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Eficiência Energética em
Cidades Inteligentes
Autoria do Desafio Profissional: Renato Traldi Dias

Leitor Crítico: Tayra Carolina Nascimento Aleixo

Proposta de Resolução

Para a tomada de decisão sobre a modificação da matriz energética do estado do Rio Grande do Sul
relativa à construção de um parque eólico na Lagoa dos Patos, deve ser realizado um estudo de
viabilidade técnica, para se determinar se é eficiente a construção e geração de energia com um
parque eólico naquele local e melhor, deste ponto de vista, do que o sistema que já existe – baseado
somente na usina Sepé Tiaraju ; e estudo econômico-financeiro, para se determinar a viabilidade do
investimento deste cunho, relativo à disponibilidade de recursos, custos de manutenção e obtenção
de recursos e até retorno que porventura pode haver após ser realizado o investimento.

Posto isto, inicia-se com o estudo de viabilidade técnica. Conforme informam Garbe, Mello e
Tomaselli (2014) em seu estudo sobre geração de energia elétrica-eólica na Lagoa dos Patos, se
construído, o parque eólico estaria em plena atividade em média em 85% do ano – devido a
variações de velocidade de ventos – e teria uma área potencial de 10.144 km² que poderia ser
coberta por aerogeradores – que é a área da lagoa.

Segundo o estudo, o ideal para melhor aproveitar os aerogeradores sugeridos – da família E-70,
com potência instalada entre 1,5 a 2,3 MW – seria uma velocidade de vento de 7,5 m/s, que, a uma
altura de 100 metros seria possível de ser obtida com consistência em uma área de 9.136 km² - ou
seja, aproximadamente 90% da área total da lagoa –, resultando em uma potência instalada de
13.710 MW, com eficiência de usina de 97% – já se levando em consideração a interferência
aerodinâmica entre rotores.

Destarte, para que a usina Sepé Tiaraju, termelétrica de capacidade de 249 MW , fosse substituída
por completo por aerogeradores nesse projeto de parque eólico, bastaria que se aproveitasse uma
área de aproximadamente 166 km² – por volta de 1,64% da área total da Lagoa dos Patos, ou seja,
área relativamente insignificante. Garbe, Mello e Tomaselli (2014) também determinam que seriam
necessários por volta de 25 aerogeradores para gerar 50 MW, o que significa que, caso se opte pela
substituição completa da termelétrica, seriam necessários 125 aerogeradores (produzindo uma
capacidade de 250 MW).

Como bem lembra o enunciado deste desafio profissional, o Plano Decenal de Expansão de Energia
2026 (BRASIL, 2017) contém meta de transformação da matriz energética brasileira para atingir um
percentual de 48% de fontes renováveis até aquele ano, com considerável parte dessas sendo de
energia eólica – projeta-se expansão de 11,8 GW para este tipo de geração de energia. Destarte, a
substituição completa daquela fonte não-renovável – ou seja, para além dos 50 MW sugeridos pelo
estudo de 2014 – é interessante para assegurar que o país atinja aquela meta.

Aliás, se houver recursos e disposição do Poder Público, seria interessante e viável até que fossem
construídos tanto aerogeradores quanto possível, pois a capacidade potencial máxima de um
parque eólico na Lagoa dos Patos é equivalente a 10% da matriz energética brasileira
correspondente ao ano de 2014 (GARBE; MELLO; TOMASELLI, 2014) - embora, claro, uma maior
expansão necessitaria de mais investimento.

Estabelecida a viabilidade técnica, com a demonstração do potencial energético, eficiência e


sustentabilidade maior do projeto sugerido em comparação com a usina termelétrica existente,
passa-se, então, para a demonstração da viabilidade econômico-financeira da proposta.

O estudo de Garbe, Mello e Tomaselli (2014) estimou um custo de 75 US$/MWh para a instalação
do parque eólico, o que, comparado com o valor de 40 a 50 US$/MWh estimado para uma nova
usina termelétrica – que não é nem o caso, pois a usina Sepé Tiaraju já existe – parece inviável;
porém, é preciso se considerar que os custos associados com energia eólica estão fortemente
concentrados neste investimento inicial, já que esta fonte não necessita de combustível algum.

Assim, os únicos custos pós-instalação são referentes à manutenção do equipamento, o que –


incluindo mão de obra – equivale a 1% do investimento inicial ou R$42.000,00 por MW instalado
por ano (GARBE; MELLO; TOMASELLI, 2014). De tal forma, naquele projeto menos ambicioso de
2014, esse custo seria de R$2.100.000,00 por ano (50 MW x R$42.000,00), enquanto que um
projeto de substituição completa da termelétrica existente teria um custo anual de
R$10.500.000,00 (250 MW x R$42.000,00). Apesar de ser 5 vezes maior, este valor ainda é
relativamente baixo, especialmente ao se considerar que só em 2018 o governo investiu
R$356.600.000,00 – quase 34 vezes aquele valor anterior – na usina Sepé Tiaraju, para fechamento
de ciclo, segundo dados do site do Ministério do Planejamento (2018).
Ademais, em 2009, o preço da energia proveniente de parques eólicos já superava o da energia não
renovável, sendo o preço desta última de R$134,00/MWh e o da eólica de R$200,00/MWh (GARBE;
MELLO; TOMASELLI, 2014), e frente ao já mencionado Plano Decenal, e a consequente demanda
por mais fontes renováveis de energia, a tendência é de que estes preços tenham se mantido ou
melhorados em favor da energia eólica.

Finalmente, o estudo de Garbe, Mello e Tomaselli (2014) também demonstrou, através de três
métodos diferentes de análise econômico-financeira – Valor Presente Líquido (VPL), Taxa Interna
de Retorno e Payback – a viabilidade do projeto, com taxa interna de retorno de 22% – muito
superior à estimada taxa mínima de atratividade de 15% lá estabelecida –, retorno de investimento
de apenas 5 anos – relativo ao método Payback –, e VPL > 0 no período analisado de 10 anos com
os projetados 210 milhões de reais de investimento próprio e financiamento pelo BNDES:

VPL = -R$210.000.000,00 + R$17.220.000,00/1,15¹ + 54.706.000,00/1,15² + 46.044.000,00/1,15³ +


46.044.000,00/1,154 + 46.044.000,00/1,155 + 46.044.000,00/1,156 + 46.044.000,00/1,157 +
46.044.000,00/1,158 + 46.044.000,00/1,159 + 107.740.000,00/1,1510 = R$17.647.684,95.

Por fim, há que se acrescentar que há, inclusive, alguns incentivos do ponto de vista tributário que
podem afetar positivamente este tipo de projeto no futuro, pois o Convênio ICMS 101/97 – que foi
estendido até o ano de 2028 pelo Convênio ICMS 156/17 – isentou deste imposto operações
envolvendo aerogeradores e o IPI referente a partes utilizadas exclusiva ou principalmente em
aerogeradores é zero – segundo tabela anexa ao Decreto nº 8.950/16 –, o que significa que o preço
atual destes equipamentos pode ser até inferior à estimativa do estudo de 2014.

Portanto, a construção de parque eólico na Lagoa dos Patos seria um investimento viável técnica e
financeiramente, e eficiente o suficiente para que seja escalado tanto quanto for possível –
dependendo da disponibilidade de recursos para investimento inicial – para aproveitar uma maior
parcela da capacidade potencial máxima dos ventos da área; afinal, como já se mencionou,
quaisquer custos adicionais ao se expandir o parque serão quase exclusivamente de instalação e
manutenção do equipamento – não havendo, por exemplo, custos com combustível ou emissões
de resíduos – e a entrada de capital será proporcional ao investimento em número de
aerogeradores. Portanto, o investimento continuará sendo economicamente viável,
independentemente da escala pela qual se opta, pois a entrada e saída de capital crescem de forma
igualmente linear com relação à adição de mais aerogeradores.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Convênio ICMS 101/97. Concede isenção do ICMS nas operações com equipamentos e
componentes para o aproveitamento das energias solar e eólica que especifica. Brasília, 2017.

___. Decreto nº 8.950, de 29 de dezembro de 2016. Aprova a Tabela de Incidência do Imposto


sobre Produtos Industrializados - TIPI. Brasília, 2016.

___. Empresa de Pesquisas Energéticas – EPE. Ministério de Minas e Energia (MME). Plano Decenal
de Expansão de Energia 2026. Brasília: MME/EPE, 2017. 271p.

___. Ministério do Planejamento. Usina termelétrica a gás natural – Sepé Tiaraju – fechamento de
ciclo – RS. PAC – Ministério do Planejamento. Brasília, 2018.

GARBE, Ernesto Augusto; MELLO, Renato de; TOMASELLI, Ivan. Projeto conceitual e análise de
viabilidade econômica de unidade de geração de energia eólica na Lagoa dos Patos – RS. Revista
Brasileira de Energia, Itajubá, v. 20, n. 1, p. 53-77, 2014.

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