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O Brasil e a Reforma do CSNU

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nm em 14/09/2021 16h34 Atualizado em 22/09/2021 21h21
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Em 1945, quando o mundo saía de um conflito que ceifou a vida de mais de 50 milhões de pessoas,
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pra comunidade internacional criou a Organização das Nações Unidas, concebendo um sistema
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multilateral
ri que tem no Conselho de Segurança o órgão central para tratar de ameaças à paz e
alsegurança internacionais.
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o época, eram apenas 51 os membros da ONU. Hoje, são 193. Em 1945, o CSNU, integrado por 11
pmembros,
p representava 22 % da composição da Organização. Atualmente, seus 15 membros
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arepresentam
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7,7% do total. Essa estrutura de governança desatualizada compromete sua
rlegitimidade e, consequentemente, sua eficácia.
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ai despeito das importantes transformações pelas quais o mundo desde então passou, a estrutura do
rtConselho de Segurança foi alterada apenas uma vez: em 1965, com o aumento de assentos não
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permanentes de seis para dez. Regiões como a África e a América Latina seguem excluídas da
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árparticipação permanente nesse que é o mais importante órgão da sociedade internacional para os
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temas
e de paz e segurança.
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Em 1963, um grande número de países africanos e asiáticos propôs a inclusão, na agenda da
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Assembleia
e Geral das Nações Unidas, do tema “Question of Equitable Representation on the

Security Council and the Economic and Social Council”. Um acordo entre países africanos,
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asiáticos
r e latino-americanos permitiu que se apresentasse uma proposta de reforma pela qual o
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Conselho de Segurança seria expandido de modo que passasse a contar com dez membros não-
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permanentes.
s Os membros permanentes não viam a proposta com simpatia, defendendo que
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eventual expansão do Conselho fosse mais modesta.
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O peso do bloco afro-asiático na Assembleia permitiu que aprovassem a proposta de emenda à

Carta: em 17 de dezembro de 1963, a Assembleia Geral aprovou a Resolução 1991 (XVIII), criando

4 novos assentos não-permanentes. A resolução teve 97 votos a favor (Taiwan), 11 contra (França e

União Soviética) e 4 abstenções (Estados Unidos e Reino Unido).

O alto custo político de impedir a entrada em vigor de uma emenda que havia sido aprovada pela

maioria dos Estados Membros das Nações Unidas e que se destinava a aumentar a legitimidade do

Conselho fez com que os cinco membros permanentes ratificassem a emenda em 1965.

O Brasil defende que o mundo não pode prescindir de um Conselho de Segurança capaz de lidar

com as graves ameaças à paz de maneira transparente, eficiente, legítima e eficaz. Um Conselho de

Segurança reformado deverá refletir a emergência de novos atores, em particular do mundo em

desenvolvimento, que sejam capazes de contribuir para a superação dos desafios da agenda

internacional. A expansão do CSNU, com o ingresso de novos membros permanentes e não

permanentes, contribuirá para decisões que efetivamente respondam às ameaças e desafios

contemporâneos.

A reforma do Conselho de Segurança é urgente e precisa ser debatida de maneira ampla, não apenas

entre os Estados Membros mas, também nas universidades, na imprensa, em parlamentos e, enfim,

pela sociedade em geral.

G4

Em 2004, Brasil, Alemanha, Índia e Japão formalizaram a criação do chamado G4. O grupo defende

a expansão do CSNU nas categorias de membros permanentes e não permanentes, com maior

participação dos países em desenvolvimento em ambas, com vistas a melhor refletir a atual

realidade geopolítica. Com base no firme reconhecimento mútuo de que são candidatos legítimos a

membros permanentes em um Conselho de Segurança reformado, os quatro países apoiam seus

respectivos pleitos de forma recíproca.

Em 2005, o G4 apresentou nas Nações Unidas projeto específico de resolução (A/59/L.64), que

resultaria num Conselho expandido para um total de 25 membros, com 6 novos assentos

permanentes atribuídos a África (2), Ásia (2), Europa Ocidental (1) e América Latina e Caribe (1) e
4 novos assentos não permanentes para África (1), Ásia (1), Europa Oriental (1) e América Latina e

Caribe (1). A proposta do G-4 também previa reavaliação da reforma após 15 anos, quando seria

considerada, entre outros aspectos, a questão do veto. Até essa revisão, os novos membros

permanentes assumiriam o compromisso de não fazer uso do veto nas suas deliberações no CSNU.

Cabe ressaltar que o Brasil também faz parte do grupo L.69, que defende a expansão do Conselho

de Segurança nas duas categorias de membros e o aperfeiçoamento dos métodos de trabalho do

órgão. O grupo é composto por países em desenvolvimento de diversas regiões, inclusive países de

menor desenvolvimento relativo, países em desenvolvimento sem saída para o mar e pequenos

Estados insulares, além dos membros do IBAS (Índia, Brasil e África do Sul), entre outros.

A expansão em ambas as categorias conta com o apoio de ampla maioria dos Estados membros da

ONU e deve estar refletida em futuro processo negociador. Nesse contexto, o Brasil tem procurado

atuar com seus parceiros para injetar maior dinamismo político no processo de reforma.

Atualmente, as discussões sobre o tema concentram-se nas chamadas negociações

intergovernamentais (IGN, na sigla em inglês). O Brasil, ao lado do G4 e do L.69, defende, nesse

contexto, a consideração de apenas um texto negociador, que explicite as posições de países e

grupos, e registros formais das sessões realizadas. Em 2021, ao renovar o mandato das IGN, decisão

oral do Presidente da Assembleia Geral reiterou o chamado dos chefes de estado e governo, quando

da comemoração dos 75 anos da ONU, de “injetar vida nova” no processo de reforma.

A atuação brasileira no cenário internacional tem consolidado a imagem do Brasil como país não só

disposto, mas também capaz de assumir maiores responsabilidades no campo da paz e da segurança

internacionais. Em janeiro de 2022, o Brasil iniciará, pela 11ª vez, mandato de dois anos como

membro não permanente do Conselho de Segurança. Será mais uma oportunidade de contribuir para

o fortalecimento do papel órgão na construção de um mundo livre do flagelo da guerra e em que

prevaleça a paz e o direito internacional. 

SITE DO MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES

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