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PG35278 - Trabalho ISC
PG35278 - Trabalho ISC
Janeiro de 2018
SUMÁRIO
ABREVIATURAS .................................................................................................................................. I
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 1
2. JUSTIÇA SOCIAL NA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA PORTUGUESA ............................... 2
2.1. DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS ........................................................................................... 3
3. TRIBUTAÇÃO DO CONSUMO EM PORTUGAL .......................................................................... 4
4. IMPOSTO SOBRE O VALOR ACRESCENTADO ......................................................................... 7
4.1. PRINCÍPIOS ESTRUTURANTES ................................................................................................. 7
4.2. EFEITOS DISTRIBUTIVOS DA TRIBUTAÇÃO DO CONSUMO ........................................... 10
4.3. FIXAÇÃO DAS TAXAS DO IVA EM PORTUGAL .................................................................. 12
5. CONCLUSÃO .................................................................................................................................. 15
BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................................. 16
ABREVIATURAS
I
1. INTRODUÇÃO
Atento a essa premissa, este trabalho tem por meta verificar se as taxas estabelecidas
para o IVA cumprem, no seu âmbito de atuação, a finalidade constitucional do Estado
português de realizar a justiça social.
Para atingir esse fim o presente trabalho está dividido em quatro partes. Na primeira
serão descritas as principais disposições constitucionais relativas à promoção da justiça social,
de forma a averiguar a amplitude e a importância com que foi concebida. A segunda tem por
finalidade descrever como foi esquematizada a tributação do consumo na legislação
infraconstituicional. Prossegue-se, então, com o estudo do IVA verificando seus princípios
estruturantes, seus possíveis efeitos distributivos, as determinações comunitárias relativas às
taxas e seus reflexos no ordenamento lusitano. Por último, a conclusão contém um breve
resumo do que foi apresentado e os resultados inferidos pelo autor.
1
Conforme reportado pelo Observatório das Desigualdades do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do Instituto Universitário de
Lisboa em https://observatorio-das-desigualdades.com/2017/12/06/reducao-da-desigualdade-e-da-pobreza/, acessado em 11/12/2017.
2
Informações coletadas na Base de Dados de Portugal Contemporâneo (PORDATA), acessado em 12/01/2018, em
https://www.pordata.pt/Portugal/Receitas+fiscais+do+Estado+total+e+por+alguns+tipos+de+impostos-2765.
1
2. JUSTIÇA SOCIAL NA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA PORTUGUESA
A justiça social não coloca o acento tónico no plano individual, nem olha para os
indivíduos como tal, mas como componentes do jogo ou todo social [...] A haver
necessidade de sacrifar uma das posições, o plano social tem clara prevalência. Há
portanto uma diferença de grau quando passamos do plano das relações inter-
individuais para o das relações sociais.
2
2.1. DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS
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Desde a sua promulgação em 1976, a Constituição foi objeto de sete revisões. As alterações mencionadas ocorreram especialmente na
primeira e na segunda revisões constitucionais, levadas a efeito pelas LC nº 1/82 e LC nº 1/89.
3
regional do produto nacional (art. 90º); na política agrícola, a melhoria da situação
económica, social e cultural dos trabalhadores rurais e agrícolas (art. 93º); e, em relação ao
sistema fiscal, a repartição justa dos rendimentos e da riqueza (art. 103º).
Quanto aos impostos, define que a tributação do rendimento das pessoas singulares
será orientado para a diminuição das desigualdades; a do património, de forma a contribuir
para a igualdade dos cidadãos; e a do consumo para adaptar a estrutura do consumo à
evolução das necessidades do desenvolvimento económico e da justiça social, onerando os
consumos de luxo (art. 104º).
Logo, resta inequívoca a orientação da Carta Magna portuguesa para dignificar o ser
humano, com a redução das desigualdades sociais existentes. O vocabulário utilizado
demonstra grande inquietação com a correção das desigualdes e marca de forma específica
essa prioridade, sendo patente a grande ênfase outorgada pela Carta lusa à justiça social.
Nesse sentido, a conclusão de Otero (2010, p.49): “Em suma, a Constituição de 1976
permite observar todas as condições para ser possível a edificação de um genuíno Estado de
direitos humanos [...]”.
Descritas as disposições constitucionais, será, então, apurado como foi concebida a
tributação do consumo em Portugal.
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produção, comércio ou prestação de serviços, importação de bens e operações
intracomunitárias (art. 2º do CIVA).
O facto gerador é, para a transmissão dos bens, o momento em que estes são postos à
disposição do adquirente; para a prestação de serviços, o momento de sua realização; para as
importações, o momento determinado pelas disposições aplicáveis aos direitos aduaneiros
(art. 7º, 1 do CIVA).
É um imposto não cumulativo no sentido de que em cada fase do circuito económico o
imposto suportado a montante pelo agente económico é subtraído do imposto que onera a
operação por ele efetuada a jusante.
Nas palavras de Nabais (2015, p. 545-546):
Visa, assim, alcançar o consumo, o que só corre quando o bem ou o serviço é prestado
para um consumidor final – o contribuinte de fato, verdadeiro onerado pelo imposto – que não
utilizará o bem ou o serviço para produzir outro serviço ou bem a ser ofertado a terceiros.
Incidindo sobre determinados produtos, os impostos especiais de consumo atendem ao
objetivo de harmonizar a tributação no âmbito do Direito comunitário, o que decorreu,
inicialmente, da Directiva nº 92/12/CEE, para os produtos petrolíferos e energéticos, álcool e
bebidas alcóolicas, e o tabaco manufacturado. Esses impostos especiais estão reunidos no
CIEC, aprovado pelo Decreto-Lei nº 73/2010, e são três: IABA, ISP e IT, todos de caráter
monofásico.
Além da natureza arrecadatória, os impostos especiais de consumo possuem
finalidades extrafiscais em virtude de os produtos por eles onerados provocarem elevados
custos sociais e económicos nos domínios da saúde pública e do meio ambiente. Surgem,
assim, como meio de dissuadir o seu consumo pelo aumento da carga tributária.
Nos termos do artigo 66º do CIEC, o IABA incide sobre a cerveja, os vinhos, outras
bebidas fermentadas, os produtos intermédios e as bebidas espirituosas, genericamente
designadas por bebidas alcoólicas, e sobre o álcool etílico, genericamente designado por
álcool.
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O ISP incide sobre gasolinas, gasóleos, petróleos, fuelóleos, e quaisquer outros
produtos destinados ao uso como carburantes ou combustíveis (com exceção da turfa), e
eletricidade (art. 88º do CIEC).
Sobre cigarros, charutos, cigarrilhas e quaisquer outros produtos de tabaco, incide o
IT, nos termos do artigo 101º do CIEC.
São sujeitos passivos o depositário autorizado e o destinatário registado. No caso de
fornecimento de eletricidade ao consumidor final, os comercializadores, definidos em
legislação própria, os comercializadores para a mobilidade elétrica, os produtores que vendam
eletricidade directamente aos consumidores finais, os autoprodutores e os consumidores que
comprem eletricidade através de operações em mercados organizados. No fornecimento de
gás natural ao consumidor final, os comercializadores definidos em legislação própria (art. 4º
do CIEC).
Para os impostos especiais de consumo o facto gerador é a produção, a importação, a
entrada no território nacional de produtos oriundos de outro Estado comunitário, e nos casos
específicos da eletricidade e do gás natural, o momento do fornecimento ao consumidor final
por comercializadores definidos em legislação própria (art. 7ºdo CIEC) .
Disciplinado em apartado do CIEC, o ISV foi regulado no Código do Imposto sobre
Veículos, aprovado pela Lei nº 22-A/2007, e incide sobre veículos automóveis ligeiros de
passageiros, de mercadorias e de utilização mista, automóveis de passageiros com mais de
3500 kg, autocaravanas, motociclos triciclos e quadriciclos. Excetuam-se os veículos
elétricos, movidos a energias renováveis não combustíveis ou não motorizados, as
ambulâncias e automóveis ligeiros de mercadorias, de caixa aberta, sem caixa ou de caixa
fechada que não apresentem cabina integrada na carroçaria, com peso bruto de 3500 kg, sem
tração às quatro rodas (art. 2º).
Conforme o artigo 3º, os sujeitos passivos são os operadores registados, os operadores
reconhecidos e os particulares que procedam a introdução no consumo desses veículos,
mesmo que de modo irregular.
O facto gerador é o fabrico, a montagem, a admissão ou a importação desses veículos
em território nacional, quando estejam obrigados à matrícula em Portugal.
Como se pode perceber, o facto gerador do IVA é distinto do facto gerador dos
impostos especiais de consumo, inclusive no que concerne ao momento de incidência, o que
resulta numa sobreposição do imposto geral (IVA) com os impostos especiais (IABA, ISP, IT
e ISV). Dessa forma, o IVA incide sobre o valor da mercadoria acrescido do valor do imposto
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especial de consumo incidente sobre o mesmo produto, fato que é criticado por constituir uma
triutação dobrada sobre um mesmo fato económico de consumo.
A dicussão sobre a incidência do IVA sobre o ISV já foi objeto de apreciação pelo
Tribunal de Justiça da União Européia no Processo C-106/10, em que a Lidl & Companhia se
opunha à Fazenda Pública de Portugal. Em Acórdão de 28/07/2011 foi decidido o cabimento
dessa dupla incidência nos seguintes termos:
Princípios jurídicos ocupam uma posição central no estudo do Direito. Com elevado
grau de abstração, eles dão unidade ao ordenamento porque orientam a construção de um
sistema legal tendencialmente harmônico. Conhecê-los permite ao intérprete resolver
situações complexas e supostamente contraditórias.
No intuito de aceder a esses instrumentos de interpretação, serão analisados, segundo a
doutrina de Vasques (2017, p. 105-127), os princípios estruturantes do IVA, quais sejam:
neutralidade, igualdade, tributação no destino e proibição do abuso.
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Importante ressaltar que os princípios ora estudados devem ser entendidos e aplicados
não apenas internamente, mas também no âmbito da União Européia, visto que o IVA
implantado em Portugal atende requisitos uniformes no universo comunitário. Assim, os
princípios da neutralidade, da legalidade e da proibição do abuso têm sua lógica aplicável
tanto às operações intracomunitárias como às operações internas.
Quanto ao princípio da tributação no destino, este tem valia na tributação
intracomunitária visto que, nas operações internas, a tributação ocorre na origem mas, se
ocorresse no destino, a sua administração continuaria a cargo do fisco lusitano, sem ocasionar
maiores problemas.
Vasques (2017, p. 105) aponta a neutralidade como o princípio dominante no âmbito
do IVA:
Segundo o princípio da neutralidade, o imposto não deve interferir nas decisões dos
agentes económicos: para os produtores e prestadores de serviços, quanto à definição da
atividade e o modo de a exercer; para os consumidores, na liberdade de definir o que
consumir. Com essa prerrogativa de escolha, seriam alcançadas a eficiência económica e a
perfeita alocação dos recursos existentes no mercado.
Considerando o setor produtivo, a neutralidade é garantida pelo sistema de dedução do
IVA que incide sobre o custo dos diversos elementos formadores do preço (não
cumulatividade) que, assim, não se incorporam ao valor final da atividade exercida. Esse
sistema impede que haja, em cada etapa do circuito económico, uma incidência do IVA sobre
o custo de produção majorado pelo próprio IVA incidente sobre os fatores de produção
(incidência em cascata), permitindo que esse imposto se desloque pelas diversas etapas sem
efeito cumulativo, onerando somente o consumidor.
Da ótica consumista, a imposição do IVA deve atingir a maior quantidade possível de
produtos e serviços, a uma taxa uniforme, de maneria que não os onere desigualmente e não
se torne um fator importante a orientar a decisão do que será consumido.
Inicialmente o princípio da neutralidade foi reconhecido como uma projeção do
princípio da igualdade de tratamento em termos de IVA. A igualdade estaria presente se todo
o conjunto de produtos e serviços fosse tributado, com a mesma taxa, isto é, se fosse atendido
o princípio da neutralidade.
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No entanto, a igualdade tem conteúdo próprio e perpassa de forma transversal todo o
universo jurídico. Vasques (2017, p.112) entende que:
Logo, o princípio da igualdade tem campo de aplicação mais amplo, não se prestando
somente para resguardar a livre concorrência.
O princípio da tributação no destino se contrapõe ao da tributação na origem.
Segundo o princípio da tributação na origem, são onerados bens e serviços produzidos
em determinada jurisdição independentemente do destino, o que resulta em encargos idênticos
nas operações internas e nas exportações. Por conseguinte, as importações estão afastadas da
imposição.
Quando adotado o princípio do destino, a incidência ocorre na jurisdição onde bens e
serviços são consumidos, sem que se considere a procedência. Bens e serviços importados ou
produzidos localmente suportam igual ônus e as exportações restam desoneradas.
Originalmente a União Européia tencionava adotar a tributação na origem pois
reproduziria no panorama comunitário a sistemática da tributação característica de um estado
unitário, solução mais adequada para a integração económica pretendida. No entanto, a
neutralidade só seria garantida se as taxas de IVA das diferentes jurisdições fossem iguais ou
razoavelmente próximas. Caso contrário, as exportações tenderiam a se deslocar para a
jurisdição com menores taxas.
Na ausência de harmonização, foi adotado na União Européia o princípio da tributação
no destino que, conforme Vasques (2017, p.121):
Na esfera privada há uma autorização tácita que permite que se faça tudo o que o
ordenamento legal não proíbe. No entanto, em determinados casos, a correção formal esconde
tentativas de obter o que legalmente não seria possível. Atende-se a norma, desrespeitando o
seu “espírito”, isto é, maculando o que se busca proteger.
O princípio da proibição do abuso age em socorro à essas situações. Traça um limite à
autonomia privada. Logo, embora seja lícito aos contribuintes de IVA optar por caminhos que
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minimizem a tributação, não podem alcançar resultado que se “revele manifestamente
chocante face ao espírito da lei e face aos objetivos que fundamentam todo o sistema”4.
Por vezes com origem em planeamento fiscal, operações ou modelos de negócio
artificiosos são adotados obedecendo formalmente a lei, faltando-lhes, porém, verdadeiro
substrato económico. Seu principal objetivo não se relaciona ao produto das transações
simuladas, mas à redução do ônus tributário. Conforme o princípio da proibição do abuso,
essas operações devem ser desconsideradas no que tange aos efeitos mitigadores da
tributação.
Importante ressaltar que os princípios da legalidade e da proibição do abuso são
comuns a vários ramos do direito.
Já a tributação no destino e a neutralidade têm uma ligação visceral com o IVA, e por
objetivo quase exclusivo a regulação do mercado por meio da eliminação de obstáculos à
iniciativa privada e à livre concorrência, não expandindo suas preocupações para a órbita da
Justiça Social.
Um tributo é regressivo à medida que tem uma relação inversa com o nível de renda
do contribuinte. A regressão ocorre porque prejudica mais os contribuintes de menor
poder aquisitivo. O inverso ocorre quando o imposto é progressivo, pois aumenta a
participação do contribuinte à medida que cresce sua renda, “o que lhe imprime o
caráter de progressividade e de justiça fiscal: arcam com maior ônus da tributação os
indivíduos em melhores condições de suportá- la, ou seja, aqueles que obtêm
maiores rendimentos”.
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Vasques (2017, p. 122)
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Estudo organizado pela OCDE analisa o comportamento da tributação sobre o
consumo e contesta a suposta regressividade do IVA (OECD, 2014, p. 47):
[...] VAT systems are regressive when measured as a percentage of current income,
but are generally either proportional or slightly progressive when measured as a
percentage of expenditure.
Dessa forma, quando medido em função do gasto (consumo) dos indivíduos, o IVA
não seria regressivo.
No entanto, no caso das parcelas mais pobres da população, o referido estudo entende
que a renda seria o melhor critério a utilizar (OECD, 2014, p. 35-36), concluindo que:
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Além de ser inexequível sob o ponto de vista da administração tributária, impor uma
taxa maior a determinado produto ou serviço em função de seu valor económico ofenderia o
mencionado princípio da neutralidade, ocasionando distorções no mercado.
No entanto, na seara dos impostos sobre o consumo, há o princípio da seletividade.
No magistério de Greco (2013, p. 3632):
Esse parece ser o comando constitucional (art. 104º, 4) ao determinar que o imposto
sobre o consumo promova a adaptação da estrutura do consumo à evolução das necessidades
do desenvolvimento económico e da justiça social e onere os consumos de luxo. Prescreve,
assim, que se gradue a carga tributária conforme a essencialidade do produto ou do serviço.
Por meio da seletividade, é possível efetuar uma distribuição mais justa da imposição
tributária sobre o consumo. Com certeza, não o será com a exatidão obtida no imposto de
renda das pessoas singulares, em que se acede de forma directa à capacidade económica
específica do contribuinte.
Contudo, no uso da seletividade, essa tentativa não de todo perfeita, repousa uma
possibilidade de utilizar o IVA como instrumento de diminuição das desigualdades sociais.
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Directiva 2006/112/CE e alterações posteriores.
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A taxa normal de IVA deve corresponder a uma percentagem do valor tributável, não
inferior a 15% e idêntica para bens e serviços (arts. 96º e 97º).
Os Estados-Membros podem adotar até duas taxas com percentual reduzido em
relação à taxa normal, não podendo assumir valor inferior a 5%, aplicáveis tão somente a bens
e serviços das categorias previstas em lista anexa (arts. 98º e 99º). Constam dessa relação, por
exemplo, produtos alimentares, produtos farmacêuticos, equipamento médico, entradas em
espaços culturais e competições esportivas, alojamento em hotéis e serviços de restauração.
Importante observar que entre os contemplados com a possibilidade de taxas
reduzidas, há bens e serviços que atendem necessidades essenciais (alimentos,
medicamentos), mas também outros relacionados a políticas econômicas e sociais.
Figuram ao lado desse regime geral um conjunto de disposições específicas e
temporárias que atendem situações particulares de determinados países e produtos, bem como
casos excepcionais anteriores à constituição do mercado único, prevendo, assim, o uso
limitado de taxas zero ou inferiores à 5%.
Resta claro, ainda, que não é permitida a adoção de taxas agravadas, isto é, taxas de
valor superior à taxa normal fixada.
Relevante, ainda, verificar os casos de isenção.
Isenção é a dispensa legal de pagamento de tributo. Nessas situações há a ocorrência
de facto gerador, isto é, embora determinado facto esteja abrangido na previsão legal abstrata
como passível de gerar tributação, a lei dispensa o seu pagamento.
Vasques (2017, p. 316) assim se refere à isenção no âmbito comunitário:
No artigo 132º da Directiva IVA, constam as isenções com forte componente social e
caráter distributivo (saúde, assitência social, educação, cultura, etc). As isenções devidas a
razões técnicas estão listadas no artigo 135º e têm como justificativa dificuldades práticas de
aplicação (serviços financeiros, operações imobiliárias e jogos de azar).
Considerando a estrutura e os níveis das taxas do IVA adotadas na União Europeia,
surge uma constrição a comando constitucional em virtude da impossibilidade de onerar, por
meio de taxa agravada, os consumos de luxo, nos termos do artigo 104º. Este fato não passou
pela percuciente análise de Nabais (2015, p. 437):
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[...] teria sido, a nosso ver , mais avisado, ter eliminado da Constituição essa
referência à oneração dos consumos de luxo, evitando assim colocar o legislador na
situação de incumprimento da referida imposição constitucional[...]
Nos termos do artigo 18º do CIVA, foi fixada a taxa normal em 23%, com duas taxas
reduzidas de 6% e 13%. Em relação às Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira, foram
estabelecidas taxas diferenciadas. Nos Açores, taxa normal de 18%, e reduzidas de 4% e 9%;
em Madeira 22%, 5% e 12%.
Ressalte-se que o tratamento diferenciado das regiões insulares consta de forma
expressa no artigo 105º, 2 da Directiva atual:
Portugal pode aplicar, às operações efectuadas nas Regiões Autónomas dos Açores e
da Madeira e às importações efectuadas directamente nestas regiões, taxas de
montante inferior às aplicadas no Continente.
Bens e serviços sujeitos a taxas reduzidas constam das Listas I e II, anexas ao CIVA.
Na Lista I, à qual se aplica a menor das taxas, abrange produtos alimentares essenciais, livros
e jornais, produtos farmacêuticos, aparelhos e utensílios para portadores de deficiência,
serviços e produtos ligados à produção agrícola e aquíquola, dentre outros. Na Lista II, sujeita
à taxa de 13%, 12% ou 9%, encontram-se, por exemplo, produtos alimentícios de maior valor
agregado, gasóleo agrícola, utensílios e alfaias agrícolas, entradas para espetáculos culturais e
instrumentos musicais.
O capítulo II do CIVA (arts. 9º ao 15º) contém o regime das isenções que, em termos
gerais, acompanha o sistema traçado na Directiva comunitária, muitas vezes repetindo com
exatidão os seus dispositivos. Alcança, assim, produtos e serviços de caráter eminentemente
social (serviços médicos. transmissão de órgãos, sangue e leite humanos; transporte de
doentes ou feridos; serviços ligados à assistência social; serviços educativos, culturais e
desportivos) e, por impossibilidade técnica, serviços financeiros, operações imobiliárias e
jogos de azar.
A aplicação de taxas inferiores às Regiões Autónomas demonstra a clara intenção de
diminuir a carga tributária local, de forma a promover a correção das desigualdes derivadas da
insularidade dessas áreas.
Embora esteja vedada a utilização da seletividade por meio da adoção de taxas
agravadas, houve a sua implementação por meio das taxas reduzidas e da isenção.
Produtos e atividades essenciais foram gravadas com menor ônus, ou mesmo
isentadas, de forma a privilegiar o consumo das classes mais necessitadas, buscando alcançar,
mesmo que de forma imperfeita, uma distribuição da carga fiscal mais justa, onerando com
maior rigor os economicamente mais afortunados.
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5. CONCLUSÃO
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BIBLIOGRAFIA
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