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Lê o poema I de O Guardador de Rebanhos, de Alberto Caeiro (pp.

84 e 85) e depois responde às questões seguintes,


com o mesmo cuidado que responderias num teste sumativo.

SUGESTÕES:
. Evita que a tua resposta tenha menos de três frases (a menos que a pergunta seja muito concreta).
. Procura que haja ligações entre as frases (por exemplo, através de marcadores discursivos).
. Se for necessário relacionar dois ou mais aspetos, em primeiro lugar, explica cada um dos aspetos; em segundo
lugar, explica que tipo de relação tem (causa-efeito, antes-depois, geral-específico etc.)
. Podes fazer transcrições em itens que não o solicitam — desde que expliques o significado da transcrição por tuas
palavras.

1. Existe um contraste entre o título da obra e o primeiro verso do poema I. Explica-o de acordo com o sentido
global das primeiras duas estrofes.
O título da obra é O Guardador de Rebanhos e o poema começa com o verso "Eu nunca guardei rebanhos",
portanto, parece que há aqui um desrespeito pelo princípio da não-contradição, que permite que haja a coerência
lexical lógico-conceptual. De facto, o "eu" não assume a profissão real de pastor, mas explica-a de forma simbólica.
Tal como um pastor é alguém que experimenta a tranquilidade dos campos, que conhece bem para orientar as suas
ovelhas, assim a alma do sujeito poético experimenta a mesma paz, enquanto contempla os seus pensamentos.

2. Identifica um campo lexical que possamos encontrar no poema e justifica.


O campo lexical da "natureza" talvez seja o mais evidente, constituindo-se de palavras como "planície", "borboleta",
"flores", "chuva", "vento", "rebanho" ou "árvores".

3. Entre os versos 19 e 27, encontramos vestígios de um dos temas da lírica de Pessoa Ortónimo. Identifica-o e
justifica.
O tema da dor de pensar aparece nestes versos. Tal como acontecia com Pessoa Ortónimo, a consciência é vista
como algo que se intromete na experiência emocional. Esta ideia encontra-se nos versos 22 a 25: a consciência de
que os pensamentos existem, mesmo que sejam felizes, interfere com a emoção e tira-lhe parte do prazer.
Em consequência, o Ortónimo sugeria que a lucidez extrema cria mal-estar. Aqui também encontramos essa ideia,
na expressão "pensar incomoda como andar à chuva".

4. Entre os versos 31 e 48, pelo contrário, Caeiro contraria a teoria do fingimento artístico do Ortónimo. Explica os
elementos textuais que assinalam esta diferença.
O Ortónimo dava a entender que o poeta era um fingidor porque os sentimentos expressos em verso não eram
naturais; pelo contrário, sofriam um processo de intelectualização ao serem escritos.
Neste poema, o "eu" contraria claramente esta ideia quando diz que "sinto o que escrevo ao pôr do sol" ou, mais à
frente, "escrevo versos num papel [...] sinto um cajado nas mãos". Quer isto dizer que existe uma simultaneidade
entre a sensação e o ato de criação poética, que não existia em Pessoa Ortónimo.

5. Há vários momentos em que parece que o "eu" encontra semelhanças entre si próprio e outros elementos da
natureza. Identifica três desses momentos, transcrevendo os versos em que se encontram.
O verso "fico triste como um pôr do sol" é um exemplo de semelhança entre o "eu" e a natureza, mas existem
outros: "como um ruído de chocalhos [...] os meus pensamentos são contentes"; "pensem / que sou qualquer coisa
natural — por exemplo, a árvore antiga".

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