.12).

33
PINTO, Carlos Osvaldo Cardoso. Foco e desenvolvimento no Antigo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2006. p.770
34
Smith, G. A. Book of the twelve prophets, Expositor’s Bible (repr. 1956) 4:573.

100
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Ageu
ygj

Data
520 a.C.

Versículo Chave
1.7-8
“Assim diz o SENHOR dos Exércitos: ‘Vejam aonde os seus caminhos os levaram! Subam o monte para trazer madeira. Construam o templo,
para que eu me alegre e nele seja glorificado’, diz o SENHOR.”

Verso
“A obra do templo começa de novo quando Ageu reprova seu povo.”

Propósito
Encorajar e motivar o remanescente a considerar suas prioridades, renovar sua fidelidade e
esperança na aliança e assim reconstruir o Templo para receber a bênção de Deus.

Mensagem
A reconstrução do Templo reflete o arrependimento pela indiferença para com a glória de Deus e
a fé na concessão definitiva das bênçãos prometidas na aliança.

Contribuição para o Cânon


V Fundamenta o princípio de Mt 6.33 - Primeiro, Deus!
V Mostra a importância do Templo (a presença de Deus) como centro do culto e símbolo da
aliança com Deus.

Esboço

I. Apelo à construção do Templo (1.1-15)


II. Apelo à coragem no Senhor (2.1-9)
III. Apelo a uma consciência pura (2.10-19)
IV. Apelo à confiança no futuro (2.20-23)

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Informações Interessantes / Importantes

V O nome Ageu yG'j' (j^gG^y) parece relacionar-se com a palavra gj' (j^g), que significa “festa,
festival”. Por isso alguns comentaristas sugerem que ele nasceu em um dia de festa religiosa
ou comemorativa, o que permanece como mera especulação.
V A primeira voz profética, seguida de Zacarias, a se ouvir depois do exílio babilónico (Ed 5.1,
6.14).
V Ageu foi um dos poucos profetas que experimentou o sucesso.
V Voltou com Zorobabel (e 50.000 outros judeus) no primeiro retorno (536 a.C. cf. Ed 1.5).
V Foi contemporâneo de Zacarias (e de Confúcio).
V É possível que Ageu tivesse visto o Templo de Salomão (2.3).
V O livro de Ageu encaixa-se na história fornecida pelo livro de Esdras. Após o entusiasmo com
a volta da Babilónia e assentamento na Judéia, o povo caiu num ciclo de desânimo devido à
oposição, à negligência espiritual e à pobreza material que se estendeu por aproximadamente
15 anos.
V Herodes, o grande, gastou muito tempo e dinheiro nos melhoramentos do Templo - o mesmo
que Jesus frequentou.
V Não faças amanhã o que podes fazer hoje! (1.2)
V Mt 6.33 - Como estão as minhas prioridades?! Moro eu numa casa “apainelada” (de luxo, de
fino acabamento) enquanto a “casa do Senhor” está em ruínas? (1.4)
V As circunstâncias (tempos de crise) porventura não serão sinais de Deus a querer chamar a
nossa atenção para Si mesmo e Sua obra? (1.6,9-11, 2.15-17,19).
V A obra do Senhor exige santidade - contínua purificação (2.11-14).
V O papel de Zorobabel seria transformar Israel numa comunidade de adoração em torno do
templo até que o Senhor dos Exércitos interviesse na História para estabelecer Seu próprio
reino (2.23).
V O livro de Ageu não deve ser desvalorizado pelo facto de seu ensino estar associado a uma
construção. O templo era o lugar escolhido especialmente por Deus para os encontros com o
Seu povo. Ezequiel descreveu a sua reconstrução (caps. 40-48) e Ageu anunciou o tempo
apropriado. Deus exigia que Seu povo se aproximasse Dele no templo com o sangue de
animais; agora requer que nos aproximemos Dele por meio do sangue de Cristo (Hb 10.19-
23). A obediência não é opcional.

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Zacarias
hyrkz

Data
520-518 a.C.

Versículo Chave
9.9 (14.9)
“Alegra-te muito, ó filha de Sião; exulta, ó filha de Jerusalém: eis aí vem o teu Rei, justo e salvador, humilde, montado em jumento, num
jumentinho, cria de jumenta.”

Verso
“Completem o Templo para o Messias - é a mensagem de Zacarias.”

Propósito
Encorajar a comunidade pós-exílica a permanecer fiel à aliança lembrada por YHWH35 e por Ele
eventualmente usada como base para estabelecer Seu governo sobre Israel e as nações por meio
de Seu Servo, o Renovo, o Messias.

Mensagem
O estabelecimento futuro do reino do Messias serve de motivação para a reconstrução do Templo
e submissão às exigências da aliança, que provam a confiança dos judeus no Deus que controla o
presente e o futuro de Israel e das nações.

Contribuição para o Cânon


V Manifesta a fidelidade de Deus à aliança através do Messias.
V Dá um esboço do plano de Deus para o Seu povo durante o tempo dos gentios.

Esboço

I. Chamada ao arrependimento (1.1-6)


II. 8 visões (1.7-6.15)
III. 4 mensagens (7-8)
IV. 2 sentenças sobre o futuro (9-14)

35
Cf. a paronomasia com o nome do profeta, Zacarias.

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Informações Interessantes / Importantes

V Zacarias hy:r]k'z] (z+k^ry*h), um nome bem comum no AT e que significa “YHWH lembra”. Mais
uma vez se encontra a paronomásia que caracteriza os nomes dos profetas do AT com

relação às suas mensagens, transmitindo, neste caso, aos leitores israelitas a esperança de

que, apesar dos frequentes deslizes da nação, o Deus fiel da aliança lembrará [= cumprirá]

as promessas feitas no passado.

V Foi contemporâneo de Ageu e colaborou com ele (Ed 5.1, 6.14).

V O “maior dos profetas menores”.

V A expressão “Assim diz o Senhor” aparece 89 vezes; e “Senhor dos Exércitos” 36 vezes.

V É o Senhor dos Exércitos que diz: “Não por força nem por violência, mas pelo meu Espírito”

(4.6).

V As 8 visões foram recebidas numa só noite (15 de fevereiro, 519 a.C.).

V Profecias relacionadas com a crucificação de Cristo: 9.9, 11.12-13, 12.10, 13.6-7.

V Não desprezemos o dia dos humildes começos [NVI pequenas coisas] (4.10).

V “Nós vamos contigo porque ouvimos dizer que Deus está com o teu povo” (8.23).

V São duas as vozes desta obra-prima profética que precisam ser ouvidas: a voz pragmática,

que nos incentiva a um compromisso com a construção de um mundo melhor (estruturas em

que Deus possa agir - igrejas, hospitais, organizações missionárias e humanitárias); e a voz

visionária, que nos incentiva a renunciar este mundo, a levantar a cabeça aguardando a

nossa redenção (Lc 21.28) e a esperar por uma cidade melhor que “tem fundamentos, da

qual Deus é o arquiteto e edificador” (Hb 11.10).

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Malaquias
ykalm

Data
430-400 a.C.

Versículo Chave
3.16-17
“Depois, aqueles que temiam o SENHOR conversaram uns com os outros, e o SENHOR os ouviu com atenção. Foi escrito um livro como
memorial na sua presença acerca dos que temiam o SENHOR e honravam o Seu nome. ‘No dia em que eu agir’, diz o SENHOR dos Exércitos,
‘eles serão o meu tesouro pessoal. Eu terei compaixão deles como um pai tem compaixão do filho que lhe obedece’.” [NVI]

Verso
“De Malaquias vem interrogação, pois culpa de novo tem a nação.”

Propósito
Advertir o povo contra o formalismo e indiferença à aliança encorajando-o a um reavivamento
espiritual.

Mensagem
A decadência na vida moral e religiosa de Judá devido à sua falta de confiança na benevolência
pactual de YHWH será visitada com um julgamento purificador que combina severidade e graça,
trazendo assim esperança aos que se arrependem.

Contribuição para o Cânon


V Apresenta o papel de João Batista.
V Encerra o AT com os últimos julgamentos e as últimas promessas de Deus.
V Mostra o amor constante de Deus.
V Contrasta a importância do amor por Deus com a mera religiosidade.

Esboço

I. O amor de Deus por Seu povo (1.1-5)


II. A reclamação de Deus contra Seu povo (1.6-3.15)
III. A esperança no futuro (3.16-4.6)

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Informações Interessantes / Importantes

V Malaquias ykia;l]m' (m^la*k!), um nome desconhecido como nome pessoal no AT, pode ser uma abreviação
de hwhy ‫ך‬a'l]m' (m^la*k yhwh), “o mensageiro de YHWH”. A presente forma do nome do profeta

possivelmente se deva à paronomásia com respeito ao conteúdo do livro, o qual enfatiza a ideia de um
mensageiro divino: os sacerdotes são apresentados como mensageiros de Deus (2.7); o precursor do
Messias é chamado “mensageiro” (3.1); finalmente, um terceiro indivíduo é chamado “o mensageiro da
aliança” (3.1, NVI).

V Os esforços combinados de Esdras e Neemias trouxeram mudanças para a sofrida comunidade


centralizada em Jerusalém (Ne 8-10). Apesar dos surtos de fervor religioso, no entanto, a apatia
espiritual tornara-se a norma. A idolatria pré-exílica cedera lugar à indiferença pós-exílica em relação a
Deus e Sua merecida adoração.
V O ciclo de indiferença trouxe falta de apoio financeiro à adoração no templo (3.7-9), o que
indubitavelmente ajudou a provocar corrupção entre os sacerdotes (2.1-9), que por sua vez produziu
desmantelamento social e familiar (2.10-16), com aumento de divórcio, casamentos mistos, e
desavenças familiares (ou choque de gerações, 4.6).
V Malaquias, contemporâneo de Neemias, trabalhou com ele para reedificar a vida moral do povo.
V O AT termina com uma grande mensagem de esperança (antes dos 400 anos de silêncio): A vinda de
João e Jesus (3.1-3).
V A última palavra do AT é “maldição”. Esperava-se pelo NT para trazer a “bênção” da graça do Senhor
Jesus.
V A profecia da volta de Elias surge no final do AT e no começo do NT (cf. Mc 1.1-8) - sinal da sua
importância para servir de ponte entre os dois testamentos.
V Deus despreza formalismo, “religião”, hipocrisia e falsidade (1.6-14).
V Assim como escolheu a Jacó (1.2-3), Deus escolhe pessoas hoje. Os que estão dentro da aliança devem
evitar o pecado do orgulho (Rm 11.18-21), lembrando que não escolheram; antes, foram escolhidos (Jo
15.16). Assim os eleitos de Deus devem responder a Ele com humilde gratidão e culto obediente. E
devem mostrar bondade e humildade para com os de fora.
V Malaquias ensina-nos a importância de oferecer o melhor do que temos a Deus (1.6-14). Também
destaca o dízimo (3.8-12), hoje superestimado em alguns púlpitos e negligenciado em outros. Uma
ênfase desequilibrada nesta passagem pode levar ao legalismo. Principalmente por causa da bênção
prometida, alguns fazem mau uso de Malaquias, incentivando a noção de que podemos negociar com
Deus. Por outro lado, é um erro negligenciar a instrução sobre a doação regular e sacrificial, coisa que o
NT também defende (1Co 16.2, 2Co 9.7).
V Dois outros temas de Malaquias encontram confirmação no NT: a fidelidade à aliança do matrimónio
(2.14-16 / Mt 19.1-12, Mc 10.2-12, Lc 16.18); e o interesse de Deus pelos que se encontram às
margens da sociedade: os diaristas, as viúvas, os órfãos e os estrangeiros residentes (3.5 / Mt 25.31-
46, Tg 1.27).
V A mensagem de Malaquias anuncia claramente: “Incompleto”. A reconstrução do templo no período pós-
exílico não inaugurou o reino de Deus. Mas Malaquias elevou as expectativas judaicas, engendrando um
temor de julgamento e uma esperança de salvação.

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Período Intertestamentário36
ACONTECIMENTOS POLÍTICOS
Este período entre os escritos do AT e o NT é chamado com frequência de “anos silenciosos”,
uma designação equivocada. Apesar de nenhum profeta inspirado ter surgido em Israel durante
esses séculos e de se considerar que o AT estava completo, os acontecimentos ocorridos neste
período conferiram ao judaísmo posterior a sua ideologia distintiva e se mostraram providenciais
ao preparar o caminho para a vinda de Cristo e a proclamação do Seu evangelho.

A supremacia persa
O império persa exerceu controle sobre a Judéia durante cerca de um século depois do tempo de
Neemias. Foi um período relativamente tranquilo, pois os judeus receberam permissão de
observar suas práticas religiosas sem que ninguém os incomodasse. Nesse tempo, a Judéia foi
governada por sumos sacerdotes que prestavam contas ao governo persa, facto que garantiu aos
judeus grande autonomia e corrompeu o sacerdócio transformando-o em uma posição política.
Inveja, intrigas e até homicídio fizeram parte da competição pelo título honorífico de sumo
sacerdote. Diz-se que Joanã, filho de Joiada (Ne 12.22), matou seu irmão Josué dentro do
próprio templo.

Nesse período, a Pérsia e o Egito se viram envolvidos em conflitos incessantes e, uma vez que
estava situada entre as duas nações, a Judéia não teve como ficar de fora desses atritos.
Durante o reinado de Artaxerxes III (Ochus), vários judeus participaram de uma insurreição
contra a Pérsia e foram deportados para a Babilónia e para o litoral do mar Cáspio.

Alexandre, o Grande
Na sequência da derrota dos exércitos persas na Ásia Menor (em 333 a.C.), Alexandre marchou
em direção à Síria e à Palestina. Depois de resistir obstinadamente, a cidade de Tiro foi tomada e
Alexandre se deslocou para o sul, em direção ao Egito. Diz a lenda que, quando Alexandre se
aproximou de Jerusalém, Jadua – o sumo sacerdote judeu – foi ao seu encontro e lhe falou das
profecias de Daniel, segundo as quais o exército grego seria vitorioso (Dn 8). Este episódio não é
considerado verdadeiro pelos historiadores, mas é facto que Alexandre tratou os judeus com
bondade. Permitiu que eles observassem suas leis; concedeu-lhes isenção tributária no ano
sabático e, ao construir Alexandria no Egito (331 a.C.), incentivou-os a mudar para essa cidade,
oferecendo-lhes privilégios comparáveis àqueles reservados exclusivamente a seus súditos
gregos.

36
Adaptado do texto “From Malachi to Matthew” [“De Malaquias a Mateus”] de Charles F. Pfeiffer;
Moody Bible Institute of Chicago, © 1962. In A Bíblia Anotada Expandida – Charles C. Ryrie, p. 897-900.

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A Judéia sob o governo dos Ptolomeus


Depois da morte de Alexandre (323 a.C.), a Judéia ficou primeiramente sob o governo de
Antígono, um dos generais de Alexandre que controlava parte da Ásia Menor. Em seguida, caiu
nas mãos de outro general, Ptolomeu I (a essa altura, governante do Egito), apelidado de Soter
ou Libertador, que tomou Jerusalém em um sábado de 320 a.C. Ptolomeu também foi bondoso
com os judeus. Muito deles se assentaram em Alexandria, que continuou a ser um importante
centro do pensamento judaico por vários séculos. Durante o governo de Ptolomeu II (Filadelfos),
os judeus de Alexandria traduziram sua lei, i.e., o Pentateuco, para o grego. Essa tradução ficou
conhecida como Septuaginta, devido à lenda segundo a qual setenta tradutores (mais
precisamente 72 – seis de cada tribo) haviam recebido inspiração sobrenatural para produzir uma
tradução infalível.

A judéia sob o governo dos selêucidas


Depois de aproximadamente um século, durante o qual os judeus permaneceram sob o domínio
dos Ptolomeus, Antíoco III (o Grande) da Síria tomou a Síria e a Palestina à força, do Egito (198
a.C.). Os governantes sírios são conhecidos como selêucidas, pois seu reino, construído sobre as
ruínas do império de Alexandre, foi fundado por Seleuco I (Nicator).

Durante os primeiros anos do governo sírio, os selêucidas permitiram que o sumo sacerdote
continuasse a governar sobre os judeus segundo suas próprias leis. No entanto, surgiu um
conflito entre o partido helenista e os judeus ortodoxos. Antíoco IV (Epifânio) aliou-se ao grupo
helenizante e nomeou para o cargo de sacerdote um homem que mudou seu nome de Josué para
Jason e incentivou o culto a Hércules de Tiro.

Dois anos mais tarde, porém, Jason foi deposto por outro helenista, um rebelde chamado
Menaém (gr. Menelau). Quando os partidários de Jason entraram em confronto com aqueles que
favoreciam Menelau, Antíoco invadiu Jerusalém, saqueou o templo e matou um grande número
de judeus (170 a.C.). Os direitos civis e religiosos foram revogados, os sacrifícios diários foram
proibidos e um altar a Júpiter foi erguido no lugar do altar do holocausto. Cópias das Escrituras
foram queimadas e os judeus foram obrigados a comer carne de porco oferecida sobre o altar do
holocausto em demonstração de desprezo pela consciência religiosa judaica.

Os macabeus
Os judeus oprimidos não demoraram a encontrar um defensor. Ao chegarem à vila de modina,
cerca de 14 quilómetros a oeste de Jerusalém, os emissários de Antíoco esperavam que Matatias,
um sacerdote idoso, desse o exemplo para o povo e oferecesse um sacrifício pagão. Ele não
apenas se recusou a fazê-lo como também matou um judeu apóstata no altar pagão, junto com o
oficial sírio que dirigia a cerimónia. Matatias fugiu para a região montanhosa da Judéia e
organizou, com seus filhos, uma guerrilha contra os sírios. Apesar de não ter vivido para ver seu
povo ser libertado do jugo sírio, o sacerdote idoso incumbiu seus filhos de completar essa tarefa.
Quando Matatias faleceu, seu filho Judas, apelidade de “o Macabeu”, assumiu a liderança. Em

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164 a.C., Judas recuperou o controle de Jerusalém, purificou o templo e reinstituiu os sacrifícios
diários. Logo depois das vitórias de Judas, Antíoco faleceu na Pérsia. No entanto, as lutas entre
os macabeus e os governantes selêucidas estenderam-se por mais vinte anos.

Aristóbulo I foi o primeiro govenante macabeu a usar o título “Rei dos Judeus”. Depois de um
reinado breve, foi sucedido pelo tirânico Alexandre Janeu, que, por sua vez, deixou o reino para
sua mãe, Alexandra. O reinado de Alexandra foi relativamente tranquilo e, ao morrer, um dos
seus filhos mais jovens, Aristóbulo II, usurpou o trono de seu irmão e sucessor por direito. Logo
em seguida, Antípater, governador da Iduméia, abraçou a causa de Hircano, gerando ameaças de
uma guerra civil. Em decorrência, Pompeu invadiu a Judéia com suas legiões romanas, decidido a
resolver a questão e promover os interesses de Roma. Aristóbulo procurou defender Jerusalém
dos ataques de Pompeu, mas os romanos tomaram a cidade e entraram no Santo dos Santos do
tempo, sem, no entanto, tocar em nenhum dos tesouros.

Roma
Marco António apoiou a causa de Hircano. Depois do assassinato de Júlio César e de Antípater
(pai de Herodes) – que, em termos práticos, exerceu poder sobre a Judéia –, Antígono, o
segundo filho de Aristóbulo, procurou tomar o trono para si. Chegou a governar em Jerusalém
durante algum tempo, mas Herodes, filho de Antípater, voltou de Roma e tornou-se o rei dos
judeus com o respaldo romano. Seu casamento com Mariane, neta de Hircano, serviu-lhe de elo
com os governantes macabeus.

Herodes foi um dos governantes mais cruéis de todos os tempos. Assassinou Hircano, respeitado
líder (31 a.C.), e mandou executar a própria esposa Mariane e seus dois filhos. Já no leito de
morte, Herodes ordenou a execução de Antípater, seu filho com outra esposa. Nas Escrituras,
Herodes é conhecido como o rei que mandou matar as crianças de Belém por temer a rivalidade
daquele que havia nascido para ser o Rei dos Judeus.

GRUPOS RELIGIOSOS JUDAICOS

Quando, depois da conquista de Alexandre, os helenistas mudaram o pensamento do Oriente


Próximo, alguns judeus apegaram-se mais firmemente que nunca à fé dos seus antepassados,
enquanto outros se mostraram dispostos a adaptar o seu modo de pensar às ideias mais recentes
vindas da Grécia. O conflito entre o helenismo e o judaísmo acabou por dar origem a várias
seitas judaicas.

Fariseus
Os fariseus eram os descendentes espirituais dos judeus piedosos que lutaram contra os
helenistas no tempo dos primeiros macabeus. É provável que o nome fariseus, “separatistas”,
lhes tenha sido dado por seus inimigos para indicar que eles eram dissidentes. Também é
possível que fosse usado com desprezo devido à rigidez de sua separação dos compatriotas
judeus e dos pagãos. A lealdade à verdade por vezes produz orgulho e até mesmo hipocrisia, e

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foi justamente essa distorção dos primeiros ideais farisaicos que Jesus condenou. Paulo
considerou-se um membro do grupo ortodoxo dentro do judaísmo de sua época (Fp 3.5).

Saduceus
O partido saduceu, que provavelmente recebeu esse nome por causa de Zadoque, sumo
sacerdote nomeado por Salomão (1Rs 2.35), negava a autoridade da tradição e considerava
suspeita qualquer revelação posterior à lei mosaica. Eles repudiavam também a doutrina da
ressurreição e não acreditavam na existência de anjos ou de espíritos (At 23.8). A maioria deles
era de homens abastados que ocupavam cargos importantes e cooperavam de bom grado com o
helenismo de sua época. No tempo do NT, controlavam o sacerdócio e o ritual no templo. As
sinagogas, no entanto, eram os baluartes dos fariseus.

Essénios
O movimento essénio foi uma reação ascética ao formalismo dos fariseus e ao mundanismo dos
saduceus. Os essénios se separavam da sociedade para viver de modo ascético e celibatário.
Ocupavam-se da leitura e do estudo das Escrituras e da oração e atentavam para as purificações
cerimoniais. Os bens não eram individuais, mas comunitários, e os membros dessas comunidades
eram conhecidos por sua dedicação e piedade. Seus princípios condenavam tanto a guerra
quanto a escravidão.

A maioria dos estudiosos acredita que o mosteiro de Qumran, próximo das cavernas onde foram
encontrados os papiros do Mar Morto, era um centro essénio no deserto da Judéia. De acordo
com relatos dos papiros, membros da comunidade haviam deixado as influências corruptas das
cidades da Judéia e se dirigido para o deserto a fim de preparar “o caminho do Senhor”.
Acreditavam no Messias que estava por vir e se consideravam o verdadeiro Israel para o qual ele
viria.

Escribas
Estritamente falando, os escribas não constituíam uma seita, mas os membros de uma classe
profissional. A princípio, eram copistas da lei. Com o tempo, passaram a ser considerados
autoridades no que se referia às Escrituras e, por isso, começaram a exercer a função de
mestres. Suas ideias geralmente assemelhavam-se às dos fariseus, com os quais eles são
associados com frequência ao longo do NT.

Herodianos
Acreditavam que o melhor para o judaísmo era cooperar com os romanos. A denominação
origina-se de Herodes, o Grande, que procurou romanizar a palestina da sua época. Os
herodianos eram mais um partido político do que uma seita religiosa.

A opressão política romana, simbolizada por Herodes, e as reações religiosas expressas pelos
sectários de oposição dentro do judaísmo pré-cristão muito contribuíram para a formação do
contexto histórico em que Jesus veio ao mundo. As frustrações e os conflitos prepararam Israel
para o advento do Messias de Deus na “plenitude do tempo” (Gl 4.4).

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De Malaquias a Mateus

a.C.

300-30 Redação dos livros apócrifos

333 Conquista dos persas por Alexandre, o Grande

323 Morte de Alexandre, o Grande

280-200 Tradução da Septuaginta (tradução grega do AT)

c. 200 Construção da grande muralha da China


Profanação do templo de Jerusalém por Antíoco Epifânio, que ofereceu carne de porco no
167
altar do holocausto
165 Purificação do templo e restauração do seu uso devido por Judas Macabeu

63 Entrada de Pompeu em Jerusalém

63 Assassinato de Júlio César

37 Nomeação de Herodes, o Grande, para governar a Palestina

20 Início da reconstrução do templo em Jerusalém por ordem de Herodes, o Grande

Os livros apócrifos
LIVROS HISTÓRICOS

1Esdras (3Esdras) c. 100 a.C.


Narra os mesmos dados históricos encontrados nos livros canónicos de Esdras, Neemias e
2Crónicas.

1Macabeus, c. 140 a.C.


Uma obra histórica que relata a rebelião patriota da família dos macabeus contra Antíoco Epifânio
e seus sucessores.

2Macabeus, c. 100 a.C.


Afirma ser a obra de certo Jason de Cirene e abrange parte do mesmo período de 1Macabeus,
com forte tom moralizante de oposição ao paganismo grego.

LENDAS RELIGIOSAS

Tobias, c. 150 a.C.


Um conto de piedade judaica que relata como Tobias (um judeu reto) se recuperou da cegueira.

Judite, c. 150 a.C. – c. 100 a.C.


Uma narrativa fictícia sobre uma viúva judia, bela e devota, chamada Judite, que salva sua
cidade do exército invasor de Nabucodonosor decapitando Holofernes, um general assírio.

Acréscimos a Ester, c. 115 a.C.


Passagens inseridas no texto de Ester na Septuaginta (tradução grega): o sono de Mordecai
(antes de Ester 1.1); uma carta do rei ordenando o extermínio de todos os judeus do reino
(depois de Ester 3.13); orações de Mordecai e Ester (depois de Ester 4); a audiência dramática

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de Ester com o rei Assuero (acrescenta 14 versículos a Ester 5); uma carta ao rei relatando a
morte de Hamã, louvando os judeus e permitindo que estes se defendam (depois de Ester 8.12);
a interpretação do sonho de Mordecai e um comentário final sobre o significado da festa de Purim
(depois do último capítulo de Ester).

A oração de Azarias e o cântico dos três jovens, c. 150 a.C. – c. 50 a.C.


Um oração eloquente, um relato de livramento miraculoso e um salmo de louvor (depois de
Daniel 3.23).

A história de Susana (Daniel e Susana), c. 150 a.C. – c. 50 a.C.


Uma narrativa de como Susana foi inocentada de falsas acusações de adultério através da
intervenção oportuna do jovem Daniel (nas versões antigas, inserida antes ou depois do texto
canónico de Daniel).

Bel e o Dragão, c. 150 a.C. – 50 a.C.


Duas lendas que visam ridicularizar a idolatria: 1) Ao espalhar cinzas no piso do templo, Daniel
prova que, na verdade, são os sacerdotes de Bel que estão consumindo as ofertas feitas a esse
deus; 2) Daniel destrói um dragão adorado na Babilónia ao alimentá-lo com uma estranha
mistura que faz o animal explodir. Daniel é jogado na cova dos leões, onde é alimentado pelo
profeta Habacuque, que foi transportado por anjos até à Babilónia, carregado pelos cabelos.

LITERATURA DE SABEDORIA

Sabedoria de Salomão (o livro da sabedoria), c. 50 a.C.


Apresenta a doutrina da imortalidade ao contrastar o destino do perverso com o do justo; um
longo elogio à sabedoria; uma narração da história de Israel no Egito e no deserto; uma
discussão sobre as origens e os males da idolatria.

Eclesiástico (sabedoria de Jesus, filho de Siraque), c. 180 a.C.


Um conjunto de aforismos ou ditados sapienciais semelhante ao livro de Provérbios.

Baruque (incluindo a carta de Jeremias), c. 150 a.C. – c. 60 a.C.


Uma obra que afirma ter sido escrita na Babilónia por Baruque, secretário de Jeremias; contém
orações e confissões de exilados judeus, com promessas de restauração.

A oração de Manassés, c. 175 a.C. – c. 25 a.C.


Afirma ser a oração penitencial de Manassés, o rei perverso de Judá (na Septuaginta, vem depois
de 2Cr 33.19).

LITERATURA APOCALÍPTICA

2Esdras (4Esdras), c. 100 d.C. – c. 250 d.C.


Trata do problema do mal; fala do império romano e da vinda do Messias; descreve como Esdras
reescreveu a literatura sagrada.

112

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