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Fundação Tide Setubal

Cultura Diálogos para o Desenvolvi-


mento Humano, registro do seminário
que reuniu Danilo Miranda, diretor do
Departamento Regional do SESC, Altair
Moreira, assessor técnico do Programa
Fábrica de Cultura, e Maria Lucia Monte,
professora do Departamento de Antropo-
logia da Universidade de São Paulo, em
um debate sobre a centralidade da cul-
tura e a integração das políticas públicas
para o desenvolvimento cultural susten-
tável e o fortalecimento da localidade.

Cultura e Sustentabilidade: diálogos


para a construção de um projeto de
A experiência do Núcleo de Música e Luteria do Projeto ArteCulturAção é inspiração para o Olhar, Ouvir, Tocar

Olhar, Ouvir, Tocar – Experiência da Educação pela Arte


desenvolvimento cultural, registro das
discussões realizadas no II Encontro de
Cultura e Sustentabilidade, no qual Al-
livro Olhar, Ouvir e Tocar – Experiência da Educação pela Arte. Com atividades desenvolvidas
desde 2006, no Jardim Lapenna, zona leste de São Paulo, o projeto reúne jovens na produção
Experiência da Educação pela Arte
fredo Manevy, secretário executivo do de instrumentos de percussão e corda. A cultura é a matriz das ações, que estimulam, também,
Ministério da Cultura, debateu com mo- a reflexão com abordagens históricas, políticas e sociais. Esta publicação sistematiza o trabalho
radores, jovens, lideranças e artistas da e apresenta o passo a passo das produções com a proposta de compartilhar o aprendizado com
região os caminhos recentes adotados outras instituições que atuam nessa área.
pelo Ministério da Cultura para o plano
Nacional de Cultura, além de reflexões
sobre a importância de políticas públi- Criada em 2005, a Fundação Tide
cas de longo prazo, da reformulação das Setubal atua em São Miguel Paulis-
leis de incentivo, entre outros temas. ta, zona leste de São Paulo, com a
missão de contribuir para o empo-
Desenvolvimento Local e Fundações deramento da comunidade e para o
Comunitárias e Áreas Urbanas: desa-
desenvolvimento local sustentável
fios e oportunidades, para ampliar a
de modo a se alcançar uma melhoria
discussão sobre como se obter sucesso
na qualidade de vida e a construção
nos processos de desenvolvimento local,
a Fundação Tide Setubal e o GIFE realiza-
da cidadania. Para isso, desenvolve
ram um evento, com representantes de programas e projetos de educação,
organizações públicas e privadas e lide- cultura, esporte, lazer e geração de
ranças comunitárias. Principais desafios, renda com ênfase em adolescentes,
conflitos e os pontos de convergência e jovens e famílias com altos índices
de sinergia existentes entre os temas de vulnerabilidade social. Suas ações
do desenvolvimento local e das funda- são baseadas nos princípios de justi-
ções comunitárias no Brasil geraram um ça social e de defesa dos direitos hu-
rico debate. O conteúdo está registrado manos, buscando sempre articulação
nesta publicação. com as políticas públicas.
Olhar, Ouvir, Tocar
Experiência da Educação pela Arte
s u m á r i o
Sons e Ritmos em Transformação
por Maria Alice Setubal 4
Fundação Tide Setubal O Fazer Saber de Cada um na Construção...
6
Apresentações
Rua Jerônimo da Veiga, 164 – 13º andar por Tião Soares
04536000 – São Paulo – SP
www.fundacaotidesetubal.org.br Ethos e Tambores 18
por José Pedro da Silva Neto
Conselho FTAS Dados da publicação
Presidente do Conselho Construção de uma História
Maria Alice Setubal Coordenação Editorial por Jovens Aprendizes
24

1
Fernanda Nobre, José Pedro da Silva Neto
Conselheiros e Tião Soares
Guilherme Setubal Souza e Silva
José Luiz Egydio Setubal
Marlene Beatriz Pedro Cortese
Olavo Egydio Setubal Júnior
Rosemarie Teresa Nugent Setubal
Pesquisa
Tião Soares e José Pedro da Silva Neto
Edição de textos Chinelofone 30
Instrumentos
Aerofones
Coordenação Geral Fernanda Nobre e José Pedro da Silva Neto
Paula Galeano
Coordenação de Cultura Fotos

2
Sebastião Soares (Tião Soares) Verônica Manevy
Ilustrações

Instrumentos
Assistente de Coordenação
José Pedro da Silva Neto Juarez Martins
Inácio Pereira Neto
Educadores Lutier
Colaboração
Adriana Lima
Berimbau 34
Osvaldinho Teixeira – 2006 a 2008
Rabeca 38
Cordofones
Vado Pimenta – 2009
Alex Macedo – 2010 Revisão
Fábio Vanini – 2010 Viviane Rowe
Educadores Aprendizes Projeto Gráfico e Diagramação
Elias Lopes Oliveira – 2006 a 2008 EPG
Esdras Jonatas Nunes dos Santos – 2006 a 2010 Afoxé, Xequerê, Aguê, Agbê 44

3
David Souza Rocha – 2010
Fabiano Barbosa de Magalhães – 2006 a 2010 Tambores de madeira 46
Luciano Kleber – 2008 a 2009
50
Instrumentos
Renato Soares de Oliveira – 2006 a 2010 Reco-reco
Wesley Santana Soares – 2009 a 2010 Agogô 51
Coordenação de Comunicação
Fernanda Nobre
Caxixi 52

Idiofones
Coordenação Administrativa
Kalimba 53
Mirene São José Maracá 54
Matraca 55
Agradecemos a todos os jovens e profissionais que participaram do projeto Crer, Ser, Fazer (2005), Marimba 56
ArteCulturAção – Núcleo de Formação em Música e Luteria (2006, 2007, 2008, 2009) e de outros
projetos da Fundação que, de algum modo, contribuíram para a realização desta publicação.
Alfaia 60

4
Agradecemos ainda o apoio da Sociedade Amigos do Jardim Lapenna.
São Paulo, primavera de 2010. Atabaque 62

Nobre, Fernanda; Silva Neto, José Pedro; Soares, Sebastião


Caixa
Batá
Pandeirão de Boi
64
66 Instrumentos
N671o Olhar, ouvir, tocar: experiência da educação pela arte. São Paulo, Fundação Tide 68
Membranofones
Setubal, 2010.
88p. Ilus. (Publicações FTS) Tambu 69
ISBN 978-85-62058-09-7
Puíta 70
Surdo 72
1. Luteria 2. Instrumentos musicais 3. Educação musical I. Fundação Tide Setubal II. ArteCulturAção III. Título
IV. Série

Anexos e
DDC 787

(Bibliotecária responsável: Helga Ilse Bekman – CRB 8a/668) Nós 76


Gabaritos Rabeca 80

Bibliografia
Bibliografia 84
por Maria Alice Setubal
A o passar pelos corredores do Galpão de Nesse cenário híbrido, foram construídos 5

Sons e Ritmos em
Cultura e Cidadania, no Jardim Lapenna, as alfaias, os tambores, os pandeirões, os
zona leste de São Paulo, é possível ouvir agogôs e as rabecas.
o som da oficina do Núcleo de Música e Entre o aprendizado prático, a
Luteria. A musicalidade ali presente traz contextualização histórica e as reflexões
o tom das transformações geradas pelo sobre as políticas culturais, nasceu uma
projeto, que nasceu como Crer, Ser e Fazer, nova possibilidade: a atuação dos jovens
em 2007. como produtores de cultura. Alguns
Inserido nas propostas das ações de como jovens aprendizes, multiplicando
cultura da Fundação Tide Setubal, o projeto o conhecimento com aulas para crianças
se propõe a trabalhar o ofício da luteria da comunidade; outros como lutieres,
e também a música, voltados aos ritmos vendendo instrumentos produzidos por
brasileiros. Esse caminho, traçado há três eles para grupos do bairro e da cidade;
anos pelos participantes do projeto, teve outros como monitores da oficina de
como ponto de partida um encontro com o luteria, aberta, em 2010, a outros coletivos
patrimônio cultural da comunidade. culturais da zona leste.

apresentação
A origem das famílias, as cantigas da Ao folhear as páginas desta publicação,
infância, os festejos da cidade natal, as nos orgulhamos do percurso desse
lembranças musicais, os cantores preferidos. projeto. Sabemos que o aprendizado
Ao tratar de ritmos e de instrumentos, os proporcionou não só a transformação da
educadores criaram espaços de reflexão que madeira em instrumento, mas também
pudessem trazer os saberes da comunidade, do olhar e da postura dos jovens diante da
transformados em referência musical sua comunidade. Sentimos que a missão
para estudos sobre a musicalidade que se de contribuir para o empoderamento
formaria com o grupo. Contextualizações da comunidade se torna real quando
que também contribuiriam para o percebemos a descoberta dos jovens sobre
entendimento da história de cada si mesmos, sobre a possibilidade de criar,
instrumento que ali seria criado. de multiplicar, de escolher.
Esse processo de aprendizado Desejamos compartilhar parte do
proporcionou outras reflexões, como nosso aprendizado com outras instituições
a concepção da cultura como direito. que, certamente, terão novas histórias
Debates sobre a ausência de espaços para contar, formando, assim, diferentes

Transformação
culturais no território, análises do diretrizes para a cultura por este Brasil.
incentivo a diferentes tipos de espetáculos Boa leitura!
culturais, as políticas governamentais para
a área, a indústria cultural e suas regras Maria Alice Setubal
proporcionaram reflexões entre os jovens. Presidente do Conselho da Fundação Tide Setubal
por Tião Soares 7

O Fazer Saber de Cada um na Construção


de Práticas Sociais
“Trabalho livre ou arte é simplesmente a natureza liberando suas
potencialidades, tanto no mundo quanto na mente, e liberando-as
conjuntamente, na medida em que são harmoniosas nas duas esferas.
Esse trabalho é, portanto, um grande corretivo para a distração, pois

apresentação
concentra a atenção no possível e treina a vontade a discriminar e
organizar suas verdadeiras intenções.”

George Santayana

E ste livro é resultado do trabalho


realizado no Núcleo de Música e
caracterizaram-se por olhar o território
e compreendê-lo como conceito. Essa
Luteria, do Projeto ArteCulturAção, ideia de território como conceito partiu
e só se tornou possível depois que fui do princípio de que não se devia acreditar
convidado a participar da equipe da que o território sem ocupação não seria
Fundação Tide Setubal, no fim do conceito utilizável. Desse modo, o desafio
ano de 2005. Por isso, expresso os seria o de considerar a necessidade de seu
meus agradecimentos a presidente, uso e, assim, a questão desafiadora era a
Maria Alice Setubal, e aos membros do de fazer com que os atores sociais locais
conselho da Fundação Tide Setubal, bem começassem a utilizar o seu território, o
como a toda a equipe de trabalho que lugar onde vivem.
me concedeu essa honra. Nesse sentido, não tínhamos, pelo
Os primeiros passos de minha menos na ideia, dúvidas de que a
participação nessa construção metodologia a ser utilizada seria a da
Ausculta Social, uma metodologia (tempo, frequência, preço), independentes que expressam o sentimento referente conversar de tudo? Nós (jovens) viemos 9
simples, já aplicada em outras localidades de sua própria condição. Pessoas com as ao grupo e a si próprio, ao trabalho que aqui para aprender a tocar.” Do outro
com resultados significativos e mesmas virtualidades, a mesma formação, vem sendo desenvolvido no coletivo ou lado, dizíamos: “Isso mesmo, vamos tocar,
inovadores. Na Ausculta, o jeito de ser, até mesmo o mesmo salário têm valor de forma coletiva. Esse método propicia mas sugerimos em primeiro lugar uma
o olhar de cada um, o paradoxal barulho diferente segundo o lugar em que vivem: o fortalecimento dos laços afetivos dentro conversa para que possamos nos conhecer,
do silêncio, seus ruídos internos, uma as oportunidades não são as mesmas. Por do grupo, possibilita a consciência de que para tomarmos consciência da construção
piscadela podem dizer algo diferente isso, a possibilidade de ser mais, ou menos, o seu crescimento depende do esforço do trabalho coletivo, além de somente
do que o outro tem a dizer – um olhar cidadão depende, em larga proporção, do de cada um dos seus integrantes, em um tocar ou construir um tambor.”
sensível. Tudo isso são observações e ponto do território onde se está. Enquanto processo que ajuda a construir a cidadania. Assim, tínhamos consciência de que
percepções indispensáveis na aplicação da um lugar vem a ser condição de sua Dessa forma, utilizando-se da ensinar e aprender não poderia se dar de
metodologia que leva em conta o “pensar pobreza, um outro lugar poderia, no mesmo metodologia da Ausculta Social, maneira isolada e a escolha de um desses
junto”, “fazer com”, o “fazer junto”, em momento histórico, facilitar o acesso àqueles foram abertas oficinas educativas métodos não deve ser verticalizada, mas

apresentação Tião Soares


contraposição ao “fazer para”. bens e serviços que lhe são teoricamente de construção de instrumentos de deve levar em conta as necessidades e
Assim, a compreensão de se estar no devidos, mas que, de fato, lhe faltam. percussão a partir de conteúdos que limitações do indivíduo a ser trabalhado,
território com um sentido desalienado, (2007, p. 107). numa construção
de pertença, seria uma das questões conjunta com a
imprescindíveis para o desenvolvimento Afinada por esse diapasão, a ideia O método foi trabalhado pela troca de convicção de que
do trabalho. Considerar que essa foi trabalhar com jovens, em especial ninguém é superior
construção se propunha a se fazer com o com aspectos específicos para o seu experiências e de saberes, pelo a ninguém.
outro e, desse modo, ter a real certeza de desenvolvimento pessoal e social. Tínhamos
que a cidadania cultural como política de Assim, a atividade realizada tratou não respeito ao saber e à cultura claramente definidos
direitos seria, portanto, imprescindível só de descobrir novos conhecimentos os nossos objetivos
para se considerar o território como e questionar pontos que pareciam de cada um, indo do de atuação, ou seja, a
8 espaço do cidadão. Essa dimensão é fechados, como também procurou ouvir formação educativa,
sustentada por Santos1, que nos ajuda as pessoas, coletar opiniões e registrá-las, planejamento às vivências cultural e de gestão, na
a criar uma amálgama em torno desse trocar experiências com educadores e a perspectiva da garantia
desafio, quando afirma: comunidade, discutindo textos filosóficos possibilitassem a discussão de temas de direitos a espaços para reflexão, debate,
e sobre o cotidiano. como política, história da música, crítica, com direito à comunicação e à
Cada homem vale pelo lugar onde está: O método foi trabalhado pela troca de história de vida, identidades culturais, informação, estabelecendo uma política
o seu valor como produtor, consumidor, experiências e de saberes, pelo respeito cidadania cultural, reconhecimento do de capacitação permanente para jovens,
cidadão depende de sua localização ao saber e à cultura de cada um, indo do território onde moramos. como lideranças comunitárias, gestores
no território. Seu valor vai mudando, planejamento às vivências. São dinâmicas Para isso, criou-se uma dinâmica de públicos, privados e educadores sociais.
incessantemente, para melhor ou para pior, que possibilitam estabelecer regras que se descrever o caminho de casa até o Com os objetivos bem definidos,
em função das diferenças de acessibilidade fundamentam o funcionamento do grupo, projeto e vice-versa. No entanto, a grande encontramos no meio do caminho
questão era sempre a pergunta dos(as) obstáculos, alguns notadamente de
meninos(as): “Que tipo de música a cunho preconceituoso. Os instrumentos
gente vai tocar? Por que a gente fica a percussivos, pela sua origem
1
SANTOS, M. O Espaço do Cidadão. 7.ed., São Paulo: Edusp, 2007, p.107
afrodescendente, criaram uma grande na busca da construção de um edifício a filosofia, a economia, a antropologia, e no que isso acrescentou para as atuais 11
resistência com relação à participação, diferente: a cidadania cultural de vidas, entre outras. Assim, compreende-se que a manifestações culturais, as novas formas
tanto dos jovens quanto da família desses saberes e trocas vivas de ser. cultura é o abrigo e o alicerce possível para de vida etc. Desse modo, coube também
jovens e da própria comunidade, que Assim, o trabalho se baseia na uma construção cidadã em portos mais olhar sob o ponto vista verticalizado
viam nessa expressão uma manifestação compreensão alargada da cultura. Aquela seguros, proporcionando o acesso dos(as) com o intuito de promover riquezas e
não muito recomendável, “coisa de que está no meio ambiente, nas relações cidadãos(ãs) aos meios de formação, acréscimos, buscando entender que tipos
macumbeiro”, diziam muitos. Com isso, sociais, na mobilidade do cidadão, na criação, difusão e fruição cultural. de antigas expressões ainda se mantêm nas
muitos participantes abandonaram o economia, na política, nos valores e na Sob essa perspectiva, a proposta atuais manifestações, o que trouxeram de
curso, outros saíram por determinação da imaginação. O trabalho de educação do projeto se baseou numa leitura novo ou o que se perdeu completamente.
família, outros se envergonhavam de tocar sempre foi pensar a cultura e relacioná- vertical e outra horizontal das políticas A política pública sustentável
na rua ou de pertencer àquele grupo. O la com o desenvolvimento humano e educativas e culturais ora desenvolvidas estimulada no projeto deveria propor
preconceito foi um dos maiores entraves sustentável e não apenas com as políticas nas comunidades. Isso se deu a partir ações de integração em todas as áreas e

apresentação Tião Soares


na implementação da atividade. do fazer/saber cultural específico, ligado às de diferentes linhas de atuação, o que espaços da cidade e compreender o bairro
artes ou a eventos certamente contribuiu para olhar as como parte desta. Assim, a proposta é que
e espetáculos diversas maneiras de compreender a essa política dialogue com o transporte, a
Buscamos fazer uma reflexão sobre que, porventura, cultura de uma forma mais alargada, ou economia, o planejamento urbano, o meio
viessem a seja, aprofundar o olhar em camadas, ambiente, a saúde, a cultura alimentar, a
o conceito e o significado do projeto acontecer. buscando níveis mais profundos daquilo comunicação, a educação e o lazer.
Somente uma que se quer olhar; ou, numa perspectiva Assim, em 2009, com maior intensidade,
como cenário, espaço poético, noção ampliada horizontal, em que as nossas atenções se ampliou o trabalho com a criação do
e transdisciplinar digam respeito às inter-relações, na Núcleo de Formação em Música e Luteria,
abrigo de atores sociais de cultura pode interculturalidade, no diálogo entre os parte do Projeto ArteCulturAção, tomando
dar conta dos diversos atores e suas diferentes formas de como ponto de partida o incentivo à
10 Transcorridos alguns anos de grandes desafios culturais da cidade, do se manifestar. construção da cidadania cultural, levando-se
atividades, é preciso reconhecer, bairro. Devemos compreender a cidade, o A perspectiva desse olhar privilegiou em conta a formação de novas identidades
inicialmente, a necessidade de uma análise bairro como um cenário do conhecimento muitas formas de ver o mundo e não e a valorização das tradições culturais e de
que envolva a importância da educação, e um cenário do reconhecimento da apenas aqueles conteúdos cristalizados, memória relacionadas à comunidade local.
da cultura, das artes e das esferas do gosto diversidade, não apenas da informação, do geralmente propostos aos jovens. Nesse Com base nesses eixos, a preocupação
e das tomadas de posição (políticas) evento e do desconhecimento. A cidade da sentido, a flexibilização desse jeito de era dar continuidade às atividades
dos agentes, bem como a utilização informação pressupõe construir a cidade fazer foi fundamental para entendermos iniciadas em 2006. Uma nova turma de
de conceitos e de esquemas analíticos do conhecimento que possa favorecer que a cultura dita “tradicional”, com suas jovens (iniciantes ou não) foi formada
tomados no decorrer desses anos. Desse redes de trocas, no intuito de implementar diversas expressões, pode conversar e ser com foco no aprendizado da confecção
modo, buscamos fazer uma reflexão sobre a cidadania cultural, humanizando o lugar apreendida de maneira mais profunda, de instrumentos de percussão, rabeca
o conceito e o significado do projeto como onde se vive. buscando as suas raízes dentro do acervo e violino e também na sua utilização
cenário, espaço poético, abrigo de atores Com esse entendimento, acreditamos cultural. Ou seja, entender de onde veio musical. A ideia era aproveitar os
sociais. Ele é o palco de cenas vivenciadas que a cultura é a mãe de outros campos essa cultura, quando nasceu, o que somos recursos humanos gerados nos anos
por tantos jovens curiosamente obstinados do conhecimento, nomeadamente, a arte, e o que queremos, que significados já teve anteriores (educandos que acumularam
conhecimentos e que estavam preparados prontamente a inclinação natural de seus As aulas práticas são dadas na ministradas aulas de Teoria Musical, cuja 13
para desenvolver atividades de educadores respectivos caracteres.” oficina onde grupos de dez alunos, finalidade foi a de agregar conhecimento
aprendizes), consolidando, assim, uma Com essas questões postas, o novo sob a orientação do educador luthier para aprimorar a capacidade dos
política educativa por meio das ações desafio foi criar uma estrutura para o e dos educadores aprendizes, e cada educandos na fabricação ou restauração
culturais democráticas, voltadas para a funcionamento do Curso de Formação educando deveria produzir sua peça de instrumentos musicais. Cada
ampliação dos direitos dos indivíduos e de luthieres. Desse modo, as atividades individualmente. Contudo, as etapas participante, por meio de audições
para o exercício pleno foram estruturadas em módulos: o são realizadas em grupo, possibilitando individuais e coletivas, passou a
da cidadania. primeiro, de construção dos instrumentos, ao educando a oportunidade de discutir conhecer os mais diversos timbres dos
A proposta foi trabalhar aspectos é dividido em seis disciplinas prático- seu trabalho com os colegas, educadores instrumentos, como são utilizados,
específicos para o desenvolvimento teóricas de Luteria, que correspondem às e com o educador luthier. Ao final do seus estilos, suas peculiaridades e as
pessoal e social dos jovens. Essa atividade partes de um instrumento de percussão curso, cada educando participa da suas nuances e diferenciações tímbricas
tratou, portanto, de descobrir novos (tampo, fundo, laterais, escala). Além construção de vários instrumentos de acordo com a produção musical.

apresentação Tião Soares


conhecimentos e questionar pontos da inclusão de um instrumento de arco com seus colegas e de um instrumento Os educandos tiveram, também,
que pareciam fechados, ouvir as e corda, a rabeca. O segundo módulo a sua formação
pessoas, coletar opiniões e registrá-las, trabalha montagem e regulagem; e o A perspectiva era de que os complementada com
trocar experiências com educadores e terceiro módulo aborda as técnicas o apoio de referências
comunidade, discutir textos filosóficos e de fino acabamento. Teoria musical e participantes tivessem a históricas, passando
sobre o cotidiano. prática instrumental, acompanhadas de a conhecer a origem
Dessa maneira, a proposta surgiu num discussões sobre educação ambiental, e oportunidade de tornarem-se dos instrumentos, os
primeiro momento como um agente outros temas correspondem ao quarto, materiais utilizados na
transformador, com a finalidade de quinto e sexto módulos, respectivamente. multiplicadores da experiência sua confecção e em quais
preparar com eficiência os criadores de O curso básico apresenta uma estrutura situações são usados.
um mundo novo e de um novo olhar, de caráter puramente artesanal, o que Outra área a que se
12 bem como expandir, para muitos, o possibilita ao aluno a interpretação de um completo, estando habilitado a atuar deu ênfase foi a da educação ambiental. A
conhecimento das artes, da cultura, dos projeto para a construção de instrumentos como aprendiz de luthier e restaurador possibilidade concreta de formar cidadãos
ofícios, da educação e da vida humana, utilizando apenas a ferramentaria básica. de instrumentos musicais. A perspectiva desenvolve-se por meio do conhecimento
fundamentos indispensáveis ao alimento O projeto caracteriza-se por uma era de que os participantes tivessem e de sua consciência sobre o homem e
da alma. Tal reflexão foi inspirada em carga maior de trabalho prático e uma a oportunidade de tornarem-se seu próprio meio. O módulo que discute
Platão2, quando bem dizia: carga menor de aulas teóricas. As aulas multiplicadores da experiência, ou seja, a o tema busca despertar nos educandos o
teóricas são ministradas no próprio formação de novas turmas de educandos interesse pelas questões políticas e sociais
“Deves treinar teus filhos nos estudos espaço de realização das atividades de é um resultado natural do processo. ligadas aos assuntos ambientais. Nesse
de maneira descontraída e sem nenhuma forma expositiva, acompanhadas de O projeto se voltou, ainda, para período do curso, foi realizada uma
atmosfera de constrangimento, com consulta à bibliografia relacionada a uma formação mais abrangente dos imersão na história voltada ao meio
o objetivo extra de discernir mais cada uma das disciplinas. participantes. Para tanto, foram ambiente, destacando a importância

3
SANTOS, B. S. (2002). As Tensões da Modernidade .
PLATÃO. A República. São Paulo: Martin Claret, 2002, p.178 Disponível em: www.dhnet.org.br/direitos/militantes/boaventura/boaventura4.html.
2
desse tema, além da promoção de debates uma comunidade com justiça entre experiências teóricas, práticas, palavra-chave é a transdisciplinaridade 15
e oficinas relacionadas ao uso de matéria- social, pluralista, democrática técnicas e estéticas, de transformação e podemos traduzi-la por não
prima utilizada, envolvendo temas como e igualitária, fatores importantes para ou de difusão. fragmentação, não departamentalização
a origem da madeira, o controle da cadeia a sustentabilidade e para de informações. Desse modo, buscamos
de custódia da madeira e noções básicas o desenvolvimento. A sensibilização do educador em Edgard Morin4 uma breve explicação
de ecologia. No âmbito das oficinas, a metodologia Nessa mesma linha de pensamento, desse jeito de atuar, de se discutir e/ou
Para levarmos adiante a ideia da empregada é aquela dos encontros, das o ArteCulturAção investe, também, na de decifrar.
cultura do ser em contrapartida à conversas em pé de calçada, das rodas de sensibilidade do educador, por meio de
cultura do ter, definimos a presente conversa, preparos para a Ausculta Social encontros e trocas. O educador é desafiado Religar os saberes situa-se na finalidade da
proposta como uma escola múltipla da – metodologia inovadora que vai além a olhar o mundo com uma visão alargada “cabeça bem feita”. Ela trata de um ponto que
arte de sonhar, inserida no contexto do escutar; nela levam-se em conta os e capaz de colar os cacos do grande vaso se encontra igualmente ausente no ensino e
gestos, as piscadelas da sabedoria, a partir do desenvolvimento que deveria ser considerado como essencial: a

apresentação Tião Soares


No âmbito das oficinas, a metodologia e os modos de vida, de conteúdos programáticos voltados a arte de organizar seu próprio pensamento, de
os ruídos internos diversas áreas do conhecimento, os quais, religar e, ao mesmo tempo, diferenciar. Trata-
empregada é aquela dos encontros, e o que há de novo por sua vez, deverão contribuir para a se de favorecer a aptidão natural do espírito
dentro do barulho formação ética do educando, tornando-o humano a contextualizar e a globalizar,
das conversas em pé de calçada, e do silêncio de capaz de ler as diversas linguagens que isto é, a relacionar cada informação e cada
cada um. formam a grande arte de nosso povo. conhecimento a seu contexto conjunto.
das rodas de conversa, preparos O projeto foi As ações desenvolvidas durante todo o Trata-se de fortificar a aptidão a interrogar
estruturado com processo pressupõem o exercício pleno de e a ligar o saber à dúvida, de desenvolver a
para a Ausculta Social intenções ambiciosas uma metodologia que incuta no educador o aptidão para integrar o saber particular em
de contribuir para compromisso constante de aprender com o sua própria vida e não somente a um contexto
geopolítico de um mundo bipartido a implantação de políticas públicas ato de ensinar. Esse é o sentido da educação global, a aptidão para colocar a si mesmo
14 citado por Santos3: “entre globalismo comuns a todas as classes sociais; compartilhada, fundamento indispensável os problemas fundamentais de sua própria
localizado e localismo globalizado”, entre obter, na diversidade, resultados na compreensão da cultura como prática existência e de seu tempo.
a cultura de massa e a do espetáculo, transformadores nas diversas áreas da liberdade. Auscultar determina uma
entre sistemas transnacionais de poder da cultura e da arte e, no caso, na postura como um ser disposto a vivenciar Para se chegar a esse estágio,
econômico e político e regime de países, linguagem da música e na construção prontamente a formulação de perguntas foi necessário que as disciplinas se
estados ou bairros periféricos que de instrumentos de percussão, gerando muito mais do que de respostas, ou seja, misturassem ao sabor das preferências
lutam para preservar a sua identidade, um importante centro de referência e aprender em comunhão. e necessidades dos educandos, dos
a cultura de seus povos. Um mundo irradiador de manifestações, de fazeres Cabe dizer que a proposta do projeto educadores e do local. A Ausculta
cuja marca registrada de sobrevivência e de saberes culturais nessa região. leva em conta o conceito do pensamento Social, método adotado em todo o
será a competência e a conformidade Um projeto cujas disciplinas, não complexo, articulado às disciplinas processo e que compreende a educação
das raízes históricas como os meios importando a área a que pertençam, nas diversas áreas do conhecimento. A compartilhada, propõe a valorização do
mais sofisticados para a informação são consideradas expressões artísticas
e a comunicação. O projeto é, então, e culturais, do ponto de vista de um
implantado nos moldes aspirantes de diálogo permanente e contextualizado 4
MORRIN, E. A Religação dos Saberes. Rio de Janeiro: Bertrand, 2007, p. 21.
saber social da comunidade, procura ações desenvolvidas ali têm como alicerce de seus participantes e realizadores um abertura de trajetos com transeuntes não 17
conhecer as raízes de seu acervo as raízes culturais e sociais. fazer de novas ideias, integrando um desterritorializados.
cultural, redescobrir a origem dos O ArteCulturAção, por meio do corpo da diversidade criativa, fazendo A cidadania e a cultura caminharam,
moradores, a história local e resgatar a Núcleo de Formação em Música e um remanejamento profundo dessas efetivamente, como não poderia deixar
memória coletiva. Luteria, mostra que é possível oferecer a práticas educativas para a construção da de ser, juntas o tempo todo e formaram
qualquer indivíduo, não importando a compreensão da cultura nos fazeres e no pares de grande relevância em todo o
Contexto e espaços educativos sua origem, classe social ou escolaridade, sentido de pertença ao contexto em que osdesenvolvimento de nossas ações. É nela, na
A constante busca de integração ao os instrumentos indispensáveis para participantes vivem. cultura, em que a outra se realiza e ambas se
contexto, resultante de estar não apenas a construção da cidadania que o Assim, entende-se que a publicação complementam. Como bem dizia Santos5:
nele, mas com ele, traduziu dentro do qualifiquem como cidadão(ã) ativo(a) desses saberes e dos fazeres coletivos “Assim como cidadania e cultura formam
processo educativo algo muito relevante. na comunidade. um par integrado de
Elevou o grau de cognição, aliando a As ações educativas, por meio da significações, assim

apresentação Tião Soares


apreensão do conhecimento, e possibilitou cultura e da arte, pela dimensão que Um projeto dessa forma concebido também cultura e
o reconhecimento, ou seja, reconhecer-se assumiram nesses anos de atuação, territorialidade são, de
e ser parte de seu contexto histórico de cumpriram em grande parte as metas pressupõe não só a interação certo modo, sinônimos.”
vida, da cultura, da territorialidade. Pode- previstas em sua criação. Mobilizaram a A dimensão do
se, portanto, dizer que é nesse espaço comunidade e suas culturas, atuaram e pedagógica, mas também o trabalho nesses mais
indivisível que os participantes produzem atuam sobre centenas de jovens ávidos de três anos trouxe à
suas obras em diversas dimensões. Por por conhecimento e está, certamente, intercâmbio cultural com tona o início de outros
sua vez, os educadores das diversas áreas deixando a sua marca gravada na mente desdobramentos
assistem os educandos, por meio da de quem passou sem querer, alguma outros fazeres e saberes voltados para a
confluência, do intercâmbio, das trocas de vez, na frente de um espaço educativo comunicação
saberes e de experiências. que contemple um filme, uma peça, um permite criar diálogos mais abrangentes do indivíduo com o seu meio, traçou
16 Cremos que o espaço de práticas mamulengo, um espetáculo musical, uma em torno do entendimento e da caminhos de reaprendizado das relações
educativas é também uma dimensão. contação de histórias, uma roda de leitura apreensão da dimensão simbólica da comunitárias dentro do próprio processo de
Assim, o projeto é um chão de fábrica ou de conversa ou outras atividades. cultura, condição indispensável para viver em grupo. Essa experiência mostrou
ou, mais precisamente, um ateliê, um Portanto, é um centro de encontro implementação de modos de vida das a consciência de pertencer a um grupo,
estúdio, um palco, um laboratório, uma e de sonhos, de vidas, de brilhos, de pessoas que vivem inseridas num certo abriu fortes dinâmicas sociais e sentidos de
oficina, uma gráfica, um forno. É um oportunidades e aprendizagens. Nesse contexto social e geográfico em condição reconhecimento do lugar onde as pessoas
espaço de trabalho prático, teórico e de sentido, entende-se esse lugar de de desenraizadas. A aprendizagem, por vivem, onde moram. É nesse lugar de cada
brilho, de sonhos, e que se torna um convivência e compartilhamento como meio do diálogo, mostra a possibilidade um onde se construiu o lugar de todos,
centro de pesquisa irradiador de energias fonte de meios fundamentais para a de se reconhecer e construir, no seio dentro da diversidade e da territorialidade.
e de educação, em busca da fonte do comunicação e a dialogicidade entre os desse cenário, novas identidades Tião Soares
saber humano. Um projeto dessa forma seres humanos. culturais e, assim, contribuir para a Coordenador de Cultura
concebido pressupõe não só a interação A contribuição desse espaço de debate
pedagógica, mas também o intercâmbio abriu, inegavelmente, uma reflexão
cultural com outros fazeres e saberes. As filosófica e exerceu sobre o pensamento 5
SANTOS, M. O Espaço do Cidadão. São Paulo: Nobel, 1987, p. 81.
por José Pedro da Silva Neto 19
“É um homem corajoso que inicia a si mesmo,
um homem sábio não se autoproclama chefe,

Ethos e Tambores facas, não importa quão afiadas elas sejam,


não conseguem entalhar o próprio cabo.”
Provérbio Ioruba

Já que o lugar ocupado por um grupo não antes ocupado pelos mitos tradicionais e
é como um quadro branco sobre o qual pela religião agora é da cultura de massas.
escrevemos e depois apagamos os números O samba, exemplo clássico, em suas
e as figuras, se faz necessário contextualizar primeiras letras, na década de 1930, tinha
os mecanismos da relação entre o citações de elementos das religiões afro-

apresentação
conteúdo aplicado sobre instrumentos e brasileiras, mesma época que marca a
tambores e o fazer cotidiano do Núcleo de constituição da indústria fonográfica e a
Formação em Música e Luteria do Projeto instalação efetiva da rádio do Brasil, no
ArteCulturAção. Rio de Janeiro. Embora na sua origem o
Nas rodas de conversa, na exibição samba esteja intimamente ligado à música
de vídeos e filmes e nos debates sobre os religiosa do grupo linguístico banto, nesses
tambores, é frequente a indagação dos mesmos anos 1930 foi elaborado um estilo
participantes do Núcleo sobre as mais voltado para a sociedade abrangente,
questões referentes à cultura de “o samba urbano em oposição ao samba de
matriz afro-brasileira. morro”1, diz Reginaldo Prandi. Divisão
Apesar de o senso comum não achar, proposta pela cultura de massas, como diz
essa cultura, historicamente, sofreu Morrin: “a cultura de massas produz os seus
reducionismos. O tempo, os preconceitos e próprios mitos”2.
as necessidades do capital fizeram com que Como debater essas questões sobre
as especificidades fossem sobrepostas por uma produção cultural tão complexa, de
definições culturais hegemônicas. O lugar difícil definição? Mais difícil ainda é seu

1
PRANDI, Reginaldo. Segredos Guardados. Cia das Letras, 2005.
2
MORIN, Edgar. Necrose. 1975.
compartilhamento com limites definidos Em nossas discussões, indicamos a Soares. Ela permite trazer os sentidos do Permitido pela Auscultação, nosso 21
e delimitados. Principalmente, porque, filiação, sem medo. Contextualizamos, passado pelos ruídos internos, pelos olhares,
conceito de tradição, de passado, de
para o projeto, a arte não é uma classe descontextualizamos e recontextualizamos, pelos sabores e sons da memória do corpo. memória não é cristalizado, está sempre
de objetos existentes no mundo para e o que aparentemente seria repulsível Conversar sobre essa memória sendo recriado, continuado. A mesma
serem circunscritos e classificados, mas para os adolescentes passa a fazer parte de ancestral, no primeiro momento, parece metodologia permite, ainda, recriar,
uma categoria do nosso pensamento e da ligações e lembranças de sua infância ou de chato para os jovens, pois é comum complementar o mosaico cultural, no

apresentação José Pedro da Silva Neto


nossa prática. passadas vivências familiares. associar o passado com coisas caretas, nosso caso, praticar a música, o canto,
Como fala Pedrosa: O tambor, agora repleto de significados, com tradição, principalmente hoje, ele a dança, as artes plásticas, sempre
traz mais sentidos, não só o da macumba morador de uma metrópole como São ligados, características indissociáveis
“a arte dessas culturas não é uma arte de perversa, não só o da festividade e alegria. Paulo, com o imediatismo, a valorização para a cultura de matriz africana, mas
contemplação, mas ativa, participante, cole- Afinal, ele está arraigado no ethos de cada do indivíduo sobreposto à coletividade comumente aplicados em oficinas de
tiva, e não substitui nada, em nenhuma de adolescente. Segundo Geertz: percussão, onde os
suas manifestações. Não é representação de alunos, ora só aprendem
uma imagem, mesmo da realidade, porque “os aspectos morais (e estéticos) de uma dada Permitido pela Auscultação, nosso conceito a tocar o instrumento,
é a própria realidade, ou uma das fontes de cultura, os elementos valorativos, foram re- ora só aprendem a
recreação dessa realidade”3. sumidos sob o termo “ethos”. O ethos de um de tradição, de passado, de memória dançar, ora só aprendem
povo é o tom, o caráter e a qualidade de sua a cantar. Maracatu não é
De que forma indicar a matriz vida, seu estilo moral estético e sua disposi- não é cristalizado, está sempre só um ritmo!
de todo o arsenal simbólico dos ção, é a atitude subjacente em relação a ele Por sua vez, a
tambores na cultura brasileira, que mesmo e ao seu mundo que a vida reflete.”6. sendo recriado, continuado etnicidade também não
nasceu e está guardado no candomblé? é cristalizada, ela ocorre
Inúmeros oficineiros não indicam essa Fazer sentido para os jovens ao trazer no contato com o outro,
filiação. A reação dos adolescentes à tona suas lembranças mais antigas, dar e à não possibilidade de planejamento, e essa relação é reconstruída e construída
20 e de suas famílias seria de repulsa. outros sentidos para seu ethos, referenciar enfim, à modernidade. Faz sentido para histórica e socialmente. A identidade
Quando perguntado: o que é um ilú4? sua memória, é de certo modo remontar ele intitular essa tradição como velha. étnica de um grupo só é formada quando
Comumente, os educadores respondem: um passado que não é percebido, muito Na definição de tradição mais comum este vê e se relaciona com outros grupos,
é um tambor! A conversa para por aí. menos permitido em seu cotidiano. Está e amplamente empregada, é normal é a visão do diferente. Essa identidade
Se a pergunta for: o que é macumba6? O aí uma brecha para utilizar a metodologia dizer que sociedades ditas tradicionais não é dada apenas, ou somente, por
educador fica sem resposta. da Auscultação Social, elaborada por Tião são estagnadas, vivem num presente traços fenótipos, existem outros fatores
eterno sem alterações com o passar do de identificação. Nenhum fator tende
tempo. Muitos antropólogos pesquisam, para “uma homogeneidade cultural, muito
“suas formas puras, negligenciando as pelo contrário, a diversidade cultural e
3
PEDROSA, Mario. Arte, Arte Índia, Artes Indígenas. 1996. alterações devidas ao tempo e ao efeito das linguística é utilizada para garantir as
4
Ílú (s.m.) do ioruba significa literalmente tambor, qualquer tambor. Geralmente esta palavra é utilizada
antes de qualquer membranofone de matriz iorubana. Exemplo: ilu abá-demin, ilú bata, ilú de Xangô etc.
relações externas”7. distâncias culturais”8.
5
Macumba (s.f.) instrumento de percussão idiófono com som de rapa. Contudo, o termo generali-
zou-se, rotulando diferentes estilos e formas de religiões afro-brasileiras, porém marcando sentido
pejorativo e preconceituoso. 7
BALANDIER, Georges. Antropo-lógicas. Ed. Cultrix, São Paulo, 1976. p. 189.
6
CEERTZ, Clifford. A Interpretação das Culturas. LTC, Rio de Janeiro, 1889. p.143. 8
BALANDIER, Georges. O Dédalo, para finalizar o século XX. São Paulo, Ed. Bertrand Brasil.
23

apresentação José Pedro da Silva Neto


A aura de filiação referida por Cohen codificamos regularidades, “a noção
Orientamo-nos em uma produção cultural também é feita com o presente e o de que se pode encontrar a essência de
futuro. No processo histórico brasileiro, sociedades nacionais, civilizações, grandes
afro-brasileira qualificada, com sentidos para houve inúmeras rupturas em relação à religiões ou o que quer que seja, resumida e
degradação feita pela cultura de matriz simplificada nas assim chamadas pequenas
os signos e símbolos, das continuidades e africana. Não continuamos esses erros. No cidades ou aldeias, é um absurdo visível”10.
Núcleo, fazemos relações do atual funk, Nas generalizações, esquecemos
das rupturas com uma aura de filiação forró, samba, axé music com a cultura a importância dos fundadores. O
cotidiana dos adolescentes. Além das pertencimento etnicorracial negro fica
informações transmitidas pela oralidade, diluído. Tambor é igual a macumba,
A etnicidade não é vazia de conteúdo Nesse sentido, não buscamos uma matriz natural, também desenvolvemos a igual a candomblé, igual a batidão.
cultural, mas ela nunca é também a separação no debate das culturas, escrita e a leitura. “Todo mundo diz que sabe, é fácil.”
simples expressão de uma cultura já separação entre cultura de massas e Orientamo-nos em uma produção Na correlação entre o tempo e
pronta. Ela implica sempre um processo negras, cultura de elite ou popular, mas, cultural afro-brasileira qualificada, com o espaço, continuidade e ruptura,
de seleção de traços culturais dos quais sim, indicar e qualificar as particularidades sentidos para os signos e símbolos, das tradição e modernidade, sem hiatos,
os atores se apoderam para transformá- das identidades etnicorraciais afro- continuidades e das rupturas com uma é o que discutimos, fomentamos,
los em critérios de identificação com brasileiras. “O que diferencia em última aura de filiação. A dança, a música, o propomos. Promovemos as questões
22 um grupo étnico. Se nesse processo instância a identidade étnica de outras canto, as artes visuais e a luteria, e contribuições das culturas
forem esquecidas as identidades afro- formas de identidades coletivas (religiosas sempre unidos. afrodescendentes em um debate mais
brasileiras, o tempo e o espaço farão ou política) é que ela é orientada para Isso não quer dizer que colocamos amplo, o da cultura.
com que as generalizações subjuguem o passado e tem sempre uma aura de tudo no mesmo saco. Procuramos tornar José Pedro da Silva Neto
nossas identidades. filiação” (R Cohen, 1978)9. possíveis descrições minuciosas e não Assistente de Coordenação

9
ELIADE, Mircea. Tratado de História das Religiões. Ed. Martins Fontes, 1998, p. 162. 10
CEERTZ, Clifford. A Interpretação das Culturas. LTC, Rio de Janeiro, 1889, p. 32.
Construção de
ideia por achar que os tambores eram de e depois para nossos amigos jovens, nos 25
macumba. Hoje, não conseguimos viver transformando em educadores aprendizes.
sem esses encontros. No ano seguinte, começamos a dar aula
Por conta de nossas necessidades de de construção em outros lugares da zona
ter um espaço voltado à cultura e à troca leste, como escolas, associação de bairros e
com a comunidade, a Fundação Tide até para adultos. O espaço da oficina,

uma História
Setubal construiu, em 2007, o Galpão de onde construímos os instrumentos,
Cultura e Cidadania em parceria com a foi reestruturado com nova organização
Sociedade Amigos do Jardim Lapenna. e equipamentos.
Um grande salão para os ensaios e salas Em 2010, além de jovens interessados
para as aulas teóricas. na construção, abrimos espaço para que
Além da construção de instrumentos e grupos da região também pudessem
por Jovens Aprendizes do aprendizado dos ritmos, conversamos melhorar suas apresentações com
instrumentos construídos por

T udo começou em 2006 no antigo


galpão Azul. Todas as sextas-feiras à tarde,
instrumentos. A oficina começou a crescer,
apareceram algumas dificuldades como:
Às vezes, estamos andando pelas ruas a atuar também como
eles mesmos, e nós começamos

apresentação
monitores desses novos alunos.
estávamos lá, cerca de 35 jovens, meio disputas do espaço com outras pessoas, do bairro, quando, de repente, Com nossas apresentações
sem vontade no início, até começarmos a picada de marimbondos, alagamento e a em diferentes espaços, como
tomar gosto pela percussão e construção de comunidade que não estava gostando da vemos um aluno gritando no XIV Revelando São Paulo,
um importante festival de
“professor!”. É muito bacana cultura paulista, começamos
também a receber encomenda
sentir o reconhecimento de instrumentos, o que
nos apareceu como uma
sobre outras questões do nosso dia a dia, possibilidade de renda.
sobre nossa família, comunidade, sobre Hoje, a comunidade nos reconhece.
educação, cultura. Notamos que, com o Às vezes, estamos andando pelas ruas do
tempo, os que falavam pouco e viviam de bairro, quando, de repente, vemos um
cabeça baixa agora se expressam melhor. aluno gritando “professor!”. É
Sem medo de falar. Quanta mudança! muito bacana sentir o reconhecimento
Montamos um grupo chamado das pessoas.
Expressão e Atitude, que se apresentou em
Esdras Jonatas Nunes dos Santos
vários lugares de São Paulo. Um orgulho Fabiano Barbosa de Magalhães
pra nós. Em 2008, começamos também Renato Soares de Oliveira
a dar aulas para crianças de 5 a 12 anos Wesley Santana Soares
Olhar, Considerando que os níveis de informação oferecida não podem ser defini­
dos pontualmente e que não seria possível classificar, linearmente, todos os ins­
trumentos aqui descritos, buscamos oferecer o acesso aos resultados concretos
de um trabalho de promoção sensível a um conhecimento específico que se
incorpora a uma terminologia adotada pelos diversos autores deste campo de
pesquisa – instrumentos aerofones, cordofones, idiofones, membranofones.

Experiência da Educação pela Arte


Ouvir, Este trabalho aqui desenvolvido é
fruto da pesquisa de três anos com
jovens do bairro de São Miguel Pau­
lista, zona leste de São Paulo. O re­
dores ou arte-educadores, músicos
e pesquisadores possam usufruir,
auxi­liando-os em trabalhos futuros.
Esperamos que este trabalho sirva
sultado prático se concretiza neste tanto aos interessados quanto aos
instrumento que, nomeadamente, profissionais deste ramo de atua­

Tocar
contribuirá para que outros educa­ ção ou de conhecimento.
1
Instrumentos
Aerofones
São instrumentos cuja vibração é provocada
pelo ar assoprado (flauta, clarinete etc.) ou
comprimido (sanfona, gaita de foles etc.).
Do substantivo masculino aerofônio.
Inspirado nos tambores de tapa, esse Materiais necessários 31
instrumento é construído com tubos de 3
PVC de vários diâmetros. Os canos são
• canos de PVC com 10 cm ou 4 polegadas;
cortados de maneira que cada um produza
• 14 m de ripas de cedro de 2 cm de
uma nota da escala musical com a batida
espessura e 9 cm de altura;
em sua boca feita com chinelos. Outra
• parafusos de cabeça redonda com fenda
variação possível acontece quando os tubos
simples D= 1/8” x 1 ½” comprimento;
são fechados na parte superior e ele é tocado
• pregos sem cabeça 13 x 18.
com baquetas emborrachadas na ponta.
3) Alinhe todos os canos em cima de
uma das ripas de 0,90 cm, coloque-os
Parece-nos que o chinelofone foi difundido no Brasil pelo grupo Uakti, formado no ano 3 cm de distância um dos outros. Coloque
de 1978, sob liderança de Marco Antônio Guimarães, discípulo do suíço Walter Smetak. O Modo de construção outra ripa de 0,90 cm em cima e feche
nome do grupo foi tirado de uma lenda dos índios tukanos, do Alto Rio Negro. Sua música os lados com as ripas cortadas de 4,5 cm.
caracteriza-se pela instrumentação original. Os músicos (Marco Antônio Guimarães, cordas; 1) Corte os canos de PVC conforme a tabela. Faça dois furos na ripa e no cano,
Paulo Sérgio dos Santos, percussões; Artur Andrés Ribeiro, sopros; Décio de Souza Ramos, passe os parafusos e prenda. Repita o
percussões) são os construtores/adaptadores de seus instrumentos, feitos de materiais 2) Para os apoios, serre duas peças de 49 procedimento 30 cm abaixo.
cm de comprimento. Para as laterais, corte

Chinelofone
como tubos de PVC, sinos de madeira, caldeirões etc. Além disso, usam instrumentos
“convencionais” como violões e violoncelos. duas peças de 1,60 cm. Para frente da 4) Pregue as ripas de 1,60 cm nas laterais
armação, serre quatro peças de 0,90 cm. alinhadas com os canos, pregue também
Para as laterais da armação, corte quatro as ripas de 49 cm na ponta oposta para
Cálculo do Tamanho do Cano
peças de 4,5 cm. fazer os apoios.
para saber a Nota Musical

30
60% do diâmetro
343 – = comprimento
interno
2 x frequência do Tubo
(em metros)

Exemplo:
Comprimento do
Notas
cano de 4 polegadas
Dó 1,25 m
Ré 1,11 m
Mi 0,98 m
Fá 0,92 m
Sol 0,82 m
Lá 0,72 m 2
Si 0,64 m
2
Instrumentos
Cordofones
São instrumentos musicais cujo som provém de
cordas distendidas, em geral, sobre uma caixa de
ressonância, comumente de madeira. Do
substantivo masculino cordofônio.
Palavra de origem linguística quimbundo, grupo linguístico trazido da região africana O caxixi, chocalho incorporado ao berimbau tardiamente exclusivamente no Brasil, compõe o 35
hoje conhecida como Angola. É também conhecido como berimbau de barriga, urucungo, grupo percussivo desse instrumento.
ricunco, ngonga, nbulumbumba, lucungo, hungu.
O marimbau, um dos tipos de berimbau, de metal, com uma lingueta de aço entre dois ramos, e
Em geral, é construído com um pedaço
que aplica sobre os dentes, fazendo-se vibrar a lingueta com o dedo indicador. A própria boca é a
de madeira flexível mantido em forma
caixa de ressonância desse instrumento. Seria a mistura entre o berimbau e a marimba.
de arco de arame, e com uma cabaça na
parte inferior que funciona como sua caixa
de ressonância. Até a época de Mestre
Patinha, a madeira usada era o pau- Modo de construção
Materiais necessários
pombo (Tapirica guianensis) ou mesmo
a biriba, talvez nominando berimbau.
• cabaça média ou pequena; 1) Corte a beriba ou bambu
Quanto à corda, inicialmente, nos parece
• beriba ou bambu; com a altura de 140 cm.
que era feita de algum material natural,
• arame;
um pedaço de cipó ou corda feita de lã.
• barbante resistente;
Hoje, são utilizados os arames de pneus de
• 1 prego;
carros velhos, muito mais resistentes. 2) Corte um pedaço de couro circular
• 1 pedaço pequeno de couro.
do tamanho do diâmetro de uma das
É tocado com uma moeda, arruela, dobrão extremidades da beriba.

berimbau
Indispensável na capoeira, difundiu-se ou pedra de seixo arredondada. Essas peças 2
no Recôncavo Baiano e depois espalhou- substituíram o uso dos próprios dedos,
se por todo o país em virtude da pressionando o arame e uma vareta de
popularização da capoeira, cada vez mais biriba, também chamada vaqueta, que
considerada um esporte nacional. batida na corda produz os sons.
34

3) Com um prego pequeno de


aço, fixe o couro em uma das
extremidades da beriba.

3
8) Com um prego grande, faça dois furos com 37
4) Na extremidade oposta, com a 2 cm de distância entre eles na extremidade
ajuda de uma serra, faça um nicho oposta à abertura. Pegue um barbante
de 1 mm em toda a volta da beriba, resistente de 30 cm e perpasse pelos dois furos,
distante 3 cm do fim da madeira. junte as pontas e faça um forte nó.
Amarre fortemente
uma das pontas do arame de
190 cm neste nicho.
4 8

5) Na outra ponta, amarre no


arame um pedaço de 30 cm de 9) Com tintas para madeira, pinte tanto a
barbante resistente. 6) Estique o arame passando pelo pedaço cabaça quanto a madeira do arco com as
de couro, envolva o restante no corpo da cores de seu gosto, além de ficar bonito,
beriba e prenda com o barbante. você protege o material da umidade. 10

berimbau
10) Pegue o barbante da cabaça e o tensione na
extremidade onde está o nicho com o arame
36 amarrado, essa é a parte de baixo do berimbau. Com
5
uma vareta de 30 cm, tilinte no arame, movimente
o conjunto da cabaça até encontrar o tom.
6

7) Pegue uma cabaça média e, com o


auxílio de uma serra, corte cerca de 2 cm
7 depois do fim de sua parte mais afinada.
Ela ficará com um formato de cuia. Com
uma colher, retire as sementes e todo o
material orgânico de seu interior.
Os mais antigos registros que se tem da rabeca provêm de culturas da África do Norte, Modo de construção trabalhar e que produza melhor acabamento 39
Oriente Médio e Ásia Central, nas quais ela possuía nomes diversos, como rabãb, rubab, aliado à sua beleza natural. Devemos escolher
rabob, rabãba etc., e estava mais presente nas práticas musicais das camadas populares. É Para a construção da rabeca, há uma uma peça com veios regulares e evitar nós
um instrumento precursor do violino. É tocada nas mais diversas manifestações populares e infinidade de madeiras, mas escolhemos e rachaduras. Para a rabeca produzida na
religiosas em todas as regiões do Brasil. Possui vários tamanhos e afinações, por isso, e como aquelas que são mais interessantes FTAS, utilizamos o marupa, comercialmente
diria o pesquisador José Eduardo Gramani, ela tem “um som inesperado”, cada rabeca tem acusticamente, aquelas mais fáceis de conhecido também por caixeta.
sonoridade diferente da outra.
1) Para o corpo ou caixa harmônica,
pegue o gabarito anexo já com o formato
aproximado da rabeca e marque, com a
Materiais necessários
ajuda de um lápis, o pedaço de marupa de
42 cm por 22 cm e 4 cm de espessura.
Para o braço e caixa harmônica – caixeta,
marupa e tauari; 1
2) Com o auxílio de uma serra
2
tico-tico, serre todo o contorno já marcado.
Para o espelho, estandarte, cravelha,
botão e cavalete – peroba e jatoba
(madeira dura). 3 3) Escave a peça, tanto nas laterais quanto no
fundo, com o auxílio de formões e martelo de
borracha, até chegar a uma peça fina (em torno
de 5 mm de espessura) e uma superfície com

rabeca
relevo de forma a deixar a região central como
a mais alta da caixa harmônica.
38

4) Para o tampo, pegue o mesmo gabarito


e marque a marupa de 42 cm por 22 cm e
1 cm de espessura. Serre o contorno. Com
a ajuda do formão, desbaste levemente as
bordas de forma a deixar a região central
do tampo como a mais alta da peça. Com
isso, o tampo adquire resistência e leveza,
sem perder flexibilidade
4
10) Com o braço finalizado, já com as 11) Após secar, use lixas para deixar as 41
5) Pegue o tampo e, com o modelo, marque com um lápis superfícies da peça sem muitas diferenças de
cravelhas e o espelho, cole-o ao corpo ou
os “efes” – pequenos orifícios em forma da letra f – na região altura, depois passe verniz ou goma-laca e
caixa harmônica da rabeca, atentando-se
central do tampo, sua parte mais bojuda. Com a ajuda da termine com o polimento. O verniz dá proteção
ao ângulo formado com a superfície do
serra de fita, corte os orifícios em forma da letra f, ajuste e estabilidade ao instrumento, além de beleza.
tampo. Em seguida, cole também o tampo.
suas bordas com o auxílio de lixas. Os “efes” da rabeca têm
importante função acústica, permitindo a saída do som e
5
dando maior flexibilidade ao tampo. 12) Conforme o modelo na foto,corte a madeira escolhida,
12
esculpa e faça o estandarte em forma de trapézio. Em
6 sua parte mais larga, faça pequenos furos onde serão
posteriormente fixadas as cordas. Na extremidade mais
6) Para o braço, corte a caixeta de estreita execute apenas um furo onde será fixado um
acordo com o gabarito anexo. cordão de nylon que amarrará o estandarte ao botão,
12
Em seguida, plaine a superfície onde embutido na faixa lateral da caixa acústica.
será colado o espelho.
13) Pegue a madeira adotada para a
7) O processo seguinte é bastante escultórico. confecção do cavalete, com base no gabarito
7
Comece com a escultura da voluta ou da risque a peça e com o auxilio de uma serra
cabeça que se deseja fazer. Depois, escave tico-tico de bancada corte os perfis. Observar
o cocho, onde serão ajustadas as cravelhas que as fibras da madeira deverão ficar na
e inseridas as cordas do instrumento. Após posição horizontal e os pés do cavalete

rabeca
13
concluída a parte superior, siga com o deverão acompanhar a curva do tampo.
arredondamento do braço e ajuste do “salto”,
40 que será colado à caixa harmônica. 14) Coloque as cordas e afine de acordo
com a música ou estilo a ser tocado.
8) Para fazer o espelho, use 9) Para fazer a cravelha, também utilize uma
uma madeira mais dura, a madeira mais dura. Elas devem ser torneadas, 15) O arco é feito em madeira
15
peroba, por exemplo. Ele tem fáceis de ser movidas durante a afinação, sem curvada, de modo a esticar um maço
o comprimento maior do que afrouxar durante o ato de tocar. Cada cravelha de crinas de cavalo. A essas crinas
o braço, avançando sobre o segura uma corda e serão utilizadas três ou quatro adicione breu para ter
instrumento. Deve ser colado para a rabeca. Com o auxílio da furadeira, faça dois atrito sobre as cordas. Os arcos
depois de terminada a escultura furos em cada lado do cocho do braço de maneira a de rabeca não necessariamente
do braço. Tem superfície convexa encaixar as cravelhas, conforme imagem. apresentam parafuso esticador
em sua largura e é praticamente como os arcos do violino e
9 apresenta variação de
reta no comprimento. Com cola
de madeira, pregue o espelho comprimento, peso, curvatura e
no braço. qualidade da madeira utilizada.
3
Estes são os instrumentos musicais cujo som,
provocado por percussão, provém do material
de que são feitos; há os de percussão pelo

Instrumentos
entrechoque de seixos, sementes ou chumbo
no seu interior, bastando sacudi-los: maracá,
angoia, xerê; há os de percussão indireta,
por meio de baqueta ou bastão: agogô,

Idiofones marimba, reco-reco; e há, ainda, a sansa, de


percussão direta, com os dedos. Do substantivo
masculino idiofônio. Também de idiofônico,
que tem som próprio, característico.
Formado por uma cabaça bojuda e recoberta por redes de fios tradicionalmente de algodão Materiais necessários Modo de construção 45
ou de náilon, que recebe búzios, sementes, miçangões, entre outros materiais. É usado para
marcar o ritmo dos instrumentos membranofones. • 1 cabaça de qualquer tamanho; 1) Amarre um pedaço de fio de
• contas ou miçangas tipo “cangicão” de náilon grosso no pescoço longo da
várias cores;
Além de nominar um instrumento, o cabaça, de modo que pareça uma
• 1 rolo de fio de náilon grosso ou cordonê.
afoxé integra diferentes contextos da argola frouxa.
música ritual afro-brasileira e também
nomina um cortejo de rua do período 2) A cada 1,8 cm, amarre nessa argola fios

Afoxé, Xequerê, Aguê, Agbê


do carnaval, sendo também conhecido duplos de náilon, de maneira que suas pontas 3) Coloque uma miçanga em um dos
como candomblé de rua, inicialmente ultrapassem a parte bojuda da cabaça. fios duplos da direita e outra miçanga
nominação também dos maracatus tambor com rede de búzios), tem seu mito em outro fio duplo da esquerda.
pernambucanos. No Batuque do Sudeste de nascimento nos versos do odú Eji Oko
e na nação jeje-mina de matriz linguística a explicação de como uma simples cabaça
ewe-fon, pode ser tocado por mulheres. ganhou sua “túnica” de búzios. 4) Amarre-os
próximos, de maneira
A maioria dos instrumentos tradicionais Na história, os acontecimentos ensinam que as contas não
tem uma função religiosa. Nesse sentido, que muito espertamente o xequerê roubou escorram pelo fio. 5) Em seguida, una e
eles são considerados sagrados e, ao a roupa de outro instrumento, um grande 5
Repita esse processo amarre as pontas dos
contrário do que muitos pensam, não são amigo, para apresentar-se na frente do rei. até cobrir a cabaça fios para que eles não
representação divina, mas sim o próprio Importante lembrar que o búzio era usado inteira, como deixem de envolver
deus. O xequerê, do ioruba sèkèrè (cabaça- como moeda entre os iorubas e só pessoas uma rede de pesca. a cabaça.
muito ricas o tinham em grande quantidade
para usar em roupas, brincos ou colares.
44
Outro nome para o xequerê, usado
principalmente em Pernambuco, é o aguê,
do ioruba agè (pequeno tambor de cabaça
usado pelos camponeses).

Mais um importante nome desse


instrumento é o agbê, do ioruba agbe,
kengbe ou ainda akeregbe. Segundo o
renomado antropólogo Vivaldo da Costa
Lima, é esse instrumento que nomina os
conhecidos alabês, do ioruba alagbe (dono
do agbê), os fantásticos tocadores-chefes e
cantadores dos candomblés brasileiros.
Mesmo que chamado de tambor, estes instrumentos Materiais necessários para cajón Modo de construção 47
não são membranofones, mas em vários formatos são
utilizados há gerações como instrumentos de percussão. • compensado de 1 cm de espessura; 1) Serre o compensado de 1 cm de
Um exemplo é chamado tambor de fenda, um grande • compensado de 0,5 cm de espessura; espessura nas seguintes medidas: para
pedaço de tronco de árvore escavado em seu interior, • cola branca; as laterais – 45 cm de altura por 29,5 de
que, na África Central, pertence a lideranças de etnias e é

Cajón e Conga Praiana


• parafusos de rosca soberba largura; para o lado superior e inferior –
usado para a comunicação entre comunidades próximas. D=1/8” x 11 mm de comprimento com 30 cm por 29,5 cm.
No nosso caso, temos formas contemporâneas, não mais cabeça chata e fenda philips;
escavados, mas construídos com compensado e que • parafusos de rosca soberba
lembram um tambor de membrana. D=1/8” x 13mm de comprimento com
cabeça redonda e fenda Philips;
Cajón, nome dado a uma caixa de madeira fechada com • prego sem cabeça 10x10;
um furo de um dos lados. O instrumento é colocado na • 1 corda de violão.

Tambores de Madeira
posição vertical e o músico senta-se sobre ela e percute
com as mãos a superfície que se encontra entre as pernas
ou nas laterais. É chamado de box drum em inglês. 2) Cole as
2
peças formando 1
Esse instrumento tem sua matriz nos escravos peruanos, assim uma
embora seja comum em toda a América. É possível que caixa com dois
o tambor de madeira seja descendente direto de uma série de instrumentos musicais da África lados abertos.
Ocidental e Central, em especial, Angola e Antilhas. Entre eles, o tambor de fenda, que, apesar desse
nome, é um grande pedaço de tronco de árvore escavado no seu interior. Na África Central, esse
tambor era utilizado para emissão de sinais sonoros de longo alcance.
46
Outra teoria postula que as caixas foram usadas como instrumentos musicais no período 3) No limite das
colonial espanhol, principalmente em regiões portuárias, locais onde os negros escravizados duas partes abertas,
eram proibidos de fazer música. Nesse sentido, os cajóns poderiam ser facilmente disfarçados cole e pregue um
barrado de 1 x 1 cm. 3
como bancos ou cadeiras, evitando, assim, a identificação
como instrumentos musicais. Na contemporaneidade, o
instrumento é bastante conhecido e presente na música 4) Corte duas peças do compensado de
cubana, peruana, flamenca e crioula. 0,5 cm de espessura nas medidas de 47 cm
de altura por 30 cm de largura. Parafuse
Outra variação desse idiofone é o chamado wooden bongos a cada 2 cm uma das peças em uma das
– bongô de madeira – que, em vez de membranas e bojo bocas abertas da caixa, esta será a frente.
arredondado como o bongô tradicional, utiliza tábuas de
madeira e em formato de caixa. O tubo cajón assemelha-se 5) Entre o corpo e este tampo prenda a corda
a uma conga. O percussionista soteropolitano Osvaldinho de violão. Cole a outra peça na parte de trás e
Teixeira chama esses instrumentos de bongô e conga praiana. corte um círculo de 15 cm de diâmetro.
Materiais necessários para conga Medidas – conga praiana 3) Corte o compensado de 2 mm de 49
(timbre médio) (timbre médio) espessura nas seguintes medidas: 29 x 27
cm, esse é o tampo. Passe cola na boca de
• compensado de 1 cm de espessura para • 27,5 x 29 cm de boca; 31,5 cm de altura. uma das pontas da caixa de madeira.
laterais e de 2 mm para o tampo;
4) Em seguida pregue o tampo.

Cajón e Conga Praiana


• pregos de 10 x 10;
• cola branca. 4

Modo de construção
3

Tambores de Madeira
1

1) Com o auxílio de um serrote ou serra elétrica,


corte o compensado de 1 cm de espessura nas
seguintes medidas retangulares: duas peças de
80 x 27 cm e outras duas peças de 80 x 29 cm.

48

5) Para fazer os pés do instrumento,


corte pequenos pedaços de cedro de 3 x 3
cm e pregue nos ângulos de 90 graus da
extremidade oposta ao tampo. Você pode
2) Em seguida, passe cola branca envernizar ou pintar.
e pregue suas extremidades mais
compridas de maneira que fiquem
iguais a uma caixa comprida.
50 Instrumento idiófono por fricção, O agogô é um instrumento formado por duas 51
geralmente, confeccionado com bambu campânulas (extremidade cônica e alargada dos
com sulcos e haste de madeira. O mesmo instrumentos de sopro) de ferro batido, pode ser
que pulé. Pode ser chamado de casaca, cromado, complementado com uma vareta do
catacá, raspador. Outra forma de reco-reco mesmo material, uma baqueta de madeira
é o ganzá, presente no coco de zambê e em ou uma chave de boca como material percussor.
outras modalidades de coco, tanto dançado É usado na formação de conjuntos como os da
como de embolada, sustentando o ritmo música do candomblé ou, ainda, na estrutura dos
com o bater das palmas. grupos de samba e na macroformação da bateria
das escolas de samba.
Existem reco-recos de vários tamanhos, alguns lixados, envernizados e outros adornados
com flores e fitas de papel, tecido e plástico. Aparecem em congadas e algumas modalidades Dos instrumentos idiófonos, o agogô é o de maior ocorrência e abrangência na geografia
de samba. da música afro-brasileira. Marca as linhas rítmicas que guiam outros músicos do conjunto
e é encontrado também em toda a costa oeste do continente africano. Tradicionalmente é
Outro tipo, conhecido em Goiás e Rio Modo de construção tocado por lideranças e mestres. Do ioruba agogo (sino).
Grande do Sul como caujé, é aquele feito
com uma cabaça alongada apresentando 1) Com o auxílio de uma serra, corte o O instrumento também é conhecido como gã ou agã na Casa Grande das Minas do
sulcos e haste de madeira para fricção. bambu de 30 cm. Maranhão, ferro ou longa.
Reco-reco

O gonguê, palavra de origem banta ngonge


Modo de construção

Agogô
Materiais necessários (sino), de formato semelhante, mas apenas
com uma campânula, em corpo mais
1) Corte a chapa de ferro fundido no
• bambu seco com 4,5 cm de diâmetro. volumoso e detalhado com soldas e pinos
formato de um trapézio de 6,5 x 5,00 cm
de ferro, é um instrumento de ocorrência
para a boca maior, e 5,70 x 4,50 cm para a
mais restrita, incluindo-se no conjunto
2 boca menor.
instrumental dos grupos de maracatu.

2) Distante cerca de 10 cm da 2) Com o auxílio de uma morsa, alicate


Câmara Cascudo indica o agogô também
extremidade, corte um espaço vazado e martelo, dobre as chapas até que suas
como um tambor cilíndrico para danças
de 2,5 x 11 cm no corpo do bambu, extremidades mais compridas fiquem
no estado do Rio Grande do Norte.
use as marcas do gomo. emparelhadas. Una as extremidades com o
auxílio de solda.
Materiais necessários
3) Em cima da parte vazada, faça cerca de
11 nichos distantes 2 cm uns dos outros. 3) Pegue uma barra de ferro de
• 1 chapa pequena, no mínimo 14 x 10 cm, 30 cm de comprimento e dobre
de ferro fundido; nos 12 cm. Solde as pontas nas
• tesoura ou serra para ferro; campânulas prontas.
• 1 barra de ferro de 3/16”.
52
O caxixi, como instrumento acessório do berimbau, segundo a maioria Esse tipo de idiofone representa, com os xilofones, o que a 53
dos estudiosos, é um acréscimo brasileiro. Tradicionalmente, é de cultura musical africana tem de mais genuíno. As linguetas
ocorrência restrita, estando presente na música religiosa dos candomblés, de metal são rasgadas com os dedos polegares das duas mãos,
especialmente nos grupos de matriz linguística banta e na capoeira. A resultando em uma melodia. O papel desse lamelofone é tocar
mais próxima referência ao nosso caxixi é dada por José Redinha a kasaka, para acompanhar o canto vocal de um ou mais cantores.
chocalho luba em cestaria.

No caso brasileiro, como no angolano, o Além da tábua, da gamela A raiz banta, em geral, aponta a função
caxixi é construído com um trançado de ou de uma cabaça, o corpo de um desse instrumento mais como tendo o papel
fibra natural. Usualmente, o vime é a base lamelofone também pode ser construído de um tambor que dialoga com a dança e a
da peça, sendo um aproveitamento da com uma caixa fechada. Lembrando a voz de um cantor do que propriamente de
cabaça. No interior, são usados conchas, caixa de ressonância de uma viola, as um instrumento melódico, que acompanha
cereais e pedrinhas para proporcionar os linguetas desse instrumento são fixadas a voz de um contador de histórias,
sons característicos do chocalho. É um em um cavalete imediatamente abaixo do como acontece com frequência com os
substituto banto ao adjá dos iorubas. No orifício da caixa, estendendo-se sobre ele. lamelofones sansa, kalimba, mbira.
coco alagoano, é chamado de peneira.
Materiais necessários 3

Materiais necessários
• 1 cabaça pequena;
• tiras de vime; • compensado de 3 mm;

Kalimba
• um pedaço de cabaça; • pedaço de 11 cm de madeira dura;
caxixi

• sementes ou pedrinhas. • lamelas de ferro;


• parafusos com porcas borboletas. 3) Faça três furos emparelhados a cerca
3) Passa em cada um de 7 cm de distância do centro do orifício.
Modo de construção
dos pares de furos Prenda nele um pedaço de alumínio de 1 cm
uma tira de vime de Modo de construção de altura e 11 cm de largura. Em cima desse
1) Corte um pedaço plano de cabaça com
o diâmetro de 9 cm. 35 cm. alumínio, disponha as lamelas de metal ou
1) Para fazer o corpo, corte a parte mais ferro nas seguintes medidas: 8 cm, 8,5 cm, 9
4) Trance com tiras bojuda de uma cabaça média, com cerca cm, 9,5 cm, 11 cm, 9,5 cm, 9,5 cm, 9 cm e 8
de vime o corpo do de 17 cm de diâmetro. cm. Como se fosse um sanduíche, coloque
caxixi até chegar outro pedaço de 11 cm do mesmo alumínio
aproximadamente 13 cm de altura, 2 2) Corte o compensado e prenda com parafusos borboletas.
afunilando gradativamente. de 3 mm de diâmetro,
exatamente na mesma 4) Embaixo das lamelas, entre o tampo,
5) Para o cabo, enrole tiras de vime em medida da boca da cabaça coloque um pedaço de 11 cm de
15 cm de uma outra tira. Coloque as cortada. Faça um orifício comprimento por 0,5 cm de espessura de
2) Faça neste pedaço de cabaça cinco pares pedrinhas e sementes. Feche com a sobra de 2 cm de diâmetro na uma madeira dura, a peroba por exemplo.
de furos com 2 cm de distância a cada 1, 5 cm. das tiras e prenda o cabo. borda do tampo. Ela ficará presa pela pressão das lamelas.
Maracá é um dos principais instrumentos Dois pedaços de madeira, 55
54 tipo de baquetas, que
indígenas no Brasil, que dá ritmo às danças
e aos cantos ameríndios. É composto de são percutidos no corpo
uma cabaça na extremidade de um pequeno também de madeira de certos
bastão empunhadura. No seu interior, há tambores, como alguns
sementes secas ou pedrinhas, fazendo rumor do jongo de São Paulo,
pelo atrito nas paredes internas do bojo. do tambor de crioula do
De vários tamanhos e formas, simples ou Maranhão e do samba de
duplas como as nkwanga, é um instrumento roda do Recôncavo da Bahia.
do Congo. Pode ser ornamentado, gravado,
recoberto com tecidos de palha, plumas, Nos grupos de boi, especialmente do Maranhão, utiliza duas tábuas, lembrando tacos de
peles de animais. Teodoro Sampaio fala assoalhos, que são percutidas uma na outra.
que maracá é corruptela de marãacá, que
significa a cabeça de ficção, ou outra cabeça.
Modernamente, é utilizada com o nome
Nesse sentido, o portador desse instrumento, Materiais necessários
de tabuinhas pelo público que assiste
tradicionalmente, é o mestre ou chefe do
às apresentações do festival de Parintins,
grupo, geralmente pessoa de idade avançada Também é conhecido como xerê de caboclo. • ripas de cedrinho com 2 cm de espessura;
na Amazônia o instrumento funciona
e profunda conhecedora daquela cultura. Existem vários tipos e por isso é o nome • cordão.
como palmas.
Encontrado nos maracatus, bois, usado para determinar qualquer chocalho,

Matraca
juremas, pagelanças. especialmente nas áreas do Nordeste.
maracá

Modo de construção
Materiais necessários Modo de construção
1) Corte duas peças de cedrinho com 15 cm.
• 1 cabaça pequena; 1) Com o auxílio de uma serra, corte
• 1 pedaço de cedro ou cabo de vassoura; o “pescoço” da cabaça com o mesmo 2) Perfure cada uma das extremidades
• sementes ou pedrinhas. diâmetro de um cabo de vassoura, pegue das peças.
uma colher e retire as sementes e o
material orgânico. 3) Enfie um cordão de
30 cm e dê um nó
2) Corte um pedaço de 10 cm do cabo de em cada ponta.
vassoura de madeira.

3) Coloque dentro da cabaça aberta


sementes e pequenas pedrinhas, tampe
com uma das extremidades do cabo de
vassoura. Pode ser pintado e
enfeitado com penas e fitas.
3

2) Para a caixa de ressonância, corte o 57


compensado de 1 cm de espessura nas
seguintes dimensões:
• 2 peças quadradas de 12 x 21 cm
• 2 peças de 12 x 24 cm
• 1 peça de 14 x 24 cm
3) Pregue as extremidades de todas
Pregue todas as peças formando uma caixa. as peças formando um trapézio.
A marimba é um instrumento restrito a
algumas manifestações contemporâneas 7) Em um dos lados do arco
da música afro-brasileira, especialmente 4) Para as lâminas, corte o de apoio das lâminas de
em certos grupos de congadas, embora cedro de 1,5 cm de espessura 55 cm, fixe com pregos sem
haja registros desse instrumento nas ruas nas seguintes dimensões cabeça de 13 x 21 a partir
do Rio de Janeiro no período colonial. (quanto mais dura for a de uma das pontas nas
madeira mais a lâmina terá seguintes distâncias:
capacidade de vibrar): 55 cm, 7 cm, 5,5 cm, 2 cm, 5,5, 2,
A marimba também é conhecida como xilofone, cuja percussão se dá sobre uma série 52 cm, 50 cm, 42 cm, 37 cm, 34 5,5, 2, 5,5, 2, 5,5, 2, 5,5, 2,
cm, 31 cm e 28 cm. 4
de lâminas de madeira, graduadas em escalas musicais, e a ressonância ocorre, em certos 5,5 (16 pregos). No outro

Marimba
casos, com o apoio de meias cabaças, que funcionam como caixas de ressonância. Termo lado: da ponta 9 cm o
do grupo linguístico banto. É tocada com duas baquetas da mesma madeira, neste caso primeiro depois, oito pregos
sem as cabaças. 5) Com o auxílio de uma serra, faça a cada 7 cm. Entre todos
5
cortes de 1 cm de profundidade a os pregos, dos dois lados
56 cada 3 cm de distância em um dos amarre elástico tipo “tripa
Foi muito popular no Brasil até princípios lados maiores do cedro. Pegue uma de mico”, apoie as lâminas
Modo de construção
do século XX. Presente nas congadas, grosa grossa e desbaste a madeira usando de base o furo em
especialmente no litoral de São Paulo, que entre os nichos de 3 cm de distância. cada uma das pontas.
1) Para o apoio das lâminas de madeira,
interpretam miticamente a coroação do Faça isso em todas as lâminas.
corte o cedrinho de 2 cm de espessura nas
Rei do Congo, por isso é considerada um
seguintes dimensões:
instrumento real. 6) Faça um furo distante 2 cm de uma das pontas.
1

Materiais necessários • 2 peças de 25 cm


• 1 peça de 30 cm
• compensado de 1 cm de espessura; • 1 peça de 15 cm
• ripas de cedrinho de 2 cm de espessura;
• pregos;
• elástico.
Estes são os instrumentos musicais cujo som provém de
membrana distendida numa boca ou em ambas as bocas
de uma caixa geralmente cilíndrica.
De percussão direta, quando o som se produz com a
mão (adufe, quinjengue, tambu etc.); indireta, por meio
de baquetas, cambitos ou bastões de madeira (zabumba,
tarol, caixa de guerra ou caixinha) e por fricção (puíta).

4
Não há categoria de instrumentos musicais que
simbolize melhor as culturas musicais africanas. O
tambor é logo associado a qualquer que seja o fazer

Instrumentos
musical na África. É o tambor que produz a tonalidade
da fala, é ele o responsável pela tonalidade rítmica da
música africana, tão marcante e reconhecida em todo o
mundo. No entanto, as culturas africanas não dispõem

Membranofones essencialmente de tambores para acompanhar suas


danças, tampouco a música produzida por tambores se
restringe ao parâmetro musical do ritmo.
A linguagem musical dos tambores obedece às
mesmas regras da fala. Enquanto há instrumentos que
acompanham a voz do cantor – como os de corda –
tambores dialogam com esta. O aspecto tonal de grande
parte das línguas naturais africanas é reproduzido pelos
tambores, que alternam entre tônicos, agudos e graves,
tal qual ocorre com a língua falada.
Modo de construção 2 2) Nas extremidades
de cada boca, cole e
61
pregue contra-aros
1) Para o corpo, pegue
1 do compensado de
o compensado de 4 mm
4 mm de espessura
de espessura e corte 1,60
com 6 cm de altura
por 40 cm. Envergue a
e 1,60 cm de largura.
madeira até uma ponta
menor encostar-se à
outra. Com as tachas, 3) Para fazer um aro, serre quatro peças do
pregue uma ripa do mesmo compensado em 6 cm de altura e
mesmo compensado de 1,66 cm de largura. Cole e pregue com as
6 cm de largura por 40 tachas todas as quatro peças umas nas outras
cm de altura. Preencha de maneira que cada uma de suas pontas
a fissura entre as partes não fique emparelhada. Lixe as bordas.
com uma mistura de cola
branca e pó de serra. 3

A alfaia é um tambor ícone do ritmo brasileiro maracatu. A terminologia alfaia significa


necessidade, roupa, utensílio, joia e enfeite. O instrumento é constituído de corpo de

Alfaia
madeira, peles animais nas duas bocas, aro, e cordas para a afinação.

60 A alfaia se percute com duas baquetas e o tocador se apresenta em pé, na maioria das vezes 4) Faça oito furos de 1,5 cm de diâmetro,
em cortejo. Esse instrumento veio a ser conhecido pelo público do Centro-Sul do Brasil distantes 23 cm um do outro. Repita o mesmo
relativamente há pouco tempo, por meio de grupos de música pop, que introduziram procedimento para fazer o outro aro.
a alfaia em seu instrumental, e por
percussionistas e pesquisadores que
Materiais necessários 5 5) Molhe o couro animal para que ele
contribuíram para o aparecimento de
grupos e oficinas de maracatu. fique mais maleável e coloque-o entre o
Para uma alfaia de 20 polegadas: aro e o corpo dos dois lados. Emparelhe
• compensado de sumaúma de 4 mm É classificada como membranofônica, os aros de maneira que o furo de cima
de espessura; já que o som é obtido pela membrana fique no espaço sem furo do aro de
• 15 metros de corda de sisal ou material ou pele. É instrumento de altura baixo. Amarre uma das pontas da
sintético de 8 mm; indeterminada. Além dos diversos tipos de corda no primeiro furo escolhido. Passe
• couro animal com 20 cm de diâmetro; maracatu, a alfaia encontra-se também no no furo de baixo, depois no furo de
• tachas/pregos de tapeceiro de 11 mm. coco e na ciranda. cima, formando um triângulo de corda,
assim sucessivamente.
Tradicionalmente, um instrumento muito Materiais necessários Modo de construção 63
simplificado, construído com couro animal
esticado sobre aro de madeira ou caixa oca Existe uma série de necessidades técnicas 1) Pegue as ripas pré-fabricadas e as envolva
de madeira, a parte principal é justamente o para a construção de um atabaque, a com os contra-aros externamente. Com os
couro, local onde é realizada a percussão. oficina de luteria deve ter inúmeras parafusos, prenda-os nas extremidades e no
ferramentas de corte de madeira e ferro, centro do corpo do atabaque.
Na confecção do atabaque, além dos critérios de seleção da madeira e outros acessórios, o além de equipamento para moldar a
ato de encourar o instrumento é tarefa das mais importantes, que garantirá o bom uso da madeira. Por isso, preferimos comprar as
percussão. Assim, o encouramento poderá ocorrer de várias formas: esticando a pele por peças prontas em lojas especializadas de
tachas, cordas presas em aros de ferro calçados por pedaços de madeira (cunhas) e tiras de São Paulo e montar o instrumento. Dessa
couro, cordas de náilon, pinos de madeira ou só por parafusos e tarraxas. maneira, não ficamos sem exercitar a
construção desse valioso instrumento para
O corpo do atabaque, convencionalmente feito de madeira, quase sempre são ripas presas por as culturas brasileiras.
pregos de ferro, cola e aros também de ferro; na verdade, uma caixa de ressonância afunilada.
Também se encontram atabaques com o corpo em peça única de madeira escavada a fogo. • ripas pré-fabricadas para atabaque;
• parafusos; 1
O corpo do instrumento poderá ser lixado, pintado com cores especiais, envernizado ou encerado. • 3 contra-aros externos;
• 1 aro e 1 semiaro de ferro pré-fabricados;
O atabaque atende aos usos mais diversos, indo das práticas dos candomblés até as festas • couro de cabra. 2) Prenda no corpo do atabaque as tarraxas

Atabaque
públicas. No seu âmbito sagrado, o atabaque está devidamente incluído no sistema que acompanham o kit pré-moldado.
sociorreligioso do candomblé, no qual não é só um instrumento musical, ele ocupa o papel
de uma divindade e, por isso, é sacralizado, alimentado, vestido; possui nome próprio e 3
3) Molhe o couro animal para que
apenas os sacerdotes e pessoas de importância para a comunidade podem tocá-lo e usá-lo
62 ele fique mais maleável. Coloque
nos rituais. Nesse espaço religioso, está sempre em três, o maior rum, o médio rumpi e o
um semiaro em cima do couro,
menor rumlé, respectivamente de registro grave, médio e agudo.
envolva todo o semiaro com as
extremidades do couro e coloque o
Fora do âmbito sagrado, passa a valer aro por cima das dobras.
pelos resultados sonoros, marcando, na
maioria dos casos, a base rítmica dos
conjuntos. É indispensável nas várias
modalidades de samba, capoeira, afoxé,
jongo, carimbo.

Conhecido nacionalmente, um dos 4) Prenda-os com os


instrumentos mais populares do Brasil. parafusos dobrados no
Chamado de tabaque, batacupé na Bahia e corpo do tambor.
genericamente de tambor.

4
4) Nas extremidades de cada boca, cole e pregue contra-aros do compensado de 4 mm 65
de espessura com 4,5 cm de altura e 93 cm de largura.

Membranofone de tímpano 5) Para fazer um aro, serre quatro peças do


duplo. Encouramento sobre mesmo compensado em 4,5 cm de altura e 108
um corpo de madeira ou cm de largura. Cole e pregue com as tachas todas
folha de flandres. Os couros as quatro peças umas nas outras de maneira que
são presos por argolas de cada uma de suas pontas não fique emparelhada.
madeira onde são enfiadas Lixe as bordas. Faça oito furos de 1 cm de
cordas, tensionando um diâmetro, distantes 15 cm um do outro. Repita o
5
lado com o outro. mesmo procedimento para fazer o outro aro.
8) Emparelhe os aros
Presente em grupos de congadas em Minas Gerais e São Paulo. Outra variante, a caixa do 6) Para fazer o semi-aro, faça mais um de maneira que o
divino, das comemorações em homenagem ao Divino Espírito Santo no Maranhão. Nesse aro e serre-o ao meio, transformando-o furo de cima fique no
caso, prioritariamente percutidos por mulheres. em dois semi-aros de 2 cm de altura. espaço sem furo do
aro de baixo. Amarre
7) Molhe o couro animal para que uma das pontas da
Materiais necessários Modo de construção ele fique mais maleável. Coloque um corda no primeiro
semi-aro em cima do couro. Com a furo escolhido. Passe
Para caixa de 12 polegadas: 1) Corte o compensado de sumaúma de ajuda de uma colher envolva todo no furo de baixo,
4 mm de espessura em 32 cm de altura semi-aro com as extremidades do depois no furo de

Caixa
• compensado de sumaúma de 4 mm; por 93 cm de comprimento. couro, transformando-os em peça cima, formando um
• 10 metros de corda de sisal ou material única. Repita o procedimento com 8 triângulo de corda,
64
sintético de 4 mm; 2) Una as pontas, cole e pregue com outro couro e semi-aro. assim sucessivamente.
• couro animal; as tarraxas com uma ripa do mesmo
• tachas/pregos de tapeceiro de 1 mm; compensado de 3,5 cm de largura por 10) Repita em todas as duplas de cordas.
• pedaços de couro de cabra tratado. 32 cm de altura.

2
3) Preencha a fissura 9) Junte duas cordas
da emenda com uma estiradas com um
mistura de cola branca e pedaço de couro
pó de serra. de cabra de 8 cm
por 3 cm, use uma
arrebitadeira manual
9
para deixá-los presos.
Ainda na formação de batás com 67
função religiosa, tem-se o gangam, Materiais necessários Modo de construção
dundum e gudugudu.
• compensado de sumaúma de 4 mm; Para fazer o corpo, corte o compensado de
O batá africano – iorubano – é dedicado • couro de cabra; sumaúma de 4 mm nas seguintes medidas:
a Xangô e aparece em número de seis, • corda de sisal ou material sintético de 4 mm; • 1 peça em formato de trapézio de 60 cm
sendo o principal conjunto musical • barbante ou fio resistente; de comprimento de um lado por 25 cm
encontrado para o quarto Alafim de Oió, • 2 semiaros pré-fabricados de ferro de de altura por 40 cm de comprimento no
É comum denominar vários tambores rei do território de Oió. Nos versos do odu 6,35 mm (1/4”) para a boca maior; outro lado;
como bata – nos parece que isso se Egila Xeborá, encontramos essa ligação • 2 semiaros pré-fabricados de ferro de • 1 peça retangular de 40 cm de
deve ao som onomatopaico extraído umbilical entre Xangô e seus músicos reais. 6,35 mm (1/4”) para a boca menor. comprimento por 20 cm de altura.
desses instrumentos. O nome de vários
instrumentos da música afro-brasileira é Os ilus ou batás do Xangô pernambucano 1) Una as pontas, cole e pregue com tachas
cotidianamente identificado assim. lembram as caixas-surdos, apresentando as ripas do mesmo compensado de 3,5 cm
corpo de madeira ou folha de flandres de largura por 25 cm de altura na primeira
O batá, abatá, olubatá é um instrumento sobre tripé de madeira ou ferro; a percussão peça e de 3,5 cm de largura por 20 cm
de uso da música religiosa do xangô se faz na boca superior do instrumento com de altura. Preencha a fissura da emenda
pernambucano, sediado no popularmente as mãos diretamente sobre o couro. com uma mistura de cola branca e pó de
conhecido Sítio do Pai Adão, no Recife. serra. Una as duas peças na boca menor da
Instrumento dedicado exclusivamente ao Xangô, além de ser um dos mais cultuados mesma maneira, com uma ripa do mesmo
orixá feminino Iansã e também em rituais deuses nos candomblés brasileiros, 1
material. O corpo terá um formato de pilão.
ao eguns, ancestrais divinizados. É também deus do fogo, da família, da abundância

Batá
chamado adufo. No Maranhão, compõe a material, do dinheiro, da justiça também
66 orquestra religiosa dos terreiros de matriz nominou um tipo de candomblé, o Xangô 2) Nas extremidades de cada boca, cole e
linguística Jeje-Mina. Ocorre também nos pernambucano. Nesse sentido, o tambor pregue contra-aros do compensado de
3) Molhe o couro animal para que ele
cultos lucumi de Cuba. não é utilizado exclusivamente nos rituais 4 mm de espessura com 1 cm de altura.
fique mais maleável. Coloque um semiaro
desse orixá, mas para todos os outros.
em cima do couro, envolva todo o semiaro
Os batás estão nos afoxés da Bahia e são Ele, geralmente, é pintado com as cores
com as extremidades do couro, coloque o
chamados de ilús-barrica ou ilú ingome. do patrono do terreiro e “vestido” com
aro por cima das dobras. Passe o barbante
Oneyda Alvarenga relata: “Ingome de Oxum, panos e faixas com as cores do orixá de
resistente no semiaro de cima e leve-o para
tambor feito de barril com couro de cabra determinada festividade. Essa decoração
o semiaro do outro lado.
preso por pregos...” Os afoxés baianos têm indica a importância desses instrumentos,
como ritmo principal o ijexa, que também que são vestidos como seres humanos.
nomina um território africano. Esse ritmo
é dedicado quase exclusivamente ao orixá Tem encouramento duplo e é percutido 4) Faça esse procedimento até os dois
feminino Oxum – nos parece que, por isso, com o auxílio de uma baqueta dobrada em couros estarem tencionados.
no primeiro momento o ingome é dedicado uma das pontas. É colocado embaixo de
a essa divindade. um dos braços e preso no ombro.
Usado nos jongos, batuques e caxambu no Vale do
68 Paraíba, em São Paulo e Rio de Janeiro. Feito de um 69
Chamado também de tinideira, tronco oco de árvore, medindo mais ou menos 1 m, com
com aro de madeira e couro esticado diâmetro de 35 a 40 cm. Percutido em uma das bocas,
e ajustado por pregos ou tachas. com encouramento de boi, tensionado e preso no tronco
O retesamento é por aquecimento com tachas ou cravos de madeira. Produz som grave e
próximo ao fogo. A percussão se dá forte. Nas orquestras de jongo, o candongueiro é um
com a mão. Está nos grupos de boi atabaque menor, de som mais agudo.
na ilha de São Luís e no sotaque de
matraca, que são encontrados Materiais necessários
às dezenas no Maranhão.
Também chamado de • compensado de sumaúma de 4 mm;
mulungu ou panda. • couro de boi;
• ferro de 6,35 mm (1/4”);
• 15 m de corda de sisal ou sintética de 6 mm;
Pandeirão de Boi

Modo de construção • tachas de 11 mm.

Materiais necessários Modo de construção 1) Para fazer o corpo do instrumento, corte


o compensado de 4 mm com 90 cm de altura
• compensado de 4 mm de espessura; 1) Corte o compensado de 0,5 mm de por 104 cm de largura. Una internamente as

Tambu
• 53 cm de diâmetro de couro animal espessura em quatro peças de 11 cm de extremidades com uma ripa de 6 cm do mesmo
(cabra ou boi); altura por 1,57 cm de comprimento. compensado, usando cola e pregos.
• tachas/pregos de tapeceiro de 11 mm;
• 2 m de fita de cetim ou similar. 2) Cole e pregue com tachas as 2) Faça um contra-aro de 6 cm de largura, cole e pregue
peças de maneira que as pontas internamente em uma das extremidades. Coloque outro
4
não fiquem emparelhadas. contra-aro internamente a 30 cm de distância da extremidade
oposta. De fora para dentro, com o auxílio da furadeira, faça
3) Molhe o couro para que fique oito pares de furos distantes 3 cm no último contra-aro.
mais maleável. Com as tachas,
pregue o couro no aro a cada 0,5 cm. 3) Para fazer o aro, corte 4) Molhe o couro de boi de um pouco mais de 13 polegadas.
duas barras de ferro Coloque um dos aros em cima, dobre o couro e coloque o
4) Para cobrir as tachas, coloque uma de 6,35 mm (1/4”) outro aro em cima da dobra. Perpasse a corda de 6 mm no
fita de cetim em cima e pregue com em 108 cm. Solde uma aro de cima e, no furo do corpo do instrumento, de fora para
percevejos arredondados em toda a extremidade na outra, dentro, pegue a ponta e passe no furo ao lado distante 3 cm
volta a cada 6 cm. produzindo dois do outro, passe novamente a corda no aro superior. Repita o
aros iguais. movimento até usar todos os furos. Dê um nó no final.
71
2

2) Em uma das extremidades,


cole e pregue um conta-aro do
mesmo compensado de 6 cm de
altura por 105 de comprimento.

3) Molhe o couro de
48 cm de diâmetro e
pregue-o no lado do
Tambor feito primitivamente com um O puíta é o precursor da cuíca presente
contra-aro.
pedaço de caule desmiolado de mafumeira nos autos e ticumbis em Sergipe, nas
e, posteriormente, com uma ancoreta ou bandas de congo do Espírito Santo,
3
barril, sendo um fundo aberto e o outro nos maracatus rurais de Pernambuco,
vedado com uma pele, tendo um caniço em grupos de boi do Maranhão e

Puíta
preso em seu interior. indispensável no samba, em especial das
escolas de samba do Rio de Janeiro.
70 Compõe o conjunto de instrumentos 4) Com o couro ainda molhado,
O termo vem do quimbundo kubuita,
junto com angoia (chocalho), amarre no centro uma vareta
que significa beber excessivamente,
candongueiro (tambor de barrica) e arredondada de 44 cm de
alusão ao volume do som produzido
tambu (tambor de tronco escavado). altura e 1 cm de espessura.
pelo instrumento.

Materiais necessários Modo de construção

• compensado de sumaúma de 4 mm; 1) Para fazer o corpo, serre duas peças de


• couro animal fino; compensado de 4 mm de espessura em 44
• tachas/pregos de tapeceiro de 1 mm; cm de altura por 105 cm de comprimento. 4
• vareta de madeira; Cole e pregue com as tachas as duas
• barbante resistente; pontas, uma ao lado da outra, unidas com
• vareta arredondada de 44 cm de altura e uma ripa de 6 cm do mesmo compensado.
1 cm de espessura. Deixe secar.
3) Com as tachas, pregue uma
73
ripa do mesmo compensado de
6 cm de largura por 60 cm de
altura. Preencha a fissura entre
as partes com uma mistura de
cola branca e pó de serra.

4) Nas extremidades de cada boca,


cole e pregue contra-aros
do compensado de 4 mm de
espessura com 6 cm de altura e
4
Espécie de tambor de som abafado e grave, 1,42 cm de largura.
Modo de construção
o surdo usado pelas escolas de samba do Rio
de Janeiro e São Paulo e no samba de roda do 6) Faça um furo na lateral do instrumento.
1) Para o corpo, pegue o compensado de 5) Molhe o couro animal para ficar Por ter encouramento duplo,
Recôncavo Baiano. Geralmente, construído
4 mm de espessura e corte 1,42 por 60 cm. mais maleável. Coloque o aro em a pressão do ar internamente pode
com folhas de flandres e encouramento de
cima e prenda com as varetas no fazer os couros rasgarem.
material sintético. É percutido com uma ou
aro da outra extremidade usando as
duas baquetas, envoltas na ponta com pano,
porcas do kit pré-moldado.
estopa ou tecido.

Surdo
No samba rural paulista, é encontrado
com o nome de bumbo, feito de madeira e
com couro animal nas duas embocaduras. 1
72
Materiais necessários
5
Pelos mesmos motivos da construção do
atabaque, adquirimos os aros, varetas,
porcas e as peles leitosas sintéticas em lojas
especializadas e montamos o instrumento 2) Envergue a
em nossa oficina. madeira até uma
ponta encostar
• 2 aros com oito furos de 18 polegadas na outra.
para surdo pré-fabricados;
• 8 varetas de metas para surdo;
• 2 couros de boi ou sintéticos leitosos; 2
• compensado de sumaúma de 4 mm.
Anexos e
Bibliografia
Alfaia Atabaque/Batá
77

1 1 2
2 3

4
4 6

8 6
7

nós
5
76 9

7
10

11

9 10
Caixa Tambu

1 2 3 79

4
4
3

5 6

nós
5 6
78
7

8
7

10 9 10
81

gabaritos rabeca
80

Gabarito com referências em centímetros, que se aplicadas correspondem ao tamanho natural da rabeca.
83

gabaritos rabeca
82

Gabarito com referências em centímetros, que se aplicadas correspondem ao tamanho natural da rabeca.
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