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455/97)
1. HISTÓRICO (TORTURA):
Antes da 2ª guerra não havia preocupação específica sobre a tortura. As legislações mundiais, em princípio,
ignoravam o tema. Após a 2ª guerra começou um movimento de repúdio à tortura. Inúmeros tratados foram
aprovados, alguns foram ratificados pelo Brasil, garantindo o cidadão contra a tortura.
Somente com a Constituição Federal de 1988, no art. 5º, III, é que o Brasil garante expressamente o cidadão
contra a tortura. De acordo com o entendimento majoritário é uma das únicas garantias absolutas (nem o
direito à vida é absoluto).
Art. 5º, CF/88 – Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade,
à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante.
Antes, a tortura era punida como lesão corporal, homicídio; não havia um tipo penal específico punindo a
tortura. Com a Lei 8069/90 - ECA, adveio a figura da punição da tortura à criança e ao adolescente – art. 233.
Em 1997 adveio a Lei 9.455, tratando especificamente do crime de tortura, revogando o art. 233 do ECA.
Agora a tortura é punida contra qualquer pessoa, seja criança, adolescente, maior de idade etc.
Os tratados internacionais, quando falam da tortura, tratam-na como crime próprio. O Brasil, quando resolveu
disciplinar a tortura, disse ser crime comum. Poderia o legislador infraconstitucional brasileiro dizer ser crime
comum? Quando lei infraconstitucional conflitar com tratado internacional, deve-se aplicar o princípio do pro
homine – prevalece o dispositivo que mais garanta direitos individuais (direitos humanos). No nosso caso, a
nossa lei de tortura garante mais direitos do que os tratados internacionais ratificados por nosso país.
3. PRESCRIÇÃO DA TORTURA: casos de imprescritibilidade: I- racismo e, II- ação de grupos armados, civis
ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático. Como o legislador silenciou-se em
relação a tortura, logo ela prescreve.
Art. 5º, XLII, CF/88 – a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de
reclusão, nos termos da lei.
Art. 5º XLIV, CF/88 – constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis ou militares,
contra a ordem constitucional e o Estado Democrático.
1º CORRENTE: considerando que a CF/88 rotulou a tortura como um delito prescritível; considerando que os
tratados internacionais qualificam a tortura como um delito imprescritível, considerando que os tratados são
infraconstitucionais, pois não ratificados com quórum de emenda. Conclusão: a tortura prescreve posição do
STF (declaração de constitucionalidade da lei de anistia).
O Ministro Gilmar Mendes (STF) diz que tal garantia faz com que surja a eternização do direito de punir do
Estado. Os direitos humanos limitam o direito de punir do Estado – assim, a CF e a lei ordinária devem
prevalecer sobre os tratados.
2ª CORRENTE: considerando que no conflito entre a CF/88 e os tratados internacionais de direitos humanos
deve prevalecer a norma que melhor atende garantias fundamentais do cidadão (o princípio do pro homine).
Conclusão: a tortura é imprescritível. Posição da Corte Interamericana de direitos Humanos.
4.3 Sujeito Passivo: qualquer pessoa. Trata-se de crime comum quanto ao sujeito passivo.
4.4 Conduta: Constranger Mediante violência ou grave ameaça. Constranger: forçar, coagir ou compelir.
Ex: policial que constrange a pessoa para confessar crime, ou a dizer onde escondeu objetos do crime. Agente
que constrange outro a dizer a senha do cartão, confessar divida, etc.
Ex: constranger alguém a roubar, constranger alguém a matar, constranger alguém a não prestar socorro.
Obs.: só haverá tortura quando se buscar a prática de crime, e não contravenção penal – é o que predomina.
Obs.: o torturador responde pelo crime de tortura mais o crime praticado pelo torturado (autoria mediata),
em concurso material. O torturado está, sob coação irresistível (inexigível conduta diversa), logo não será
penalizado.
c) Em razão de discriminação racial ou religiosa. (Tortura-racial)
Ex: o torturador constrange um negro, proibindo-o de entrar num restaurante. Nesse caso existirá concurso
formal imperfeito entre a tortura e o racismo da lei 7.716/89.
Obs.: na tortura-racial existe quando a discriminação é racial ou religiosa (sexual, econômica ou social, não
gera o crime de tortura).
II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ou grave ameaça, a
intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter
preventivo.
Pena - reclusão, de dois a oito anos.
5.2 Sujeito Ativo: quem exerce guarda poder ou autoridade. Trata-se de crime próprio, exige-se qualidade
especial do sujeito ativo.
5.3 Sujeito Passivo: a pessoa que esta sob a guarda poder ou autoridade. Trata-se de crime próprio, exige-se
qualidade especial do sujeito passivo.
Obs.: quando o tipo penal exige qualidade especial do sujeito ativo e do sujeito passivo, ele é chamado de BI-
PRÓPRIO.
5.4 Conduta: submeter com emprego violência ou grave ameaça. Submeter: reduzir a obediência, sujeitar,
subjugar.
1º - O crime se consuma independentemente se o sujeito ativo conseguiu aplicar o castigo pessoal ou medida
de caráter preventivo.
2º- No crime de maus-tratos, o sofrimento não é intenso (art. 136, CP). É o que diferencia do crime de tortura
– elementar “intenso”.
Ex.: casos de babás que maltratam os filhos de suas patroas ou enfermeiras que maltratam, intensamente,
idosos no asilo.
Ex.: Policial militar que auxilia polícia civil na contenção de rebelião em estabelecimento prisional durante a
operação, detém, legitimamente, guarda poder ou autoridade sobre os detentos, podendo, nesta condição,
responder por crime do art. 1º, II, da Lei de tortura – STJ – HC 50.095.
Art. 1º, § 1º, Lei nº 9.455/97 – Na mesma pena incorre quem submete pessoa presa ou sujeita a medida de
segurança a sofrimento físico ou mental, por intermédio da prática de ato não previsto em lei ou não
resultante de medida legal.
6.2 Sujeito Ativo: qualquer pessoa. Trata-se de crime comum, não se exige qualidade especial do sujeito
ativo.
6.3 Sujeito Passivo: a pessoa que esta presa ou sujeita a medida de segurança. Trata-se de crime próprio,
exige-se qualidade especial do sujeito passivo.
Obs.: abrange qualquer espécie de prisão, definitiva ou provisória, até mesmo a prisão civil. Abrange também
os menores infratores que estão detidos, internados.
6.4 Conduta: submeter com emprego violência ou grave ameaça. Submeter: reduzir a obediência, sujeitar,
subjugar.
6.6 Finalidade especifica: não existe fim específico, bastando que a pessoa presa ou sujeita a medida de
segurança seja submetida à medida não prevista em lei.
Obs.: o uso da algema, fora das hipóteses autorizadas na súmula vinculante n° 11, não configura tortura
sendo este constrangimento abuso de autoridade.
Art. 1º, § 2º, Lei nº 9.455/97 – Aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha o dever de
evitá-las ou apurá-las, incorre na pena de detenção de um a quatro anos.
7.1 Omissão ao dever de evitar: A CF diz que a sanção para o omitente com dever objetivo de evitar deveria
ser a mesma daquele que tortura (art. 5º, XLIII).
1ª corrente – este parágrafo 2º, primeira parte é inconstitucional – a pena do garante (dever jurídico de
cuidado), deverá ser a mesma do torturador, por expressa determinação constitucional. Deveria seguir a regra
do Código Penal no seu artigo 13, § 2º, adotando a teoria monista do artigo 29, do mesmo código.
2ª corrente – a pena do garante deve ser de 1 a 4 anos, pois outra pena fere o princípio da legalidade. Não
pune a forma culposa, pois não há previsão legal – corrente majoritária. Para esta última corrente, a omissão
imprópria não é crime equiparado a hediondo.
7.2 Omissão ao dever de apurar: comete o delito quem tendo o dever de apurar, ao tomar conhecimento da
infração nada faz, omitindo-se.
Ex.: menina de 15 anos que foi colocada num presídio comum masculino para cumprir ato infracional.
As autoridades que colocaram esta menina neste estabelecimento praticaram a conduta do art. 1º,
parágrafo 1º, da Lei 9455/97.
As autoridades que verificaram tal procedimento, mas nada fizeram, respondem pelo o art. 1º, parágrafo
2º, primeira parte, da mesma lei.
Se isso foi descoberto, mas não fosse apurado, quem teria este dever, responderia pelo o art. 1º,
parágrafo 2º, segunda parte, da Lei.
Art. 1º, § 3º Lei nº 9.455/97 – Se resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, a pena é de
reclusão de quatro a dez anos; se resulta morte, a reclusão é de oito a dezesseis anos.
8.1 Pela lesão grave: o agente quer torturar, mas por excesso de força acaba cometendo uma lesão grave,
neste caso existe dolo no antecedente e culpa no consequente (preterdoloso), sendo a pena majorada para
quatro a dez anos.
8.2 Pela morte: o agente quer torturar, mas por excesso de força acaba matando a vitima, neste caso existe
dolo no antecedente e culpa no consequente (preterdoloso), sendo a pena majorada para oito a dezesseis
anos.
Obs.: não confundir com o homicídio qualificado pela tortura (art. 121, § 2º, III, CP), onde o agente quer
matar, mas antes ele decide usar meio cruel, empregando tortura para satisfazer seu “animus necandi”. Nesse
caso a pena será de doze a trinta anos.
I - se o crime é cometido por agente público; O aumento incide quando o agente atua nesta qualidade ou na
razão dela.
II – se o crime é cometido contra criança, gestante, portador de deficiência, adolescente ou maior de 60
(sessenta) anos; Para incidir tal causa, o torturador deve ter conhecimento dessas circunstâncias, sob pena
de responsabilidade penal objetiva.
III - se o crime é cometido mediante sequestro. Nada se fala sobre cárcere privado, porém, está abrangido.
Usa-se a expressão “sequestro” no seu sentido amplo.
Art. 1º, § 5º Lei nº 9.455/97 – A condenação acarretará a perda do cargo, função ou emprego público e a
interdição para seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada.
No art. 92, I, “a” e “b” e parágrafo único, do CP, tal efeito não é automático, depende de motivação. Na lei de
tortura, tal efeito extrapenal da condenação não há nenhum alerta quanto a ser automático ou não o efeito.
1ª corrente – não é automático (aplica o parágrafo único do art. 92 por analogia) – não prevalece;
2ª corrente – na lei de tortura, o efeito é automático - considerando ser efeito automático, decidiu o STJ, no
dia 2 de dezembro de 2008.
Art. 1º, § 6º Lei nº 9.455/97 - O crime de tortura é inafiançável e insuscetível de graça ou anistia.
A lei de tortura veda expressamente a fiança a anistia e graça, mas o entendimento prevalecente é de que ao
vedar a graça esta vedando implicitamente o indulto, que nada mais do que uma modalidade de graça
coletiva.
Art. 1º, § 6º Lei nº 9.455/97 - O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a hipótese do § 2º, iniciará o
cumprimento da pena em regime fechado.
Os omitentes (art. 1º, § 2º) jamais iniciarão a pena no regime fechado. Tais penas são de detenção. Segundo o
entendimento majoritário não são crimes hediondos.
Art. 2º Lei nº 9.455/97 - O disposto nesta Lei aplica-se ainda quando o crime não tenha sido cometido em
território nacional, sendo a vítima brasileira ou encontrando-se o agente em local sob jurisdição brasileira.