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Rio de Janeiro
Janeiro de 2006
PARA UMA DISTINÇÃO ENTRE RADICAL E PREFIXO:
será não-composto um composto ou um derivado?
Aprovada por:
_________________________________________________
Presidente, Prof. Doutor Maria Carlota Amaral Paixão Rosa
__________________________________________
Prof. Doutor Violeta Virgínia Rodrigues
__________________________________________
Prof. Doutor Humberto Peixoto Menezes
__________________________________________
Prof. Doutor Afrânio Gonçalves Barbosa
__________________________________________
Prof. Doutor Myrian Azevedo de Freitas
Rio de Janeiro
Janeiro de 2006
Pereira, Pâmella Alves.
Para uma distinção entre radical e prefixo: será não-composto
um composto ou um derivado / Pâmella Alves Pereira. - Rio de
Janeiro: UFRJ/ Programa de Pós-Graduação em Lingüística, 2006.
xi, 80f.: il.; 31 cm.
Orientador: Maria Carlota Amaral Paixão Rosa
Dissertação (mestrado) – UFRJ/ Faculdade de Letras/
Programa de Pós-Graduação em Lingüística, 2006.
Referências Bibliográficas: f78-80. .
1. Morfologia. 2. Estrutura interna da palavra. I. Rosa, Maria
Carlota Amaral Paixão. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Programa de Pós-Graduação em Lingüística. III. Para uma
distinção entre radical e prefixo: será não-composto um composto
ou um derivado?
RESUMO
Rio de Janeiro
Janeiro de 2006
ABSTRACT
Rio de Janeiro
Janeiro de 2006
À minha família
AGRADECIMENTOS
CONCLUSÃO
APÊNDICE
BIBLIOGRAFIA
CAPÍTULO 1
APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA
1.1 – Introdução
formações compostas, uma vez que ambas levam em conta, em última análise, a noção
objetivo deste trabalho é duplo, portanto: por um lado, compreender o uso dos termos
61), é caracterizada como um processo que forma lexemas mais complexos do que
Os dados para a discussão do tema neste trabalho são formas portuguesas com
Apresentação do problema 10
1
EMBOSCADA. As formações com não, mal e contra são apresentadas na literatura ora
como compostos, ora como derivados por prefixo, como aponta Alves (1993: 383).
distinção entre prefixação e composição para parte dos dados aqui focalizados, uma vez
modelo que será adotado neste estudo. Em seguida, uma apresentação dos processos
utilizada.
corpus.
radicais, e não como prefixos. Sendo assim, palavras em que entrem antepostas as
formas mal, não e contra são analisadas como formações compostas, e não como
derivadas.
1
os lexemas, conforme propõe Matthews (1991 : 26), são grafados com todas as letras em maiúsculas,
diferindo-os de radicais e de morfemas.
Apresentação do problema 11
1.2 – A controvérsia da prefixação no português
Said Ali ([1931]1966: 249-64), Rocha Lima (1957: 179-217), Bechara (1966:
214-37), Cunha & Cintra (2001: 83-88) e Basílio (1989 : 26-35) classificam os prefixos
como elementos formadores de unidades lexicais derivadas; Câmara Jr. (1977: 76/92) e
acrescentada).
Apresentação do problema 12
Autores Definição de derivação Definição de composição
(Quadro 1)
Apresentação do problema
“Derivação consiste em formar palavras de outra
“A composição consiste na criação de uma palavra
primitiva por meio de afixos. Os afixos se dividem,
nova composta por meio de duas ou mais outras
Bechara em português, em prefixos (se vêm antes do radical)
cuja significação depende das que encerram as suas
ou sufixos (se vêm depois).” (1966 : 216)
componentes.” (1966 : 215)
13
Autores Definição de derivação Definição de composição
Apresentação do problema
(pre + dispor) são formas derivadas: em todas junção de duas bases, sejam estas formas presas –
verificamos a estruturação base + afixo, que se isto é, formas que dependem de outras para sua
concretiza em base + sufixo (como em retratista) ou ocorrência, como agri- em agricultura – ou livres,
em prefixo + base ( como em reler).” (1989 : 26) como chuva, brasileiro, e assim por diante.” (1989 :
27)
14
Autores Definição de derivação Definição de composição
Apresentação do problema
como formas presas em compostos (-fero em frutífero,
fundamentalmente a significação do semantema; são
agr- e –cola em agrícola). Deste último tipo são os
por isso incluídos de preferência no processo da
prefixos, quando não coincidem com preposições na
composição, embora muitos gramáticos incluam sufixos e
língua.” (1977 : 76)
prefixos na derivação, que passa a ser sufixal e prefixal.
15
(...)” (1977 : 92)
As gramáticas de Said Ali ([1931]1966), Rocha Lima (1957), Bechara (1966)
Cunha & Cintra (2001) e de Pereira ([1918]1940) fizeram parte do ensino descritivo do
português durante todo o século XX. Elas são representativas das gramáticas escolares
sintaxe. Na gramática de Said Ali, por exemplo, foi adicionada à segunda edição (1931)
partes: “estudo das construções” e “estudo das formas”, em que esta constituiu a
Lima (1957). Em ambas, a estrutura dos vocábulos e a formação de palavras são tópicos
palavras são estudadas num capítulo à parte. Pereira (1918]1940) apresenta uma divisão
em lexicologia e sintaxe, esta responsável pelo “estudo das palavras combinadas para a
Em Said Ali ([1931]1966), Rocha Lima (1957), Bechara (1966) e Cunha &.
uma idéia acessória. Foi, ainda, apresentado o caráter independente dos prefixos,
Apresentação do problema 16
Todas consideram a composição a reunião de dois radicais em que é desfeito o
palavra composta.
para um estudo sobre a distinção entre radical e prefixo a apresentação das postulações
desses autores a respeito de derivação prefixal e de composição, visto que são lingüistas
respeitados e influentes nos estudos da língua. Como pode ser observado no Quadro 1,
consoante ao que Said Ali ([1931]1966), Rocha Lima (1957), Bechara (1966) e Cunha
& Cintra (2001) apresentam, ao passo que Câmara Jr (1977), assim como o gramático
gramatical defendidos por esses autores. Nesse sentido, no tópico a seguir, será feito um
gramatical do português e pelos lingüistas Basílio e Câmara Jr., tendo como foco
Apresentação do problema 17
Said Ali considera plausível, a princípio, a análise que exclui a prefixação do
independentes na língua, mas, para o gramático, esse fato não sustenta a proposta ao se
analisar elementos formativos do tipo dis-, re-, in-, pré-, ob- que não são usados como
preposições ou advérbios no passado, este argumento torna-se inválido, a não ser que,
nesse mesmo sentido, sejam também analisados alguns sufixos que, claramente, já
foram usados como palavras independentes, como por exemplo o sufixo –mente. Em
latim só se usaram dizeres como fera mente, bona mente (ou feramente, bonamente,
Apresentação do problema 18
Em seguida, Rocha Lima apresenta autores que consideram a prefixação um
“Ao contrário dos sufixos, que assumem valor morfológico, os prefixos têm mais
força significativa, podem aparecer como formas livres e não servem, como
aqueles, para determinar uma nova classe de vocábulos.” (1966 : 206)
a uma base forma uma palavra que pode apresentar função diferente da categoria
gramatical da palavra de base, como no exemplo apresentado por Alves (1993 : 390)
“hoje, no Japão, quer dizer uma situação diferente daquele Japão pré-guerra, né?”.
adjetiva, como pode ser visto na frase acima. Assim como ocorre em ANTIÁCIDO:
Apresentação do problema 19
1.2.1.4 - Cunha & Cintra (2001)
“a rigor, poderíamos até discernir as formações em que entram prefixos que são
meras partículas, sem existência própria no idioma (como des- em desfazer, ou re-
em repor), daquelas de que participam elementos prefixais que costumam
funcionar também como palavras independentes (assim: contra- em contradizer,
entre- em entreabrir). No primeiro caso haveria DERIVAÇÃO; no segundo, seria
justo falar-se em COMPOSIÇÃO."
Em seguida, porém, eles preferem não fazer essa distinção e consideram toda e qualquer
formação com prefixos um processo de derivação, e como justificativa para adotar essa
posição ele afirma que "nem sempre é fácil estabelecer tal diferença" (2001 : 84).
Tendo em vista que se trata de uma gramática escolar, entende-se que não é intenção de
junção de um afixo (sufixo ou prefixo) a uma base para a formação de uma palavra.
Assim, são formações compostas algo como reler (re + ler) e predispor (pre + dispor).
“os prefixos nunca mudam a classe da palavra a que se adicionam. (...) De fato, a
prefixação é utilizada para a formação de palavras quando queremos, a partir do
significado de uma palavra, formar outra semanticamente relacionada, que
Apresentação do problema 20
apresente uma diferença semântica específica em relação à palavra-base.” (1989 :
9).
Nesse sentido, Basílio apresenta exemplos como o prefixo pré-, que indica
A composição, por outro lado, envolve a junção de uma base a outra base, não
Apresentação do problema 21
1) um prefixo e uma palavra (prefixação)
O prefixo é definido como o afixo que se antepõe ao tema para modificar sua
Apresentação do problema 22
inseparáveis (quando o prefixo só aparece na composição de palavras,
O autor afirma, ainda, que são compostos perfeitos aqueles formados por
fundem não só na forma, mas também na idéia, para expressarem um conceito único,
que não acrescentam significado algum ao tema. Este tipo de prefixo não é nem o
Para a criação de novas palavras, Câmara Jr. (1976 : 221) propõe dois
“associação significativa e formal de duas palavras, e daí resulta uma palavra nova, em
do ponto de vista formal, segundo o lingüista, é aquela em que dois nomes se combinam
fonológicos, isto é, cada elemento da formação mantém seu acento. São desse tipo de
composição os exemplos:
Apresentação do problema 23
OBRA-PRIMA (substantivo + adjetivo)
tem-se a união de duas palavras com a perda de fonemas, ou seja, a aglutinação. Como
português é a prefixação. O prefixo é definido por Câmara Jr. como “o afixo que vem na
parte inicial do vocábulo” (1977 : 315) e é a variante presa das preposições. O lingüista
2º) quando o prefixo é acrescentado a um radical que é uma forma livre numa
estrutura variante. Exemplo: PERMITIR, cf. METER.
Apresentação do problema 24
Câmara Jr. sustenta a proposta da inclusão das formações com prefixos entre
Um diz respeito ao fato dos prefixos serem variantes presas das preposições.
As preposições sofreram grande redução do latim vulgar, logo no português, com isso a
diferença que havia entre prefixos e preposições passou a ser menos visível. Muitas
segundo o lingüista, se estrutura por meio de um afixo (sufixo) que apenas introduz no
composição pela tradição gramatical e pelos lingüistas Basílio e Câmara Jr., o quadro 2,
Apresentação do problema 25
INTERPRETAÇÃO DA
AUTOR JUSTIFICATIVA
PREFIXAÇÃO
(Quadro 2)
Apresentação do problema
Prefixação como de elemento mórfico de significação externa subsidiária. O autor
Bechara (1966)
derivação menciona que, por este motivo, algumas gramáticas antigas e autores
modernos classificam a prefixação como um tipo de composição, mas ele
não adota essa análise.
26
INTERPRETAÇÃO DA
AUTOR JUSTIFICATIVA
PREFIXAÇÃO
Apresentação do problema
de duas bases e não há elementos fixos.
27
INTERPRETAÇÃO DA
AUTOR JUSTIFICATIVA
PREFIXAÇÃO
Apresentação do problema
28
Pereira ([1918]1940) e Câmara Jr. (1976;1977) apresentam argumentos
significação da base a que se adjunge) que é parecida com a composição. Said Ali
(1931]1966), Rocha Lima (1957), Bechara (1966) e Cunha & Cintra (2001) chegam a
citar o argumento apresentado por outros autores como Pereira e Câmara Jr., mas, por
fim, optam pela análise da prefixação como tipo de derivação e não apresentam, de fato,
argumentos de base morfológica para justificar essa análise. Por outro lado, o critério
(Laroca, 1994:84) ou base (Bauer, 1983:216) ou radical (Cunha & Cintra, 2001:79)
_______
e esta indefinição do elemento nuclear para a caracterização da formação já faz
(1)
a. PRÉ-HISTÓRIA pré - HISTÓRIA
prefixo lexema/palavra
radical
base
prefixo lexema/palavra
radical
base
Apresentação do problema 29
Em (1) acima, o prefixo pré- vem agregado aos lexemas ou palavras (ou às
Uma composição, por sua vez, é a formação de uma palavra a partir da reunião
de mais de um radical (Sapir, 1921: 71), ou palavra (Fabb, 1998: 66), ou base (Basílio,
(2)
a. BEIJA-FLOR BEIJA + FLOR
radical radical
base base
palavra palavra
dois tipos, ilustrados em (2) acima. O item (2a) ilustra um composto formado pela
língua. São formas livres, segundo a definição de Bloomfield (1926: 27), que se
juntaram para formar uma nova palavra, uma vez que BEIJA-FLOR é o nome popular de
Apresentação do problema 30
uma forma presa, liqüe-. Trata-se de um composto por aglutinação, que se caracteriza
Tendo em vista aspectos semânticos, como apresentam Cunha & Cintra (2001
Fabb (1998 : 66) afirma que a composição ocorre por processos de caráter semântico,
incluindo a metonímia, como em REDHEAD, que significa uma pessoa que tem cabelo
entre as partes de um composto, assim como há entre as partes de uma sentença, mas
são termos que podem ser aplicados também às formações por prefixação. É o que faz
Conforme destaca Basílio (1974 : 90), na análise de uma palavra nem sempre é simples
distinguir o que é principal e o que é acessório. Em mesas, por exemplo, não há dúvida
Apresentação do problema 31
estaria no sufixo, que levaria à idéia do continente, ou no radical, que remeteria ao
conteúdo?
AMORAL, parece evidente que tais elementos acrescentam a idéia de negação a FELIZ,
LEAL e MORAL e também que nestas palavras está a idéia principal. No tocante a in-,
des- e a- , trata-se de formas átonas que funcionam na língua apenas quando conectadas
a um radical, isto é, são prefixos. Por outro lado, não é muito claro se será o caso de se
ou de dois radicais. Não é muito claro se o elemento contra-, nesse exemplo, poderia ser
apresentam a idéia “não tem as características de”, significado este que nega a idéia
Quando, então, um elemento deve ser classificado como radical e quando deve
forma presa, os afixos encontram-se entre as formas presas que, diferentemente das
formas livres, não funcionam como comunicação suficiente, isto é, funcionam apenas
Apresentação do problema 32
palavras. O radical, por sua vez, poderia ser uma forma livre indecomponível 2 , como
FLOR (em 2a), ou não, como BEIJA (também em 2a), ou ainda uma forma presa, como
posição face a um radical. A composição tem o caráter dúbio de ser caracterizada com
radical/raiz/base.
Câmara Jr. (1977: 205), ao definir radical como “a parte lexical de vocábulo,
que se opõe à parte correspondente à flexão externa, a que se liga ou não pelo índice
temático”, afirma que esta parte lexical pode ser primária, isto é, quando o vocábulo é
(1)
prefixo lexema/palavra
radical
base
como sílaba átona no início da palavra e é tido, sem dúvida, como um prefixo, ainda que
1.5 – Justificativa
2
Indecomponível caso não se leve em conta a proposta de morfema zero.
Apresentação do problema 33
noções que são fundamentais para o estudo do lexema. Os conceitos de radical e prefixo
que línguas vivas, como o português, aumentam seu vocabulário a partir de mecanismos
selecionadas, não-, mal- e contra- têm todas, de algum modo, a idéia de negação.
Apresentam-se como formas livres na língua e como constituintes de palavras. Tal fato
encontra-se na base da questão central deste trabalho, isto é, a diferença entre radical e
prefixo: as formas não, mal e contra ora são tidas como radicais, ora são analisadas
como prefixos. Ao proceder a esse recorte, a discussão da teoria passa a ter de revisar
palavra, acredita-se, numa perspectiva prática, que este estudo possa ser aplicado, por
exemplo, no ensino de línguas. A questão abordada neste trabalho pode ser levada para
Apresentação do problema 34
CAPÍTULO 2
FUNDAMENTAÇÃO E METOLODOGIA
2.1 – Introdução
como dois modos possíveis de formalizar a relação entre o que se considera um conceito
lidar com questões que dizem respeito à estrutura interna da palavra. Dentre as
propostas de análise, aqui se toma a de Matthews (1974; 1991), porque foi ela a fonte
Fundamentação e metodologia 35
das propostas de morfologia baseada em palavras que começaram a surgir na década de
Matthews (1991 : 24-36) propõe três noções diferentes para o termo palavra.
A primeira (ou sentido 1, na s,ua exposição) está relacionada à idéia de uma palavra
24). Nesse sentido, Matthews (1991: 30-31) substitui palavra por forma de palavra.
Caso se considere a noção de palavra nesse primeiro sentido e as formas tenho e tinha,
por exemplo, tem-se, então, duas formas de palavras, porque cada uma reúne conjuntos
nenhuma das duas é classificada como Verbo ou qualquer outra classe (Matthews 1991:
palavra.
Tenho e tinha são, no entanto, formas da mesma palavra TER. Esta noção
abstrata de palavra, o sentido 2 de Matthews (1991: 26), ele a denomina lexema, grafado
morfologia. Assim, as palavras amo, amas, ama, amamos são formas do lexema AMAR,
noção para o termo palavra na proposta de Matthews, para a qual ele reserva o termo
nível gramatical, ou primeira articulação (Matthews, 1991: 29). Cada forma do lexema
AMAR (amo, amas, ama, amamos etc) é uma forma de palavra distinta, mas também
uma palavra gramatical distinta: diferem entre si em Número/ Pessoa, Tempo/ Modo.
Fundamentação e metodologia 36
Bicicleta e bicicletas são, respectivamente, Singular e Plural de BICICLETA, que é um
Nome. Por essa razão, embora reconheça três significados distintos para o termo
sentidos 1 e 3 (a que se refere indistintamente, a não ser que seja necessário fazer a
lexema simples, conforme define Matthews (1991: 37), é aquele cuja estrutura não pode
ser analisada em mais elementos morfológicos, como, por exemplo, o Adjetivo LEAL. O
morfológico, como DESLEAL, relacionado ao lexema simples LEAL. Por sua vez,
DESLEAL é um lexema complexo que se relaciona a outro lexema, mais complexo, que é
área da morfologia que diz respeito às relações entre um lexema complexo e dois ou
relações, bem como o que se entende por lexema e como ele se estrutura.
que há um elemento final –ion, que se liga a um radical. Em termos notacionais, tem-se
Fundamentação e metodologia 37
A notação em (3.1) indica que Nomes em –ion derivados de verbos,
representados pela variável X na regra, são formações potenciais em inglês. Por esse
elemento fazer parte de uma formação lexical, ele é denominado formativo lexical.
ambas as formas entram como palavras no dicionário. Por outro lado, Matthews
diferencia esse processo daquele que ocorre entre as formas corajoso, corajosa,
(3.2) Feminino
Singular → X + [a]
X A
Raiz, como define Mathews (1991: 64), “é a forma que subjaz, no mínimo, um
sentido, a raiz coraj- está presente nas formas corajosa, corajosas, por exemplo, com o
Como foi dito, uma forma como corajoso está na base do paradigma do
adjetivo corajoso, mas esta forma, por si só, não é simples, mas complexa, na medida
em que podemos fragmentá-la em duas outras formas menores: coraj- e –oso. Trata-se,
por esse motivo, não de uma raiz, mas de um radical. O radical é também uma forma
Fundamentação e metodologia 38
que serve como base para um paradigma ou parte de um paradigma, mas,
diferentemente da raiz, pode ser dividido em formas menores. Assim corajoso associa-
se à raiz coraj-, que também pode ser um radical. E corajosamente associa-se ao radical
corajoso.
diversas na língua. São métodos formais presentes nas gramáticas das línguas e que,
através dos quais, é possível ampliar e renovar seu léxico em função das palavras já
para a flexão, Anderson procura demonstrar que flexão e derivação não se distinguem
flexional, Anderson apresenta os processos arrolados por Sapir, exceto ordem vocabular
Fundamentação e metodologia 39
e composição. Interessa para Anderson, na verdade, distinguir as categorias gramaticais,
composição, isto é, a diferença entre dois métodos formais que várias línguas do mundo
2.3.1 – Composição
significado que difere tanto do vocábulo TYPE (‘tipo de impressão’), quanto do vocábulo
WRITER (‘escritor’), que a compõem. Além disso, a unidade formada por esses dois
elementos pode ser ainda confirmada pela presença de apenas um acento primário, na
typewriters). Uma composição deste tipo no português é ilustrada com exemplos como
Fundamentação e metodologia 40
Sapir mostra ainda que a composição, um processo aparentemente simples,
não é universal. O nutka, por exemplo, é incapaz de composição tal como ele define este
processo. Nessa língua, uma palavra como “quando, segundo dizem, ele ficou ausente
por quatro dias” (Sapir, 1921: 73) que se poderia imaginar que haveria de ter, pelo
menos, três elementos radicais, relacionados, cada um, aos conceitos de “ausente”,
“quatro” e “dia”, é formada apenas por um radical, acrescido de sufixos que apresentam
“significação quase tão concreta quanto a do próprio radical” (Sapir, 1921: 73). Estes
sufixos são assim classificados pelo fato de estarem agregados ao núcleo da palavra e de
(1974) a deixar de lado o significado na distinção entre raiz e afixo. Isto porque a língua
portuguesa apresenta, também, formações em que o afixo traz significado lexical tão
concreto quanto ao do radical. Margarida Basílio (1974 : 90) apresenta como exemplo a
palavra CIGARREIRA, estruturada a partir do radical (cigarr-) mais o sufixo –eira: tal
mais exata pelo contato com os outros elementos componentes; já em outras, a função é
dos componentes de uma composição: nome com nome, verbo com verbo, nome com
Fundamentação e metodologia 41
verbo, advérbio com verbo e assim por diante. Há certas línguas que admitem todos ou
quase todos os tipos de elementos, e há outras línguas que não permitem determinadas
composições.
gramaticais:
1. substantivo + substantivo:
3. substantivo + adjetivo:
4. adjetivo + adjetivo:
5. numeral + substantivo:
Fundamentação e metodologia 42
6. pronome + substantivo:
7. verbo + substantivo:
8. verbo + verbo:
9. advérbio + adjetivo:
adjetivo.
particular) e determinado (elemento que contém a idéia geral) nos compostos, a língua
termo determinante), quanto o inverso, isto é, casos em que o determinado está posposto
determinado).
Fundamentação e metodologia 43
2.3.2 – Prefixação
que todos os outros em conjunto (Sapir, 1921: 74). Este processo gramatical caracteriza-
se pela adição de algum afixo ao radical (Sapir, 1921: 74; Anderson, 1985 : 166). Esse
elemento pode estar antes do radical, no meio ou depois dele, sendo denominado em
perdem para os sufixos: há línguas que usam apenas dos sufixos, excluindo por
completo a prefixação.
Em algumas línguas, segundo Sapir (1921: 75), prefixos e sufixos têm funções
diferentes: cabe aos prefixos a função de expressar idéias que delimitam a significação
restante da sentença. Para ilustrar, o lingüista apresenta uma forma latina como
O prefixo re-, “de volta” apenas qualifica, até certo ponto, a significação inerente
ao radical mitt-, “mandar”, ao passo que os sufixos –eba-, -nt- e –ur transmitem
noções menos concretas, mais estritamente formais, de tempo, pessoa, pluralidade
e passividade.
gramatical apresentam-se como prefixos, e não como sufixos. Estes, por outro lado,
acrescentar uma informação que não é mais necessária ao equilíbrio formal da palavra.
Fundamentação e metodologia 44
Essa oposição entre prefixo e sufixo não é constante. Sapir (1921 : 76) afirma
que “na maioria das línguas que utilizam os dois tipos de afixação, cada grupo tem
Assim, a idéia transmitida pelo radical feliz é modificada pelo acréscimo do prefixo in-
apresentar como forma presa ou como forma livre. Nesse sentido, para caracterizar o
determinar se as formas contra, mal e não podem ser classificadas como afixos ou são
estritamente radicais.
Como já foi mencionado anteriormente neste capítulo, Cunha & Cintra (2001)
classificam formações com mal e não como compostos, visto que classificam tais
formas como radicais. As formações com contra, no entanto, são tidas como prefixação
(Cunha & Cintra, 2001: 85). Se o contra, além de ser uma palavra independente na
Fundamentação e metodologia 45
língua, ocorre também, indubitavelmente, como radical em CONTRÁRIO, o que
determina, então, a classificação do contra como prefixo, e de mal e não como radicais
em tal gramática?
2.4 – O corpus
com des- ou in-, que nunca aparecem sozinhos como enunciado. Dentre os elementos
para a negação em português o recorte que este trabalho faz focaliza apenas aqueles
elementos que se apresentam na língua ora como formas livres, ora como constituintes
de palavras. Nesse sentido, estão presentes no corpus deste estudo formações que
J. Payne (1985), T. Payne (1997) e Aronoff & Fuhrhop (2002) apresentam que
ARRUMADO é o contrário de arrumando, mas nem tudo que não está arrumado é MAL-
entre dois termos, como ocorre entre MAL-ENGRAÇADO e ENGRAÇADO ou entre NÃO-
Fundamentação e metodologia 46
One important distinction is that negative derivational morphemes can create
either contradictory or contrary terms; contradictory terms are mutually
exclusive, like smoker and non-smoker, whereas contrary terms represent opposite
poles along a given dimension and leave room for other possiblities in the area
between them, as for instance with intelligent and unintelligent.
considerável em jornais e revistas para estabelecer o estudo proposto. Por essa razão, o
fontes. Este trabalho considera a análise de palavras existentes na língua que possuam as
formas iniciais mal, não e contra, e não está voltado para índices de freqüência com que
elas ocorrem em textos. Para um estudo que se interessa pela estrutura do lexema, e não
2.5 – Metodologia
3
Conhecido popularmente como Dicionário Aurélio
Fundamentação e metodologia 47
O dicionário Ferreira (1986) foi escolhido porque se trata de uma fonte ampla
amplo de exemplos que ilustrem os mais diferentes tipos de formações com mal, não e
contra. Com isso, pode-se fazer um estudo mais amplo, abrangendo análises de palavras
ora bastante comuns no dia-a-dia de falantes do português, ora pouco ou até mesmo
nunca vistas.
O capítulo seguinte apresenta, então, essa análise dos dados listados (ver
Fundamentação e metodologia 48
CAPÍTULO 3
ANÁLISE DE DADOS
3.1 – Introdução
semântico das formações com mal, não e contra em exemplos como MALFELIZ, NÃO-
O capítulo será divido em seções, nas quais serão analisadas as formas mal,
não e contra nos exemplos que compõem o corpus. Primeiramente essa análise colocará
objetivo do capítulo.
Análise de dados 49
3.2 – Análise fonológica
3.2.1 – O acento
a Fonologia Métrica, é uma propriedade da sílaba, e somente esta pode ser portadora do
acento primário, ou seja, do acento mais forte de uma palavra (Hernandorena, 1996 :
traço de uma vogal, como considera o modelo gerativo de Chomsky & Halle (1968),
mas como uma proeminência que nasce da relação entre os elementos prosódicos: sílaba
(4)
Palavra ω
pé + pé Σ
Para se saber o algoritmo acentual das palavras é preciso, portanto, saber como
dominante.
Análise de dados 50
Como propõem Liberman e Prince (1977), para a atribuição do acento com
numeradas. Como ilustra o diagrama (5) a seguir, na 1ª linha todas as vogais da palavra
mais forte da palavra recebe número, constituindo, assim, a grade. O diagrama (6) traz a
representação proposta por Halle e Vergnaud (1987), com o uso de asteriscos para
(5) (6)
IN TE RES SE IN TE RES SE
1 2 3 4 (* ·) (* ·)
5 6 ( * )
7
binários, rotulados em termos de forte (“s” – strong) e fraco (“w” – weak), sendo o
elemento sempre rotulado forte o portador do acento primário. Observe no esquema (7)
que o acento primário da palavra INTERESSE é atribuído à sílaba –res- por ser a única
Análise de dados 51
(7)
S ω
W S Σ
S W S W σ
IN TE RES SE
(8) (9)
CON TRA GOL PE CON TRA AR GU MEN TO
1 2 3 4 1 2 3 4 5 6
5 6 7 8 9
7 10
(10) (11)
MAL A ZA DO MAL COM POR TA DO
1 2 4 5 1 2 3 4 5
6 7 6 7
8 8
Análise de dados 52
(12) (13)
NÃO VER BAL NÃO LI NE AR
1 2 3 1 2 3 4
4 5 5 6
6 7
Para que uma forma seja considerada uma palavra fonológica (ω) é preciso que
ela apresente pés métricos isoladamente e que não possua mais que um acento primário,
sobre a sílaba –men, no entanto ambas as palavras são formadas a partir da anteposição
troqueu silábico, isto é, um pé métrico dissílabo com cabeça à esquerda. Esse fato
contra pode ser analisado como uma palavra fonológica, as formas mal e não também
podem. Embora sejam palavras monossílabas, ambas são denominadas troqueu mórico,
em outras palavras, são sílabas longas, com duas moras, que formam um pé métrico
Análise de dados 53
Em contrapartida, os prefixos des-, in- e a- em exemplos como DESCUIDADO,
permite caracterizá-los como sílabas átonas afixados à esquerda de uma base. Observe o
(14)
ω
Veja em (14) que o prefixo des- é uma sílaba pretônica que se alinha à
esquerda de uma base, formando uma única palavra fonológica com a mesma. O nó
mais baixo da árvore mostra que, juntos, esses dois elementos formam um único
verifica-se que a base já era uma palavra fonológica antes da afixação, uma vez que o
verificar o seguinte:
(15) (16)
GUARDA-CHUVA TERÇA-FEIRA
1 2 3 4 1 2 3 4
5 6 5 6
7 7
Análise de dados 54
As palavras GUARDA-CHUVA e TERÇA-FEIRA constituem, cada uma, um único
sílabas –chu- e –fei-, embora seja possível analisar cada membro desses compostos
sílaba;
Outro fato que deve ser levado em consideração a respeito do acento e que
palavra nova tem o acento em uma sílaba diferente daquela que recebia o acento na
Por outro lado, não há mudança de acento quando ocorre prefixação ou quando
Análise de dados 55
(17) (18)
ÁRVORE > ARVOREDO INTELIGENTE > SUPERINTELIGENTE
palavra, há também o acento secundário, que é aquele relativamente menos forte que o
apresentam, além do acento primário, um acento menos forte que, embora não seja o
acento principal da palavra, não pode ser descartado. Trata-se de um acento primário
presente nos elementos mal, não e contra são preservados como acento secundário
Quanto aos prefixos não acentuados como des-, in-, a- , o seu comportamento é
típico de um afixo sem acento próprio, apenas anteposto à esquerda de uma base e
Análise de dados 56
Essa forma livre é também denominada vocábulo formal ou palavra
morfológica (Câmara Jr., 1971 : 37). A palavra morfológica é um conceito que diz
Câmara Jr.) como preposição, conjunção e determinantes. Palavra fonológica, por seu
Para identificar a palavra fonológica, Câmara Jr. (1971 : 35) propõe uma pauta
acentos fortes, 1 para a pretônica e 0 para átonas após o acento.Um vocábulo fonológico
será identificado pela presença das tonicidades 2 ou 3. Assim, uma palavra fonológica
(19) INTERESSE
1 1 3 0
entanto a palavra fonológica pode ser menor que a palavra morfológica quando estamos
diante de seqüências como fala-se ou o livro, em que dois morfos formam uma só
palavra prosódica. E é maior em compostos por justaposição, por exemplo, em que dois
36).
Justaposição é definida por Câmara Jr. (1977 : 151) como “a reunião de duas
Análise de dados 57
Os prefixos, por exemplo, se comportam ora como palavra independente, ora
como uma típica forma presa. Observando os exemplos abaixo, verifica-se que em (20),
os prefixos des-, in-, pre- e pos- comportam-se como sílabas pretônicas da palavra, isto
(21), os prefixos pre-, pos, anti- e recém- mostram-se autônomos, como se fossem
membros de um composto.
(20)
DESALINHAR INFELIZ PREFIXO POSPOSIÇÃO
111 3 1 13 1 30 1 113
(21)
PRÉ-VESTIBULAR PÓS-GUERRA ANTIDERRAPANTE RECÉM-NASCIDO
2 1 1 1 3 2 3 0 20 1 1 3 0 1 2 1 3 0
domínio do pé que projeta seu acento individual, assim como o prefixo e o radical a que
ele se agrega e as formas mal, não e contra e a base a que elas se juntam. Em outras
(22)
GUARDA-CHUVA PÓS-GUERRA CONTRA-REFORMA NÃO-ALINHADO MAL-CUIDADO
2 0 3 0 2 3 0 2 0 13 0 2 11 3 0 2 13 0
Análise de dados 58
3.4 – Análise morfológica e semântica
3.4.1 – Mal
mal, e esta carregando uma idéia negativa (ver apêndice). Esse elemento mal é
classificado por Pereira ([1918]1940 : 194) como prefixo que traz a idéia de mau êxito.
(23)
a. MALTRATAR
b. MALFAZER
c. MALQUISTO
d. MALDIZER
O elemento mal nos exemplos (23a-d) é anteposto aos lexemas TRATAR, FAZER,
QUISTO e DIZER, adicionando uma nova informação à informação básica desses lexemas
contradição com as palavras TRATAR, FAZER, QUISTO e DIZER, mas apenas acrescenta
uma informação que especifica o significado dessas palavras. Assim, MALTRATAR não é
o oposto de TRATAR, mas é o mesmo que tratar mal, tratar com violência. MALDIZER não
é o contrário de DIZER, mas dizer mal, blasfemar, por esse motivo, tais palavras não se
Análise de dados 59
(24)
a) MAL-AMADO
b) MALFELIZ
c) MAL-ENGRAÇADO
verifica-se que a relação de sentido entre o elemento mal e a palavra a que ele se
adjunge é diferente, uma vez que se pode afirmar que MAL-AMADO é aquele que se diz
ENGRAÇADO é o mesmo que não ser engraçado. O mal nas formações de (24a-c)
Fuhrhop (2002). Verifica-se, nesses casos, que a posição do elemento mal é fixa, isto é,
autores como Alves (1992:101) e Cunha & Cintra (2001:80), por exemplo, defendem a
respeito do prefixo numa derivação prefixal. Por outro lado, em formações como as
Conforme apresenta Basílio (1974 : 90), na análise de uma palavra, distinguir o que é
elemento mal pode ocorrer como prefixo quando ele se antepõe a particípios e adjetivos
Análise de dados 60
e, mais raramente, verbos. Nesses casos, a posição do mal é relativamente fixa, o que
possibilita o advérbio de modo a ser reanalisado como prefixo. Sendo assim, nos
(23)
a) MALTRATAR
b) MALFAZER
c) MALQUISTO
d) MALDIZER
a ordem pode ser invertida (tratar mal, fazer mal, quisto mal, dizer mal). Já nas
formações em que o mal apresenta uma idéia negativa de oposição ou contradição, essa
ordem é mais fixa, ou seja, não se aceita inversões como amado mal, feliz mal e
engraçado mal.
principalmente, o fato de que esta palavra é assim definida no dicionário Ferreira (1986)
mal¹ [Do lat. Malu]. S. m. 1. Aquilo que é nocivo, prejudicial, mau; aquilo que
prejudica ou fere: Não deseje mal ao próximo; “Maldita sejas pelo Ideal
perdido! / Pelo mal que fizeste sem querer! / Pelo amor que morreu sem ter
nascido!” (Olavo Bilac, Poesias, p. 221) 2. Aquilo que se opõe ao bem, à
virtude, à probidade, à honra. (...) [Pl.: males. Antôn. : bem]
Análise de dados 61
12. Em desavença; em desacordo: Vive mal com os homens por amor de Deus.
[ Antôn.: bem] (...)
Trata-se de uma palavra que pode ser classificada ora como substantivo, ora
forma de palavra males refere-se ao lexema simples MAL, que pode se estruturar como
lexema simples (MAL) mais um outro lexema que pode ser simples (CONFIAR) ou
complexo (CHEIROSO). Essa estrutura refere-se ao que Matthews (1991 : 37) afirma ser a
estrutura das formações compostas, visto que cada formação nesses exemplos apresenta
a relação entre um lexema complexo com dois lexemas simples ou mais simples.
3.4.2 – Não
Na lista de formações com mal, não e contra (ver apêndice) as formações com
não são em menor número, apresentando 31 palavras em que o elemento não se antepõe
dos prefixos negativos do português, ao negar o sentido expresso por uma base adjetiva
ou substantiva.
Análise de dados 62
(25) base substantiva
a) NÃO-AGRESSÃO
b) NÃO-ALINHAMENTO
c) NÃO-INTERVENÇÃO
a) NÃO-ILUMINADO
b) NÃO-VERBAL
c) NÃO-LINEAR
um prefixo e adotar a noção de derivação prefixal. Segundo Alves (1992 : 101), o não
deve ser analisado como prefixo derivacional porque constitui um morfema fixo e
não tem o mesmo valor de elementos como des-, dis- e in- em exemplos como DESLEAL,
SEMELHANTE e CULTO.
acordo com o dicionário Aurélio (1986), a palavra não é definida como um advérbio na
língua:
Análise de dados 63
mais verbo, pode-se, então, incluir formações como as dos exemplos (26) entre as
formações compostas. Mas tendo em vista essa informação dada pelos gramáticos, as
palavras dos exemplos (25) formadas por um advérbio (NÃO) mais um substantivo não
(27)
37), ou seja, um lexema complexo que se relaciona à dois lexemas simples ou mais
simples.
(28) NÃO-ME-DEIXES
(29) NÃO-EU
verbo. A união desses vocábulos forma uma palavra que significa o nome de uma erva.
Em (29) a palavra NÃO-EU, formada a partir da junção do advérbio NÃO e o pronome EU,
Análise de dados 64
significado de cada membro da palavra. Nesse sentido, tais formações são consideradas
palavras compostas, tendo em vista a idéia presente em Cunha & Cintra (2001 : 105).
3.4.3 – Contra
formação de palavras ao ser anteposto a outra palavra, assim como as palavras MAL e
(30)
a) CONTRA-ATAQUE
b) CONTRA-REVOLUÇÃO
c) CONTRADIZER
Análise de dados 65
d) Oposição: contradizer, contramarca, contraquente, seu homônimo,
controverso.
a) CONTRA-REVOLUÇÃO
b) CONTRAPLANO
c) CONTRAMÃO
d) CONTRA-INDICAÇÃO
e) CONTRA-GOLPE
a) CONTRAPRODUCENTE
b) CONTRANATURAL
a) CONTRADIZER
b) CONTRA-ARGUMENTAR
c) CONTRAPOR
d) CONTRA-FAZER
Nos exemplos (31), (32) e (33) acima, o elemento contra é anteposto a bases
é aquilo que prova o contrário daquilo que se pretendia ou aquilo cujo resultado é
Análise de dados 66
Na gramática de Cunha & Cintra (2001:85), o contra também aparece entre os
Por outro lado, na proposta de Câmara Jr. (1977) e Eduardo Carlos Pereira
(1940), embora o contra seja classificado como prefixo por estes autores, as formações
com tal elemento são tidas como formações compostas. Segundo a definição de Câmara
Jr. (1977) para prefixo, este é uma variante presa das preposições, então o contra é um
será o núcleo e –ção a periferia; e na palavra RACIONAL, racion- será o núcleo e –al a
Ao definir raiz, Margarida Basílio apresenta que “Em geral, a raiz é definida
palavra” (Basílio, 1974: 89). Nesse sentido, a autora afirma que em formações como
CONTRACENAR, CONTRAPOR etc, o contra poderia ser considerado não-raiz, já que, como
e OPOSTO, Margarida Basílio afirma não haver motivo para considerar a existência de
Análise de dados 67
Então, segundo Margarida Basílio (1974 : 93-4), se o elemento contra é uma
forma livre na língua e pode ocorrer como raiz em construções como CONTRÁRIO, ele
e BEIJA-FLOR: todas apresentam duas palavras fonológicas. Por outro lado, as formações
com des-, in- e a-, como por exemplo DESLEAL, INFELIZ e AMORAL, caracterizam-se
gramáticos apresentam a problemática da prefixação, eles não citam essas formas anti-,
pré- e pós-, visto que são formas presas, assim como des-, in- e a-, e são facilmente
função semântica, e não sintática, ou seja, são processos que preenchem, em primeira
já existente em uma outra classe gramatical, como ocorre na derivação sufixal. Embora
Análise de dados 68
uma formação com prefixo possa mudar a classe gramatical do vocábulo, este não é um
distinguir uma da outra não é uma tarefa fácil. Quando se analisam as formas mal, não e
resultado ambíguo, pois ora tais formas são analisadas como prefixos, ora são
Análise de dados 69
CONCLUSÃO
radical e prefixo, considerando as formas mal, não e contra em exemplos como NÃO-
contra como prefixos. Outros as têm como composição, sendo tais formas, nessa visão,
facilmente identificados como formas as presas pré-, in- e des-, e os radicais são a parte
lexical de cada vocábulo, aqui, expandidos pelos prefixos. Essa diferença, no entanto,
anula-se quando o termo anteposto não é uma forma presa, mas uma palavra livre na
1ª) Em se tratando da pauta acentual entre formações com mal, não e contra
Conclusão 70
primário (presente numa sílaba do segundo membro nos
2ª) O critério semântico também não foi suficiente, uma vez que os elementos
mal, não e contra classificados seja como radicais, seja como prefixos em MAL-
se adjungem.
partir da junção de um lexema a outro lexema. MAL, NÃO e CONTRA são lexemas
Conclusão 71
simples, logo, palavras como MAL-AMADO, NÃO-ALINHADO, CONTRA-REVOLUÇÃO
não derivadas. Nesse sentido os elementos mal, não e contra são classificados como
palavra NÃO-COMPOSTO é uma composição, formada a partir da junção das palavras NÃO
e COMPOSTO. Não se trata, portanto, de uma derivação prefixal, visto que o elemento
Conclusão 72
APÊNDICE
1 CONTRA-ABERTURA
2 CONTRA-ALÍSIO
3 CONTRA-ARGUMENTO
4 CONTRA-ARRAZOADO
5 CONTRA-ARRAZOAR
6 CONTRA-ARRESTAR
7 CONTRA-ATACANTE
8 CONTRA-ATACAR
9 CONTRA-ATAQUE
10 CONTRA-AVISO
11 CONTRABANDA
12 CONTRABATERIA
13 CONTRABRACEAR
14 CONTRACEPÇÃO
15 CONTRACEPTIVO
16 CONTRACORRENTE
17 CONTRACOSTA
18 CONTRACULTURA
19 CONTRACURVA
20 CONTRADIÇÃO
21 CONTRADITA
22 CONTRADITADO
23 CONTRADITAR
24 CONTRADITÁVEL
25 CONTRADITO
26 CONTRADITOR
27 CONTRADITÓRIO
28 CONTRADIZER
29 CONTRA-EMBOSCADA
30 CONTRA-ENCOSTA
31 CONTRA-ESCRITURA
32 CONTRA-ESPIONAGEM
33 CONTRA-ESTIMULAR
34 CONTRA-ESTÍMULO
35 CONTRA-EXEMPLO
Apêndice 73
36 CONTRAFLOREADO
37 CONTRAFUGA
38 CONTRAGOLPE
39 CONTRAGOSTO
40 CONTRAGUERRILHA
41 CONTRA-IMPELIR
42 CONTRA-INDICAÇÃO
43 CONTRA-INDICADO
44 CONTRA-INDICAR
45 CONTRA-INFORMAÇÃO
46 CONTRALUZ
47 CONTRAMANDADO
48 CONTRAMANDAR
49 CONTRAMANIFESTAÇÃO
50 CONTRAMÃO
51 CONTRAMARCHA
52 CONTRAMARCHAR
53 CONTRAMARÉ
54 CONTRAMOVIMENTO
55 CONTRANATURAL
56 CONTRANATURALIDADE
57 CONTRA-OFENSIVA
58 CONTRA-OFERTA
59 CONTRA-OFERTAR
60 CONTRA-OITAVA
61 CONTRA-ORDEM
62 CONTRA-ORDENAR
63 CONTRAPALA
64 CONTRAPARTIDA
65 CONTRAPASSANTES
66 CONTRAPASSO
67 CONTRAPEÇONHA
68 CONTRAPELO
69 CONTRAPOR
70 CONTRAPOSIÇÃO
71 CONTRAPOSTO
72 CONTRAPRESSÃO
73 CONTRAPRODUCENTE
74 CONTRAPRODUZIR
75 CONTRAPROPAGANDA
76 CONTRAPROPOR
77 CONTRAPROPOSTA
Apêndice 74
78 CONTRAPROTESTO
79 CONTRAPROVA
80 CONTRAPROVAR
81 CONTRA-RAMPA
82 CONTRA-REFORMA
83 CONTRA-REPTO
84 CONTRA-REVOLUÇÃO
85 CONTRA-REVOLUCIONÁRIO
86 CONTRA-ROTURA
87 CONTRA-RUPTURA
88 CONTRA-SELAR
89 CONTRA-SELO
90 CONTRA-SENSO
91 CONTRA-SIGNIFICAÇÃO
92 CONTRATORPEDEIRO
93 CONTRAVALOR
94 CONTRAVENENO
95 CONTRAVERSÃO
96 CONTRAVERTER
97 CONTRAVIA
98 CONTRAVIR
99 CONTRAVOLTA
1 MAL-AFEIÇOADO
2 MAL-AFORTUNADO
3 MAL-AGRADECIDO
4 MAL-AJAMBRADO
5 MAL-AJEITADO
6 MAL-AMADA
7 MAL-AMANHADO
8 MAL-APANHADO
9 MAL-APESSOADO
10 MAL-APRESENTADO
11 MAL-ARRANJADO
12 MAL-ARRUMADO
13 MAL-AVENTURADO
14 MAL-AVINDO
15 MAL-AVISADO
16 MAL-AZADO
17 MALCHEIROSO
18 MALCOMPORTADO
19 MALCONCEITUADO
Apêndice 75
20 MALCONDUZIDO
21 MALCONFIAR
22 MALCONFORMADO
23 MALCONSERVADO
24 MALCONTENTADIÇO
25 MALCONTENTE
26 MALCUIDADO
27 MALDIGNO
28 MALDISPOSTO
29 MALDITOSO
30 MAL-ENGRAÇADO
31 MAL-ENSINADO
32 MAL-ENTENDIDO
33 MALFELIZ
34 MALGALANTE
35 MALGOSTOSO
36 MALGRADADO
37 MALGRADO
38 MAL-HUMORADO
39 MALJEITOSO
40 MALMANDADO
41 MALPROPÍCIO
42 MALPROPORCIONADO
43 MALQUERIDO
44 MALQUISTAR
45 MAQUISTO
46 MALSÃO
47 MALSATISFEITO
48 MALSEGURO
49 MALSISUDO
50 MALSOFRIDO
51 MALSORTEADO
52 MALSUCEDIDO
53 MALTRABALHADO
1 NÃO-AGRESSÃO
2 NÃO-ALINHADO
3 NÃO-ALINHAMENTO
4 NÃO-BELIGERÂNCIA
5 NÃO-COMBATENTE
6 NÃO-CONFORMISMO
7 NÃO-CONFORMISTA
8 NÃO-CONSERVATIVO
9 NÃO-CONTRADIÇÃO
10 NÃO-ENGAJADO
Apêndice 76
11 NÃO-ENGAJAMENTO
12 NÃO-ESSENCIAL
13 NÃO-EUCLIDIANO
14 NÃO-FICÇÃO
15 NÃO-HOLÔNOMO
16 NÃO-ILUMINADO
17 NÃO-INTERVENÇÃO
18 NÃO-INTERVENCIONISTA
19 NÃO-LIGADO
20 NÃO-LINEAR
21 NÃO-LOCALIZADO
22 NÃO-NULO
23 NÃO-PARTICIPANTE
24 NÃO-PERIÓDICO
25 NÃO-SATURADO
26 NÃO-SER
27 NÃO-SIMÉTRICO
28 NÃO-SINGULAR
29 NÃO-VERBAL
30 NÃO-VICIADO
Apêndice 77
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