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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

INSTITUTO DE LETRAS
LET03011 - TEORIAS DA LEITURA - TURMA B
PROFª. DRª. MARIA JOSÉ FINATTO
ALUNA: ADRIANA KERCHNER DA SILVA - CARTÃO 244811

PROJETO DE ENSAIO

Meu trabalho será feito somente por mim, usando o Espanhol como língua estrangeira.
Escolhi como objeto de análise o conto “A outra morte”, do livro “O Aleph” (1949), de Jorge
Luis Borges. A edição em espanhol que será utilizada data de 1957, da editora Emecé
Editores S.A, de Buenos Aires. As duas traduções foram publicadas no Brasil, uma em 1972
pela Editora Globo e traduzida por Flávio José Cardozo; a outra, em 2008 pela editora
Companhia das Letras, com tradução de Davi Arrigucci Jr.
Jorge Luis Borges (1899-1986) foi um escritor argentino, autor de poemas, ensaios,
críticas literárias e contos. Vindo de uma família letrada e abastada, Borges cresceu em um
ambiente bilíngue espanhol-inglês e desde muito jovem começou a escrever. Com sete anos
escreveu seu primeiro conto e, aos nove, traduziu “O príncipe Feliz” de Oscar Wilde. O
escritor falava muitos idiomas, além do inglês e do espanhol, e traduziu, por exemplo, Kafka e
Faulkner. Começou a publicar na década de 1920 e seguiu até 1985. De modo amplo, sua obra
literária de maturidade trabalhou muito com o gênero da literatura fantástica. Os temas de
seus livros perpassam a filosofia, a matemática, a história, a mitologia, a metafísica, entre
outros.
O livro “O Aleph” foi publicado em 1949 e reeditado pelo autor em 1974. Reúne
dezessete contos e um epílogo assinado pelo autor. Essa edição que utilizarei como base (de
1957), tem 173 páginas. Escolhi esse livro para análise por ser tão central na literatura latino-
americana e, portanto, ter gerado diversas traduções ao longo dos anos.
Flávio José Cardozo, que traduziu em 1972, é um jornalista e escritor de Santa
Catarina, nascido em 1938. Já publicou livros de contos, crônicas e literatura infantil e, como
tradutor, trabalhou com “O Aleph” e “História Universal da Infâmia”, de Borges. Cardozo
trabalhou na Editora Globo em Porto Alegre e foram seus e de Cremilda de Araújo os
primeiros esforços para convencer a editora de comprar os direitos dos livros de Borges para
serem traduzidos. Cardozo apenas traduziu os dois livros de Borges, não tendo feito carreira
como tradutor.
A outra tradução é de Davi Arrugucci Jr., escritor, crítico literário, tradutor e professor
aposentado da USP. Sua formação em Letras foi muito voltada para a literatura latino-
americana, tendo feito seu doutorado sobre o argentino Julio Cortázar. Estudou muito sobre
Borges até lançar a tradução, em 2008, pela editora Companhia das Letras. Arrigucci Jr.
traduziu diversos livros de Borges para a Companhia das Letras, além de um livro do
uruguaio Felisberto Hernández. É, portanto, muito conhecedor da literatura latino-americana e
da obra de Borges em específico.
Para análise, selecionei o conto “A Outra Morte”, pois encontrei nele diversas
questões linguísticas e culturais interessantes. Por exemplo, o uso de “gaucho” e “gurí” por
Borges e as diferentes escolhas feitas pelos tradutores para equivalentes em português. Nesse
pequeno trecho abaixo reproduzido, podem-se notar várias diferenças nas traduções e meu
interesse será em investigar as motivações de cada tradutor para suas escolhas.

Original (1957) Tradução 1 (1972) Tradução 2 (2008)

[...] Desde un sillón de [...] Numa cadeira de [...] Numa poltrona


hamaca, en un pátio, recordó balanço, num pátio, basculante, num pátio,
con desorden y con amor los lembrou-se com desordem e recordou com desordem e
tiempos que fueron. Habló amor dos tempos passados. amor os tempos passados.
de municiones que no Falou de munições que não Falou de munições que não
llegaron y de caballadas chegaram e de cavalhadas chegaram e de cavalos
rendidas, de hombres rendidas, de homens exaustos, de homens
dormidos y terrosos tejiendo sonolentos e terrosos tecendo sonolentos e terrosos tecendo
laberintos de marchas, de labirintos de marchas, de marchas labirínticas, de
Saravia, que pudo haver Saravia, que podia ter Saravia, que podia ter
entrado en Montevideo y que entrado em Montevidéu e se entrado em Montevidéu e se
se desvió, “porque el gaucho desviou, “porque o gaúcho desviou, “porque o gaucho
le teme a la ciudad”, de teme a cidade”, de homens tem medo da cidade”, de
hombres degollados hasta la degolados até a nuca, de uma homens degolados até a
nuca, de una guerra civil que guerra civil que me pareceu nuca, de uma guerra civil
me pareció menos la colisión menos o choque de dois que me pareceu menos o
de dos ejércitos que el sueño exércitos do que o sonho de choque de dois exércitos que
de un matrero. um foragido. o sonho de um bandoleiro.
(BORGES, 1957, p. 72) (Tradução de CARDOZO, (Tradução de ARRIGUCCI
1972, p. 56) JR., 2008, p. 65 - grifo do
tradutor)
Quadro comparativo
O comparativo entre as duas traduções se torna ainda mais interessante se pensarmos
que temos aqui dois pontos temporais opostos: a primeira e a mais recente traduções de “O
Aleph” no Brasil. Além disso, temos um tradutor mais experiente (Arrigucci) e um que
traduziu apenas dois livros, mais por aventura e vontade de desbravar (Cardozo). Temos aqui
uma análise que poderá ser rica e abarcar diversos aspectos contíguos à tradução.

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