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REVISTA

GOTHIC
STATION
ESTILO & CULTURA
N º 1 - Maio 2017

FAMÍLIAS
GÓTICAS
Família, filhos,
trabalho, gatos...

Entrevistas exclusivas:
LACRIMOSA
CLAN of XYMOX
Das PROJEKT
AleX TWIN
Paul HODKINSON
O que é moda
VITORIANA? 1750-1800:
Literatura Gótica

STATION to STATION:
A evolução dos estilos musicais que amamos!
AGRADECIMENTOS Bem vindos! ÍNDICE
Sem o apoio de todos vocês a revista GOTHIC STATION Apresentamos a primeira
não existiria. MUITO OBRIGADO aos que apoiaram revista gótica nacional.
Esperamos que apreciem nossos
pelo financiamento público! :-) primeiros passos nessa jornada.
Gothic Station # 1 - Maio de 2017:
PATRONOS: Elaine Cardoso Márcia Alfredo Nosso time:
Carliany de Jesus Ribeiro
Marcell Diniz De C. Chaves
Wagner Galesco
Elaine Jesus
Elen Cristina Pinheiro
Elton Jose Pereira
Marcos Corvinus Mattos
Marcos Henrique
Mariana Gomes
KIPPER
Editor geral e de arte, infoartista,
2 COMPORTAMENTO: Famílias Góticas

Alexandre Paschoaletto
Elton Marques
Erica Santos
Erika Duarte Pinheiro
Monica Viciious
Monique Santana
Munique Gomes Moura Santana
ilustrador e office-boy da revista,
também escreve sobre literatura,
música e realiza entrevistas. 10 ENTREVISTA: Paul Hodkinson

12
Alexandre Souza Trabalha desde 1988 na
Everson alencar da silva Nayara Soares impresa brasileira e portuguesa.
Aline Schlaepfer Monteiro
Alinne Lee
Fábio pereira matias Nina De Marco Estudou Letras e Literatura. MÚSICA- HISTÓRIA: Gerações
Fabrício Caetano Moraes Osvaldo Kenmei Saito Gótico desde 1990, co-fundador

16
Amanda Brandão Alves
Fausto Saglauskas Dias Paulo Nojento do site Gothic Station em 2008,
Ana América Faria
Ana de Oliveira Bueno
Felipe Marangoni Pontes Pedro Moraes dos Anjos Autor de “A Happy House in a Black MÚSICA- DESTAQUES 2016 & 2017
Fernanda Guaitulini Fernandes Rafael Castro Guarienti Planet”, entre outras obras.

18
Ana Frehmaz www.gothicstation.com.br
Franci Dietrich Raquel Carneiro
Ana Luísa Borin Trevisan
Analy Layla Nut
Gabi Sampaio Ohi Renan Eduardo SANA SKULL ENTREVISTA: Ronny Moorings & Xymox
Gabriela Santos Rodrigo Ortiz Vinholo Escreve sobre moda, estilo e história

22
Andre
Gaspar Henrique Souza Júnior Rômulo Meira Lima Ferreira Filho da moda. Estudou Design de Moda,
Andre Felipe Fillus Piaunoski
Andreia Maria Delfino da Silva
GB XB- Cláudio Gimenez Roosevelt Oliveira é Jornalista, Consultora e pesquisado- MODA: Estilo Vitoriano Sana Skull
Gilberto Valente De Oliveira Sana Teixeira Mendonça ra de História da Moda, fundadora

28
Anelize Opolis do blog “Moda de Subculturas”.
Guilherme C. Wuthrich Sara de Rosa & Thiago Torres
Ângelo Paradiso Júnior Se interessou pela subcultura
Antonielle Ferreira da Silva do Carmo
Guilherme Seabra De Mello Shaiene Nasser Do Nascimento
gótica quando adolescente, se
ENTREVISTA: Tilo Wolff & Lacrimosa
Gustavo Duarte Simone Silveira Venzel

32
Beatriz Thaísa Watanabe tornando estilista de moda gótica
Hellays Tatiane Fernandes Suelen Cristina Spadafora
Bianca Nobre Boisson para algumas marcas. Seu trabalho
Bianca Schwarz
Henrique Cunha Carvalho Talita Bazzo Rauber de criação abrange o gótico, punk, CINEMA: 3 Filmes influentes dos 70’s
Hewerton de Moura Nery Thaís de Paula

34
Bruna Guimarães fetichismo e também figurinos.
Humberto Luminati Thiago Benevides www.modadesubculturas.com.br
Bruno Alvares de Siqueira
Bruno Fischer Dimarch
Janaína Paula Thiago de Paula
ADRI AMARAL
ENTREVISTA: Marcelo Kpta & Das Projekt
Janistorp Pereira de Sá Thiago Meyer

38
Caio Tarnowski Escreve sobre cybercultura e
Janys Rocky Tiago Rocha
Camila Makie culturas alternativas. É Pós-Doutora
Carlos Asa
Jean Riè Valber de Andrade Oliveira em Mídia, Cultura e Comunicação pela CYBERCULTURA: História Adri Amaral
Jéssica Cleofer Amaral de Abreu Van Stille

40
Caroline Iwasaki Ferri University of Surrey (UK). Professora
Jessica De Moura Hepp Vanessa Barreiros Maurici da Pós-Graduação em Comunicação
Caroline Pazini Cavalcante
Cassia Larrubia
Jessica Mayara Vitória Bulgari da UNISINOS-RS. Autora, entre ENTREVISTA: Alex Twin & Wave Records
João Marcos Vitória Rodrigues outros, do livro “Visões Perigosas:

44
Cassia Silva
Joao Paulo DeMoura Walison Henrique Silveira uma arque-genealogia do cyber-
Claudio Martins
Claudionor Valle Junior
Josiane- loja Purple Shadows Wandeclayt Martins de Melo punk”(2006). Suas pesquisas versam LITERATURA: 1750-1800 H. A. Kipper
Junior Spades Bonifácio Wellington Matos sobre subculturas, cultura digital,

49
Cleide Mara Acosta ficção-científica e cultura de fãs.
Jussara Santos Matos Wenderson Oliveira
Cleidson Barbosa de Oliveira www.adriamaral.com
Cristiano Barbosa da Silva
Karina Cruz Wilame Araújo HUMOR: Mondo Muerto
Karoline Rente William Borges Da Silva ORLANDO
Cristiano Maia Ferreira A modelo da capa da frente é nossa
Kmyla Löhnhoff Willis Carmo Publicou em toda imprensa brasileira
Cristiano Silva que se dá ao respeito e foi a cara da amiga Snow, em foto de seu casamento
Leandro Alves da Silva Xaena Silva Santos
Daniel Bandt Cafre Folha de São Paulo de 1985 a 2011. em estilo Gótico com Demetrios.
Leilane Ravenscroft Yasmin da Silva Amarante
Daniela Martins www.orlandopedroso.com.br Snow é professora de português no ensino
Liz santos Silva
Débora Silva fundamental e médio. Além disso, o casal
Lony OFern CAU GOMEZ
Deivid Silva de Souza
Dennis Lurm
Lucas Rocker OBRIGADO! :-) Desde 1988 um dos ilustradores e resgata animais de rua por conta própria,
Luis Felipe Castro Alencastro cartunistas brasileiros mais premiados então se alguém quiser ajudar com doações
Dérek Aron nacional e internacionalmente. ou de outra forma, pode contatá-los pelo
Luna Daimon
Diego de Oliveira Lopes da Silveira www.flickr.com/photos/caugomez facebook abaixo:
Lupus Wolfgang
Diego Void
Mandy Oliveira
Dimitri Brandi de Abreu CONTATO: facebook.com/snowhitesnow0
Mânica S. Lima
Dricah G Rpz henrique_kipper@yahoo.com
Marcelo José da Silva
Edson Ferreira Lima (11) 981596458 Capa posterior: Foto Lacrimosa/Divulgação
Marcelo reis Vasconcellos
Eduardo Neves

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COMPORTAMENTO

FAMÍLIAS
GÓTICAS

O monstro que espreita sorrateiramente sob as portas das


famílias góticas é o mesmo que atormenta qualquer família: as
contas. As criaturas sob a cama das crianças são os inescapáveis
labirintos de bagunça. O líquido negro e pegajoso que escorre
por nossos corpos é o café para acordar cedinho e ir para
mais um dia de trabalho...

O horror mesmo só aparece


quando temos que encarar uma
sociedade que acha que empala-
mos animais em sacrifícios satâ-

ILUSTRAÇÃO: ORLANDO PEDROSO


nicos e somos apenas uma crise
da adolescência. Nessa série de
entrevistas com famílias góticas
brasileiras e com o sociólogo in-
glês Paul Hodkinson, vamos ver
uma realidade bem diferente.

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Ao lado, Astarty, seu consorte,
seus três filhos, suas três noras,
a irmã... e sua primeira neta,
que ganhou uma festa especial
de ao celebrar seu primeiro aninho,
com temática da Malévola

O SEU ESTILO JÁ TEVE ALGUMA


JULIANA CONSEQUÊNCIA PROFISSIONAL?
Não!
O TEMPO: Tenho 34 anos, moro com
meu pai, meus dois filhos e minha O ESTILO INFLUI NO COTIDIANO?
sobrinha. Influi no lado positivo, todos acham
muito bacana e respeitam muito!
FILHOS: Tenho dois filhos, um casal.
A Bella 8 e o Ícaro 6 anos Principalmente os sobrinhos, acham o
máximo. Esses dias eu e meu pai está-
A VIDA: Sou trancista afro e revendo vamos conversando, ele disse:
FOTOS: ARQUIVO PESSOAL
moda íntima.
Meus filhos estudam, meu pai é apo- “Nossa, filha, eu pensei que essa fase
sentado e minha sobrinha é estoquista de você usar preto ia passar, mas eu
em uma perfumaria da região. fazendo as contas aqui você se veste
Moro em Franco da Rocha desde que assim (de preto sempre) e ouve essas
me conheço por gente (risos). músicas desde os seus 16 anos...

OS FILHOS E O ESTILO: Meus filhos Quebrei a cara, sua mãe dizia que
Juliana, sentada ao centro,
encaram na maior tranquilidade, gos- quando viessem seus filhos tudo ia
ladeada por seus filhos,
tam muito! mudar, mas não mudou! (risos)”
a sobrinha e o pai

O ENCONTRO: (risos) Pra variar nos O COTIDIANO: (Astarty) No meu co-


ASTARTY, conhecemos através de amigos em co- tidiano sempre trouxe inspiração, seja
ROBERT & CIA. mum, mas começamos a namorar mes- como for, nunca me atrapalhou. Le-
mo foi num evento gótico em Janeiro vando em conta que os vizinhos estra-
O TEMPO: Eu tenho 50 primaveras e de 2012 e curtimos tudo juntos. nham um pouco quando a galera sai
o Robert tem 32 e estamos juntinhos de casa para ir aos eventos com trajes
há 5 anos. FILHOS E O ESTILO DOS PAIS: (As- vampirescos (risos), e até fazem sinal
tarty) Depois que me separei fui viver da cruz!
OS FILHOS: (Astarty) Eu tenho 3 filhos somente eu e meus filhos e acho que
do primeiro casamento e uma netinha. vivi minha adolescência junto com Mas isso me diverte. Mas já levamos
(Robert) Não tenho filhos, mas tenho eles, sempre deixei livre a escolha de muitos elogios nas ruas, tem pessoas
minha gata Frida (risos). cada um, porém nunca tive problemas que admiram o estilo, mas jamais usa-
em usar coturno em casa (risos), hoje riam.
A VIDA: (Astarty) Moro em São Paulo, sou avó e já curto fazer trajes góticos
tive muitas profissões, sou formada na para minha princesa, meus filhos cur- HISTÓRIAS DA VIDA: (Astarty) Hoje
vida (risos), atualmente sou modista e tem meu estilo de vida e participam em dia o estilo gótico tem variações
tenho meu próprio atelier e atuo no es- sempre, somos uma família unida pela lindas, desde o vestuário ao repertório
tilo alternativo das subculturas, trajes liberdade de ser quem somos. musical, eles se entrelaçam de forma
FOTO: ARQUIVO PESSOAL

e figurinos de época, etc... harmônica e eu consigo ver essa bele-


TRABALHO: Com certeza, nossos esti- za, pra mim é um estilo de vida não um
(Robert) Sou autônomo e formado em los às vezes chocam algumas pessoas, rótulo ditado pela cultura ou socieda-
elétrica, atualmente auxilio no atelier e mas na maioria os inspira. Como lido de, quando começa o ser gótico fluir,
resido em São Paulo. com moda isso me favorece muito. você percebe infinitas possibilidades.

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Paulo e Mayumi, além das COMPORTAMENTO

FOTO: ARQUIVO PESSOAL


atividades em educação e gestão,
também integram a banda Elegia

é back-up vocal do Elegia e desenvolve HISTÓRIAS DA VIDA: Houve um lar, pretende ser químico. Atualmente
PAULO & MAYUMI um trabalho na área de Gestão de Pes- show que fizemos e o Victor era bem estamos focados 100% no comércio
soas/Marketing. pequeno, mas como era de dia ao ar de nossos próprios produtos de nossa
O TEMPO: Eu (Paulo) tenho 46, esta- livre ele foi conosco, só que ele teve empresa de saboaria artesanal, velas e
mos juntos há quase 22 anos. Tenho O ENCONTRO: A conheci numa festa uma crise de bronquite e a Mayumi perfumes artesanais: A Mil e um Aro-
um filho agora com 14 anos. na casa do Marcelo D’Angelo, o gui- teve que levá-lo ao hospital e acabou mas.
tarrista do Elegia, com amigos em co- nem participando do show, e eu em
A VIDA: Somos nascidos e residimos mum. Depois de alguns anos que ela respeito aos fãs que foram nos assis- Trabalhamos também com diversos ar-
em São José dos Campos – SP. Meu passou no Japão nos reencontramos e tir fiz o show, embora preocupado. No tesanatos em biscuit como bruxinhas,
filho, Victor, nasceu em Kawasaki no começamos a sair e então veio o casa- final da apresentação já de volta do magos e incensários. Temos o Stand de
Japão. Trabalho como vocalista do mento e fomos morar no Japão. hospital a Mayumi e ele assistiram da nossa loja Gotik Acessórios nas bala-
Elegia e professor de inglês, japonês e platéia. das góticas e alternativas de São Paulo
português para estrangeiros, Mayumi FILHOS E O ESTILO: Ele cresceu nos vendendo acessórios do estilo alterna-
acompanhando desde bebê em es- tivo da Gotik Acessórios:
ANA & LEO túdios de gravação, ensaios, shows, SARA & THIAGO gotikacessorios1.loja2.com.br
e para ele tudo aquilo era normal, o
O TEMPO E A VIDA: Leo: 32, Ana: 25; visual que usávamos, os amigos, os O TEMPO: Sara: tenho 32 anos. Thia- O ENCONTRO: Nos conhecemos atra-
Estamos juntos há 3 anos. Leo: Cabe- ambientes. Ele usava bastante roupi- go: tenho 25. Estamos juntos há 5 vés da página do Orkut da extinta casa
leireiro, Ana: Auxiliar administrativo. nha preta, coturninho e compartilha- anos. paulistana Aeroflith. Onde mais tarde
Estamos grávidos do nosso primeiro va do mesmo estilo de música, filmes trabalhamos por um bom tempo com
filho. e livros. Naturalmente, quando ficou OS FILHOS: Juntos temos o nosso o stand até seu fechamento em 2016.
maior ele deixou de nos acompanhar bebê Douglas de um ano e cinco me- Tivemos ótimos momentos lá, foi onde
O ENCONTRO: Nos conhecemos entre como a maioria dos adolescentes e ses. Já fui casada anteriormente e te- começamos a namorar e ficamos noi-
amigos e conhecidos, sempre frequen- procurou mais sua própria identidade nho o Andersom de 10 anos. Moramos vos.
tamos as mesmas festas. e respeitamos suas escolhas. todos juntos.
OS FILHOS E O ESTILO: É bem tran-
COMO ESPERAM QUE O FILHO(A) A VIDA E O ESTILO: Quando eu era A VIDA: (Sara) Sou formada em Publi- quilo, não temos problemas. O mais
VEJA O ESTILO DE VOCÊS? Natural- mais novo e trabalhava em banco e cidade e Propaganda porém não exerço velho está acostumado. Como cresceu
mente será apresentado no dia a dia e, ainda começava na banda, o visual ti- a profissão. Thiago vai prestar vestibu- vendo o estilo pra ele é bem comum. O
logo, será de sua livre escolha. nha que se adaptar ao ambiente. Sem-
pre há aquelas pessoas inconvenientes
O ESTILO TEM CONSEQUÊNCIAS em qualquer ambiente social que im- Sara e Thiago, os filhos
PROFISSIONAIS? Ana: De certa ma- plicava. Claro que exceto pelo cabelo, e o gato compartilham
neira sim, em muitos momentos, há a que prendia para trabalhar, o resto não o cotidiano da atividade de
dúvida, o pré julgamento das pessoas. impactava tanto. Já em shows e apre- micro-empreendedores

FOTO: ARQUIVO PESSOAL


No caso do Leo uma consequência po- sentações do Elegia estava em meu

FOTO: ARQUIVO PESSOAL


sitiva, pois o lugar exige que tenha um ambiente aí o visual é algo que faz
estilo próprio. parte e me sinto em casa.

O COTIDIANO: Por ele ser DJ e ouvir- O COTIDIANO E O GÓTICO : Na famí-


mos música com frequência, temos a lia, alguns parentes se incomodavam
cena como uma coisa presente dentro um pouco por usar preto. Mas na vida
da nossa casa. Inclusive com visita de pouco tempo na cena e infelizmente, Ana e Leo moram adulta isso teve pouca influência, No
amigos, decoração da casa e agora or- talvez por falta de conhecimento, aca- em Porto Alegre Brasil as pessoas de modo geral se in-
ganizando vestuário do bebê. bam sendo preconceituosos da mesma e estão grávidos comodam com os que não seguem o
forma. padrão estabelecido.
HISTÓRIAS DA VIDA: Infelizmente,
existe o pré julgamento de quem está Este é só um exemplo do que ao lon- E sempre me senti um pouco de fora
há mais tempo na cena (nacional) e de go de anos percebemos que acaba de tudo que a maioria gostava. Tanto
uma forma meio que disfarçada acon- ocorrendo, mas acredito que sendo que não senti muita diferença quando
tece a discriminação sobre o visual, co- um pouco mais receptivos e pacientes morei no exterior porque já me sentia
nhecimento musical e literatura, como podemos diminuir este pequeno pro- um pouco estrangeiro em meu próprio
também existem pessoas que estão há blema. país.

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FOTO: ARQUIVO PESSOAL

FOTOS: ARQUIVO PESSOAL


bebê ainda não entende, mas acredito
que vá pelo mesmo caminho, pois já
está crescendo acompanhando de per-
to o estilo.

O ESTILO E O TRABALHO:
Como trabalhamos com o público góti-
co, é bem tranquilo e o estilo faz parte
do nosso negócio. Quando estamos
trabalhando com o público de fora te-
mos uma postura diferente, temos que
saber diferenciar e atender os diferen-
Caroline, Luiz e o mais
tes públicos da maneira adequada.
novo integrante da famí-
Como somos uma pequena empre- lia
sa muitas pessoas ainda não nos O ESTILO GÓTICO INFLUENCIA NO
conhecem, então temos que pas- Gerôncio, Natasha LUIZ E CAROLINE COTIDIANO? E muito! É o nosso
sar uma imagem de confiança pra e Dayve grande momento de paz quando esta-
Luiz e a filha O TEMPO: Luiz: Eu tenho 34 anos. Ca-
que a pessoa conheça nossos pro- mos em casa, sempre dando uma pes-
mais velha roline: Tenho 21 anos. Estamos juntos
dutos e indique para os conhecidos. quisada em materiais novos e revendo
Mesmo porque fazemos muitos sa- há 4 anos. os que temos também, passeios com a
bonetes de lembrancinhas e não tem família, embora não imponhamos nos-
OS FILHOS E O ESTILO: Acredito que O COTIDIANO FAMILIAR: Dayve OS FILHOS: Luiz: Tenho 1 filha de um
cabimento irmos falar com uma noiva
ou com uma futura mamãe do mes- GERÔNCIO E por mantermos nossas responsabilida- Gahan, nosso filho, usava cabelo gran- relacionamento anterior. Caroline: Te-
so estilo no cotidiano de nossos filhos
(compramos roupinhas, pretinho bási-
mo jeito que vamos pra balada. Não NATASHA des para com eles, com nosso dia a dia, de até pouco tempo. Ele sozinho deci- nho 1 filho. co, mas nada que dite a regra de que a
é questão de se esconder e sim de ser eles veem como algo saudável. Res- diu cortar. Nós não interferimos. Ele é vida será assim), educamos eles como
profissional. O TEMPO: Gerôncio Ferreira: tenho peitam e acreditam que somos felizes uma criança que gosta de estudar e ler. A VIDA: Luiz: Trabalho no setor de se- crianças que estão nas descobertas,
43 anos e Natasha Felix tem 26 anos. com o que somos. gurança privada e sou DJ amador nas curtindo realmente.
O COTIDIANO É DIFERENTE? Estamos juntos há cinco anos. As vezes que ele sai conosco, e sempre noites de lazer. Caroline: Trabalho com
Única diferença é que por traba- O ESTILO E O TRABALHO: Em nossa vai do jeito dele, sentimos que conosco telemarketing e atualmente estou com HISTÓRIAS DA VIDA: Somos uma fa-
lhar em eventos durante a noite es- FILHOS: (Gerôncio ) Tenho dois fi- atividade, como em qualquer outra, há ele tem uma tendência natural a querer a matrícula da faculdade de Biologia mília comum igual a todas as outras,
tamos fora de casa e aí as crianças lhos. A menina mora com a mãe em muita concorrência. usar preto. Como um tipo de inspira- trancada para cuidar do meu filho que trabalhamos, pagamos nossas contas,
ficam sob os cuidados de alguém outra cidade. E o menino mora co- Hoje nós temos vários clientes e con- ção, nós mesmos nunca pedimos isto nasceu. Moramos em Sorocaba/SP. educamos nossos filhos, sempre res-
de confiança. Fora isso, temos a ro- migo e Natasha. Ele não é filho de tinuamos mantendo alguns adereços a ele. peitando a todos, com a velha frase do
tina comum de qualquer família. Natasha mas, após a morte da mãe fisicos corriqueiros como piercings e O ENCONTRO: Nos conhecemos em “respeite e seja respeitado”
dele, ele encontrou em Natasha tatuagens. Mesmo assim, não perde- Percebemos também que ele se sente um evento alternativo e desde então
Muitas pessoas acham que o estilo gó- um apoio materno. Ele a conside- mos cliente algum. melhor quando está conosco em al- não nos largamos mais! A sociedade hoje está muito mais
tico é uma revolta passageira ou coisas ra como se fosse sua mãe biológica. gum passeio no qual nós estamos com aberta comparado há anos atrás, e a
nesse sentido. Mas dentro desse esti- Mas, para tanto, temos que estar dia- algum visual mais exagerado. OS FILHOS O ESTILO: Minha filha ampla difusão da informação sobre
lo existem muitas pessoas que traba- A VIDA: Nossa formação é segundo riamente nos capacitando para manter mais velha (6 anos) nos vê com total o estilo gótico, isso eliminou falsos
lham, são pais e mães de família. grau completo e diversos cursos técni- um melhor atendimento e proporcio- HISTÓRIAS DA VIDA: Como casal naturalidade pois desde bebê já nos contos sobre o estilo e seus adeptos,
cos. Hoje nós temos nosso próprio es- nar melhores soluções. Isto nos man- nós produzimos eventos. Nosso filho via assim, provavelmente acontecerá o começa em casa com a família, na vizi-
Trabalham da mesma maneira que critório que atende diversas empresas têm no mercado, mesmo com estes sempre nos ajuda nas montagens. Ele mesmo com nosso caçula de 5 meses! nhança, no trabalho, sempre um passo
qualquer outra pessoa de outros seg- do ramo farmacêutico com assessoria apetrechos notórios. Conseguimos um gosta de participar das montagens, de de cada vez; forçar as coisas só faz o
mentos. É um trabalho como outro tecnológica e administrativa. Residi- respeito profissional e pessoal com ver as bandas chegando, os primeiros O TRABALHO E O ESTILO: Há sem- diferente ser diferente com aquele ar
qualquer que exige responsabilidade e mos hoje na cidade de Campina Gran- nosso clientes. Quebramos determina- do público. Às vezes quer até ficar no pre a curiosidade dos colegas, pergun- de preconceito, temos que continuar
respeito principalmente com o público de/PB. das barreiras. evento. Mas, como é muito novo, ter- tas saudáveis sobre o estilo gótico, e sendo diferentes, mas como iguais a
que nos mantêm. mina que ainda não dá. sempre o respeito prevalece, nos sen- todos, pois é assim que somos.
O ENCONTRO: Nos conhecemos em Alguns até já chegaram a comparecer timos bem à vontade no trabalho em
Há muitos empresários de sucesso e um evento gótico na cidade de Recife. em eventos góticos e, aqui e ali, alguns Mas, é empolgante saber que ele tem relação ao estilo e entusiasmados por
comprometidos que com todo cuida- A partir disto fomos nos encontrando sempre perguntam o porquê do estilo. esta forma respeitosa de nos perceber. que a aceitação está melhor encarada
do, esforço e carinho trabalham sério em outros evento e agora estamos con- Isto é muito empolgante e nos mantêm Não como pais. Mas, como pais que do que há alguns anos, independente
e tem dentro do estilo o seu sustento. tinuando nossas vidas juntos. mais firmes em nossos gostos. são diferentes no cotidiano social. do ambiente profissional.

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PAUL HODKINSON/ ARQUIVO PESSOAL

ENTREVISTA
CULTURAS

SEM acredito que as pessoas querem pen-


sar sobre suas identidades subculturais
como algo que envolve diferenciação e,
talvez, um grau de oposição às formas
dominantes de fazer as coisas, mas
isso pode às vezes se tornar mais di-
mas frequentemente a participação
das pessoas se adapta e muda na me-
dida em que elas envelhecem- elas en-
contram formas de permanecerem en-
volvidas que são compatíveis com suas
vidas adultas.
necessariamente tanta conexão com a
versão da cena gótica que foi e é o foco
de minha pesquisa.

Apesar disso, há vários elementos das


minhas descobertas que ainda acredi-

IDADE
fícil quando você tem filhos, carreiras to válidos, por exemplo, a importância
profissionais e tudo o mais. “pensaria a da identidade coletiva, comprometi-
mento, hierarquias de status, a impor-
GS: Usualmente lemos sobre “sub-
culturas juvenis” ou “estudos subcul- continuidade tância de diferentes formas de mídia
(embora aqui as redes sociais fizeram

da participação
turais juvenis”. Essa classificação de uma grande diferença, é claro) e a for-
todo desvio como um fenômeno “jo- ma claramente translocal pela qual a
Paul Hodkinson vem” não apontaria para algum tipo cena funciona.
e algumas de suas obras de pré-conceito que considera que
“crescer” e se tornar maduro significa mais como (...) A principal diferença para os góticos
se encaixar em algum tipo de “norma-
lidade”? Isso também levanta muitas
questões sobre o que, afinal, “ser jo-
formas mais velhos, porém, é que seu nível de
comprometimento prático tende usual-
mente a se reduzir ao menos um pouco

Paul Hodkinson é um sociólogo britânico cujo trabalho é focado


vem” significa, não é mesmo? especiais – assim, as pessoas nos seus trinta ou
quarenta anos saem menos frequen-

nas culturas jovens, comunicações online e nos relacionamentos


PAUL HODKINSON: Acredito que essa
questão dialoga com minha resposta de vida adulta” temente, não ficam fora mais até tão
tarde e fazem um visual de estilos leve-
anterior e, sim, eu realmente acredito mente menos extremos do que os que
entre mídia e identidades culturais. Sua pesquisa recente é focada que há uma tensão aí. Resumindo, há Assim, pensaria a continuidade da
participação mais como um acompa-
faziam quando eram mais jovens.
uma pressuposição na qual a juventude
no uso da comunicação online pelos jovens e no processo de constitui um período temporário de re- nhamento de formas especiais de vida O senso de identificação com a cena,
adulta, e não como uma fixação na
envelhecimento entre os participantes de subculturas “jovens”. belião seguido por uma eventual aco-
modação em uma vida adulta normal. adolescência.
todavia, parece frequentemente per-
manecer muito forte.
GS: Anos atrás (2002) você publicou
Em 2012 o entrevistamos especial-
mente para o site Gothic Station sobre
questões, relacionadas à cena gótica e
ciam fortemente identificadas com o
Gótico como uma comunidade.
volvendo no Reino Unido e Europa? Os
góticos são mais aceitos aí como algo
que pode ser mais do que uma crise da
“a participação “Goth: Identity, Style and Subcultu-
re”, baseado em suas pesquisas nos
Paul Hodkinson
é autor ou co-autor
aos grupos subculturais, que se torna-
ram ainda mais atuais em 2017.
E, mais interessante ainda, os mais
velhos não eram nem um pouco soli-
adolescência? das pessoas anos anteriores. Se naquele momento
a subcultura gótica estava ainda viva
e crescendo, a última década mostrou
dos livros:

GS: Um recente artigo seu abordou a


tários: partes da cena inglesa são cres-
centemente dominadas pelos maiores
PAUL HODKINSON: Uma pergunta
muito interessante. As imagens dos se adapta um florescimento ainda maior, uma
disseminação de estilos góticos e no-
- “Goth: Identity, Style
and Subculture”
(2002).
questão “Envelhecimento e Cena góti-
ca”. Quando chegamos a esse ponto,
poderíamos considerar que a fluidez
de 30. góticos na mídia permanecem confu-
sas no Reino Unido, mas acredito que,
pelo menos, as representações midiá-
e muda” vas apropriações subculturais. Todos
esses desenvolvimentos confirmaram - “Youth Cultures: Scenes,
e multiplicidade de identidades na
pós-modernidade - uma teoria quase
“As imagens ticas estão gradualmente mudando do
que anteriormente eram artigos base-
A pressuposição é que pessoas jovens
são capazes de vivenciar a rebelião
suas descrições anteriores?

PAUL HODKINSON: Acredito que a


Subcultures and Tribes”
(2007)
hegemônica até alguns anos atrás - é,
pelo menos, um fenômeno não gene- dos góticos ados em pânico moral sobre automu-
tilação ou adolescentes satânicos em
cultural de uma forma que os adultos,
com suas responsabilidades maiores,
natureza, tamanho e significância da
cena gótica em diferentes partes do
-“Media, Culture and Society”
(2010)
na mídia
ralizado? direção a uma compreensão de que os não são. mundo, até um certo ponto, e a conti-
góticos são com frequência bastante nuidade da relevância dos meus escri-
PAUL HODKINSON: Com certeza, classe-média, focados nas suas carrei- Isto dificulta como entender as coisas -“Ageing and Youth Cultures:
tos de dez anos atrás, seriam provavel-
acredito que a tendência crescente
para algumas pessoas permanecerem permanecem ras profissionais e, às vezes, pessoas
com valores familiares que, em muitos
quando pessoas mais velhas continu-
am a manter uma forte conexão com as
mente diferentes em diferentes países.
Music Style and Identity”
(2012)
envolvidas em (sub) culturas “jovens”
aos 30 anos e depois disso sugere um
nível de comprometimento e perten-
confusas” casos, já ultrapassaram seus anos de
adolescência.
subculturas aparentemente “jovens”
ou “joviais”.
No Reino Unido, acredito que a prin-
cipal diferença de quando fiz minha
Ele é “Senior Lecturer” no
Departamento de Sociologia
pesquisa é que a média de idade da na Universidade de Surrey,
cimento que não é considerado pelas GS: Também no Brasil, podemos ver O foco dessas representações (NT: da Essas pessoas deveriam ser vistas cena gótica cresceu radicalmente, pois
sugestões de que música e estilo são uma cena gótica com pessoas desde a mídia) frequentemente é na surpresa/ como se agarrando a sua juventude, em Surrey, UK.
muitas pessoas continuaram envolvi-
agora dominados pela fluidez e indivi- adolescência até os 40 ou 50 anos de fascinação de que estilos subculturais como falhando em crescer ou como em das depois dos trinta e dos quarenta
dualização. idade. Vemos as pessoas namorando, aparentemente diferenciados/rebeldes negação de suas crescentes realidades Para conhecer mais
anos, enquanto o recrutamento de no- seu trabalho, visite seu
casando, se formando, desenvolvendo podem algumas vezes ser o aspecto adultas? Eu tendo a discordar desta in- vos adolescentes parece ter se reduzi-
De fato, o que observei no caso de gó- as mais variadas profissões, mas per- exterior do que são, as vezes, vidas e terpretação como um todo. site de professor doutor
do um pouco. na Universidade de Surrey:
ticos mais velhos era muito mais um manecendo conectadas à cena gótica. identidades relativamente comuns em
fenômeno coletivo. Embora as pessoas outros aspectos. Há um elemento de juventude na par- Também, muitas das pessoas que se
estivessem crescentemente compro- A mídia e o senso comuns locais não ticipação dos mais velhos em cenas www.surrey.ac.uk/sociology/
ligam aos visuais e sons góticos ten- people/paul_hodkinson/
metidas com suas carreiras, famílias, perceberam isso completamente. Isso é algumas vezes um ponto de des- como a gótica (ainda envolve sair, be- dem a se tornar envolvidos em cenas
etc., elas frequentemente permane- Como você vê essa situação se desen- conforto para próprios góticos, é claro, ber, montar um visual e tudo mais), relacionadas, como a emo, e não tem

10 GOTHIC MAIO 2017 GOTHIC MAIO 2017 11


H.A.Kipper ESPECIAL MÚSICA

NAS
LINHAS
DA
SUBWAY
Lembra do desenho do átomo com a forma de
pequenas esferas circulando um núcleo maior?
Mesmo sabendo que está longe do real, esse
desenho nos ajudou a aprender e a fazer coisas
incríveis com a energia nuclear...
INFOARTE: KIPPER

12 GOTHIC MAIO 2017 GOTHIC MAIO 2017 13


ESPECIAL MÚSICA

Aqui, desenhar as linhas musicais al- Um dos nomes essenciais para en-
STATION th Group, Talking Heads, Blondie,
TO STATION
tir do nada, nos mais diferentes es- em que tudo se mistura, o clima da épo- Blood, Golden Apes, Deathcamp
ternativas como linhas de metrô é tender essa evolução é o alemão Suicide, Père Ubu e The Ramones. tilos. Isso vale para o Industrial ca. Se a maioria das bandas góticas da Projekt, ASP, Star Industry, Mono
algo parecido: tentamos mostrar algo Karlheinz Stockhausen, com quem também, e origens do eletrônico. época eram wave ou post-punk, o uni- Inc., Soror Dolorosa, Merciful Nuns,
que se assemelha a linhas de energia membros da banda Kraftwerk estu- Influenciado pelos Beats, esse punk verso de bandas post-punk e new wave Ariel Maniki & The Black Halos, etc.
em movimento. Como os átomos, daram. As experiências com fitas, norte-americano era bem mais varia- Nos Estados Unidos temos a banda é muito, muito maior do que o gótico.
bandas e estilos podem estar em mais loops e música computacional come- do, com temáticas poéticas e ao mes- New York Dolls (1970-1974) e uma gera- LINHA ETHNO/ MEDIEVAL
de um lugar ao mesmo tempo, se mis- ça com esses eruditos, e também o mo tempo agressivas, líricas mas in- ção, ligada ao clube CBGB, que conta- Bandas post punk /new wave: PIL, Dead Can Dance, Estampie, Corvus
turar, compartilhar... questionamento de “o que é música”. tercaladas com arroubos sônicos. Um va com grupos como Richard Hell and Wire, The Smiths, Echo and the Bun- Corax, QNTAL, Daemonia Nymphe,
pouco diferente do punk desenvolvido The Voidoids, Television, Patty Smith nymen, U2, Killing Joke, Stranglers, Faun, Omnia, Irfan, Trobar de Morte,
LINHA BEATNICK As experiências de Stockhausen e a por Malcoln McLarem a partir de 1976 Group, Talking Heads, Blondie, Suicide Gang of Four, além das bandas do etc.
O movimento Beatnick começa na vi- popularização dos sintetizadores nos com os Sex Pistols: este outro punk e The Ramones. Isso tudo até 1976. Na “proto-punk” norte americano que
rada dos anos 1940 para os 1950 (du- anos 1960 espalharam o experimen- tem uma temática mais extrospectiva Inglaterra, a geração 77 é famosa: Sex continuavam em atividade... e bandas LINHA ETHEREAL WAVE
rando até o final dos 60’s) fundado talismo, que chegou ao pop e músi- e política. Pistols, The Clash e Damned. classificadas como tipicamente góti- Cocteau Twins, Black Tape for a Blue
em existencialismo, música jazz livre, ca alternativa no final dos anos 60. cas, como The Cure, Siouxsie & The Girl, Cranes, Collection D’Arnell An-
boemia urbana obscura e, claro, a poe- Aqui chegamos à estação Krautrock. GLAM ROCK STATION DICA DE LEITURA: “Mate-me por Fa- Banshees e Bauhaus, etc. Já o Joy Di- drea, Lycia, Sopor Aeternus, Love
sia e literatura de Allen Ginsberg, Jack O Glam-Rock brilhou (e como...) de vor”, volumes 1 e 2, de Legs McNeil e vision acaba em 1980 e seus membros Spirals Downwards, Ataraxia, Love is
Kerouac e William Burroughs. Mais KRAUTROCK STATION 1970 a 1975. O estilo se caracteriza por Gillian McCain formam o New Order. Mas já estamos Colder Than Death, Ophelia’s Dream,
tarde, The Doors, Velvet Underground, Krautrock é o nome que se dá ao ex- uma temática hedonista-decadentista, indo para outras estações... O Quam Tristis, Helium Vola, Theodor
Nico e Andy Warhol, trouxeram algo perimentalismo no Rock alemão do fi- androginia, e um rock básico com mui- INDUSTRIAL STATION Bastard, Autumn’s Grey Solace, Otto
novo. O estilo de poesia de Jim Morris- nal dos anos 60 e ao longo dos anos to suingue. & LINHAS INDUSTRIAIS LINHA DEATHROCK Dix, etc.
son e Lou Reed se tornam referências. 70. Mistura rock, psicodelia, eletrônica O termo “Industrial” teria sido sugeri- A linhagem norte americana se ini-
experimental, música concreta, eletro- Mas também havia lugar para muito do por Monte Cazazza: “música indus- cia nos anos 80 com Christian Death, LINHA COLDWAVE/ DARKWAVE
No final nos anos 60 parte dos beats acústica, minimalismo, proto-indus- lirismo, folk, cabaret e poesia. Ex: trial para pessoas industriais”. A ideia Community FK, 45 Grave, Eva O, Heltir Twilight Ritual, Poesie Noire, Trisomie
se torna mais espiritual, político e co- trial, música erudita moderna, jazz e T-Rex, New York Dolls, Iggy Pop (& era uma “não música” que satirizasse e Shadow Projekt. A britânica evolui 21, Pink Industry, Clan of Xymox, Der-
lorido, gerando os Hippies. Outra parte quase tudo que se possa imaginar… Stooges), David Bowie, Lou Reed, o mundo. Após 1976, na Inglaterra, os simultaneamente com Alien Sex Fiend, rière Le Mirroir, Kirlian Camera, In Mi-
segue urbana, simbolista e existencia- Roxy Music, Sweet, Slade, Gary Glit- mesmos conceitos eram desenvolvidos Sex Gang Children, Specimen. tra Medusa Inri, The Frozen Autumn,
lista, evoluindo para o proto-punk nor- Influenciou tanto o post-punk quan- ter, etc. pelos pioneiros do Throbbing Gristle, Other Day, Untoten, 3Cold Men, Leba-
te americano. to a música Industrial e as tendências do Cabaret Voltaire e do Clock DVA. No final dos anos 80 surge o Mephis- non Hanover, Zanias, Drab Majesty,
eletrônicas, além do post-punk, a new Ícone do periodo, David Bowie tam- Em 1980, na alemanha, surge o Eins- to Walz. Depois do suicídio de Rozz etc.
DICA DE LEITURA: “Beat Punks”, de wave, o synth e a EBM. bém recriou o conceito do artista, turzende Neubauten. Williams, precursor do estilo, em 1998,
Victor Bockris vivendo personagens para melhor temos um revival do estilo com novas LINHA SYNTH GOTH/ ELECTRO
O próprio termo EBM (Electronic Body expressar seus ideais artísticos. A ima- Muitos grupos transitam nas mistu- bandas que viram para o século XXI: Die Form, Anne Clarck, Deine Lakaien,
LINHA ROCK’N’ROLL Music) é cunhado pelos membros do gem do personagem passa a ser parte ras Industrial/EBM, Synth-Pop/Electro Cinema Strange, Deadfly Ensemble, Cassandra Complex, Wolfsheim, Das
É fácil perceber a influência de rock tradi- Kraftwerk em 1977, apesar de o esti- da obra de arte musical completa. ou EBM/Metal. Bandas importantes: Bloody Dead And Sexy, Hatesex, etc. Ich, Clan of Xymox, In Strict Confi-
cional dos anos 50 e 60, especialmente lo que conhecemos como EBM ter sua Das Ich, Skinny Puppy, Front Line As- dence, Silke Bischoff, Kirlian Camera,
em bandas de gothic rock ou post-punk. fundação oficial depois, especialmente O Glam-Rock influenciou diretamente sembly, The Young Gods, Ministry na LINHA POST PUNK/WAVE/GOTHIC Diary of Dreams, The Cruxshadows,
com FRONT 242. o Punk, o Post Punk, New Romantics sua fase até o começo dos anos 90. The Cure, Siouxsie and The Banshees, Terminal Choice, L’ Ame Imortelle,
A partir dos anos 70 o rock se subdivi- e Góticos, tanto na musicalidade como Joy Division, X-Mal, Love & Rockets, Seelenkrank, Blutengel, Tristesse de la
de em uma multidão de subestilos que Na mesma entrevista para a revis- em suas temáticas e estética, sendo Ao longo dos anos 90, se popula- Ikon, The Shroud, Switchblade Sym- Lune, Solar Fake, Ashbury Heights, Se-
não é nosso objetivo aqui aprofundar. ta Sounds em 1977 é usado o termo que muitas das primeiras bandas Gó- rizou o chamado “Industrial”, com phony, Inkubus Sukkubus, Faith and elennacht, Massive Ego, etc…
De Elvis a Beatles e Rolling Stones, até “Coldwave” para bandas minimalistas ticas pareciam e soavam muito como muitos elementos de Rock ou Metal, The Muse, Corpus Delicti, Diva Des-
Kinks, The Beach Boys e Animals no como Kraftwerk que também influen- bandas Glam-Rock, como o Bauhaus e mas que não tem mais a experimen- truction, Frank The Baptist, Ego Like- LINHA EBM
final dos anos 60, chegando a Doors e ciou todo o Synth. o Specimen. tação do Industrial original. Estes são ness, The Beauty of Gemina, She Past FRONT 242, Nitzer Ebb, Klinik, Neon
Velvet Underground. EX: Kraftwerk, Can, Neu!, Tangeri- o Industrial Rock e o Industrial Metal. Away, etc. Judgement, Skynny Puppy, Front Line
ne Dream, Faust, Popol Vuh, Cluster, No período de 1970 a 1975 também a Assembly, Leather Strip, Wumpscut,
LINHA ERUDITA EXPERIMENTAL Amon Düül II, etc. temática de cabaret decadentista está DICA DE LEITURA: “Industrial Evolu- LINHA HARD GOTHIC ROCK Hocico, Suicide Commando, etc. Ao
O experimentalismo que chegou ao na moda com os musicais e filmes Ca- tion: Through the Eighties with Caba- The Sisters of Mercy, The Mission, longo dos tempo a “EBM” incorporou
pop e ao underground nos anos 1970 PROTO PUNK STATION baret e The Rocky Horror Picture Show. ret Voltaire”, de Mick Fish The Fields of the Nephilim, Roset- outros estilos. Da mistura com Synth-
e 80 começou antes em pesquisas de A partir de bandas do final dos anos ta Stone, Two Witches, Lacrimosa, -Pop e trance surgiu o “Future Pop”.
músicos eruditos. Após 1950 temos um 60 como MC5 e The Stooges (de PUNK STATION POST PUNK/ NEW WAVE Nosferatu, The Merry Thoughts, The
maior desenvolvimento da música ele- Iggy Pop), continuando nos anos 70 A ética DIY (Do It Yourself= Faça CENTRAL STATION House of Usher, Garden of Delight, Esse é apenas um panorama geral, em
troacústica, a música eletrônica e con- com grupos como Richard Hell and você mesmo) ajudou muita gente Aqui representamos o post-punk e new London After Midnight, Seraphin edições futuras nos aprofundaremos
creta que se juntam ao serialismo. The Voidoids, Television, Patty Smi- a sair da toca e criar música a par- wave como uma grande estação central Shock, The Awakening, Love Like em algumas linhas e estações.

14 GOTHIC MAIO 2017 GOTHIC MAIO 2017 15


LANÇAMENTOS 2016-2017

THE MISSION FAUN TIRAMIST THE BEAUTY OF GEMINA BLUTENGEL MONO INC. ARIEL MANIKI MASSIVE EGO
“Another Fall from Grace” “Midgard” (2016) “For Your Ears Only”(2016) “Minor Sun” (2016) “Leitbild” (2017) “Together ‘Till The End” AND THE BLACK HALOS “Beautiful Suicide” (2017)
(2016) O Mission supreen- Desde 2002 o Faun tem Com Franck Lopez e Cathe- Em Abril o TBOG mostrou O álbum traz todos os “fu- (2017) Gothic rock moderno “Ritual” (2017) Se você procura pop dan-
deu a todos retomando sua mantido a média de um ál- rine Marie do Opera Multi em grande show no Brasil o turos-hits” que você pode e, na sequência de grandes Se você procura gothic-ro- çante com aquela leveza
sonoridade dos anos 80, bum de qualidade a cada Sreel e membros do Hide & que tem feito em estúdio nos esperar, e referências a di- álbuns, este novo, além do ck moderno mas que guar- queer que Ashbury Heights
e com grandes faixas. Não dois anos. “Midgard” segue Seek, o álbum nos traz os últimos 10 anos: uma série versas bandas darkwave e hit “Children of The Dark” da bem suas referências do ou Pet Shop Boys tem, com
bastasse, trouxe convidados a regra. Medieval, celtic, mais incríveis vocais femini- de excelentes álbuns. E esse, góticas em suas composi- (com Chris Harms, Joachim estilo, este vai ser um dos esse álbum você tem sua
de peso como Ville Valo, folk, rock e lirismo com ins- nos sobre melodias e bases “Minor Sun”, coroa esse pe- ções carregadas de synth e Witt e Tilo Wolff) ,“Boat- melhores álbuns que você diversão garantida ou seu
Gary Numan, Martin Gore e trumentos do passado que eletro-wave e belas letras ríodo estabelecendo a matu- future pop. Blutengel conti- man” com Ronan Harris, vai encontrar em 2017. Lan- mau-humor de volta. Venha
Julianne Regan. são recriados para a banda. surrealistas. Wave Records. ridade musical da banda. nua indispensável. traz muito, muito mais. çamento Deepland Records. “Idolizar” você também.
themissionuk.com faune.de tiramistfrance.bandcamp thebeautyofgemina.com blutengel.de mono-inc.com arielmaniki.bandcamp massiveego.co.uk

ELECTRO BROMANCE SNAKESKIN IN AURORAM ESCARLATINA OBSESSIVA HEIMATAERDE GRAUSAME TOCHTER CLAN OF XYMOX DRAB MAJESTY
“We Are Like Time Bomb!” “Tunes For My Santiméa” “Fenestrae”(2016) “Drusba” (2017) “Aerdenbrand” (2016) “Vagina Dentata”(2016) “Days of Black”(2017) “The Demonstration”(2017)
(2017) Festa garantida na (2016) O projeto paralelo de Valeu a pena a espera! Neste Se você busca uma banda Electro-industrial, e com Além dos vocais impressio- Um dos pioneiros da mú- A aparência arlequinesca de
pista de dança com este Tilo Wolff, criador e vocalista álbum somos presenteados post-punk que está sempre temáticas medievais, isso o nantes da diva Aranea Peel, sica Gothic/Darkwave está Deb DeMure é o alter ego
grupo formado em 2015 que do Lacrimosa, segue como com um apanhado de faixas explorando novas fórmulas Heimataerde faz muito bem. o quarto álbum do Grausa- de volta com um álbum que glam de um hábil multi-ins-
traz em suas composições um terremoto para pistas que parecem mais um àlbum e caminhos, e com vocais Se nos primeiros álbuns a me traz surpresas acima da parece de estréia. Agradará trumentista. A sonoridade
elementos musicais que pas- de dança. Mais eletrônico, “best of” de neo-clássico, femininos poderosos, não banda se aproximava mais média, com eletro-rock, dark fãs antigos e novos. Confira traz synth-wave retrô para
seiam pelo electro, darkwa- não perde o clima neoclás- ethno e darkwave no estilo pode perder este álbum re- do EBM ou Dark electro, cabaret, um pseudo-tango e mais da história dessa ban- paisagens do século XXI,
ve, synth & future pop. Lan- sico, trazendo duas excelen- Dead Can Dance e Ataraxia. mixado e com faixas extras. agora as guitarras pesam e faixas dançantes. Confira os da essencial nossa entrevis- em performances sombrio-
çamento Deepland Records. tes vocalistas convidadas. Lançamento Wave Records Da Deepland Records. os estribilhos grudam. álbuns anteriores também. ta exclusiva da página 18. -futuristas. Confira:
electrobromance.bandcamp snakeskin.ch inauroram.bandcamp escarlatinaobsessiva.com heimataerde.de grausame-toechter.de clanofxymox.com drabmajesty.bandcamp

16 GOTHIC MAIO 2017 GOTHIC MAIO 2017 17


CLAN OF XYMOX/ DIVULGAÇÃO
ENTREVISTA

“Days of Black” é o 16º álbum


do COX, mas tem a energia de
um álbum de estréia, como pou-
cas vezes vemos em bandas com
tanto tempo de estrada, já é um
dos destaques de 2017. Confira
online o vídeo de “Loneliness”
com direção de Zoe Kavanagh
(Demon Hunter). Com faixas
de estilos e ritmos variados, o
principal é que Ronny Moorings
continua um grande compositor
e letrista.

DIAS EM
NEGRO
O CLAN OF XYMOX está conosco desde os anos 80

CLAN of XYMOX e a cada álbum nós sentimos exatamente o que diz


a biografia da banda: eles nos trazem “energia, idéias
e criatividade como se estivessem prestes a lançar
Ronny Moorings seu álbum de estreia”. Conversamos com Ronny
Moorings sobre o novo àlbum, sua formação musical,
o mercado da música, a subcultura gótica...
18 GOTHIC MAIO 2017 GOTHIC MAIO 2017 19
ENTREVISTA

CLAN OF XYMOX/ DIVULGAÇÃO


GS: COX continua A cultura de que tudo tem que ser
novo e excitante, o déficit de atenção
em oposição a uma cultura mainstre-
am com um monte de problemas. Você
DISCOGRAFIA:
produzindo música das pessoas na internet, tudo em con- mantém essa crença hoje, especial-
junto faz ser a coisa mais difícil con- mente considerando o caminho que a Como CLAN OF XYMOX,
relevante. É isso que nós vencer uma pessoa a ouvir um álbum cultura e a política mainstream globais pelo selo 4AD:
podemos esperar de “Days of Black”, na sua completude, do começo ao fim, tomaram ultimamente?
seu 16º álbum de estúdio? algumas vezes.
1985: Clan Of Xymox
RONNY MOORINGS:
Espero que sim. O processo de compo-
“A cultura
E essa é a forma como a maioria dos 1987: Medusa

Gótica resistiu
álbuns é lembrada pelo ouvinte. A for-
sição nunca é uma tentativa delibera- ma de streaming de áudio e escolha de De 1989 A 1996 a banda
da de compor em certo estilo. Apenas
ao teste do
faixas isoladas no I Tunes não ajuda o encurta o nome para XYMOX:
acontece. A mistura para mim é im- entendimento de um álbum.
portante, o equilíbrio entre guitarras
e teclados. Sempre foi essa a questão. tempo. 1989: Twist of Shadows

De qualquer forma, no final o ouvinte


“A cultura de De tempos em 1991: Phoenix
1992: Metamorphosis
é para mim o melhor juiz. Para mim,
pessoalmente, o álbum soa como uma
que tudo tem tempos as
1993: Headclouds
obra de arte atemporal. A esperança
maior é sempre que um álbum sobre-
que ser novo e pessoas tentam Em 1997 a volta ao nome
viva ao teste do tempo. Veremos. excitante, declará-la Mojca Zugna e Ronny Moorings
CLAN OF XYMOX:

GS: O álbum “Twist of Shadows” ven-


o déficit de morta” única forma na época de conseguir co- 1997: Hidden Faces
deu mais de 300 000 cópias, e muitos
outros foram muito bem sucedidos,
não apenas comercialmente, mas ar- atenção das RONNY MOORINGS: Movimentos “Kindred nhecer musica nova. 1999: Creatures
2001: Notes from The
tisticamente também. A beleza está
no fato da banda não ter estagnado pessoas na vêm e vão. A cultura Gótica resistiu ao
Spirits”foi uma O lançamento de “Kindred Spirits”
foi uma ode a algumas bandas que eu
Underground

em alguma fórmula congelada nem se


rendido a nenhum tipo de concessão internet, tudo teste do tempo. De tempos em tempos
as pessoas tentam declará-la morta e
ode a algumas ouvia naqueles tempos. É claro que é
apenas uma pequena seleção, mas é
2003: Farewell
2006: Breaking Point
artística.
em conjunto entãonovo.
um mês depois ela ressuscita de bandas que minha contribuição. 2009: In Love We Trust
2011: Darkest Hour
Isso quebra um paradigma, porque
muitas pessoas acreditam que ou você faz ser a coisa Em cada país é diferente, mas essa é
eu ouvia” GS: O CLAN OF XYMOX tocou mui-
tas vezes no Brasil e mantem aqui uma
2012: Kindred Spirits
2014: Matters of Mind
mais difícil...” cena
é “artisticamente livre” ou você é “um vibe em geral. Há também uma grande RONNY MOORINGS: Há tantas ban- legião de fãs apaixonados. Você guar- Body and Soul
sucesso comercial”. Alguns artistas Indie e uma cena dance profun- das que eu ouvia. Tantas que não dá da alguma memória especial de seus
damente comercial que também come- 2017: Days of Black
como o CLAN OF XYMOX ou David para resumir. Nos anos 70 você ti- shows aqui?
Bowie tem algo a nos ensinar sobre De qualquer forma, respondendo sua çou como uma cena pequena nos 80’s. nha apenas lançamentos das grandes
isso, não? questão: nós sempre fomos livres ar- companhias de discos e um na época RONNY MOORINGS: Os shows no seu
tisticamente nos selos fonográficos em Nossa cena já teve seus dias melhores, pequeno selo indie como a Virgin. Se país são sempre uma experiência sin- “The Best Of”, de 2004.
RONNY MOORINGS- Companhias que estivemos. Eu nunca senti nenhu- mas ainda é interessante e certamen- uma banda lançasse um álbum todo gular. A paixão total que as pessoas é a dica quem busca
musicais existem para vender o máxi- ma restrição. te se tornará grande de novo. Eu notei mundo remotamente interessado em demonstram nos concertos é muito in- uma boa coletânea.
mo de álbuns que puderem. já nos últimos três anos um aumento música saberia sobre isso. tensa e às vezes avassaladora.
Também, como uma banda você pre- nas ofertas de shows ao vivo por todo
Uma tarefa muito difícil nesses dias cisa evoluir e buscar seu próprio cami- mundo. Eu acompanhava música também em Resumindo, um público fantástico. De
atuais com tantas opções para artistas nho. Quanto mais tempo você faz isso revistas de música e no “Top of The qualquer forma eu vejo que é assim Quem gosta das origens e
fazerem isso de uma forma diferente. mais claro isso fica. GS: O que você costumava ouvir no fi- Pops” (nt: programa musical de TV da em qualquer lugar da América Latina. de gravações raras apreciará
nal dos anos 70 e começo dos 80? parada de sucessos britânica) que era a Nossa música cria vida no coração das o relançamento feito em 2001
Os dias dos artistas que vendem mi- GS: Em uma antiga entrevista para a única mídia naquela época. pessoas e nós notamos isso. dos originais dos anos 80,
lhões de cópias ainda são atuais, mas revista Elegy (Ibérica), depois de 2000, Tivemos uma pista disso no seu álbum
você comentou que a subcultura gótica de covers “Kindred Spirits”: seus con- com faixas extras, o álbum
eles são cada em menor quantidade. A Você iria a uma loja de discos (onde Nós certamente esperamos voltar um
maioria das bandas não consegue mais seria uma das últimas subculturas re- terrâneos do Shocking Blue, Bowie, você podia realmente comprar discos dia e tocar ao vivo para todos nossos “Subsequent Pleasures”.
nem mesmo viver disso. almente underground (ou alternativa), Departament S, Cure, Siouxsie... e fazer uma pré-audição do álbum). A fãs.

20 GOTHIC MAIO 2017 GOTHIC MAIO 2017 21


Sana Skull HISTÓRIA DA MODA

Meninas usando espartilhos e longas


saias rendadas, rapazes vestindo
cartolas e fraques. Vários góticos
usam visual inspirado na moda do
século 19, mas qual a origem dessa
relação e por que a Era Vitoriana
atrai tanto esta subcultura?

Durante a maior parte do século 19 na


Inglaterra, ocorreu o reinado da Rainha
Victoria (1837-1901) e a moda do perí-
odo é denominada “Moda Vitoriana”.

Em 1861, a Rainha fica viúva vestindo


luto pelo resto da vida. Neste artigo
vamos conhecer as características da
Vestido de Luto, 1850 moda vitoriana e ver exemplos das re-
leituras feitas pelos góticos.

Muitos góticos se inspiram em trajes


Guilherme Freon e Paola Carstens aristocráticos e noturnos da era vito-
passeiam pelo museu do Ipiranga riana. A moda original da época era
no evento Revival da Independência colorida, mas o preto do luto foi am-
organizado pelo Picnic Vitoriano SP plamente adotado entre as viúvas do
período e talvez o uso deste tom seja o
mais forte legado vitoriano na estética
gótica.

Góticos que se inspiram na moda vito-


riana fazem uso de cabelos escuros e
longos, rosto empalidecido com olhos
FOTO: CLEUSA VARGAS
e boca maquiados em tons de negro,
A INFLUÊNCIA DA vermelho ou roxo.

MODA
Esta fascinação pelo passado sofisti-
cado e misterioso não é historicamen-
te acurado, ocorre como uma releitura.

Os trajes masculinos pouco mudaram


durante todo o século 19, sendo as dé-

VITORIANA
cadas de 1840 e 1880 as principais re-
ferências adotadas pelos góticos.

Nestes períodos o traje habitual era em


tons sóbrios, com sobrecasaca de om-
bros almofadados, cintura fina e cal-
NA ESTÉTICA GÓTICA ças justas, o fraque usado à noite era
sempre preto e a camisa branca tinha
FOTO: THE METROPOLITAN MUSEUM OF ART

22 GOTHIC MAIO 2017 GOTHIC MAIO 2017 23


1880. Uma das características que mais
influenciou a estética gótica foi o culto
ao luto, onde vemos toda a dramatici-
dade e sofisticação sendo aplicada em
vestidos super elaborados.

A década de 1860 tinha vestidos de


o colarinho levantado. saias rodadas, amplamente armadas
A maior referência na inserção do vi- com diversas anáguas que simboliza- Vestido noturno,
toriano na subcultura foi o dandismo cerca de 1881-84
vam grande status social. À noite, os
adotado por escritores como Oscar vestidos permitiam ombros à mostra.
Wilde (1854-1900), e estas referências
foram muito bem relidas na década de Este período é comumente relido de
1980 por Dave Vanian, vocalista da uma forma mais simplificada, habitual
banda The Damned. de ser vista nas ruas, como o uso de
espartilho e uma longa saia com várias
O cantor usava longos cabelos ne- camadas de tecido.
gros, maquiagem pálida que lembrava
um cadáver vampiresco em um visual Já a silhueta de 1880 tem como uma
que rapidamente influenciou os fãs, grande referência o figurino da perso-
que logo estavam vestidos de camisas nagem Mina interpretada por Winona
brancas com babados, calças negras, Ryder no filme Drácula de Francis Ford
coletes, fraques, botas, cartolas, luvas, Coppola (de 1992) baseado na obra de
bengalas e relógios de bolso. Bram Stoker (de 1897).

FOTO: THE METROPOLITAN MUSEUM OF ART


Já a silhueta feminina vitoriana mudou No vestido de baile da década de 1880,
pelo menos quatorze vezes, mas dois ilustrado à direita, é possivel notar um

FOTO: ILUA HAUCK DA SILVA/ ARQUIVO PESSOAL


períodos são populares entre as góti- decote baixo e mangas curtas, as saias
cas: a moda das décadas de 1860 e de possuiam armação traseira com vários

Iluá Hauck
da Silva veste
uma releitura
da moda
vitoriana
PUNK RAVE STORE/ DIVULGAÇÃO

tecidos. Outro traje da época são os


vestidos da chamada “silhueta das for-
mas naturais”, onde mesmo com aná-
guas, a saia do vestido acompanhava
o formato do quadril e das pernas se
abrindo levemente na barra. Nestes
As saias rodadas períodos os acessóios eram luvas, le-
marcaram o desenho ques imensos, camafeus, sapatilhas ou
da década de 1860 botas com um pequeno salto. Na relei-
Criação inspirada tura gótica, espartilhos e saias longas
no figurino usado
ajustadas acompanham gargantilhas
pela personagem
Mina no filme adornadas com bijuteria prateada de
“Dracula” (1992) pedras, morcegos, caveiras, esquele-
ROMANTIC THREADS/ DIVULGAÇÃO/ LE MEW PHOTOGRAPHY

24 GOTHIC MAIO 2017 GOTHIC MAIO 2017 25


Modelo
masculino

FOTO: ROSE STEINMETZ


da década
de 1880 Dave Vanian e sua esposa
Laurie faziam releituras
de inspiração vitoriana
e dândi desde 1976
BRAM STOKER’S DRACULA/ DIVULGAÇÃO

A imagem
de Drácula
imortalizada por
Gary Oldman
(1992)

FOTO: THE LOS ANGELES COUNTY MUSEUM OF ART/ REPRODUÇÃO


Oscar Wilde, autor
de “O Retrato de
Dorian Gray”(1891),
THE DAMNED/ DIVULGAÇÃO
era adepto
do estilo dândi

Releitura atual
de inspiração
Juliana Lopes em traje histórico vitoriana
inspirado na Era Vitoriana (estilo
1880) no V Picnic Vitoriano
São Paulo

tos, símbolos do oculto ou post mor-


tem e a sombrinha finaliza o visual. WIKIMEDIA COMMONS/ DOMÍNIO PÚBLICO

Seja inspirado nas roupas de luto da


DRACULA CLOTHING/ DIIVULGAÇÃO

era vitoriana, no horror da literatura do


século 19 ou na aristocracia, a subcul-
tura gótica desenvolveu uma estética
que une visual, cultura literária, histó-
rica e uma elegância decadente cheia
de refinamento, sensibilidade artística
e emocional que encheria de orgulho
os vitorianos originais.

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ENTREVISTA

LACRIMOSA
Criado em 1990, o LACRIMOSA é popular no Brasil há mais de 20
anos. Nos anos 90 já podíamos ver programações com especiais
da banda em flyers das nas principais casas góticas de São Paulo.
No século XXI, a banda de TILO WOLFF & ANNE NURMI
extasiou seus admiradores em terras brasileiras com vários shows
ao longo dos anos, álbuns fantásticos e muita atenção aos fãs.
Assim, em 2017, temos várias ge- que criei para o álbum “Inferno”.
rações de Lacrimaníacos esperando
TILO WOLFF: De fato
Assim, na verdade, nós nunca tive-
havia dois movimentos dentro da
com ansiedade cada novo lança- mos muito em comum uns com os
cena naquela época. Um deles era o
mento, vídeo ou show. outros, o que foi bom porque isso
movimento com bandas como DAS
ajudou na diversidade dos poste-
ICH e outras que você mencionou.
Gothic Station conversou um pou- riores desenvolvimentos da cena
Essas bandas eram fortemente co-
co com TILO WOLFF enquanto es- gótica.
nectadas umas com as outras e
peramos o novo álbum do Lacrimo-
compartilhavam os mesmos com-
sa ainda para 2017. GS: Já estamos muito empogados
positores ou produtores. No outro
lado estava o LACRIMOSA, que com o novo álbum programado
GS: No começo dos não vinha da tradição eletrônica, para 2017. O que podemos esperar
dele?
anos 90 Lacrimosa se mas sim da tradição gótica orienta-
destacou como uma banda impor- da para o rock.
TILO WOLFF: É claro, eu não pos-
tante em uma nova cena Alemã (e
so e não vou dizer muito sobre este
Europeia) que incluía Das Ich, Go-
ethes Erben, Endraun e muitos ou- “De fato novo álbum, mas eu já posso con-
tar que ele vai ser muito obscuro e
tros.
havia dois pesado!
Também, em 1992, aconteceu o pri-
meiro Wave Gotik Treffen (WGT)
movimentos GS: O seu outro projeto, o SNAKE-
dentro da
FOTO: DIVULGAÇÃO LACRIMOSA

na Alemanha, estabelecendo na SKIN, também é muito popular no


Europa continental um novo centro Brasil e, da mesma forma que o LA-
para o imaginário gótico & wave. cena naquela CRIMOSA, um terremoto nas pis-
tas. Para você, quando está criando
Lacrimosa se apresentou muitas época.” música e letras, qual é a principal
diferença entre estes dois projetos
vezes no WGT desde a segunda
edição em 1993. Como eu residia na Suíça e como musicais?
naquela época não existia internet
O que a princípio conectou todas nem nada parecido, nós não sabía- TILO WOLFF: Há muitas diferen-
essas bandas que, como o Lacri- mos uns dos outros – ou ao menos ças, começando pelas letras. Quan-
mosa, tem aspectos multifacetados eu não sabia daquelas bandas na do eu escrevo para o LACRIMOSA
de talento e criatividade e um afia- Alemanha. eu primeiro escrevo as letras. Elas
do lado obscuro, e todo esse novo são como, comparando com rea-
cenário? A primeira vez que entrei em con- lização de um filme, os storybo-
tato com eles foi em 1993 quando ards, digamos assim. Toda a música
Vocês colaboravam entre si de al- fiz meu primeiro show lá, que foi e tudo dentro da canção precisa
guma forma? E como é ver como em Leipzig, Alemanha, quando eu cumprir o dever de servir às letras
tudo isso floresceu depois de todos estava mais focado em uma música e a dar vida às palavras da forma
esses anos? com mais guitarras como o estilo mais auxiliar possível.

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Para conseguir isso eu componho GS: O Lacrimosa já se apresen-
com instrumentos reais- tais como tou ao vivo no Brasil muitas ve- “Eu amo ANNE NURMI
o piano, o violão ou às vezes o
trompete ou corneta.
zes. Há momentos marcantes que
você não consegue esquecer? Sa- esse público No final dos anos 80 Anne Nurmi
foi uma das fundadoras da banda
Então eu escrevo as partituras para
bemos que em um show recente
aqui você abriu seus olhos para
brasileiro de Gothic Rock finlandesa Two
Witches, participando desta até
a orquestra e penso em qual músico
escolher para ser parte da produ-
um mar de corações flutuantes... emocional 1993, quando começou sua atua-
ção no Lacrimosa, logo se tornan-
ção. TILO WOLFF: Sim, a conexão com
as pessoas é muito importante! Eu
porque do, até hoje, membro oficial e es-

“Toda a música amo esse público brasileiro emo- vocês são sencial junto a Tilo Wolff.

e tudo dentro
cional porque vocês são pessoas
que sabem mostrar suas emoções pessoas que
da canção
bem para caramba!
sabem mostrar
precisa cumprir
Vocês dançam, vocês gritam, vo-
cês choram e depois de um show
suas emoções
o dever de
completo vocês estão tão exaustos
quanto nós estamos quando saímos
bem para
servir às letras do palco! E é assim que deve ser! caramba!” A revista Gothic Station agradece
a colaboração do fã-clube do
Lacrimosa, o Lacrimaníacos Brasil
e a dar vida Quando estou no palco no Brasil eu
posso sentir como vocês celebram
às palavras...” a dádiva da música e como viven-
ciam todas as emoções que a músi-
ca desperta, e isso é maravilhoso!
Em comparação, compondo para o
SNAKESKIN, eu começo criando
E se tudo correr conforme o
uma sonoridade em um teclado.
planejado estaremos de
volta ao palco no Brasil
A criação dessa sonoridade e sua
ainda este ano!
atmosfera implícita então serão a
linha mestra para uma música do
SNAKESKIN, exatamente da mes-
ma forma que a letra foi para uma
música do LACRIMOSA.

Então eu começo a compor com


sonoridades e teclados e só depois
que começo a pensar na letra e em
quem deverá executar a música.

FOTO: DIVULGAÇÃO LACRIMOSA


Mas no final ambos, LACRIMOSA
e SNAKESKIN, estão profunda-
mente conectados porque com am-
bas as bandas eu tento expressar
meus sentimentos. É aí onde am-
bas as bandas se reencontram no
final!

30 GOTHIC MAIO 2017 GOTHIC MAIO 2017 31


3
CINEMA Os personagens Magenta, Dr. Frank N. Furter e
H.A.Kipper Columbia na versão cinematográfica de 1975

DIVINA DECADÊNCIA... uma mansão gótica com servos ainda


mais peculiares. O visual dos perso-
O musical “Cabaret” (1972), basea- nagens se tornou moda, e nos anos
do na obra de Christopher Isherwood seguintes, também objeto de culto e
“Goodbye Berlim” (1939), estreou na performances ao redor do mundo.
Broadway em 1966. Sua personagem
principal, Sally Bowles, é uma perfor- Em 2016 foi lançado um remake de
mer de um cabaré na fase decadente “The Rocky Horror...”, com Laverne
da República de Weimar (1919-1933) Cox no papel de Frank. N. Furter.
durante a ascensão do Nazismo.
OUTRO ALIEN CAIU...
O parceiro de palco de Sally é o Mes-
Mas ainda em 1976 é lançado o filme

FILMES
tre de cerimônias (ou Mr. EmCee),
que recebeu uma caracterização entre “O Homem que Caiu na Terra” (The
o vaudeville e o macabro. Já o filme Man Who Fell to Earth). Nele David
foi lançado em 1972, com Liza Minelli Bowie representa o alien Thomas Je-
Liza Minelli eternizando o visual de Sally e Joel rome Newton que chega a terra com a
interpretou a Grey fazendo um Mestre de Cerimô- missão de levar água daqui para salvar
mais famosa
Sally Bowles
nias que influenciou o visual de artis-
tas com Klaus Nomi, Bowie e Peter
DOS ANOS seu planeta e a família que deixou lá.

1970
Murphy. Sem falar em todos os artis- Porém, aos poucos Jerome se envolve-
tas de Dark Cabaret até hoje, como o com a vida na Terra e em um processo
Dresden Dolls. de degeneração esquece de sua mis-
são. Acaba se tornando mais um dos
“Cabaret” resgata e glamoriza o tema, alter-egos de Bowie, tanto que a capa
mas a corista vamp interpretada por
Liza Minelli agora usa botas combi-
nando com o corpete, a cinta-liga e
Q UE Uma noiva de Frankestein
que veio do espaço...
do álbum “Low” traz uma ilustração
baseada na imagem de Jerome.

chapéu coco, uma Louise Brooks atu- INFLUENCIARAM A temática de isolamento e alheamen-

A ESTÉTICA
alizada. to desse filme dialoga com a fase mais
influente do trabalho de Bowie, pro-

G ÓTICA
Patrice Bollon (“A Moral da Másca- duzida na mesma época.
ra”, 1990) comenta que este musical e
o filme geraram uma moda em Lon- São os anos da sua Trilogia de Ber-
dres que influenciou um novo grupo: lim: “Low” (1977), “Heroes” (1977) e
O Bromley Contingent. “Lodger” (1979). Não bastasse isso,
na mesma época Bowie co-escreveu e
THE ROCKY HORROR... produziu dois álbuns do parceiro Iggy
Pop: “Lust For Life” e “The Idiot”, am-
Em 1973 a peça musical “The Rocky bos de 1977. Uma época em que Bowie
Horror Picture Show” estreia em Lon- estava obcecado pelo krautrock do
dres e também logo se torna um gran- Kraftwerk, que em 1977 lança “Trans-
de sucesso e referência cult. A peça de -Europe Express”. Na soma, entre 77 e
Richard O’Brien mistura glam-rock e 79, são seis álbuns que influenciaram o
travestismo a elementos de horror gó- post-punk, a darkwave, a música góti-
tico e de ficção científica de filmes B ca, synth e outros estilos.
dos anos 1930 aos 1970.
O universo estético destes três filmes,
Joel Grey encarna Também no filme de 1975, o persona- tanto musical quanto visual, serviu
o mestre de cerimônias gem principal é o Dr. Frank N. Furter, de inspiração para as subculturas que
em Cabaret (1972) um alien do planeta transexual Transil- emergiram no final dos anos 1970 e
vânia, que busca criar uma nova forma
Bowie, um alien começo dos anos 80, especialmente a
de vida humana enquanto reside em perdido na Terra (1976) punk e a gótica.
FOTOS: DIVULGAÇÃO/ REPRODUÇÃO

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ENTREVISTA

Edu Krummen, Marcelo KPTA,


Gê Lucas e Call Lament são
o Das Projekt!
até o primeiro EP, “Phoenix”, surgir
O DAS PROJEKT já em 2000. Ele foi só um aperitivo para
alcançou respeito o CD debut da banda, “Romantic and
Methaphisic”, lançando em 2003 pela
internacional com Batcave Records.
seu gothic-rock
Esse primeiro álbum emplacou alguns
moderno. Além hits como Days, Mortal Remains e Idle
disso, o vocalista Tears e mesmo com a internet pouco
eficaz na época, a banda já era divul-
Marcelo KPTA gada em rádios europeias e ali começa-
criou a DEEPLAND va a construção de uma base de fãs em
diversos países.
RECORDS, o novo
selo brasileiro do

DAS
No mesmo ano desse lançamento a
banda encerra suas atividades com a
segmento gótico. primeira formação mas, após três anos,
ressurge como uma fênix, em 2006,
GS: Conte pra gente com características inovadoras, com

PROJEKT
timbres de bateria eletrônica, ganhan-
um pouco da trajetó- do força com guitarras mais pesadas.
ria da banda, uma das que
está há mais tempo em atividade no
Brasil, no começo como Santos Peca- “Aí a banda
dores, depois Das Projekt Krummen
Mauern e finalmente Das Projekt. passa a se
apresentar com
MARCELO: Os “SANTOS
PECADORES” foi um pontapé inicial o nome inicial
entre os anos de 89/90. Nesse período
a banda tinha um baterista e as músi- encurtado:
cas eram em português.
“DAS
Soava um post punk, mas seu funda-
dor, Edu Krummen, acreditava que PROJEKT” .
algo no projeto poderia ser inovador
no Brasil, em uma época em que não
tínhamos uma referência nacional vol- Uma nova era, o DAS PROJEKT volta
tada ao estilo gótico. com força total e apresenta dois EPs
com material inédito, o “Arabian Beau-
Surge então o projeto “DAS PROJEKT ties” em 2009 e o “Betrayal” em 2010 e
DER KRUMMEN MAUERN” (O Proje- em 2011, chega ao mercado o segundo
to das Paredes Tortas, em alemão). A álbum com nome sugestivo ao renasci-
banda se apresentou em casas e clubes mento da banda “The Crownless Again
de São Paulo da época, como espaço Shall be King” (Os Descoroados Deve-
Retrô, Cais, Hoelisch, Armageddon, rão de Novo ser Rei).
Aeroanta e muitas outras.
Nele pudemos intensificar músicas
Músicas como Morbid Love, Adulte- marcantes e hits como Seventh Day, Al
rous, Dismalness e Obsession foram Azif Necromonicon e regravar o clás-
as primeiras canções executadas pela sico Ghost Riders in the Sky (B.Ives/J.
banda em 1991 e muitos K7s surgiram FOTO: BRUNA ROCKER/ DIVULGAÇÃO DAS PROJEKT Cash).

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ENTREVISTA

O SOM DAS TERRAS PROFUNDAS


Nosso terceiro álbum chega dois anos GS: Além do sucesso nacional e in- Como foi essa experiência? Podemos GS: Que conselho vocês deixariam
depois (2013) com um nome em home- ternacional da banda, o Marcelo tem esperar mais festivais nesse formato? para uma banda do nosso segmento
nagem ao francês George Mounin e também feito um trabalho importante que está começando agora?
sua obra de 1955, “Les Belles Infide- com o novo selo Deepland Records que MARCELO: O TBOG é na verda-
les” (Belas Infiéis). em um ano de vida já tem uma lista de uma revelação no Brasil. A banda MARCELO: Que além do profissio-
de lançamentos invejável... Como tem existe há mais de 10 anos, coleciona nalismo existente, faça por que gosta.
Um disco temático abordando o uni- sido esse trabalho? uma discografia invejável. Teve clipes Acredite no seu potencial, não faça da
verso feminino, onde se notam músi- emplacados na MTV europeia, excur- arte um simples status. Cresça junto
cas com nome de mulheres contando MARCELO: O nascimento da DEE- sionou em seu segundo ano de exis- com aquilo com que você se identifica.
de forma bem expressiva o cotidiano, PLAND RECORDS foi um incentivo tência com o Smashing Pumpkins.
misturando romance, morbidez, vora- interligado ao DAS PROJEKT, que não GS: Gostaria de comentar mais alguma
cidade. teve experiências boas com suas gra-
vadoras anteriores no Brasil e na Ale- “O mercado coisa para nossos leitores?

“o gothic rock O álbum de 2011, que acaba de ser


relançado nessa versão de luxo
manha (Pisces Records e Crysella Re-
cords). digital hoje “Les Belles Infideles”, de 2013,
aborda o universo feminino “Guarde seu
a nível mundial, funciona muito “Violator” do
precisa ser
Foi necessário uma repaginada em
todo o processo, afinal, o gothic rock “Não é por que bem e a pessoa
to do mercado fonográfico.
Muitas pessoas por aqui aderem à pi-
Depeche Mode
reinventado
a nível mundial, precisa ser reinventa-
do a todo instante. Nossa repercussão vivemos social/ contribui com
rataria de forma natural, mas não sa-
bem que seu ídolo é prejudicado com
por 5 minutos
a todo
não poderia ter sido melhor. Os atuais
politicamente isso. Gravadoras vão a falência, bandas

(...) vá atrás de
meios de comunicação nos ajudaram
muito na divulgação internacional, coi-
em um país a banda” ficam sem patrocínio e voltamos para
era do gelo com CD-r e materiais de
instante” sa que não tínhamos lá fora. qualidade inferior.
novidade”
Neste álbum destacamos algumas mú-
Em um cenário europeu que já tinha de terceiro Sempre temos a esperança de que as
pessoas no Brasil não fiquem limita- Acho válido que a internet seja uma
MARCELO: Agradeço a todos os lei-
sicas como Adrianne Dances, Jessica
is Burning, Christine, Agatha’s Eye
suas influências, bandas, festivais,
muitos anos depois eles descobriram mundo, que das as bandas mainstream, para assim
podermos ter eventos de grande porte
plataforma de apresentação das ban-
das, para que depois as pessoas pos- tores a oportunidade. Não sou muito

devemos agir
que existia algo na América do Sul. Isso no Brasil com mais frequências, pois sam adquirir seu material físico e até bom com as palavras, mas espero que
e mais um cover surge neste álbum: que tem a mente pequena, fica fadado de alguma forma, tenha não só leva-
culminou no aniversário de 25 anos do mesmo o digital de qualidade em sites
Monday Monday (do The Mamas and
the Papas), que foi destaque em um
dos principais magazines europeu, o
Das Projekt, quando fomos presentea-
dos com um tributo “A Magnis Maxi- como tal” a eventos pequenos. especializados. Os Europeus fazem
muito isso. Mas o Brasil gosta do jeito
do informações do Das Projekt para
aqueles que já conhecem, mas princi-
ma” (do latim “De grandes causas”), Não é por que vivemos social/politica- fácil, barato, VIP. palmente para quem tem a curiosidade
“Peeak Boo”. onde bandas do mundo todo regrava- Isso de certa forma acabou nos dan- mente em um país de terceiro mundo, em conhecer, entendendo que a música
ram algumas de nossas canções. do coragem para elaborar um tra- que devemos agir como tal. É muito complicado falar abertamente é um leque muito vasto no meio gótico
GS: Com o DAS PROJEKT e com a balho bem feito abrindo espaço sobre isso, já que conheço diretamen- e alternativo.
nova formação a banda iniciou uma Bandas conhecidas no Brasil e no para muitas bandas independentes. GS: Como vocês veem a questão da te os dois lados (tanto como músico e
nova fase. Como tem sido a reper- mundo como Plastique Noir, Scarlet Algo longo de se contar aqui, mas em comunicação com o público no sécu- como empresário do selo). Assim como nós, existem muitos pro-
cussão internacional? Já saiu até Leaves e Knutz entraram nessa lista, resumo, podemos dizer que em menos lo XXI, na era do Youtube e mp3, 4, fissionais. Potencial de sobra e para to-
um álbum de tributo internacio- assim como o Modus Operandi e de de um ano, o selo coleciona mais de 10 5... lastfm, spotify, Ipods? Vale a velha Muitas bandas não tem patrocínio nem dos os gostos. Guarde seu “Violator”
nal ao Das Projekt, não é mesmo? destaque como Insight (França), NU:N lançamentos (media de um por mês) e máxima do mestre Chacrinha? ( jogan- empresário para lançar um disco físico. do Depeche Mode por 5 minutos na
(Portugal), Last Dusk (Costa Rica), muita coisa boa ainda estar por vir em do verde para pegar a idade dos mem- Mas o Bandcamp, o Spotify estão aí gaveta, vá atrás de novidade, mesmo
MARCELO: Esta que muitos dizem ser Vysmech (Rep. Checa) e Dulce Muerte 2017. bros da banda... rs). pra isso. que não seja novidade lá fora e sim
uma nova formação, já tem uma du- (Peru). Grandes nomes europeus como para você.
ração maior que a antiga, hoje a for- Rhombus (Inglaterra), Star Industry GS: E o Festival Deepland que aca- MARCELO: Existem os dois lados da O mercado digital hoje funciona muito
mação atual existe há 11 anos dos 26 (Bélgica) e Age of Heaven (Alemanha) bou de ter uma edição agora em Abril moeda nessa situação. A facilidade de bem e a pessoa contribui com a banda. Conhecimento enriquece o ser huma-
existentes, subtraindo os três de ina- participaram, além da DJ Canadense com vocês abrindo para a revelação divulgação do trabalho através da ima- Recebe áudios de qualidade e todos no, seja musical, literário, mas o im-
tividade. Kitty Lectro. europeia THE BEAUTY OF GEMINA. gem e áudio, mas também o assassina- ganham. portante é viver isso com intensidade.

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CYBERCULTURA Adri Amaral

EM BUSCA DA
vida em sua relação com as tecnologias A partir da segunda metade dos anos
desde as primeiras comunidades virtu- 2000, alguns autores como Lev Mano-
ais na internet. vich, Erick Felinto, entre outros, come-
çam a questionar a validade do termo e

CYBERCULTURA
Em uma tentativa de periodizar os con- até especularam se não seria a “morte
ceitos da cibercultura, Macek (2005) os anunciada” do termo, dada a intensa
divide em cibercultura inicial, entre os popularização das tecnologias de in-
anos 1980 e 1990, e a cibercultura atu- formação e comunicação e a expansão

PERDIDA

FOTO: DIVULGAÇÃO/ REPRODUÇÃO


al do final dos anos 1990 em diante. do acesso às mesmas.

CONCEITOS ATUAIS O pesquisador Vinicius Pereira em um


DE CIBERCULTURA: artigo de 2011 também sinaliza essa
mudança, uma vez que para ele:
O termo cibercultura vem sendo discutido desde o final
CONCEITOS UTÓPICOS:
dos anos 80 /início dos anos 90 por sociólogos, filósofos, Cibercultura como modelo de uma
“A palavra cibercultura – como sinô-
nimo de cultura digital e de dinâmicas
antropólogos e estudiosos da mídia internacionais e nacionais. sociedade utópica transformada pelas
comunicacionais e sociais contempo-
tecnologias da informação e comu-
râneas mediadas pelas tecnologias de
nicação (TICs). Conceito antecipador
De acordo com o Oxford English Dic- do neologismo cunhado pelo autor de ção na Cibercultura, organizada pelas TECNOLOGIA E VIDA SOCIAL informação (...) – ganhou nos últimos
(“futurologista”). Ex.: Andy Hawk,
tionary, a utilização inicial do termo ficção-científica cyberpunk William pesquisadoras Dinorá Fraga da Silva anos uma dimensão cada vez mais
“Future Culture Manifesto” (1993); e
cyberculture, em 1963 – derivada da Gibson em seu livro Neuromancer de e Suely Fragoso tem início as publica- Já André Lemos em seu livro Cibercul- genérica, que por vezes parece per-
Pierre Lévy, “Cyberculture” (1997)-
cibernética – relacionava-se à automa- 1984 – e das discussões sobre o impac- ções sobre a temática no selo Cibercul- tura - Tecnologia e vida social na cul- der qualquer especificidade enquanto
ublicado em português em 1999).
tização da sociedade. to deste espaço na cultura, sobretudo a tura da Editora Sulina de Porto Alegre. tura contemporânea de 2002 descre- campo de estudos”.
partir das comunicações mediadas que É impossível falar de apenas uma de- ve o termo como sinônimo da cultura
Os usos posteriores, a partir dos anos começavam a acontecer via internet. finição sobre cibercultura, pois há contemporânea e com os sintomas da CONCEITOS INFORMACIONAIS:
O próprio William Gibson tem pro-
1980 e 1990, já incluem a emergência uma pluralidade de modos de pensar pós-modernidade, articulados através Cibercultura enquanto códigos cul-
blematizado a dificuldade em ser um
da cultura das redes informatizadas e PRECURSORES a cultura tecnológica na qual estamos da relação entre técnica e sociedade. turais (simbólicos) da sociedade da
autor de ficção-científica nesse mo-
a relação humano-máquinas. imersos. informação. Conceito analítico, par-
mento da cultura contemporânea, uma
Citem-se também como precursoras Salientamos que pensar sobre ciber- cialmente antecipador. Ex.: Margareth
vez que muitas das especulações sobre
Dividindo a palavra temos de um lado, as discussões sobre obras de autores DEFINIÇÕES cultura não é pensar apenas nos efeitos Morse, “Virtualities: television, media
o futuro feitas nos anos 80 parecem
o termo aportuguesado ciber que foi como McLuhan e as teorias cibernéti- da internet, mas sim, em outros tipos art and cyberculture” (1998); e Lev
ter se consolidade de forma veloz e
traduzido do inglês cyber que vem do cas dos anos 50 que já antecipavam as Não é o objetivo desse breve artigo tra- de tecnologias e discursos históricos, Manovich, “The Language of a new
até preocupantes, como por exemplo
grego kubernetes (controle). relações entre sociedade e tecnologias. tar de todos eles, apenas indicar algu- sociais, estéticos, ideológicos que re- media” (2001).
o domínio das mega-corporações de
mas noções para que se possa compre- gem as relações entre seres humanos, tecnologias.
Nesse sentido, desde os seus primór- No contexto acadêmico brasileiro, o ender o termo de forma mais didática. vida social e elementos maquínicos ad- CONCEITOS ANTROPOLÓGICOS:
dios, a cibercultura esteve relacionada termo começa a aparecer nas publica- vindos desde a Revolução Industrial. Cibercultura enquanto práticas cul-
Morta pela popularidade ou de volta
tanto com a liberdade de se apropriar ções pela primeira vez em meados dos Para isso selecionamos algumas de- turais e estilos de vida relacionados
ao nicho das pesquisas; mainstream
das tecnologias disponíveis e da libe- anos 1990, em artigos de autores como finições. Jakub Macek por exemplo CONTRACULTURAL às TICs. Conceito analítico, voltado
ou underground; utópica ou distópi-
ração do polo emissor de mensagens André Lemos, da Universidade Federal aponta quatro sentidos para a palavra para o presente e para história. Ex.:
ca; libertária ou controladora; o que
como a uma ideia de controle das in- da Bahia (UFBA) e Eugênio Trivinho, cibercultura: Há também definições que privilegiam Arturo Escobar, “Welcome to Cyberia:
importa é que a cibercultura ou a cul-
formações e vigilância. da Pontifícia Universidade Católica de aspectos contraculturais de sua histó- notes on antropology of cyberculture”
tura digital constituiu um imaginário
São Paulo (PUCSP). 1) enquanto um projeto utópico de se ria, como a abordagem do historiador (1994); e David Hakken, “Cyborgs@
importante para se pensar o fenôme-
POPULARIZAÇÃO DO TERMO pensar o mundo; Fred Turner na obra From Countercul- cyberspace” (1999).
no das comunicações mediadas pelas
Em 1999, cibercultura torna-se nome ture to Cyberculture que vai enfatizar tecnologias a partir do final do século
A popularização do uso do termo ci- de uma das linhas de pesquisa do 2) enquanto uma interface cultural a utopia da coletividade dos processos CONCEITOS EPISTEMOLÓGICOS
XX sendo retratada na arte, na ficção
bercultura começou entre a metade programa de pós-graduação em co- para a sociedade da informação; artísticos que emerge a partir das con- Cibercultura como um termo para
e questionada pelas ciências humanas
dos anos 1980 e o início dos anos 1990. municação da Universidade Federal da traculturas dos anos 60 nos Estados reflexão social e antropológica sobre
e sociais.
Bahia (UFBA). 3) como práticas culturais e estilos de Unidos em sua relação com usos dos novas mídias. Ex.: Lev Manovich,
A questão das narrativas dos imagi- vida (pensamos aqui nas várias subcul- primeiros computadores. “New media from Borges to HTML”
Utilizando ou não o termo cibercultu-
nários relacionados à emergência da A partir de 2001 com as coletâneas turas em suas relações sociais através (2003); e Martin Lister et al.” New
ra, vivemos nela e seus efeitos são ine-
cultura digital deriva-se inicialmente Janelas do Ciberespaço, organizada das mídias digitais) e Outro ponto importante da cibercultu- media: a critical introduction” (2003).
gáveis em todos os campos da socie-
das concepções de ciberespaço – que pelos pesquisadores André Lemos e ra é como ela proporciona a amplitude dade humana da robótica à medicina,
começavam a ser discutidas a partir Marcos Palácios (UFBA) e Comunica- 4) como uma teoria da nova mídia. das práticas culturais e os estilos de Fonte: Macek (2005), adaptado
da antropologia à música.

38 GOTHIC MAIO 2017 GOTHIC MAIO 2017 39


ENTREVISTA

ALEX TWIN/ PECADORES/ FOTOS: RAUL SOUZA


Men, Individual Industry, Pecadores, Depois em 1999, criei o 3 COLD MEN
GS: O selo WAVE The Veil, Plastique Noir, Scarlet Lea- com Franck Lopez e Maurizio Bonito
RECORDS acaba de ves, Kriistal Ann, Bleib Modern, Beata e também o WINTRY com (Anne Gol-
Beatrix, FFFC, Dominion, Q4U, Chi- dacker da Alemanha), havia gravado
completar 10 anos ron, Wintry, Lagrima Negra, Nahtai- umas demos nos anos 90, mas só em
como o mais vel, Tearful Moon, série de compilação 2009 lancei o primeiro álbum.
WAVE KLASSIX, GOD IS GOTH, entre
longevo e produti- outros… Em 2005 também criei com Marcos
vo selo brasileiro no
“Destes Lima, a banda voodoo industrial PE-
CADORES, com lançamento de dois
seu segmento. Como
mais de 65 álbuns e tour na Alemanha. Com o pas-
tudo começou? sar do tempo, fiquei sem muito tempo

lançamentos, para compor e gravar novos materiais


ALEX TWIN: Bem, o selo dos projetos, mas aos poucos pretendo

posso dizer que


começou por acaso, quando em 2002 lançar coisas novas. O Wintry sairá um
resolvi lançar um box limitado da mi- 7” vinil e álbum em 2017, Pecadores

todos tiveram
nha banda INDIVIDUAL INDUSTRY, assim que possível também, e o 3 Cold

25
então lancei este cd duplo limitado Men, estou programando para gravar

seu momento
com meu amigo e parceiro na banda em 2018.
Mauricio Bonito. Depois disso, fiquei
“A produção
pensando que não poderia lançar meus
projetos sem nenhum selo, pois desde especial” de shows
os anos 90 tivemos trabalhos lançados

internacionais
na Europa e nunca recebemos um tos- GS: A Wave fez um trabalho especial
tão. como selo do Opera Multi Steel, pode

aqui no Brasil
nos falar um pouco sobre isso?
Desta forma, em 2006 comecei o selo

era difícil
propriamente dito, e foi crescendo e ALEX TWIN: desde meados dos anos
conquistando seu espaço na cena in- 90 sou amigo da banda OMS, incluin-

antigamente,
ternacional, e hoje já temos mais de do nosso projeto 3 COLD MEN, e ago-
65 lançamentos e distribuição mun- ra também Franck Lopez toca baixo no

porém hoje é
dial pela Audioglobe da Itália e ago- novo WINTRY.
Sempre fui um fã da música do OMS,

ANOS
ra iniciando distribuição na Alemanha

ainda mais”
com Danse Macabre/Alive!, além de e mesmo antes do selo, fizemos algu-
distribuição em nossos lançamentos mas parcerias no passado, pelo sub
digitais pela amazon, i-tunes, etc... selo Museum Obscuro da Cri Du Chat
(do qual fui sócio), depois como Lulla- GS: A WAVE RECORDS e você
GS: Quais os principais lançamen- by (minha antiga loja) distribuímos um como agente e produtor são res-

DE PAIXÃO
tos da Wave nesses anos todos? cd também no fim dos anos 90, e já na ponsáveis por alguns dos maiores
Wave Records, lançamos uma compi- shows internacionais do segmento
ALEX TWIN: Destes mais de 65 lança- lação dupla e dois álbuns. Em agosto Darkwave/Gothic no Brasil. Gosta-
mentos, posso dizer que todos tiveram deveremos lançar um vinil picture li- ria de nos falar sobre esse trabalho?
seu momento especial, pois sempre fui mitado da banda.
cuidadoso em ouvir muito cada demo ALEX TWIN: Tive algumas experi-

PELA MÚSICA
antes de lançar, e o que lancei até hoje, GS: Você também é um músico talen- ências com produção de shows no
foi porque vi qualidades e potencial toso que participou e participa de mui- passado, Em 1999 produzi o CLAN
para ser lançado. tos projetos nacionais e Internacionais. OF XYMOX (primeiro show na Amé-
Pode nos contar sobre eles? rica do sul que foi no Teatro Zac-
Alguns tiveram maior destaque, mas caro), depois em 2000, a tour do
vejo que muitos ainda continuam obs- ALEX TWIN: Comecei musicalmente THE MISSION no Brasil com quatro
curos por aqui, talvez pela carência de gravando em 1987, as primeiras de- shows pelo Brasil, depois como ma-

ALEX TWIN mídia. Pela Wave já lançamos: Pink


Industry, Opera Multi Steel, 3 Cold
mos do INDIVIDUAL INDUSTRY, que
na verdade era um projeto solo meu.
nager, DAS ICH e TRISOMIE 21 para
a Thorns Gothic Rave, entre outros.

40 GOTHIC MAIO 2017 GOTHIC MAIO 2017 41


Alex Twin e Daniela Gato Alex e abaixo os outros membros dos
no Individual Industry Pecadores

“Se houvesse
o público que não precisaria gastar 5 Belga que mais influenciou o darkwa-
mil reais ou mais para ir ver lá fora, ve, LES CHATS NOIRS, primeiro álbum

o apoio, a coisa
mas mesmo com o ingresso a apenas da banda nacional e MARKUS MIDNI-
180,00 reais as pessoas não vão, recla- GHT, coldwave/post-punk canadense,

cresceria
mam do preço, e os produtores per- com um single e um álbum, este a nos-
dem dinheiro. sa maior aposta para 2017.
Alex nos Pecadores
e em algum Se houvesse o apoio, a coisa cresce- GS: Gostaria de deixar uma mensagem
como Apostle Niwt

momento
ria e em algum momento algumas de ou pensamento especial para nossos
suas bandas preferidas estariam aqui leitores?

algumas de
ao vivo na sua frente, é uma questão
ALEX TWIN/ ARQUIVO PESSOAL

simples. ALEX TWIN: Quero agradecer a opor-

suas bandas
tunidade de falar um pouco sobre meu

“Tudo se trabalho.

preferidas resume em Estou há 25 anos dedicando minha

estariam aqui
vida a música alternativa, por amor ao

uma única que faço, não pelo retorno financeiro,

ao vivo”
que é pouco, e nem tão pouco pelo
Mas financeiramente foi um desastre,
pois infelizmente ainda não temos pú- palavra: reconhecimento, que é menor ainda.
Tudo se resume em uma única palavra:
A produção de shows internacionais
aqui no Brasil era difícil antigamente,
blico suficiente para grandes eventos
alternativos, e se tomarmos como mé- PAIXÃO.” PAIXÃO.

porém hoje é ainda mais, apesar da in- dia o público destes festivais que fize- Espero que algum dia tudo isso mude,
ternet, com mídia eletrônica acessível mos, o ingresso teria que ter sido mui- Outra coisa que marcou os eventos é a que tenhamos mais eventos, bandas,
a todos. to mais caro do que foi, para ao menos proximidade da banda com o público, selos independentes por aqui, mas no
O custo aumentou muito, principal- empatar o dinheiro investido. pois em shows na Europa você não tem momento isto é só um sonho distante.
mente passagens aéreas, além de hos- muito acesso à banda enquanto aqui

“música
pedagem, alimentação, sindicato dos É uma realidade triste que inviabilizou você tem uma coisa inédita: fala com
músicos, ecad, equipamento de som, o que seria uma forma de termos aqui o artista, recebe autógrafo, tira foto, e

também é um
aluguel do espaço do evento, cachê, uma estrutura do nível de fora e dar a isto vale muito mais do que ir ver um
vistos de trabalho, transporte interno, chance de as pessoas sentirem como show lá fora. Mas, enfim, as pessoas

trabalho como
ingressos, divulgação, entre outros. seria um show no exterior, já que os não entenderam a realidade e por isso
ALEX TWIN/ PECADORES/ FOTOS: RAUL SOUZA
custos de uma viagem internacional a coisa esfriou neste momento.
GS: Você foi responsável também
pelo WAVE SUMMER FESTIVAL, o
para ver os principais festivais da Eu-
ropa são bem altos. GS: O que vem por aí na Wave Records? qualquer outro
primeiro festival brasileiro seguin-
do padrões Europeus, que trouxe no Tentamos três diferentes maneiras de ALEX TWIN: Sempre fecho a progra- e necessita ser
remunerado.”
mesmo evento as bandas alemãs DAS ter o festival, mas as três não funcio- mação de lançamentos em dezembro
ICH, MERCIFUL NUNS e DER PRAE- naram comercialmente falando, e pa- do ano anterior. Para 2017, teremos
GER HANDGRIF além dos italianos ramos. Somente com algum patrocínio uma nova banda de New York chamada
do ATARAXIA, e ainda ótimas atra- poderia ser viável. WHAT TWO LEFT, entre o post-punk/ Deixo aqui um pedido: que as pesso-
ções nacionais em um local incrível... shoegaze um mix de Lebanon Hanover/ as tentem se informar sobre a “cena”
Falo com experiência, qualquer show de Joy Division e Pink Industry, INSTANT brasileira, apoiem as pessoas, que são
ALEX TWIN: Em 2015, resolvemos bandas alternativas gothic/industrial LAKE, primeiro álbum da banda ita- poucas, que tentam manter viva a cha-
fazer pela primeira vez um festival terá prejuízo em 95% dos casos, porque liana darkwave, OPERA MULTI STEEL, ma da boa música, ajudem as bandas
nos padrões Europeus, o resultado foi produzir um evento de forma correta e vinil Picture com oito dos principais comprando seus discos, ou até mesmo
maravilhoso do ponto de vista de or- legal tem um alto custo, porém aqui hits da banda regravados em versões mp3 digital, pois somente desta forma
ganização, shows, local, etc. Fizemos no Brasil os ingressos não podem ter 2017, novo single do WINTRY produ- elas continuaram a gravar e lançar.
dois festivais em 2015, Wave Summer um valor muito alto e não temos públi- zido por John Fryer (produtor do This
e Wave Winter, um em Cotia e outro co suficiente para cobrir estes custos. Mortal Coil, Cocteau Twins, Dead Can Afinal, música também é um trabalho
em São Paulo. Depois em 2016, Wave Além de tudo isso, o público não apoia: Dance, Xymox, 4AD, DM, NIN), TWI- como qualquer outro e necessita ser
Winter em São Paulo novamente. o evento deveria ser um presente para LIGHT RITUAL, um best of da banda remunerado.

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H.A.Kipper LITERATURA

O ROMANCE
GÓTICO
PARTE l : 1764 a 1800
A subcultura gótica se chama “gótica” por motivos claros.
Para um Inglês de cultura média das décadas de 1960
ou 1970 o adjetivo “gótico” (gothic) remetia a uma parte
conhecida da literatura ou a filmes por ela inspirados.
Assim, quando bandas e pessoas se O Castelo de Otranto (1764, de Horace
autodenominaram góticas na Inglater- Walpole), Vathek (de William Beck- Algumas
ra entre 1978 e 1984, se referiam a uma ford) e O Monge (de Lewis). características
estética artística definida e encontrável
em qualquer biblioteca. A eles se seguiram uma multidão de da literatura
cópias e versões mais aceitáveis social- gótica:
Infelizmente o ensino de literatura mente. Mas o básico do estilo estava
no Brasil ignora a literatura gótica na estabelecido. No começo do século se- - CARÁTER PROMETEICO:
maioria dos casos, ou a inclui como guinte Mary Shelley e Maturin nos dei- como no mito de Prometeu algum
tendência do Romantismo, esquecen- xariam obras como Frankenstein (1819) personagem tenda desafiar os deuses,
do toda fase inicial do estilo. e Melmoth (1821), além do trabalho de mesmo que seja para melhorar o mun-
Lord Byron, Polidori e outros, mistu- do, sendo depois eternamente punido
Isso se deve a dois motivos principais: rando elementos góticos ao Romantis- por isso. Por consequência, o mito de
o primeiro movimento literário forte mo. Esse é o período “tradicional” de Lúcifer acaba sendo assimilado a essa
no Brasil foi o Romantismo e começou formação da Literatura Gótica. ideia no século XVIII, especialmente
tardiamente, já recebendo os elemen- pela obra Paraíso Perdido de Milton.
tos góticos incorporados. Toda literatura que nos últimos 200 Não por acaso, Mary Shelley chama
anos foi influenciada pelas obras desta seu Frankenstein de “Moderno Prome-
O segundo motivo se relaciona com os fase segue as mesmas características teu”. Por isso tantos “anjos caídos” e
críticos literários daqui, que copiaram que definem o sentido da palavra “gó- “anjos negros” na estética gótica.
as visões negativas da crítica europeia tico”. O mesmo vale para o cinema no
sobre a literatura Gótica. Por seu gran- século XX. - O MAL INTERIOR:
de sucesso popular no final do século ao contrário do Romantismo tradicio-
XVIII, a crítica especializada da época
considerou o estilo de mau gosto.
Strawberry Hill nal, o conflito não é entre um herói
bom e um mundo mau que atrapalha a
A apropriedade e a mansão realização do bem e do amor. O con-
ILUSTRAÇÃO: CAU GOMEZ

O Romance Gótico teve o primeiro goticizadas de Horace Walpole são flito na estética Gótica é interno: o mal
auge de sucesso comercial no final do ponto turístico na Inglaterra até hoje. e a loucura ameaçam o protagonista
século XVIII (1701-1800), portanto an- Você pode fazer a “Otranto Tour”: a partir de dentro de si. Depois esse
tes da Era Vitoriana (1837-191). modelo vai ser chamado de herói Byro-
No século XIX, os primeiros roman- www.strawberryhillhouse.org.uk niano, mas já era o modelo de protago-
ces importantes dessa literatura são nista Gótico bem antes de Byron.

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LITERATURA

IMAGEM: DIVULGAÇÃO/ REPRODUÇÃO


- A LINGUAGEM do Romance Gótico desafia todos os deuses, O Monge Ainda no século XVIII William Beck- PORQUE O GÓTICO
se aproxima mais da crueza e realismo desafia tanto Deus com sua soberba O INÍCIO ford, cujo estilo de vida escandaloso PERMANECE NECESSÁRIO
Shakespeariano do que da assepsia e como com seus pecados, Frankenstein não era muito diferente do hedonismo À CULTURA OCIDENTAL
idealização do Romantismo. Walpole desafia inúmeros valores morais ao Dois nomes são essenciais para enten- e heretismo de seu mais famoso prota-
inclusive cita Shakespeare como re- tentar criar vida a partir da morte. der o começo da estética Gótica entre gonista, escreve “Vathek” ou “Vathek, “O Gótico tem sido e permanece ne-
ferência em sua introdução a Otranto 1764 e 1800: Horace Walpole e William an Arabian Tale or The History of the cessário à cultura ocidental moderna
(1764). Este aspecto se une a punição Prome- Beckford. Estes dois autores não ape- Caliph Vathek”. Existem versões ori- porque ele nos permite, no fantasma-
teica: e Melmoth vagueia séculos com nas criaram o Gótico como um estilo ginais publicadas em Inglês e Francês, górico de uma ficcionalidade descara-
- A REPRESENTAÇÃO DO CORPO: os sua maldição, Vathek terá seu coração literário, mas toda a estética Gótica devido as idas e vindas e confusões do damente falsa, confrontar as raízes de
personagens góticos têm corpos com em chamas para sempre, e nunca mais como a entendemos desde aquela épo- autor em sua conturbada vida de mi- nossos seres em contraditórias multi-
sensações, erotismo e sensualidade encontramos nem Victor Frankenstein ca, envolvendo recriação arquitetônica, lionário exêntrico. plicidades (da vida se transformando
são expressos de forma escandalosa nem sua criação. Também o persona- paisagismo, decoração, design, vesti- em morte aos gêneros se confun-
Poster do filme de 2011
para os padrões da época, incluindo gem vampiro é mais um caso de maldi- menta e outros detalhes. Beckford também investiu em “arqui- dindo até o medo se transformando
elementos de sadismo, perversão, in- ção Prometeica ou Luciferiana. De uma tetura simulacral”, como Walpole, e em prazer e muito mais) e a definir
cesto, etc. Neste aspecto, um romance forma ou outra, por desafiarem algum 1796: O MONGE Antes deles, “Gótico” era ainda ape- gastou boa parte de sua fortuna cons- nossos seres em oposição a essas
como O Monge está mais próximo de sagrado, todos são punidos eterna- de Matthew G. Lewis nas um adjetivo negativo usado pelos truindo impressionantes reproduções assombrosas contradições, ao mesmo
Sade do que do Romantismo. mente ou por um tempo que parece renascentistas para denegrir a arquite- de prédios e ambientes góticos na sua tempo que nos sentimos atraídos por
eterno. Além de redefinir o estilo na época, tura escolástica da baixa idade média. Fonthill Abbey. elas, tudo isso em um tipo de ativi-
No Romantismo original vemos perso- a obra fez tanto sucesso que o autor Walpole lança uma moda que se torna dade cultural que, enquanto o tempo
nagens que praticamente não apresen-
tam corpos, amor platônico e realiza-
“Gótico significa passou ser chamado de “Monk Lewis”,
como se o nome dessa obra fizesse
popular, criando um “novo estilo Gó-
tico”. Ele explica seu plano estético na
Os personagens O Castelo de Otranto,
Vathek e O Monge vão servir de molde
passa, pode continuar inventivamente
a mudar seus fantasmas de mentira
ção do amor apenas “entre as almas”, uma escrita de excesso” parte de seu nome. introdução de seu romance . para ainti-heróis góticos e, no começo para que abordem anseios e medos
muitas vezes realizado com a morte. (Fred Botting, 1996, “GOTHIC”) do século seguinte, inspirar a formação culturais e psicológicos mutáveis.”
(Ex: Werther ou Amor De Perdição). Porém o sucesso não diminuiu o cho- Walpole era um rico aristocrata filho do que ficou conhecido como “Herói Trecho de “The Cambridge
Assim, é importante notar que a es- que que a obra causou, ainda mais de um poderoso primeiro ministro In- Birônico”, nomeado assim pela vida Companion to Gothic Fiction”
-SOMATIZAÇÃO DO MAL: o mal in- tética gótica não se resume a um sis- vindo de um membro do parlamento glês e Beckford ainda mais rico. Com e personagens do autor Lord Byron. de Jerrold E. Hogle
terior na narrativa gótica se apresenta tema de cenários (castelos em ruínas, britânico. suas exentricidades literárias e arquite- Byron (1788-1824) foi fortemente in-
como uma degeneração físico-moral, cemitérios, noites enfumaçadas, etc.) tônicas, popularizaram um novo estilo fluenciado pelas obras e vidas de Wal-
da alma e do corpo, que usa muitas ve-
zes de imagens tomadas das doenças
e alguns personagens padrão (zum-
bis, múmias, vampiros, etc.). Isso tudo
A obra foi denunciada como blasfê- feito da bricolagem de diversos estilos pole e Beckford. Cronologia da Parte
mia pornográfica (para os padrões da antigos.
nervosas como descritas na medicina faz parte da tradição gótica, mas estes época). De fato, além de incesto, es- Mas na época em que Byron publicou 1 (1764-1800):
da época. No século XIX um dos casos elementos de cenário e personagens catologia, sequestro, assassinato, ter A Literatura Gótica tem seu início ofi- (1807-1824), a moda medievalista ou
mais conhecidos disso em A Queda da podem e são muitas vezes usados em como uma das tramas a história de um cial em 1764 quando Walpole publica gótica já tinha se espalhado pela Euro- 1749- Horace Walpole compra
Casa de Usher, de Poe, que seguiu o mo- obras que não são góticas. monge com aspirações de perfeição “O Castelo de Otranto” com o subtí- pa, sendo forte também na restauração Strawberry Hill
delo gótico que vinha do século XVIII. que sucumbe aos prazeres da carne tulo “a gothic novel” (um romance gó- francesa. 1754- Edmund Burke publica seu
Muitos livros, filmes, estilos de roupa, com um noviço que na verdade é uma tico). A obra foi um sucesso literário e ensaio sobre o sublime
1764- O Castelo de Otranto-
Será comum o mal ser visto como al-
gum tipo de doença transmissível, seja
séries, quadrinhos e jogos foram de-
senvolvidos a partir da estética gótica
moça disfarçada é apenas uma parte
da história.
comercial gerou diversos seguidores e
imitações até o final do século XVIII.
“LENORE” de Horace Walpole
pelo contato sensorial ou mesmo pelo e isso é algo que faz parte da cultura Em 1776 fazem sucesso versões em in- 1774- Lenore- Gottfried A. Bürger
ar, enfermidades geralmente relaciona- universal e domínio público de qual- “O Monge” foi considerada referência Mas antes de escrever, Walpole já ti- glês da balada alemã “Lenore”, poe- 1774- Necromancer- Peter Teuthold
das a degeneração da sanidade, prin- quer pessoa, gótica ou não. de qualidade literária por escritores da nha iniciado a moda Gótica na jardina- ma lançado em 1774 por Gottfried A. 1786- Vathek- Willian Beckford
cipal pavor da sociedade na “era da época, o próprio Marquês de Sade es- gem, “arquitetura” e decoração, desde Bürger. 1793- William Beckford começa a
razão”. A perda da razão é relacionado O que nos interessa, como góticos, é creveu que preferia o estilo de Lewis que comprou a propriedade batizada constuir a Fonthill Abbey
ao horror gótico já em uma fase inicial. ver o que a subcultura gótica fez com ao gótico mais suave e refinado de de Strawberry Hill em 1749: imediata- Nesse poema uma noiva espera o noi- 1796- O Monge- de Matthew G. Lewis
esses elementos da cultura universal. Ann Radcliffe. mente começo a “goticizá-la”: vo que não volta da guerra. Uma noite De Ann Radcliffe:
- ANTICLERICALISMO: seja contra re- Mas sem entendermos esses elementos ele reaparece, morto-vivo, montado a 1790- Um Romance da Sicília
ligiões orientais, como em Vathek, ou da cultura universal não temos como De fato o gótico de Lewis se aproxima Walpole ignorou o fato da mansão cavalo, e diz ter vindo buscá-la para o 1791- O Romance Da Floresta
religiões e crenças ocidentais, a narra- entender o que foi feito deles na sub- mais do seu contemporâneo Sade do ser de outro estilo arquitetônico e foi leito nupcial, que se confundirá com o 1794- Os Mistérios de Udolpho
tiva gótica estará de alguma forma de- cultura gótica. que da estética romântica mais bem acrescentando adereços, reformas e leito de morte no final trágico. 1797- O Italiano
safiando a religiosidade e morais esta- aceita na época. Mas “O Monge” con- decorações passadistas. A moda pe-
belecidas, mesmo que essa “religião” Ao longo das edições de GOTHIC STA- quistou também a admiração de gran- gou as pessoas visitavam sua mansão Ela na garupa, eles cavalgam sob o Veja na página 48 mais indicações
seja a Ciência. Manfred (Otranto) per- TION exploraremos em detalhe cada des escritores românticos e influenciou para aprender como goticizar sua pro- luar, pois “os mortos galopam velozes de bibliografia para quem deseja
segue a noiva do filho morto, Vathek aspecto dessa estética artística. a geração seguinte de autores. priedades. pela noite”. pesquisar literatura gótica.

46 GOTHIC MAIO 2017 GOTHIC MAIO 2017 47


KIPPER
Se você é estudante de
Literatura, gostou do nosso artigo Atelier
de literatura e quer pesquisar ASTARTY ELFEN
mais, indicamos abaixo alguns
dos livros que consultamos Trajes de época
para esta série. e figurinos temáticos
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em português é escassa... Serviços de costura
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w w w.facebook.com/Astarty
Go Goth, Bats! :)
astarty@gmail.com
Fontes de consulta em whats: (11) 94921-6506
Literatura Gótica:

Romanticism and The Gothic


Michael Gamer, 2004
Acessórios Góticos
The Cambridge Companion to Gothic Alternativos
Fiction- Jerrold E. Hogle, 2002

The Gothic
David Punter & Glennis Byron, 2004
Facebook:
/Gotikacessorioss/
Encyclopedia of Gothic Literature
Mary Ellen Snodgrass, 2005

The Wordsworth Companion to


Loja Online:
Literature in English gotikacessorios1.loja2.com.br
Ian Ousby, 1988

Contesting The Gothic


James Watt, 1999

A Moral da Máscara
Patrice Bollon, 1990

Gothic- Fred Botting, 1996

Preface a Vathek
Stephane Malarmé, 1876 Facebook: Gothic Station
Three Gothic Novels
ed. by & intro.: E. F. Bleiber, 1966

Three Gothic Novels- ed. by Peter


Fairclough, intro.: Mario Praz, 1968

Romances e poemas citados

48 GOTHIC MAIO 2017


REVISTA

GOTHIC
STATION
ESTILO & CULTURA
N º 1 - Maio 2017

Entrevistas
exclusivas:
LACRIMOSA
XYMOX
Das PROJEKT
AleX TWIN
Station to Station: a evolução
dos estilos musicais que amamos!
Lançamentos 2016 - 2017 e muito mais...

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