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Trabalho de Casa 5 – Módulo II – Psicologia do Desenvolvimento

Os muros da nossa indiferença


Um olhar sobre a inclusão em contexto escolar

Numa das turmas a quem leciono este ano, uma jovem é disléxica e anda numa cadeira
com rodas. Quanto a vi pela primeira vez não consegui evitar sentimentos contraditórios
sobre a sua condição de “pessoa com deficiência”. Se concluí que ela tinha sorte por
frequentar uma escola “acessível”, que lhe permitia circular pelos espaços sem barreiras,
por outro lado, pensei, “deves estar bem lixada, no mundo lá fora”! O mundo, ou a
sociedade, ou, se quisermos, a comunidade, continua a ser um universo hostil para quem
vive numa cadeira de rodas. Basta aquela miúda pôr os pés fora da escola, quero dizer, as
rodas na rua, para ver todos os seus desejos desfazerem-se contra os postes no meio dos
passeios, as ruas sem passeio, os passeios sem rampa, os espaços comerciais e outros,
completamente inacessíveis. E se ela quiser ir com os amigos ao Porto, ao cinema, de
autocarro ou comboio? E se ela ainda sonhar em ir para a universidade? E como será para
ela começar a trabalhar? E quando quiser comprar um carro adaptado? …bem, não
contínuo...ela vive “num mundo cão” …em que as barreiras são muito maiores do que as
acessibilidades.
Apesar de alguma recente sensibilidade pelas “pessoas com deficiência”, elas continuam a
viver isoladas nos seus guetos, num mundo construído e habitado por pessoas sem
deficiência motora. E, de um modo geral, as autarquias tomam poucas iniciativas para
permitir a estas pessoas maior acessibilidade, e esgotam os seus esforços, e milhares de
euros, em campanhas e projetos estéreis, mas que resultam em cartazes todos catitas e
slogans muito inclusivos… Este é um tema que fica sempre bem nos papéis, nos planos de
ação, afinal, a inclusão, a tolerância para com a diferença, tornaram-se ideologias que
vendem bem nos tempos atuais, mas, depois, efetivamente, no mundo real, as melhorias
tardam, e as cadeiras de rodas continuam a esbarrar-se contra os muros da nossa
indiferença. Bem, eu até compreendo que assim seja, afinal, a maioria destas pessoas nem
deve votar…
Para além da deficiência motora, esta jovem apresenta dislexia e tem dificuldades com
cálculos matemáticos, e este problema sim afetará em maior parte, com certeza, o seu
processo de ensino-aprendizagem e cabe-se a mim, professor de matemática, definir um
conjunto de estratégias que prevejam a adaptação das aulas a esta estudante de forma a
garantir um contexto de sala inclusivo.
Deste modo, e com apoio de materiais disponibilizados pelas editoras, usarei livro em
formato áudio sempre que a este me referir. Quanto à escrita no quadro o cuidado com
uso de letras grandes e grandes espaços entre as linhas, fará parte destas estratégias.
No final de cada aula, tenciono, ainda assim, fornecer uma cópia das notas de aula, em
pequenas unidades. Caso seja necessário e a aluna pretenda permitirei o uso do
computador ou telemóvel. Como característica própria da matemática, ensinarei a esta
aluna e a todos os restantes alunos a usar a lógica em vez de memorizar, o que facilitará a
aprendizagem desta aluna e de todos, em geral.
Acrescento a este TPC um conto de natal, escrito por um professor amigo, impresso no
jornal da minha terra, que acho deveras interessante e vem a propósito dos temas
explorados em aula.

Trabalho realizado por: Pedro Costa


(up201805045)

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