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“A maioria das pessoas passa a vida sem ter uma grande causa,
mas não passa um dia sem enfrentar mil contrariedades”.
(Luiz Melíbio Machado,
Desembargador do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul)
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Mestre em Direito (UNIFRAN, 2004), Especialista em Direito (UNESP, 1998), graduado em Direito (FIRP, 1989), Doutor
em Segurança Pública (Sistema de ensino militar, Academia Policial Militar do Guatupê/Universidade Federal do Paraná,
2008), Mestre em Segurança Pública (Sistema de ensino militar, Centro de Aperfeiçoamento e Estudos Superiores da
Polícia Militar do Estado de São Paulo – [CAES-PMESP], 2004), Especialista em Segurança Pública (PUC-RS, 2007),
graduado em Segurança Pública (Academia de Polícia Militar do Barro Branco [APMBB], 1984), Multiplicador de Direitos
Humanos (Anistia Internacional, 1997), Major da Polícia Militar do Estado de São Paulo, Professor de Direito Penal (Centro
Universitário de Rio Preto, 1999-2009), Professor do Curso Superior de Polícia (CAES-PMESP), autor de “Teoria e prática
policial aplicada aos juizados especiais criminais. 2. ed. São Paulo: Suprema Cultura, 2008”.
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direitos exige uma ação mais preventiva, porque não tem um ponto
determinado e certo para resolver.
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Silva Júnior (2000, 2007, 2007b, 2008, 2009).
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Rolim (2006, p. 83) apresenta o seguinte conceito: “A teoria do policiamento orientado para a
solução de problemas (Posp) foi formulada por Herman Goldstein, professor da Faculdade de Direito
da Universidade de Wisconsin, Madison. O modelo conceitual dessa proposta foi sintetizado na
abordagem conhecida como Sara, sigra pela qual se identificam os procedimentos de Scanning,
Analysis, Response and Assessment (Levantamento, Análise, Resposta e Avaliação)”.
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Ibidem, p. 242: “No modelo de justiça restaurativa, de fato, parte-se do princípio de que todo dano
causado por alguém rompe o equilíbrio das relações sociais em determinada comunidade. Essa
ruptura produz várias situações indesejáveis, parte delas diretamente perceptíceis, como sofrimento
por parte da vítima. Pois bem, para a justiça restaurativa a principal preocupação após a notícia do
fato é a de restabelecer as relações sociais; vale dizer, reconstruir o equilíbrio rompido”.
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O Direito Civil vai cuidar das relações jurídicas ligadas aos negócios e atos jurídicos, obrigações
contratuais, questões familiares, sucessão hereditária, propriedade e posse.
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direitos disponíveis enquanto no direito público ocorre o oposto. Disto emerge que,
em se cuidando de direitos disponíveis, a busca de tutela jurisdicional depende de
estarem presentes as chamadas condições da ação (possibilidade jurídica do
pedido, interesse de agir e legitimidade para a causa) e, principalmente, da ação do
titular do direito.
Se focarmos os casos em que as forças policiais são chamadas à
intervenção, poderemos nos restringir a análise no Direito Público, notadamente no
campo do Direito Civil (direitos de vizinhança), Direito Penal (delitos de intolerância)
e Administrativo. No que toca ao Direito Administrativo, encarregado de regular as
relações entre a Administração Pública e os administrados, sejam estes últimos
cidadãos ou funcionários públicos, não há espaço para solução consensual dos
conflitos em razão do princípio da legalidade que, nesse ramo do direito, tem
conceituação mais restritiva, de modo a conceber que ao administrador somente é
dado agir por mandamento legal e não em tudo aquilo que ele não é proibitivo5. Na
esfera do Direito Penal, todavia, a lei reserva espaços em que o direito de ação
depende exclusivamente do ofendido, ainda que o direito de punir seja
monopolizado pelo Estado.
É, pois, nessa área de possibilidade de consenso extrajudicial entre os
sujeitos em conflito, que é possível a mediação conduzida pelo agente policial bem
preparado, reduzindo-se no próprio boletim de ocorrência os termos da conciliação.
Nos conflitos em torno de direitos disponíveis regulados por normas de
Direito Civil e naqueles de ordem penal em que a ação penal seja privada, ou
mesmo pública, desde que condicionada à representação do ofendido, o emprego
de técnicas de mediação por policiais teria o condão de pacificar conflitos em sua
flagrância, ao contrário da via judicial, notadamente mais tardia, por mais que se
tente imprimir celeridade.
Poder-se-ia levantar em oposição o princípio constitucional da
inafastabilidade da jurisdição6; todavia, deve-se ter em conta que quando um policial
media um conflito que gira em torno de direito disponível, e registra os termos dessa
composição entre as partes em boletim de ocorrência, além de não se inviabilizar
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"ao contrário da pessoa de Direito Privado, que, como regra, tem a liberdade de fazer aquilo que a
lei não proíbe, o administrador público somente pode fazer aquilo que a lei autoriza expressa ou
implicitamente”. (TÁCITO, 1996. p. 2).
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Constituição Federal. Art. 5º - [...] XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão
ou ameaça a direito;
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futura busca de tutela jurisdicional, mais que isso, o registro garante segurança
jurídica para ambas as partes até mesmo numa eventual futura demanda judicial.
De forma semelhante, na esfera penal poderia ser aventada violação ao
princípio da obrigatoriedade da ação; contudo, de igual forma seria uma hipótese
falha, pois que descabível as infrações penais que se movem por ação penal privada
e naquelas de ação penal pública condicionada à representação do ofendido ou seu
representante legal. Essa conclusão não exige maior esforço hermenêutico que a
leitura das normas do Código Penal7 e de Processo Penal8, que impedem até
mesmo a instauração de procedimento policial à revelia da manifesta vontade do
ofendido nesses casos. Nesses casos, tenha-se em mente que o direito de agir é
exclusivo do ofendido, não tendo o Estado, por seus agentes, a mínima base jurídica
para deflagrar qualquer ato de persecução penal; nem mesmo a condução coercitiva
dos envolvidos a uma delegacia de polícia! Mais que um direito personalíssimo do
ofendido, trata-se de efetivação da cidadania.
Outro argumento contrário, que deve ser de antemão enfrentado, é o da
falta de habilitação jurídica dos agentes policiais, o que inviabilizaria sua atuação
como mediadores de conflitos, e as possíveis conseqüências jurídicas negativas de
uma mediação mal conduzida. Pois bem, afastadas as hipóteses de preconceito à
ação policial e de reserva de mercado aos operadores de direito, o primeiro ponto
que se levanta é o de que a mediação extrajudicial de conflitos foi o embrião dos
atuais Juizados Especiais Cíveis e Criminais, a partir dos então “Conselhos de
Conciliação e Arbitramento”, também conhecidos como “Juizados Informais de
Conciliação”, que mais tarde levaram à edição da Lei nº 7.244, de 7 de novembro de
1984, que dispunha sobre o Juizado Especial de Pequenas Causas, e da vigente Lei
nº 9099, de 26 de setembro de 1995, que a revogou e criou os atuais “Juizados
Especiais Cíveis e Criminais”.
Ressalte-se que o Supremo Tribunal Federal, à época já reconhecia a
validade jurídica dos acordos extrajudiciais havidos nos tais Conselhos:
“O chamado Juizado Informal de Conciliação, constituído à margem da Lei
7.244/84, não tem natureza pública. Os acordos, aí concluídos, valem
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Art. 100 - A ação penal é pública, salvo quando a lei expressamente a declara privativa do ofendido.
§ 1º - A ação pública é promovida pelo Ministério Público, dependendo, quando a lei o exige, de
representação do ofendido ou de requisição do Ministro da Justiça. § 2º - A ação de iniciativa privada
é promovida mediante queixa do ofendido ou de quem tenha qualidade para representá-lo.
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Art. 5º - [...] § 4º - O inquérito, nos crimes em que a ação pública depender de representação, não
poderá sem ela ser iniciado. § 5º - Nos crimes de ação privada, a autoridade policial somente poderá
proceder a inquérito a requerimento de quem tenha qualidade para intentá-la.
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A vigente Lei nº 9099/95 repetiu a mesma norma: “Art. 7º - Os conciliadores e Juízes leigos são
auxiliares da Justiça, recrutados, os primeiros, preferentemente, entre os bacharéis em Direito, e os
segundos, entre advogados com mais de cinco anos de experiência”.
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Art. 9º - Nas causas de valor até vinte salários mínimos, as partes comparecerão pessoalmente,
podendo ser assistidas por advogado; nas de valor superior, a assistência é obrigatória. (grifamos)
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Art. 133 - O advogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolável por seus
atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei. (grifamos)
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Referências bibliográficas.
BENGOCHEA, Jorge Luiz Paz; GUIMARÃES, Luiz Brenner; GOMES, Martin Luiz;
ABREU, Sérgio Roberto de. A transição de uma polícia de controle para uma polícia
cidadã. São Paulo em Perspectiva, v. 18, n. 1, 2004, p. 119.
SILVA JÚNIOR, Azor Lopes da. Prática policial: um caminho para a modernidade
legal. Revista Meio Jurídico, São José do Rio Preto, a. III, n. 36, fev. 2000.
______. Teoria e prática policial aplicada aos Juizados Especiais Criminais. 2. ed.
São Paulo: Suprema Cultura, 2008.
______. Análise crítica do ensaio “O jogo dos sete mitos e a miséria da segurança
pública no Brasil”. Revista Jurídica Consulex, Brasília, a. XIII, n. 288, p. 27-35, 15
jan. 2009.