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Você quer primeiro a boa ou a ruim?

Vamos começar pela ruim: A direita tem tudo pra ganhar novamente as eleições nas
urnas (ou no voto impresso, vai saber), porque a Esquerda tá com uma cisão enorme
que no final, a gente sabe como termina: a galera não concordando em votar no
candidato menos nocivo e deixando espaço pro mais nocivo de todos.

Por que infelizmente são as nossas opções no jogo hoje.


Sabe como eu sei disso?
As opiniões sobre as manifestações não deixaram dúvidas. A maioria dos votos, quase
90%, foram de pessoas que se identificam como de esquerda (e eu sei porque são a
maioria dos meus amigos)

Eu não havia percebido o quão radical eu havia me tornado até o podcast “Paciente
63”
SPOILER: Em um momento o suposto viajante no tempo diz o que nos tornamos daqui a
alguns poucos anos no futuro.

A massa se converte num gigante autoritário que silencia todos os pensamentos


diferentes com a pretensa noção de justiça e igualdade, destrói nosso atual sistema
de justiça(Pra que existir o Direito se todo mundo agora DEVE pensar do mesma
jeito?) e e no final se mostra só outra forma de ditadura.
Isso não é sobre um sistema econômico. Capitalismo versus Comunismo. Ficou claro
pra mim que isso é sobre o monstro que a esquerda pode se tornar se continuar no
rumo em que estamos.
Nós éramos pra ser diferentes daqueles que nós tanto apedrejamos, não? Parece
irônico que venhamos a usar as mesmas armas que um dia apontamos prejudiciais, não
acha? Não só as mesmas armas mas o mesmo método de utilização.

É sobre um ponto fundamental: até onde você é capaz de ir pra defender sua
ideologia? Até as últimas consequências? E como isso te torna diferente dos teus
ditos inimigos? Não vejo como.
Não é que eu esteja confundido a reação do oprimido com a do opressor.
É só que o oprimido também tem a capacidade de mentir, de dissimular ou articular
de forma injusta seus interesses. É como um condenado por homicídio que não aceita
qualquer responsabilidade por suas ações. O caso dele é fraco perante o ordenamento
jurídico: ele é apenas e nada além do que o produto de uma sociedade disfuncional.

Ele tira de si toda e qualquer manifestação de livre-arbítrio. Todo e qualquer


poder de decisão. Sabemos que ele tem um caso, e por mais verdade que exista nessa
argumentação, isso não vai absorvê-lo, vai?

É o mesmo caso com a Esquerda aqui. Estamos confiando demais nas premissas básicas
que nos motivam a agir.

Galera o ponto é esse: Racismo é inaceitável, logo, “fogo nos racistas” é de alguma
forma, justificável. Ainda que não seja só uma hipérbole e sim a maneira de literal
de lidar com a situação.

E quando alguém discordar de colocar fogo no racista por reconhecer que ele é um
ser humano antes de tudo e que existe um sistema criado especialmente pra tratar da
situação de forma civilizada e ouvir o outro lado da história, a gente diz que
“está passando o pano” = sendo conivente, concordando em também ser racista.

Mas isso não faz o menor sentido. Será que só eu consigo ver o absurdo nisso?

Vamos destruir o Direito e recomeçar do zero entao?


Você não pode pedir intervenção ncao de uma via a qual julga igualmente ineficaz.
Ou seja: se apoiar em direitos constitucionais quando ignora fundamentos básicos da
própria Constituição.

Mas sem mais enrolação, vamos a questão de fato: o que na prática significa a
Esquerda agir de forma passional, desrespeitando o ordenamento jurídico, ainda que
em razão de uma motivação válida, (luta contra o racismo) se no final, seremos
julgados e condenados por nossas decisões e livre-arbítrio pois o nosso caso não se
sustenta sem que nossas próprias decisões e livre-arbítrio sejam levados em
consideração?

Significa entregar a vitória nas mãos de quem realmente não luta contra o racismo,
significa um puta pretexto bom pra considerar a esquerda terrorista e fazer a
cabeça das pessoas penderem pro outro lado da balança de logo de uma vez , porque a
maioria delas ainda acreditam na via democrática e legal.

No caso em tela, era sobre uma estatua. O que ela representa, o que ela significa.

Só um tico de bom senso e você vai entender que destruir uma estátua daquelas do
modo como foi feito não vai destruir o racismo. Só vai dar margem pra
interpretações de que a esquerda é ignorante e não sabe dialogar civilizadamente. O
que nos últimos tempos tem se mostrado em partes, verdade.

Isso não significa que as pessoas queiram que ela permaneça ali, não! Mas que
venhamos a derruba-lá de um modo que legitime ainda mais a nossa causa. Essa era
uma boa oportunidade pra tornar a causa anti-racismo ainda mais forte, se
trabalhadas de maneira inteligente.

Mas sequer há espaço pra discordância no meio da militância hoje em dia. É isso
vai, escuta o que eu tô dizendo, fuder com todo mundo. A radicalização nunca foi e
nunca será a resposta. A sociedade muda de maneira lenta e gradual. O máximo que a
gente pode conseguir agindo assim é a antipatia de pessoas que dentro de si também
concordam com premissas básicas de humanidade mas não com o método violento com o
qual escolhemos “resolver” os problemas.

O que pode acontecer é um ressentimento. Uma falsa concordância pelo medo da


retalhação. Isso eu conheço na pele. “Mas pra galera não pensar que eu sou racista
eu vou concordar sim, tem que derrubar tudo.”

A gente tá matando nosso senso crítico pra não sermos mortos em caráter social,
deixando de pertencer.

A boa notícia é que ainda podemos fazer diferente. Ainda podemos virar o jogo. Não
sei honestamente se pra essa eleição. Infelizmente não estou muito confiante. Mas
quem sabe a longo prazo.

Isso é sobre respeitar a luta daqueles que também tiveram que lutar, mas jogando as
regras do jogo, aqueles que nos trouxeram até aqui e conseguiriam o reconhecimento,
por exemplo, do machismo e racismo institucional. Leis que embora possuam suas
falhas também trabalham em pro de um mundo melhor. Nos mesmos escolhemos o direito,
a Constituição, a democracia, não? E agora não nos serve de nada? E se precisam ser
mudados pra se adequarem a realidade social não seria interessante começar por eles
mesmos ao invés de só passarmos com a realidade social por cima daquilo que
construímos com tanto sacrifico.

- Devido Processo Legal


- Defesa dos direitos coletivos e individuais
- Presunção de Inocência
- Defesa das minorias

Eu honestamente poderia continuar com a lista mas acho que vocês entenderam o
ponto.

E que coisa nos comparar com a França. Vocês acham mesmo que a Revolução Francesa
foi um ótimo exemplo de como mudar tudo? Talvez naquela época. Talvez porque não
tivessem ao seu dispor as ferramentas e dispositivos que temos ao nosso dispor
hoje.

Enfim, era isso. Eu tenho minha liberdade de expressão e vou fazer uso dela, ainda
que eventualmente meus amigos “me cancelem” por isso. Fica a cargo de consciência
de cada um de vocês.

Só fiquem esperto pra quando chegar a vez de você ser cancelado por pensar
diferente. Não vá lembrar do que eu disse é querer voltar atrás não. Siga com as
suas conviccoes até as últimas consequências. Seja coerente. Ou você pode ser
humano agora e mudar toda essa palhaçada.

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