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2021
Em sua introdução o autor já deixa bem evidente sobre o objetivo do texto e como
o mesmo irá se desenvolver. O objetivo do artigo era abordar a Comissão Rondon pela
sua produção visual e analisar o filme Rituaes e Festas Bororo (1917) produzido por Luiz
Thomaz Reis, que aparentemente foi de grande importância para antropologia, por ter
sido um dos pioneiros filmes etnográficos do mundo.
Rondon participou das ações que levaram a queda da monarquia, entrando para a
doutrina positivista e aceitando o cargo para chefiar a expansão das linhas telegráficas de
Mato Grosso e Amazonas. Rondon fez parte de várias comissões telegráficas e colaborou
no processo de criação, implantação e ação do conhecido Serviço de Proteção ao Índio
(SPI), criado em 1910 e que tinha como responsabilidade a proteção e assistência aos
povos indígenas, desde saúde e educação, a demarcação de terras. Todavia, sabe-se bem
pelo Relatório Figueiredo, que essa “preocupação” era só uma farsa. Funcionários
públicos vendiam as crianças e abusavam sexualmente delas; torturavam crianças, jovens
e adultos com a falácia de ministrar justiça. Servidores do SPI mantinham uma rotina de
castigos físicos contra os indígenas, os espancamentos eram tão severos, que
ocasionavam em morte. Os funcionários chegaram a crucificar indígenas, além de
obrigarem parentes torturar uns aos outros, filho espancar mãe, irmão abusar de irmã, e o
indígena que recusasse, era morto (Ioiô, A. 2018).
Durante a empreitada das linhas telegráficas, o autor revela que Rondon esteve
frente a frente com grupos indígenas de pouco contato com os brancos; ele usa civilização,
mas somente porque o colonialismo implantou que os brancos é que são os “civilizados”.
Nesse percurso, o marechal levou vários cientistas para fazer levantamento da fauna e da
flora, enquanto ele fazia a topografia e medições antropométricas dos indígenas como se
fossem animais exóticos, não pessoas.
Na segunda parte do texto, Fernando de Tacca, parte enfim, para a análise do filme
‘Rituaes e festas Bororo’. Ele divide o filme em duas abordagens; a primeira com um
foco nos aspectos da vida cotidiana dos indígenas, como a pesca, a tecelagem e a
cerâmica; e a segunda parte se dá com o ritual funerário apresentado ao fim do filme. Ele
levanta uma questão a cerca da presença da câmera, em como no momento em que os
homens indígenas estão pescando, eles notam e fazem questão de olhar para a câmera,
inclusive ao realizar o ritual de morder o peixe que luta para não ser pescado; Tacca trás
isso numa explicação em que a câmera dirige o filme, ela é notada em vários momentos
de gravação. No que ele explanou como sendo a segunda parte do filme, que é o
acontecimento do ritual fúnebre, a câmera já não é mais o centro do evento, ela é apenas
uma coisa, fazendo acontecer uma filmagem, “em um lugar onde vários aconteceres se
entrelaçam” (Ingold, 2012, p.29), mas ela não “interfere” nas ações do grupo; a dança e
o ritual de enterramento acontece independente da filmagem da câmera, as pessoas
participantes do ritual nem dirigem o olhar para ela. O autor fala que a câmera que
comporta nessa parte do filme, de uma maneira não agressiva, ela se mantém distante dos
acontecimentos, somente a observar, ela é dirigida pela ação do ritual e não mais a
diretora.
Fernando de Tacca finaliza o artigo dizendo que o filme ‘Rituaes e festas Bororo’,
é considerado um dos primeiros filmes etnográficos do mundo, por conter metodologias
específicas que a antropologia desenvolveu mais a frente da publicação do filme.
REFERÊNCIAS
INGOLD, Tim. Trazendo as coisas de volta à vida: Emaranhados criativos num mundo
de materiais. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 18, n. 37, p. 25-44, jan./jun.
2012.