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2.I. Instrumentos de análise: A teoria do comércio


Internacional e a União Europeia

Sumário:

Argumentos principais a favor da liberdade comercial

O efeito da introdução duma tarifa numa nação


pequena.

O impacto da introdução duma tarifa num país


parceiro.

Tipificação das barreiras comerciais mais comuns e a


sua aplicação na União europeia.

Críticas à Teoria Tradicional do Comércio


Internacional

Introdução
O objectivo deste capítulo consiste em introduzir os conceitos básicos utilizados na
Teoria do Comércio Internacional para explicar as vantagens e/ou inconvenientes
derivadas dum processo de integração económica assim como as leis que regem a sua
dinâmica. Introduzir-se-ão primeiro os argumentos que associam o comércio livre ao
aumento da prosperidade. Descrevem-se em seguida os obstáculos mais comuns
impostos à referida liberdade comercial e as razões que explicam a sua introdução.
I.1. Argumentos a favor da liberdade comercial
As correntes que defendem a liberdade de comércio internacional resultam do trabalho
dos economistas clássicos Adam Smith (teoria das vantagens absolutas) e David
Ricardo (teoria das vantagens comparativas). Estes autores demonstram que as trocas
comerciais entre países podem ser mutuamente benéficas (um jogo de vantagem mútua)
devido à especialização da produção.
Teoria das vantagens absolutas: Admitindo duas nações, se um país é mais eficiente na
produção dum bem e menos eficiente na produção doutro então esse país deveria
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especializar-se na produção do bem em que possui uma vantagem absoluta. Parte do


output desse país pode desse modo ser comercializada em troca do bem em que o país
em causa tem uma desvantagem absoluta. Deste modo os recursos tendem a ser
afectados do modo mais eficiente possível. Por exemplo, de acordo com este princípio,
no comércio entre o Equador e a Argentina o primeiro devia especializar-se na
exportação de bananas e o segundo na exportação de carne.
Teoria das vantagens comparativas: Esta teoria estende a teoria anterior, considerando
que mesmo se um país é menos eficiente na produção dos dois bens (nota: o
instrumento de análise utilizado, regra geral, considera dois países e dois bens) existe
uma base para um benefício mútuo resultante da troca comercial entre os dois países.
De acordo com o princípio das vantagens comparativas, mesmo se um país tivesse uma
desvantagem absoluta na produção de ambos os bens, deveria especializar-se na
produção e exportação do bem em que a desvantagem absoluta é menor e importar o
bem em que a desvantagem absoluta é maior. O país com uma vantagem absoluta na
produção de ambos os bens deveria especializar-se na produção e exportação do produto
em que a sua vantagem absoluta é maior e importar o produto para o qual a sua
vantagem comparativa é menor. Assim, por exemplo, se os USA têm uma vantagem
absoluta na produção de computadores e de vestuário em relação à UE, mas a sua
vantagem absoluta é maior para os computadores que para o vestuário, deveria
especializar-se na produção de computadores e exportá-los para a Europa em troca de
vestuário.
A Teoria das Vantagens Comparativas continua a ser um instrumento central para
explicar os benefícios da liberdade de comércio internacional. Devido a isso avança-se
um exemplo de como este princípio funciona na prática. Ricardo ancorou a sua teoria no
pressuposto de que o preço de cada produto depende essencialmente do montante de
factor trabalho utilizado na sua produção. Esta teoria requer:
* que o trabalho é o único factor utilizado no fabrico de produtos, ou que o rácio entre o
trabalho e os outros factores de produção(i.e., capital e terra) é constante;
* o trabalho é homogéneo e não existem diferenças nas habilidades entre os agentes
económicos.
Para ilustrar esta teoria admita a existência de dois parceiros nas trocas comerciais:
USA e UE e dois produtos: vinho e trigo. Assume-se que com uma hora de trabalho nos
USA se podem produzir 6 unidades (toneladas) de trigo, ou 4 unidades (litros) de vinho.
Na UE assume-se que uma hora de trabalho pode originar 1 unidade de trigo ou 2
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unidades de vinho (as diferenças de qualidade são ignoradas neste modelo


extremamente simplificado). Destes dados conclui-se que os USA têm uma vantagem
absoluta na produção de ambos os bens, mas esta vantagem é superior na produção de
trigo. A UE tem uma desvantagem absoluta na produção de ambos os bens mas a
desvantagem é menos pronunciada na produção de vinho (ver Q I.1):
QI.1: Exemplificação do mecanismo das vantagens comparativas
USA UE
Trigo (Toneladas produzidas por hora) 6 1
Vinho (litros produzidos por hora) 4 2

Nos USA, em autarcia, 6 unidades de trigo podem ser trocadas por 4 unidades de vinho.
Se, via comércio internacional, mais do 4 unidades de vinho podem ser obtidas com 6
unidades de trigo, torna-se vantajoso para os USA especializar-se na produção de trigo e
importar vinho. De modo análogo, na UE 2 unidades de vinho podem ser trocadas por 1
unidade de trigo. Se mais trigo pudesse ser obtido conviria à UE especializar-se na
produção de vinho e importar trigo.
Admita que, dando-se a abertura das trocas comerciais entre os USA e a EU, é possível
trocar 6 unidades de vinho por 6 unidades de trigo. A UE ganharia com a abertura ao
comércio internacional visto que em autarcia para obter 6 unidades de trigo tinha que
utilizar recursos (horas de trabalho) equivalentes à produção de 12 unidades de vinho
enquanto agora bastam-lhe 6 unidades de vinho (i.e., poupa 3 horas de trabalho). Os
USA também ganham, visto que em autarcia 6 unidades de trigo podiam ser trocadas só
por 4 unidades de vinho e agora podem obter 6 unidades de vinho (poupando 2 unidades
de vinho, ou seja poupando 30 mn de trabalho). Deste modo, com a abertura das trocas
comerciais ambos os espaços económicos obtêm a mesma quantidade de bens utilizando
menos recursos, aumentando deste modo a capacidade de produção em ambos. Em
síntese, a abertura das trocas comerciais permite, via especialização, aumentar a
eficiência produtiva.
O Teorema de Heckscher-Olin: A teoria das vantagens comparativas explica as
vantagens do comércio internacional na base da especialização de cada país de acordo
com as vantagens comparativas, mas não analisa o que determina as vantagens
comparativas em cada país considerado. O teorema de H-O tenta explicar o padrão das
vantagens comparativas entre países, i.e., o que faz um país ter uma vantagem
comparativa na produção de determinado bem. De acordo com esta perspectiva, as
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trocas comerciais podem ser explicadas pela intensidade relativa de recursos existentes
em cada país. Considerando novamente o caso de dois países (A e B), dois produtos (x e
y) e dois factores (trabalho e capital), o país A é considerado ter uma relativa
abundância num dado factor relativamente ao país B se o rácio do montante total do
respectivo factor (por exemplo trabalho/capital), é superior em A que em B e se o custo
relativo do trabalho relativamente ao capital é menor em A que em B. Se a produção do
bem x requer mais trabalho que capital que a produção do bem y então o produto x é
dito ser trabalho intensivo. De acordo com o teorema de H-O, cada país exportará o bem
cuja produção é intensiva no factor em que o país é relativamente abundante. No caso
analisado o país A especializar-se-ia na produção/especialização do produto x e o país B
especializar-se-ia na produção/especialização do produto y.
Por exemplo, se a China tem uma abundância em mão de obra barata e a produção têxtil
é trabalho-intensiva, a China tenderá a exportar têxtil. Em contraste, se os USA são
abundantes em capital (ou em mão de obra altamente qualificada: capital humano) e os
computadores são intensivos em capital, a China especializar-se-á na indùstria têxtil e
importará computadores, enquanto os USA se especializarão em computadores e
importarão têxteis.
Este teorema tem algumas limitações, em particular: apesar de explicar adequadamente
os padrões comerciais entre países com graus de desenvolvimento muito desiguais
torna-se pouco operacional quando se trata de explicar os fluxos comerciais entre países
com graus de desenvolvimento similares (como é o caso de parte dos membros da UE).
Acrescente-se que o teorema em causa implicitamente pressupõe uma tendência para
uma equalização das remunerações dos factores a nível internacional devido ao aumento
da especialização/trocas comerciais entre países (quanto mais um país se especializada
num bem intensivo num dado factor maior tende a ser a procura desse factor e
consequentemente maior é a tendência para o aumento da remuneração do mesmo).
Comércio Intra-Ramo diferenciação da produção: Uma larga percentagem (70-80% em
muitos casos) do comércio entre países da UE consiste na exportação/importação do
mesmo produto ou grupo de produtos. Por exemplo, a Itália exporta Fiat e importa
BMW da RFA e Renault da França. Este padrão de comércio é designado por comércio
intra-ramo e corresponde a produtos substitutos mas ligeiramente diferentes entre eles.
Este tipo de diferenciação do produto significa que uma firma ou planta se pode
especializar num número limitado de variedades dum dado produto aproveitando
trabalho e máquinas mais especializadas, etc. Outras variedades do produto podem ser
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importadas. Como resultado os consumidores podem ter uma maior variedade de


produtos disponíveis a preços mais baixos. Como foi referido os produtos são
diferenciados mas similares e consequentemente substitutos.
Economias de Escala Estáticas: As economias de escala estáticas ocorrem quando um
incremento na utilização de inputs resulta num mais que proporcional aumento no
output. Em outros termos, os custos de produção unitários decrescem quando a escala
de produção aumenta. Esta situação pode resultar da utilização de maquinaria mais
especializada ou do aumento da especialização do factor trabalho. O aumento do
comércio internacional permite precisamente que as firmas explorem este tipo de
economias de escala.
Economias de Escala Dinâmicas: Associadas ao processo de aprendizagem. Este tipo de
economias é induzido pelo facto duma firma tender a diminuir os custos unitários de
produção quanto maior for a sua produção acumulada (i.e., a sua experiência na
especialização de produção). O processo de diferenciação do produto e comércio intra-
ramo permitem capturar este tipo de economias.
I. 2. Barreiras Aduaneiras
Uma barreira aduaneira (tarifa) sobre a importação consiste na imposição duma taxa ou
dum direito aduaneiro sobre um artigo quando importado. As barreiras aduaneiras
podem ser ‘ad valorem’, específicas ou compostas. Uma barreira aduaneira ad valorem
implica um aumento em % no preço do produto importado. Se, por exemplo, p é o preço
dum bem antes da imposição da barreira aduaneira, quando uma barreira aduaneira de t
é aplicada o novo preço passa a ser (1+t)p. Este tipo de barreiras aduaneiras é o mais
utilizado pela UE. Uma barreira aduaneira específica (utilizada muito no caso da
Política Agrícola Comum-PAC) consiste na imposição dum adicional sobre o preço de
entrada do produto no país. Por exemplo, uma barreira aduaneira específica de €5 sobre
bicicletas importadas a €100 implica um preço final de €105 para o consumidor. Uma
taxa composta é um misto das outras duas. Por exemplo, com uma tarifa de ad valorem
de 10% e uma tarifa específica de €5, o preço da bicicleta importada atingiria o valor de
€115.
Efeitos Económicos da Introdução duma Barreira Aduaneira numa ‘nação
pequena’
Consideraremos o caso duma ‘nação pequena’ por ser esse o caso que se aplica a
Portugal. Para analisar os efeitos económicos da imposição duma tarifa nas importações
é conveniente definir algumas hipóteses simplificadoras. A análise que consideramos
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corresponde a um equilíbrio parcial, em que se considera exclusivamente o mercado do


bem sobre o qual a tarifa é imposta, ignorando as implicações para os outros sectores da
economia ou para o mercado dos factores. Assume-se que não existem stocks do
produto e os custos de transporte e possíveis externalidades não são considerados.
Por simplicidade, a discussão neste ponto corresponde somente ao caso da tarifa ad
valorem, i.e., quando a tarifa é aplicada o preço tornar-se-á (1+t)p. Assume-se que
estamos perante um ‘país pequeno’: deste modo, qualquer alteração na curva da procura
e/ou da oferta para o produto em causa nesse país não terá qualquer impacto nem nos
termos de troca internacionais nem no nível de preço mundial para o referido produto.
As curvas da procura e da oferta (assumidas lineares) dum país para o bem em questão
são representadas no gráf..I.1. Antes da introdução da barreira aduaneira, o preço do
produto no mercado interno é assumido como igual ao preço mundial (Pw). A este
preço o país produz Qs e a sua procura é de Qd. Deste modo o país importa o
equivalente ao excesso da procura do produto, i.e., Qd-Qs.
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Gráf. I.1. Oferta e Procura dum bem num dado país pequeno e potencialmente sujeito ao
comércio internacional

Pd
a c d
b
Pw
D

Qs Q’s Q’d Qd

Com a introdução da tarifa t o preço interno (doméstico) para o produto vai aumentar
para (1+t)Pw, ou Pd no diagrama. Assumindo estarmos perante uma ‘nação pequena’, o
preço mundial vai manter-se igual a Pw. O novo preço interno vai ser Pd. A introdução
da tarifa aduaneira provoca os seguintes efeitos na procura, oferta e comércio externo:
• A quantidade procurada diminui de Qd para Q’d.
• A quantidade oferecida aumenta de Qs para Q’s.
• A quantidade importada cai de (Qd-Qs) para (Q’d-Q’s).
A barreira aduaneira implica adicionalmente os seguintes efeitos ‘financeiros’:
* A despesa dos consumidores no produto muda de Qd . Pw antes da introdução da
tarifa para Q’d . Pd após introdução da tarifa.
* O rendimento do produtor aumenta de Qs Pw antes da introdução da tarifa para Q’s .
Pd após a introdução da tarifa.
* A balança comercial (neste caso o montante pago em importações) melhorará de (Qs-
Qd).Pw para (Q’s – Q’d). Pw.
A introdução da barreira aduaneira redistribui o bem estar entre os três principais grupos
da sociedade: produtores, consumidores e contribuintes. Para se ter uma ideia destes
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efeitos é necessário introduzir dois conceitos prévios: o excedente/renda do consumidor


e o excedente/renda do produtor.
Excedente do consumidor: definido como a diferença entre o preço que um consumidor
está preparado para pagar por uma certa quantidade dum produto e o preço que
efectivamente paga pela referida quantidade do produto. Este conceito pode ser aplicado
a um consumidor individual ou a uma curva da procura agregada num mercado
particular. Como se verifica no gráf. I. 2. com uma curva da procura D e um preço AO,
o excedente do consumidor é indicado pelo triângulo ABC

Gráf. I.2: O excedente do Consumidor

C
A

O Q

Excedente do produtor : diferença entre o rendimento total e o custo total do produtor e


pode ser considerado como os lucros do produtor. Ignorando os custos fixos, o custo
total de produzir uma certa quantidade dum produto é dada pela área abaixa da curva da
oferta (que coincide com a curva de custo marginal). O rendimento do produtor é dado
pelo preço recebido pelo produtor multiplicado pela quantidade produzida. No gráf.
I..3., com a curva oferta S e o preço OF o rendimento do produtor é igual a OFGQ e o
custo total corresponde a OHGQ. A renda/excedente do produtor é indicado pelo
triângulo HFG.
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Gráf. I.3.: O excedente do Produtor

F
G

O Q

A introdução da tarifa vai alterar os excedentes do consumidor e do produtor e o


rendimento dos contribuintes. A barreira aduaneira implica um aumento do preço
recebido pelos produtores traduzindo-se num aumento do excedente do produtor em a
(ver gráf. I..1.). Os consumidores são obrigados a pagar um preço mais elevado pelo
produto, reduzindo-se deste modo o excedente do consumidor num valor equivalente à
área a+b+c+d (ver gráf. I..1.). Finalmente o Estado aumenta o seu rendimento num
valor representado pela área c (ver fig. 2.1).
A tarifa é uma fonte de rendimento para o orçamento do Estado. O rendimento total a
entrar no referido orçamento será igual ao valor por unidade da tarifa (Pd-Pw)
multiplicado pela quantidade importada após a introdução da tarifa (Q’d-Q’s). No gráf.
I..1. esse valor corresponde à área do rectângulo c, i.e., (Pd-Pw).(Q’d-Q’s). Se este
rendimento for utilizado dum modo socialmente útil representa um benefício para o
país. Este benefício poderia ser considerado um incremento no rendimento dos
contribuintes visto que, na ausência de tarifas, o Governo teria que impor impostos mais
elevados para obter o mesmo montante de rendimento. É todavia possível que o
rendimento criado pela tarifa não seja afectado dum modo socialmente útil. Por
exemplo, parte desse rendimento poderia ser utilizado para cobrir os custos
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administrativos de imposição da barreira aduaneira, constituindo, deste modo, um


desperdício para a comunidade.
De modo a calcular o efeito total líquido de bem estar originado pela tarifa tem que se
partir do pressuposto que os efeitos redistributivos não são relevantes para a análise
desse bem estar. Assim, pode verificar-se que só parte da perca do excedente do
consumidor é compensada pelo ganho da renda do produtor e pelo aumento do
rendimento do Estado. O custo líquido provocado no bem estar pela imposição da tarifa
é indicado no gráf. I..1. pelos triângulos b e d.
O triângulo b representa o custo económico líquido ocorrido no lado da produção.
Reflecte a perca de eficiência na afectação de recursos provocada pela introdução da
barreira aduaneira. O triângulo d representa o custo líquido de bem estar do lado do
consumidor, visto que a tarifa aumenta o preço do bem em relação aos outros produtos,
originando uma distorção no consumo.
Efeitos sobre um país exportador da introdução duma barreira aduaneira
No ponto anterior analisou-se o efeito económico sobre um país importador da
imposição duma tarifa externa. Para a análise ficar completa analisemos o efeito da
imposição desse tipo de tarifas sobre um país exportador. Este prolongamento da análise
anterior justiça-se por duas razões: 1- Um país importador tem também um sector
exportador. Deste modo, a análise só pode estar completa se analisarmos o efeito sobre
o sector exportador desse país da imposição pelos seus potenciais parceiros comerciais
de barreiras à entrada de produtos provenientes desse país; 2- o facto dum país impor
barreiras às importações leva frequentemente os países afectados a retaliarem com a
imposição também eles de barreiras aduaneiras aos produtos originários do/s país/es que
inicialmente impuseram restrições às importações.
Situando-nos por simplicidade duma análise parcial assumamos que existem 2 países
(designados de Doméstico - H e Resto do Mundo –RW) e um bem X.. O gráf.. I..4.a)
ilustra as curvas da procura e da oferta do produto X para o país H e a fig. 2.4.b) a curva
procura de importações de X para o país H. Ao preço P’ a oferta de H iguala a procura e
não existe procura de importações para X. Ao preço P’’ a procura interna de H para X
excede a correspondente oferta interna em HJ ou seja a procura de importações de X é
idêntica a HJ = OM.
O gráf. I.5.a) representa as curvas da procura e da oferta para X do RW que são usadas
para derivar a curva oferta de exportação de X pelo RW. Ao preço P’ a procura e a
oferta estão em equilíbrio no RW e não existem exportações de X. Ao preço P’’ a oferta
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de X pelo RW é superior à procura de X no RW no montante de FG = OH. Neste


modelo de 2 países a oferta de exportação do RW é igual à oferta de importações do
país H.
Gráf. I.4: As curvas oferta interna, procura interna e procura de importações de X para o
país H
I. 4a) I. 4b)

Px
S Px
interna

P’

P’’ Procura
de
Import.

O
F G Quantida O H Importações
de

Gráf. I..5: A oferta de exportações de X por RW ou a procura de importações de X por


H.
a) oferta e procura interna de X de RW b) oferta de exportações de X de RW

Px Px Oferta
SRW Exp.
de X
P’’

DRW

X
O F G O H X
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O lado esquerdo do gráf.. I.6. representa a oferta de X pelo RW, enquanto o lado direito
da mesma figura combina a procura e oferta de importações de X em H e mostra o
efeito da tarifa T nas importações de H e nas exportações de RW. A tarifa aumenta o
preço do bem X em H de Pft para P’. O preço fronteira (i.e., o preço recebido pelos
agentes do RW cai para P’-T. O volume de importações decresce de Mft (ou Xft de
exportações) para M’ (que é igual a X’).
A perca de bem estar sofrida pelo RW devido á imposição da barreira aduaneira
corresponde ao rectângulo b (devido à diminuição das vendas). O país H obtém um
ganho no bem estar derivado do rendimento da tarifa igual ao valor unitário da tarifa (t)
multiplicado pelo volume das importações (M’), indicado pelos rectângulos m e n. A
perca em excedente privado (i.e., a soma das alterações no excedente do consumidor e
no excedente do produtor) corresponde às áreas f e m. O impacto global da tarifa no
bem estar de H é deste modo a diferença entre as áreas n e f. Em termos do gráf.. I..1.
acima, o triângulo f é igual à soma dos triângulos b e d.
Gráf.I..6. O efeito duma tarifa no país importador (H) e nos países exportadores (RW)

P’

tarifa m
f
Pft
b n
c
P’-T

tarifa

X’=M’ Xft=Mft Exportações do RW M’ Mft Importações


de H
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Classificação das barreiras não tarifárias


A lista seguinte inclui as principais barreiras não tarifárias:
Quotas sobre importações;
Acordos de restrição voluntária de exportações;
Carteis;
Barreiras anti-dumping;
Subsídios às exportações;
Diferenças nos standards, especificações técnicas e processos administrativos entre
países;
Discriminação em concursos públicos para prestação de serviços aos Estados Nacionais.
A quota sobre importações consiste numa restrição quantitativa imposta por um Estado
nas importações dum dado produto ou grupo de produtos ou pode estar associado a
atingir as importações provenientes de determinados países.
As Quotas na UE
A UE aplica quotas sazonais às importações de alguns produtos agrícolas e até
recentemente quotas nas importações de certos produtos têxteis e de vestuário (via
acordo Multi-Fibras terminado em 2005). Outra excepção permitida pelo GATT/OMC
corresponde às importações provenientes de países cuja economia não é considerada
de mercado.

Acordos de restrição voluntária de exportações correspondem regra geral a acordos


bilaterais entre países. Na prática o país exportador compromete-se a restringir as suas
exportações até um certo montante.
Os acordos de restrição voluntária de exportações (RVEs) têm sido utilizados com
certa frequência pelos USA e pela UE no sentido de limitar as exportações de aço,
produtos electrónicos, automóveis e outros produtos provenientes do Japão, da Coreia
e da Europa Central e do Leste(neste último caso no período pré-adesão à UE). Este
tipo de acordo tem-se alargado a produtos têxteis, vestuário e calçado provenientes de
países asiáticos (principalmente China e Vietname) apesar da sua cada vez maior
incompatibilidade com o facto destes países integrarem a OMC.

Um cartel internacional é um acordo entre produtores no sentido de restringir a


produção e a exportação como instrumentos de elevar os seus preços e os seus lucros. O
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exemplo mais conhecido dum cartel deste tipo é a OPEP (Organização dos países
exportadores de petróleo).
Em Fevereiro de 2004 a OPEC decidiu cortar a produção em 10% de modo a manter
os preços do crude elevados no Verão, quando a procura tende a baixar
substancialmente. A nova quota de produção entre os membros do cartel(em milhões
de barris por dia) passou a estar assim distribuída: Arábia Saudita 7.9, Irão: 3.6,
Venezuela: 2.82, UEA: 2.14, Nigéria: 2.02; Kuwait: 1.97, Líbia: 1.31, Indonésia: 1.27;
Argélia: 0,78 e Qatar: 0.64.

A prática de dumping consiste essencialmente na prática de discriminação nos preços


internacionais, quando um preço definido por um exportador no mercado estrangeiro é
mais baixo que o preço definido no mercado interno desse produto.
Subsídios às exportações podem envolver pagamentos directos, benefícios fiscais, ou
empréstimos a taxas bonificadas aos compradores estrangeiros, assim como assistência
na promoção de exportações.
As práticas de dumping e a UE: a legislação anti-dumping é uma área da competência
quase exclusiva da UE em detrimento dos Estados nacionais. A legislação ancora
fundamentalmente nos acordos GATT/OMC. De acordo com a legislação da UE, as
práticas de dumping ocorrem quando o preço duma exportação para a UE é mais
baixo que o ‘seu preço normal’. A comissão nunca abre por sua iniciativa um processo
anti-dumping mas sim a requerimento de um ou mais produtores que representam a
‘Indústria da Comunidade’. No caso das práticas referidas serem consideradas
efectivas a Comissão pode impor direitos aduaneiros anti-dumping, ainda que regra
geral se limite a insistir com o país prevaricador a rectificar os preços respectivos.

As restrições técnicas, standards e práticas administrativas específicos e


discriminatórios podem actuar como barreiras ao comércio internacional. Incluem
regulamentos sobre segurança (e.g., em aparelhos eléctricos), regras de saúde e higiene
(em particular nos bens alimentares) e rótulos de produtos. As diferenças nos standards
e barreiras técnicas representam provavelmente a principal barreira ao comércio entre
países desenvolvidos. As firmas também se queixam de formalidades alfandegárias que
podem provocar atrasos na entrega de encomendas. Diferenças no sistema fiscal podem
também limitar a circulação internacional de bens e de serviços. O Projecto de Mercado
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Único pretendeu eliminar este tipo de barreiras entre os EMs da UE e reduzir o seu
impacto nas trocas com países terceiros
A abertura de concursos públicos para fornecimento de bens e prestação de serviços (em
particular na área das obras públicas) tem como principal característica o da falta de
transparência, podendo as autoridades locais, regionais ou nacionais favorecer as
empresas nacionais em detrimento dos concorrentes estrangeiros.
I.3. Críticas aos argumentos que defendem a liberdade comercial como
instrumento de aumento da eficiência na afectação de recursos
Existem algumas reservas à perspectiva neo-liberal no contexto das relações
económicas internacionais. Em seguida apresentam-se as principais:
● O caso das indústrias nascentes: Quando uma indústria é iniciada necessita de tempo
para adquirir massa crítica em termos de experiência e competência (recursos de gestão,
redes de comercialização, capacidade financeira, etc) ou de dimensão para poder
aproveitar as economias de escala. Uma indústria nascente não pode desta forma
competir com uma indústria estrangeira que já está perfeitamente estabelecida no
respectivo mercado. De acordo com este argumento, a nova indústria deveria ser
protegida (e.g., através duma tarifa) até atingir a dimensão suficiente para competir com
as firmas estrangeiras.
Todavia, para este argumento ser válido, a indústria tem que eventualmente conseguir
tornar-se competitiva com as firmas estrangeiras a preços definidos no mercado
mundial. Adicionalmente, os benefícios de consolidação da indústria em causa devem
suplantar os custos de protecção. Além do mais, o risco de se seleccionar uma indústria
que na prática acaba por não se consolidar apesar das medidas proteccionistas tende a
ser elevado.
● O caso da tarifa óptima: O raciocínio para este caso é o seguinte – a introdução duma
tarifa sobre um bem largamente utilizado implica uma diminuição do consumo e
consequentemente originando uma diminuição dos preços internacionais do produto em
causa. De notar, todavia, que este argumento só se aplica para o caso duma grande
nação capaz de influenciar os preços mundiais. O risco da introdução duma tarifa nestas
circunstâncias está na possibilidade de retaliação por parte de outros países.
● O caso das industrias tradicionais: a razão de ser da justificação de proteccionismo
nestes casos prende-se com a necessidade de impedir o aumento do desemprego. O
provável impacto destas medidas todavia é, regra geral, o de adiar o ajustamento,
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tendendo a tornar mais difícil a necessária transferência de mão de obra dos sectores em
declínio para os sectores mais dinâmicos.
● Crítica dos pressupostos da teoria das vantagens comparativas: A teoria tradicional
que advoga o comércio livre através do princípio das vantagens comparativas é
baseadas num conjunto de hipóteses extremamente restritas no que se refere à estrutura
da economia. Em particular, assume-se que existe uma perfeita competição no mercado
de produtos e de factores quer a nível nacional quer a nível internacional. Todavia as
estruturas de mercado existentes são, regra geral, monopolistas e/ou oligopolistas onde a
concorrência é extremamente imperfeita. Nestas condições, torna-se impossível
verificar à priori se uma tendência no sentido do comércio livre melhorará a situação de
partida em termos de eficiência ou se a introdução de medidas proteccionistas a tornará
pior. Nestas condições só uma análise caso a caso pode definir qual a política mais
apropriada.
● Teoria do Comércio estratégico: Esta perspectiva, ao criticar as hipóteses
simplificadoras da teoria tradicional do comércio internacional inclui a necessidade
duma análise dinâmica do processo de criação de vantagens comparativas em
detrimento da concepção estática clássica. No mundo actual, o desenvolvimento
tecnológico, assim como o aproveitamento de economias de escala estáticas e dinâmicas
desempenham um papel central. Estes fenómenos permitem a uma empresa ganhar
vantagens competitivas independentemente da dotação inicial de factores existentes no
país de que a firma é originária. As implicações deste ponto de vista é o de considerar
que a vantagem comparativa pode ser num certo sentido criada e pode ter uma natureza
temporária.
As prescrições que a teoria em causa propõem consistem em conceder um papel activo à
política comercial do governo e ao proteccionismo. De acordo com esta perspectiva, o
governo pode criar uma vantagem comparativa para firmas em indústrias de alta
tecnologia, através de protecção temporária, subsídios e benefícios fiscais. Estratégias
no sentido de promover o investimento em infraestruturas, capital humano e I&D
podem também desempenhar um papel importante.
Esta estratégia informa, todavia, do problema já indicado para o caso das indústrias
nascentes: como escolher os sectores que virão a ser ‘vencedores’ e como impedir que
os outros países utilizem políticas semelhantes no sentido de contrariar a criação de
vantagens comparativas pelos seus concorrentes.
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→ Como notas finais sobre a política económica que subscreve o proteccionismo refira-
se que:
1. É verdade que a teoria tradicional é estática e baseia-se na existência duma
estrutura de mercados de concorrência perfeita, o que é totalmente irrealista;
2. Contudo, as propostas de activismo no comércio internacional não conseguiram
até ao momento serem uma alternativa à teoria tradicional;
3. A defesa do proteccionismo depende muitas vezes mais da existência de grupos
de pressão bem organizados que da defesa do interesse geral. È conhecido que a
defesa da protecção comercial para um certo produto (e.g., aço) vai aumentar o
preço doméstico desse produto com vantagem para os produtores domésticos e
desvantagem para os consumidores. Todavia, o benefício para os produtores
pode ser muito elevado (baixo número de operadores) enquanto o custo para os
consumidores tende a ser difuso (elevado número de agentes). Assim, os
produtores tendem a organizar-se em grupo de pressão na defesa de medidas
proteccionistas, suportando os respectivos custos, enquanto os consumidores
tendem a ser passivos. Não é por acaso que, quer nos USA quer na UE, os
sectores altamente protegidos são o aço, a agricultura, os têxteis e o vestuário e a
indústria automóvel.

۩ Conceitos a reter:
♠ Argumentos a favor da liberdade de trocas internacionais.
♠ Teoria das vantagens absolutas.
♠ Teoria das vantagens comparativas.
♠ Renda/excedente do consumidor e renda/excedente do
produtor.
♠ Efeitos da imposição de barreiras aduaneiras nos países
importadores e nos países exportadores.
♠ Classificação dos principais obstáculos ao comércio
internacional.
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♠ Principais críticas à concepção neo-liberal do Comércio


Internacional.

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