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b) Sob a ótica do trabalho decente e do cilindro de Ciro, faça uma crítica sobre
contrato de facção.
O cilindro de Ciro foi interpretado por alguns como sendo o precursor da carta de
direito humanos, na medida em que seu texto, ainda que escrito em tempos remotos,
sugere temas como liberdade, trabalho e repatriação. A ideia de trabalho decente, por
seu turno, é o ponto de convergência das core obligations da OIT, destacadas na sua
Declaração de Direitos e Princípios Fundamentais do Trabalho. Quanto ao contrato de
facção, em que uma empresa delega para outra a produção em escala de seus
produtos, a jurisprudência é firme no sentido de que a responsabilização somente se
mostra viável quando houver ingerência da contratante sobre a contratada. Em nosso
sentir, trata-se de uma modalidade de outsourcing tendente a precarizar a
malbaratear a mão de obra, sugerindo exponencial coisificação do homem
trabalhador, em descompasso com a Declaração da Filadélfia, de 1944.
c) Frente ao novel posicionamento do Pretório Excelso, como se opera a
responsabilização da Administração Pública?
Consoante se extrai do informativo 859, o Pretório Excelso entendeu, por maioria que
a Lei 9032/95 buscou excluir a responsabilidade subsidiária da administração.
Contudo, ressalvou que o artigo 71, da Lei 8666/93, declarado constitucional pela
Corte (ADC 16), entendeu pela impossibilidade de responsabilização automática da
administração, a qual somente pode se operar mediante prova concreta de que a
atitude da administração contribuiu de forma direta para a existência do dano. A culpa
in vigilando se demonstra, contudo, quando a Administração Pública não demonstra,
documentalmente (artigo 37, da Lei 9784/99) a fiscalização do contrato (certidões
negativas), o que a doutrina convencionou chamar de prova por amostragem.
CANDIDATO 1
No Brasil, durante muitos anos, não havia uma lei geral de greve
terceirização, não?!, sendo esse vácuo legislativo preenchido pelo TST deu a entender
que o TST praticou ativistmo judicial, por meio da Súmula 331. Na referida normativa,
a contratação por empresa interposta (terceirização) era ilegal, formando vínculo
empregatício com o tomador de serviço, salvo no caso de contrato temporário (Lei
6.019/74). Veja que o TST não pode suprir uma lacuna normativa editando uma
súmula. Isso é ativismo judicial e a bancas não reconhecem essa atividade por parte do
Poder Judiciário. Logo, o caminho era falar que o TST exerceu um controle civilizatório
judicial sobre o instituto, especialmente interpretando a terceirização dentro de uma
abordagem sistemática e teleológica do ordenamento.
CANDIDATO 2
b) Sob a ótica do trabalho decente e do cilindro de Ciro, faça uma crítica sobre
contrato de facção.
Por intermédio do Cilindro de Ciro, encontrado em 1879, o Rei de Pérsia, Ciro –
o Grande, anunciava a liberdade dos escravos. O documento inspirou a DUDH,
conforme se nota dos seus primeiros dispositivos. Muito bem! o foco do cilindro de
ciro era a tutela da liberdade, a partir da qual inspirou outros direitos.
O conceito de escravidão sofreu mutação, mas não deixou de existir na prática.
Cite-se como exemplo o contrato de facção, em que a empresa de confecção fornece
produtos terminados/acabados ao gestor da marca. Para atender à demanda, as
empresas de confecção contratam (e não fiscalizam) várias pequenas empresas para
trabalhar e entregar, a tempo, a produção – em grande escala – a gestora da marca. ok
Tem sido uma forma velada de alimentar a escravidão contemporânea
informação muito forte para uma prova de segunda fase. Veja que para verificarmos
escravidão, a jurisprudência já se fixou pela necessidade de demonstração de restrição
de liberdade, o que não acontece nestes casos, via de regra. A maneira mais imparcial
e equilibrada de defender esta questão era, simplesmente, levantar a possibilidade de
verificação de fraude, frente à precarização da mão-de-obra e malbaratamento desta.
Tudo isso, a proposito, de acordo com o 9°, da CLT. Mas, via de regra, jurisprudência
do TST declara a licitude do ato., pois o gestor da marca lucra com a força da mão de
obra precariamente ok empregada, em razão da jornada exaustiva e do trabalho
degradante dos trabalhadores da produção, o que contribui para o alvitramento da
dignidade humana e para a coisificação da pessoa do trabalhador.
Resolve-se a problemática à luz da teoria da cegueira deliberada (ou teoria do
avestruz), em que se deve responsabilizar o gestor da marca que ignora fatos suspeitos
e contrata sem cautela, boa-fé; aplicando-se a elas – exemplificadamente – a restrição
de crédito a que alude as leis 11.948/09 (art. 4º) e 13.707/18 (art. 112). Muito boa a
utilização da teoria da cegueira deliberada aqui. Mas, lembre-se do posicionamento
dominante do TST sobre o tema.
c) Frente ao novel posicionamento do Pretório Excelso, como se opera a
responsabilização da Administração Pública?
A Administração Pública não é automaticamente responsável pelos créditos
trabalhistas dos empregados da empresa terceirizada, inclusive, este é o
posicionamento do STF. Para a Corte, deve haver prova inequívoca de que a
administração pública não fiscalizou os contratos de terceirização (ADC n. 16/DF e RE
760931), para ensejar sua responsabilidade subsidiária, posicionamento recentemente
ratificado no bojo das Reclamações nºs. 36958, 40652 e 40759. E a prova inequívoca se
dá pela aplicação da prova por amostragem, na forma do artigo 37, da Lei 9784
(certidões de regularidade).
a) A CF/88, em razão do patamar civilizatório mínimo instituído por sua ordem jurídica,
limita a terceirização trabalhista. Nessa mesma linha, segue a súmula 331 do TST, a
qual traz hipóteses de terceirização lícita como exceções. Muito bem! Considerando
este início, seria legal falar que o TST editou a S.331 ante a falta de um patamar
civilizatório mínimo sobre o tema, de modo que, ao fazê-lo, não teve a intenção de
substituir o legislador, mas tão somente apresentar uma interpretação sistemático-
teleológica do ordenamento sobre o instituto da terceirização.
Segundo a súmula 331, são lícitas a terceirização em caso de trabalho temporário (I);
para serviços de vigilância (III); serviço de conservação e limpeza (III) e os ligados a
atividade-meio do tomador (III), estas três últimas desde que não haja personalidade e
subordinação direta. Ao contrário, ilícitas são as terceirizações quando se mostram
presentes os elementos que configuram uma relação de emprego e, também, quando
se terceiriza a atividade-fim. Perdemos muitas linhas exemplificando isso. Cuidado!
Por fim, em decisão recente (08/09/20), o STF manteve mais uma vez o seu
posicionamento pela responsabilização da administração condicionada à existência de
prova inequívoca de omissão na fiscalização nos contratos de terceirização. Muito
bem!
CANDIDATO 4
b. Sob a ótica do trabalho decente e do cilindro de Ciro, faça uma crítica sobre o
contrato de facção.
Contrato de facção tem natureza híbrida e ocorre quando o contratante pactua, com
terceiro, o fornecimento de produtos prontos e acabados, sem interferir na produção.
Em tese, não há terceirização de serviços consoante jurisprudência majoritária do TST,
pois o que há é o fornecimento de matéria prima de um empresária a outro. Para sua
configuração estão presentes elementos como: entrega de material em estado bruto
pela contratante; execução das atividades nas instalações da empresa contratada;
autonomia de execução da empresa contratada, e; inexistência de exclusividade entre
as empresas.ok
Esse contrato é muito utilizado na indústria têxtil, de chocolate e jóias, sendo que ao
longo do tempo, muitas empresas renomadas foram envolvidas em escândalos de
trabalho escravo e/ou tratamento desumano dos trabalhadores empregados em
empresas fornecedoras de suas matérias primas contratadas por meio do contrato de
facção.
São situações que envolvem não só a natureza laboral da relação, como também
princípios de direitos humanos, que desde a remota época babilônica foi garantido
pelo cilindro de Ciro que, dentre outras declarações, condenou o trabalho forçado
(escravo). Na linha do que a questão pedia.
Para a OIT, o trabalho decente tem quatro pilares fundamentais: os direitos e
princípios fundamentais do trabalho, a promoção do emprego de qualidade, a
extensão da proteção social e o diálogo social. Bom argumento!
Juridicamente, há proteção do trabalhador terceirizado, podendo tanto a empresa
tomadora de serviços quanto a contratante serem penalizadas em caso de
descumprimento de algum dos pilares do trabalho decente. O mesmo não se observa
no contrato de facção, tendo em vista, especialmente, a autonomia de execução pela
empresa contratada, bem como o espaço físico da execução das atividades ser em
local determinado pela empresa contratada, com ausência de exclusividade.
Para que haja responsabilidade subsidiária, a doutrina e jurisprudência precisam que
se configure o erro in vigiando e in eligendo, o que não ocorre nesse contrato, pois a
atividade da contratada ocorre de forma autônoma, independente e sem ingerência da
contratante.
Portanto, ainda que a empresa contratada descumpra direitos humanos (e
fundamentais), não há como responsabilizar juridicamente a empresa contratante. Eu
trocaria toda essa fala por algo assim: “Malgrado a jurisprudência pacífica do TST
entenda pela licitude dos contratos de facção, é lícito ao magistrado, em caso de
verificação casual de fraude (9°, da CLT), emprestar nova qualificação jurídica à
questão, à luz do princípio da primazia da realidade.”
Entende o STF ser lícita a terceirização ou qualquer outra forma de divisão do trabalho
entre pessoas jurídicas distintas, independentemente do objeto social das empresas
envolvidas, mantida a responsabilidade subsidiária da empresa contratante. Já falamos
disso!
A Súmula 331 do TST informava que a contratação irregular de trabalhador, mediante
empresa terceirizada, não gera vínculo de emprego com os órgãos da Administração
Pública direta, indireta ou fundacional. Ok, mas não era o foco. Contudo, os entes
integrantes da Administração Pública direta e indireta respondem subsidiariamente
caso evidenciada a sua conduta culposa no cumprimento das obrigações da Lei n.º
8.666, de 21.06.1993, especialmente na fiscalização do cumprimento das obrigações
contratuais e legais da prestadora de serviço como empregadora. Prova por
amostragem (37, da Lei 9784), comprovada mediante a apresentação, pela AP, das
certidões de regularidade fiscal, trabalhista e previdenciária. A aludida
responsabilidade não decorre de mero inadimplemento das obrigações trabalhistas
assumidas pela empresa regularmente contratada. Não é automática – ADC 16/STF.
Tal entendimento segue inalterado, tendo em vista que a declaração de licitude da
terceirização não desvincula a Administração Pública do princípio da legalidade, que
para a Administração Pública significa a realização de atos conforme comando legais.
Após o julgamento, chegou-se à seguinte tese de repercussão geral aprovada no RE
(STF:2018)2: “É licita a terceirização ou qualquer outra forma de divisão do trabalho
entre pessoas jurídicas distintas, independentemente do objeto social das empresas
envolvidas, mantida a responsabilidade subsidiária da empresa contratante”.
Certamente você não conseguirá fazer isso em prova. Devemos ter o cuidado de
adotar, no treino, exatamente as condições da prática. Tudo o que grifei de amarelo
não precisava constar de sua resposta. A objetividade de jogaria la na frente em
relação à nota. Pecamos pela falta de alguns argumentos, bem como pelo excesso de
linhas. Atribuo 50%.
CANDIDATO 5
No geral, o item “a” ficou raso. Faltou falar sobre malbaratamento, dissociação salarial
e sindical, precarização, cosificação do trabalhador e, para arrematar, enxugamento de
empresa.
No que tange ao contrato de facção, esse se trata de contrato de natureza
essencialmente civil ou comercial. Comumente empregado na indústria têxtil, visa a
entrega de produtos finalizados pela contratada à contratante, a fim de que esta venha
a utilizá-los em sua cadeia produtiva. Assim, ao contrário da terceirização, não há que
se falar em cessão de mão de obra. Os trabalhadores, em especial, prestam serviços na
própria dependência da empresa contratada, que, por sua vez, exerce sua atividade
autonomamente, e sem exclusividade. TST valida!
No que tange à Administração Pública, a regra contida no artigo 71, parágrafo 1º, da
Lei de Licitações (Lei 8.666/1993) consagra a não responsabilização subsidiária por
créditos trabalhistas decorrentes de contratos de terceirização. Mas, conforme
entendimento do E. STF ADC 16, essa regra poderá ser afastada, casuisticamente, nos
casos em que demonstrada inércia do ente público em obstar o reiterado
descumprimento das obrigações contratuais e legais da prestadora de serviço
enquanto empregadora. Também achei raso. Faltou falar da necessidade de
fiscalização por intermédio de exigência de certidões e regularidade fiscal,
previdenciária, trabalhista e de FGTS, na forma do artigo 37, da Lei 9784 (prova por
amostragem). Resposta no caminho certo. Faltou pouquíssimo para o 6. Talvez se você
tivesse falado sobre algum dos pontos que destaquei, verticalizando um pouco mais a
sua resposta, a aprovação viesse. Para esta, atribuo 57,5%. Vamos firmes!
CANDIDATO 6
A terceirização teve sua origem nos EUA após a 2ª Guerra Mundial, sendo um
processo de transferência de algumas atividades de uma empresa para outra
empresa (atividade meio ou fim). No Brasil, por muitos anos, sua previsão se
limitou a S. 331 do C. TST, que proibia a terceirização na atividade fim.
Considerando este início, seria legal falar que o TST editou a S.331 ante a falta de
um patamar civilizatório mínimo sobre o tema, de modo que, ao fazê-lo, não
teve a intenção de substituir o legislador, mas tão somente apresentar uma
interpretação sistemático-teleológica do ordenamento sobre o instituto da
terceirização. Porém, em 2017 foi promulgada a Lei 13.429 que altera a Lei
6.019/74 (que antes apenas tratava do trabalho temporário), inserindo a
previsão do trabalho terceirizado e seus parâmetros legais. Para mim, isso já
matava um item importante do primeiro questionamento. Não precisava de uma
introdução separada.
Minhas percepções foram: início irreparável, meio com omissão e fim sem força
e com fundamentação rasa. Fiquei animado no início da correção, mas ao longo
dela fui lamentando, eis que tinha tudo para conseguir uma super nota. Mas, o
momento aqui é de aprender. Vamos firmes. Atribuo 50%.
CANDIDATO 7
b) Sob a ótica do trabalho decente e do cilindro de Ciro, faça uma crítica sobre
contrato de facção.
O contrato de facção (de natureza civil ou comercial) não tem por escopo a
prestação de serviços ou a interferência na mão-de-obra, propondo-se, apenas, à
pactuação com terceiros para o fornecimento de produtos prontos e acabados. TST
chancela a prática, mas deixa a salvo os casos de fraude, à luz do 9°, da CLT.
Entretanto, se este instituto jurídico for utilizado como mero fornecimento de
mão-de-obra ou terceirização de serviços, poderá ser declarada a responsabilidade
subsidiária da tomadora de serviços pelos débitos trabalhistas e até mesmo o vínculo
empregatício com esta (caso presentes os requisitos caracterizadores da relação
empregatícia – arts. 2º e 3 e 9° da CLT). Isso mesmo!
O que é cilindro de ciro? Primeira carta de direitos fundamentais da história.
Tutelou, especialmente, a liberdade, além de outro direitos.
MATERIAL DE APOIO
Vasto material em pdf na pasta de apoio (APOIO CRONOGRAMA).
Lei da Terceirização não se aplica a contratos encerrados antes de sua vigência
A Subseção 1 Especializada em Dissídios Individuais (SDI-1) do Tribunal Superior do
Trabalho decidiu, nesta quinta-feira (3), que, nos contratos de trabalho celebrados e
encerrados antes da entrada em vigor da Lei 13.429/2017 (Lei das Terceirizações),
prevalece o entendimento consolidado na Súmula 331, item I, do TST, no sentido de
que a contratação de trabalhadores por empresa interposta é ilegal, formando-se o
vínculo diretamente com o tomador dos serviços.
Decisão
(Carmem Feijó)
Processo: ED-E-ED-RR-1144-53.2013.5.06.0004
RESPONSABILIDADE DA ADMINISTRAÇÃO
Pessoal, em sentença, costumo decidir de acordo com a jurisprudência do TST, mas
com breves citações de entendimentos do STF:
Tanto é verdade que o próprio contexto dos autos leva a crer pela
incúria do Estado de Goiás, que manteve contrato com empresa que, no curso da
prestação de serviços, abriu processo de falência.
Voto vencedor
O ministro Luiz Fux, autor do voto vencedor, lembrou, ao votar na sessão de 8/2, que a
Lei 9.032/1995 introduziu alterações no parágrafo 71 da Lei de Licitações para prever a
responsabilidade solidária do Poder Público sobre os encargos previdenciários. “Se
quisesse, o legislador teria feito o mesmo em relação aos encargos trabalhistas”,
afirmou. “Se não o fez, é porque entende que a Administração Pública já afere, no
momento da licitação, a aptidão orçamentária e financeira da empresa contratada”.
Relatora
O voto da relatora, ministra Rosa Weber, foi no sentido de que cabe à Administração
Pública comprovar que fiscalizou devidamente o cumprimento do contrato. Para ela,
não se pode exigir dos terceirizados o ônus de provar o descumprimento desse dever
legal por parte do tomador de serviço, beneficiado diretamente pela sua força de
trabalho.