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ESCOLHA DAS FORRAGEIRAS E QUALIDADE DE SEMENTES

Ademir Hugo Zimmer1


Jaqueline Rosemeire Verzignassi2
Valdemir Antonio Laura3
Cacilda Borges do Valle4
Liana Jank5
Manuel Claudio Motta Macedo6

INTRODUÇÃO

Dos mais de 100 milhões de ha de pastagens cultivadas no Brasil, mais de 70% são do
gênero Brachiaria e, na região dos cerrados, com 60 milhões de ha, 85% são deste gênero, 12%
de Panicum e o restante outros gêneros (Macedo, 2005). Pode-se inferir, então, que no Brasil são
cultivados mais de 70 milhões de hectares de pastagens de braquiárias e mais de 90% desta área
é ocupada por duas espécies, B. brizantha e B. decumbens, com predominância ampla de duas
cultivares, a Marandu e a Basilisk e, mais recentemente, a Xaraés.

ESCOLHA DA FORRAGEIRA

As forrageiras têm potenciais distintos de adaptação nos diferentes ecossistemas e são


diversos os fatores que caracterizam cada um deles. Portanto, a escolha da forrageira, além de
considerar os aspectos produtivos desejados, deve recair sobre aquelas adaptadas às condições
de clima e solo do local. Além disso, é muito importante promover a diversificação de espécies e,
com isso, minimizar os riscos ambientais e atender as demandas das diferentes categorias
animais normalmente presentes na propriedade rural.
As condições de solo podem ser modificadas pela calagem e adubação, possibilitando o
cultivo de forrageiras mais exigentes em solos deficientes. Já, as condições de clima dificilmente
podem ser controladas. Apenas a irrigação pode suprir o déficit hídrico em algumas
circunstâncias, mas é um processo de custo elevado e nem sempre eficiente, pois depende da
forrageira responder favoravelmente a todas as outras condições ambientais.
Nas condições tropicais, para cada tipo de ambiente existe uma forrageira com melhor
potencial de adaptação e capacidade de produção. Na Tabela 1 são apresentadas as
características de quatro ecossistemas tropicais típicos e a adaptação ou não de gramíneas e
leguminosas forrageiras a eles. Esses resultados são uma súmula de muitas avaliações em rede
coordenadas pelo Centro Internacional de Agricultura Tropical (CIAT), localizado na Colômbia, em
parceria com instituições nacionais de vários países latino-americanos (Miles & Lapointe, 1992).
Tais informações comprovam o grande potencial de adaptação das gramíneas nos
diversos ecossistemas, o que explica a utilização de cultivares de Brachiaria em mais de 70% das
áreas de pastagens no Brasil e, também, de algumas cultivares de Panicum (cv. Tanzânia,
Mombaça e Massai) nas mais variadas condições. Já, entre as leguminosas, todas apresentam
alguma restrição quanto à adaptação aos ecossistemas. Isto contribui para a sua utilização mais
restrita e é importante que seja considerada nos programas de seleção e melhoramento dessas
espécies.
As características de Mato Grosso do Sul são as típicas dos Cerrados, com altitude de 530
m, temperatura média de 24°C, precipitação de 1.550 mm e com pelo menos três meses de seca.
A adaptação das diversas espécies é boa, mas diferenciam-se principalmente em função do
balanço hídrico de região. Na Figura 1 encontram-se as características para um Latossolo com
textura argilosa, com capacidade máxima de retenção de água de 75 mm, em Campo Grande,

1
Pesquisador da Embrapa Gado de Corte. Correio eletrônico: zimmer@cnpgc.embrapa.br
2
Pesquisador da Embrapa Gado de Corte. Correio eletrônico: jaqueline@cnpgc.embrapa.br
3
Pesquisador da Embrapa Gado de Corte. Correio eletrônico: valdemir@cnpgc.embrapa.br
4
Pesquisador da Embrapa Gado de Corte. Correio eletrônico: cacilda@cnpgc.embrapa.br
5
Pesquisador da Embrapa Gado de Corte. Correio eletrônico: liana@cnpgc.embrapa.br
6
Pesquisador da Embrapa Gado de Corte. Correio eletrônico: macedo@cnpgc.embrapa.br
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MS. Pode-se observar que, para precipitação total anual aproximada de 1.500 mm, tem-se
excedente de água entre outubro e maio e déficit entre maio e setembro. Essa marcante
sazonalidade na disponibilidade de água, causada pelo desequilíbrio entre precipitação e
evaporação, associada à baixa fertilidade do solo que restringe o crescimento de raízes, e o fato
de que podem ocorrer também períodos prolongados de estiagem em janeiro e fevereiro,
conhecidos como veranicos, exige das plantas cultivadas um alto grau de adaptação.

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TABELA 1. Características ambientais dos sítios de seleção com suas respectivas espécies promissoras.
Ambientes
Local Carimágua, Colômbia Planaltina-DF, Brasil Atenas, Costa Rica Pucalpa, Peru
Ecossistema Savana isohipotérmica Savana isotérmica Trópico subúmido Trópico úmido
Altitude (m) 200 1.000 200 250
Temperatura (°C) 26,5 24,0 23,7 26,4
Precipitação (mm) 2.240 1.587 1.600 2.040
No meses secos 5 6 5 2
Solo Oxisol Oxisol Inceptisol Ultisol
Gramíneas
Andropogon gayanus + + + +
Brachiaria brizantha + + + +
Brachiaria decumbens + + + +
Brachiaria dictyoneura + - + +
Brachiaria humidicola + - + +
Panicum maximum + + + +
Leguminosas
Arachis pintoi + - - +
Calopogonium mucunoides - + - -
Desmodium ovalifolium + - - +
Leucaena leucocephala - - + -
Pueraria phaseoloides + - - +
Stylosanthes capitata + + - -
Stylosanthes guianensis var. Pauciflora + + - -
Stylosanthes guianensis var. Vulgaris - + + +
+ = adaptada ao ecossistema
- = não adaptada ao ecossistema
Fonte: Miles & Lapointe (1992).

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O gênero Brachiaria, segundo Valle et al. (2000), é considerado pantropical, com o seu
centro de origem e diversidade na África. Muitas espécies de braquiárias são extensivamente
utilizadas nas regiões de Savanas e em regiões de florestas tropicais na alimentação de
ruminantes. Algumas das espécies mais utilizadas e suas principais características são
apresentadas na Tabela 2 a seguir.

Tabela 2. Principais atributos positivos das espécies de Brachiaria.


Espécies Atributos positivos Atributos negativos
B. decumbens Alta produtividade sob uso intensivo, Suscetibilidade à cigarrinha-das-pastagens,
tolerância a baixa fertilidade, boa baixa adaptação a solos mal drenados,
performance sob sombra, boa qualidade suscetibilidade à podridão foliar fúngica,
forrageira ocorrência de fotossensibilização hepatógena
B. brizantha Alta resistência à cigarrinha-das- Baixa adaptação a solos mal drenados,
pastagens, alta resposta à aplicação de resistência moderada a seca, necessidade
fertilizantes, alta habilidade de cobertura de solos medianamente férteis para
do solo com domínio sobre invasoras, persistência a longo prazo, suscetibilidade
boa qualidade forrageira, alta produção à mancha foliar fúngica
de raízes e de sementes
B. humidicola Hábito estolonífero com grande Baixa produção de sementes, baixa
habilidade de enraizamento nos digestibilidade da matéria seca, baixa
entrenós, adaptação a solos de baixa concentração de N e Ca na forragem,
fertilidade, habilidade de cobertura do suscetibilidade à ferrugem foliar, ocorrência
solo com domínio sobre invasoras, de "cara inchada" em eqüinos
adaptação a solos mal drenados, baixo
requerimento de P e Ca, tolerância à
cigarrinha-das-pastagens
B. ruziziensis Rápido crescimento no início da estação Necessidade de solos bem drenados e de
chuvosa, compatibilidade com mediana fertilidade, alta suscetibilidade à
leguminosas, alto potencial de produção cigarrinha-das-pastagens e à mancha foliar
de sementes, facilidade de fúngica, baixa competição com invasoras
estabelecimento, boa qualidade
forrageira
B. mutica Boa adaptação a solos mal drenados Baixa qualidade forrageira quando madura,
baixa performance com leguminosas em
geral
B. arrecta Adaptada a solos mal drenados Baixa adaptação a solos de baixa
fertilidade, suscetível à cigarrinha-das-
pastagens, pode apresentar níveis altos de
nitrato na forragem
Fonte: Extraído e adaptado de Rao et al. (1996).

As forrageiras do gênero Brachiaria apresentam características distintas, pois são varias


as espécies e mesmo cultivares de uma mesma espécie e estas apresentam características
variadas, como descrito a seguir e nas figuras 1, 2 e 3.

B. brizantha

cv. Marandu - Características diferenciadoras: plantas robustas com tendência ao intenso


perfilhamento nos nós superiores dos colmos floríferos; presença de pelos na porção apical dos
entrenós, bainhas pilosas e lâminas largas e longas com pubescência apenas na face ventral,
glabras na face dorsal e com margens não cortantes; raque sem pigmentação arroxeadas e
espiguetas ciliadas no ápice. Florescimento no fim do verão.

cv. La Libertad MG4 - Algumas características dessa cultivar a diferenciam da cv. Marandu, como
ausência de pelos na porção apical dos entrenós, as bainhas glabras com margens denticuladas e
a raque estriada de cor arroxeada e verde.

cv. Xaraés - enraizamento nos nós basais; mais alta que a cv. Marandu. Bainhas com pêlos
claros, ralos. Folha mais larga (com até 64 cm de comprimento e 3 cm de largura) Inflorescência

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com até 7 rácemos quase horizontais, com pêlos junto às ramificações. O florescimento é tardio,
ocorrendo em meados do outono (maio).

cv. Piatã – planta de altura média, como cv. Marandu. Bainhas com pêlos claros, pouco
densos.Folha com até 45 cm de comprimento e 1,8 cm de largura, áspera na face superior,
bordos muito ásperos (cortantes). Inflorescência com até 12 rácemos quase horizontais, com
pêlos longos claros. O florescimento é precoce e ocorre no início do verão (janeiro-fevereiro).

B. decumbens

cv. Basilisk - planta semi-ereta, até 1 m de altura com colmos geniculados, e enraizando nos nós.
Tem rizomas pequenos e duros. Bainhas estriadas e densamente pilosas. Folha lanceolada com a
ponta em forma de quilha, 10-25 cm de comprimento, 1,5 cm de largura. Inflorescência com 2-5
rácemos. O florescimento ocorre em dias longos de verão (janeiro-fevereiro) com maturação e
colheita no cacho a partir de fevereiro-março.

B. humidicola

cv. comum – planta semi-ereta, com estolões longos, roxos, fortemente radicantes nos nós e
ramificando em novas plantas. Colmos decumbentes, radicante nos nós. Folhas lineares,
semicoriáceas, 10-30 cm de comprimento e 0,5 a 1,0 cm de largura, folhas dos estolões
lanceoladas, 2 a 12 cm de comprimento e 0,8 a 1,2 de largura; inflorescência com 1 a 4 rácemos
de 3 a 5 cm de comprimento. Anteras roxas. O florescimento é concentrado e ocorre no início do
verão (dezembro-janeiro).

cv. Llanero – planta estolonífera, com estolões longos, de cor arroxeada. As folhas nos estolões
são de 4 a 6 cm de comprimento e 0,8 de largura. Folhas nos colmos eretos de cor arroxeada, 20
a 40 cm de comprimento e 8 mm de largura. A inflorescência tem 3 a 4 rácemos de 4 a 6 cm de
comprimento. O florescimento ocorre no início do verão (dezembro-janeiro).

cv. Tupi – Aspecto da planta muito parecida com Llanero mas a evidente pilosidade das
espiguetas, macia ao tato, e a coloração amarelada das anteras a distingue facilmente da B.
humidicola comum. Florescimento intenso e concentrado no início do verão.
B. ruziziensis

cv. Kennedy é uma planta perene, 1 m de altura, com rizomas curtos, robustos, globosos. Colmos
geniculados, decumbentes, radicante nos nós inferiores. Folha de 10-30 cm de comprimento, 10-
15 mm de largura, pilosa em ambas as faces Inflorescência com 3-7 (as vezes até 9) ramos, com
raque alada, de 5 mm de largura, envolvendo a base da espigueta. Florescimento sincronizado e
concentrado no final do verão.

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Figura 1 – Inflorescências típicas das cultivares Marandu, Basilisk, comum e Kennedy

Figura 2 – Inflorescências de B. brizantha cv. Piatã, Marandu e Xaraés

Figura 3 – Raquis B. humidicola cv. Tupi a esquerda e Comum à direita

Cada uma destas forrageiras apresenta diversos atributos agronômicos positivos ou negativos, o
que possibilita a escolha de locais mais apropriados para o seu cultivo e utilização mais adequada
a cada cultivar, como consta na Tabela 3.

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Tabela 3 – Resumo das características agronômicas de maior relevância das cultivares de
Brachiaria.
Espécies Atributos positivos Atributos negativos
B. brizantha cv. Fácil estabelecimento, resistência às Baixa adaptação a solos mal drenados e
Marandu cigarrinhas tipícas de pastagens, alta de baixa fertilidade, rebrota lenta,
resposta à aplicação de fertilizantes, boa necessita adubação de reposição para
cobertura do solo com domínio sobre persistência a longo prazo,
invasoras, boa performance sob sombra, suscetibilidade à mancha foliar fúngica
boa qualidade forrageira, alta produção de (Rhizoctonia) e podridão de raízes.
sementes.
cv. La Libertad Facilidade de estabelecimento, boa Menor produtividade, valor nutritivo e
adaptação a solos arenosos e de média menor resistência às cigarrinhas típicas
fertilidade, rebrota rápida, boa de pastagens do que a cv. Marandu
compatibilidade com leguminosas por ser
menos agressiva que cv. Marandu.
cv. Xaraés Fácil estabelecimento, alta produtividade Menor resistência às cigarrinhas mais
de folhas, alta capacidade de suporte, comuns em pastagens, média
enraíza nos nós proporcionando boa adaptação a solos mal drenados e de
cobertura do solo com domínio sobre baixa fertilidade, susceptível à mela-das-
invasoras, rebrota rápida, boa resposta à sementes (Claviceps sucata) por ter
aplicação de fertilizantes, florescimento florescimento tardio.
tardio prolongando qualidade da forragem
até o outono.
cv. Piatã Fácil estabelecimento, florescimento Susceptibilidade ao carvão das
precoce e concentrado, alta produtividade sementes (Ustilago operta),
de folhas, alta taxa de crescimento e moderadamente resistente à ferrugem
acúmulo de forragem sob pastejo, bom causada por Puccinia levis var. panici-
valor nutritivo no período seco, resistência sanguinalis, média adaptação a solos
às cigarrinhas típicas de pastagens, alta mal drenados.
resposta à aplicação de fertilizantes.
B. decumbens Fácil estabelecimento, tolerância a baixa Suscetibilidade a cigarrinhas típicas de
cv. Basilisk fertilidade, alta produtividade sobre uso pastagens, baixa adaptação a solos mal
intensivo, bom crescimento sob sombra, drenados, suscetibilidade à podridão
boa qualidade forrageira foliar fúngica, difícil erradicação pelo
acúmulo de sementes viáveis no solo,
pode provocar fotossensibilização
hepatógena em bovinos.
B. humidicola Boa cobertura do solo e domínio sobre Estabelecimento lento, baixa
comum invasoras devido ao hábito estolonífero e digestibilidade da matéria seca, baixa
grande habilidade de enraizamento nos concentração de N e Ca na forragem,
entrenós, adaptação a solos de baixa boa hospedeira para cigarrinhas,
fertilidade, adaptação a solos mal suscetibilidade à ferrugem foliar
drenados, baixo requerimento de P e Ca, (Puccinia levis var. panici-sanguinalis),
tolerância a cigarrinha das pastagens, boa dormência prolongada das sementes,
capacidade de consórcio com Arachis ocorrência de "cara inchada" em eqüinos
pintoi (amendoim forrageiro) sem suplementação de fósforo.
cv. Llanero Boa adaptação a solos de baixa Estabelecimento lento, dormência
fertilidade, boa adaptação a solos mal prolongada nas sementes, menor
drenados, melhor valor nutritivo do que B. enraizamento dos estolões do que B.
humidicola comum, boa capacidade de humidicola comum, e menor vigor e
consórcio com Arachis pintoi (amendoim produção de sementes.
forrageiro) e kudzu.
cv. Tupi Estabelecimento mais rápido e maior Boa hospedeira de cigarrinhas-das-
produtividade do que a comum e cv. pastagens apesar de não mostrar danos
Llanero, boa cobertura do solo e domínio severos, ocorrência de dormência nas
sobre invasoras, adaptação a solos de sementes por cerca de oito meses.
baixa fertilidade, adaptação a solos mal
drenados, boa resposta a Ca e P até 45%
de saturação por bases, valor nutritivo
superior a comum, boa capacidade de
consórcio com Arachis pintoi
B. ruziziensis cv. Rápido crescimento no início da estação Necessidade de solos bem drenados e
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Kennedy chuvosa, compatibilidade com de mediana fertilidade, alta
leguminosas, alto potencial de produção suscetibilidade às cigarrinha típicas de
de sementes, facilidade de pastagens e à mancha foliar fúngica,
estabelecimento, excelente qualidade baixa competição com invasoras, pouca
forrageira, florescimento concentrado e tolerância à seca.
alta produção de sementes, boa
alternativa para plantio direto pela rapidez
de estabelecimento, qualidade da matéria
seca e facilidade de dessecação por
herbicidas.

As forrageiras do gênero Panicum, mais comumente utilizadas são da espécie P.


maximum, portanto a sua variabilidade morfológica é menor do que das braquiarias, entretanto
entre a varias cultivares de Panicum disponíveis no mercado existem diferenças consideráveis.

Cultivar Mombaça

A cv. Mombaça foi coletada pelo ORSTOM em 1967 entre Korogwe e Tanga na Tanzânia sob o
número ORSTOM K190. Foi introduzida no Brasil em 1984 com o germoplasma do ORSTOM,
recebendo o registro BRA-006645. Foi selecionada inicialmente na Embrapa Gado de Corte
(CNPGC) e lançada comercialmente em 1993 por esta instituição de pesquisa, Instituto
Agronômico do Paraná (IAPAR) e parceiros (Embrapa, 1993).

Caracterização morfológica: A cv. Mombaça é uma planta cespitosa de porte alto (em torno de 1,7
m), com folhas largas (em torno de 3 cm) e eretas quebrando nas pontas. As folhas apresentam
pouca pilosidade, sendo os pêlos curtos e duros. Os colmos são glabros e sem cerosidade
(Tabela 4). As inflorescências são do tipo panícula. As ramificações primárias na base da
inflorescência são curtas e as secundárias são longas ocorrendo apenas nas ramificações
primárias inferiores. As espiguetas são glabras, distribuídas uniformemente pelas ramificações e
apresentam poucas manchas roxas. O verticilo é piloso.

Produção de forragem e estacionalidade de produção: A cv. Mombaça produziu 165 t.ha.ano-1 de


massa verde, 41 t.ha.ano-1 de massa seca com 82% de folhas, sendo 33 t.ha.ano-1 de massa seca
de folhas em latosolo vermelho escuro adubado (Jank, 1995; Jank et al., 1994; Jank et al., 1997;
Savidan et al., 1990) (Tabela 5). Na estação seca, sua produção foi 11% da produção anual. Após
os cortes, a intensidade de rebrotação foi de 2,9, em uma escala de 0 (sem rebrota) a 5 (todos
perfilhos rebrotados). A produção de sementes foi de 72 kg.ha.ano-1. Sua seleção foi devido à
produção 96% maior de massa verde, 136% maior de massa seca de folhas, 32% maior
porcentagem de folhas, 71% melhor rebrotação e 224% menor estacionalidade de produção em
comparação a cv. Colonião.

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Cultivar Tanzânia

A cv. Tanzânia foi coletada pelo Office de la Recherche Scientifique et Technique d'Outre-Mer
(ORSTOM) em 1969 entre Korogwe e Kilosa na Tanzânia sob o número ORSTOM T58. Foi
introduzida no Brasil em 1984 com o germoplasma do ORSTOM recebendo o registro
BRA007218. Foi inicialmente selecionada pela Embrapa Gado de Corte em Campo Grande, MS e
foi lançada comercialmente em 1990 pela Embrapa Gado de Corte e parceiros (Embrapa, 1990).

Caracterização morfológica: A cv. Tanzânia é uma planta cespitosa de porte médio (em torno de
1,2 m) com folhas médias (em torno de 2,6 cm) e curvadas (Tabela 4). As folhas (lâmina e bainha)
glabras. Os colmos não apresentam cerosidade. As inflorescências são do tipo panícula. As
ramificações primárias na base da inflorescência são curtas e as secundárias são longas
ocorrendo apenas nas ramificações primárias inferiores (Figura 5). As espiguetas são glabras,
distribuídas uniformemente pelas ramificações e apresentam muitas manchas roxas o que confere
às inflorescências uma aparência arroxeada. O verticilo é glabro.

Produção de forragem e estacionalidade de produção: A cv. Tanzânia produziu 132 t.ha.ano-1 de


massa verde, 33 t.ha.ano-1 de massa seca com 80% de folhas, sendo 26 t.ha-1.ano de massa seca
de folhas em solo latosolo vermelho escuro adubado (Jank, 1995; Jank et al., 1994; Jank et al.,
1997; Savidan et al., 1990) (Tabela 5). Na estação seca, sua produção foi 10,5 % da produção
anual. Após os cortes, a intensidade de rebrotação foi de 3, em uma escala de 0 (sem rebrota) a 5
(todos perfilhos rebrotados). A produção de sementes foi de 132 kg.ha.ano-1). Sua seleção foi
devido à produção 57% maior de massa verde, 86% maior de massa seca de folhas, 29% maior
porcentagem de folhas, 76% melhor rebrotação, 32% maior produção de sementes e 200% menor
estacionalidade de produção que a cv. Colonião.

O capim-tanzânia, como a maioria das forrageiras tropicais, apresenta considerável


estacionalidade de produção, tendo maior acúmulo de massa quando há disponibilidade hídrica.
Cecato et al. (1996) registraram produção de 7.441 kg MS.ha-1 e 2.711 kg MS.ha-1, nos cortes de
verão (35 dias) e inverno (70 dias).

Cultivar Massai

A cv. Massai foi coletada pelo ORSTOM em 1969 entre Dar es Salaam e Bagamoyo na Tanzânia
sob o número ORSTOM T21 (Figura 1). Foi introduzida no Brasil em 1984 com o germoplasma do
ORSTOM, recendo o registro BRA007102. Foi inicialmente selecionada pela Embrapa Gado de
Corte em Campo Grande, MS e foi lançada comercialmente em 2001 pela Embrapa Gado de
Corte e parceiros (Embrapa, 2001).

Caracterização morfológica: A cv. Massai é uma planta cespitosa de porte baixo (em torno de 0,6
m), com folhas estreitas (em torno de 0,9 cm) e eretas quebrando nas pontas (Tabela 4). As
lâminas foliares e as bainhas apresentam média pilosidade, sendo os pêlos curtos e duros. Os
colmos não apresentam cerosidade (Figura 6). As inflorescências são do tipo intermediárias entre
uma panícula e um rácemo, típicos de híbridos entre P. maximum e P. infestum (Figura 7). As
ramificações primárias na base da inflorescência são curtas e as secundárias são ausentes. As
espiguetas são pilosas, distribuídas uniformemente pelas ramificações e apresentam quantidade
média de manchas roxas. O verticilo é piloso.

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Produção de forragem e estacionalidade de produção: A cv. Massai produziu 59 t.ha-1.ano de
massa verde, 19 t.ha-1.ano de massa seca com 80,4% de folhas, sendo 15,6 t.ha-1.ano de massa
seca de folhas em solo latosolo vermelho escuro adubado (Jank, 1995; Jank et al., 1994; Jank et
al., 1997; Savidan et al., 1990) (Tabela 5). Na estação seca, sua produção foi 7,2 % da produção
anual. Após os cortes, a intensidade de rebrotação foi de 3, em uma escala de 0 (sem rebrota) a 5
(todos perfilhos rebrotados). A produção de sementes foi de 85 kg.ha.ano-1). Sua seleção foi
devido à produção a abundância de perfilhos com alta quantidade de folhas e a produção 11%
maior que a do capim-colonião com porte médio 60% menor.

Cultivar Aruana

A cultivar Aruana é também originária do continente africano e foi trazida por Dr. Jorge Ramos de
Otero e lançada pelo Instituto de Zootecnia em Nova Odessa (IZ), São Paulo em 1989.

Descrição morfológica: Gramínea perene, entouceirada com crescimento cespitoso, com touceiras
eretas e abertas de porte médio, entre 70 e 90 cm de altura, sendo, assim como o capim-massai a
menor cultivar de P. maximum existente no mercado. Não apresenta cerosidade. Apresenta
colmos finos e bainha foliar levemente pilosos. Apresenta excelente capacidade de perfilhamento
formando boa cobertura de solo. Por seu menor porte tem sido bastante utilizada em sistemas de
produção de ovinos. As folhas são estreitas de coloração verde escuro e as lâminas apresentam
pêlos curtos, macios e abundantes. Inflorescência do tipo panícula, mas com tamanho reduzido e
proporcional ao menor porte quando comparado às de outras cultivares de P. maximum.

Características agronômicas: Vegeta bem em solos arenosos e profundos. Exigente em fertilidade


do solo, principalmente quanto ao fósforo na implantação. Não resiste ao encharcamento ou
alagamento, vegetando melhor em solos bem drenados. Apresenta razoável resistência a seca e
não tolera geada, se adaptando bem em locais onde a precipitação pluvial é acima de 800 mm por
ano. Apresenta média resistência a cigarrinhas-das-pastagens. A cultivar Aruana é bastante
resistente ao pastejo, apresentando boa capacidade de recuperação após o fogo ou geada.
Consorcia-se bem com calopogônio, estilosantes e soja perene.
Propaga-se por sementes. A semeadura deve ser feita normalmente no início da estação
chuvosa, podendo ser realizada a lanço, em linhas, aéreo ou em covas. Recomenda-se em torno
de 3 a 5 kg.ha-1 com valor cultural de 30%.

Tabela 4 - Características morfológicas de algumas cultivares de P. maximum.

Característica Tanzânia Mombaça Tobiatã Colonião Massai


Altura da planta (m) 1,2 1,7 1,6 1,4 0,6
Largura das folhas (cm) 2,7 3,0 4,6 2,9 0,9
Manchas roxas nas
muitas poucas muitas média média
espiguetas
Pilosidade na lâmina foliar ausente pouca pouca ausente média
Pilosidade na bainha foliar ausente ausente muita ausente média
Cerosidade nos colmos ausente ausente ausente presente ausente
Tipo das folhas curvada quebradiça quebradiça eretas quebradiça

31
Tabela 5. Características agronômicas de algumas cultivares de P. maximum.
Característica Tanzânia Mombaça Tobiatã Colonião Massai
Produção de massa verde (t.ha-1) 132 165 153 84 59
Produção de massa seca de folhas (t.ha-1) 26 33 27 14 16
Porcentagem de folhas 80 82 81 62 80
Rebrota após cortes (nota 0-fraca a 5-máx) 3,0 2,9 2,7 1,7 3,1
Produção de sementes (kg.ha-1) 132 72 40 100 85
% crescimento na seca 10,5 11 12 3,4 7,2
% perda sem adubação 21 24 27 50 52
% perda no segundo ano 48 45 54 65 68

DIVERSIFICAÇÃO

O objetivo de diversificar as pastagens na propriedade e numa determinada região é


basicamente melhorar a produção e minimizar os riscos com fatores adversos.
Um dos fatores mais importantes na adaptação de forrageiras e o balanço hídrico, que
para a região dos Cerrados está representado na Figura 4, no qual utilizou-se um Latossolo com
textura argilosa, com capacidade máxima de retenção de água de 75 mm, em Campo Grande,
MS. Pode-se observar que para uma precipitação pluvial total anual de aproximadamente 1.500
mm, tem-se um excedente de água entre outubro e maio e um déficit entre maio e setembro. Esta
marcante sazonalidade na disponibilidade de água, causada pelo desequilíbrio entre precipitação
e evaporação, e associada ao fato de que podem ocorrer também longos períodos de estiagem
em janeiro e fevereiro, conhecidos como veranicos, e a baixa fertilidade do solo que restringe o
crescimento de raízes, exige das plantas cultivadas um alto grau de adaptação. As braquiárias,
dentre as espécies forrageiras cultivadas e mais utilizadas nessa região, têm apresentado uma
alta capacidade de adaptação e ocupam uma área considerável, de aproximadamente 55 milhões
de hectares, onde são as principais responsáveis pela alimentação do rebanho bovino em pasto.

FIGURA 4. Balanço hídrico de um Latossolo argiloso na região dos Cerrados, Campo Grande,
MS, com base no período de 1973 a 1998.(P = precipitação e EP= evapotranspiração).
Fonte: Macedo (2000).

Um exemplo de adaptação edafoclimática das espécies de Brachiaria pode ser notado com
os resultados apresentados na Figura - 2, onde Bono & Macedo (citados por Valle, 2000)
observaram que em Latossolo Vermelho Escuro argiloso sob pastagens de B. decumbens cv.
Basilisk e B. brizantha cv. Marandu, apresentavam maior quantidade de água disponível que o
mesmo solo sob as cultivares Tanzânia-1 e Tobiatã de Panicum maximum, após três anos de
pastejo. Esses resultados foram observados em função da maior cobertura de solo pelas
32
braquiárias, maior volume dos seus sistemas radiculares e maior porosidade do solo. Com a
queda de fertilidade, e não reposição de nutrientes, por adubação de manutenção, as cultivares
de P. maximum foram mais sensíveis à perda de vigor, com queda na disponibilidade de
forragem, proporcionando a formação de espaços vazios no relvado, com compactação
superficial, queda na taxa de infiltração de água e conseqüente diminuição da capacidade
retenção de água no solo.

Figura 2. Curva de retenção de água em solo sob pastagens de Brachiaria brizantha (BB), B.
decumbens (BD), Panicum maximum cv. Tanzânia-1 (TA) e cv. Tobiatã (TO), após três
anos de pastejo. Média de amostras coletadas de 0 a 20 cm de profundidade em um LE
argiloso.
Fonte: Valle et al. (2000).

Para dar indicação de forrageiras apropriadas para diferentes condições de solo, Alcântara
et al. (1993) consideraram importantes: a declividade, profundidade efetiva, pedregosidade,
drenagem e erosão, que são impedimentos à motomecanização. Já os mais limitantes à
produtividade são: a fertilidade do solo, textura e erosão laminar, como apresentado nas Tabelas
6 a 11.

33
TABELA 6. Exigência mínima ou tolerância das espécies em relação à declividade do terreno.
Relevos planos a suaves Relevos ondulados a fortemente Relevos fortemente ondulados a
ondulados ondulados montanhosos
Colonião Andropogon B. decumbens
Tobiatã B. brizantha B. ruziziensis
Tanzânia Tifton B. humidicola
Mombaça Setárias B. dictyoneura
Elefante Estrela Estrela
Jaraguá Calopogônio Tifton
Leucena Puerária Pangola
Estilosantes Soja-perene Gordura
Pojuca
Arachis
Massai
Fonte: adaptado de Alcântara et al. (1993).

TABELA 7. Exigência mínima ou tolerância das espécies em relação à profundidade efetiva do


solo.
Moderadamente rasos
Profundos Rasos
(profundidade média)
B. brizantha Andropogon Andropogon
B. ruziziensis B. decumbens B. humidicola
Colonião Estrela B. dictyoneura
Tobiatã Tifton Gordura
Tanzânia Jaraguá Pangola
Mombaça Setária
Elefante Calopogônio
Leucena Soja-perene
Massai

TABELA 8. Exigência mínima ou tolerância das espécies em relação à textura do solo.


Argiloso Textura média Arenoso
B. humidicola Brachiaria spp. B. brizantha
B. dictyoneura Colonião, Tobiatã, Tanzânia, B. decumbens, B. ruziziensis
Estrela Massai Setária
Tifton Setária Pangola
Elefante Calopogônio Gordura
Jaraguá Guandu Estilosantes
Pojuca Puerária Guandu
Soja-perene

TABELA 9. Exigências mínimas ou tolerância das espécies em relação à drenagem do perfil.


Boa Imperfeita Baixada úmida
B. brizantha Andropogon B. humidicola
B. decumbens B. dictyoneura Estrela
B. ruziziensis Jaraguá Setária
Colonião Pangola Pangola
Tobiatã Gordura Pojuca
Massai Calopogônio Puerária
Tanzânia Soja-perene Arachis
Elefante
Estilosantes
Leucena

34
TABELA 10. Exigência mínima ou tolerância das espécies em relação à fertilidade.
Férteis Medianos Fracos
Colonião B. brizantha Andropogon
Tobiatã B. ruziziensis B. decumbens
Tanzânia Jaraguá B. humidicola
Mombaça Pangola
Massai Gordura
Estrela Calopogônio
Elefante Estilosantes
Leucena Guandu
Soja-perene Puerária
Centrosema

TABELA 11. Características das espécies em relação à proteção contra erosão.


Baixa Média Alta
Colonião Andropogon B. brizantha
Tobiatã Massai B. decumbens
Tanzânia Setária B. ruziziensis
Mombaça Calopogônio B. humidicola
Elefante Puerária B. dictyoneura
Jaraguá Soja-perene Estrela
Estilosantes Tifton
Leucena Pangola
Gordura
Arachis

Essas tabelas são indicações dos autores e informações sobre as características de outra
cultivares disponíveis na atualidade. São informações gerais e pontuais, por isso, para cada caso
deve ser feita uma avaliação mais detalhada, considerando várias características conjuntas do
ecossistema.
O efeito de outros fatores ambientais sobre forrageiras do gênero Brachiaria pode ser visto
na Tabela 12, organizada por Soares Filho (1994) a partir de dados de diversos autores.

TABELA 12. Características de adaptação de capins do gênero Brachiaria.


Resistência à Tolerância à
Nome científico
Seca Geada Sombra Acidez Fogo cigarrinha
B. mutica F* F F R F MR
B. decumbens R F B B B S
B. brizantha B B R R R R
B. ruziziensis F F B R F MR
B. humidicola F R R MB R MR
B. arrecta F F F B R MR
B. mutica x B. arrecta F F F B R MR
B. dictyoneura F R B MB R MR
B. plantaginea R F R B R MR
F= fraca; R= regular; B= boa; MB= muito boa; MR= moderadamente resistente; S= susceptível

Para evitar danos de pragas e doenças enfatiza-se a diversificação de forrageiras na


propriedade, cultivando espécies resistentes e tolerantes. Em áreas com ocorrência de
cigarrinhas, estabelecer B. brizantha cv. Marandu, A. gayanus cv. Planaltina e Baeti, P. maximum
cvs. Tanzânia, Massai e Paspalum atratum cv. Pojuca.
A semeadura deve ser realizada em período de boas chuvas, com boa preparação do
solo.

35
SISTEMA DE PRODUÇÃO

Outro critério para a escolha das forrageiras é o sistema de produção a ser adotado, pois
conforme as condições de solo este é um fator que pode ser corrigido pela calagem e adubação.
Das baquiarias de uso mais comum, a B. brizantha e B. decumbens podem ser utilizadas
nas três fases da pecuária: cria, recria e engorda, como tambem as de lançamento mais recente,
B. brizantha cv. Xaraes, liberada em 2003, e Piatã, liberada em 2007. Já, as cultivares B.
humidicola, por apresentar qualidade de forragem pouco inferior, é são utilizadas na fase de cria.
As cultivares de P. maximum são altamente produtivas e exigentes em solo e
proporcionam bons ganhos de peso. São adaptadas a solos bem drenados e exigentes em altas
temperaturas, mais de 30°C, repercutindo em crescimento satisfatório. Prestam-se para todas as
fases da criação como as cultivares Tanzânia, Mombaça, Massai, Vencedor e Aruana. Já, a
cultivar Massai, lançada pela Embrapa Gado de Corte em 2000, é mais recomendada para a fase
de cria, por apresentar qualidade inferior de forragem que as demais cultivares. Esta cultivar
deverá ter grande importância para a região Amazônica pela sua melhor cobertura do solo,
tolerância à cigarrinha e por se menos exigente em solo que as outras cultivares de Panicum.
Do gênero Andropogon são utilizadas duas cultivares, a Planaltina e Baeti. Ambas são
tolerantes à seca e altamente resistentes às cigarrinhas, mas são atacadas por formigas. A
exigência em fertilidade do solo é semelhante à B. decumbens. São utilizadas nas fases de cria,
recria e engorda e o seu cultivo é mais comum nos estados de Goiás e Tocantins. Esta espécie,
dentre as forrageiras mais comuns, é a que mais se presta para consorciações. São atacadas por
formigas, podendo ser utilizadas nas fases de cria, recria e engorda e o seu cultivo é mais comum
nos estados de Goiás e Tocantins.
As diversas cultivares do gênero Cynodon são exigentes em solos de boa fertilidade e se
caracterizam por serem mais adaptadas às condições mais frias, pois a grande maioria foi
desenvolvida na Flórida, EUA. Produzem forragem de boa qualidade e são mais utilizadas para a
desmama de bezerros e engorda. Também são muito utilizadas na produção de leite e para
eqüinos.
Do gênero Pennisetum, as forrageiras mais comuns são as diversas cultivares de capim-
elefante, mais utilizadas como capineiras ou em pastejo para gado de leite. São forrageiras de alta
exigência em fertilidade do solo e exigem altas temperaturas e chuvas abundantes para um bom
crescimento. Deste gênero também faz parte o milheto, que é uma forrageira anual, de
crescimento de primavera-verão e outono, sendo utilizado em pastejo direto e também como
planta de cobertura em plantio direto.
O gênero Paspalum apresenta diversas espécies presentes nas pastagens naturais. Entre
as forrageiras cultivadas, destacam-se a pensacola, mais comum no sul do Brasil, e o capim-
pojuca, recentemente lançado pela Embrapa Cerrados, que se adapta bem a solos úmidos e de
baixa fertilidade ou áreas com regime de chuvas mais intensivo, com precipitações pluviais
superiores a 1.600 mm.
Em anos mais recentes tem havido interesse maior na irrigação de pastagens durante o
período seco (inverno) mas, segundo Aguiar (2001), a capacidade de suporte é de somente 40%
a 60% da taxa de lotação que é mantida na primavera-verão. As forrageiras mais utilizadas nestes
sistemas são os capins Tanzânia, Mombaça e as do gênero Cynodon.
O crescimento destas forrageiras não é limitado somente pela falta de água, mas também
pelo fotoperíodo, que é mais curto, e pelas baixas temperaturas. A taxa de fotossíntese líquida
relativa de forrageiras tropicais é máxima com a temperatura de 35°C e se reduz a somente 20%,
quando a temperatura baixa para 15°C (Aguiar, 2001).
No caso de leguminosas forrageiras tropicais, poucas cultivares estão atualmente
disponíveis: o estilosantes Mineirão (Stylosanthes guianensis) e o estilosantes Campo Grande (S.
macrocephala 20% e S. capitata 80% do peso em sementes na mistura, respectivamente) são
duas delas. Elas são forrageiras adaptadas a solos de baixa fertilidade, mas respondem a Ca, Mg,
P, K e micronutrientes. O estilosantes Campo Grande apresenta boa adaptação a solos arenosos
e de textura média. Consorciam-se com Brachiaria decumbens, Andropogon gayanus e em
algumas situações com B. brizantha.
Calopogonium mucunoides é uma leguminosa de ciclo anual a bianual, também adaptada
a solos de baixa fertilidade, mas responde bem à adubação, consorcia-se com diversas
gramíneas, persistindo melhor em ambientes tropicais e com período secos curtos.
36
O guandu (Cajanus cajan) tem adaptação idêntica ao estilosantes e calopogônio. Sempre
foi mais utilizado como banco de proteína e, atualmente, vem sendo utilizado na recuperação de
pastagens degradadas de gramíneas. São utilizadas diversas “cultivares”, muitas sem uma
característica clara. Há um programa de seleção e melhoramento dessa forrageira na Embrapa
Pecuária Sudeste, em São Carlos, com o objetivo de identificar cultivares com menores teores de
taninos. Enquanto não ocorre um lançamento de novas cultivares, a mais comumente usada é a
super N, de porte mais baixo.
Há duas cultivares de amendoim-forrageiro (Arachis pintoi) disponíveis no mercado: a
Amarillo (no Brasil MG 100) e a cv. Belmonte, lançada pela CEPLAC, na Bahia. Esta leguminosa
consorcia-se bem com diversas gramíneas e é adaptada a solos mais úmidos e regiões de maior
precipitação e período secos curtos, como o sul da Bahia e áreas da Amazônia. Há extensas
áreas de pastagens de B. humidicola x Arachis pintoi nas savanas colombianas, em pastejo há
vários anos. As cultivares são moderadamente exigentes em fósforo. Produzem sementes mas,
pela dificuldade de colheita (são subterrâneas), as pastagens são normalmente estabelecidas por
mudas.
A leucena, uma excelente opção forrageira arbustiva, é mais utilizada como banco de
proteína. Ela requer solos férteis e profundos e não tolera pastejo contínuo.
A soja-perene (Neonotonia whigthi) já foi mais utilizada na década de 70 em consórcio com
colonião. Hoje, há no mercado a cv. Comum. Essa espécie requer solos férteis e consorcia-se
bem com gramíneas nessas condições de solos.

QUALIDADE DA SEMENTE

Em sua essência, a semente transporta a garantia da perpetuação de cada espécie


cultivada. Existe um grande número de fatores que afetam a qualidade das sementes,
destacando-se os genéticos, fisiológicos e ambientais. Os fisiológicos têm sua ação determinada
pelo ambiente durante a produção, colheita, beneficiamento e armazenamento.
É muito freqüente o uso de sementes de má qualidade, principalmente no que se refere à
pureza e germinação. Devido aos diferentes processos de colheita e às diversas origens das
sementes utilizadas, é comum encontrar sementes com excesso de resíduos vegetais, solo ou
ainda mistura de sementes de outras forrageiras ou invasoras.
Rossi (2007), avaliando a qualidade física e fisiológica de sementes de braquiárias
comercializadas por seis empresas, encontrou grande variação na qualidade dessas; a
porcentagem de pureza variou de 43,58 a 93,79% para B. brizantha, de 41,82 a 73,75% para B.
humidicola e de 39,40 a 56,12% para B. decumbens.
Mas, na atualidade, a grande maioria das empresas que comercializam sementes
oferecem produtos de boa qualidade, sendo que algumas já oferecem sementes com alta pureza
e valor cultural (VC) e, em algumas situações, com o recobrimento das sementes, o que favorece
a semeadura e germinação. Ainda assim, há grande variação no VC das sementes atualmente
comercializadas (Tabela 13)

37
Tabela 13. Valor Cultural (%) de sementes de B. brizantha, B. humidicula e B. decumbens,
provenientes de seis empresas.
EMPRESA ESPÉCIE
B. brizantha B. humidicula B. decumbens
1 54,0 6,5 27,8
2 09,7 1,6 12,7
3 12,5 2,9 16,9
4 62,8 2,1 20,5
5 00,4 1,6 13,5
6 03,3 9,1 22,7
Média 23,7 4,0 19,0
FONTE: Rossi (2007).

A escolha de uma boa semente é de fundamental importância, pois os custos das mesmas
raramente ultrapassam 5% do custo de formação de pastagem e a semente, em muitos casos, é a
principal causa do sucesso ou insucesso no estabelecimento da pastagem.
Segundo Souza (1997), diversos fatores devem ser considerados na avaliação da
semente.
Um lote de sementes de forrageiras, quando bem escolhido, deve apresentar as seguintes
características desejáveis:
a) baixo custo;
b) fácil semeadura;
c) ausência (ou presença em número muito pequeno) de sementes de plantas daninhas;
d) ausência de contaminação por sementes de determinados tipos indesejáveis de
pastagens;
e) germinação e estabelecimento rápido e uniforme.
São vários parâmetros que descrevem a qualidade de um lote de sementes. Nenhum
deles é possível de avaliação sem o auxílio de um laboratório análise de sementes, ou seja, de
pessoal especializado. No Brasil, a avaliação de qualidade de lotes de sementes é feita com base
em regras estabelecidas pelo Ministério da Agricultura e do Abastecimento, fundamentadas em
critérios internacionais.
São estes os principais parâmetros de qualidade avaliados em amostras de sementes de
forrageiras tropicais:
a) Pureza física: é a fração, em percentagem do peso da amostra, constituída por
sementes da espécie e variedade que apresentam cariopse ("grão") em qualquer estádio de
desenvolvimento. Isto significa que mesmo sementes imaturas, mal formadas, são consideradas
"puras", desde que sejam da espécie e cultivar cuja amostra está sendo analisada.
Os demais componentes das amostras (terra, pedriscos, caules etc.) constituem a fração
das impurezas; quando encontradas, as sementes de plantas daninhas, também, passam a
constituir esta fração; são contadas, identificadas e anotadas. O resultado deste teste é expresso
em termos de percentagem de pureza.
b) Germinação: é a expressão, em percentagem de germinação, das sementes puras
obtidas na análise de pureza física que produziram plântulas normais sob condições tidas como
ideais à germinação daquela espécie.
Isto significa que, não necessariamente, todas as sementes que germinam no laboratório
(sob condições controladas) irão resultar em plantas quando semeadas no campo, onde as
condições são, em geral, mais adversas do que aquelas sob as quais as sementes foram postas a
germinar no laboratório. O controle das condições, neste caso, é uma forma de padronizar os
procedimentos entre laboratórios.
c) Teste bioquímico de vitalidade ou teste tetrazólio: trata-se de um teste dos mais
populares para as sementes de forrageiras face à possibilidade da sua conclusão em poucas
horas, apesar de requerer do analista um número maior de horas de trabalho por amostra,
comparativamente ao teste de germinação. A avaliação das sementes submetidas ao teste
tetrazólio requer laboratoristas qualificados, íntimos conhecedores da morfologia interna da
semente. O resultado é expresso em termos de percentagem de sementes viáveis.

38
Observa-se, porém, que o teste do tetrazólio estima a viabilidade das sementes e não a
germinação; vale notar que esses termos não são sinônimos. Uma semente pode ser dormente e,
como tal, se revelará viável no teste do tetrazólio, ou seja, este teste não identifica nem discrimina
as sementes dormentes das não-dormentes. Essa mesma semente não seria bem sucedida no
teste de germinação, a menos que tivesse sido submetida a procedimentos especiais para
superação da dormência, os quais nem sempre são eficazes, conforme já mencionado. Por essa
razão, muitas vezes os resultados dos testes de germinação não se comparam aos do teste do
tetrazólio de uma mesma amostra.
d) Valor Cultural ou % VC: o valor cultural de um lote de sementes é calculado
multiplicando-se a percentagem obtida no teste de pureza pela percentagem resultante do teste
de germinação (ou do teste do tetrazólio) e dividindo-se o resultado por 100. Isto é:
% sementes puras x % germinação (ou % sementes viáveis)
% VC =
100
O valor assim obtido, chamado de "ponto de VC", constitui-se base fundamental para
compra e venda de sementes e, não menos importante, para o cálculo da taxa de semeadura. O
cálculo do VC facilita sobremaneira a comparação da qualidade de diferentes lotes de sementes
de uma mesma espécie e cultivar (Tabela 1) e, também conforme será visto adiante. Por lei, toda
embalagem de semente de forrageira deve apresentar estampada em seu rótulo os valores
mínimos garantidos de pureza, germinação e valor cultural.
Além destes dados nas análises de sementes são determinados a presença de outras
cultivares, outras espécies de plantas e sementes silvestres e para toda forrageira existem regras
de tolerância quanto estas espécies.

PREPARO DA SEMENTE

No preparo da semente para a semeadura, deve-se levar em conta que a mesma esteja
fisiologicamente apta para germinar, ou seja, que a colheita tenha sido realizada na época certa e
a semente tenha completado sua maturação fisiológica em ambiente apropriado. Além disso, a
semente deve estar livre do excesso de impurezas, para evitar problemas com os equipamentos
de semeadura. Segundo Serpa (1971), sementes de centrosema (Centrosema pubescens)
apresentaram 27% de germinação logo após a colheita e 71% após um ano de armazenamento
sem escarificação, como pode ser visto na Tabela 14. As sementes armazenadas por um ano
foram as que apresentaram maior rapidez de germinação, sendo isto desejável pois, desta forma,
tem-se um rápido estabelecimento da pastagem.
A escarificação poderá aumentar a germinação de sementes duras. Deverá ser feita com
cuidado para evitar lesões ou danos fisiológicos nas sementes, o que prejudicaria sua
germinação.

TABELA 14. Permeabilidade de sementes de Centrosema pubescens logo após a colheita e após
um ano de armazenamento.
Sementes puras viáveis (%)
Época
7o dia 14o dia
Após a colheita 12 27
Após um ano da colheita 64 71
Fonte: Elaborada a partir de Serpa (1971).

Quando se trata de leguminosas, a falta de uma escarificação adequada, ou mesmo a não


escarificação das sementes, tem sido um dos fatores responsáveis pelo mau estabelecimento das
pastagens. Torna-se imperativo, portanto, indicar ao produtor métodos práticos e eficientes de
escarificação. A escarificacão com ácido sulfúrico é eficiente (Tabela 15), mas o ácido é um
produto de difícil manuseio e não encontrado facilmente no mercado. Já a imersão em água por
24 horas, de fácil realização, melhorou sensivelmente as condições da semente (Tabela 3),
embora seja menos eficiente. Também o tratamento com água quente pode ser eficiente e é uma
prática simples, assim como o tratamento com soda cáustica comercia, que é muito eficiente para
certas leguminosas e é um produto facilmente encontrado no mercado.

39
TABELA 15. Efeito de diferentes tratamentos na germinação de sementes de siratro (Macroptilium
atropurpureum cv. Siratro).
Tratamentos Percentagem de Germinação
A - não escarificada 26,6
B - imersão em água por 24 horas 38,2
C - escarificação mecânica 59,8
D - escarificação em H2SO4 65,4
Fonte: Mattos (1970/71).

Convém lembrar que, em muitas leguminosas, a percentagem de sementes duras situa-se


entre 60% e 90% e a dormência é devida à presença de uma cobertura impermeável à penetração
da água, o que impede a germinação. Em condições naturais, tornam-se gradualmente
permeáveis e germinam. Este mecanismo assegura que parte das sementes germine em períodos
com chuvas e condições climáticas favoráveis, garantindo a sobrevivência da espécie.
Quando se implanta uma pastagem consorciada, é desejável um rápido estabelecimento
das leguminosas, já que as gramíneas são mais agressivas que aquelas. Alem disso, o preço
elevado das sementes de leguminosas requer um máximo aproveitamento das mesmas. Deve-se,
então, escarificar todas as sementes da leguminosa, desde que a semeadura seja feita
adequadamente e em um período sob condições climáticas favoráveis. Caso a semeadura não
seja realizada na época mais favorável, recomenda-se escarificar somente a metade das
sementes, ou escarificá-las por um processo mais brando, já que uma certa proporção de
sementes duras poderá germinar posteriormente, em períodos mais favoráveis.
A inoculação das leguminosas é de fundamental importância, principalmente onde não
existem estirpes de Rhizobium nativas eficientes no solo. Diversos fatores são responsáveis pela
má nodulação de leguminosas inoculadas: má qualidade de certos inoculantes existentes no
mercado, métodos inadequados de inoculação, uso de quantidade insuficiente de inoculante,
demora entre a inoculação e a semeadura, métodos de semeadura inadequados e, ainda, falta de
correção do pH e nutrientes do solo.
Para uma boa inocuIação de leguminosas e o respectivo sucesso na nodulação, é
recomendável que se escolha um inoculante eficiente e de preferência específico para a espécie
que se deseja semear (Tabela 16). É de fundamental importância que o inoculante seja
armazenado em geladeira com temperatura em torno de 5°C. Quando transportado, de
preferência, deve ser embalado em caixas térmicas ou em pacotes com bom isolamento. O
inoculante e a semente inoculada nunca devem ser expostos ao sol, pois o mesmo perde a sua
efetividade.

40
Tabela 16. Quantidades e tipos de inoculantes para diferentes leguminosas forrageiras
Sementes tratadas por
Espécies Nome comum pacote de inoculante1 (kg) Tipo de inoculante

Desmodium intortum Desmódio 7,00 Específico


Neonotonia wightii Soja perene 7,00 Grupo cowpea
Stylosanthes Estilosantes 7,00 Grupo cowpea
Calopogonium muconoides Calopogônio 13,5 Grupo cowpea
Centrosema pubescens Centrosema 13,5 Específico
Leucaena leucocephala Leucena 13,5 Específico
Macropitilium atropurpureum Siratro 13,5 Grupo cowpea
Pueraria phaseoloides Puerária 13,5 Grupo cowpea
Cajanus cajan Guandu 27,0 Grupo cowpea
1
Pacote de inoculante com 70 gramas.
Fonte: Henzell (1977).

O procedimento mais comum para inocular é misturar o inoculante no adesivo (celofas a


5%, goma arábica 40%-45% ou solução de polvilho de mandioca a 5%) e despejar esta mistura
sobre as sementes, misturando bem, de forma que todas as sementes fiquem envoltas pelo
produto. A seguir, são postas a secar à sombra, devendo ser semeadas até, no máximo, dois dias
após a inoculação. Quanto menor o tamanho da semente, maior quantidade de adesivo e
inoculante é necessária para uma boa inoculação. Na Tabela 16 podem ser vistas as quantidades
de inoculantes necessárias por kg de semente das principais leguminosas forrageiras tropicais e
os seus respectivos inoculantes específicos.
Para melhorar a eficiência da inoculação, esta pode ser complementada com recobrimento
da semente. Este processo consiste em envolver a semente, depois de inoculada, com uma
camada de calcário bem fina ou, do preferência, fosfato de rocha. Com isto, tem-se um controle
da acidez em torno da semente, além do fornecimento de alguns nutrientes à planta e da
preservação do inoculante, propiciando, dessa forma, maior flexibilidade quanto ao tempo entre a
inoculação e a semeadura ou até a germinação. Pelo recobrimento, o inoculante mantém sua
efetividade até 30 dias, além de propiciar às sementes uma certa proteção contra o ataque de
pragas.
Para leguminosas tropicais, é recomendável o uso de fosfato de rocha para recobrí-las,
porque é levemente ácido, já que o calcário eleva o pH e os rizóbios tropicais são prejudicados em
pH mais alcalinos. As quantidades de adesivo do veículo (fosfato natural) variam de acordo com o
tamanho da semente e com o tamanho desejado de péletes (Tabela 17). A quantidade de veículo
para sementes grandes não pode ser muito elevada, pois o pélete se torna quebradiço neste tipo
de semente. Em certas circunstâncias após a aplicação de uma camada do veículo (fosfato
natural), para aumentar o tamanho do pélete pode-se aplicar mais adesivo sobre o mesmo e voltar
a cobri-lo com o veículo.

TABELA 17. Volume de semente, adesivo e veículo para recobrimento da sementes.


Tamanho da semente Semente (kg) Adesivo (ml) Veículo (kg)
Péletes leves
Pequena 6,8 284 3,4
Pequena e média 10,2 284 3,4
Média 13,6 284 3,4
Grande 27,2 284 3,4

Péletes pesados
Pequena 6,8 1.136 6,8
Pequena e média 10,2 1.136 4,0
Média 13,6 1.136 9,0
Grande
Fonte: Seiffert (1982).

Os danos causados por pragas e doenças no estabelecimento de pastagens devem ser


levados em conta. Seu controle é desejável, em regiões com incidência de insetos, principalmente
devido ao fato de muitos plantios serem feitos na superfície do solo, favorecendo a ação destas
41
pragas. Em um bom plantio, no qual as sementes são enterradas, os danos causados por insetos
e aves são reduzidos ao mínimo, primeiro por estarem cobertos de solo e segundo por
germinarem mais rapidamente, não ficando expostas por muito tempo. Quando da ocorrência de
sérios problemas por pragas e moléstias, faz-se necessário tratamento da semente com
inseticidas e fungicidas específicos.

TAXA DE SEMEADURA

A quantidade de sementes utilizadas por unidade de área tem sido outro fator limitante no
estabelecimento de pastagens. Poucos são os trabalhos experimentais feitos no sentido de
determinar qual a quantidade de sementes para cada espécie, nem se conhece o número ideal de
plantas por unidade de área para que se obtenha uma boa cobertura do solo. A germinação das
sementes viáveis varia muito em função das condições climáticas e também em função da
espécie, mas de um modo geral de 20% a 60% das sementes viáveis germinam no campo. Tendo
em vista estes fatores, é recomendável aumentar a taxa de semeadura para corrigir estas
deficiências. Sementes pequenas normalmente apresentam mais perdas que sementes maiores,
ou seja, com espécies de sementes pequenas necessita-se de um maior número de sementes
viáveis por m2, para obter o mesmo número de plantas com espécies de sementes maiores.
Segundo Souza (1997), a germinação em campo, em decorrência de vários fatores, é
distinta daquela obtida em laboratório e o autor recomenda as taxas de semeadura constantes na
Tabela 18.
O primeiro desses fatores é que as condições ambientais prevalecentes no campo são
muito variáveis, de tal forma que a taxa de germinação obtida no laboratório nunca corresponde
àquela de emergência de plântulas. O tamanho das sementes é outro fator importante; conforme
pode ser verificado na Tabela 18, esta é uma característica que varia entre espécies e até mesmo
entre cultivares de uma mesma espécie.

42
TABELA 18. Número aproximado de sementes puras por grama de várias espécies e cultivares de
gramíneas forrageiras tropicais e sugestões de taxas de semeadura, menores para
condições mais favoráveis e maiores para condições adversas de plantio.
Número de Taxa de semeadura*
Espécie Nome comum
sementes/g (kg/ha SPV)¹
Brachiaria decumbens cv. basilisk Decumbens,Braquiarinha 200 2,5 – 4,0
Brachiaria humidicola Humidicola, quicuio 270 2,5 – 4,0
Brachiaria ruziziensis Ruziziensis 230 2,5 – 4,0
Brachiaria brizantha cv. Marandu Marandu, Braquiarião 120 3,0 – 5,0
Brachiaria brizantha cv. Xaraés Xaraés 100 3,0 – 5,0
Brachiaria brizantha cv. Piatã Piatã 120 3,0 – 5,0
Andropogonm gayanus cv. Planaltina Andropogon 360 2,5 – 3,5
Panicum maximum cv. Tanzânia Tanzânia 950 2,0 – 4,0
Panicum maximum cv. Mombaça Mombaça 720 2,0 – 4,0
Panicum maximum cv. Massai Massai 1000 2,0 –4,0
Panicum maximum cv. Aruana Aruana - 2,0 – 4,0
Paspalum guenoarum (Ramirez) Ramirez 300 2,0 – 3,5
Paspalum notatum cv. Pensacola Pesacola 610 2,0 –3,5
Paspalum atratum cv. Pojuca Pojuca - 2,0 – 3,5
Setaria sphacelata cv. Kazungula setária kazungula 1.490 1,5 – 3,0
*Estas taxas são sugeridas a partir de dados experimentais e de observações práticas; os valores poderão
ser alterados em função de disponibilidade de novos dados experimentais.

As taxas de semeadura devem ainda levar em conta que as plântulas de determinadas


espécies são mais frágeis e susceptíveis a estresses ambientais. Há também os casos em que as
plântulas são muito lentas em seu estabelecimento, tal como é o caso, por exemplo, da B.
humidicola, da S. sphacelata cv. Kazungula e do A. gayanus. Nessas situações, a taxa de
semeadura deve prever um número maior de plântulas nos estádios iniciais da formação.
Estima-se que um mínimo de 15-20 plântulas/m² é suficiente para assegurar a formação de
pastagens, em se tratando de espécies cujas sementes são de tamanho relativamente grande
como é a dos capins B. brizantha, B. decumbens e B. ruziziensis. No caso de espécies de
sementes menores, que resultam em plântulas mais frágeis ou que são de estabelecimento mais
lento, um número maior delas (40-50 plântulas/m²) é necessário para garantir a formação. Os
dados da Tabela 18 na coluna “Taxa de semeadura”, referem-se a lotes com 100% de Valor
Cultural (VC) que, na prática, não existem, e estes devem ser corrigidos em função do VC da
semente comercial. Assim sendo, a utilização prática destas sugestões depende do ajuste das
taxas de semeadura dos lotes comerciais, caracterizados por diferentes % VC, utilizando os
valores da Tabela 18 como referência.
Isto pode ser feito multiplicando-se por 100 o valor da Tabela e dividindo-se o resultado
pela % VC do lote de sementes que se pretende semear. Toma-se como exemplo um
determinado lote de sementes de capim-braquiarão (B. brizantha cv. Marandu), com 50% de valor
cultural e desejamos semear 4 kg/ha de SPV. Neste caso, ter-se-ia:

Taxa de Semeadura = (4,0 X 100)/50 = 8 kg/ha

deste lote com 50% VC, a taxa de semeadura seria de 7 kg/ha. Neste caso, o valor de 4,0 foi
obtido na Tabela 18 e 50 corresponde à percentagem de Valor Cultural do lote adquirido, cuja taxa
de semeadura está sendo ajustada.
Para leguminosas como o estilosantes Campo Grande em formação de pastagens novas
deve ser semeado com 2,0 a 2,5 kg/ha de SPV. Já na recuperação de pastagens a quantidade de
sementes deve ser aumentada para 2,5a 3,0 kg de SPV/ha (Embrapa Gado de Corte, 2007). O
estilosantes Mineirão pode ser semeado com 500 e 700 gramas/ha de sementes SPV escarificada
(Embrapa Cerrados, 1998). Mas em testes realizados na Embrapa Gado de Corte taxas de
semeaduras mais elevadas têm proporcionado melhores resultados. Na consorciação de
estilosantes Mineirão e B. decumbens o número de plantas/m2 foi de 15, 24 e 34 respectivamente
para as taxas de semeadura da leguminosa de 1, 2 e 3 kg/ha de SPV, enquanto que para o
estilosantes Campo Grande o numero de plantas/m2 foi de 16, 29 e 44 respectivamente, na media
43
de dois métodos de incorporação das sementes rolo e grade niveladora, que não apresentaram
efeito sobre o estabelecimento. (ZIMMER et al. 2004). Tendência semelhante foi observada nas
consorciações com B. brizantha cv Marandu (ZIMMER et al. 20005) e A gayanus cv Planaltina
(ZIMMER et al. 2005). Importante ressaltar que nestes experimentos o preparo do solo foi
esmerado e as condições climáticas foram favoráveis, pois nestas condições 30 a 40 % das SPV
semeadas se estabelecerem o que freqüentemente não ocorre.
Na semeadura de consorciações é importante reduzir a taxa de semeadura da gramínea
visando reduzir a competição dessa com a leguminosa.
Na Tabela 19 podem ser vistos os dados de número de plantas/m2 e a produção de
matéria seca/ha, em função de diferentes taxas de semeadura para várias forrageiras em Campo
Grande, MS.
Neste trabalho verificou-se que a percentagem de sementes viáveis germinadas em
campo, de um modo geral, foi bastante baixa, bem como as produções de matéria seca no
período de 111 dias, devendo-se isto ao fato de as condições climáticas não terem sido muito
favoráveis. Notou-se também que as taxas de semeadura de 0,75 kg/ha a mais de 3,0 kg/ha das
espécies de sementes pequenas como Andropogon gayanus, Panicum maximum e Setaria
anceps, de modo geral, não afetaram em muito as produções de matéria seca, mas afetaram o
número de plantas/m2. Já para a B. brizantha, a resposta às maiores taxas de semeadura foi
linear, tanto para número de plantas/m2 como para produção de matéria seca.

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TABELA 19. Número de plantas (touceiras) por m² (No pl/m²), produção de matéria seca da gramínea (MS) e percentagem de plantas daninhas
(Dan.) na matéria seca total, em função de diferentes densidades de semeadura de quatro gramíneas forrageiras. Médias de três
repetições obtidas aos 111 dias após a semeadura.
Espécie 1 2 3 4 5 6 7 8
Tratamento S/m² kg/ha S/m² kg/ha S/m² kg/ha S/m² kg/ha S/m² kg/ha S/m² kg/ha S/m² kg/ha S/m² kg/ha
A. gayanus 10 0,34 15 0,51 22 0,74 30 1,00 37 1,25 45 1,50 70 2,03 - -
No pl/m² 16,7 14,7 19,07 23,0 21,0 32,7 32,7 -
MS (t/ha) 1,5 2,6 2,1 2,7 2,9 4,8 2,7 -
Dan(%) 30,0 23,0 20,0 14,0 21,0 13,0 11,0 -
P. maximum 40 0,56 60 0,85 80 1,13 100 1,41 120 1,69 140 1,98 200 2,82 300 4,24
No pl/m² 10,7 18,3 17,7 23,7 23,2 26,3 23,7 49,7
MS (t/ha) 1,5 2,2 2,1 2,3 2,2 2,4 2,4 2,7
Dan (%) 37,0 31,0 28,0 29,0 31,0 23,0 24,0 22,0
S. anceps 40 0,32 80 0,63 100 0,79 150 1,19 200 1,59 250 1,98 300 2,38 400 3,17
No pl/m² 10,3 14,3 19,7 33,0 35,7 36,3 42,7 49,7
MS (t/ha) 0,6 1,1 1,3 1,5 3,3 1,5 1,5 1,6
INV (%) 57,0 35,0 39,0 27,0 33,0 15,0 27,0 21,0
B. brizantha 5 0,32 10 0,64 20 1,28 30 1,92 40 2,56 50 3,20 100 6,41 - -
No pl/m² 4,0 3,3 12,7 19,0 21,3 23,2 28,0 -
MS (t/ha) 0,5 0,6 1,4 1,4 1,7 2,0 3,0 -
Dan (%) 27,0 30,0 16,0 11,0 14,0 14,0 7,0 -
Densidades de semeadura em número de sementes viáveis por m2 (S/m2) e kg/ha.
Fonte: Zimmer et al. (1992).

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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