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Exercı́cios de teoria da medida


Rodrigo Carlos Silva de Lima

rodrigo.uff.math@gmail.com

1
Sumário

1 Exercı́cios de teoria da medida 3


1.1 Lista I . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.1.1 Questão 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.1.2 Questão 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.1.3 Questão 4 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.1.4 Questão 5 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.1.5 Questão 6 e 27 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.1.6 Questão 8 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
1.1.7 Questão 13 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
1.1.8 Questão 25 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1.1.9 Questão 29 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
1.1.10 Questão 30 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

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Capı́tulo 1

Exercı́cios de teoria da medida

1.1 Lista I

1.1.1 Questão 1

b Propriedade 1. Se A, B ∈ Σ então A ∪ B ∈ Σ. Logo uma σ-álgebra é uma


álgebra.

ê Demonstração. Tomamos a sequência (A, B, ∅|∞


k=3 ) cuja união deve pertencer

a familia , porém a união é A ∪ B.

1.1.2 Questão 2

b Propriedade 2. Se A, B ∈ Σ então A ∩ B ∈ Σ.

ê Demonstração. Ac , Bc ∈ Σ daı́ pela propriedade anterior Ac ∪ Bc ∈ Σ, logo o


complementar dessa união também

(Ac ∪ Bc )c = A ∩ B.

Estamos usando aqui as propriedades de conjuntos chamadas de Leis de Morgan,


que dizem em particular
(A ∪ B)c = Ac ∩ Bc ,

(A ∩ B)c = Ac ∪ Bc .

3
CAPÍTULO 1. EXERCÍCIOS DE TEORIA DA MEDIDA 4

b Propriedade 3 (Fechamento por interseções enumeráveis). Se (Ak ) ∈ Σ então



\
Ak ∈ Σ.
k=1

ê Demonstração. Pois temos (Ack ) ∈ Σ daı́



[
Ack ∈ Σ
k=1

portanto seu complementar também está em Σ


[ ∞
\
( Ack )c = Ak .
k=1 k=1

b Propriedade 4. Se A, B ∈ Σ então A \ B ∈ Σ.

ê Demonstração. Temos que A \ B = A ∩ Bc , porém B ∈ Σ implica Bc ∈ Σ e a


interseção de elementos pertence também à Σ.

1.1.3 Questão 4

m Definição 1 (Continuidade no vazio.). Uma medida finitamente aditiva µ é


contı́nua no vazio se dada uma sequência decrescente de conjuntos (Ek ) de Σ com

\
Ek = ∅, então lim µ(En ) = 0.
n
k=1

b Propriedade 5. Seja µ uma medida finitamente aditiva, então µ é σ aditiva


⇔ é contı́nua no vazio.

ê Demonstração. Seja sequência decrescente de conjuntos (Ek ) de σ tal que



\
Ek = ∅.
k=1

⇒).
CAPÍTULO 1. EXERCÍCIOS DE TEORIA DA MEDIDA 5

Já sabemos que se µ é σ-aditiva então



\
µ( Ek ) = lim µ(En ),
n
k=1

\
como Ek = ∅, segue que da igualdade anterior que lim µ(En ) = 0, logo temos
n
k=1
continuidade no vazio.
⇐). Suponha que temos continuidade no vazio, vamos mostrar que µ é σ-aditiva.
Seja (Ak ) uma sequência de conjuntos disjuntos, devemos mostrar que µ é finitamente
aditiva então é σ-aditiva, isto é, devemos mostrar que

[ X

µ( Ak ) = µ(Ak ).
k=1 k=1

X
n ∞
[
Seja a sequência (xn ), com xn = µ(Ak ) − µ( Ak ), devemos mostrar que tal
k=1 k=1
sequência tende a zero. Temos usando a aditividade finita e propriedade da diferença
de medidas que
X
n ∞
[ n
[ ∞
[ n
[ ∞
[
xn = µ(Ak ) − µ( Ak ) = µ( Ak ) − µ( Ak ) = µ([ Ak ] \ [ Ak ]) =
k=1 k=1 k=1 k=1 k=1 k=1

[
= µ( Ak ).
k=n+1

[
Seja En = Ak , temos que a sequência é decrescente, En+1 ⊂ En , pois
k=n+1

[ ∞
[
Ak ⊂ Ak ,
k=n+2 k=n+1

além disso

\
Ek = ∅,
k=1
pois, suponha por absurdo que exista x na interseção, então x ∈ En , ∀ n ∈ N. Mas

[ ∞
[
como En = Ak então x ∈ Aj para algum j, mas x ∈ Ej = Ak , logo x ∈ As para
k=n+1 k=j+1
algum s > j, o que não pode acontecer pois os conjuntos tomados Ak são disjuntos
portanto a interseção desejada é vazia. Logo, estamos na condição da continuidade
no vazio, de onde segue que

[ X
n ∞
[
lim µ( Ak ) = 0 = lim µ(Ak ) − µ( Ak ),
k=n+1 k=1 k=1
CAPÍTULO 1. EXERCÍCIOS DE TEORIA DA MEDIDA 6

como querı́amos provar

1.1.4 Questão 5
n
b Propriedade
[
6. Se A1 , A2 , · · · An ∈ Σ então Ak ∈ Σ. Sendo Σ uma álgebra.
k=1

ê Demonstração. Por definição de uma álgebra temos que se A1 , A2 ∈ Σ então


[n
A1 ∪ A2 ∈ Σ, vamos provar o caso geral por indução. Suponha que Ak ∈ Σ, vamos
k=1
[1
n+
provar que Ak ∈ Σ. Temos que
k=1

[1
n+ n
[
Ak = An+1 Ak = A ∪ B ∈ Σ,
| {z }
k=1 k=1
A | {z }
B

pois por hipótese da indução, temos que B ∈ Σ e como A também, segue da proprie-
[1
n+
dade básica para fechamento para unição de dois conjuntos que A ∪ B = Ak ∈ Σ
k=1
como querı́amos provar.

1.1.5 Questão 6 e 27

Z Exemplo 1. A σ−álgebra gerada por A = { {x} | x ∈ Q} é P(Q).


Já sabemos que ΣA ⊂ P(Q), temos que provar a outra inclusão. Por definição
de ΣA temos que A ⊂ ΣA e isso acontece ⇔ ∀ yx ∈ A tem-se yx ∈ ΣA , yx = {x}.
Por ser σ−álgebra é fechada por união enumerável de elementos dela.
Seja B um subconjunto qualquer de Q, isto é, um elemento de P(Q), B é
enumerável, logo
[
B= {x} ∈ ΣA ,
x∈B

então segue que P(Q) ⊂ ΣA , logo temos a igualdade como querı́amos demons-
trar.
CAPÍTULO 1. EXERCÍCIOS DE TEORIA DA MEDIDA 7

Z Exemplo 2. Seja Ω um conjunto não enumerável . Σ = {A ∈ P(Ω) | A ou A c


é enumerável}
é uma σ-álgebra de Ω.

1. Ω ∈ Σ pois Ωc = ∅ é enumerável.

2. Seja A ∈ Σ, então Ac ∈ Σ pois A ou Ac é enumerável .

3. Seja (Ak ) ∈ Σ então



[
Ak ∈ Σ
k=1

pois se cada Ak é enumerável, então a união é enumerável, se existe um


conjunto não enumerável At na união, então Act é enumerável e

[ ∞
\
c
( Ak ) = (Ack ) ⊂ Act
k=1 k=1

que é enumerável por ser subconjunto de enumerável.

µ : Σ → {0, 1} tal que µ(E) = 0 se E é enumerável e µ(E) = 1 caso contrário é


uma medida.

1. Temos que µ(∅) = 0 pois ∅ é enumeravel .

2. Se (Ak ) é uma coleção disjunta de elementos da σ-álgebra então vale



[ X

µ( Ak ) = µ(Ak ),
k=1 k=1

se cada Ak é enumerável, a união enumerável de enumeráveis é enumerável,



[
então µ( Ak ) = 0 do outro lado também temos apenas termos com medida
k=1
nula, logo segue a igualdade. Se alguem At for não enumerável então
X \ At = Act é enumerável, por isso cada outro Ak é enumerável, pois são
disjuntos com At logo estão contidos no conjunto enumerável Act , por isso

[ X

µ( Ak ) = 1 = µ(Ak ) + µ(At ) = 1.
| {z } | {z }
k=1 k=1,k6=t 0 1
CAPÍTULO 1. EXERCÍCIOS DE TEORIA DA MEDIDA 8

b Propriedade 7. Seja A = { {x} | x ∈ R} e G = {A ⊂ R | A ou Ac é enumerável},


então vale a igualdade
ΣA = G.

ê Demonstração.

• Primeira inclusão ΣA ⊂ G. Para cada x ∈ R temos que {x} ∈ G pois o conjunto é


enumerável, disso segue que A ⊂ G e daı́ ΣA ⊂ G, pois ΣA é a menor σ-álgebra
que contém A.

• Segunda inclusão G ⊂ ΣA .

Seja E ∈ G. Se E é enumerável logo ele se escreve como união enumerável de


[
seus elementos E = {x}, daı́ E ∈ ΣA . Se Ec é enumerável, pelo mesmo argu-
x∈E
mento, temos que Ec ∈ ΣA , mas como ΣA é σ-álgebra segue que o complementar
de Ec , que é E também é elemento de ΣA , daı́ segue a inclusão G ⊂ ΣA e temos
portanto a igualdade G = ΣA .

$ Corolário 1. A σ-álgebra gerada por A = { {x} | x ∈ R} não é P(R), pois nesse


último, temos o conjunto (0, 1) que é não enumerável e seu complementar também
é não enumerável.

1.1.6 Questão 8

Z Exemplo 3. Considere X = {1, 2, 3, 4, 5, } determine a σ-álgebra gerada por


1. A1 = { {1, 2} }.

2. A2 = { {1, 2} {1, 3} }.

Solução:

1. A1 = { {1, 2} }. Como A1 ⊂ ΣA1 segue que {1, 2} ∈ ΣA1 então seu complementar
CAPÍTULO 1. EXERCÍCIOS DE TEORIA DA MEDIDA 9

também {3, 4, 5}. A Σ-álgebra é dada por

ΣA1 = { {1, 2} {3, 4, 5}, ∅, {1, 2, 3, 4, 5, }},

que é fechado por união e complementar.

2. A2 = { {1, 2} {1, 3} }. Vamos tomar um procedimento em passos.

• Passo 0-Conjuntos iniciais. {1, 2} e {1, 3} são elementos da Σ-álgebra.

• Passo 1-Complementar de P0. Tomamos o complementar dos elementos


do passo 0, obtemos
{3, 4, 5}, {2, 4, 5}

• Passo 2-Uniões. Tomamos a união dois-a-dois dos elementos até agora


listados, obtendo

{1, 2, 3}, {1, 2, 3, 4, 5}, {1, 2, 4, 5} das uniões com {1, 2}.

{ 1 , 3, 4 , 5 } da união com {1, 3},

{2, 3, 4, 5} da união com {3, 4, 5}.

• Passo 3-Complementar de P2.

{4, 5}, ∅, {3}

{2},

{1}.

• Passo 4-Uniões.
{1, 4, 5}, {2, 3}.
CAPÍTULO 1. EXERCÍCIOS DE TEORIA DA MEDIDA 10

• Passo 5- O complementar dos conjuntos no passo anterior já foram con-


tados, então paramos. Listamos os 16 conjuntos, que podemos mostrar
que formam realmente uma σ−álgebra

{ ∅, {1}, {2}, {3}, {1, 2}, {1, 3}, {2, 3}, {4, 5}, {1, 4, 5}, {1, 2, 3}, {3, 4, 5}}∪

{ {2, 4, 5}, {1, 2, 4, 5}, {1, 3, 4, 5}, {2, 3, 4, 5}, {1, 2, 3, 4, 5} }

1.1.7 Questão 13

Z Exemplo 4. Seja F ⊂ R. Temos que Σ P(F) = {A ⊂ R | A ou Ac ⊂ F}.


Primeiro vamos mostrar que B = {A ⊂ R | A ou Ac ⊂ F} é σ-álgebra.

1. ∅ ∈ B pois ∅ ⊂ F.

2. Se A ∈ B então Ac ∈ B, pois A ∈ B ⇔ A ou Ac são subconjuntos de F,


porém Ac ∈ B ⇔ Ac ou (Ac )c = A são subconjuntos de F, são proposições
equivalentes.

3. Seja agora um sequência de conjuntos (Ak ) de B, vamos mostrar que a união


também está. Se cada Ak ⊂ F então

[
Ak ⊂ F.
k=1

Se pelo menos um deles não é subconjunto de F, digamos Aj , então Acj ⊂ F


e daı́ por propriedade de complementar da união

[ ∞
\
c
( Ak ) = Ack ⊂ Acj ⊂ F,
k=1 k=1

de onde tiramos que o complementar da união é subconjunto de F então a


união está na σ-álgebra.

Agora vamos demonstrar a igualdade ΣP(F) = B.


CAPÍTULO 1. EXERCÍCIOS DE TEORIA DA MEDIDA 11

• Primeira inclusão ΣP(F) ⊂ B. Para cada A ∈ P(F) temos que A ∈ B, pois


A ⊂ F. Disso segue que P(F) ⊂ B, daı́ ΣP(F) ⊂ B pois ΣP(F) é a menor
σ-álgebra que contém P(F).

• Segunda inclusão B ⊂ ΣP(F) . Seja E ∈ B. Se E ⊂ F daı́ E ∈ P(F) ⊂ ΣP(F) ,


portanto E ∈ ΣP(F) . Se Ec ⊂ F, pelo mesmo argumento temos que Ec ∈ ΣP(F) ,
porém como ΣP(F) é σ-álgebra, segue que (Ec )c = E ∈ ΣP(F) daı́ segue a
inclusão B ⊂ ΣP(F) e com as duas inclusões temos a igualdade ΣP(F) = B.

$ Corolário 2. Segue que ΣP(N) = {A ⊂ R | A ou Ac ⊂ N}, ΣP(Q) = {A ⊂


R | A ou Ac ⊂ Q}.

1.1.8 Questão 25

Z Exemplo 5. Diremos que o conjunto A possui medida nula caso µ(A) esteja
definido e µ(A) = 0. Caso B ⊂ A dizemos que B é negligênciável.

• Segue da σ-subaditividade de µ que a união enumerável de conjuntos de


medida nula é um conjunto de medida nula, pois

[ X

µ( Bk ) ≤ µ(Bk ) = 0.
k=1 k=1


[
• Se (Ak ) é uma sequência de conjuntos negligênciáveis então Ak é ne-
k=1
gligênciável, pois para cada Ak existe Bk tal que Ak ⊂ Bk , onde cada Bk
possui medida nula, daı́

[ ∞
[
Ak ⊂ Bk ,
k=1 k=1

[
e pelo item anterior Bk possui medida nula.
k=1
CAPÍTULO 1. EXERCÍCIOS DE TEORIA DA MEDIDA 12

1.1.9 Questão 29

Z Exemplo 6. Seja µ : P(R) → [0, ∞].


1. Se µ(E) = 0 se E é finito e µ(E) = ∞ caso contrário, então tal função não é
medida, pois não vale a σ-aditividade. Seja Ak = {k}

[ X

µ( Ak ) = ∞ 6= µ(Ak ) .
| {z }
k=1 k=1 0

2. Se µ(E) = 0 se E é enumerável e µ(E) = ∞ caso contrário, então tal função


é medida, pois µ(∅) = 0, pois o vazio é enumerável. Além disso dada uma
sequência (Ak ) de conjuntos disjuntos, se cada Ak é enumerável, temos que

[
µ( Ak ) = 0,
k=1

pois a união enumerável de conjuntos enumeráveis é enumerável e também


X∞
vale µ(A ) = 0, então temos a igualdade. Se pelo menos um Aj é não
| {z k}
k=1 =0
enumerável, também é não enumerável a união então

[
µ( Ak ) = ∞,
k=1

X
∞ X

e também vale µ(Ak ) =≥ µ(Aj )∞, logo µ(Ak ) = ∞ e portanto fica
k=1 k=1
provada a σ-aditividade.

3. Se µ(E) = 0 se E é vazio e µ(E) = ∞ caso contrário, então tal função é


medida, pois µ(∅) = 0. Além disso dada uma sequência (Ak ) de conjuntos
disjuntos, se cada Ak é vazio, temos que

[ X

µ( Ak ) = µ(∅) = 0 = µ(Ak ) .
| {z }
k=1 k=0 0
CAPÍTULO 1. EXERCÍCIOS DE TEORIA DA MEDIDA 13

Caso algum Aj não seja vazio



[ X

µ( Ak ) = ∞ = µ(Ak ) ≥ µ(Aj ) = ∞.
k=1 k=0

Então temos uma medida.

1.1.10 Questão 30
a A medida de contagem está definida para todos os conjuntos e o único conjunto
com medida nula é o vazio pois todo outro conjunto possui pelo menos um
elemento.

b A medida de Dirac está definida sobre todos conjuntos. Se a ∈


/ A temos que
δa (A) = 0, caso δa (A) = 0 deve valer que a ∈
/ a, pois caso contrário (a ∈ A)
terı́amos δa (A) = 1.

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