Um “templo de luz”: Frente Negra brasileira (1931-37) e a questão da
educação. Petrônio Domingues 1α década após abolição e a Proclamação da República foram decisivas para o população negra no Brasil. -cativos (maioria) livres na decretação da lei Áurea. -George Reid Andrews (1991, p30) e observadores contemporâneos: Abolição “uma vitória do povo e uma conquista dos negros livres e escravos” e teria sido a 1º expressão de democracia da história do país. -Dávila, 2006): ideários do racismo científico + teoria do branqueamento em comum “espalhavam inferioridade dos não-brancos através da subordinação da cultura e da civilização a princípios biológicos.” -pressuposto racista presente academia, divulgados na imprensa, incorporados aos discursos médicos debatidos por políticos que adotaram para programas governamentais. -pto. De vista da população negra ser cidadão =direitos iguais e não ser visto como inferior. -inclusão marginal, discriminação racial, tratamento diferenciado e cidadania plena era um sonho distante para a população negra. -grupo de “pessoas de cor” (projeto) unem-se para reivindicar para buscar o reconhecimento, dignidade e educação passaram a ser prioridades. -1918: manchete do jornal O Alfinete apresenta analfabetismo presente em mais de dois terços da população negra. -Para mudar este quadro jornais da imprensa negra paulista solicitavam a “população de cor” que segue o caminho da educação formal. -associativismo negro: desenvolve-se nas primeiras décadas do século XX e educação um requisito fundamental para resolução dos problemas da “gente de cor” na sociedade brasileira. -Pinto, 1993, p238):associativismo enxergava na educação “uma maneira de o negro ganhar respeitabilidade para a vida profissional, de permitir-lhe conhecer melhor os seus problemas e, até mesmo, como uma maneira de combater o preconceito.” -Robin George Gollingwood, p337): conhecimento histórico é construído através de uma pergunta. -Perguntas que norteiam o artigo: Qual a trajetória da FNB no campo da educação? Como que a FNB resolveu o problema da educação? Quais foram as iniciativas da FNB no campo da educação? De que maneira estava estruturado o Depto. de Instrução ou da Cultura da FNB? Esse depto criou algum projeto político-pedagógico? De que maneira funcionavam a escola e os cursos criados pela FNB para combater o analfabetismo e a carência educacional no meio negro? Eles tinham recorte racial? Quem eram os professores? Quais eram os períodos e as séries ofertadas? Existia algum apoio ou subsídio estatal na escola? As primeiras experiências de escolas para negros depois da abolição. Domingues, 2004, p350: -Dado: ensino 1917 565 escolas particulares (SP); - 464 escolas brasileiras; -101 escolas colônias de imigrantes (italiano, alemã, norte-americana, portuguesa, suíça, francesa, inglesa). -1920: participação efetiva de estrangeiros (SP), população nacional (brancos/negros). -579.033 habit.; 205.245 estrangeiros -Florestan Fernandes (1978, p108): negros/mulatos (9%SP); 1934: 8,5% correspondendo a 52.112 pessoas SP em 1920 e 90.110 habt. SP em 1934. -Final do séc XIX e primeiras décadas do XX: SP cresce a urbanização, industrialização e setor de seriços. -Plano da educação em SP: existia escolas públicas, particulares, leiga, religiosa, profissionalizante e prendas domésticas. Neste contexto surge escolas específicas para “população de cor”. -Domingues fala que não havia concordância nas razões que levaram negros a criar as próprias escolas. -Provável hipótese: clima de tensão entre os grupos étnicos em SP por um “lugar ao sol.” -Demartini, 1989, p52-53): criando as próprias escolas os negros podiam competir com outros grupos étnicos de SP em pé de igualdade. -Outra explicação: teria sido uma resposta da população negra frente à discriminação racial na rede de ensino. -Domingues, 2004, p350): dificuldade no veto em matricular negros nas escolas públicas de SP. -1929: jornal Progresso 24 mar. 1929, p2: escolas não recebiam “pessoas de cor” em SP mesmo tendo condições de pagar. -jornal Progresso denuncia caso da filha do dr José Bento de Assis não foi aceita na escola College Sacre Colur dirigida por freiras por ser negras. -pós abolição: insucesso da população negra na criação de escolas deve-se aos fatores: Falta de recursos Ausência de apoio estatal Gestores c/qualificação precária nos projetos Tentativa de registro p/ entender aspecto ligado a educação na FNB -18 mai 1888 -5 dias após a abolição fundada em campinas Sociedade Beneficente Luis Gama. -Proposta: amparo social, entidade abre colégio oferecendo curso noturno p/trabalhadores adultos e cursos diurnos p/ jovens. -Maciel, 1997, p75: colégio encerra atividade na metade da dpecada de 1890 em meio às dificuldades. -1902:prof Francisco José de Oliveira cria em Campinas o colégio São Benedito p/ alfabetizar filhos de negros/mulatos. -1903:O Baluarte, 17 dez. 1903, p4: informava curso preparatório, do intermediário e exame de fim de ano do colégio São Benedito. -1907: 274 alunos matriculados, destes 124 eram filhos de imigrantes e 14 não pagavam. -1907:jornal O Propugnador 6 out. 1907 informava continuidade das aulas nos cursos diurnos/noturnos. Ensino regular, diário e aumentava o n. de matriculados apud Pinto, 1993, p240). -1908: reúne 422 alunos. -Domingues, 2004, p352) - 30 abril 1910: colégio S. Benedito é incorporado à Federação Paulista dos Homens de Cor. -1908: nova tentativa de erguer uma unidade educacional p/população negra de Campinas noticiada pelo Almanaque da cidade. Esta instituição educacional foi fundada pela Irmandade S. Benedito (1898) e funcionava em prédios separados. Seção masculina (19 alunos matriculados e o prof Teodoro Borges). Seção feminina (21 alunas matriculadas prof Ana de Almeida Cabral) (Pereira, 1999, p280-281). Experiência semelhante ocorreu em SP: -Rodrigues, 1987, p137-138) conta com depoimento de ex- alunos Irmandade Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos funcionou desde o sistema escravista como escola. -Domingues: tempo exagerado p/um estabelecimento educacional funcionar por muito tempo. Sociedades beneficentes: atenção voltada p/formação educacional da população negra. -Sociedade Beneficente Amigos da Pátria era responsável pela escola Progresso e Aurora aberta 13 mai. 1908 dirigida por Salvador Luis de Paulo, negro ex ativista do movim. Abolicionista. -1919: escola Progresso e Aurora abre classes mistas escola de negros de maior longevidade em SP. -jornal Progresso, 26 set. 1929, p7; O Clarim dÁlvorada 27 out. 1929 p3 mil e tantas pessoas atendidas nessa escola. - Domingues, 2004, p329): FNB: acúmulo de experiências organizativas dos afro-paulistas. De 1897 a 1930 funcionou 83 associações negras, destas, 25 (dançantes) 9 (beneficentes), 4 (cívicas), 14 (esportivas e 12 cordões carnavalescos. De 1897 a 1930associação Centro Cívico Palmares (1926-1929) entidade que mais se destaca seja na política, moral e cultural ou pela mobilização política da comunidade negra. -escola centro Cívico Palmares (1897-1929) desenvolveu uma escola com uma estrutura pedagógica. Funcionou na sede da entidade, aulas (manhã/noite). Ensinava a ler, escrever, contar, gramática, geografia, história, aritmética e geometria, prendas domésticas p/as mulheres. -Progresso 24 mar. 1929 p2 Centro Cívico Palmares teve um curso secundário, corpo docente negro e saíram alunos ingressantes em escolas superiores do país. Manteve bibliotecas, promove palestra cultural e institui movim negro em SP que foi um embrião da FNB. Uma incursão lacônica pela histórica da Frente Negra brasileira. -3 out. 1930: Vargas chega ao poder por meio de um golpe. Conjuntura de idéia política oposta instalada no país. Força política mobilizada em 2 frentes: esquerda/direita. Org. popular (c/base popular) + partidos da elite não çutaram a favor da população negra. 16 set. 1931: Pop. Negra abandonada pelo Estado e experiência no associativismo negro, a FNB é fundada porgrupo de “homens de cor”. Um mês depois: aprovado em assembleia no Salão das Classes laboriosas estatuto da FNB. A receptividade da população de ascendência. -trabalhos na historiografia sobre a FNB: Bastide e Fernandes(1977) Fernandes (1978) Moura (1980) Silva (1990) Pinto (1993) Butler (1998) Andrews (1991) Felizx(2001) Oliveira (2002) Silva (2003) -FNB: instalada (início escritório modesto com tempo muda p/R. Liberdade n. 196 (atual Casa de Portugal). -interior: várias salas (presidência, secretaria, tesouraria, reunião e diversos departamentos). -Pinto, 1993, p53): mantido salão de beleza, barbeiro,, local p/ jogos, gabinete dentário, posto alistamento eleitoral, espaço p/ funcionar escolas com curso profissionalizante, grupo teatral, musical e salão p/ festa e cerimônia oficial. -poder centralizado, estrutura hierárquica rígida e teve 2 presidentes. 1. Arlindo Veigas dos Santoss ficou no cargo até afastamento (junho 1934) 2. Justiniano Costa (era tesoureira da entidade. -origem social dos afiliados da FNB: funcionários públicos (baixo escalão), trabalhadores de cargos subalternos e seriço braçal, subempregados (maioria). -cargos de direção ocupados por negros inserido no estrato intermediário do sist. ocupacional da cidade. -Butler: trabalha c/pós abolição em SP em comparação c/outras regiões das Américas procurando entender padrões de resistência na luta dos descendentes africanos pela autodeterminação. Afro-paulistanos encontraram nas entidades e jornais negros um meio de conquistar igualdade na sociedade. -Salvador: existência de uma comunidade que funcionava junto em torno de uma identidade africana. -Butler,1998,p62-68: FNB passa a ser vista como uma entidade alternativa que integrou de modo semelhante as opções da comunidade negra semelhante a comunidade de Nova Iorque. -George Andrews 1998, p232-234): FNB junta vários programas com intenção de melhorar a vida do associado e conquistar vitória no campo civil. Eliminou políticas que admitiam brancos nos rinques de patinação e local de lazer público, levou ao conhecimento de Vargas veto que impedia negros de ingressar na Guarda Civil. Vargas ordena alistamento de 200 recrutas negros na Guarda Civil. -Pto. De vista política FNB defendia projeto nacionalista, Arlindo Veiga dos Santos era contra a democracia e fazia apologia ao fascismo europeu. -durante a semana eram feitas as domingueiras onde lideranças e intelectuais negros e brancos proferiam palestras, valores cíicos e políticos. -FNB: cria símbolos (bandeira, hino, carteira de associado, milícia frentenegrina, batalhão paramilitar composto por jovens). Mulheres tinham atuação em várias funções na organização. Cruzada Feminina recrutava negras p/trabalho assistencialista. Rosas Negras org. bailes, festivais artísticos. - Para desenvolver projetos foram criados os departamentos: Jurídico-social Médico (ou de saúde) Imprensa responsável pela publicação A Voz da Raça. Liberdade (ou Propaganda) Dramático (ou Artístico) Musical Esportivo Instrução. A Frente Negra Brasileira e a questão da educação Maior departamento: Instrução (cultura/intelectual responsável pela educação pegava ensino pedagógico formal e formação cultural /moral do indivíduo. -palavra instrução c/sentido de alfabetização/escolarização. Educação [e vista como mecanismo p/vencer “preconceito de cor”. Acreditava-se que marginalização do negro após abolição era devido a herança da escravidão. -Depto. de Instrução a cargo de José Maria de Assis Pinheiro que em 1933 é substituído por Aristides de Assis Negreiro e depois por Francisco Lucrécio que recebeu auxílio de Celina Veiga. -1932: Depto. cria curso de alfabetização p/jovem e adulto. -1933: instituição funda projeto escolar de nome Liceu Palmares ministrando ensino primário, secundário, comercial e ginásio. Aceitava alunos sendo ou não sócios da FNB, brancos e brasileiros ou não. Liceu não se concretizou e 1933 têm início aulas do curso ginasial e comercial. -1934:FNB tem curso de alfabetização (minoria) no início era vespertino depois passa a ser matutino. Alunos da escola da FNB tinha origem carente, associação fornecia material gratuito e uniforme e o custo desse material saía de eentos beneficentes. -1935:A Voz da Raça informava curso secundário mas não se tem certeza da validade dessa notícia. -1937: reunião no Teatro Municipal em comemoração 90º aniversário de nascimento de Castro Alves.