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RISOMAR DA SILVA VIEIRA Definição de estilo: Sumário 1: Fonte: (Padrão) Arial, 12

pt, Negrito, Não verificar ortografia ou gramática, Recuo:


À esquerda: 0 cm, Deslocamento: 0,94 cm, Tabulações:
0,91 cm, À esquerda + 1,09 cm, À esquerda + 15,98 cm,
Direita,Preenchimento: …

FISIOTERAPIA EM TEXTOS E CONTEXTOS: Formatado: Fonte: Não Negrito


UMA COMPILAÇÃO DE TEMAS DO TEMPO PRESENTE

João Pessoa Comentado [MR1]: A ficha catalográfica é impressa no


2021 verso da folha de rosto.
Formatado: Fonte: Não Negrito

Formatado: Fonte: Não Negrito


Dedico este trabalho a todos aqueles que morreram
Formatado: Fonte: 10 pt, Não Negrito
acometidos pela covid-19, em consequência da
negligencia daqueles detinham conhecimento e Formatado: Recuo: À esquerda: 8 cm, Espaçamento
poder para evitar tantos óbitos precoces, e não entre linhas: simples
agiram na preservação da vida.
AGRADECIMENTOS

Os meus agradecimentos vão para todos aqueles que contribuíram no decorrer Formatado: Fonte: Não Negrito

da trajetória Histórica da Fisioterapia, para uma maior e melhor presença deste saber Formatado: Recuo: Primeira linha: 1,25 cm

em saúde nos ambientes acadêmicos e de cuidado. Possibilitando assim, avanços


nos seus diversos campos atuação, seguindo na direção da melhoria da qualidade de
vida dos povos.
PREFÁCIO

Esta publicação “Fisioterapia em textos e contextos: Uma compilação de


temas do tempo presente” surgiu a partir do desejo de compartilhar, por meio de
uma só edição, temas que se aproximam e se complementam, com o objetivo de
fomentar diálogos direcionados para um entendimento mais contextualizado da
Fisioterapia numa perspectiva teórico-conceitual e do fazer.
Este livro não constitui uma obra sagrada ou dogmática. Este representa um
constructo direcionado para uma provocação de boas conversas, sobre as temáticas
aqui dispostas.
É notório uma desenvoltura significativa da Fisioterapia nas variadas áreas de
sua atuação, principalmente quando se trata, diretamente, dos afazeres direcionados
para as condições clínicas dos pacientes, bem como para as terapêuticas pertinentes
a cada caso clínico-funcional.
Nesta linha de raciocínio, a Fisioterapia vem, no decorrer da História, dando
passos expressivos para uma assistência cada vez mais fundamentada em fatos
concretos. Nesta trajetória, a Fisioterapia vem a cada dia se fortalecendo, mostrando
a necessidade de serem incluídos seus procedimentos em muitos outros espaços,
onde ainda não se fazem presentes.
Considerando outros campos do conhecimento, a exemplo dos aspectos
teórico-conceituais afetos a vários feitios epistemológicos e político-históricos, a
Fisioterapia, concebida como uma manifestação do saber em saúde, necessita de
maiores participações.
É do conhecimento de todos que a Fisioterapia, no Brasil, foi reconhecida como
uma profissão de caráter acadêmico com o grau universitário a partir de 1969. Este
fato se consolidou após várias tentativas no cenário político, de modo que o
reconhecimento veio através do Decreto-lei 938 de 13 de outubro de 1969; foi umm
avanço para aquele momento histórico.
Não há necessidade de maiores aprofundamentos interpretativos, pois é
suficiente observar, nos documentos da época que, apesar do grau universitário, a
Fisioterapia, tida como uma profissão “nova”, é fortemente caracterizada pela
utilização de técnicas e métodos aplicados na recuperação e reabilitação durante a
trajetória de busca pela saúde.
No decorrer dos anos, a Fisioterapia toma novas feições, e segue para outras
construções dentro do cenário do ser e do atuar. Incluindo assim, de forma mais
consistente, aspectos de seus interesses, envolvendo os diversos olhares para o
cuidado em saúde das pessoas. E neste panorama inclui-se o seu diagnóstico próprio,
fortalecendo o entendimento de que a Fisioterapia não se define apenas como
sinônimo de recurso terapêutico. É razoável o entendimento segundo o qual ela
representa uma área do saber que, nas suas instâncias, apresentam-se mediante
métodos, técnicas, conceitos, teorias e procedimentos e diagnósticos próprios.
Diante destes pressupostos, fica visível que a Fisioterapia, no seu percurso,
vem se materializando como um bem social com avanços significativos no setor da
saúde. Estes progressos alcançados são endereçados para um melhor servir e
motivam maiores construções quanto às particularidades que abrangem os
fundamentos teórico-conceituais, epistemológicos e histórico-políticos que envolvem
a Fisioterapia como uma profissão e área do conhecimento em saúde.
Assim, é desejo do autor que a leitura deste livro suscite possibilidades de
proveitosos diálogos. É intencional que contribua para a construção de novos
conhecimentos e ações coletivas, na direção do fortalecimento da Fisioterapia na sua
missão socio-sanitária e acadêmica.

Uma leitura prazerosa e produtiva para todos. Formatado: À direita

O autor.
SUMÁRIO

1 PALAVRAS INICIAIS......................................................................................... 8
2 INQUIETAÇÕES TEÓRICO-HISTÓRICAS E EPISTÊMOLÓGICAS EM
FISIOTERAPIA ................................................................................................ 10
2.1 Pra começar .................................................................................................... 10
2.2 Pontuações históricas sobre o termo fisioterapia e o uso de recursos
terapêuticos .................................................................................................... 10
2.3 Fisioterapia como profissão e área do conhecimento em saúde ............... 12
2.4 A fisioterapia e suas dimensões para além de uma prescrição de
tratamento ...................................................................................................... 15
2.5 Domínios cinesiológicos como princípios fundamentais da fisioterapia .. 16
2.6 Pra terminar .................................................................................................... 16
3 FORMAÇÃO E ATUAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA NUMA PERSPECTIVA
INTERPROFISSIONAL: VISÕES A PARTIR DE UMA EXPERIÊNCIA
ACADÊMICA ................................................................................................... 18
3.1 Para começar .................................................................................................. 18
3.2 Contextualizando os fatos historicamente ................................................... 19
3.2.1 O processo de reforma sanitária e a instituição do SUS.................................. 19
3.2.2 O Sistema Único de Saúde e a formação profissional ..................................... 20
3.2.3 Importância da atenção primária na reorientação da saúde ............................ 22
3.2.4 A atenção primária como cenário de aprendizagem e de construção do
conhecimento ................................................................................................. 23
3.3 Significados, desígnios e feitios metodológicos ......................................... 24
3.4 Apresentando os desdobramentos da vivência com hipertensão e diabetes
a partir de dados estabelecidos .................................................................... 27
3.5 Pra terminar .................................................................................................... 29
4 A ÉTICA NA FORMAÇÃO E NA ATUAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA................ 32
4.1 Pra começar .................................................................................................... 32
4.2 Bases teórico-conceituais da ética e da eticidade ....................................... 34
4.3 A ética no contexto da saúde e no cuidado fisioterapêutico ...................... 36
4.4 A fisioterapia na perspectiva de uma formação ética.................................. 39
4.5 Pra terminar .................................................................................................... 42
5 A FISIOTERAPIA E A EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA COMUNITÁRIA ........... 44
5.1 Pra começar .................................................................................................... 44
5.2 A fisioterapia e seus aspectos históricos .................................................... 47
5.3 A FISIOTERAPIA NA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA EM COMUNIDADE ...... 51
5.4 Pra terminar .................................................................................................... 53
6 AS PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES EM SAÚDE E O
CUIDADO FISIOTERAPÊUTICO ..................................................................... 56
6.1 Pra começar .................................................................................................... 56
6.2 Contextualizando o tema ............................................................................... 56
6.3 Significados, desígnios e feitios metodológicos ......................................... 60
6.4 Achados e análises sobre a temática ........................................................... 60
6.5 Pra terminar .................................................................................................... 64
7 A FISIOTERAPIA NO CONTEXTO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA EM SAÚDE ... 67
7.1 Pra começar .................................................................................................... 67
7.2 Contextualizando o tema ............................................................................... 67
7.3 Significados, desígnios e feitios metodológicos ......................................... 72
7.4 Achados e análises sobre a temática ........................................................... 73
7.5 Pra terminar .................................................................................................... 76
8 PALAVRAS DERRADEIRAS ........................................................................... 79
1 PALAVRAS INICIAIS Formatado: Título 1, Adicionar espaço entre parágrafos
do mesmo estilo
Formatado: Espaçamento entre linhas: 1,5 linhas
Esta publicação, apresentada em um formato de coletânea de textos,
Formatado: Recuo: Primeira linha: 1,25 cm
materializou-se a partir da vontade de compartilhar algumas ideias sobre temas que
ainda não ocuparam os espaços devidos, quando se trata da Fisioterapia nas suas
fundamentações teórico-conceituais e epistêmicas.
O livro, além das palavras iniciais e das palavras derradeiras, foi composto por
cinco capítulos a partir de várias experiências teórico-práticas vivenciadas pelo autor
em diversificados momentos da trajetória percorrida como professor e como alguém
inquieto na busca pelo conhecimento.
No primeiro capítulo, com o título “Inquietações teórica-históricas e
epistemológicas em Fisioterapia”, discorre-se sobre algumas questões que envolvem
o saber-fazer nas suas bases teóricas, tendo a Fisioterapia como uma área do
conhecimento em saúde. Neste tópico, traz-se para o diálogo aspectos ontológicos
acerca do que é Fisioterapia como ciência e como profissão.
No capítulo seguinte, é apresentada a temática, formação em Fisioterapia
numa perspectiva interprofissional. A interprofissionalidade na formação e no trabalho
em saúde representa na atualidade um terreno fértil para de produzir diálogos e
efetividades. O assunto é explanado a partir de uma experiência no PET-Saúde, onde
foi vivenciada as possibilidades de um cuidado mais integrado, colaborativo com a
construção de um espaço propicio para diálogos frutíferos e de sabores bem
apreciados.
No terceiro capítulo, a ética se manifesta como uma área de grande importância
para os aspectos que envolvem a saúde e, em particular, a Fisioterapia, tanto no
processo de formação, quanto no da atuação profissional. Este tópico do livro traz
uma leitura que envolve aspectos conceituais da ética, bem como reflexões a respeito
da sua manifestação no cenário do acesso aos cuidados em saúde e da atenção
fisioterapêutica, em praticar.
No capítulo seguinte, o quarto, são postas considerações sobre a Fisioterapia
no cenário da extensão universitária comunitária, suscitando possibilidades de
diálogos no que tange à Fisioterapia e à formação fisioterapêutica na atenção primária
em saúde. Este texto temático busca contribuir para significativos colóquios referentes
à presença do olhar fisioterapêutico na comunidade, a partir de uma leitura da
extensão. Um dos pilares de sustentação da universidade, como centro de saberes.
No capítulo cinco, discorre-se sobre as Práticas Integrativas e Complementares
em Saúde (PIC) e suas relações com a Fisioterapia e cuidados fisioterapêuticos.
Neste tópico, são apresentadas as PIC que já constituem o currículo de graduação de
Fisioterapia, bem como as que são reconhecidas como especialidades
fisioterapêuticas. Continuando sobre as aproximações das PIC com o ato
fisioterapêutico, são apresentados os documentos publicados pelo Conselho Federal
de Fisioterapia e Terapia Ocupacional, quanto à utilização das Práticas Interativas e
Complementares em Saúde pelo profissional fisioterapeuta.
No sexto e último capítulo, encontra-se a Fisioterapia no Contexto da Atenção
Primária em Saúde. Neste momento do livro, são colocadas algumas inquietações
sobre a presença da Fisioterapia no nível primário dos cuidados com a saúde. As
reflexões resultantes da experiência vivenciada do então Núcleo de Apoio a Saúde da
Família – NASF, apresentam possibilidades de colóquios envolvendo o fazer
fisioterapêutico neste nível de atenção em saúde, levando em consideração as
necessidades apresentadas pela população e pelo fisioterapeuta na condição de ator
no processo.
Por fim, esperamos que este conjunto de textos, em forma de capítulos de livro, Formatado: Recuo: Primeira linha: 1,25 cm

possam contribuir para a construção de espaços significativos de diálogos sobre a


Fisioterapia e o seu papel social.
2 INQUIETAÇÕES TEÓRICO-HISTÓRICAS E EPISTÊMOLÓGICAS EM Formatado: Título 1, Sem marcadores ou numeração

FISIOTERAPIA
Formatado: Espaçamento entre linhas: 1,5 linhas

2.1 Pra começar Formatado: Título 2, Adicionar espaço entre parágrafos


do mesmo estilo
Formatado: Espaço Depois de: 8 pt, Adicionar espaço
Procurar conhecer a historicidade de uma área do saber, realizando uma entre parágrafos do mesmo estilo

contextualização com os seus fundamentos teórico-práticos, representa premissa


para um entendimento do tema em evidência. A Fisioterapia, como um elemento a ser
investigado seguindo estes pressupostos, observa-se que até este momento, não
representa uma realidade de grandes entusiasmos. Os escritos produzidos e
direcionados para esse interesse são raros ou quase inexistentes no Brasil. Diante
destas constatações, entende-se que construir subsídios que possam suscitar
diálogos sobre esta matéria aqui em foco são sempre bem-vindos.

2.2 Pontuações históricas sobre o termo fisioterapia e o uso de recursos Formatado: Título 2, Adicionar espaço entre parágrafos
do mesmo estilo
terapêuticos
Formatado: Espaçamento entre linhas: 1,5 linhas

É visível quando da investigação das bases histórico-conceituais da


Fisioterapia, a existência de uma lacuna quanto à produção acadêmica afeta a estas
questões. Os estudiosos da Fisioterapia priorizam quase sempre aspectos
direcionados para a prática clínica, tendo, como interesse hegemônico, as ações com
foco no tratamento e na reabilitação das limitações cinético-funcionais. Atos que
entendemos fundamentais para a materialização dos domínios fisioterapêuticos.
Neste cenário, a utilização de métodos e técnicas a partir de conhecimentos
clínico-cinesiológicos igualmente representam um fazer fisioterapêutico de
considerável presença no contexto contemporâneo. Contudo, investimentos
envolvendo ações de prevenção primária nos diversos níveis de atenção,
investigações e estudos a respeito das bases conceituais e epistêmicas em
fisioterapia, vêm se mostrando necessários pois revestem-se de condições essenciais
para o seu desenvolvimento como ciência.
A título de resgate do termo Fisioterapia, segundo o historiador Thomas J. A.
Terlouw, a palavra foi utilizada inicialmente em 1851, pelo médico militar Lorenz Gleich
(1798-1865), da Bavária na obra Dr Gleich´s Physiatrische Schriten (TERLOUW,
2006). De acordo com a fonte consultada, o termo é relativamente recente, notificado
no século XIX, mas o uso de agentes físicos nas práticas médicas é mencionado
desde a antiguidade em publicações diversas.
É oportuno observar que as populações a partir dos conhecimentos adquiridos
repassados de geração para geração, utilizavam procedimentos terapêuticos
semelhantes. A exposição à luz e ao calor, a prática de atividades físicas e o uso da
água, principalmente na forma de banhos, sempre estiveram presentes na promoção
da saúde do corpo, bem como no tratamento das enfermidades.
Essas práticas antigas, de caráter ‘intuitivo e empírico’ foram paulatinamente
se transformando no decorrer do tempo, até atingirem o que constituem, atualmente,
os procedimentos da Fisioterapia. Durante os séculos em que a humanidade tem
atravessado, os recursos físicos como a água e o calor, as massagens e os exercícios
físicos foram aplicados largamente com finalidades terapêuticas (LEITÃO, 1967). A
utilização da água como recurso terapêutico era indicada na forma de imersão em
água quente e fria para tratar muitas doenças, incluindo espasmos musculares e
doenças das articulações (SHESTACK, 1987)
Registros mostram o uso da eletricidade no tratamento das doenças, também
desde a antiguidade. Para esse fim, utilizavam-se choques de peixes elétricos. Neste
particular, destaca-se a figura do médico Scribonius Largus, que foi o primeiro a
recomendar os choques do peixe para a cura de cefaleias e nevralgias, no ano 46 a.C.
(LEITÃO, 1967).
A aplicação da eletricidade nos tratamentos se tornou um procedimento mais
frequente a partir do invento da primeira pilha por Alessandro Volta, em 1799. Foi a
partir da pilha de Volta que se deu o desenvolvimento dos vários equipamentos
utilizados na eletroterapia e no eletrodiagnóstico nos dias atuais. (LEITÃO, 1967).
Dentre outros fatos a serem considerados a respeito da eletricidade como
recurso terapêutico, encontra-se a sua aplicação para determinar contrações
musculares; descoberta realizada pelo médico e físico Jean Jallabert (1712-1768).
Além deste, outro que contribuiu para os estudos da contração muscular utilizando a
eletricidade foi o também médico e físico italiano Luigi Galvani (1737-1798). A
eletricidade como recurso terapêutico igualmente foi objeto de estudo de Michael
Faraday (1791-1867). A partir das descobertas de Faraday, na indução
eletromagnética, Guillaune Duchenne (1806-1875) demonstrou os pontos de eleição
para a estimulação muscular (LEITÃO, 1967).
De forma panorâmica, observa-se que os agentes físicos empregados nas
intervenções fisioterapêuticas na atualidade, de alguma forma, constituem-se em
derivações de experiências de épocas passadas. Entretanto, a Fisioterapia, em sua
forma e conceitos modernos, só começa a se manifestar, de fato, após a Revolução
Industrial com os acidentes de trabalho (REBELATTO; BOTOMÉ, 1999).
O século XX foi marcado pelas duas grandes guerras mundiais. Esses Formatado: Recuo: Primeira linha: 1,25 cm

episódios produziram um elevado número de óbitos, bem como uma alta incidência
das sequelas de guerra, que necessitavam de reabilitação motora e psíquica. Em
decorrência desses acontecimentos, surgiu o favorecimento de condições para a
criação de escolas, voltadas para a formação de profissionais que atendessem ao
grande contingente de vitimados, principalmente da Segunda Guerra Mundial, em
países como Inglaterra e Alemanha. (FIGUEIRÔA,1999)
De maneira semelhante, enfermidades como a poliomielite e disfunções
reumáticas e neurológicas, muito mais frequentes no ambiente moderno,
intensificaram as ações da Fisioterapia na reabilitação dos pacientes com limitações
motoras. Esses fatos marcaram, hegemonicamente, a visão da Fisioterapia como um
conjunto de técnicas e métodos voltados, sobretudo, para o tratamento e a
reabilitação, ficando as ações de prevenção primária sem maior visibilidade no que se
refere à atuação fisioterapêutica.

2.3 Fisioterapia como profissão e área do conhecimento em saúde Formatado: Título 2, À esquerda, Adicionar espaço entre
parágrafos do mesmo estilo, Espaçamento entre linhas:
simples
Numa perspectiva teórico-conceitual, a Fisioterapia no decorrer do seu
processo histórico, vem se constituindo como uma área do saber em expansão,
conforme as exigências postas pelas realidades. Expondo uma definição, em 1969 a
Organização Mundial de Saúde (OMS), coloca que a Fisioterapia é a arte e a ciência
do tratamento físico por meio do calor, do frio, da massagem e da eletricidade. Entre
os objetivos do tratamento figuram o alívio da dor, o aumento da circulação, a
prevenção e correção de incapacidades e da recuperação máxima da força, da
mobilidade e da coordenação. (OMS, 1969)
Seguindo nesta linha explicativa, a Confederação Mundial de Fisioterapia
(WCPT), fazendo referência ao fisioterapeuta, enfatiza que eles têm títulos diferentes
em diferentes países. Em muitos países, são chamados fisioterapeutas e, em outros,
são denominados de kinesiologistas. Contudo, todos fazem parte da mesma
profissão.
Os fisioterapeutas fornecem serviços que desenvolvem, mantêm e restauram,
ao máximo, o movimento e a capacidade funcional das pessoas. Eles podem ajudar
as pessoas em qualquer estágio da vida, quando o movimento e a função são
ameaçados pelo envelhecimento, lesões, doenças, distúrbios, condições ou fatores
ambientais.
Os fisioterapeutas ajudam as pessoas a maximizar sua qualidade de vida,
observando aspectos físicos, psicológicos, emocionais e sociais bem-estar. Eles
trabalham, na saúde, nas esferas de promoção, prevenção, tratamento/intervenção e
a reabilitação.
Além desses distintivos, a entidade internacional dos fisioterapeutas coloca que
eles são qualificados e profissionalmente necessários para: empreender um
abrangente exame/avaliação do paciente/cliente ou necessidades de
um cliente grupo; avaliar os resultados do exame/avaliação fazer julgamentos clínicos
sobre pacientes/clientes; formular um diagnóstico, prognóstico e planejar;
fornecer consulta dentro de seus conhecimentos e determinar
quando pacientes/clientes precisam ser encaminhados para outro profissional de
saúde; implementar um programa de intervenção
fisioterapêutica/tratamento programa; determinar os resultados de quaisquer
intervenções/tratamentos; fazer recomendações para autogestão.
(WCPT, 2021)
Dando prosseguimento ao significado da Fisioterapia, no Brasil, o Conselho
Federal da profissão define que:
A Fisioterapia é uma ciência da saúde que estuda, previne e trata os distúrbios
cinéticos funcionais intercorrentes em órgãos e sistemas do corpo humano, gerados
por alterações genéticas, por traumas e por doenças adquiridas (COFFITO, 2021)
Ainda conforme o Conselho Federal, a Fisioterapia fundamenta suas ações em
mecanismos terapêuticos próprios, sistematizados pelos estudos da biologia, das
ciências morfológicas, das ciências fisiológicas, das patologias, da bioquímica, da
biofísica, da biomecânica, da cinesia, da sinergia funcional, e da cinesia patológica de
órgãos e sistemas do corpo humano e das disciplinas comportamentais e sociais
(COFFITO, 2021).
Continuando a linha de raciocínio, as Diretrizes Curriculares do Curso de
Graduação de Fisioterapia de 2002, no seu artigo 3º, caracteriza o profissional
fisioterapeuta da seguinte forma: O fisioterapeuta, com formação generalista,
humanista, crítica e reflexiva, capacitado a atuar em todos os níveis de atenção à
saúde, com base no rigor científico e intelectual, detém visão ampla e global,
respeitando os princípios éticos/bioéticos, e culturais do indivíduo e da coletividade.
Capaz de ter como objeto de estudo o movimento humano em todas as suas formas
de expressão e potencialidades, quer nas alterações patológicas, cinético-funcionais,
quer nas suas repercussões psíquicas e orgânicas, objetivando a preservar,
desenvolver, restaurar a integralidade de órgãos, sistemas e funções, desde a
elaboração do diagnóstico físico e funcional, eleição e execução dos procedimentos
fisioterapêuticos pertinentes a cada situação (DCN,2002).
Observa-se que transformações vêm acontecendo tanto nos aspectos teóricos,
quanto nas práticas fisioterapêuticas, e essas modificações são resultado dos
cenários de mudanças que vão ocorrendo historicamente no processo saúde-doença.
Essas alterações que são resultados do passar do tempo, estão fundamentadas na
lei 6.316 de 17 de dezembro de 1975 que, no seu Capítulo 5º, expõe que é de
competência do Conselho Federal exercer função normativa (BRASIL, 1975).
Acréscimos nas bases conceituais acompanhados de novos recursos e
procedimentos, vão brotando em resposta às necessidades que se manifestam no
campo da saúde e da doença, no decorrer dos momentos históricos. Observa-se,
então, que a Fisioterapia não se define apenas pelo que se usa nos seus
procedimentos, mas também no que se tem como objeto de interesse. Assim, vai se
concretizando no estudo do movimento humano, visando à promoção, à preservação,
à recuperação e à reabilitação da funcionalidade, incluindo a atuação nos processos
que apontam para a finitude, com os cuidados paliativos. Assim, a Fisioterapia não se
reduz a um conjunto de métodos e técnicas que se transformam em tratamento e
mecanismos reabilitatórios, mas vem se fortalecendo como uma área do
conhecimento que apresenta um objeto de interesse.
2.4 A fisioterapia e suas dimensões para além de uma prescrição de Formatado: Título 2, À esquerda, Adicionar espaço entre
parágrafos do mesmo estilo, Espaçamento entre linhas:
tratamento simples
Formatado: À esquerda, Espaço Depois de: 8 pt,
Adicionar espaço entre parágrafos do mesmo estilo,
Apesar dos aprofundamentos conceituais que vêm sendo instituídos Espaçamento entre linhas: Múltiplos 1,08 lin.

historicamente através dos seus instrumentos sistematizadores, neste particular


considerando no Brasil o Conselho Federal da profissão através da publicação de
resoluções, acórdãos e portarias, nota-se que o termo Fisioterapia ainda é comumente
empregado, por uma parte significativa das pessoas, como uma modalidade de
tratamento.
A expressão “o médico passou fisioterapia” é muito utilizada no cotidiano social,
e se expande até mesmo para profissionais fisioterapeutas. Esta realidade do dia-a-
dia traz consigo várias inquietações, que apontam para questionamentos tanto no
campo semântico da palavra, bem como relativo a uma área do saber em saúde. Essa
compreensão manifestada pelo “senso comum” no que se refere à Fisioterapia, abre
um espaço propício para discussões conceituais férteis.
Ao consultar-se o dicionário, com o interesse de buscar o significado do termo
Fisioterapia, foi observado que é uma palavra composta, onde fisio (physis) vem do
grego que significa natureza, e terapia (therapéia) que constitui o ato de tratar.
(AURÉLIO, 1986). Assim, pode-se definir, em síntese, que a Fisioterapia representa
um tratamento através de recursos naturais, sentido esse que leva a um
fortalecimento da visão expressa por parte significativa da população geral.
Este entendimento de que a Fisioterapia representa uma modalidade de
tratamento remete à exclusão do seu rol constituinte, as medidas de promoção de
saúde e de prevenção dos déficits funcionais e dos seus determinantes.
Considerando, neste contexto, a sua efetiva presença no processo saúde-doença.
A forma reducionista de procedimento terapêutico, proporciona ainda uma
fragilidade nos aprofundamentos conceituais e epistêmicos relativos à Fisioterapia
como área do conhecimento para além de aplicações de métodos e técnicas.
Partindo do pressuposto de que a Fisioterapia se preocupa com o movimento
humano na perspectiva da sua funcionalidade, no seu cerne habitam os diversos
aspectos da mobilidade, envolvendo todos os fatores relacionados à dependência e
independência funcional.
2.5 Domínios cinesiológicos como princípios fundamentais da fisioterapia Formatado: Título 2, À esquerda, Adicionar espaço entre
parágrafos do mesmo estilo, Espaçamento entre linhas:
simples
Diante das colocações anteriormente expostas, depreendeu-se que o termo
Fisioterapia carrega, sobre si, muito comumente o sentido de tratamento. Entretanto,
verificou-se, também que, conforme as instituições ligadas à área, apresentando suas
definições mostram a Fisioterapia como produtora de conhecimento a partir de um
objeto de investigação e atuação profissional por meio de procedimentos
metodológicos e seguindo um processo racional. Portanto, trata-se de uma ciência.
Diante dessas considerações, é fato que a terminologia Fisioterapia, apesar de
ser frequentemente direcionada para uma modalidade de tratamento, é, em nível
mundial, a mais utilizada. Assim, é por demais importante o fortalecimento do
entendimento da Fisioterapia como uma área do conhecimento que se preocupa com
a totalidade da mobilidade humana, tendo como interesse próprio, os aspectos
inerentes à funcionalidade.
Com esse entendimento, se faz basilar a compreensão de que a Fisioterapia
como ciência, está preocupada com a promoção, a preservação, a recuperação, a
reabilitação e os cuidados paliativos; ela possui, dentre os seus fundamentos
constituintes, o domínio da Cinesiologia.
Percebendo a Cinesiologia como um campo de estudos voltados para o
movimento, ela envolve outras dimensões de conhecimento como a anatomia, a
fisiologia, a biomecânica, além de diversos fatores externos interferentes na
funcionalidade.
Partindo desses pressupostos, se torna impossível a existência da Fisioterapia
como profissão e área do saber em saúde sem as bases dos conhecimentos
cinesiológicos e suas interações com o meio ambiente.

2.6 Pra terminar Formatado: Título 2, À esquerda, Adicionar espaço entre


parágrafos do mesmo estilo, Espaçamento entre linhas:
simples
Essas palavras articuladas que compõem as ideias aqui exibidas, representam
apenas uma visão de tantas outras que possam existir, a respeito do conteúdo
impresso nestas resumidas páginas de livro. Como foi dito em momento anterior, o
que aqui é dissertado exprime no mínimo expectativas da existência de significativas
prosas tendo aspectos históricos, epistêmicos e teórico-conceituais da Fisioterapia
como profissão e domínio do conhecimento em saúde.
REFERÊNCIAS Formatado: Título 4, À esquerda, Adicionar espaço entre
parágrafos do mesmo estilo, Espaçamento entre linhas:
simples
BRASIL. Presidência da República. Lei no 6.316, de 17 de dezembro de 1975. Cria Formatado: À esquerda, Espaço Depois de: 0 pt, Não
o Conselho Federal e os Regionais de Fisioterapia e Terapia Ocupacional e dá adicionar espaço entre parágrafos do mesmo estilo
outras providências. Brasília, 1975.

COFFITO. CONSELHO FEDERAL DE FISIOTERAPIA E TERAPIA OCUPACIONAL.


Fisioterapia: formação acadêmica e profissional. Acesso em: 25 jan. 2021

FIGUEIRÔA, R. M. Aspectos da Evolução Histórica da Fisioterapia no Brasil.


Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Medicina e Reabilitação,1999.

LEITÃO, A. Elementos de fisioterapia (medicina física). Rio de Janeiro: Editora de


Livros Técnicos e Científicos, 1967.

OMS. Organización Mundial de La Salud. Série de informes técnicos nº 419.


Genebra, 1969.

SHESTACK, Robert. Fisioterapia prática. 3 ed. São Paulo: Manole, 1987.


REBELATTO, J. R; BOTOMË, S. P. Fisioterapia no Brasil. 2ª ed. São Paulo: Manole, Formatado: Fonte: Não Negrito
1999.

TERLOUW. T. J. A. The Origin of the term physioterapy. Physiotherapy Research Formatado: Fonte: Não Negrito
International, 2006, v. 11, n.1, p. 56-57. Formatado: Fonte: Negrito
Formatado: Fonte: Não Itálico
World Confederation for Physical Therapy (WCPT). Disponível em:
http://www.wcpt.org/. Acesso em: 12 set. 2021. Formatado: Inglês (Estados Unidos)
Formatado: Inglês (Estados Unidos)
Formatado: Inglês (Estados Unidos)
Formatado: Português (Brasil)
Formatado: Português (Brasil)
Formatado: Texto de nota de rodapé;Texto de rodapé,
Espaçamento entre linhas: simples
3 FORMAÇÃO E ATUAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA NUMA PERSPECTIVA
INTERPROFISSIONAL: VISÕES A PARTIR DE UMA EXPERIÊNCIA
ACADÊMICA

3.1 Para começar

Com a implantação do Sistema Único de Saúde, foi imprescindível que a


formação dos profissionais da saúde acontecesse em consonância com o que é
preconizado por ele; contudo, observa-se que o processo formativo de trabalhadores
para o setor no país ainda apresenta uma certa desvinculação com o sistema citado.
Muitas vezes, o modelo empregado pelas instituições formadoras chega a
desconsiderar o SUS como o responsável pela reordenação da formação em saúde
no território brasileiro.
É possível que essa situação aconteça pela falta de conhecimento por parte
dos envolvidos com a formação. Há de se considerar, entretanto, a falta de interesse
pela busca dos dados necessários para que aconteça a vinculação das instituições de
ensino com os propósitos do Sistema Único de Saúde.
Embora esse cenário seja uma realidade no cotidiano brasileiro, mecanismos
foram e estão sendo utilizados para reverter essa situação marcada por certa
desarmonia no cuidado em saúde no país. Neste sentido, podem-se apresentar
algumas medidas e experiências que apontam para uma transformação desse quadro,
a exemplo das Diretrizes Curriculares da Educação Permanente, do VER SUS, do
APRENDER SUS, o HUMANIZASUS, do PET SAÚDE e de outros programas do
Ministério da Saúde destinados a otimizar a formação de pessoal, como é o caso dos
diversos cursos ministrados pela Fiocruz, dentre os quais destacou-se o de
Especialização em Ativação de Processos de Mudança na Formação Superior de
Profissionais de Saúde.
Esse curso representou um salto importante para a melhoria na formação e nas
práticas em saúde priorizando, nos atores dos processos, uma tomada de atitude na
perspectiva de transformações da situação vigente, na direção de implementação de
uma atenção à saúde de qualidade e em todos os níveis.
Diante dessas expressões preliminares, este texto se apresenta como
resultado das atividades desenvolvidas no transcorrer do fluxo do Curso de
Especialização em Ativação de Processos de Mudança na Formação Superior de
Profissionais de Saúde.
A experiência ora descrita representa um conjunto de ações realizadas por
construções coletivas durante o curso promovido pela Fiocruz no ano de 2011.
Este relato foi organizado em cinco tópicos; no primeiro, estão delineados os
fundamentos teóricos construídos a partir de referências bibliográficas pertinentes à
temática abordada; no segundo, destacam-se considerações a respeito do caminho
metodológico; no terceiro, é exposta a experiência prática e os desdobramentos do
processo vivenciado tendo, como temáticas, a hipertensão e a diabetes na atenção
básica; no quarto, são apresentados os resultados e as discussões do processo, e,
no quinto, são realçadas as considerações finais sobre a vivência.

3.2 Contextualizando os fatos historicamente

3.2.1 O processo de reforma sanitária e a instituição do SUS

Primeiramente, é sempre bom frisar que a trajetória das políticas de saúde no


Brasil está associada às realidades políticas, sociais e econômicas dos momentos
históricos vividos pela população brasileira.
Na década de 70 do século passado, o país apresentava um modelo
hegemônico voltado a tratar a saúde das pessoas seguindo o padrão: médico
assistencial-privatista, centrado no hospital e, por isso, denominado de modelo
hospitalocêntrico. Foi neste cenário que surgiram as bases político-ideológicos para o
surgimento do movimento pela Reforma Sanitária.
Enquanto isso, discutia-se, no mundo, como a possibilidade da Saúde para
Todos no mundo na Conferência de Alma-Ata sobre cuidados primários em 1978, e
em Ottawa em 1986 em uma conferência na qual se discutia a importância da
Promoção da Saúde.
Em síntese, após um processo de muita movimentação de profissionais de
saúde, intelectuais e setores diversos da sociedade civil organizada, Brasília tournou-
se palco, em março de 1986, da VIII Conferência Nacional de Saúde, marco histórico
do movimento sanitário brasileiro.
A partir desse importante acontecimento histórico e como resultado dele,
tivemos a construção de uma grande articulação nacional que possibilitou o
estabelecimento de um acordo político que culminou com a elaboração da proposta
da Reforma Sanitária Brasileira. Essa proposta, que foi elaborada coletivamente,
fundamentou-se nos princípios de saúde como direito de todos e dever do Estado, e
a criação do Sistema Único de Saúde.
Esses esforços coletivos garantiram, já na Constituição Brasileira de 1988, a
constituição de garantias referentes à saúde da população que foram instituídos entre
os artigos 196 e 200, de modo que ficaram caracterizadas as bases para a
regulamentação do Sistema Único de Saúde (BRASIL, 1988).
Dando continuidade ao processo de transformações da atenção à saúde no
Brasil, em 1990 é estabelecida a legislação que institucionaliza o SUS através das leis
8.080/90 e 8.142/90.
Conforme a lei 8.080/90, “a saúde é um direito fundamental do ser humano,
devendo o Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício”.
(BRASIL, 1990). Esse direito à saúde, segundo a legislação, é universal para todos
com equidade – respeitando as diferenças – e com integralidade, uma assistência
irrestrita, com ações articuladas e contínuas. Para garantir o direito instituído pela
Constituição as leis 8.080/90 e 8.142/90 foram promulgadas, de modo que ambas
estabeleceram a necessidade de haver o controle social e o financiamento para a
saúde.

3.2.2 O Sistema Único de Saúde e a formação profissional

Temos observado que ainda existe uma distância bem considerável entre a
formação de profissionais de saúde e as necessidades do Sistema Único de Saúde.
Contudo, a legislação expõe que o SUS tem responsabilidade sobre o
desenvolvimento e a formação de recursos humanos em Saúde (CECCIM et al, 2002),
tudo em conformidade com a Lei 8.080/90: “a ordenação da formação de recursos
humanos na área de saúde”. (BRASIL, 1990).
As Instituições de Ensino Superior – IES, compostas organicamente pelos
segmentos de funcionários, estudantes e docentes, entende-se que, conforme a
legislação, devem cumprir o papel de formar quadros profissionais direcionados e
comprometidos com as demandas do SUS.
Passos vêm sendo dados na direção da formação em saúde, tendo como foco
os princípios do Sistema Único de Saúde. Contudo, esses acontecem de forma muito
lenta, e a visibilidade ainda não é tão expressiva. As resistências são muitas e
decorrem de todo um conjunto de fatores históricos, e o modelo biomédico centrado
na doença, apesar da existência de todos os princípios que fundamentam o SUS, é
hegemônico no jeito de formar os trabalhadores da área de saúde.
Essa pouca visibilidade é notada a partir das palavras de Ceccim e Feuerwerker
(2014, 42) que expõem:

A formação dos profissionais de saúde tem permanecido alheia à Formatado: Fonte: 11 pt


organização da gestão setorial e ao debate crítico sobre os sistemas
Formatado: Recuo: À esquerda: 4 cm, Espaçamento
de estruturação do cuidado, mostrando-se absolutamente
entre linhas: simples
impermeável ao controle social sobre o setor, fundante do modelo
oficial de saúde brasileiro. As instituições formadoras têm perpetuado
modelos essencialmente conservadores, centrados em aparelhos e
sistemas orgânicos e tecnologias altamente especializadas,
dependentes de procedimentos e equipamentos de apoio diagnóstico
e terapêutico.

Ainda se manifestando sobre a formação e o papel das instituições, os autores


acima citados afirmam que:

As instituições formadoras devem prover os meios Formatado: Fonte: 11 pt


adequados à formação de profissionais necessários ao
Formatado: Espaçamento entre linhas: simples
desenvolvimento do SUS e a sua melhor consecução,
permeáveis o suficiente ao controle da sociedade no setor,
para que expressem qualidade e relevância social
coerentes com os valores de implementação da reforma
sanitária brasileira. (CECCIM; FEUERWERKER, 2004, p. Formatado: Fonte: 11 pt
48)
Formatado: Fonte: 11 pt

Transformar os serviços de saúde em cenários de prática, é uma necessidade


para que o formando se torne um profissional conhecedor dos processos de trabalho.
Mas será que os serviços estão preparados para receber essa demanda? A partir das
nossas vivências, acreditamos ser imprescindível a elaboração de novos desenhos
para que os serviços se tornem uma verdadeira Rede/Escola.
Quanto à articulação necessária para uma formação que satisfaça os objetivos
do Sistema Único de Saúde, Ferreira (2010, p. 208) descreve que:

Uma proposta transformadora dos processos de formação e Formatado: Fonte: 11 pt


organização dos serviços seria alicerçada numa adequada articulação
Formatado: Recuo: À esquerda: 4 cm, Espaçamento
entre o sistema de saúde, suas várias esferas de gestão e as
entre linhas: simples
instituições formadoras. Tal proposta colocaria em evidência a
formação para a área da saúde como construção da educação em
serviço/educação permanente em saúde, agregando o
desenvolvimento individual e institucional, os serviços, a atenção à
saúde e o controle social.

Compreende-se que essa construção representa um processo, e que não vai Formatado: Recuo: Primeira linha: 1,25 cm

se tornar uma realidade de forma instantânea. Esse processo é lento e trabalhoso.


Formatado: Espaçamento entre linhas: simples
Transformar a formação e a gestão do trabalho em saúde não podem
Formatado: Fonte: 11 pt
ser consideradas questões simplesmente técnicas, já que envolvem
mudança nas relações, nos processos, nos atos de saúde e, Formatado: Recuo: À esquerda: 4 cm, Espaçamento
principalmente, nas pessoas. (CECCIM; FEUERWERKER, 2004, p. entre linhas: simples
50) Formatado: Fonte: 11 pt
Formatado: Fonte: 11 pt
Nessa direção, os Ministérios da Saúde e da Educação deram passos
significativos na construção de articulações entre a IES, os Serviços e a Sociedade.
Os exemplos mais próximos são: as experiências do PET/Saúde para os graduandos
e as Residências multiprofissionais para os graduados da saúde.
É difícil empreender alterações na sistemática de ensino voltada a formação
profissional na área de saúde, principalmente em se tratando dos objetivos
preconizados pelo SUS, entretanto, muitos acreditam no estabelecimento de uma
atenção à saúde democrática e de qualidade. É nesse contexto que a atenção básica
tem um significado fundamental na reordenação da atenção à saúde.

3.2.3 Importância da atenção primária na reorientação da saúde

Em 28 de março de 2006, foi aprovada a Política Nacional de Atenção Básica


através da Portaria Nº 648/GM, que estabeleceu a revisão de diretrizes e normas para
a organização da Atenção Básica para o então Programa Saúde da Família (PSF) e
o Programa Agentes Comunitários de Saúde (PACS). Política essa que vem sendo
ajustada, haja vista a atualização mais recente de 2017, implantada por meio da
Portaria Nº 2.46, de 21 de setembro.
Conforme a PNAB/2017, a Atenção Básica ou Atenção Primária,

[...] é o conjunto de ações de saúde individuais, familiares e Formatado: Fonte: 11 pt


coletivas que envolvem promoção, prevenção, proteção,
Formatado: Espaçamento entre linhas: simples
diagnóstico, tratamento, reabilitação, redução de danos, cuidados
paliativos e vigilância em saúde, desenvolvida por meio de práticas
de cuidado integrado e gestão qualificada, realizada com equipe
multiprofissional e dirigida à população em território definido, sobre
as quais as equipes assumem responsabilidade sanitária.” (PNAB,
2017, 01)

Partindo dessa definição, apesar de existir uma discursão sobre os conceitos


Atenção Básica e Atenção Primária, observa-se que esse nível de atenção apresenta
um papel fundamental na reordenação da rede de atenção à saúde, se caracterizando
como porta de entrada preferencial do sistema de saúde. Sendo fundamental entender
que se materializa em um território adscrito, como espaço vivo a permitir o
planejamento e a programação descentralizada, em consonância com o princípio da
equidade.

3.2.4 A atenção primária como cenário de aprendizagem e de construção do


conhecimento

A visão de que a produção do conhecimento deve ser prioritariamente realizada


nos intramuros das universidades ainda é hegemônica no seio do ambiente
universitário, onde é necessária a separação entre o saber acadêmico do senso
comum, do saber vulgar e do saber popular. Nesse sentido, o desenvolvimento de
ações e experiências que se voltam para os extramuros, comumente não agradam
um contingente razoável de indivíduos.
Para muitos que ingressam nos cursos da área de saúde, a clínica e o hospital
são os seus únicos ou mais desejáveis cenários de práticas, e quando se mexe com
essa lógica, as resistências são muito comuns acontecerem.
A formação realizada exclusivamente dentro dos muros universitários vem
cedendo, mesmo que ainda de forma lenta. Os cenários de práticas que se resumiam
aos hospitais e às clínicas-escola no caso especial da Fisioterapia vêm se expandindo
para as unidades básicas do Sistema Único de Saúde e para as comunidades.
Os serviços do SUS, como cenários de práticas, estão se fortalecendo
paulatinamente no cotidiano da formação em saúde. Um exemplo claro dessa
expansão é a implantação da Rede-Escola, com a pactuação entre as instituições
formadoras e a gestão do setor de saúde, onde a atenção primária vem sendo um
espaço importante na preparação para o SUS.
A presença da Universidade nos lugares onde vivem as pessoas deve se voltar
para o empoderamento dos indivíduos na busca dos direitos particulares e coletivos
frente aos diversos tipos de dificuldades, incluindo os que envolvem a saúde (VIEIRA,
2012).
Essa prática ainda não é universal, mas se observa que onde existe como
possibilidade de formação de profissionais para o SUS, representa um passo
importante para se conceber um trabalhador em saúde com as características
necessárias para suprir as demandas dos serviços.
Diante dessas considerações, pode-se inferir que estratégias que possam
viabilizar a vinculação entre ensino, serviço e gestão para a formação profissional
visando lograr benefícios a atenção à saúde, devem passar necessariamente pelo
diálogo entre os diversos setores e a construção de meios, levando-se sempre em
conta a participação dos envolvidos no processo.
Na nossa prática docente, participamos dessa edificação e desse caminhar,
saindo do espaço físico da instituição formadora para a realidade dos serviços. Neste
percurso, o diálogo e a construção coletiva, vêm apontando para caminhos que levam
a uma formação com mais intimidades com o que o SUS preconiza, objetivando uma
atenção de melhor qualidade para todos.

3.3 Significados, desígnios e feitios metodológicos

Diante do que foi posto até então, promover mudanças na formação de


profissionais de saúde representa uma ação urgente, levando-se em consideração a
efetivação do Sistema Único de Saúde.
Nesta perspectiva de mudanças, o Ministério da Saúde, em parceria com o
Ministério da Educação, vem possibilitando através de várias modalidades, dentre
essas a oferta de cursos que possam contribuir com uma formação que leve em conta
uma atuação mais resolutiva na área da saúde. Assim, foi realizado, em diversos
estados brasileiros, através da Fundação Oswaldo Cruz, o curso de Especialização
Ativação de Processos de Mudança na Formação Superior de Profissionais de Saúde.
A experiência aqui relatada é resultado desse curso lato senso e foi Formatado: Fonte: Itálico

desenvolvida como um movimento que se justificou por ser uma prática onde teve
como desígnio, a contribuição para a formação de um profissional onde o
conhecimento da atenção primária e da realidade comunitária associado ao
comprometimento com o cuidado integral da população, estivesse presente no
processo de formação, conforme preconiza o Sistema Único de Saúde.
No decorrer da experiência foram várias as desenvolvidas, e tiveram como
objetivos:
 Promover a articulação formação e serviço a partir do envolvimento concreto Formatado: Fonte: (Padrão) Arial, 12 pt, Cor da fonte:
Preto
com a realidade social dos cenários comunitários;
Formatado: Parágrafo da Lista, Adicionar espaço entre
 Construir espaços de vivencias onde se possibilite uma aprendizagem parágrafos do mesmo estilo, Com marcadores + Nível: 1
+ Alinhado em: 0,63 cm + Recuar em: 1,27 cm
significativa, respeitando os saberes existentes;
Formatado: Fonte: (Padrão) Arial, 12 pt, Cor da fonte:
 Proporcionar em todos os envolvidos no movimento, em especial nos alunos, Preto

a capacidade de serem agentes ativos no processo de mudança; Formatado: Fonte: (Padrão) Arial, 12 pt, Cor da fonte:
Preto
 Contribuir para a construção do trabalho em equipe e solidário, considerando Formatado: Fonte: (Padrão) Arial, 12 pt, Cor da fonte:
Preto
os gestores, os trabalhadores e os usuários;
 Favorecer as inter-relações entre os conhecimentos advindos dos
componentes curriculares e dos saberes adquiridos no espaço comunitário;
 Possibilitar a realização de ações interdisciplinares envolvendo os diversos
cursos participantes no movimento;
 Oportunizar a utilização de técnicas e métodos de planejamento estratégico
nas ações e serviços de saúde para uma melhor intervenção no processo
saúde-doença, considerando seus determinantes sociais;
 Realizar pesquisas envolvendo a população adscrita nas duas unidades de
saúde da família;
 Fazer reconhecimento do território e visitas nos domicílios de pessoas em
especial aquelas com diabetes e hipertensão;
 Desenvolver ações de educação em saúde, a exemplo das voltadas para a
hipertensão e diabetes, envolvendo espaços dos recursos sociais, com
escolas, igrejas, associações, unidade de saúde, objetivando uma melhor
qualidade de vida da população adscrita.
A experiência caracteriza-se por ser um estudo descritivo apresentando um
processo que teve o seu início no primeiro semestre do ano de 2011. Momento em
que assumimos a supervisão do Estágio Supervisionado I, do Curso de Fisioterapia
da Universidade Estadual da Paraíba. Estágio esse desenvolvido na comunidade
junto às Unidades Básicas de Saúde da Família, tendo como objetivo não só
possibilitar aos estudantes de Fisioterapia uma experiência na atenção primária, mas
também construir possibilidades de um trabalho interprofissional no cenário
comunitário.
Foi um trabalho de natureza qualitativa, e as atividades se desenvolveram no
território coberto pela Unidade de Saúde da Família no bairro do Araxá, Distrito
Sanitário III, no município de Campina Grande-PB.
Inicialmente, o Estágio citado acima sofreu resistências por parte de
estudantes. Contudo, logo no período seguinte conseguimos implantar um projeto de
extensão denominado Fisioterapia na Atenção Primária, com acadêmicos que se
identificaram com a proposta. No projeto de extensão, foram desenvolvidas atividades
de educação em saúde, buscando uma interação dos estudantes com a comunidade,
como também com os trabalhadores da equipe de saúde da família.
No primeiro semestre de 2013, fomos contemplados com o PET Saúde
Vigilância, onde foi aprovado o projeto “Doenças crônicas não transmissíveis e
qualidade de vida: Construindo saberes e práticas educativas em saúde a partir do
cenário comunitário”.
O nosso trilhar metodológico foi sempre pautado em modelos que promoveram
o trabalho coletivo, de modo que a produção sempre foi resultado da interação de
todos os atores que fizeram parte do movimento.
Para tanto, apropriamo-nos de meios socializantes dos quais podemos
destacar: as rodas de conversa, com pequenos círculos e/ou círculos maiores;
Leituras; Oficinas para promover a troca de experiências e saberes; chuva de ideias;
mapa conceitual; atividades lúdicas nas escolas com utilização de vídeos; pesquisa
quanti-qualitativa com a população hipertensa e diabética.
Durante todo processo de desenvolvimento das atividades do PET-Vigilância,
houve momentos coletivos de ações, de modo que todos os atores da proposta
estavam sempre reunidos para planejar, avaliar e compartilhar as experiências.
Essas ocasiões, foram desenvolvidas através de seminários, círculos de
estudos e encontros para análise de dados e de produção de textos. O processo de
reavaliação foi uma constante, com o intuito de minimizar os problemas evitáveis, e a
problematização se constituiu na metodologia utilizada a nossa caminhada no
decorrer do PET - Vigilância.
Os atores desse movimento, além de estudantes de Fisioterapia, fizeram parte
da equipe alunos de Odontologia, Psicologia e de Enfermagem, associados à equipe
de saúde, à população adscrita da unidade e ao professor facilitador. Outros cursos
da área da saúde foram convidados, mas no processo seletivo, não foram
classificados. No entanto, o interesse seria a inclusão de todos os cursos da saúde
nesse movimento interdisciplinar e interprofissional.

3.4 Apresentando os desdobramentos da vivência com hipertensão e diabetes


a partir de dados estabelecidos

Como colocado anteriormente, o projeto PET-Saúde teve, como temas


norteadores, a hipertensão e a diabetes. Neste sentido, seguem alguns apanhados
sobre os temas observados na literatura pertinente, no momento da realização da
experiência ora apresentada.
É observável, no cotidiano, que além dos diversos problemas sanitários
brasileiros, as Doenças Crônicas não Transmissíveis (DCNT) são de grande
importância no perfil epidemiológico do país, pois representam um dos maiores
problemas de saúde pública da atualidade. Em 2007, as DCNT foram responsáveis
por cerca de 72% do total de mortes no Brasil (MALTA et al, 2006; SCHMIDT et al,
2011). De acordo com o IBGE (2010), 31,3% da população brasileira tinham pelo
menos uma doença crônica, e 5,9% tinham três ou mais. As doenças crônicas
mais informadas pela população, ainda de acordo com dados do IBGE, foram:
hipertensão (14,0%) e doença de coluna ou costas (13,5%), com artrite ou reumatismo
(5,7%), bronquite ou asma (5,0%), depressão (4,1%), doença de coração (4,0%) e
diabetes (3,6%) a seguir. Na população com 35 anos ou mais, 8,1% das pessoas
tinham diabetes.
A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) e a Diabetes Mellitus são doenças
independentes, mas que atuam de forma sinérgica como fator de risco para doenças
cardiovasculares (PAIVA et al, 2006). A Associação Brasileira de Cardiologia (2010)
define a Hipertensão arterial como uma condição clínica multifatorial caracterizada por
níveis elevados e sustentados da pressão arterial. Já a Diabetes Mellitus, baseando-
se no trabalho de Toscano (2004), é uma disfunção metabólica de múltipla etiologia
caracterizada por hiperglicemia crônica resultante da deficiência na secreção de
insulina, na ação da insulina ou em ambos.
Em cerca de 90% dos pacientes, a etiologia da hipertensão arterial é
denominada de Hipertensão primária, essencial ou idiopática. Existem vários fatores
de risco que determinam ou agravam a hipertensão arterial; entre eles estão: fatores
hereditários; idade; raça; sexo; obesidade e sobrepeso; ingestão elevada de sódio;
álcool; uso de anticoncepcionais; fumo; estresse emocional; sedentarismo e dieta rica
em gordura (SIMONETTI et al, 2002).
A Diabetes Mellitus também é uma doença muito comum no cenário
epidemiológico, e representa uma preocupação para os serviços de saúde. Os
aumentos dos casos da doença estão relacionados com as alterações demográficas,
econômicas e sociais, além das modificações dos hábitos alimentares. Um estudo
feito entre 1988 e 1996 demonstrou que, em uma área metropolitana do Brasil, o
consumo de alimentos com verduras, frutas, legumes e carboidratos complexos
diminuía, ao passo que o consumo de refrigerantes, açúcares e alimentos ricos em
ácidos graxos aumentava intensamente (WARKENTIN, 2008). Esses dados mostram
que a um trabalho educativo tem espaço para ser executado com a possibilidade de
mudança de hábitos.
A etiologia da diabetes Mellitus é complexa e não totalmente compreendida,
sabendo-se apenas que se trata de uma doença multifatorial. Existem basicamente
dois tipos de diabetes: tipo 1 ou insulino-dependente e tipo 2 ou não insulina-
dependente. A primeira é causada por um processo autoimune das células α das
ilhotas pancreáticas produtoras de insulina num mecanismo ainda desconhecido. A
não insulino-dependente é responsável por mais de 90% de todos os casos de
diabetes. A diabetes tipo 1 atinge crianças e adolescentes, já o tipo 2 atinge
principalmente a população entre 30 e 69 anos, embora hoje já se observe este quadro
também em crianças devido a obesidade e ao sedentarismo infantil.
Diante dessas considerações gerais sobre a hipertensão e a diabetes e com a
realidade que vivenciamos nas Unidades de Saúde da Família, chegamos ao
entendimento da importância de se desenvolver um trabalho voltado para o
desenvolvimento de ações de educação em saúde, focando a prevenção e o cuidado
Formatado: Fonte: (Padrão) Arial, 12 pt, Cor da fonte:
com essas afecções. Assim, muitas foram as ações que se tornaram realidades, com Preto
Formatado: Parágrafo da Lista, Recuo: À esquerda: 0,75
a participação dos estudantes envolvidos no projeto. Dentre as ações realizadas
cm, Deslocamento: 0,5 cm, Adicionar espaço entre
podemos destacar: parágrafos do mesmo estilo, Com marcadores + Nível: 1
+ Alinhado em: 1,14 cm + Recuar em: 1,77 cm
 Reconhecimento do território – estudantes e professor com os agentes Formatado: Fonte: (Padrão) Arial, 12 pt, Cor da fonte:
comunitários de saúde; Preto
Formatado: Fonte: (Padrão) Arial, 12 pt, Cor da fonte:
 Visitas em domicílios, com a equipe; Preto
 Cadastramento de usuários (E-SUS); Formatado: Fonte: (Padrão) Arial, 12 pt, Cor da fonte:
Preto
 Visitas e ações educativas em escolas do território;
Formatado: Fonte: (Padrão) Arial, 12 pt, Cor da fonte:
Preto
 Atividades de acolhimento e sala de espera na Unidade de Saúde/ Formatado: Fonte: (Padrão) Arial, 12 pt, Cor da fonte:
Preto
 Acompanhamento da triagem com a equipe;
Formatado: Fonte: (Padrão) Arial, 12 pt, Cor da fonte:
 Realização do HIPERDIA; Preto
Formatado: Fonte: (Padrão) Arial, 12 pt, Cor da fonte:
 Rodas de conversa com a equipe de Saúde.
Preto
Essas atuações realizadas de forma conjunta e colaborativa entre os diversos
atores, envolvendo os estudantes de diversos cursos da saúde incluindo da
Fisioterapia, representaram uma possibilidade real de se formar profissionais que
saibam dialogar entre os demais e promovam uma atenção à saúde que esteja em
consonância com que é preconizado pelo SUS.

3.5 Pra terminar

Com a criação e o processo de implementação do Sistema Único de Saúde,


vem sendo desenvolvidas no decorrer dos anos, ações voltadas para a melhoria da
qualidade da atenção à saúde da população brasileira. Com esse objetivo,
vivenciamos iniciativas inovadoras com a finalidade de avançar nos melhoramentos
dos cuidados em saúde. O ver SUS, o aprender SUS, a Educação Permanente, o Pró
Saúde e o PET Saúde são exemplos concretos desse caminhar em possibilitar um
SUS com mais resolutividade.
Frente ao quadro que vem sendo desenhado, este relato de experiência mostra
que é possível prestar uma contribuição com a formação comprometida e alinhada
com os princípios que fundamentam o SUS. Para tanto, é necessário que se enfatize
o conhecimento da realidade dos territórios, o processo de trabalho na atenção
primária, o trabalho em equipe, colaborativo e compartilhado, o cuidado humanizado,
a qualidade no cuidado, a defesa do sistema como um bem social e o desenvolvimento
do espírito solidário entre os envolvidos.
Como resultados mais específicos, podemos destacar a promoção do
conhecimento da população adscrita na Unidade, atitudes de prevenção e de
cuidados direcionados a hipertensão e a diabetes, além dos esforços na direção de
uma interação com a equipe, e do diálogo com a comunidade, objetivando o
compartilhamento de conhecimentos e ações.
A partir da experiência ficou claro, entre os participantes, que o processo
formativo em saúde deve estar voltado para o atendimento das necessidades do SUS,
e por ele deve-se construir possibilidades de transformações na formação, nos
serviços e na gestão. Transformações que passam por um trabalho colaborativo entre
todos os trabalhadores e que deve ter as suas origens num processo formativo que
otimize o diálogo entre saberes e fazeres.
Por fim, ficou evidenciado que a experiência representou uma contribuição
essencial para o entendimento da necessidade de se efetivar uma formação
direcionada para o Sistema Único de Saúde. Para tanto, faz indispensável que o
processo formativo em saúde, fundamentando-se na qualidade, no compromisso, e
no trabalho dialogado interprofissionalmente. Na avaliação final do projeto os alunos
expressaram de forma espontânea a necessidade de se construir no ambiente
universitário possibilidades dialogadas de construção de conhecimentos, onde os
estudantes das várias graduações encontrem espaços para um convívio
interprofissional.

REFERÊNCIAS

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dos serviços correspondentes e dá outras providências. Brasília: [S.n],1990.

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comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) e sobre as
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Formatado: Fonte: Não Negrito
Formatado: Fonte: Negrito
Formatado: Fonte: Negrito
4 A ÉTICA NA FORMAÇÃO E NA ATUAÇÃO FISIOTERAPÊUTICA

4.1 Pra começar

A ética, desde os tempos mais remotos, representa uma temática muito


presente nas sociedades, procurando sempre a reflexão sobre o comportamento
moral dos indivíduos e das coletividades. A ética é matéria de estudo e de prática
desde a antiguidade da humanidade, onde muitos pensadores da filosofia como
Platão, Sócrates, Aristóteles, se debruçaram sobre o tema nos seus estudos.
Posteriormente Emmanuel Kant se apresentou com um entendimento sobre a relação
da moral com a razão, onde a primeira seria conduzida pela segunda. Mostrando que
o comportamento moral é administrado pela racionalidade. A busca por uma
convivência social respeitosa e solidária sempre foi um objetivo a ser alcançado. No
decorrer dos tempos, a ética vem a cada momento sendo elemento presente na
sociedade, agregando outros olhares na ação humana, a exemplo da bioética e da
deontologia.
Na contemporaneidade a ética se encontra relacionada com o estudo dos
valores morais, que orientam o comportamento humano em sociedade de forma mais
prática, procurando contribuir com um mundo mais justo. No que se refere à moral,
destacam-se os costumes, regras, tabus e convenções estabelecidas por cada
sociedade. Os termos possuem origem etimológica distinta.

A palavra “ética” vem do grego ethos. Em sua etimologia, ethos Formatado: Fonte: 11 pt
significa – literalmente morada, habitat, refúgio. O lugar onde as
Formatado: Espaçamento entre linhas: simples
pessoas habitam. Mas para os filósofos, a palavra se refere a “caráter”,
“índole”, “natureza”. A palavra “moral” tem origem no termo latino
“morales”, que significa “relativo aos costumes”. (Brenny Filho, 2017,
pag.12)

Ainda buscando um entendimento sobre a ética, pode-se proferir que


representa uma reflexão teórica sobre a moral a partir de conhecimentos extraídos da
investigação do comportamento humano. Neste particular, entendendo-se por moral, Comentado [MR2]: Aqui eu troquei o termo “norma” por
costume, uma vez que toda norma preconiza uma
o conjunto de costumes que orientam o indivíduo, guiando as suas ações e os seus organização sistemática publicizada para o conhecimento de
todos mediante, via de regra, a atuação de um dos poderes
julgamentos.
do estado: o Legislativo. Há outras normas, mas todas têm a
No sentido prático, os termos ética e moral são análogos, já que ambos são mesma natureza – ser sistematicamente editada por um
órgão colegiado superior que submete a todos as suas
responsáveis por construir as bases que vão guiar a conduta do homem, decisões deliberativas sobre comportamento de cidadãos
em sociedade ou em determinados grupos sociais.
determinando o seu caráter, altruísmo e virtudes, e por orientar a melhor forma de agir
e de se comportar em sociedade.
A ética com o decorrer do processo histórico vem agregando novas subáreas
ou ramos, a exemplo da bioética e da deontologia. A bioética visa construir meios para
a realização dos princípios de conduta humana da vida, considerando os avanços dos
métodos e das pesquisas científicas no campo das ciencias biológicas e da medicina,
incluindo ainda questões morais acerca da vida relacionadas com o ambiente e a
defesa dos animais. Já a deontologia é conhecida como a ética que lida com o
conjunto de deveres e princípios éticos relativos a cada profissão, ocupação ou local
de trabalho. A deontologia apresenta normas que regem a conduta e o desempenho
na esfera profissional, o que é exigido pelas responsabilidades profissionais em
relação a determinados atos.
Diante desse vasto campo de investigação e produção de conhecimento,
aponta-se uma possibilidade de se promover reflexões sobre a ética nos feitios
teóricos e práticos direcionados para a formação do profissional de saúde. Observa-
se que é comum, no processo formativo em saúde, a existência na estrutura curricular
de um componente dedicado à ética. A presença dessa unidade curricular isolada não
contempla, contudo, uma formação que esteja de acordo com o que se espera para
um cuidado integral e respeitoso à saúde da população.
Em todas as dimensões sociais, é muito comum observar-se a exigência da
necessidade nas relações sociais de uma conduta que esteja de acordo com os
princípios éticos adotados. No campo da saúde, a ética se apresenta como um
comportamento voltado para a produção de cuidados, em que o respeito ao outro em
toda sua dimensão, seja uma realidade. Contudo, muitas implicações estão presentes
nessa orientação para a formação em saúde.
Assim, diante desse quadro, é significativo que se debruce sobre a temática no
sentido de possibilitar um ambiente favorável para aprofundamentos teórico-práticos
no processo de formação em saúde. Seguindo este entendimento, o presente artigo
foi construído tendo como base leituras a respeito do tema, incluindo artigos
acadêmicos e textos oficiais, seguido de reflexões sobre elas e advindas de
experimentações teórico-práticas materializadas no transcorrer do exercício
profissional docente.
A intenção primeira deste constructo é despertar para a produção de
conhecimento sobre a valoração dos aspectos éticos na formação do profissional de
saúde e do fisioterapeuta em particular.

4.2 Bases teórico-conceituais da ética e da eticidade

A ética na atualidade representa um termo muito utilizado nos diversos


contextos sociais, incluindo os aspectos políticos, científicos, educacionais,
profissionais e da vida comum. É uma temática que se expressa tanto como uma
manifestação comportamental, uma ética prática, como uma área do conhecimento
teórico, uma ética conceitual e epistêmica.

Tradicionalmente ela é entendida como um estudou uma reflexão, Formatado: Fonte: 11 pt


científica ou filosófica, e eventualmente até teológica, sobre os
Formatado: Espaçamento entre linhas: simples
costumes ou sobre as ações humanas. Mas também chamamos de
ética a própria vida, quando conforme aos costumes considerados
corretos. A ética pode ser o estudo das ações ou dos costumes, e pode
ser a própria realização de um tipo de comportamento (VALLS, 1994.
p. 7).

Conforme o autor acima, a ética representa, na vida em sociedade, uma dimensão Formatado: Fonte: 11 pt
teórica, envolvendo aspectos reflexivos, filosóficos e acadêmicos e, por outra, um ato Formatado: Recuo: À esquerda: 0 cm, Primeira linha:
1,25 cm, Tabulações: Não em 4 cm
comportamental considerado adequado de acordo com o tipo de conduta adotado pelos
Formatado: Fonte: 11 pt
indivíduos em determinada organização social.
Formatado: Fonte: 11 pt
Nas situações da vida cotidiana, as pessoas se defrontam com a necessidade
Formatado: Fonte: 11 pt
de pautar o seu comportamento por normas que se julgam mais apropriadas ou mais Formatado: Fonte: 11 pt
dignas de ser cumpridas. Estas normas são aceitas intimamente e reconhecidas como Formatado: Fonte: 11 pt

obrigatórias, e de acordo com elas, os indivíduos compreendem que têm o dever de Formatado: Tabulações: 1,25 cm, À esquerda + Não em
4 cm
agir desta ou daquela maneira (VAZQUEZ, 1978).
A ética como área do conhecimento científico, Formatado: Recuo: À esquerda: 0 cm, Espaçamento
entre linhas: simples
É a teoria ou a ciência do comportamento moral dos homens em
Formatado: Fonte: 11 pt
sociedade. Ou seja, é a ciência de uma forma específica de
comportamento humano. Enquanto conhecimento científico, a ética Formatado: Fonte: 11 pt
deve aspirar a racionalidade e objetividade mais completas e, ao Formatado: Espaçamento entre linhas: simples
mesmo tempo, deve proporcionar conhecimentos sistemáticos,
metódico se, no limite do possível, comprováveis. (VAZQUEZ, 1978, Formatado: Fonte: 11 pt
p. 12-13)
Partindo destes pressupostos, a ética é reconhecida como um comportamento Formatado: Tabulações: 1,25 cm, À esquerda + Não em
4 cm
aceitável a partir de normas estabelecidas socialmente e como uma ciência que tem,
como objeto de estudo, o comportamento moral.
Contudo, o comportamento moral efetivo não compreende somente normas ou
regras de ação, mas também como comportamento que deve ser; trata-se do conjunto
dos princípios, valores e prescrições que os homens, numa dada comunidade,
consideram válidos como os atos reais em que se concretizam e encarnam
(VÁZQUEZ, 1978).
Referindo-se à dimensão da moral, Chauí (2000) expõe que o senso e a Formatado: Tabulações: 1,25 cm, À esquerda

consciência moral dizem respeito a valores, sentimentos, intensões e ações referidos


ao bem e ao mal e ao desejo de felicidade. A autora citada coloca que existem dois
juízos de fato e o de valor, onde o de fato remete a um evento e o de valor faz
avaliações sobre as coisas, as pessoas, as ações, as situações e os acontecimentos.

Os juízos éticos de valor são também normativos, isto é, enunciam Formatado: Fonte: 11 pt
normas que determinam o dever ser de nossos sentimentos, nossos
Formatado: Espaçamento entre linhas: simples
atos, nossos comportamentos. São juízos que enunciam obrigações e
avaliam intenções e ações segundo o critério do correto e do incorreto. Formatado: Fonte: 11 pt
(CHAUÍ, 2000, p. 162)

Nessa perspectiva, no bojo da funcionalidade social é indiscutível a partir de Formatado: Tabulações: 1,25 cm, À esquerda

um conjunto de regras em que se considera um ato certo ou errado. Assim, temos


uma normatização do que é aceitável e digno existir e o rejeitável, impróprio ao status Formatado: Fonte: Itálico

quo.
Dentre as possibilidades de norma, estão as legislações que estruturam um
Estado, como a constituição e leis especificas, as normas de conduta profissional,
como os códigos de ética etc.
Neste sentido, a presença dos indivíduos na sociedade, como sujeitos
integrantes de um tecido eclético, é caracterizada por comportamentos que se
manifestam igualmente plural. Contudo, é observado que esse pluralismo é visto como
aceitável ou não, conforme os predicados constituídos.
Ainda no que se refere à normatização social, é visível que, mesmo quando da
institucionalização do normal, não se constitui funcional. É o não cumprimento da lei
pelo Estado, por exemplo.
Apenas a título de citação, a Constituição do Brasil, no artigo 1º que trata dos
direitos fundamentais, é colocado no seu inciso II, o direito à cidadania e, no inciso III,
o direito à dignidade. Pegando tão-somente dois tópicos de um só artigo, já se observa
que ainda que se tenha a necessidade de uma institucionalização da normalidade,
mesmo assim, quando se trata de direitos se evidencia uma lacuna na efetividade.
Ainda citando a Carta Magna brasileira no capítulo II, dos direitos sociais, observa-se,
no seu artigo 6º que:

São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a Formatado: Fonte: 11 pt


moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a
Formatado: Espaçamento entre linhas: simples
proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados,
na forma desta Constituição. (BRASIL, 1988) Formatado: Fonte: 11 pt

Diante dessas citações, fica explícito que a sociedade brasileira apresenta


problemas no que se refere à materialização dos direitos já garantidos pela
normalização legal instituída pelo Estado. Nesse contexto, considerando que é ético
seguir a norma constituída, o Estado brasileiro está em débito com aqueles que não
veem os direitos consolidados no seu dia a dia.

4.3 A ética no contexto da saúde e no cuidado fisioterapêutico

Caminhando para um cenário mais específico, sem deixar o elo com o genérico
enveredando para o ambiente da atenção com a saúde das pessoas, nota-se que as
questões éticas estão sempre em evidência. Desde questões mais basais como a
promoção da saúde e prevenção de enfermidades e seus agravos, até os
procedimentos direcionados para os tratamentos específicos e reabilitativos.
Iniciando pelas questões mais basais, citadas anteriormente, verifica-se uma
certa ausência do poder estatal constituído no que se refere à instituição de medidas
na direção da efetivação da promoção da saúde e prevenção de enfermidades e seus
agravos. Remetendo o fato ao genérico, observa-se, no texto constitucional na seção
II do capítulo II da seguridade social, que trata da saúde, no seu artigo 196 que:

A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante Formatado: Espaçamento entre linhas: simples
políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de
Formatado: Fonte: 11 pt
doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às
ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. Formatado: Fonte: 11 pt
(BRASIL, 1988)
Esse artigo constitucional é campo fértil para um rol de diversas garantias
direcionadas à cidadania, de modo que facilmente se evidencia um arco que vai desde
as ações de promoção à recuperação da saúde, apontando para tal a necessidade da
efetivação de políticas sociais e econômicas.
É ético o cumprimento do que está posto, contudo ainda não é o que se
evidencia no cotidiano das pessoas. O Estado falha nos seus deveres explicitados na
Constituição do Brasil.
Seguindo na direção mais especifica da saúde em 1990, após um processo de
muita participação social, foi institucionalizada a legislação do Sistema Único de
Saúde, as leis 8.080/90 e 8.142/90. Um avanço magnífico para a atenção com a
sanidade da população brasileira, como continuidade da Carta Magna de 1988.
Conforme a Lei 8.080 de 19 de setembro de 1990, além de ratificar o que
colocado na Constituição, no seu artigo 3º expõe:

A saúde tem como fatores determinantes e condicionantes, entre Formatado: Fonte: 11 pt


outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio
Formatado: Espaçamento entre linhas: simples
ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer e o
acesso aos bens e serviços essenciais; os níveis de saúde da
população expressam a organização social e econômica do País. Formatado: Fonte: 11 pt
(BRASIL, 1990)

O artigo acima detalha as prerrogativas para se obter um estado de saúde


satisfatório, mostrado que o ser saudável é resultado da existência de um conjunto de
fatores contributivos para tal. É real que uma pessoa sem as condições mínimas de
alimentação, educação, moradia e saneamento básica, sem necessidade de ir mais
além, não apresenta as exigências para uma vida digna e com saúde.
Assim, a partir de políticas públicas articuladas, o Estado tem o dever de
possibilitar, aos seus cidadãos, as condições inerentes ao gozo da vida com
qualidade, primando pelo acesso universal e gratuito às ações e serviços de saúde.
Para se garantir a qualidade e a resolutividade na atenção às pessoas, a lei
8.080 expressa a necessidade da integralidade. É imprescindível que o cuidado
aconteça na sua totalidade. Daí a existência da rede de atenção à saúde, objetivando
o zelo integral das pessoas.
A lei 8.080, no artigo 7º do capítulo II dos princípios e diretrizes manifesta que
a,
[...] integralidade de assistência, entendida como um conjunto Formatado: Fonte: 11 pt
articulado e contínuo das ações e serviços preventivos e curativos,
Formatado: Espaçamento entre linhas: simples
individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de
complexidade do sistema (BRASIL, 1990).

Desse modo, a integralidade acontecerá de fato com a existência dos serviços


adequados, funcionamento suficiente, incluindo profissionais apropriados. A título de
reflexão, acontece de forma satisfatória a integração entre os serviços com
resolutividade? Não se faz necessário maiores investigações para se observar que
existe problema. É muito comum ainda, a descontinuidade da assistência. A
inexistência de serviços específicos adequados, a exemplo de centros de reabilitação
e o mecanismo de encaminhamentos, se apresentam como problemas para a
efetivação do princípio da integralidade.
É visível a ineficiência da assistência fisioterapêutica na rede, nos seus Formatado: Recuo: À esquerda: 0 cm

diversos níveis. Na atenção primária, a presença do profissional fisioterapeuta ainda


é por demais deficitária, contribuindo significativamente para o não cumprimento dos
princípios da universalidade e da integralidade. Entende-se como importante a criação
do NASF e a presença do Fisioterapeuta neste núcleo de apoio, mas há de se
concordar que ainda está distante do que a lei preconiza como direitos para a
população. Conforme a nova PNAB, “[...] os Nasf-AB (...) não são de livre acesso para Formatado: Fonte: 11 pt

atendimento individual ou coletivo (estes, quando necessários, devem ser regulados pelas Formatado: Fonte: 11 pt

equipes que atuam na Atenção Básica)” (BRASIL, 2017). Formatado: Fonte: 11 pt


Entendendo neste caso, equipes de atenção básica, as equipes mínimas de Formatado: Fonte: 11 pt

saúde da família. No caso do fisioterapeuta, as realidades mostram que a demanda Formatado: Recuo: Primeira linha: 1,25 cm

de pessoas necessitadas de acompanhamento é incompatível com a disponibilidade


deste profissional. Na atenção secundária, onde devem estar os centros de
reabilitação, ambientes recebedores dos níveis primário e terciário, é notória a
precariedade em muitas partes do território brasileiro. No ambiente hospitalar, faz
parte do contexto presente, melhorias no que tange à assistência fisioterapêutica,
contudo, encontram-se pontos de ausência desse cuidado na atenção terciária.
Acrescenta-se, ainda, na direção do bem cuidar em saúde, a Política Nacional
de Humanização em Saúde, o HUMANIZASUS. Instituída em 2003, a Política tem o
intuito de envolver gestão, serviços/trabalhadores e usuários na prestação do cuidado,
tomando como base uma construção coletiva direcionada para o acolhimento, a
qualidade e a resolutividade, respeitando as particularidades das pessoas (BRASIL,
2004).
Verifica-se, então que, apesar dos avanços alcançados no campo da atenção
integral à saúde, ainda há inconsistência quando se considera a normatização de
direitos estabelecidos pelo Estado.
Diante de todos esses pressupostos, é fundamental que se entenda que o
cuidado é prestado por pessoas que devem, acima de tudo, estar identificadas com o
trabalho a ser realizado, de modo a que reste materializado num atendimento que
traga satisfação aos pacientes.

4.4 A fisioterapia na perspectiva de uma formação ética

Para se obter cuidado ético, é necessária a existência de pessoas éticas para


realizar esse cuidado. A formação de profissionais da saúde remete a um processo
onde esteja disponível, para os indivíduos em formação, as condições possíveis para
as práticas de atitudes condizentes com o comportamento ético preconizado polos
valores instituídos na e pela sociedade.
Ao se falar em ética nos cursos de graduação em saúde é muito comum
remeter o tema para uma disciplina que trata do assunto, em forma de definições
estáticas e comportamentos estabelecidos nos códigos, sem articulação com o
contínuo processo formativo. Corriqueiramente observa-se, no cotidiano do ambiente
universitário, uma certa exclusividade da disciplina de ética para as demandas
envolvendo a eticidade. Esse comportamento provoca um certo prejuízo no sentido
de oferecer, ao formando, a possibilidade de ter contato com aspectos vinculados à
conduta ética.
Obviamente, o ser ético não é resultado exclusivo de transmissão de teores
considerados éticos. Outras questões envolvendo visões de mundo, como as pessoas
se posicionam na sociedade, estão presentes nessa formação. Há que se considerar,
contudo, a aproximação com experiências de eticidade, como possibilidade de
escolha.
Esse quadro, conforme nossa experiência é evidenciada também em
graduações em fisioterapia. A disciplina com a temática ética comumente fica
responsável pelos mais variados aspectos da conduta normatizada como a correta.
No decorrer do presente texto, tem-se referenciado várias vezes documentos
oficiais como bases de apreciações. Continuando nesta direção, a formação em
fisioterapia é norteada pela Resolução CNE/CES 4, de 19 de fevereiro de 2002, que
Instituiu Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Fisioterapia, do
Ministério da Educação. Neste documento, são citadas várias vezes o termo ética,
demostrando a necessidade da eticidade no ato fisioterapêutico.
De acordo com o artigo 3º da Resolução,

Curso de Graduação em Fisioterapia tem como perfil do formando Formatado: Fonte: 11 pt


egresso/profissional o Fisioterapeuta, com formação generalista,
Formatado: Espaçamento entre linhas: simples
humanista, crítica e reflexiva, capacitado a atuar em todos os níveis
de atenção à saúde, com base no rigor científico e intelectual. Detém
visão ampla e global, respeitando os princípios éticos/bioéticos, e
culturais do indivíduo e da coletividade. (CNE/CES 4, 2002) Formatado: Fonte: 11 pt

No parágrafo único do Artigo 5º, o documento citado expõe que a formação do


fisioterapeuta deverá atender ao sistema de saúde vigente no país, o SUS, e que a
regionalização, a hierarquização, a referência e a contra referência e o trabalho em
equipe deverão ser mecanismos considerados para a atenção integral da saúde.
As Diretrizes mostram, textualmente, a necessidade de se formar profissionais
que respeitem os princípios éticos e que a prática da eticidade passa necessariamente
pelo que é preconizado pelo Sistema Único de Saúde. Assim, o fisioterapeuta no seu
ato profissional deve imprimir um conjunto de ações voltadas a efetivar os direitos
garantidos pela legislação inerente à saúde das pessoas.
O Decreto-lei 938 de 13 de outubro de 1969, que regulamenta a fisioterapia no Formatado: Recuo: Primeira linha: 1,25 cm

Brasil, estabelece que a atividade do fisioterapeuta visa restaurar, desenvolver e


conservar a capacidade física das pessoas, deixando evidenciado que o profissional
deve se preocupar, em sua atuação profissional, com o cuidado nos seus diversos
níveis de prevenção (BRASIL,1969).
A Lei 6.316, de 17 de dezembro de 1975, que criou os conselhos regionais e
federal da profissão fisioterapia, também estabelece dispositivos afetos ao
comportamento ético. No seu artigo 16, é posto que constitui infração disciplinar
transgredir preceito do Código de Ética Profissional (BRASIL, 1975).
Encerrando as citações documentais inerentes ao comportamento ético do
fisioterapeuta, apresenta-se o Código de Ética e Deontologia da Fisioterapia, instituído
através da Resolução COFFITO de nº 424, de 08 de julho de 2013. Entende-se que
os fisioterapeutas precisam ter sempre o código de ética para consulta quanto à
atuação profissional, já que, na dúvida em alguma ação, deve-se consultar para não
correr risco de punição.
Dispondo com mais minudências o campo de atuação do fisioterapeuta, o
código de ética mostra, no seu artigo 4º,

O fisioterapeuta presta assistência ao ser humano, tanto no plano Formatado: Fonte: 11 pt


individual quanto coletivo, participando da promoção da saúde,
Formatado: Espaçamento entre linhas: simples
prevenção de agravos, tratamento e recuperação da sua saúde e
cuidados paliativos, sempre tendo em vista a qualidade de vida, sem
discriminação de qualquer forma ou pretexto, segundo os princípios
do sistema de saúde vigente no Brasil. (COFFITO, 2013) Formatado: Fonte: 11 pt

Este regramento traz consigo a importância do respeito às diferenças Formatado: Recuo: Primeira linha: 1,25 cm

apresentadas pelas pessoas, seguindo sempre o que se encontra posto como


princípios no SUS.
No Artigo 9º, a Resolução 424 do COFFITO dispõe que se constitui, entre os
deveres fundamentais do fisioterapeuta, exercer sua atividade com zelo, probidade
decoro e obedecer aos preceitos da ética profissional, da moral, do civismo e das leis
em vigor, preservando a honra, o prestígio e as tradições de sua profissão, além de
prestar assistência ao ser humano, respeitados a sua dignidade e os direitos humanos
de modo a que a prioridade no atendimento obedeça a razões de urgência,
independentemente de qualquer consideração relativa à raça, etnia, nacionalidade,
credo sociopolítico, gênero, religião, cultura, condições socioeconômicas, orientação
sexual e qualquer outra forma de preconceito, sempre em defesa da vida (COFFITO,
2013).
Ratificando os direitos e a atenção integral à saúde, o código estabelece, nos
seus artigos 26 e 27, que o fisioterapeuta deve atuar em consonância com a política
nacional de saúde e deve empenhar-se na melhoria das condições da assistência
fisioterapêutica e nos padrões de qualidade dos serviços de Fisioterapia no que
concerne às políticas públicas, à educação sanitária e às respectivas legislações
COFFITO, 2013).
Após o passeio feito pelos documentos e outras leituras inerentes às condutas
éticas na saúde, fica visível a articulação entre as legislações. Entretanto, é explicito
também que, apesar dos avanços alcançados legalmente, ainda é distante a
efetivação dos aspectos éticos na materialização dos direitos estabelecidos na norma.
4.5 Pra terminar

Os termos cidadania, direito, solidariedade, respeito, amorosidade, afeto,


cuidado, dignidade, compaixão dentre outros são muito pronunciados no cotidiano da
sociedade. No contexto normativo, é visível a exposição de construções direcionadas
para a efetividade ética. Porém, não se faz necessário um processo investigativo
aprofundado para se evidenciar que essas construções legais não se transformaram
em atitudes materializadas, no cotidiano individual e coletivo.
A ética como manifestação real nas vidas das pessoas e dos ambientes, é
indispensável à ação individual e coletiva, por um lado para se efetivar o que já se
encontra posto na norma e para avançar em outros mecanismos que possibilitem
comportamentos éticos direcionados para o que se entende como bem viver.
Considerando o setor saúde, é importante disponibilizar meios e experiências
que venham a contribuir para a possibilidade de escolhas no processo formativo dos
profissionais, permitindo, assim, a efetividade de atitudes e ações reconhecidas como
éticas.
Diante do cenário, é basilar entender que não será uma disciplina que fará um
indivíduo tornar-se ético nas suas posturas profissionais, bem como pessoais. As mais
variadas experiências no processo de ensino e aprendizagem, envolvendo extensão
e pesquisa nas diversas situações serão contribuições importantes para uma
participação social fundamentada nos princípios éticos já postos em documentos, em
gestos e pronunciamentos.

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Formatado: Fonte: (Padrão) Arial


5 A FISIOTERAPIA E A EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA COMUNITÁRIA

5.1 Pra começar

Não é de hoje que a extensão faz parte do cotidiano universitário. Ela é uma
realidade do ambiente universitário há um tempo bem considerável. Apesar de este
texto não se propor a discutir questões conceituais do termo, não obstante é
significativo fazer algumas referências sobre os feitios da prática extensionista no
decorrer da história.
Registros mostram que as experiências com extensão no Brasil tiveram início
a partir de 1911 na então Universidade Livre de São Paulo, e a primeira legislação
sobre o tema se deu com o Decreto 19.851 de 11 de abril de 1931, que trata do
Estatuto da Universidade Brasileira (CASTRO; TEODÓSIO, 2004).
No que se refere à feição da extensão no Brasil, observa-se que as ações
extensionistas estiveram pautadas em duas vertentes: uma caracterizada pela
prestação de serviço, por meio de atividades assistencialistas oriunda do Estados
Unidos e outra da Inglaterra, voltada para a transmissão do conhecimento (educação
continuada), através de cursos e de outras modalidades de difusão. (QUEIROZ, 2009)
Situando historicamente e pontuando a extensão como atividade universitária
em território brasileiro, os anos que antecederam a tomada do poder pelos militares
foram marcados por mobilização popular em defesa dos direitos sociais. Durante o
período autoritário, os movimentos sociais foram reprimidos, e a “ordem social” foi
estabelecida por meio de Atos impostos pelo regime.
Neste momento de controle pela repressão, foi realizada a reforma Universitária
em 1968, que apresentou, dentre suas características, o rompimento com a
concepção de extensão como espaço de diálogo com a comunidade, limitando a
atuação da universidade na sociedade. No ano de 1974, foi instituído o plano de
trabalho do MEC, onde a extensão foi marcada pela prestação de serviço com
retroalimentação para a universidade voltada ao ensino e à pesquisa. Concepção
absorvida pelo Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras (CARBONARI;
PEREIRA, 2007)
Com o processo de abertura política a partir dos anos 80 do século passado, a
sociedade e as universidades brasileiras em particular, vão retomando o papel em
defesa da cidadania. E, neste cenário, em 1987, foi criado em Brasília o Fórum de
Pró-Reitores de Extensão de Universidades Públicas Brasileiras.
Este Fórum e o seu 1º encontro representaram um marco histórico para a
extensão universitária, constituiu-se de um ambiente propício para as discussões e
proposituras direcionadas para as atividades extensionistas. Como resultado deste
Evento de 1987, foram apresentados em seu Documento final conceitos e medidas
referentes à institucionalização da extensão nas universidades brasileiras.
Conceituando extensão, o Relatório expõe que se trata de “um processo educativo,
cultural e científico que articula o ensino e a pesquisa de forma indissociável e viabiliza
a relação transformadora entre a universidade e a sociedade”. (DOCUMENTO FINAL,
1987)
Ainda apresentando as bases conceituais, o Documento relata que:

A extensão é uma via de mão dupla, com trânsito assegurado à Formatado: Fonte: 11 pt
comunidade acadêmica, que encontrará, na sociedade, a
Formatado: Recuo: À esquerda: 4 cm, Espaçamento
oportunidade da elaboração da práxis de um conhecimento
entre linhas: simples
acadêmico. No retorno à universidade, docentes e discentes trarão um
aprendizado que, submetido à reflexão teórica, será acrescido aquele
conhecimento. Este fluxo, que estabelece a troca de saberes
sistematizados/acadêmico e popular, terá como consequência: a
produção de conhecimento resultante do confronto com a realidade
brasileira e regional; a democratização do conhecimento acadêmico e
a participação efetiva da comunidade na atuação da universidade.
(DOCUMENTO FINAL, 1987)

Observa-se, no trecho acima, a preocupação com o retorno das ações da


universidade para a sociedade, agora de forma dialética, considerando a troca de
saberes na construção de um conhecimento engajado. A universidade deixa, então, a
visão de produtora e transmissora do conhecimento numa perspectiva verticalizada
para uma postura em que o diálogo faz parte deste processo de produção e de
transmissão.
A partir das recomendações do 1º Encontro de Pró-Reitores, a Universidade
Brasileira se redefine, enfatizando a Academia como um bem social marcado pela
defesa dos interesses coletivos e pela construção da cidadania.
Reconstruindo um novo perfil da universidade, o Encontro de 1987, fazendo
referência à institucionalização da extensão, enfatiza que:
A institucionalização da prática extensionista, na medida em que reduz Formatado: Fonte: 11 pt
a distância que atualmente separa a atividade acadêmica dos
Formatado: Recuo: À esquerda: 4 cm, Espaçamento
interesses concretos da população, deve ser visualizada como um
entre linhas: simples
instrumento básico da recuperação da função social da universidade
e restauração de sua credibilidade. (DOCUMENTO FINAL, 1987)

Ratificando a atividade extensionista nas universidades do Brasil, a


Constituição de 1988 menciona, no seu artigo 207, que: “As universidades gozam de
autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e
obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão”.
A extensão universitária teve sua relevância registrada na prática acadêmica
com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996), de modo que, em seu
Artigo 43, estabelece que a

Educação Superior tem como uma de suas finalidades estimular o Formatado: Fonte: 11 pt
conhecimento dos problemas do mundo presente, em particular os
Formatado: Recuo: À esquerda: 4 cm, Espaçamento
nacionais e regionais, prestar serviços especializados à comunidade
entre linhas: simples
e estabelecer com esta uma relação de reciprocidade. (BRASIL, 1996)

A partir destes pressupostos, evidencia-se que o sentido da universidade e da Formatado: Recuo: Primeira linha: 1,25 cm

extensão se modifica diante dos processos historicamente construídos, assumindo


posições diversificadas.
Nota-se que, no momento atual, o ambiente universitário vem intensificando as
ações extensionistas, seguindo o princípio da indissociabilidade entre o ensino, a
pesquisa e a extensão. Contudo, é aceitável que de forma empírica pode-se aventar
ainda uma certa lacuna sobre o entendimento da comunidade universitária a respeito
da atividade extensionista como prática acadêmica.
É com o propósito de suscitar discussões e novas construções sobre a
extensão universitária que este artigo se materializa. Na caminhada para a sua
elaboração pode ser destacado o interesse de quem o escreve sobre o tema, tomando
como viés a sua experiência com a Fisioterapia no contexto das práticas universitárias
em extensão. Na sua confecção, foram visitadas fontes primárias, a exemplo de
documentos oficiais, referências secundárias, incluindo sites voltados para o assunto,
além da experiência acumulada do autor nas suas vinculações com o trabalho
comunitário.
Considerando a escassez de escritos que tratam das práticas fisioterapêuticas
na extensão, é sempre importante apresentar reflexões que venham a suscitar novos
desenhos para a atuação de acadêmicos, docentes de Fisioterapia e comunidade no
contexto da extensão universitária. É neste cenário de vivências e de práticas que o
presente texto foi escrito.

5.2 A fisioterapia e seus aspectos históricos


Formatado: Fonte: (Padrão) Arial

Apesar de haver registros do termo Fisioterapia desde o século XIX e a


utilização de recursos físicos em tratamentos empiricamente desde os tempos mais
remotos, historicamente os cuidados inerentes a esta área do saber e profissão em
saúde se manifestam de forma mais contundente após a Revolução Industrial com os
acidentes de trabalho e no decorrer do século XX, onde se apresentam como marcos
históricos as duas grandes guerras mundiais. Estes episódios produziram um elevado
número de óbitos como também sequelados de guerra, que necessitavam de
reabilitação motora e psíquica. Estes fatos favoreceram a criação de escolas voltadas
para a formação de profissionais que atendessem ao grande contingente de
vitimados, principalmente da 2ª Guerra Mundial, em países como a Inglaterra e
Alemanha (VIEIRA, 2011).
Seguidos destes acontecimentos sócio-históricos, enfermidades como a
poliomielite e disfunções reumáticas e neurológicas, intensificaram as ações da
Fisioterapia na reabilitação dos pacientes portadores de limitações motoras.
Estes fatos marcaram hegemonicamente a visão da Fisioterapia como um
conjunto de técnicas voltadas sobretudo para a prevenção terciária ou reabilitação,
ficando os níveis primário e secundário sem maior visibilidade no que se refere à
atuação fisioterapêutica.
A Fisioterapia que, durante muito tempo, foi sinônimo de especialidade, tendo
a reabilitação como a sua marcante característica, vem deixando este perfil, para se
tornar uma área generalista, composta por suas especialidades particulares.
Considerando o caso brasileiro, a Fisioterapia bem como o modelo de atenção
à saúde, vem sendo palco de transformações consideráveis nos formatos de
intervenção no processo saúde-doença.
Com a promulgação da nova Constituição do Brasil de 1988 e a
institucionalização do Sistema Único de Saúde - SUS, a partir da Lei 8.080 de 19 de
setembro de 1990, emana um novo desenho no lidar com a saúde e com a doença.
Na Constituição Brasileira, no seu artigo 196, é determinado que:
A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante Formatado: Fonte: 11 pt
políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de
Formatado: Recuo: À esquerda: 4 cm, Espaçamento
doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às
entre linhas: simples
ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação
(BRASIL,1988).

Conforme a Lei Orgânica da Saúde no seu artigo IV, dentre os objetivos do Formatado: Recuo: À esquerda: 0 cm

SUS se encontra: “[...] a assistência às pessoas por intermédio de ações de promoção, Formatado: Fonte: 12 pt

proteção e recuperação da saúde, com a realização integrada das ações assistenciais


e das atividades preventivas”. Formatado: Fonte: 12 pt

A assistência à saúde que se encontrava voltada principalmente para as ações Formatado: Fonte: 11 pt

curativas, onde o hospital representava o centro dos procedimentos em saúde, o que


foi denominado, modelo hospitalocêntrico, vem sendo substituída por um cuidado
onde são também priorizadas as ações preventivas primárias, enfatizando a atenção
básica em saúde.
A atenção básica passou a se constituir porta de entrada do sistema, e a
depender da necessidade, o usuário é encaminhado para outro nível de atenção,
secundário ou terciário.
Para dar resolutividade ao novo formato da atenção à saúde, foi criado pelo
Ministério da Saúde o Programa Saúde da família – PSF, em 1994. O PSF apresenta
como objetivo geral:

Contribuir para a reorientação do modelo assistencial a partir da Formatado: Fonte: 11 pt


atenção básica, em conformidade com os princípios do Sistema Único
Formatado: Recuo: À esquerda: 4 cm, Espaçamento
de Saúde, imprimindo uma nova dinâmica de atuação nas unidades
entre linhas: simples
básica de saúde, com definição de responsabilidades entre os
serviços de saúde e a população. (BRASIL, 1997, p 10)

Quanto à composição da equipe, conforme o documento do Ministério da


Saúde, esta deve ser composta por no mínimo por um médico, um enfermeiro, um
auxiliar de enfermagem e agentes de saúde (ACS).
Contudo, ainda segundo o referido documento,

Outros profissionais de saúde poderão ser incorporados a Formatado: Espaçamento entre linhas: simples
estas unidades básicas, de acordo com as demandas e
Formatado: Fonte: 11 pt
características da organização dos serviços de saúde
locais, devendo estar identificados com uma proposta de
trabalho que exige criatividade e iniciativa para trabalhos
comunitários e em grupo. (BRASIL, 1997, p.) Formatado: Fonte: 11 pt
Seguindo a orientação do Ministério da Saúde, ainda sem a contrapartida
financeira do Governo Federal, muitos municípios incluíram o fisioterapeuta e outros
profissionais na equipe com recursos próprios.
Este fato representou um ponto importante para a inclusão da Fisioterapia na
atenção básica e a sua ausência neste nível não pode ser justificada por ser
essencialmente reabilitadora, já que neste nível de atenção também se reabilita, mas,
sobretudo, por se tratar de uma profissão historicamente marcada pela sua atuação
nos níveis secundários e terciários de atenção à saúde.
Diante das muitas atribuições da Fisioterapia na atenção básica e se
verificando a necessidade de outros profissionais atuando neste nível de atenção, o
Ministério publica a Portaria N° 154 em 24 de janeiro de 2008, criando os Núcleos de
Apoio à Saúde da Família – NASFs.
Entretanto, tem-se observado que, apesar da presença do fisioterapeuta nos
NASFs, continua existindo uma demanda descoberta quanto aos cuidados
fisioterapêuticos na atenção primária. Esta ocorrência é atribuída à grande quantidade
de equipes de saúde da família a serem apoiadas por apenas um fisioterapeuta. Ainda
sobre estes núcleos de apoio, observa-se que, em diversos municípios, foram
transformados em equipes de apoio matricial, onde estão prioritariamente voltados
para atividades de gestão.
Conforme estudos realizados, tem-se visto que, não obstante a Fisioterapia se
encontre dando passos ainda iniciais na atenção primária à saúde, considerando
outras profissões, já representa um momento significante para a sua consolidação
neste nível de assistência. Verifica-se que, no decorrer da história, o sentido da
Fisioterapia tem se transformado, já que em períodos anteriores era entendida como
sinônimo de reabilitação; nos dias atuais, apresenta-se como uma área do
conhecimento generalista em saúde.
Neste contexto, a Resolução de N° 4 do Conselho Federal de Educação e da
Câmara de Educação Superior, que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais do
Curso de Graduação em Fisioterapia, delineia, no seu artigo 3°:

O Curso de Graduação em Fisioterapia tem com perfil do formando Formatado: Fonte: 11 pt


egresso/profissional o Fisioterapeuta, com formação generalista,
Formatado: Recuo: À esquerda: 4 cm, Espaçamento
humanista, crítica e reflexiva, capacitado a atuar em todos os níveis
entre linhas: simples
de atenção à saúde, com base no rigor científico e intelectual. Detém
visão ampla e global, respeitando os princípios éticos/bioéticos, e
culturais do indivíduo e da coletividade. Capaz de ter como objeto de
estudo o movimento humano em todas as suas formas de expressão
e potencialidades, quer nas alterações patológicas, cinético-
funcionais, quer nas suas repercussões psíquicas e orgânicas,
objetivando a preservar, desenvolver, restaurar a integridade de
órgãos, sistemas e funções, desde a elaboração do diagnóstico físico
e funcional, eleição e execução dos procedimentos fisioterapêuticos
pertinentes a cada situação. (BRASIL, 2002)

Verifica-se, a partir das fontes pesquisadas, que a Fisioterapia vem mudando o


seu perfil no transcorrer da sua história. Esta modificação ocorrida no mundo e no
Brasil em particular, apresenta suas especificidades, obviamente acompanhando as
transformações nos campos do saber, das políticas, do poder de organização e das
necessidades sociais quanto à atenção fisioterapêutica.
A Fisioterapia, no decorrer do seu processo histórico como profissão e palco Comentado [MR3]: Deletei um trecho pois parecei
desconectado com o que a ele se segue.
de produção de conhecimento em saúde, vem sofrendo transformações significativas
Formatado: Recuo: Primeira linha: 1,25 cm
na sua constituição. Contudo, constata-se que o seu fazer se voltava essencialmente
para as práticas de prevenção terciária ou de reabilitação, e os procedimentos
direcionados à prevenção primária, incluindo os de promoção da saúde não faziam
parte do escopo fisioterapêutico.
Esta “herança” histórica ainda se faz muito presente no ambiente de formação
em Fisioterapia, apesar de avanços expressivos terem acontecido na atenção
primária. Nesta direção, as instituições de ensino norteadas pelas Diretrizes
Curriculares vêm modificando os currículos de graduação em Fisioterapia e, nos
cenários de práticas e vivências, têm contemplado os três níveis de atenção. Este
processo de mudança se constitui em desconstruções e reconstruções, onde o nível
primário de atenção à saúde já compõe um considerável espaço na formação. O
fisioterapeuta atualmente deve ser formado com capacidade de atuar nos níveis de
promoção, prevenção e recuperação da saúde do ser humano (RAGASSON et al,
2004).
No cotidiano, componentes curriculares direcionados para a saúde coletiva
estão se constituindo em parte significativa do currículo da graduação em Fisioterapia,
e o entendimento do processo saúde-doença a cada instante incorpora a sua
dimensão social. Experiências curriculares que já acontecem fora de hospitais e de
clínicas-escola sugerem, ao acadêmico, possibilidades de nova leitura da realidade e
de outras posturas profissionais.
Nestas relações com o mundo, através de sua ação sobre ele, o Formatado: Fonte: 11 pt
homem se encontra marcado pelos resultados de sua própria ação.
Formatado: Recuo: À esquerda: 4 cm, Espaçamento
Atuando, transforma; transformando, cria uma realidade que, por sua
entre linhas: simples
vez, envolvendo-o, condiciona sua forma de atuar. (FREIRE,1985, p.
28) Formatado: Fonte: 11 pt

Os componentes que promovem o contato direto com as comunidades


representam muito mais que uma obrigatoriedade acadêmica e tornam-se uma
oportunidade para a concepção do senso crítico e para uma formação mais
humanizada e engajada socialmente.
Considerando a atenção à saúde como um direito universal garantido, só será
verdadeiramente uma realidade quando a população tiver acesso a todos os
procedimentos de cuidado. Apesar de a Fisioterapia se constituir como uma profissão
com reais contribuições para a melhoria das condições de vida na atenção primária à
saúde, comunidades ainda são desprovidas dos cuidados fisioterapêuticos.

5.3 A FISIOTERAPIA NA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA EM COMUNIDADE

É palpável que, no cotidiano universitário, vêm sendo materializadas diversas


possibilidades de interagir com a sociedade, e neste contexto, a extensão universitária
vem se constituindo em uma prática acadêmica cada vez mais presente no processo
de formação dos estudantes universitários brasileiros.
Esta presença da extensão, a cada momento mais intenso no âmbito
universitário, vem se processando a partir de questionamentos a respeito do papel da
universidade frente à sociedade, abrangendo, neste contexto, o tipo de profissional
que se quer formar para atuar como agente no âmbito social. Nesta relação com a
sociedade, a universidade representa não só um espaço onde se transmite e se
produz conhecimento, mas também uma instituição com possibilidades de diálogo
com as comunidades. E, nesta direção, os saberes se entrelaçam, possibilitando a
construção da cidadania.
Como foi observado em momento anterior deste texto, no decorrer do tempo o
significado da extensão vem sofrendo modificações no seu propósito frente ao seu
papel diante da sociedade. A atividade extensionista que se caracterizava como
transmissão de conhecimentos com a oferta de cursos para a comunidade e ações
assistencialistas com doação de serviços, vem se transformando numa prática
diferenciada onde se deve promover o diálogo entre saberes.
O sujeito que se abre ao mundo e aos outros inaugura com o seu gesto Formatado: Fonte: 11 pt
a relação dialógica em que se confirma como inquietação e
Formatado: Recuo: À esquerda: 4 cm, Espaçamento
curiosidade, como inconclusão em permanente movimento na
entre linhas: simples
História. (FREIRE, 2005, p.136)
Formatado: Fonte: 11 pt

As ações extensionistas representavam uma via de mão única, onde a


universidade era o centro de produção de saber. Através das atividades de extensão,
a universidade disponibilizava o seu conhecimento acadêmico para aqueles
desprovidos do mesmo, desconsiderando ou menosprezando a sabedoria do povo.
Esta forma de fazer extensão foi a prevalente dentre as experiências desenvolvidas,
se caracterizando basicamente como um jeito impositivo de desempenhar assistência.
No momento atual, as práticas extensionistas deste “passado”, vêm abrindo
espaços para novas formas de se atuar na extensão, construindo outros arranjos,
onde não há apenas uma ação unilateral. Porém, ainda é muito comum se presenciar
a extensão universitária como algo exclusivamente direcionado para as práticas
assistencialistas e exercidas nos limites do território universitário.

Nos cursos de Fisioterapia, em geral, predominam práticas de Formatado: Fonte: 11 pt


extensão de cunho assistencialista, muitas vezes realizadas de forma
Formatado: Recuo: À esquerda: 4 cm, Espaçamento
pontual, não se caracterizando como projetos de extensão. Mesmo os
entre linhas: simples
projetos que funcionam regularmente, em sua maioria, ter, como
objetivo prestar assistência à população nos serviços da própria
instituição de ensino. (RIBEIRO, 2009, p. 338) Formatado: Fonte: 11 pt

Nas novas disposições voltadas para o ambiente extramuros, tem se


desenvolvido experiências onde todos fazem parte da edificação, e todo o saber se
torna importante no produto construído, que é um resultado coletivo.
Pelo vasto campo de atuação e diante das amplas possibilidades de ação da
Fisioterapia na extensão universitária na atenção primária à saúde, são inúmeras as
experiências que podem ser realizadas no lócus comunitário. A presença da
universidade nos lugares onde vivem as pessoas deve se voltar para o
empoderamento dos indivíduos na busca dos direitos particulares e coletivos frente
aos diversos tipos de dificuldades.
Com este entendimento, as atividades fisioterapêuticas na extensão se
caracterizam como universais; as comuns aos profissionais de saúde e os
particulares, aquelas específicas aos cuidados da Fisioterapia. Apenas com o intuito
de ilustrar algumas possibilidades de ação a serem desenvolvidas, destacam-se as
atuações educativas e de intervenção fisioterapêutica nos diversos espaços da
comunidade, a exemplo das escolas, creches, associações comunitárias, igrejas,
dentre outros que objetivem as várias linhas de cuidado onde se destacam a saúde
do escolar, da criança, da mulher, do idoso, do homem, do trabalhador, voltadas para
a prevenção de doenças e agravos à saúde.
A ausência do profissional fisioterapeuta na atenção primária vai de encontro
aos princípios do Sistema Único de Saúde, impossibilitando a população de acessar
os cuidados fisioterapêuticos na promoção, recuperação e reabilitação neste nível de
assistência.
A extensão universitária, diante desta realidade, não fará o papel do Estado na
elaboração e implementação de políticas públicas; contudo, representa um
instrumento importante para mostrar indicadores e contribuir para a materialização da
construção delas. Nesta ação universitária, a participação comunitária deve ser parte
ativa no processo de resolução das dificuldades existentes no contexto social.

5.4 Pra terminar

Este texto foi construído no sentido de promover discussões sobre a extensão


como possibilidade de contribuir para a formação do fisioterapeuta, considerando a
comunidade como agente e parte do processo de elaboração do conhecimento. Para
este fim, é imprescindível o envolvimento dos que fazem a universidade com os atores
sociais do ambiente em que se desenvolve a prática extensionista. O conhecimento
para a resolutividade de problemas é uma produção coletiva, estreitamente
relacionada com a realidade do lugar e de sua população.
Assim, a Fisioterapia que se caracterizava como uma modalidade presente nos
níveis secundários e terciários busca, a cada momento, a sua inserção na atenção
primária à saúde, não só voltada para os procedimentos de reabilitação, mas também
para a promoção da saúde, com a utilização das tecnologias compatíveis com a
realidade deste nível de cuidado na atmosfera comunitária.
Nesta direção, passos consideráveis estão sendo dados, durante os quais
extensionistas, docentes, discentes e atores da comunidade vão, a partir da prática
do diálogo, buscar uma atenção à saúde cidadã. Um cuidado onde a população tenha
o seu papel de agente transformador e de ator participativo no processo de construção
de possibilidades reais de acesso aos serviços e procedimentos em saúde.
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em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm. Adicionar espaço entre parágrafos do mesmo estilo,
Acesso em: 15 nov. 2020. Espaçamento entre linhas: simples

BRASIL. Ministério da Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de


Graduação em Fisioterapia. Resolução CNE/CES, Nº 4, de 19 de fevereiro de
2002.

BRASIL. Ministério da Educação. Lei de Nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996. Lei


de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília, 1996.

BRASIL. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições


para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o
funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. 1990.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8080.htm. Acesso em: 15
mar. 2021.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria N° 154 em 24 de janeiro de 2008. Cria os


Núcleos de Apoio a Saúde da Família – NASFs. Brasília, 2008.

BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde da família: Uma estratégia para a reorientação Formatado: Fonte: Não Negrito
do modelo assistencial. Brasília, 1997. Pág.10. Formatado: Fonte: Não Negrito

CARBONARI, Maria Elisa Ehrhardt; PEREIRA, Adriana Camargo. A extensão


universitária no Brasil, do assistencialismo a sustentabilidade. Revista de
Educação/ Universidade Anhanguera, vol.10, nº 10, 2007.

CASTRO, Luciana Maria Cerqueira. A universidade, a extensão universitária e a


produção de conhecimentos emancipadores. Disponível em:
http://www.anped.org.br/reunioes/27/gt11/t1111.pdf. Acesso em: 09 nov. 2011. Código de campo alterado

DOCUMENTO FINAL. 1º Encontro de Pró-Reitores de Extensão das


Universidades Públicas Brasileiras. Universidade de Brasília, 1987.

FREIRE, Paulo. Extensão ou comunicação? 8ª edição. Rio de Janeiro: Paz e


Terra, 1985.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática


educativa. 31ª edição. São Paulo: Paz e Terra, 2005.

QUEIROZ, Antonia Márcia Duarte. Universidade extramuros: Concepções da Código de campo alterado
extensão Unimontes e a sua relação com o desenvolvimento social regional -
1962-2008. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em
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a partir da prática profissional. V Encontro Paranaense de Saúde da Família e
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RIBEIRO, K. S. Q. S. A experiência na extensão popular e a formação acadêmica


em Fisioterapia. Cadernos Cedes, Campinas, vol. 29, nº 79, p 335-46, 2009.

SOUSA, A. L. L. Extensão Universitária na UFG: Olhando para o passado. Revista


da UFG, vol. 7, n. 2, dez., 2005.

VIEIRA, Risomar da Silva. Institucionalização da Fisioterapia no Brasil: Um


estudo sobre o processo na Paraíba. Tese de Doutorado. Programa de Estudos
Pós-Graduados em História da Ciência. Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo/PUC-SP. São Paulo, 2011.

Formatado: Espaço Depois de: 12 pt, Adicionar espaço


entre parágrafos do mesmo estilo, Espaçamento entre
linhas: simples
6 AS PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES EM SAÚDE E O
CUIDADO FISIOTERAPÊUTICO

6.1 Pra começar

As Práticas Integrativas e Complementares em Saúde, através de outras


denominações pelo mundo afora, representam possibilidades de cuidado que já estão
presentes na atenção à saúde das pessoas há muito tempo. Medicina popular,
medicina tradicional, terapias holísticas, terapias naturais dentre outras designações
conhecidas desde tempos mais remotos das civilizações. Contudo, a partir da
segunda metade do século XX, as instituições ligadas à saúde, a exemplo da
Organização Mundial de Saúde vêm destacando a importância destes saberes como
formas de interagir com as outras formas de intervir no processo de saúde e de
doença. Assim, essas práticas vêm sendo institucionalizadas a partir da formulação
de uma política púbica em saúde no Brasil, publicada em 2006.

6.2 Contextualizando o tema

As mais variadas formas de intervir no processo saúde-doença a partir das


diversas tradições vêm a cada momento provocando um crescimento de suas
legitimações pelos órgãos de saúde internacionais e nacionais. Diante dessa
constatação, o Sistema Único de Saúde vem avançando na inclusão de outras
práticas não convencionais nas racionalidades em saúde, incorporando-as no modelo
de atenção à saúde a partir da institucionalização da Política Nacional de Praticas
Interativas e Complementares, em 2006.
Conforme a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no
Sistema Único de Saúde,

O uso de plantas medicinais na arte de curar é uma forma de Formatado: Espaçamento entre linhas: simples
tratamento de origens muito antigas, relacionada aos primórdios da
medicina e fundamentada no acúmulo de informações por sucessivas
gerações. Ao longo dos séculos, produtos de origem vegetal
constituíram as bases para tratamento de diferentes doenças.
(BRASIL, 2006, pág. 19)
Ainda de acordo com a Política Nacional de Práticas Integrativas e
Complementares no Sistema Único de Saúde,

O Brasil possui grande potencial para o desenvolvimento dessa Formatado: Espaçamento entre linhas: simples
terapêutica, como a maior diversidade vegetal do mundo, ampla
sociodiversidade, uso de plantas medicinais vinculado ao
conhecimento tradicional e tecnologia para validar cientificamente este
conhecimento. O interesse popular e institucional vem crescendo no
sentido de fortalecer a Fitoterapia no SUS. A partir da década de 80,
diversos documentos foram elaborados enfatizando a introdução de
plantas medicinais e fitoterápicos na atenção básica no sistema
público. (BRASIL, 2006, p. 19)

O Relatório da 10a Conferência Nacional de Saúde, realizada em 1996, que


aponta no item 286.12: "incorporar no SUS, em todo o País, as práticas de saúde
como a Fitoterapia, acupuntura e homeopatia, contemplando as terapias alternativas
e práticas populares" e, no item 351.10:

O Ministério da Saúde deve incentivar a Fitoterapia na assistência Formatado: Recuo: À esquerda: 4 cm, Espaçamento
farmacêutica pública e elaborar normas para sua utilização, entre linhas: simples
amplamente discutidas com os trabalhadores em saúde e
Formatado: Fonte: 11 pt
especialistas, nas cidades onde existir maior participação popular,
com gestores mais empenhados com a questão da cidadania e dos
movimentos populares.

Observa-se que a Fisioterapia, dentro desse cenário, está diretamente


relacionada com a utilização de recursos naturais nas suas atividades de assistência
desde os seus primórdios. No decorrer dos séculos, os recursos físicos naturais como
a água, a luz, o calor, a massoterapia e os exercícios físicos vêm sendo aplicados
largamente com finalidades terapêuticas.
A utilização da água como recurso terapêutico vem sendo indicada na forma
de imersão quente e fria para tratar muitas doenças, incluindo espasmos musculares
e doenças das articulações, dentre outras (VIEIRA, 2012).
A extensão da utilização da água pela Fisioterapia é tão representativa que o
tratamento deixou de ser apenas um recurso fisioterapêutico para se tornar uma
especialidade através da Resolução COFFITO Nº 443 de 03 de setembro de 2014.
Conforme essa resolução no seu Parágrafo Único descreve que:

Formatado: Fonte: 11 pt
Para todos os efeitos, considera-se como Fisioterapia Aquática a
utilização da água nos diversos ambientes e contextos, em quaisquer Formatado: Recuo: À esquerda: 4 cm, Espaçamento
entre linhas: simples
dos seus estados físicos, para fins de atuação do fisioterapeuta no
âmbito da hidroterapia, hidrocinesioterapia, balneoterapia,
crenoterapia,cromoterapia, termalismo, duchas, compressas,
vaporização/inalação, crioterapia e talassoterapia. (COFFITO, 2014) Formatado: Fonte: 11 pt

A fototerapia representa um recurso fisioterapêutico utilizado em diversas


modalidades de tratamento; dentre as possibilidades, estão o ultravermelho, a
ultravioleta e o laser. A luz é prescrita principalmente como antiinflamatória nas
diversas áreas de atuação do fisioterapeuta a exemplo das afecções traumatológicas.
O calor igualmente é uma possibilidade de tratamento muito empregada nos
procedimentos fisioterapêuticos, também como antiinflamatória e facilitador do
movimento. O calor é usado como seco e úmido, através dos equipamentos de ondas
curtas, forno de bier e ultrassom. Formatado: Fonte: Itálico

A massoterapia também representa um recurso muito empregado dentro das


modalidades fisioterapêuticas, direcionado para a facilitação do movimento, para o
alívio de tensões com aplicações de variadas técnicas de tratamento.
Os exercícios terapêuticos estão presentes na grande maioria das intervenções
fisioterapêuticas incluindo as mais diversas possibilidades cinesioterapêuticas. A
cinesioterapia, dentro do rol de procedimentos fisioterapêuticos, é uma das
modalidades mais utilizadas nas intervenções fisioterapêuticas.
Com o lançamento da Política Nacional das Práticas Integrativas e
Complementares em Saúde-PNPICS, outras possibilidades terapêuticas foram
incluídas no cabedal de procedimentos terapêuticos no Sistema de Saúde Brasileiro.
Diante dessa nova realidade no cuidado em saúde no Brasil com a
institucionalização das PICS, as profissões da área incluindo a Fisioterapia vêm
elaborando resoluções regulamentando a utilização das práticas integrativas e
complementares nas suas intervenções terapêuticas.
No caso particular da Fisioterapia, a utilização das PICS nas suas práticas de
cuidado foi regulamentada através da resolução 380 de 03 de dezembro de 2010 do
Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional. De acordo com a citada
Resolução no seu artigo 1º é autorizada a prática pelo Fisioterapeuta dos atos
complementares ao seu exercício profissional regulamentado, nos termos desta
resolução e da portaria MS número 971/2006: Fitoterapia; Práticas Corporais,
Manuais e Meditativas; Terapia Floral; Magnetoterapia; Fisioterapia Antroposófica;
Termalismo; Crenoterapia; Balnearioterapia e Hipnose.
A resolução traz ainda, no §2º que: “Considerar-se-á também autorizado ao
fisioterapeuta a prática de todos os atos complementares que estiverem relacionados
a saúde do ser humano e que vierem a ser regulamentados pelo Ministério da Saúde
por meio de portaria específica”. (COFFITO, 2010)
Dando prosseguindo à regulamentação do uso da PICS pelo fisioterapeuta em
2017, foi publicado, pelo Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional, o
Acórdão 611 de 1º de abril, que detalha a utilização de substancias de livre prescrição
e indicação. Conforme o referido documento, medicamentos
fitoterápicos/fitofármacos, medicamentos homeopáticos, medicamentos
antroposóficos, medicamentos ortomoleculares, fotossensibilizadores para terapia
fotodinâmica, iontoforese e fonoforese com substâncias de livre prescrição e florais
como próprios da Fisioterapia (COFFITO, 2017).
Assim, diante desses fatos, é fundamental que se produza material bibliográfico
no sentido de se construir conhecimento para esse momento de inclusão de outras
possibilidades de cuidar de pessoas. Nesse cenário, a Fisioterapia vem dando os
primeiros passos na inserção das PICS na sua prática profissional considerando que
algumas modalidades já fazem parte do arsenal de tratamento como especialidade ou
recurso terapêutico.
Frente a essa conjuntura, estamos apresentando esse estudo no sentido de
contribuir com o envolvimento do profissional fisioterapeuta na utilização de outros
arranjos terapêuticos, objetivando sempre a melhor forma de cuidar das pessoas em
um contexto individual e coletivo.
Como objetivos, esta pesquisa busca: analisar os documentos oficiais sobre as
práticas integrativas e complementares considerando as formas do cuidado em saúde;
apresentar a importância da inclusão das práticas integrativas e complementares no
ato fisioterapêutico; elaborar propostas de inserção de componentes curriculares
envolvendo as PICS na formação do fisioterapeuta; Incentivar aprofundamentos sobre
as PICS pelos profissionais da Fisioterapia nos seus procedimentos de tratamento.
Para se atingir os objetivos utilizamo-nos de documentos, tais como:
resoluções, leis e artigos associados às experiências acumuladas do autor, como
fisioterapeuta e professor da área de saúde coletiva, tendo a atenção primária como
campo de atuação.
6.3 Significados, desígnios e feitios metodológicos

O presente texto foi resultado de uma pesquisa de caráter documental e


bibliográfica, tendo como espaços de buscas para os artigos as bases, Lilacs, Scielo
e Google acadêmico. No que se refere aos materiais oficiais, foram levantados os
documentos que regulamentam as práticas integrativas e complementares a exemplo
da Política Nacional das Práticas Integrativas e Complementares, e Resoluções do
Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional. Além dos artigos e da
documentação oficial sobre as PICS, foram pesquisados livros sobre a temática em
estudo com suas relações com a prática fisioterapêutica.
Para a busca, das fontes da pesquisa foram utilizados os termos: “Medicina
Complementar”, “Terapias Alternativas”, “Terapias Holísticas”, “Naturologia”,
“Terapias Naturais”. Após a coleta dos artigos realizou-se a leitura e a análise dos
considerados relevantes para a construção desta produção. Além dos artigos, foram
analisados documentos do Ministério da Saúde e do Conselho Federal de Fisioterapia
e Terapia ocupacional.
Os resultados da busca foram organizados em um quadro, apresentados e
discutidos no item Resultados e Discussões, priorizando a elucidação dos objetivos
propostos. Esta produção decorreu de uma pesquisa qualitativa de coleta de dados –
onde foram fichados, analisados e discutidos os achados inerentes à construção do
presente texto.

6.4 Achados e análises sobre a temática

Conforme descrito na introdução deste trabalho, a Fisioterapia, desde a sua


constituição como profissão da área da saúde, possui uma relação muito intensa e
consistente com as denominadas Práticas Integrativas e Complementares. Dentre
essas modalidades terapêuticas, uma boa parte já se encontra presente dentre os
componentes curriculares do curso de graduação de Fisioterapia, como recursos
terapêuticos ou como especialidade fisioterapêutica. A acupuntura, como recurso
fisioterapêutico, foi reconhecida desde o ano de 1985, através da Resolução
COFFITO Nº 60. A citada Resolução no seu artigo 1º estabeleceu que:
No exercício de suas atividades profissionais, o Fisioterapeuta poderá Formatado: Fonte: 11 pt
aplicar, complementarmente, os princípios, métodos e técnicas da
Formatado: Recuo: À esquerda: 4 cm, Primeira linha: 0
acupuntura desde que apresente, ao respectivo CREFITO, título,
cm, Espaçamento entre linhas: simples
diploma ou certificado de conclusão de curso específico patrocinado
por entidade de acupuntura de reconhecida idoneidade científica, ou
por universidade. (COFFITO, 1985)

Com esse documento, a Fisioterapia se apresenta como a primeira profissão


da área da saúde em reconhecer a acupuntura como um recurso terapêutico dentro
das suas modalidades de tratamento. Dando sequência ao reconhecimento da
acupuntura nas intervenções fisioterapêuticas, no ano de 2000, foi lançada a
resolução COFFITO de Nº 393, que reconheceu a acupuntura como especialidade da
Fisioterapia.
Nessa mesma direção, dados lançados pelo Ministério da Saúde (2008),
através da Revista Brasileira Saúde da Família, anunciou o predomínio dos médicos,
seguidos pelos fisioterapeutas e enfermeiros dentre os profissionais que mais se
utilizam das práticas da Medicina Tradicional Chinesa no país (BRASIL, 2008).
O Termalismo e a Crenoterapia, modalidades de tratamento que se utilizam da Formatado: Recuo: Primeira linha: 1,25 cm

água como recurso terapêutico, estão comtempladas na especialidade


fisioterapêutica reconhecida pelo COFFITO de Fisioterapia Aquática através da
resolução 443 de 2014. Além do Termalismo e a Crenoterapia, a especialidade de
Fisioterapia Aquática regulamenta, como procedimentos fisioterapêuticos, a utilização
da água nos diversos ambientes e contextos, em quaisquer dos seus estados físicos,
no âmbito da Hidroterapia, Hidrocinesioterapia, Balneoterapia, Cromoterapia, Duchas,
Compressas, vaporização/inalação, Crioterapia e Talassoterapia (COFFITO, 2014).
Como descrito anteriormente, parte dessas modalidades terapêuticas – a
exemplo da Crioterapia, da Hidroterapia, da Hidrocinesioterapia, das compressas e
das vaporizações – são práticas terapêuticas já existentes no currículo do curso de
graduação de fisioterapia.
A Fitoterapia, com o uso das plantas nas diversas formas e partes vegetais,
não faz parte do currículo mínimo de Fisioterapia. Disciplinas que contemplam esses
conteúdos são oferecidos em certos cursos de graduação como optativas não
obrigatórias. Contudo, considerando as tradições, o uso do vegetal como um recurso
terapêutico complementar representa uma prática utilizada pelo fisioterapeuta de
forma espontânea a partir do seu cabedal de conhecimento individual.
Observa-se que, apesar de a Fitoterapia não fazer parte dos procedimentos
basilares da Fisioterapia, o uso das plantas como complemento do tratamento
fisioterapêutico possui uma aceitação inquestionável pela profissão. Em pesquisa
realizada por Dutra (2009) com 220 profissionais da área de saúde que atuam em
unidades básicas de Anápolis, Estado de Goiás, eles foram questionados sobre a
posição em relação ao uso de plantas medicinais e de fitoterápicos dentro das UBS.
Eles afirmaram adotar posturas divergente entre si, conforme sua formação
acadêmica de base. Enquanto todos os fisioterapeutas, farmacêuticos e odontólogos
se posicionaram favoravelmente (100%), entre os médicos, o percentual foi de apenas
17%. Entre os enfermeiros, 65% manifestaram-se favoráveis; já os técnicos de
enfermagem manifestaram-se amplamente favoráveis (86%) (DUTRA, 2009). Esse
resultado mostra o grau de aceitação, por parte dos fisioterapeutas, quanto à
fitoterapia na sua prática clínica.
Gontijo (2014) cita em seu trabalho que, em pesquisa, observou-se que o
fisioterapeuta é o profissional da saúde que mais conhece e acredita nas práticas da
ayurvédica, do termalismo, da antroposofia e da medicina tradicional chinesa – dentre
médicos, fisioterapeutas e enfermeiros –, atingindo um percentual de 61,5%.
A regulamentação do uso da Fitoterapia por parte do COFFITO se deu em
2010, através da resolução 380. O documento disciplina que o Fisioterapeuta deverá
comprovar, perante o COFFITO, a certificação de conhecimento das práticas
integrativas e complementares (art. 3º):

Será habilitado nos termos desta resolução [sic] o fisioterapeuta que Formatado: Fonte: 11 pt
apresentar títulos que comprovem o domínio das Práticas Integrativas
Formatado: Recuo: À esquerda: 4 cm, Primeira linha:
de Saúde objeto desta resolução. Os títulos a que alude este artigo
0,01 cm, Espaçamento entre linhas: simples
deverão ter como origem: Instituições de Ensino Superior; Instituições
especialmente credenciadas pelo MEC; Entidades Nacionais da Formatado: Fonte: 11 pt
Fisioterapia intimamente relacionadas às práticas autorizadas por esta Formatado: Fonte: 11 pt
resolução.

A resolução COFFITO 380 cita, ainda, a Terapia Floral, a Magnetoterapia a


Fisioterapia Antroposófica e Hipnose como praticas complementares nos
procedimentos fisioterapêuticos. No que se refere a essas práticas, como também nas
outras anteriormente citadas, o documento não especifica pontualmente cada
modalidade terapêutica. É verificado na citada resolução no seu Artigo 3º, que o
fisioterapeuta deverá comprovar, perante o COFFITO, a certificação de conhecimento
das práticas integrativas e complementares. E será habilitado nos termos da resolução
o fisioterapeuta que apresentar títulos que comprovem o domínio das Práticas
Integrativas de Saúde.
Nas investigações, observamos que são ainda raros os registros sobre a
Terapia Floral, a Fisioterapia Antroposófica e Magnetoterapia no exercício da
profissão fisioterapêutica. Os dados encontrados direcionam-se, principalmente, para
o oferecimento de cursos para fisioterapeutas, mas artigos que apresentem essas
modalidades especificamente na prática fisioterapêutica não foram localizados. No
que se refere à Magnetoterapia, ficou registrada a presença dessa prática no fazer
fisioterapêutico de forma muito intensa em diversos países, exceto no Brasil.
De acordo com Meyer et al., (2011), essa realidade acontece porque é
praticamente desconhecida pelos fisioterapeutas brasileiros. Sugere o estudo acima
que o

[...] conhecimento desse recurso no Brasil deve ser despertado em Formatado: Fonte: 11 pt
todos os profissionais de saúde que compõem as equipes
Formatado: Recuo: À esquerda: 4 cm, Primeira linha: 0
multidisciplinares de assistência, para que passe a fazer parte da
cm, Espaçamento entre linhas: simples
rotina de trabalho dos fisioterapeutas, beneficiando os pacientes
portadores de diferentes problemas. (MEYER, 2011, 38)

Fundamentado nas referências encontradas sobre o assunto, podemos


confirmar que, apesar da inclusão ainda iniciante do fisioterapeuta na utilização de
algumas PICS, observa-se que, em outras, o emprego por esse profissional já se
encontra inteiramente integradas nos procedimentos fisioterapêuticos.
Esse envolvimento crescente do fisioterapeuta nas PICS é demonstrado na
participação da categoria nos organismos responsáveis pelo desenvolvimento da
Política Nacional de Práticas Integrativas e complementares, a exemplo da Comissão
Intersetorial de Práticas Integrativas e Complementares no SUS - CIPICSUS, para o
exercício do mandato de 2013 a 2015, onde a coordenação ficou sob a
responsabilidade do COFFITO (BRASIL, 2013).
Passos consideráveis na inclusão das PICS no arsenal de procedimentos na
prática da assistência fisioterapêutica é uma realidade visível. No entanto,
entendemos que, para que esse caminhar esteja mais firme e consolidado, é
importante que as PICS tenham uma maior presença na formação do fisioterapeuta
desde a graduação.
Nessa questão, observa-se que se tem muito o que avançar. Em pesquisa
realizada, constatou-se que, dentre 48 instituições públicas de ensino superior em Comentado [MR4]: Seria bom indicar a fonte... Seria
Salles(2013)?
Fisioterapia, sete (14,6%) oferecem as disciplinas relacionadas com as PICS, 37
(77,1%) não oferecem e em quatro (8,3%) não se conhecem os dados. Verificou-se
também que, entre as disciplinas oferecidas, cinco (71,4%) são optativas e duas
(28,6%) são obrigatórias. Três ficam na região nordeste. A carga horária varia de 30
a 68 horas (média de 49 horas). Dessas sete disciplinas, 42,8% são sobre acupuntura,
14,4% sobre arteterapia e 42,8% sobre as diferentes práticas (SALLES et al, 2013).
Diante desses achados, podemos depreender que se tem muito espaço para ser
preenchido, considerando-se as PICS como modalidades terapêuticas importantes
para as ações fisioterapêuticas, bem como para um cuidado integral do paciente.

6.5 Pra terminar

Diante do que foi sistematizado a partir das fontes pesquisadas, evidenciou-se,


no que se refere à utilização das Práticas Integrativas e Complementares, por parte
dos fisioterapeutas, tratar-se de uma realidade variável. Verifica-se que algumas delas
já se fazem presentes no escopo de atuação desse profissional de saúde, a exemplo
do uso da água como a crenoterapia e a termoterapia, que são contempladas na
especialidade de Fisioterapia Aquática. A acupuntura/MTC, a osteopatia e a
quiropraxia também estão regulamentadas como especialidade fisioterapêuticas. A
cinesioterapia, através das variadas modalidades de exercícios terapêuticos,
igualmente integram os procedimentos da Fisioterapia desde a formação na
graduação.
Existem outras PICS, contudo, que estão incluídas em momentos mais
recentes, de modo que se destaca o uso da Fitoterapia como um importante agregador
nos procedimentos fisioterapêuticos. A Magnetoterapia – tão usada por fisioterapeutas
fora do Brasil – também vem dando os primeiros passos na sua inclusão no ato
fisioterapêutico. Outras práticas também vêm sendo adicionadas aos procedimentos
de forma lenta e gradual, dependendo, obviamente, do interesse do profissional pela
utilização delas. A respeito da inclusão das Práticas Integrativas e Complementares
no currículo de graduação, observa-se que elas ainda não representam uma realidade
universal, haja vista estarem pulverizadas entre os cursos de Fisioterapia no Brasil.
Entretanto, aponta-se para uma inclusão maior nas graduações, pois é considerável
o interesse do fisioterapeuta pelas Práticas Integrativas e Complementares em Saúde.

REFERÊNCIAS
Formatado: Fonte: (Padrão) Arial

BRASIL. Conselho Nacional de Saúde. Resolução Nº 478, de 7 de agosto de 2013. Formatado: À esquerda, Espaço Depois de: 12 pt,
Aprova a reestruturação da Comissão Intersetorial de Práticas Integrativas e Adicionar espaço entre parágrafos do mesmo estilo,
Complementares no SUS – CIPICSUS...Conselho Nacional de Saúde. Brasília: Espaçamento entre linhas: simples
Ministério da Saúde, 2013.

BRASIL. Conselho Nacional de Saúde. Resolução n. 338, de 06 de maio de 2004.


Aprova a Política Nacional de Assistência Farmacêutica. Diário Oficial [da]
República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 20 maio 2004. Seção 1, p. 52.

BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução


de Diretoria Colegiada (RDC) n. 48, de 16 de março de 2004. Dispõe sobre o
registro de medicamentos fitoterápicos. Diário Oficial [da] República Federativa
do Brasil, Brasília, DF, 18 mar. 2004. Seção 1.

BRASIL. Ministério da Saúde. Resolução CIPLAN n. 08, de 08 de março de 1988.


Implanta a prática da fitoterapia nos serviços de saúde. Diário Oficial [da]
República Federativa do Brasil, Brasília, DF, mar. 1988.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de


Atenção Básica. Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no
SUS - PNPIC-SUS /Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde,
Departamento de Atenção Básica. - Brasília: Ministério da Saúde, 2006a.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos


Estratégicos. Departamento de Assistência Farmacêutica. A fitoterapia no SUS e o
Programa de Pesquisa de Plantas Medicinais da Central de
Medicamentos/Ministério da Saúde, Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos
Estratégicos, Departamento de Assistência Farmacêutica. – Brasília: Ministério da
Saúde, 2006b. 148 p. – (Série B. Textos Básicos de Saúde).

BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos


Formatado: Fonte: Não Negrito
Estratégicos. Seminário Nacional de Plantas Medicinais, Fitoterápicos e
Assistência Farmacêutica: Preparatório à Conferência Nacional de Medicamentos Formatado: Espaço Depois de: 12 pt, Espaçamento
e Assistência Farmacêutica. Brasília: Ministério da Saúde, 2003. 11p. entre linhas: simples
(RelatórioTécnico) Formatado: Fonte: (Padrão) Arial, 12 pt
Formatado: Fonte: (Padrão) Arial, 12 pt, Não Negrito
COFFITO. CONSELHO DE FISIOTERAPIA E TERAPIA OCUPACIONAL. Acórdão
COFFITO Nº 611, de 1 de abril de 2017. Normatiza a utilização e/ou indicação de Formatado: Fonte parág. padrão, Fonte: (Padrão) Arial,
12 pt, Negrito, Não Expandido por / Condensado por
substâncias de livre prescrição pelo fisioterapeuta. Brasília/DF, 2014.
Formatado: Fonte: (Padrão) Arial, 12 pt, Negrito
COFFITO. CONSELHO DE FISIOTERAPIA E TERAPIA OCUPACIONAL. Resolução Formatado: Fonte: (Padrão) Arial, 12 pt
COFFITO-80 de 09 de maio de 1987. Baixa Atos Complementares à Resolução
Formatado: À esquerda, Espaço Depois de: 12 pt,
COFFITO-8, relativa ao exercício profissional do fisioterapeuta. Diário Oficial, Adicionar espaço entre parágrafos do mesmo estilo,
Brasília/DF, n. 093, seção I, parte II, p. 7609, 21 mai., 1987. Espaçamento entre linhas: simples
COFFITO. CONSELHO DE FISIOTERAPIA E TERAPIA OCUPACIONAL. Resolução
COFFITO-367 de 20 de maio de 2009. Adota o Referencial Nacional de
Honorários Fisioterapêuticos como padrão mínimo remuneratório-
deontológico para o exercício profissional do Fisioterapeuta. Diário Oficial,
Brasília/DF, n. 114, seção I, parte II, p. 76, 18 jun., 2009.

COFFITO. CONSELHO DE FISIOTERAPIA E TERAPIA OCUPACIONAL. Resolução


COFFITO nº. 380, de 3 de novembro de 2010. Regulamenta o uso pelo
Fisioterapeuta das Práticas Integrativas e Complementares de Saúde e dá
outras providências. Brasília: COFFITO, 2010.

COFFITO. CONSELHO DE FISIOTERAPIA E TERAPIA OCUPACIONAL. Resolução


COFFITO Nº 443, DE 3 DE setembro de 2014. Disciplina a Especialidade
Profissional de Fisioterapia Aquática e dá outras providências. Brasília/DF,
2014.

COFFITO. CONSELHO FEDERAL DE FISIOTERAPIA E TERAPIA OCUPACIONAL. Formatado: À esquerda, Espaço Depois de: 8 pt,
Resolução COFFITO-8 de 20 de fevereiro de 1978. Ficam aprovadas, nos termos Adicionar espaço entre parágrafos do mesmo estilo,
Espaçamento entre linhas: Múltiplos 1,08 lin.
do inciso II, do art. 5º, da Lei nº 6.316, de 17 de dezembro de 1975, as Normas
para habilitação ao exercício das profissões de fisioterapeuta e terapeuta
ocupacional que com esta são publicadas. Diário Oficial, Brasília, DF, n. 216,
seção 1, parte II, p. 6.322-32, 13 nov., 1978.
COFFITO. CONSELHO FEDERAL DE FISIOTERAPIA E TERAPIA OCUPACIONAL. Formatado: À esquerda, Espaço Depois de: 12 pt,
Resolução nº 10 de 03 de julho de 1978. Aprova o Código de Ética Profissional Adicionar espaço entre parágrafos do mesmo estilo,
de Fisioterapia e Terapia Ocupacional. Diário Oficial, Brasília/DF, n. 182, seção I, Espaçamento entre linhas: simples
parte II, p. 5.265/68, 22 set., 1978. Formatado: Fonte: Não Negrito
Formatado: Fonte: Negrito, Cor da fonte: Automática
DUTRA. M.G. Plantas Medicinais, Fitoterápicos e saúde pública: Um diagnóstico
situacional em Anápolis, Goiás. [dissertação]. Anápolis: UniEvangélica, 2009. Formatado: Fonte: 12 pt, Negrito, Cor da fonte:
Automática, Padrão: Transparente
GONTIJO, M. B. A. Práticas integrativas e complementares: conhecimentos, Formatado: Fonte: Negrito
Concepções, percepções e atitudes dos profissionais do Serviço público de
saúde. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ensino na
Saúde – nível Mestrado Profissional da Faculdade de Medicina da Universidade
Federal de Goiás - para obtenção do título de Mestre em Ensino na Saúde. Goiânia.
2014.

MEYER, P.F. et al. Magnetoterapia: É possível este recurso fazer parte da rotina do
fisioterapeuta brasileiro? Arquivos Brasileiros de Ciência da Saúde, vol. 36, n. 1,
p. 35-39, jan./abr., 2011.

SALLES, L. F; HOMO, R. F. B; SILVA. M. J. P. Situação do ensino das práticas Formatado: À esquerda, Espaço Depois de: 12 pt,
integrativas e complementares nos cursos de graduação em enfermagem, Adicionar espaço entre parágrafos do mesmo estilo,
fisioterapia e medicina. Cogitare Enfermagem. 2014 Out/Dez; vol. 19, n. 4, p. 741- Espaçamento entre linhas: simples
6.
Formatado: Fonte: Não Negrito

VIEIRA. R. S. Institucionalização da Fisioterapia: Olhares sobres os cenários Formatado: Fonte: Não Negrito
internacional, brasileiro e paraibano. João Pessoa: Editora universitária/UFPB, 2012. Formatado: Fonte: (Padrão) Arial
Formatado: Fonte: (Padrão) Arial
Formatado: Fonte: (Padrão) Arial
7 A FISIOTERAPIA NO CONTEXTO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA EM SAÚDE

7.1 Pra começar

Abordar a Fisioterapia na atenção primária é sempre um ato que requer, no


tempo, um mergulho no processo histórico desta área do saber em saúde. Este texto,
que trata de uma experiência de pesquisa realizada em 2014 na cidade de Campina
Grande-PB, mostra um pouco o que foi observado naquele momento sobre a
presença da Fisioterapia na atenção primária. A partir do NASF no tempo abordado
se vislumbra algumas características da atuação do fisioterapeuta neste nível de
atenção à saúde, mostrando, no instante aludido, as ações realizadas por este
profissional. Este capítulo também apresenta uma incipiente reflexão sobre a
Fisioterapia em o nível primário de atenção, indicando que representa um tema de
relevância tanto para as fundamentações teóricas inerentes ao ato fisioterapêutico,
quanto para todo o processo de formação em Fisioterapia.

7.2 Contextualizando o tema Formatado: Título 2, Adicionar espaço entre parágrafos


do mesmo estilo, Espaçamento entre linhas: simples

Verificou-se, a partir dos documentos históricos, que a Fisioterapia esteve


essencialmente com ações voltadas para a atenção secundária e terciária, entretanto,
nos últimos anos, tem-se observado a presença de procedimentos fisioterapêuticos
no nível primário, dando-se uma ênfase maior aos atos de prevenção primária.
Obviamente, este novo tempo da Fisioterapia ainda se encontra em processo
de construção, quando se consideram outras profissões da área de saúde, a exemplo
da enfermagem e da medicina. Contudo, passos significativos na direção de uma
presença mais firme na atenção básica estão sendo dados, principalmente a partir do
advento do Sistema Único de Saúde – SUS, no início da década de 90 do século
passado.
A Fisioterapia, durante muito tempo, foi sinônimo de especialidade, tendo a
reabilitação como a sua marcante característica, e vem deixando este “predicado”,
para se tornar uma área generalista, composta por suas especialidades particulares
(VIEIRA, 2012a).
Observando o processo histórico brasileiro, a Fisioterapia bem como o modelo
de atenção à saúde, vem sendo palco de transformações consideráveis nos formatos
de intervenção no processo saúde-doença.
Em 1988, com a promulgação da Constituição do Brasil e a institucionalização
do SUS, a partir das Leis 8.080 e 8.142 de 1990, inicia-se um novo modo no lidar com
a saúde e com a doença no território brasileiro.
Na Constituição Brasileira, no seu artigo 196, é determinado que: Comentado [MR5]: Este parágrafo está repetido em 4.2.

A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante


políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de
doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às
ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação
(BRASIL, 1988). Comentado [MR6]: Esta citação está repetida em 3.3 e em
4.2

A Lei 8.080/90 no seu artigo IV, expõe dentre os objetivos do SUS: “a


assistência às pessoas por intermédio de ações de promoção, proteção e recuperação
da saúde, com a realização integrada das ações assistenciais e das atividades
preventivas” (BRASIL, 1990). Comentado [MR7]: Repetido em 4.2

A assistência à saúde que se encontrava direcionada principalmente para as


ações curativas, onde o hospital representava o centro dos procedimentos em saúde,
o que foi denominado, modelo hospitalocêntrico, vem sendo substituída por um
cuidado onde são também priorizadas as ações de prevenção primária, realçando a
atenção básica em saúde como modelo. Comentado [MR8]: Este parágrafo está repetido no
capítulo 2.4
Nesse caminhar, a atenção básica passou a se constituir porta de entrada do
sistema, e a depender da necessidade, o usuário é encaminhado para outro nível de
atenção, secundário ou terciário, se constituindo uma rede de cuidado. Diante do
cenário de mudanças, para dar resolutividade ao novo formato da atenção à saúde,
foi criado pelo Ministério da Saúde o Programa Saúde da família – PSF, em 1994.
Como objetivo geral o então PSF atualmente Estratégia Saúde da Família, visa: Comentado [MR9]: Este parágrafo está repetido em 4.2

Contribuir para a reorientação do modelo assistencial a partir da


atenção básica, em conformidade com os princípios do Sistema Único
de Saúde, imprimindo uma nova dinâmica de atuação nas unidades
básica de saúde, com definição de responsabilidades entre os
serviços de saúde e a população. (BRASIL, 1997, p 10) Comentado [MR10]: Citação repetida em 4.2
Quanto à composição da equipe, conforme o documento do Ministério da
Saúde, deve ser composta no mínimo por um médico, um enfermeiro, um auxiliar de
enfermagem e agentes comunitários de saúde (ACS).
Todavia, ainda segundo o referido documento,

Outros profissionais de saúde poderão ser incorporados a estas Formatado: Espaçamento entre linhas: simples
unidades básicas, de acordo com as demandas e características
da organização dos serviços de saúde locais, devendo estar
identificados com uma proposta de trabalho que exige
criatividade e iniciativa para trabalhos comunitários e em grupo
(BRASIL, 1997, p 10). Comentado [MR11]: Este trecho está repetido em 4.2

Seguindo a orientação do Ministério da Saúde, ainda sem a contrapartida


financeira do Governo Federal, muitos municípios incluíram o fisioterapeuta e outros
profissionais na equipe com recursos próprios.
Diante das muitas atribuições da Fisioterapia na atenção básica e, se
verificando a necessidade de outros profissionais atuando neste nível de atenção, o
Ministério publicou a Portaria N° 154 em 24 de janeiro de 2008, criando os Núcleos
de Apoio à Saúde da Família – NASFs. Os NASFs podem ser do tipo 1, do tipo 2 e do
tipo 3. Comentado [MR12]: Este Trecho está repetido em 4.2

A Portaria n.º 3.124 de 28 de dezembro de 2012, do Ministério da Saúde expõe


que o NASF 1, que representa a equipe com o maior número de profissionais com o
mínimo 5, deverá estar vinculado a, no mínimo 5 (cinco) e a, no máximo, 9 (nove)
Equipes Saúde da Família e/ou equipes de Atenção Básica para populações
específicas (consultórios na rua, equipes ribeirinhas e fluviais) (BRASIL, 2012).
É constatado que essa relação não preenche as necessidades básicas da
população quanto aos cuidados básicos da Fisioterapia na Atenção Primária.
Considerando o leque de atribuições que o fisioterapeuta pode assumir diante das
prioridades elencadas pelo Ministério da Saúde.
É observado que apesar da presença do profissional fisioterapeuta na maioria
das equipes dos NASFs, continua existindo uma demanda quanto à necessidade dos
cuidados fisioterapêuticos no primeiro nível de atenção. Na grande maioria dos casos,
não são encaminhados para outro nível de atenção. Essa realidade é resultado da
grande quantidade de equipes de saúde da família a serem apoiadas por apenas um
fisioterapeuta do NASF (VIEIRA, 2012b).
Outra observação a ser feita é que muitos municípios transformaram os NASFs
em equipes de apoio matricial, onde estão prioritariamente voltados para atividades
de gestão. Apesar da indiscutível importância do apoio matricial, nota-se que não
existe resolutividade na assistência específica do fisioterapeuta, considerando suas
atribuições na elaboração da anamnese e no diagnóstico cinético funcional, das
orientações e procedimentos fisioterapêuticos, e dos encaminhamentos para outro
nível de atenção. O Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional –
COFFITO, define o fisioterapeuta como:

Profissional de Saúde, com formação acadêmica Superior, habilitado Formatado: Fonte: 11 pt


à construção do diagnóstico dos distúrbios cinéticos funcionais
Formatado: Espaçamento entre linhas: simples
(Diagnóstico Fisioterapêutico), a prescrição das condutas
fisioterapêuticas, a sua ordenação e indução no paciente bem como,
o acompanhamento da evolução do quadro clínico funcional e as
condições para alta do serviço. (COFFITO, 2014) Formatado: Fonte: 11 pt

Conforme estudos realizados, tem-se visto que, não obstante a Fisioterapia,


ainda incipiente no âmbito da atenção primária à saúde, considerando outras
profissões como mencionado anteriormente, já representa um momento significante
para a sua consolidação neste nível de assistência.
Nesse estágio histórico, a Resolução de N° 4 do Conselho Federal de
Educação e da Câmara de Educação Superior, que institui as Diretrizes Curriculares
Nacionais do Curso de Graduação em Fisioterapia, delineia, no seu artigo 3°:

O Curso de Graduação em Fisioterapia tem com perfil do formando


egresso/profissional o Fisioterapeuta, com formação generalista,
humanista, crítica e reflexiva, capacitado a atuar em todos os níveis
de atenção à saúde, com base no rigor científico e intelectual. Detém
visão ampla e global, respeitando os princípios éticos/bioéticos, e
culturais do indivíduo e da coletividade. Capaz de ter como objeto de
estudo o movimento humano em todas as suas formas de expressão
e potencialidades, quer nas alterações patológicas, cinético-
funcionais, quer nas suas repercussões psíquicas e orgânicas,
objetivando a preservar, desenvolver, restaurar a integridade de
órgãos, sistemas e funções, desde a elaboração do diagnóstico físico
e funcional, eleição e execução dos procedimentos fisioterapêuticos
pertinentes a cada situação (BRASIL, 2002). Comentado [MR13]: Esta citação está repetida em 4.2

Conforme a citação anterior, o fisioterapeuta é capacitado para atuar nos três


níveis de atenção e a Fisioterapia vem mudando o seu perfil no transcorrer da sua
história. Ainda nesse sentido, o COFFITO define a Fisioterapia como:
Uma ciência da saúde que estuda, previne e trata os distúrbios Formatado: Fonte: 11 pt
cinéticos funcionais intercorrentes em órgãos e sistemas do corpo
Formatado: Espaçamento entre linhas: simples
humano, gerados por alterações genéticas, por traumas e por doenças
adquiridas, na atenção básica, média complexidade e alta
complexidade. Fundamenta suas ações em mecanismos terapêuticos
próprios, sistematizados pelos estudos da biologia, das ciências
morfológicas, das ciências fisiológicas, das patologias, da bioquímica,
da biofísica, da biomecânica, da cinesia, da sinergia funcional, e da
cinesia patológica de órgãos e sistemas do corpo humano e as
disciplinas comportamentais e sociais (COFFITO, 2014).

A “herança” histórica ainda se faz muito presente no ambiente de formação em


Fisioterapia, apesar de os avanços expressivos terem acontecido na atenção primária.
Nessa direção, as instituições de ensino norteadas pelas Diretrizes Curriculares vêm
modificando os currículos de graduação em Fisioterapia e, nos cenários de práticas e
vivências, têm contemplado os três níveis de atenção. Esse processo de mudança
constitui desconstruções e reconstruções, onde o nível primário de atenção à saúde
já compõe um considerável espaço na formação. O fisioterapeuta atualmente deve
ser formado com capacidade de atuar nos níveis de promoção, prevenção e
recuperação da saúde do ser humano (RAGASSON et al., 2004). Comentado [MR14]: Este trecho está repetido em 4.2

Considerando a atenção à saúde como um direito universal garantido, só será


verdadeiramente uma realidade quando a população tiver acesso a todos os
procedimentos de cuidado. Apesar de a Fisioterapia constituir-se como uma profissão
que traz reais contribuições para a melhoria das condições de vida na atenção
primária à saúde, comunidades ainda são desprovidas dos cuidados fisioterapêuticos.
A formação acadêmica em Fisioterapia sempre esteve voltada para o
tratamento de sequelas, ou seja, seu surgimento e sua evolução ocorreram sempre
em função da necessidade de promover a reabilitação, limitando-a a uma formação
para os serviços de atenção secundária e terciária. Caracterizou-se, assim, a
formação de um profissional de papel eminentemente reabilitador (RIBEIRO, 2009).
Nota-se, ainda, que a organização curricular dos cursos de Fisioterapia toma
um direcionamento para a abordagem de determinados problemas de saúde, com
predomínio no estudo das doenças que deixam sequelas reabilitáveis, excluindo
muitas vezes, da discussão, uma gama de problemas de saúde comuns à população.
Deste modo, essa composição não favorece o acadêmico do curso de Fisioterapia
uma aproximação com a realidade social das classes populares, com o conhecimento
concreto acerca do adoecimento dessa população e nem das estratégias de
enfrentamento para tais problemas (RIBEIRO, 2009 apud SILVA; DA ROS, 2007).
No entanto, conforme os autores acima, algumas modificações atuais nos
projetos político-pedagógico dos cursos de Fisioterapia mostram uma preocupação
com uma formação mais humanista, incluindo, por exemplo, estágios em saúde
coletiva, tentando de alguma forma propiciar aos estudantes a vivência na atenção
básica e, ao mesmo tempo, ampliar a qualificação profissional e a possibilidade de
acesso da comunidade ao serviço de fisioterapia.
Observamos, assim, que passos significativos estão sendo dados no sentido
de se melhorar a qualidade na formação profissional do fisioterapeuta, bem como na
inclusão de um maior quantitativo de pessoas aos cuidados fisioterapêuticos.
Nessa direção, as atribuições do fisioterapeuta dentro da Equipe de Saúde da
Família, além dos seus procedimentos específicos, voltam-se para a Educação em
Saúde através de orientações para pacientes e seus familiares, relativas ao
acometimento específico do paciente, e às orientações gerais à comunidade a partir
da promoção de saúde e prevenção de agravos (PORTES et al., 2010).
Diante do exposto, foi considerada a necessidade de se trabalhar no sentido
de se fomentar estudos que promovam novos olhares quanto ao fazer fisioterapêutico
na atenção primária. Frente a essa relevância do cotidiano, realizou-se esse estudo
objetivando a apreciação da realidade da fisioterapia na atenção primária à saúde de
Campina Grande-PB, a partir de dados coletados com fisioterapeutas que atuam no
NASF desse município. A implantação do NASF no município de Campina Grande
ocorreu em abril de 2008 com 09 equipes do tipo 1, distribuídas entre os 06 Distritos
Sanitários de saúde. Sua elaboração foi dada pela equipe da Diretoria de Atenção à
Saúde.

7.3 Significados, desígnios e feitios metodológicos

O presente texto é resultado de pesquisa de campo, de caráter descritivo, corte


transversal com abordagem qualitativa. Constitui-se em um recorte do projeto de
pesquisa intitulado “Fisioterapia na atenção primária: percepção dos profissionais
quanto à educação popular como instrumento de orientação para suas ações”,
aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual da Paraíba
(UFPB), seguindo os critérios da Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de
Saúde.
Os dados foram coletados através de um questionário semiestruturado e
observação direta junto aos fisioterapeutas que atuam no NASF de Campina Grande-
PB. É mediante o ato intelectual de observar o fenômeno estudado que se concebe
uma noção real do ser ou do ambiente natural como fonte direta dos dados.
(QUEIROZ, SOUZA, VIEIRA, 2007). A amostra foi composta por dez profissionais que
aceitaram participar da pesquisa. A coleta dos dados foi realizada no decorrer do mês
de junho de 2014 onde, inicialmente, foi realizada uma análise junto à Secretaria de
Saúde do município, sendo identificadas as comunidades onde se encontrava cada
fisioterapeuta e a sua equipe do NASF.
Posteriormente, foi feito um contato pessoal para a explicação dos objetivos do
estudo e, após o consentimento, foi estabelecido um dia para a aplicação dos
instrumentos do estudo, sendo realizada em uma sala reservada na Unidade Básica
de Saúde, com ambiente adequado e sem limite de tempo para as respostas. Os
dados foram analisados com base na técnica do Discurso do Sujeito Coletivo-DSC
que é uma proposta de organização de dados qualitativos de natureza verbal, obtidos
de depoimentos (LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2000). Também teve, como fundamento, a
teoria da Representação Social e seus pressupostos sociológicos, que consiste,
basicamente, em analisar o material verbal coletado, extraído de cada um dos
depoimentos. Com a observação, através de um contato direto, foi possível analisar
os dados recolhidos e como eles correspondem à realidade nas práticas diárias
vivenciadas pelo autor.

7.4 Achados e análises sobre a temática

Considerando os dez participantes da pesquisa, verificou-se que oito dos


profissionais eram do sexo feminino e dois do masculino, constatando-se a
predominância de mulheres, representando 80% da porção estudada. No que se
refere à faixa etária, ficou evidente que a grande maioria dos participantes estão entre
20 e 30 anos, formando um total de sete sujeitos. O restante foi representado por dois
entre 35 e 40 anos, e um no intervalo de 50 a 55 anos. A mostra aponta para uma
população jovem na categoria dos fisioterapeutas que atuam no NASF de Campina
Grande. Quanto ao tempo de serviço na atenção primária, a predominância se
encontra no espaço entre 1 e 2 anos. Dentre os 10 profissionais entrevistados, apenas
um possui mais de 2 anos de formação, e 05 estão vivenciando com o NASF a
primeira experiência profissional. De acordo que esses dados, manifestou-se o
entendimento de que a maioria dos sujeitos da pesquisa é recém-formada e que 70%
não possuem formação em nível lato senso na área de atuação. Formatado: Fonte: Itálico

Tratando-se da atuação do fisioterapeuta na atenção primária, observou-se que


as atividades mais citadas pelos sujeitos da pesquisa foram as palestras, realizadas
essencialmente nas salas de espera na unidade e nas escolas; visitas em domicílios,
acompanhamento a grupos como hipertensos, diabéticos e gestantes.
É importante ressaltar que as respostas, na sua maioria, apresentaram-se de
forma genérica, sem detalhes e aprofundamentos. A exemplo:
Formatado: Espaçamento entre linhas: simples
Matriciamento, promoção e recuperação da saúde, prevenção de
doenças e agravos e reabilitação, é promover a qualidade de vida do
indivíduo, em todos os ciclos (sujeito 3).
Como fisioterapeuta do NASF, que está inserido na atenção básica,
desenvolvo atividades como visitas domiciliares com
encaminhamentos qualificados, desenvolvimento de PTS,
desenvolvimento de PST, sala de espera com palestras voltadas aos
usuários, formação de grupos de auto cuidados, planejamento e
desenvolvimento de ações com outros órgãos de atenção dentro da
rede, capacitação e qualificação de recursos humanos da atenção
básica (sujeito 4).
Atividade educativa e prática corporal em grupos de hiperdia, grupos
de saúde mental, grupos de gestantes, nas escolas e creches
(Programa Saúde na Escola). Atendimento Individual e junto aos
demais profissionais da equipe, visitas domiciliares, visitas
institucionais, discussão de casos clínicos e quando necessário
encaminhamento para o local de referência, orientações e quando
necessário atendimento, além de ações e eventos extras quando
somos solicitados, entre outros (Sujeito 5).

Quando se questionou sobre as condições de trabalho, manifestaram-se, nas


respostas, expressões como: precárias; poderiam ser melhores; são um pouco
escassos; não há recursos oferecidos. Sintetizando essa questão, um participante
mencionou:

Infelizmente dentro da realidade do município que trabalho os únicos Formatado: Fonte: 11 pt


recursos que os profissionais do NASF contam é com sua criatividade
Formatado: Espaçamento entre linhas: simples
e vontade de executar um bom trabalho, pois não dispomos de
recursos materiais, transporte, estimulo financeiro (gratificações de
programas como PMAQ são simplesmente subtraídas dos
profissionais) e até mesmo problemas como salários que atrasam,
vencimentos que são diminuídos sem nenhuma explicação como
ocorreu com os dos fisioterapeutas do NASF. (sujeito 2)

Com a pergunta “sua prática profissional é coerente com a realidade dos seus
pacientes?”, evidenciou-se que aqueles que responderam sim, expressavam que de
acordo com as condições de seu trabalho. Foram observadas, nas respostas, algumas
dificuldades em detalhes, como:

Na medida do possível sim, mas em grande maioria não pois não Formatado: Fonte: 11 pt
dispomos de recursos que em determinados momentos são
Formatado: Espaçamento entre linhas: simples
necessários para um atendimento de qualidade/adequado (sujeito 5).
Dentro do possível sim, pois muitas vezes esses pacientes precisam
de assistencialismo que dentro das minhas práticas não é possível
realizar por falta de recursos materiais e da própria organização do
processo de trabalho do NASF, pois como fisioterapeuta atuo em 05
UBSF ficando muito difícil realizar atendimento continuado a paciente
que precisam de atendimento a domicilio ou em ambulatório já que
não temos espaços físicos nas UBSF, muitas vezes os atendimentos
são realizados nas salas de outros profissionais ou até mesmo em
corredores ou cozinha da unidade (sujeito 1).

Em síntese, esses dados, apesar de abreviados, apontam para uma realidade


merecedora de maiores aprofundamentos no sentido de se poder propor novas formas
na oferta dos cuidados fisioterapêuticos na atenção básica.
As respostas emitidas pelos sujeitos da pesquisa apontam para discussões
importantes sobre o fazer fisioterapêutico na atenção básica, considerando os vários
olhares do objeto em estudo. Quanto às ações desenvolvidas, os achados na
pesquisa comungam com os descritos por muitos textos já publicados, onde se podem
destacar as atividades voltadas para a educação em saúde, atividades domiciliares,
atividades em grupo (PORTES et al., 2011).
No que refere aos componentes dos grupos, igualmente verificados na nossa
experiência, estão os Grupos de gestantes; Grupos de postura; Grupo de idosos
(BRASIL, 2005).
É citado, dentre as atividades do fisioterapeuta na atenção primária, o
planejamento de ações, e, nesse sentido, necessita-se de novas habilidades e
competências para a sua atuação no sistema de saúde. Corroborando esse pensar,
Bispo Junior (2010, pag. 1631) expõe que:

[...] o fisioterapeuta deve aproximar-se de saberes da epidemiologia, Formatado: Fonte: 11 pt


que poderá oferecer conhecimentos quanto à distribuição das doenças Formatado: Espaçamento entre linhas: simples
nas coletividades, sua magnitude e potenciais fatores de risco, e das
ciências sociais, que poderão desvelar os fatores culturais,
comportamentais e religiosos do processo saúde-doença, bem como
subsidiar a contextualização da realidade histórico-social na
determinação do risco.

Diante da citação acima, fica explícita a necessidade de o fisioterapeuta ir além


da visão centrada na doença e na reabilitação, seguindo na direção do entendimento,
mais contextual, para a elaboração do planejamento de ações.
As dificuldades estruturais e materiais, bem com número insuficiente de
profissionais são problemas elencados no fazer fisioterapêutico na atenção básica. O
número insuficiente de profissionais fisioterapeutas no NASF para a grande demanda
também é observado por Souza e colaboradores (2013), quando descreve que vale a
pena ressaltar-se a dificuldade para uma ação integral principalmente quando é
observada pela quantidade de profissionais da área.
São muitos os desafios da Fisioterapia na atenção básica, contudo, passos
importantes estão sendo dados. A implementação da presença do fisioterapeuta
integralmente nesse nível de atenção, proporcionará, ao usuário, um cuidado mais
resolutivo, seguindo o princípio da integralidade.

7.5 Pra terminar


Formatado: Fonte: (Padrão) Arial

No transcorrer da coleta dos dados, subsídio para a construção deste texto, foi
observado que caminhos estão sendo construídos, no sentido de se direcionar para a
consolidação da presença do profissional fisioterapeuta na atenção básica. Muitos
ainda são os desafios para que os procedimentos fisioterapêuticos se concretizem
nesse nível de atenção, contudo, passos estão sendo dados. Temos observado que
o fisioterapeuta é um instrumento fundamental para que se materialize a
resolutividade das prioridades da atenção primária, mas as dificuldades se
manifestam de forma ainda muito incipiente.
Na nossa vivência, temos visto que existe uma lacuna na atenção
fisioterapêutica na atenção primária, e essa realidade é resultado de todo um processo
histórico. Neste contexto, é visível a necessidade deste profissional de forma
sistemática, nesse nível de atenção à saúde, compreendendo todos os níveis de
prevenção, não se reduzindo à reabilitação.
A construção de redes de cuidado representa, na atualidade, uma urgência
para que os princípios do SUS sejam realmente estabelecidos, e os usuários
atendidos de forma integrada. Diante dessas considerações, fica explícito que é
fundamental que se fomentem novas pesquisas no sentido de se aprofundar nos
conhecimentos que fundamentem uma maior participação da Fisioterapia na atenção
básica, analisando as necessidades dos usuários.
A título de finalização, atualmente temos observado que, após as mudanças
ocorridas no financiamento da atenção básica, municípios vêm acabando com os
NASFs, aumentando ainda mais as dificuldades de acesso da população aos
cuidados fisioterapêuticos. A presença da Fisioterapia na atenção primária que já
apresentava muitas limitações a partir dos NASFs, com o fechamento desses núcleos
multiprofissionais os cuidados fisioterapêuticos ficam ainda mais problemáticos,
merecendo, por parte da categoria e da sociedade organizada, reflexões sobre o
direito de acesso a uma saúde plena.

REFERÊNCIAS

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responsabilidades profissionais. Ciência e Saúde Coletiva, vol. 15, supl.1, p. 1627- Adicionar espaço entre parágrafos do mesmo estilo,
36, 2010. Espaçamento entre linhas: simples

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BRASIL. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições


para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o
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Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8080.htm. Acesso em: 15
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BRASIL, A.C.O.; et al. O papel do fisioterapeuta no Programa Saúde da Família no


Município de Sobral – Ceará. RBPS, vol. 18, n. 1, p. 3-6, 2005.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria Nº 3.124 de 28 de dezembro de 2012.


Redefine os parâmetros de vinculação dos Núcleos de Apoio à Saúde da Formatado: Fonte: 12 pt, Não Itálico
Família (NASF) Modalidades 1 e 2 às Equipes Saúde da Família e/ou Equipes
de Atenção Básica para populações específicas, cria a Modalidade NASF 3, e
dá outras providências. Brasília, 2012.
BRASIL. Ministério da Educação. Resolução CNE/CES, Nº 4, de 19 de fevereiro de
2002. Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em
Fisioterapia.

BRASIL, Ministério da Saúde. Portaria N° 154 em 24 de janeiro de 2008. Cria os Formatado: Fonte: Não Negrito
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RIBEIRO, K. S. Q. S. A experiência na extensão popular e a formação acadêmica


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SOUZA, M. C. et al. Fisioterapia e Núcleo de Apoio à Saúde da Família:


conhecimento, ferramentas e desafios. O mundo da saúde, São Paulo. 2013, vol.
37, n.2, p. 176-84.

VIEIRA, R. S. Institucionalização da Fisioterapia no Brasil: um olhar sobre o


processo histórico nos cenários internacional, brasileiro e paraibano. João
Pessoa: Editora Universitária/UFPB, 2012a.

VIEIRA, R.S. Extensão Universitária: um olhar sobre a fisioterapia na atenção Formatado: Fonte: Não Negrito
primária à saúde. In: CARNEIRO, Maria Aparecida Barbosa; SOUZA, Maria Lindaci
Gomes de (Org). Extensão universitária, desenvolvimento regional, políticas Formatado: Fonte: Negrito
públicas e cidadania. João Pessoa: Editora Universitária/UFPB, 2012b.
8 PALAVRAS DERRADEIRAS

A título de finalização, queremos aqui enfatizar – como já foi posto no início –, Formatado: Recuo: Primeira linha: 1,25 cm

que este livro se apresenta como uma possibilidade de suscitar diálogos que
contribuam para crescimentos e aprofundamentos conceituais, teóricos e
epistemológicos, referentes à Fisioterapia nos seus mais diversos campos de atuação.
Os diversos temas aqui dispostos são conteúdos que devem integrar o cotidiano do
Ser e do Fazer Fisioterapia. Assim, entendemos que o caminho se constrói a partir da
necessidade e do interesse de se avançar rumo aos propósitos. Na caminhada,
haveremos de nos apropriar de muitas ferramentas no sentido de conseguirmos atingir
o que se deseja no campo da produção do conhecimento.
Investigações, descobertas e discussões fundamentadas sobre a questão: “O
que é Fisioterapia” merecem, nos meios acadêmicos e científico-profissionais,
espaços que possibilitem construções de saberes sedimentares neste universo de
atuação na saúde e na vida.
Considerações a respeito dos fundamentos, princípios éticos, da atuação nos
diversos níveis de atenção e prevenção, e dos mais variados temas emergentes
presentes no cotidiano da Fisioterapia brasileira e mundial, devem ser parte dos
cenários que produzem conhecimento nesta dimensão das ciências da saúde.

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