Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
NO ECOSSISTEMA DE
CONSTRUÇÃO MODULAR
1 FUSÕES E AQUISIÇÕES NO ECOSSISTEMA DE CONSTRUÇÃO MODULAR
Sobre o Autor
Paulo Oliveira
Contato
paulo.oliveira@arataumodular.com
www.linktr.ee/aratau
1. INTRODUÇÃO 4
2. POR QUE CONSTRUÇÃO MODULAR? 7
3. O ECOSSISTEMA DE CONSTRUÇÃO 10
4. QUE RELEVÂNCIA TEM A CONSTRUÇÃO MODULAR E
AS CONSTRUTECHS PARA O FUTURO DA CONSTRUÇÃO? 12
5. M&A E INVESTIMENTOS RECENTES EM
CONSTRUTECHS 15
6. CONCLUSÃO 28
REFERÊNCIAS 30
A
Quarta Revolução Industrial, ou Indústria 4.0, embasada
na centralidade no cliente e explorando as inovações
tecnológicas aplicadas aos processos, produtos e
produtividade, vem provocando mudanças importantes
nos principais setores econômicos nas últimas décadas.
A pandemia do COVID-19 acelerou tendências e impôs novos hábitos de compra, que consi-
deram a priorização da saúde, o consumo consciente, privilegiando valor e não preço, o menor
desperdício e opções mais sustentáveis, além do aumento de compras através do e-commerce
e nos comércios locais. No que tange ao impacto social, as pessoas passam muito mais tempo
em casa e em atividades de home office - que veio para ficar - e essas mudanças provocaram
alterações comportamentais profundas no jeito de viver, onde e como morar e quais são os
requisitos essenciais de uma habitação para atender estas expectativas.
Com a Indústria 4.0, mesmo com os grandes avanços dos principais setores econômicos e
de manufatura, o setor de construção, apesar de sua importância econômica e social, não
se beneficiou das inovações promovidas pela Quarta Revolução Industrial e, em termos de
ganhos de produtividade, pouco evoluiu nas últimas três décadas. Cabe ressaltar que o se-
tor de construção emprega 7% da população mundial, tem um PIB anual de US$ 10 trilhões,
sendo ainda responsável pelo consumo de cerca de 50% das matérias primas produzidas
no planeta e por cerca de mais de 25% das emissões totais de carbono (McKinsey, 2017).
O planeta terá 10 bilhões de habitantes em 2050. Este número é assustador e impõe a ne-
cessidade de ganhos substanciais de produtividade no setor de construção, para conse-
guirmos oferecer à humanidade a infraestrutura necessária para atender o crescimento da
demanda em todos os setores: saúde, transporte, educação, serviços públicos e habitação.
Particularizando esta questão para o Brasil, segundo projeção do professor Robson Gon-
çalves (FGV), em relatório produzido para a ABRAINC, usando dados do IBGE, o déficit
habitacional de 7,8 milhões de unidades, em 2019, será de 30,7 milhões de unidades em
2030! A verdade é que a construção tradicional não consegue, nem conseguirá gerar ga-
nhos de produtividade suficientes para equacionar problemas desta magnitude, além de
ter como características a falta de previsibilidade, deficiências de qualidade e o retrabalho,
com impacto direto no aumento de custos e prazos.
A Construção Modular apresenta soluções eficazes para estes problemas, além de ganhos
de produtividade, de qualidade e de desempenho significativos. Por este motivo tem regis-
trado elevadas taxas de crescimento e vem ocupando um espaço importante no cenário
mundial. Isso justifica o forte aumento da frequência e da relevância dos investimentos de
M&A no ecossistema de Construção Modular.
A
Construção Modular é uma metodologia de construção em
que partes ou seções repetidas de uma edificação (módu-
los), são produzidas em uma fábrica (off-site), conforme
processos e condições controlados. Os módulos são então
transportados e montados no local da obra (on-site), poden-
do ser montados e conectados lado a lado e/ou empilhados,
compondo edificações horizontais ou verticais, permitin-
do uma grande variedade de configurações e estilos ar-
quitetônicos.
A Construção Modular dobrou de tamanho nos últimos 5 anos e deverá crescer a uma taxa
de 5,75% entre 2020 e 2025, que é praticamente o dobro do crescimento da construção
tradicional (Markets&Markets, 2019).
A
Construção Modular é um dos tipos de construção in-
dustrializada (Figura 4), podendo compor edificações
permanentes ou temporárias das mais diversas ti-
pologias, para atender uma ampla gama de mercados. O
ecossistema ao qual a Construção Modular pertence é
extenso.
Esta figura é simplificada, uma vez que dentro de cada subcategoria da construção indus-
trializada, existe uma ampla gama de subssistemas voltados para coberturas, vedações ex-
ternas (fachadas), internas, painéis de lajes e de pisos, por exemplo.
J
á mencionamos as pressões por mudanças, como resposta às
necessidades da Indústria 4.0. A Figura 5 destaca as prin-
cipais mudanças nas características do mercado e as di-
retrizes que impuseram uma nova dinâmica para o futuro
do setor de construção.
Figura 5 – Indústria 4.0: mudanças e disrupções – tradução livre pelo autor (McKinsey, 2020)
O
forte avanço da Construção Modular no mundo todo tem
gerado um grande interesse de investidores anjo, family
offices, fundos de investimento, empresas de venture
capital e de crowfunding por startups de Construção Modular.
Fabricantes de materiais de construção, construtoras, in-
corporadoras e loteadoras, também fazem parte do grupo
de empresas envolvidas em operações de M&A neste
segmento.
*Obs.: numa estratificação mais aprofundada, outras modalidades de startups na construção e no mercado imo-
biliario são as ebuyers (compra, reforma e venda de imóveis), greentechs (soluções sustentáveis), retechs (compra e
venda imobiliária: termo pouco utilizado, pois se confunde com as proptechs) e infratechs (voltadas para a infraes-
trutura de construção).
As construtechs, que também são conhecidas como contechs, são startups “raiz” por estarem
mais relacionadas à engenharia e à construção civil e geralmente possuem proposta e po-
tencial para promover mudanças radicais e duradouras nos negócios correntes, inovando
produtos e processos e, sobretudo, gerando ganhos de produtividade através de soluções
para os problemas da construção tradicional. É o caso da Construção Modular, que vem
explorando vantagens e benefícios já comprovados no mundo todo e que é objeto do ótimo
relatório “Modular construction: from projects to products” (McKinsey, 2019). Este é o motivo
pelo qual as maiores empresas globais de consultoria têm apontado com maior ênfase a
Construção Modular como essencial para o futuro da construção.
No Brasil, apesar de num primeiro momento ter havido um interesse maior por proptechs
e fintechs, seguindo o que vem acontecendo internacionalmente, hoje as construtechs têm
sido alvo de grande atenção pelos diversos tipos investidores, pelos fabricantes de mate-
riais, além de construtoras e incorporadoras que desejam se inserir no universo da constru-
ção off-site e da Construção Modular.
Figura 7 – Maiores startups por aporte total recebido (CB Insights, JLL Research)
Entre 2017 e 2018, mais de US$ 15,8 bilhões foram investidos em construtechs. De acordo
com o Construtech Ventures, através de dados extraídos do website da empresa americana
Crunchbase, mais de US$ 7,3 bilhões foram investidos em construtechs no mundo, somente
em 2018. Estes valores falam por si e demonstram a confiança e a relevância da industriali-
zação e da digitalização para o setor de construção.
O levantamento do Construtech Ventures considera, as movimentações envolvendo todas
as startups do mercado de construção e imobiliário. Segundo a Terracotta Ventures, somen-
te as startups de Construção Modular captalizaram, globalmente, um total de US$ 2,29 bi-
lhões entre 2010 e 2020. São 77 startups, com grande concentração na Europa e nos EUA.
Destaca-se um aumento anual exponencial dos aportes em construtechs, de 2018 para cá.
*Obs.: unicórnios são startups com forte embasamento tecnológico que, alavancadas pelo capital de risco, atingem
o marco de pelo menos US$ 1 bilhão de valor de mercado, antes da abertura de capital, em bolsas de valores.
Em agosto de 2021, através de sua Corporate Venture Capital nos Estados Unidos, a Paris
Ventures, que é parte da Gerdau Next, braço de novos negócios da Gerdau, co-liderou a ro-
dada que captou US$ 30 milhões para a Plant Prefab, startup com sede na Califórnia (EUA),
que atua na construção de casas pré-fabricadas sustentáveis e que cresceu 175% nos úl-
timos 12 meses. O fundo da empresa brasileira contou com a participação da Asahi Kasei,
Amazon Alexa Fund e Obvious Ventures. Após esta captação a Plant Prefab anunciou a
abertura de sua segunda fábrica em Ontário, Califórnia, e a construção de uma terceira
fábrica, que deverá ser inaugurada em 2022. O investimento também provê recursos para
a estruturação do Plant Building System, que compreende um sistema de painéis e módu-
los industrializados, para a produção de construções até 50% mais rápidas e até 25% mais
baratas que as tradicionais.
A construção off-site e a Construção Modular, cada vez mais têm ocupado uma posição de
destaque e registrado um crescimento expressivo no setor de construção, sobretudo ao
longo dos últimos 5 anos. A necessidade de atender o forte crescimento da demanda de
infraestrutura, em todas as instâncias, sobretudo em grandes centros urbanos, não vem
sendo suprida pela construção tradicional. A construção off-site e a Construção Modular
também se apresentam como uma solução para estes problemas.
Os avanços tecnológicos e as inovações, através de novos materiais, componentes e siste-
mas construtivos robustos e mais leves, também têm ganhado espaço e maior vazão, atra-
vés de metodologias de construção não convencionais, como a Construção Modular, impri-
mindo um ritmo mais forte na industrialização do setor de construção.