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528/2019-5
RELATÓRIO
II. Introdução
II.1. Deliberação que originou o trabalho
24. Em cumprimento ao Acórdão 2.485/2018-TCU-Plenário, relator Ministro Raimundo
Carreiro, realizou-se a auditoria no Ministério do Desenvolvimento Regional e na
Companhia Pernambucana de Saneamento, no período compreendido entre 29/4/2019 e
19/7/2019.
25. As razões que motivaram esta auditoria foram a importância socioeconômica do
empreendimento e a materialidade da obra.
II.2. Visão geral do objeto
26. O Sistema Adutor do Agreste de Pernambuco é constituído de um sistema produtor de
água localizado nas proximidades do Reservatório de Ipojuca, município de
Arcoverde/PE, ponto final do Ramal do Agreste e ponto de captação da adutora, a partir
do qual tem início um complexo de tubulações com mais de mil quilômetros de extensão e
que atenderá a região do Agreste do estado de Pernambuco.
27. O Ramal do Agreste, obra que está sendo implementada pela União, deriva do Eixo
Leste do Projeto de Integração do Rio São Francisco e suprirá as necessidades das duas
fases previstas para o sistema adutor, que é de 4m³/s em suas duas etapas.
28. As obras do Sistema Adutor do Agreste têm como objetivo abastecer 68 sedes
municipais, 80 localidades urbanas e comunidades rurais situadas dentro da faixa de 2,5
km de cada lado da adutora. Essa é a região do estado de Pernambuco mais carente em
termos de recursos hídricos e que os sistemas ali implantados sofrem diretamente com a
inconstância do ciclo pluviométrico da região, entrando em colapso com frequência.
29. O Sistema proverá água até os reservatórios existentes em cada localidade ou a serem
construídos pela Compesa ou, ainda, chafarizes a serem implantados também pela
Compesa. Todo sistema será construído e operado pela Compesa de forma direta ou
terceirizada.
30. As adutoras de água tratada, com extensão total de aproximadamente 1.329 km, já
considerando os trechos de aproximadamente 94 km onde serão assentadas tubulações em
paralelo, com diâmetros entre 200 mm e 1.200 mm, terão um trecho principal entre a
Estação de Tratamento de Água (ETA) em Arcoverde e a Rodovia BR-232, margeando a
via vicinal Ipojuca – Mimoso, continuando margeando a citada BR-232 até a cidade de
Gravatá. Um segundo trecho abastece a cidade de Arcoverde diretamente do Reservatório
Pulmão próximo à ETA.
31. O Sistema Adutor do Agreste Pernambucano atualmente se encontra em sua primeira
etapa de execução, com a implantação de 772 km de tubulações destinados ao
atendimento de 23 municípios do estado, para a qual foi celebrado o Termo de
Compromisso 239/2011. A segunda etapa, prevista para abastecer mais 45, totalizando 68
municípios, por meio da execução de 758 km adicionais, ainda não tem o respectivo termo
de compromisso em vista.
32. O primeiro plano de trabalho da Adutora do Agreste envolvia três metas, sendo as
metas 1 e 2 referentes à implantação de tubulações de 1200 mm entre Arcoverde e
Gravatá pelo valor total de R$ 1.351.508.000,00, e a meta 3 relativa à Supervisão e
Gerenciamento (R$ 33.847.223,00), totalizando o valor previsto no Termo de
Compromisso de R$ 1.385.355.223,00. Com base nessa estratégia executiva, a Compesa
realizou as licitações da primeira etapa de obras para quatro lotes, que contemplavam a
captação de água bruta na barragem do Ipojuca, município de Arcoverde, seguida de
tratamento e acumulação, bem como do assentamento de adutoras para atender dezessete
municípios, a saber:
a. Lote 1 – Arcoverde/Caruaru, por meio de estação elevatória de água bruta,
adutora e reservatório, módulo da estação de tratamento de água, reservatório de água
45. A partir do objetivo do trabalho e a fim de avaliar em que medida os recursos estão
sendo aplicados de acordo com a legislação pertinente, formularam-se as questões adiante indicadas:
a) Questão 1: A previsão orçamentária e a execução do termo de compromisso foram
adequadas?
b) Questão 2: A execução do contrato atende aos preceitos legais e está adequada,
especificamente quanto ao Lote 1?
c) Questão 3: As alterações do projeto foram adequadamente avaliadas e autorizadas pela
autoridade competente?
d) Questão 4: A execução do contrato de supervisão e gerenciamento (Meta 3) atende aos
preceitos legais e foi adequada?
e) Questão 5: O planejamento da execução do empreendimento tem priorizado a sua
funcionalidade, mesmo que de modo parcial? e
f) Questão 6: Há estudos técnicos elaborados e/ou em elaboração, pela Compesa ou
terceiros, sobre os custos de operação e manutenção dos sistemas da Adutora do Agreste?
46. Em função do tamanho do empreendimento e do número de lotes de obras (o Anexo B
apresenta a relação de contratos), a presente auditoria, questões 2 e 3, focou o contrato CT.OS
13.6.146 firmado com o Consórcio Adutor do Agreste (Lote 1). Tal seleção considerou os seguintes
critérios para cada um dos lotes: importância para a funcionalidade de todo o sistema, materialidade
e o número de aditivos e atrasos identificados. A presente fiscalização analisou o aditivo mais recente
do referido contrato de obras e as respectivas alterações, haja vista que aspectos de adequação dos
projetos de obras e dos orçamentos, e a regularidade nas contratações já haviam sido escopo das
fiscalizações realizadas em 2012 e seus respectivos processos. Por sua vez, a auditoria realizada em
2016 (fiscalis 146/2016) analisou os aditivos dos contratos dos quatro lotes principais. Contudo,
ressalta-se que as questões 1, 5 e 6 tratam de todo o empreendimento.
47. Adicionalmente, em função do encerramento do Contrato CT.OS 13.6.302, firmado
com o Consórcio Concremat/Engeconsult/Projetec/Techne, e da realização de licitação, Edital
Compesa 130/2018, para contratação de serviços de engenharia consultiva para o gerenciamento e
fiscalização das obras da 1ª etapa do sistema adutor do agreste, foi procedida a análise da nova
licitação.
II.4. Metodologia utilizada
48. Os trabalhos foram realizados em conformidade com as Normas de Auditoria do
Tribunal de Contas da União (Portaria-TCU 280, de 8 de dezembro de 2010, alterada pela Portaria-
TCU 168 de 30 de junho de 2011) e com observância aos Padrões de Auditoria de Conformidade
estabelecidos pelo TCU (Portaria-Segecex 26 de19 de outubro de 2009). Nenhuma restrição foi
imposta aos exames.
49. Durante o planejamento e a execução da auditoria, foram obtidas e analisadas as
informações relativas ao termo de compromisso, a contratos e licitações em andamento. Para
responder as questões de auditoria, foram utilizadas as técnicas de análise documental, confronto de
informações e documentos, reuniões e questionamentos a gestores e técnicos envolvidos, realizações
de cálculos e consulta à legislação, doutrina e jurisprudência do TCU sobre a matéria. Ainda, foi
realizada inspeção técnica in loco às obras do Lote 1 no dia 28/5/2019 para a verificação do seu
estado atual.
50. O relatório de auditoria foi elaborado com base nas informações obtidas na fase de
planejamento e de execução, a fim de apresentar o objetivo e as questões de auditoria (matriz de
planejamento), a metodologia utilizada, os achados de auditoria (matriz de achados), as conclusões e
a proposta de encaminhamento.
51. Os papéis de trabalho utilizados nesta fiscalização contemplam: contratos e aditivos,
planilhas orçamentárias, termos de referência, comunicações (ofícios), relatórios de acompanhamento
da obra, dentre outros.
II.5. Volume de recursos fiscalizados
60. Por tal motivo, a jurisprudência do TCU é no sentido de que a inserção, nos editais de
licitação, de expressões que possam levar à interpretação restritiva quanto à demonstração de
execução de serviços atrelada a determinada tipologia de obra deve ser evitada, salvo se
imprescindível à certeza da boa execução do objeto e desde que devidamente fundamentada no
processo licitatório. Nesse sentido, cita-se trecho do voto do Relator Ministro José Jorge que embasou
o Acórdão 1.502/2009-TCU-Plenário:
´9.1.4. em futuras licitações, aceite a comprovação de capacitação técnica proveniente de
obras diferentes daquela licitadas, passando a ter como critério a semelhança entre os serviços a
serem comprovados, e não as obras em que foram executados, por exemplo, abstendo-se de recusar
serviços semelhantes prestados em obras ferroviárias ou de vias urbanas quando da comprovação de
qualificação para executar obras rodoviárias;´
61. No presente caso, a restrição fica ainda mais patente se considerado que a
comprovação deveria ser feita em relação a uma tipologia de obra específica em único atestado,
referente a um só contrato.
62. Nesse viés, vale colocar que a jurisprudência do TCU considera irregular o
estabelecimento de número mínimo de atestados para fins de habilitação, a exemplo dos Acórdãos do
Plenário 1.557/2009 (Min. Substituto Augusto Sherman), 534/2011 (Min. Ubiratan Aguiar),
1.695/2011, 737/2012 e 1.052/2012, os três últimos de relatoria do Min. Substituto Marcos
Bemquerer, a não ser que a especificidade do objeto recomende esse requisito, situação em que os
motivos de fato e de direito deverão estar explicitados no processo licitatório.
63. Da consulta ao processo administrativo que embasou o referido edital, verifica-se que
a área técnica da Compesa estabeleceu no termo de referência os parâmetros e as diretrizes adotados
para fundamentar os requisitos de qualificação técnica, os termos da habilitação jurídica e de
capacidade econômica-financeira exigidos no ato convocatório (Evidência 3). Por sua vez, o
parecerista jurídico opinou pela aprovação das minutas do edital e do contrato, haja vista, entre
outros, entender que ´não foi solicitada documentação que extrapola aquela relativa à habilitação
jurídica, a qualificação técnica, qualificação econômico financeira, conforme definido no
Regulamento´ (Evidência 8, p. 4 e 6).
64. Em síntese, a estatal buscou justificar as cláusulas de qualificação técnica em razão
da ´complexidade técnica de execução que exige das licitantes apresentarem aprimorados
conhecimentos operacionais e profissionais para gerenciá-las, de forma a cumprir plenamente todas
as exigências deste Termo de Referência´ (Evidência 3, p. 34). Contudo, entende-se que a motivação
apresentada não é capaz de afastar a desarrazoabilidade de tal exigência, sobretudo pela proibição
de ser aceito somatório de atestados, pois a complexidade técnica de um empreendimento é atributo
presente em grande parte das obras públicas e não pode, por si, servir de justificativa para atos de
gestão antieconômicos ou em desacordo com a lei. Caso contrário, muitas obras poderiam ser
licitadas à revelia dos preceitos legais, considerando que, em grande parte, são de execução complexa
e de relevante importância socioeconômica.
65. Afora isso, tendo em vista as características do objeto do contrato, a capacidade de a
candidata cumprir o contrato pretendido poderia ser avaliada em relação aos serviços mais
relevantes técnica/significância econômica e não pertinente a uma tipologia especifica de obra. Como,
por exemplo, poderia ter sido exigido experiência na execução de serviços de supervisão e/ou
fiscalização de assentamento e montagem de tubulação com uma extensão mínima de 100 km e
diâmetro mínimo de 800mm, compreendendo pelo menos uma estação de bombeamento de potência
instalada superior a 200HP.
66. Com o intuito de esclarecer, cita-se o Acórdão 2.019/2013-TCU-Plenário (relator
Min. André de Carvalho), segundo o qual é irregular a ´exigência de que, para fins de comprovação
de capacidade técnico-operacional, todos os serviços estejam incluídos em um único atestado, quando
é suficiente que o quantitativo de cada serviço esteja atendido por algum atestado, ainda que em
obras distintas (…)´.
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R$
VALOR CONTRATO INICIAL
361.396.969,19
1º TERMO ADITIVO - R$ 5.861,57
VALOR SUPRIMIDO -R$ 20.132.024,88
VALOR ADITIVO R$ 20.126.163,78
4º TERMO ADITIVO R$ 0,00
VALOR SUPRIMIDO -R$ 70.730.963,83
VALOR ADITIVO R$ 70.730.963,83
8º TERMO ADITIVO - R$ 1.108.561,72
VALOR SUPRIMIDO -R$ 17.942.431,49
VALOR ADITIVO R$ 16.661.155,84
12º TERMO ADITIVO R$ 0,00
VALOR SUPRIMIDO -R$ 16.579.818,81
VALOR ADITIVO R$ 16.579.818,81
14º TERMO ADITIVO - R$ 45.321,90
VALOR SUPRIMIDO -R$ 5.927.569,77
VALOR ADITIVO R$ 5.867.915,93
17º TERMO ADITIVO - R$ 15.463,36
VALOR SUPRIMIDO -R$ 6.269.445,67
VALOR ADITIVO R$ 6.248.359,70
REFLEXO FINANCEIRO -R$ 1.367.876,56
-R$
Total suprimido -38,07%
137.582.254,45
R$
Total aditivo 37,69%
136.214.377,89
Fonte: Elaboração Própria
84. Tais modificações são expressivas e relevantes, especialmente devido ao substancial
número de itens de serviços pertinentes à revisão do Projeto Básico da Adutora de Água Tratada
quanto à forma de assentamento predominante das tubulações em zona rural que não fizeram parte da
contratação original, para os quais não houve o devido processo licitatório. Embora não se possa
afirmar propriamente que tenha ocorrido mudança do objeto principal da obra, as alterações
contratuais evidenciam deficiência ou omissão do projeto básico.
85. Em regra, devem ser observados os limites estabelecidos pelo § 1º do art. 65 da Lei
8.666/1993 para acréscimos e supressões de quantitativos. A jurisprudência do TCU entende que o
limite de 25% se refere individualmente aos acréscimos e às supressões, vedada a possibilidade de
compensação entre um e outro percentual (ressalvada a hipótese expressamente prevista no § 2º,
inciso II, do art. 65 da Lei 8.666/1993), vide Acórdãos 749/2010 (rel. Min. Augusto Nardes),
2.819/2011 (rel. Min. Walton Alencar Rodrigues), 2.530/2011 (rel. Min. José Jorge), 1.428/2003 (rel.
Min. Ubiratan Aguiar), 1.080/2008 (rel. Min. Augusto Nardes), 2.134/2006 (rel. Min. Marcos Vinicios
Vilaça), 1.192/2009 (rel. Min. Valmir Campelo) e 1.599/2010 (rel. Ministro-Substituto Marcos
Bemquerer), todos do Plenário do TCU.
86. No que tange aos limites de alterações contratuais fixados em lei, o TCU assevera
quanto à indispensável verificação por parte da administração pública do percentual aplicável,
separadamente, a cada grupo de itens passíveis de acréscimos e supressões de quantitativos, vedada a
compensação entre um e outro. A título de exemplificação, cabe reproduzir o comando inserido no
subitem 9.2 do Acórdão 2.819/2011-TCU-Plenário:
9.2. determinar ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes que, nas
futuras contratações celebradas a partir da data de publicação deste Acórdão no Diário Oficial da
União, passe a considerar, para efeito de observância dos limites de alterações contratuais previstos
no artigo 65 da Lei 8.666/1993, as reduções ou supressões de quantitativos de forma isolada, ou seja,
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o conjunto de reduções e o conjunto de acréscimos devem ser sempre calculados sobre o valor
original do contrato, aplicando-se a cada um desses conjuntos, individualmente e sem nenhum tipo de
compensação entre eles, os limites de alteração estabelecidos no dispositivo legal;
87. No Acórdão 2.059/2013-TCU-Plenário, relatado pelo Ministro Raimundo Carreiro,
de 7/8/2013, cuja publicação no Diário Oficial da União ocorreu em 10/10/2013, o qual tratou do
tema compensação entre acréscimos e supressões de serviços, o Tribunal expediu ciência ao MI:
9.2. dar ciência ao Ministério da Integração Nacional sobre a impropriedade ‘acréscimos
e supressões em percentual ao legalmente permitido’, identificada nos Contratos 45/2007-MI e
25/2008-MI, informando que os limites de aditamento estabelecidos no art. 65, inciso II, § 1º, da Lei
nº 8.666/93 devem considerar a vedação da compensação entre acréscimos e supressões de serviços,
consoante a jurisprudência deste Tribunal, consubstanciada, por exemplo, pelos Acórdãos nº
749/2010, 1.599/2010, 2.819/2011 e 2.530/2011, todos do Plenário;
88. Essa discussão surgiu novamente no Acórdão 2.681/2013-TCU-Plenário, quando o
Tribunal estendeu o mesmo entendimento endereçado ao DNIT ao Ministério da Integração Nacional
para aplicação ao caso do Projeto de Integração do Rio São Francisco. Segundo esta deliberação,
relatada pelo Ministro Raimundo Carreiro:
´5. Assim, considerando que os contratos do Projeto de Integração do Rio São Francisco
com as Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional (Pisf) tratados neste processo são anteriores à
determinação efetuada ao DNIT acima transcrita; que as alterações contratuais implementadas pelo
Ministério da Integração Nacional são decorrentes das novas diretrizes introduzidas pelos projetos
executivos, sendo, portanto, imprescindíveis à conclusão das obras; e que os objetos contratados
(licitados) foram mantidos em sua inteireza, isto é, o ministério buscou implementar as necessárias
alterações contratuais que não desnaturassem os objetos contratados, preservando os princípios
reitores da licitação, entendo que este Tribunal deve dar a este processo o mesmo desfecho que foi
dado ao caso do DNIT.
6. A importância socioeconômica das obras do Projeto de Integração do Rio São
Francisco com as Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional (Pisf) é inquestionável, assim como
os prejuízos que seriam causados por paralisações das obras. Esse empreendimento de infraestrutura
está inserido no âmbito da política nacional de recursos hídricos e tem por objetivo garantir o
abastecimento de água para populações dos estados de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e
Ceará mais vulneráveis às secas, abrangendo 381 municípios e beneficiando cerca de 12 milhões de
pessoas.
7. Nesse sentido, entendo que a alteração que ora proponho no item 9.2 do Acórdão nº
2059/2013-Plenário contribui para minimizar eventuais atrasos na execução das obras do Pisf, o que
acarretaria irreparáveis danos ao interesse público.´ (voto condutor do Acórdão 2.681/2013-TCU-
Plenário).
´9.2. dar a seguinte redação ao item 9.2 do Acórdão nº 2059/2013-TCU-Plenário:
‘9.2. dar ciência ao Ministério da Integração Nacional sobre a impropriedade ‘acréscimos
e supressões em percentual ao legalmente permitido’, identificada nos Contratos 45/2007-MI e
25/2008-MI, informando que, nas futuras contratações celebradas a partir da data de publicação
deste acórdão no Diário Oficial da União, os limites de aditamento estabelecidos no art. 65, inciso II,
§ 1º, da Lei nº 8.666/93 devem considerar a vedação da compensação entre acréscimos e supressões
de serviços, consoante a jurisprudência deste Tribunal, consubstanciada, por exemplo, pelos
Acórdãos nº 749/2010, 1.599/2010, 2.819/2011 e 2.530/2011, todos do Plenário;’ (Acórdão
2.681/2013-TCU-Plenário).
89. No Acórdão 1.536/2016-TCU-Plenário, rel. Ministro Bruno Dantas, extraem-se
valiosos fundamentos dos votos que compuseram aquela decisão, relevantes para a compreensão
sobre o posicionamento atual do Tribunal quanto à aplicabilidade da compensação entre acréscimos
e supressões em seus termos aditivos, os quais devem apresentar justificativas que demonstrem que as
alterações satisfazem os requisitos exigidos pelo referido Acórdão, em relação à empreendimentos de
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vedada pelo art. 57, §3º, da Lei 8.666/1993 – e, por consequência, com valor contratual igualmente
indeterminado, o que obviamente não se amolda ao atual ordenamento jurídico.
54. Não me parece consentâneo ao dever de licitar a que um contrato originalmente
celebrado por 24 meses para a supervisão da obra possa se alongar por cerca de oito anos e possuir
um incremento superior a 250%.
55. O prazo que foi inicialmente previsto era exigência uniforme a todas as licitantes, que
realizaram estimativas dos equipamentos e da mão de obra necessários para prestarem os serviços de
supervisão da obra. O relaxamento de tais parâmetros é, portanto, altamente anti-isonômico.
Dependendo da situação concreta, a prorrogação contratual pode significar a execução de um objeto
substancialmente distinto daquele que foi licitado.
56. Nesse sentido, por meio do Acórdão 292/2008-Plenário, o TCU entendeu que a
modificação substancial do prazo configura alteração do objeto licitado, já que a caracterização deste
último não se limita às especificações técnicas do produto desejado, mas também ao período de
prestação de serviços
113. Diante desse contexto, apesar de considerar a extrapolação do limite legal
irregularidade grave, ante as circunstâncias que cercavam os agentes responsáveis pela condução dos
processos administrativos que culminaram com assinatura dos mencionados termos aditivos, a equipe
de auditoria entende que os atos praticados não são, neste momento, passíveis de responsabilização.
Conclusão da equipe:
114. Constatou-se a celebração de diversos termos aditivos aos Contratos
CT.OS.13.6.146 (Lote 1) e CT.OS. 13.6.302 (Gerenciamento) em desacordo com o estabelecido no art.
65, caput e §§ 1º e 2º, da Lei 8.666, de 21 de junho de 1993, no art. 81, § 1º, da Lei 13.303/2016 e com
a jurisprudência do TCU.
115. Quanto ao Contrato CT.OS.13.6.146 (Lote 1), diante do exposto, considera-se
oportuno realizar oitiva da Compesa e do consórcio contratado, para que se manifestem sobre os
indícios de irregularidades aqui relatadas, sem prejuízo de destacar que da análise das manifestações
das oitivas propostas vislumbra-se a possibilidade de realizar audiências e/ou determinações.
116. Quanto ao Contrato CT.OS. 13.6.302, diante do exposto, apesar de considerar a
extrapolação do limite legal irregularidade grave, ante as circunstâncias que cercavam os agentes
responsáveis pela condução dos processos administrativos que culminaram com assinatura dos
mencionados termos aditivos, a equipe de auditoria entende que os atos praticados não são, neste
momento, passíveis de responsabilização.
III.3 Existência de atrasos em etapas que podem comprometer a funcionalidade do
empreendimento.
Tipificação do achado:
Classificação: Falhas e impropriedades (F/I)
Situação encontrada:
117. As obras da primeira etapa do Sistema Adutor do Agreste de Pernambuco
apresentam atrasos que podem comprometer a funcionalidade de todo o empreendimento. Esse
comprometimento da funcionalidade poderá decorrer de atraso na execução do Ramal do Agreste,
obra em execução direta pela União, e da falta de conformidade entre as transferências dos recursos
federais para a Compesa e o cronograma estabelecido no Termo de Compromisso 239/2011
(Evidência 12), em desacordo com o art. 4° da Lei 11.578, de 26/11/2007.
118. A implantação desse Sistema Adutor do Agreste foi planejada de modo a ser
abastecido pelo Ramal do Agreste, obra sob a responsabilidade da União que levará água do Projeto
de Integração do Rio São Francisco (Pisf) até o reservatório de Ipojuca em Arcoverde/PE, mas que
apresenta significativo atraso em sua implantação e será concluído apenas após a finalização da
primeira etapa da Adutora do Agreste, comprometendo parcela do abastecimento previsto, em afronta
ao princípio constitucional da eficiência, conforme caput do art. 37 da Constituição Federal de 1988.
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119. O próprio desenvolvimento das obras da primeira etapa da Adutora do Agreste, que
atenderá 28 municípios pernambucanos, em implantação há mais de seis anos, tem sido
negativamente impactado pelas irregularidades nas transferências de recursos federais, que não
atendem ao cronograma de desembolso estabelecido no Termo de Compromisso 239/2011, firmado
entre o Governo Federal e o Governo do Estado de Pernambuco, representado pela Compesa.
120. A segunda etapa do Sistema Adutor do Agreste, prevista para abastecer ou
complementar o abastecimento de água de mais 45 municípios, ainda não conta com o necessário
Termo de Compromisso devidamente negociado e assinado, fato complicador para o desenvolvimento
de todo o sistema.
121. O TCU tem apontado a possibilidade de comprometimento na funcionalidade da
Adutora do Agreste desde a realização do Fiscobras de 2012, inclusive com determinações quanto à
apresentação de plano de ação elaborado para garantir a funcionalidade do empreendimento,
conforme detalhado no Apêndice F deste relatório de auditoria, onde resta evidenciado que a
funcionalidade da Adutora do Agreste poderá ser prejudicada devido a descompassos entre a
conclusão da suas obras e a execução do Ramal do Agreste Pernambucano, sob a responsabilidade do
então Ministério da Integração Nacional (MI), bem como devido a irregularidades na efetivação do
cronograma de repasses de recursos financeiros do mesmo MI para a Compesa, estabelecido no
Termo de Compromisso 239/2011.
122. No que tange à presente auditoria do Fiscobras 2019, as obras executadas na
primeira etapa do Sistema Adutor do Agreste continuam com suas funcionalidades potencialmente
comprometidas devido a duas causas distintas, que são: i) o descompasso na execução do Ramal do
Agreste, a cargo do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), que transportará água bruta do
reservatório do Barro Branco, situado no Eixo Leste do Pisf, até o reservatório de Ipojuca no
município de Arcoverde; ii) a falta de conformidade nos desembolsos dos recursos previstos no Termo
de Compromisso aprovado por meio da Portaria-SIH/MI 239/2011, em desacordo com o art. 4° da Lei
11.578, de 26/11/2007, o que tem provocado atrasos e prejuízos no andamento das obras da Compesa.
Causa e Efeitos 1: Atraso na execução das obras do Ramal do Agreste pelo Governo
Federal
123. O Sistema Adutor do Agreste foi projetado para receber águas da transposição do
Rio São Francisco no reservatório de Ipojuca – Arcoverde/PE, ponto final do Ramal do Agreste,
adutora de 70,8 quilômetros e orçada em R$ 1,30 bilhões, que deriva do Eixo Leste do Pisf em
Sertânia/PE, a partir do qual terá início um complexo de tubulações com cerca de 1.329 km de
extensão, para atender cerca de dois milhões de habitantes na região do Agreste do estado de
Pernambuco, beneficiando 68 sedes municipais, 80 localidades urbanas e comunidades rurais, sendo
ele dividido em duas etapas, das quais apenas a primeira integra o Termo de Compromisso 239/2011
assinado entre a União e o Estado.
124. Entretanto esse ramal, fundamental para a operacionalização do Sistema Adutor do
Agreste Pernambucano, está com sua implantação atrasada e provavelmente só estará concluído após
a finalização da primeira etapa da Adutora do Agreste, o que infringe o princípio da eficiência, uma
vez que os investimentos na adutora tiveram que ser readequados, de modo a buscar alternativas de
abastecimento da adutora que não eram inicialmente previstas e porque a primeira etapa da adutora
ficará durante um período ainda não definido sem o seu abastecimento de água projetado.
125. O processo de licitação do Ramal do Agreste sofreu diversas interrupções ao longo
dos anos de 2014 e 2015, com revogação e suspensões sucessivas de processos de Regime
Diferenciado de Contratação - RDC por parte do Ministério da Integração Nacional, tendo as suas
obras sido iniciadas em fevereiro de 2018 com previsão de conclusão entre fevereiro e
junho/2021(Evidência 13, p. 56-57).
126. Quanto ao Sistema Adutor do Agreste, a sua primeira etapa conta com 772 km de
tubulações, destina-se ao atendimento de 23 municípios do Estado (TC 239/2011) e terá uma estação
de tratamento de água (ETA) em Arcoverde com vazão inicial de 2,0 m 3 /s (Evidência 16, p. 9).
20
127. A segunda etapa, com 758 km, prevê o abastecimento de mais 45 municípios,
totalizando 68 em Pernambuco, para a qual será executada a segunda parte da ETA de Arcoverde, de
modo a acrescentar 2,0 m 3 /s ao sistema. Essa segunda etapa ainda não conta com Termo de
Compromisso assinado, o que também é um entrave para o desenvolvimento e funcionalidade de todo
o sistema adutor.
128. Devido a sucessivos atrasos no início das obras do Ramal de Agreste pelo MI e
diante de prolongadas estiagens na região a Compesa desenvolveu alternativas para fornecerem
cerca de 1,55 m 3 /s de água à primeira fase do Sistema Adutor do Agreste, por meio do acréscimo das
seguintes obras (Evidência 13, p. 10, 11 e 56-57):
a) Ampliação do Sistema Adutor Prata/Pirangi (0,4 m³/s) e Implantação de Adutora de
Água a partir da Barragem de Serro Azul (0,5 m³/s), obras financiadas com fontes externas de
recursos (BID e BIRD);
b) Poços de Tupanatinga: captação no Aquífero Jatobá, em Ibimirim, através de três
baterias de poços, totalizando 20 poços tubulares, e condução das águas por meio de 61 km de
Adutora de Água Bruta (AAB) até as tubulações do Sistema Adutor do Agreste em Tupanatinga. Vazão
de 0,20 m³/s (Meta 5);
c) Adutora do Jatobá: com captação de água na bacia do Jatobá por meio de cinco poços
profundos e sua condução por meio de adutora de 74 km até a cidade de Arcoverde. Vazão 0,11 m³/s
(Meta 6); e
d) Adutora Moxotó: localizada nos municípios de Sertânia e Arcoverde, com adução de
água da barragem Moxotó até a ETA de Arcoverde, por meio de 67 km de AAB. Vazão 0,30 m 3 /s
(Meta 7).
129. A Adutora Moxotó/Arcoverde, em operação desde 2018, foi desenvolvida para
antecipar a funcionalidade da Adutora do Agreste, abastecendo os municípios de Arcoverde,
Pesqueira, Alagoinha, Sanharó, Belo Jardim, São Bento do Una e Tacaimbó. Além dessas três últimas
alternativas, foram incluídas pela Compesa com recursos de outras fontes a Adutora de Pirangí
(recursos BIRD) e a Adutora de Serro Azul (recursos BID). Assim, o sistema adutor conta com cinco
alternativas de uso adicionais de suprimento, que poderão ser utilizadas, a depender das condições
climáticas e dos preços de abastecimento, concomitantemente com o fornecimento do Ramal do
Agreste a ser implantado.
130. Com as alternativas de uso adicionais, a Compesa abastecerá a primeira etapa do
Sistema Adutor do Agreste com 1,51 m 3 /s, enquanto a necessidade total da primeira etapa é de 2,0
m3 /s, vazão prevista para a ETA de Arcoverde, a ser construída para tratar a água bruta proveniente
do Pisf pelo Ramal do Agreste. Assim, entre a finalização de implantação da primeira etapa da
Adutora do Agreste, ainda sem data definitiva, e o abastecimento proveniente do Rio São Francisco,
ocorrerá um déficit de 0,49 m 3 /s, que representa cerca de 25% da vazão total necessária à primeira
etapa.
131. Entretanto, devido à escassez de água no Agreste Pernambucano e ao atraso das
obras do Ramal do Agreste, tanto no Lote 1 como nos demais lotes da Adutora do Agreste, foram
priorizados os serviços de adução que estavam no ´caminho das águas´, e atualmente já há sete
municípios recebendo águas do Pisf através da Adutora do Moxotó, além de estar em funcionamento
quase 50% da extensão das tubulações da Adutora do Agreste que foram implantadas (Evidência 18,
p. 7).
132. Pelo exposto, as alternativas de uso, que visam à antecipação do funcionamento da
Adutora do Agreste, não substituem a concepção inicial do Sistema Adutor do Agreste a partir do
Ramal do Agreste, sendo esse ramal necessário, enquanto as demais alternativas de uso devem atuar
em caráter complementar, conferindo confiabilidade, flexibilidade e expansão do horizonte do projeto
aos 68 municípios e 80 localidades a serem beneficiadas com as obras das duas etapas do sistema.
133. As obras do Ramal do Agreste, a cargo do Ministério do Desenvolvimento Regional,
foram iniciadas em 2018 e estão, conforme afirmação do Senhor Rômulo Aurélio de Melo Souza,
21
Diretor Técnico de Engenharia – DTE da Compesa em reunião de 9/5/2019 (Evidência 51), com um
ritmo de desenvolvimento que a Compesa considera bom, o que possivelmente permitirá a sua
conclusão em fevereiro/2021, conforme as previsões atuais.
134. Sendo assim, até fevereiro de 2021 os trechos da primeira etapa da Adutora do
Agreste que forem concluídos não contarão com abastecimento de águas oriundas do Pisf, fato que
tem o impacto minorado pelas alternativas de uso desenvolvidas pela Compesa para o abastecimento
dessa primeira etapa do sistema, que têm vazões capazes de suprir 75% das necessidades.
135. Entretanto, a água proveniente do Rio São Francisco pelo Ramal do Agreste será
fundamental para o abastecimento da segunda etapa do Sistema Adutor do Agreste, que ainda não
conta com seu respectivo termo de compromisso assinado entre a União e o estado de Pernambuco,
uma vez que as alternativas de uso implementadas pela Compesa até o presente momento não têm
vazão suficiente para suprir a vazão total do sistema, projetada para 4,0 m 3 /s, sendo que 2,48 m 3 /s
serão para os municípios da primeira etapa e 1,52 m 3 /s para os municípios da segunda etapa.
136. Pelo exposto, constata-se que o atraso da implantação do Ramal do Agreste não
impactará substancialmente a funcionalidade da primeira etapa do Sistema Adutor do Agreste, porque
as alternativas de uso implementadas pela Compesa promoveram uma relativa independência da
primeira etapa em relação ao Ramal do Agreste mediante o abastecimento adicional de 1,51 m 3 /s,
mas será imprescindível para a operacionalização planejada do sistema adutor, principalmente
quando da implantação da sua segunda etapa.
137. Diante da situação encontrada, não há previsão de danos concretos devido ao
atraso das obras do Ramal do Agreste durante a implantação da primeira etapa do Sistema Adutor do
Agreste, que funcionará possivelmente até fevereiro de 2021 com águas das alternativas de uso
desenvolvidas, motivo pelo qual não há que se propor responsabilizações pelo fato.
138. Tenha-se ainda em mente, como supracitado, que a segunda etapa do Sistema
Adutor do Agreste, destinada ao abastecimento de mais 45 municípios, não conta até o presente com
termo de compromisso assinado, fato que já indica que haverá atraso na conclusão do Sistema Adutor
do Agreste, uma vez que, mesmo estando o Ramal do Agreste fornecendo água suficiente a partir de
2021, a segunda etapa não estará concluída.
139. A segunda etapa da Adutora do Agreste, após a assinatura do seu termo de
compromisso, precisará ter seus oito possíveis lotes licitados, o que exige cerca de seis meses, e
depois iniciará as execuções de suas obras, que exigirão cerca de 36 meses, totalizando 42 meses, no
mínimo. Assim, a título de exemplo, caso o termo de compromisso da segunda etapa viesse a ser
assinado em setembro/2019, a operacionalização dessa segunda etapa ocorreria apenas após
março/2023, o que também é um entrave para o desenvolvimento e funcionalidade de todo o sistema
adutor (Evidência 14, p. 44).
Causa e Efeitos 2: Falta de conformidade entre os desembolsos de recursos do Termo de
Compromisso 239/2011 e as necessidades de execução das obras
140. As obras da primeira etapa do sistema adutor, inserida no Plano de Trabalho do TC
239/2011, vigente e pelo valor total de R$ 1.385.355.223,00, dos quais R$ 1.246.736.000,00 são
recursos federais e os R$ 138.592.223,00 restante são contrapartida do estado de Pernambuco
(Evidência 12), foram iniciadas em junho/2013, enquanto os seus desenvolvimentos tiveram
significativos atrasos decorrentes de falta de conformidade entre os desembolsos de recursos do
Termo de Compromisso 239/2011, por parte do Ministério da Integração Nacional, e o plano de
trabalho, conforme restou explicitado no Relatório do TC 014.231/2016-6, Fiscobras 2016, que
culminou no Acórdão 2.217/2016-TCU-Plenário, Ministro Relator André de Carvalho, de 27/8/2016.
141. Nos anos de 2018 e 2019 a falta de conformidade nos repasses por parte do MI,
sucedido em 2019 pelo Ministério do Desenvolvimento Regional continuaram, a despeito das Cartas
CT/GAB Nº 008/2017, 072/2017 e 493/2017, datadas, respectivamente, de 9/1/2017, 7/3/2017 e
22/12/2017 (Evidência 18, p. 2), que a Compesa remeteu ao Ministério da Integração-MI com
22
24
25
162. Uma vez que o conhecimento de custos de operação e manutenção apresentados pela
Compesa para toda a Adutora do Agreste se limitam a uma estimativa desatualizada de pessoal e a um
resumo do custos de gastos com energia da adutora do Moxotó e de três estações elevatórias de água
bruta, sem explicitar custos para estação de tratamento e para estações elevatórias de águas tratadas, por
exemplo, não há que se considerar que a companhia dispõe atualmente de estudos capazes de informar ou
dar subsídios a avaliações gerenciais quanto às despesas de operacionalização e de manutenção do
sistema adutor em implantação.
163. Quanto aos estudos comparativos de custos entre os abastecimentos da Adutora do
Agreste com água oriunda do Ramal do Agreste e com águas oriundas das demais alternativas
disponíveis, a Compesa alega que os sistemas alternativos de uso visam inicialmente antecipar o
funcionamento da Adutora do Agreste e não substituem a concepção inicial a partir do Ramal do Agreste.
Ou seja, as obras do Ramal do Agreste e as demais alternativas de uso se complementam conferindo
confiabilidade, flexibilidade e expansão do horizonte do projeto aos 68 Municípios e 80 localidades a
serem beneficiadas com as obras da Adutora do Agreste.
164. Em resposta ao Ofício 1/2019-TCU/SeinfraCOM/Fiscalis103/2019 (Evidência 6, p. 17),
a Compesa informou que diante da entrada em operação parcial da 1º etapa da Adutora do Agreste,
utilizando-se a Adutora do Moxotó, assim como a construção dos demais sistemas adutores a exemplo dos
Poços de Tupanatinga, Adutora do Serro Azul e Adutora do Alto Capibaribe, que serão integrados à
Adutora do Agreste, fez-se necessária a elaboração de uma modelagem capaz de otimizar a oferta de água
na região do Agreste, definindo regras operacionais a serem seguidas com ênfase para a disponibilidade
de água dos diversos mananciais, os menores custos de operação e a eficiência energética.
165. Diante disto, a Compesa solicitou ao Banco Interamericano de Desenvolvimento - BID,
recursos para a contratação de estudos e um Sistema de Suporte à Decisão para o projeto de integração
de múltiplas fontes hídricas na região do Agreste Pernambucano, de modo a dar maior confiabilidade
operacional aos sistemas e garantir com isso uma prestação de serviço menos vulnerável às paralisações
ou à redução de vazão em períodos críticos de estiagem.
166. Pelo o que a Compesa apresenta, é possível que os estudos a serem elaborados
contemplem as avalições comparativas de custos entre os abastecimentos da Adutora do Agreste com água
oriunda do Ramal do Agreste e com águas oriundas das demais alternativas disponíveis.
167. Ainda segundo a CT/COMPESA DTE/GGR N° 395-2019 (Evidência 6, p. 17), o estudo
foi incluído no Programa de Saneamento Ambiental da Bacia do Rio Ipojuca, financiado pelo BID,
enquanto está sendo concluído o termo de referência e orçamento para abertura do processo de
contratação.
168. É sabido, adicionalmente, que a Fundação de Apoio ao Desenvolvimento da
Universidade Federal de Pernambuco – Fade até o próximo dia 25/7/2019 apresentará a sua proposta
Técnica e Financeira para a elaboração dos estudos a serem financiados pelo BID e, caso seja aprovada
pela Compesa, os trabalhos serão possivelmente iniciados no próximo mês de agosto.
169. Nesse passo, a ausência de estudos técnicos comparativos entre os custos de suprimento
de água pela Compesa para a Adutora do Agreste apesar de confirmada, possui perspectivas de
elaboração nos próximos meses.
170. Diante do exposto será proposto determinação à Compesa que apresente plano de
ação que contemple o aproveitamento otimizado das estruturas alternativas construídas e em
construção, definindo regras operacionais a serem seguidas com ênfase para a disponibilidade de água
dos diversos mananciais, os menores custos de operação e a eficiência energética, de modo a mitigar
qualquer eventual ineficiência causada pelo atraso do Ramal do Agreste, bem como as providências a
serem adotadas para viabilizar a execução das obras frente ao déficit hoje existente e aos atrasos de
repasses.
V. Conclusão
171. Trata-se de auditoria realizada no Ministério de Desenvolvimento Regional (MDR) e
na Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa), no período compreendido entre 29/4/2019
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e 19/7/2019, que teve por objetivo fiscalizar as obras de implantação da Adutora do Agreste em
Pernambuco e decorre do Acórdão 2.485/2018-TCU-Plenário.
172. A partir do objetivo do trabalho e a fim de avaliar em que medida os recursos estão
sendo aplicados de acordo com a legislação pertinente, conforme mencionado no item II.3, os
procedimentos foram definidos para responder a seis questões de auditoria. A partir da execução dos
procedimentos, foram registrados três achados de auditoria, dois relacionados as questões de
auditoria e outro que não decorreu das referidas questões.
173. A partir da aplicação dos procedimentos provenientes de cada questão de auditoria,
foram constatados os achados de acréscimos e supressões em percentual superior ao legalmente
permitido (item III.2, questões 2 e 3) e existência de atrasos em etapas que podem comprometer a
funcionalidade do empreendimento (item III.3, questões 1 e 5). No tocante às demais questões de
auditoria, dentro do escopo abrangido pela fiscalização, não resultaram em achados. Assim, o achado
de restrição ao caráter competitivo do certame (item III.1) não decorreu das questões de auditoria.
174. Os indícios de restrição ao caráter competitivo do certame com violação à
legislação e à jurisprudência do TCU estão caracterizados pela constatação no ato convocatório do
Pregão Eletrônico 130/2018 (Processo Compesa 7743/2018 – Licitação Banco do Brasil nº 744312)
(Evidência 1), de exigências editalícias que tem o potencial de frustrar o caráter isonômico do
certame e a busca da proposta mais vantajosa, incompatíveis com o disposto no art. 37, inciso XXI da
Constituição Federal de 1988, e no art. 3º, caput e §1º, inciso I, art. 56, § 1º, da Lei de Licitações e
Contratos, e com o previsto no § 1º do art. 70 da Lei 13.303/2016. (item III.1).
175. O impacto na funcionalidade inicial do empreendimento resta evidenciada pelo fato
de que existe atraso na execução do Ramal do Agreste, obra em execução direta pela União, e pela
falta de conformidade entre as transferências dos recursos federais para a Compesa e o cronograma
estabelecido no Termo de Compromisso 239/2011 (Evidência 12), em desacordo com o art. 4° da Lei
11.578, de 26/11/2007 (item III.3).
176. Por fim, quanto aos acréscimos em percentual superior ao legalmente permitido, a
irregularidade ficou caracterizada pela constatação de que a celebração de termos aditivos aos
Contratos CT.OS.13.6.146 (Lote 1) e CT.OS. 13.6.302 (gerenciamento) apresentaram percentuais de
38% e 98%, respectivamente, em desacordo com o estabelecido no art. 65, caput e §§ 1º e 2º, da Lei
8.666, de 21 de junho de 1993, e com a jurisprudência do TCU (item III.2).
177. Para os achados III.1 a III.3 deste relatório de fiscalização, alvitra-se a realização
de oitivas dos órgãos/entidades. Por fim, em fase processual posterior, confirmando-se os presentes
indícios de irregularidades, vislumbra-se a possibilidade de realizar audiências e/ou determinações.
178. Nesse diapasão, considerando o atual momento processual de propostas
preliminares, quando da análise de mérito dos presentes autos deve-se considerar as propostas de:
178.1. Determinar à Compesa, com fundamento no art. 250, inciso II, do Regimento
Interno do TCU, que apresente plano de ação que contemple o aproveitamento otimizado das
estruturas alternativas construídas e em construção, definindo regras operacionais a serem seguidas
com ênfase para a disponibilidade de água dos diversos mananciais, os menores custos de operação e a
eficiência energética, de modo a mitigar qualquer eventual ineficiência causada pelo atraso do Ramal
do Agreste, bem como as providências a serem adotadas para viabilizar a execução das obras frente
ao déficit hoje existente e aos atrasos de repasses (item III.3); e
178.2. Dar ciência à Compesa, nos termos do art. 7º da Resolução-TCU 265/2014, que a
prorrogação de contratos de supervisão de obras que extrapolem os limites estabelecidos nos §§ 1º e
2º do art. 65 da Lei 8.666/1993, sem que haja a devida análise da vantagem da prorrogação em
contraste com a possibilidade de nova contratação, constitui afronta ao citado normativo e à
jurisprudência do TCU (Decisão 90/2001-TCU-1ª Câmara e Acórdão 508/2018-TCU-Plenário) (item
III.2).
179. Cabe ainda registrar que as impropriedades relatadas no presente relatório não têm
impacto nas contas Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR).
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É o Relatório.
28
VOTO
Ante o exposto, pugno pela prolação do Acórdão ora submetido a este Colegiado.
1. Processo nº TC 008.528/2019-5.
2. Grupo I – Classe V – Assunto: Auditoria.
3. Interessado: Congresso Nacional.
4. Órgão/Entidade: Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR); Companhia Pernambucana de
Saneamento (Compesa).
5. Relator: Ministro-Substituto André Luís de Carvalho.
6. Representante do Ministério Público: não atuou.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Infraestrutura Hídrica, de Comunicações e de Mineração
(SeinfraCOM).
8. Representação legal: não há.
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de auditoria de conformidade realizada no
âmbito do Fiscobras-2019, por força do Acórdão 2.485/2018-TCU-Plenário, sobre o Ministério do
Desenvolvimento Regional (MDR) e a Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa) com o
intuito de verificar a regularidade da construção da 1ª etapa do Sistema Adutor do Agreste
Pernambucano (Adutora do Agreste);
ACORDAM os ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão do
Plenário, diante das razões expostas pelo Relator, em:
9.1. determinar, nos termos do art. 250, IV, do RITCU, que a unidade técnica promova a
audiência dos correspondentes gestores, além dos demais responsáveis, para, no prazo de 15 (quinze)
dias contados da ciência deste Acórdão, se manifestarem sobre a subsistência das indevidas exigências
no edital tendentes a frustrar o caráter isonômico do certame e a busca da proposta mais vantajosa para
a administração pública, além do comprometimento do caráter competitivo, no âmbito do Pregão
Eletrônico 130/2018 (Processo Compesa 7743/2018 – Licitação Banco do Brasil nº 744312) destinado
à complementação da contratação sob demanda de serviços de engenharia consultiva para o
gerenciamento, a fiscalização e a assessoria técnica nas obras da 1ª etapa do sistema adutor do Agreste
em substituição ao Contrato CT.OS. 13.6.302, a partir, por exemplo, da presença de cláusulas
incompatíveis (itens 10.5 e 28 do Termo de Referência), com ofensa, assim, ao art. 37, XXI, e 173,
§ 1º, da Constituição de 1988 e aos arts. 3º, § 1º, I, e 56, § 1º, da Lei 8.666, de 1993, além do art. 70,
§ 1º, da Lei nº 13.303, de 2016, devendo os aludidos responsáveis evidenciarem, entre outros
elementos de convicção, a necessária demonstração sobre a obtenção da proposta mais vantajosa para
a administração pública a partir da efetiva evidenciação da economicidade na proposta vencedora do
Pregão Eletrônico 130/2018 e nos subsequentes contratos em face do cotejo com as demais propostas
ofertadas no aludido certame e com os correspondentes preços de mercado;
9.2. determinar, nos termos do art. 250, V, do RITCU, que a unidade técnica adote as
seguintes medidas:
9.2.1. promova a oitiva da Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa), do
Consórcio Adutor do Agreste e do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) para, no prazo de
até 15 (quinze) dias contados da ciência deste Acórdão, se manifestarem sobre as alterações
contratuais em patamar superior aos limites permitidos pelo art. 65 da Lei nº 8.666, de 1993, e sem a
observância das medidas anunciadas pelo Acórdão 1.536/2016-TCU-Plenário, sob a relatoria do
Ministro Bruno Dantas, no bojo do Contrato CT.OS.13.6.146 (Lote 1) ante a elaboração de projeto
executivo com a alteração das principais soluções adotadas no projeto licitado, em desconformidade
com os arts. 3º e 65, §§ 1º e 2º, da Lei nº 8.666, de 1993, e no art. 81, § 1º, da Lei nº 13.303, de 2016;
9.2.2. promova a oitiva da Secretaria de Recursos Hídricos e Energéticos do Estado de
Pernambuco e da Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa), além do Ministério do
Desenvolvimento Regional (MDR), para, no prazo de até 15 (quinze) dias contados da ciência deste
Fui presente:
(Assinado Eletronicamente)
CRISTINA MACHADO DA COSTA E SILVA
Procuradora-Geral