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37 - 61, (2005)
www.sbfisica.org.br
A. Einstein
Publicado em Jahrbuch der Radioaktivität und Elektronik 4, 411-462 (1907)
A equação de movimento de Newton mantém sua teoria e experimento é removida formalmente pela su-
forma, quando mudamos para um sistema de coorde- posição de H.A. Lorentz e Fitzgerald, de acordo com a
nadas, que está em movimento uniforme de translação qual os corpos em movimento sofrem uma determinada
em relação ao primeiro, de acordo com as equações contração na direção do movimento. Tal suposição
ad hoc, no entanto, surgiu apenas como um artifı́cio
x0 = x − vt para salvar a teoria, pois o experimento de Michelson
y0 = y e Morley de fato demonstrou que fenômenos seguem o
z0 = z princı́pio da relatividade, mesmo em âmbitos inespera-
dos para a teoria de Lorentz. Assim parecia que a teoria
Enquanto nos ativermos à idéia de que toda a Fı́sica de Lorentz deveria ser abandonada e reposta por uma
poderia ser fundamentada pelas equações de movimento teoria cujos fundamentos corresponderiam ao princı́pio
de Newton, não caberia dúvida de que as leis da na- da relatividade, pois tal teoria teria prontamente pre-
tureza seriam as mesmas, independentemente dos sis- visto o resultado negativo do experimento de Michelson
temas de coordenadas movimentando-se relativamente e Morley.
de maneira uniforme, (sem aceleração). Essa inde- Mostrou-se, porém, de maneira surpreendente, que
pendência do movimento em relação ao sistema de co- apenas uma definição mais precisa do tempo seria su-
ordenadas utilizado, que chamaremos de “princı́pio da ficiente para superar o problema. Seria necessária ape-
relatividade”, foi subitamente questionada pelas bri- nas a constatação de que a grandeza auxiliar intro-
lhantes corroborações para a eletrodinâmica dos cor- duzida por H.A. Lorentz, chamada de “tempo local”,
pos em movimento de H.A. Lorentz [1]. Tal teoria está poderia ser definida simplesmente como “tempo” geral.
baseada na suposição de um éter luminoso em repouso Atendo-se a essa definição de tempo, verifica-se que
e sem movimentos internos e suas equações básicas não as equações básicas da teoria de Lorentz correspondem
são tais que se transformam em equações da mesma ao princı́pio da relatividade, desde que as equações de
forma, quando as equações de transformação acima são transformação acima sejam substituı́das por outras cor-
aplicadas. respondentes ao novo conceito de tempo. A hipótese
Desde a aceitação dessa teoria esperava-se que se- de Lorentz e Fitzgerald passa a ser uma conseqüência
ria possı́vel demonstrar um efeito do movimento da compulsória dessa teoria. Somente o conceito de um
Terra relativo ao éter em fenômenos ópticos. O pró- éter luminal como transportador de forças elétricas e
prio Lorentz demonstrou em seu trabalho, como con- magnéticas não cabe na teoria descrita aqui, pois cam-
seqüência de suas hipóteses básicas, que nenhum efeito pos eletromagnéticos são descritos agora não como esta-
devido a esse movimento relativo da Terra sobre o cami- dos de alguma substância, mas como entes que existem
nho óptico seria esperado, desde que os cálculos se independentemente, análogos à “matéria ponderável”,
limitassem aos termos nos quais a relação v/c da ve- tendo com ela em comum a caracterı́stica da inércia.
locidade relativa à velocidade da luz no vácuo fosse li- A seguir tenta-se resumir, como um todo, os tra-
near. No entanto, o resultado negativo do experimento balhos surgidos até agora da fusão da teoria de H.A.
de Michelson e Morley [2] mostrou que efeitos de se- Lorentz e do princı́pio da relatividade.
gunda ordem (proporcionais a v 2 /c2 ) também estavam Nas primeiras duas partes do presente trabalho são
ausentes, embora devessem estar presentes de acordo tratados os fundamentos cinemáticos, bem como suas
com a teoria de Lorentz para a situação estudada. aplicações às equações básicas da teoria de Maxwell e
É bem conhecido o fato de que tal contradição entre Lorentz. Nesse propósito ative-me aos trabalhos1 de
∗ Tradução de Peter A. Schulz, Instituto de Fı́sica Gleb Watgahin, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, Brasil.
1 Os estudos de E. Cohn sobre o tema também são relevantes, mas não os utilizo aqui.
H.A. Lorentz [3] e de A. Einstein [4]. Para determinar a posição de um processo, que
Na primeira seção, na qual são aplicados exclusi- ocorre durante um intervalo de tempo infinitesimal
vamente os fundamentos cinemáticos da teoria, trato (evento pontual), em um elemento do espaço pre-
também de alguns problemas ópticos (princı́pio de cisamos de um sistema de coordenadas cartesiano, isto
Doppler, aberração, arraste da luz por corpos em movi- é, três varas mutuamente perpendiculares e rigidamente
mento): sobre a possibilidade de tal abordagem fui atadas entre si, bem como uma vara rı́gida de unidade
informado pessoalmente, bem como por meio de um de medida2 . A geometria permite-nos determinar a
trabalho, pelo senhor M. Laue [5] e também por um posição de um ponto, ou seja, a localização de um
trabalho (que aliás necessita correções) do senhor J. evento pontual, por meio de três números (coordenadas
Laub [6]. x, y, z)3 . Para medir o instante em que o evento ocorre
Na terceira parte é desenvolvida a dinâmica de um usamos um relógio em repouso em relação ao sistema
ponto material (elétrons). Para a dedução das equações de coordenadas e na vizinhança onde o evento ocorre.
de movimento eu utilizo o mesmo método do meu tra- O tempo do evento pontual é definido pela leitura si-
balho citado acima. A força é definida como no trabalho multânea do relógio.
de Planck. As reformulações das equações de movi- Imaginemos agora muitos relógios em repouso, em
mento do ponto material, que mostram tão claramente relação ao sistema de coordenadas, fixos em diferentes
a analogia com as equações de movimento da mecânica pontos. Esses relógios são equivalentes, ou seja, a
clássica, também são tiradas desse trabalho. diferença entre a leitura de dois deles permanece inalte-
A quarta parte trata dos desdobramentos gerais, rada se eles estão posicionados como vizinhos. Pense-
em relação à energia e ao momento de sistemas fı́sicos, mos nesses relógios arranjados de tal forma que a totali-
aos quais a teoria da relatividade conduz. Esses des- dade deles, desde que colocados suficientemente perto
dobramentos foram desenvolvidos nos trabalhos origi- uns dos outros, permite a medida do tempo de qualquer
nais [7, 8], bem como no de M. Planck [9], sendo evento pontual, por meio, digamos, do uso do relógio
aqui derivados de um novo modo, que – na minha vizinho.
opinião – tornam especialmente claras as relações entre No entanto, o conjunto de leituras desses relógios
as aplicações mencionadas e os fundamentos da teoria. não nos fornece ainda um “tempo”, como necessário
A dependência da entropia e da temperatura com o es- para as finalidades da fı́sica. Para isso necessitamos
tado do movimento também é tratada aqui; em relação ainda de uma regra de acordo com a qual esses relógios
à entropia ative-me totalmente ao trabalho de Planck são ajustados uns em relação aos outros.
citado por último, enquanto que a temperatura de cor- Agora assumiremos que os relógios podem ser ajus-
pos em movimento eu defini como senhor Mosengeil no tados de tal modo que a velocidade de propagação de
seu trabalho sobre a radiação de corpo negro em movi- qualquer feixe de luz no vácuo – medido por meio desses
mento [10]. relógios – seja em qualquer lugar igual a uma constante
O resultado mais importante dessa quarta parte é universal c, desde que o sistema de coordenadas não
o da massa inercial da energia. Esse resultado suge- seja acelerado. Sejam A e B dois pontos em repouso,
re a questão se a energia também possui massa “pe- relativamente ao sistema de coordenadas, equipados
sada” (gravitacional). Mais além, coloca-se a questão com relógios e separados por uma distância r: se tA
se o princı́pio da relatividade está restrito a sistemas é a leitura do relógio em A no momento em que o feixe
em movimento não acelerados. Para não deixar essas de luz propagando no vácuo na direção AB alcança o
questões completamente no ar, acrescentei ao presente ponto A e tB é a leitura do relógio em B no momento
trabalho uma quinta parte, que contém uma nova con- que o feixe alcança B, então devemos ter sempre
sideração do ponto de vista da teoria da relatividade
sobre aceleração e gravitação. r
= c,
tB − tA
independentemente do movimento da fonte de emissão
I - Parte cinemática da luz ou do movimento de qualquer outro corpo.
Que essa suposição feita aqui, que chamaremos de
§1. Princı́pio da velocidade da luz constante: “princı́pio da constância da velocidade da luz”, ocorra
Definição do tempo. Princı́pio da relatividade de fato na natureza não é de modo algum evidente, mas
– pelo menos para um sistema de coordenadas de um
Para descrever qualquer fenômeno fı́sico, precisamos determinado estado de movimento – torna-se plausı́vel
ser capazes de medir as mudanças que ocorrem em pon- pela confirmação da teoria de Lorentz [1], baseada na
tos individuais do espaço como função do tempo e da suposição de um éter absolutamente em repouso, por
posição. meio de um experimento4 .
2 Em vez de falar de corpos rı́gidos, podemos igualmente usar corpos sólidos que não estão sujeitos a forças de deformação.
3 Para isso necessitamos ainda de réguas auxiliares.
4 É de especial relevância que essa teoria forneceu o coeficiente de arrasto (experimento de Fizeau) em acordo com o experimento.
Sobre o princı́pio da relatividade e suas implicações 39
A esse conjunto de leituras de todos os relógios, sin- material P ocupa uma certa posição em S, isto é, co-
cronizados de acordo com a regra acima, que podemos incide com um certo ponto Π, que está em repouso em
imaginar arranjados em pontos individuais do espaço relação a S. A totalidade de posições dos pontos Π em
em repouso em relação ao sistema de coordenadas, relação ao sistema de coordenadas S chamaremos de
chamaremos de tempo pertencente ao sistema de co- posição e a totalidade das interrelações de posições de
ordenadas ou, abreviadamente, o tempo desse sistema. pontos P chamaremos de forma cinemática do corpo
O sistema de coordenadas usado, juntamente com em relação a S no tempo t. Se o corpo está em repouso
a régua unitária de medida e os relógios usados para em relação a S, sua forma cinemática será idêntica à
determinar o tempo do sistema, será chamado de “Sis- forma geométrica.
tema referencial S”. Vamos supor que as leis fı́sicas É claro que observadores em repouso no sis-
são conhecidas em relação ao sistema referencial S, que tema referencial S podem determinar apenas a forma
está inicialmente em repouso em relação ao Sol. De- cinemática em relação a S de um corpo que se movi-
pois disso, o sistema referencial S é acelerado durante menta em relação a S, mas não a forma geométrica
um intervalo de tempo por meio de um agente externo, desse corpo.
retornado logo após a um estado não acelerado. Como No que segue não iremos usualmente diferenciar
serão as leis fı́sicas se as aplicarmos aos processos rela- explicitamente formas geométrica e cinemática; uma
tivos ao referencial S que agora está em um outro estado afirmação de significado geométrico refere-se à forma
de movimento? cinemática ou geométrica, dependendo se aquela se refe-
Nós faremos a mais simples das suposições, que é re ao sistema de referência S ou não, respectivamente.
também sugerida pelo experimento de Michelson e Mor-
ley: as leis da Fı́sica são independentes do estado de §3. Transformações de coordenadas e tempo
movimento do sistema referencial, ao menos se o sis- Sejam S e S’ sistemas referenciais equivalentes, isto
tema não está acelerado. é, ambos possuem réguas de mesmo comprimento e
Sobre essa suposição, que chamaremos de “princı́pio relógios que avançam à mesma razão, quando esses são
da relatividade”, bem como sobre o princı́pio da cons- comparados entre si em um estado de repouso rela-
tância da luz, basear-nos-emos no que segue. tivo. É óbvio, então, que todas as leis fı́sicas válidas
em relação a S serão válidas de mesmo modo em S’
§2. Comentários gerais sobre espaço e tempo também, desde que S e S’ estejam em repouso relati-
vamente um ao outro. O princı́pio da relatividade re-
1. Consideremos um grupo de corpos rı́gidos não quer também essa equivalência total se S’ está em movi-
acelerados e com a mesma velocidade (portanto em mento de translação uniforme em relação a S. Portanto,
repouso uns em relação aos outros). De acordo com especificamente, a velocidade da luz no vácuo tem que
o princı́pio da relatividade concluı́mos que as leis de ter o mesmo valor numérico em relação a ambos os sis-
acordo com as quais esses corpos podem ser agrupa- temas.
dos, uns em relação aos outros, não se modificam com Seja um evento pontual determinado pelas variáveis
a modificação dos estados de movimento comum aos x, y, z, t em relação a S, e pelas variáveis x’, y’, z’, t’ em
corpos. Dessa conclusão segue que as leis da geome- relação a S’, sendo que S e S’ estão se movendo sem
tria determinam os possı́veis arranjos dos corpos rı́gidos aceleração relativamente entre si. Precisamos buscar
em movimento não acelerado sempre da mesma forma, as equações que relacionam as variáveis de um sistema
independentemente do estado de movimento comum. com as do outro.
Afirmações sobre a forma de um corpo em referenciais Primeiramente podemos afirmar que essas equações
não acelerados têm, portanto, um significado claro. A precisam ser lineares em relação a essas variáveis, pois
forma do corpo nesse sentido será chamada de “forma isto é requerido pela homogeneidade do espaço e tempo.
geométrica”. Essa obviamente não depende do estado Disso resulta, em especial, que os planos de coordenadas
de movimento do sistema referencial. de S’ são planos se movendo uniformemente em relação
2. De acordo com a definição de tempo dada em a S, embora em geral não sejam planos perpendicu-
§1, uma afirmação sobre o tempo tem significado ape- lares entre si. Se escolhermos, no entanto, a posição
nas em relação ao sistema referencial em um estado de do eixo x’ de tal forma que em relação a S ele tenha
movimento especı́fico. Pode ser, portanto, inferido (e a mesma direção que o movimento translacional de S’,
será demonstrado no que segue) que dois eventos pon- então, por razões de simetria, os planos de coordenadas
tuais espacialmente distantes, que são simultâneos em S’ têm que ser mutuamente perpendiculares do ponto
um sistema referencial S, são em geral não simultâneos de vista do referencial S. Podemos e iremos escolher as
em um sistema referencial S’ em um estado de movi- posições dos dois sistemas de coordenadas de tal modo
mento diferente. que o eixo x de S e o eixo x’ de S’ coincidam em todos
3. Considere um corpo constituı́do de pontos ma- os instantes de tempo e que o eixo y’ de S’ no referen-
teriais P movendo-se de algum modo em relação a um cial S seja paralelo ao eixo y de S. Além disso, deve-
sistema referencial S. No instante t de S cada ponto mos escolher o instante no qual as origens dos sistemas
40 Einstein
de coordenadas como o instante inicial em ambos os Como as origens das coordenadas de S e S” coinci-
sistemas. Dessa forma as equações de transformações dem permanentemente, os eixos têm direções idênticas
lineares procuradas serão homogêneas. e os sistemas são “ equivalentes”, essa substituição é a
Das posições agora conhecidas dos planos de coorde- identidade5 , de modo que
nadas de S’ em relação a S, concluı́mos imediatamente
que os seguintes pares de equações são equivalentes: ϕ(v) · ϕ(−v) = 1.
0
x = 0 e x − vt = 0
Além disso, como a relação entre y e y’ não pode
y0 = 0 e y=0 depender do sinal de v, temos
z0 = 0 e z=0
Três das equações de transformação procuradas ϕ(v) = ϕ(−v).
têm, portanto, a forma:
Portanto6 , φ(v ) = 1 e as transformações passam a
x0
= a(x − vt) ser
y0 = by h v i
z0 = cz t0 = β t − 2x
c
Como a propagação da velocidade da luz no espaço x0 = β(x − vt) (1)
vazio é c em relação a ambos os referenciais, as duas y0 = y
equações z0 = z
x2 + y 2 + z 2 = c2 t2
na qual
e
x02 + y 02 + z 02 = c2 t02 1
β=q .
têm que ser equivalentes. Dessa equivalência e das ex- 1− v2
c2
pressões para x’, y’, z’ concluı́mos, após um cálculo
simples, que as equações de transformação têm que ter
a forma Se resolvermos as Eqs. (1) para x, y, z, e t, obtere-
h mos as mesmas equações, com a exceção de que as quan-
v i tidades “linha” são substituı́das pelas correspondentes
t0 = ϕ(v) · β · t − 2 x
c “sem linha” e vice versa, além de v ser substituı́do por
x0 = ϕ(v) · β · (x − vt) -v. Isso também é conseqüência direta do princı́pio da
relatividade e do fato de que em relação a S’, S realiza
y0 = ϕ(v) · y uma translação paralela com velocidade -v na direção
z0 = ϕ(v) · y do eixo X’.
Em geral, de acordo com o princı́pio da relativi-
nas quais dade, qualquer relação correta entre grandezas “linha”
1 (definidas com relação a S’) e “sem linha” (definidas
β=q . em relação a S) ou entre grandezas de apenas um tipo
v2
1− c2 levam novamente a uma relação correta se os sı́mbolos
“sem linha” são substituı́dos por sı́mbolos “linha” ou
Agora iremos determinar a função de v, ainda in- vice-versa e se v é substituı́do por -v.
determinada nas expressões acima. Se introduzirmos
um terceiro sistema, S”, que é equivalente a S e S’,
§4. Conseqüências das equações de transformação
movendo-se com velocidade -v em relação a S’ e orien-
sobre os corpos rı́gidos e relógios
tado em relação a S’ da mesma forma que S’ está ori-
entado em relação a S, obteremos, após duas aplicações
das equações que acabamos de encontrar, 1. Considere um corpo em repouso relativo a S’.
Sejam x1 ’, y1 ’, z1 ’ e x2 ’, y2 ’, z2 ’ as coordenadas de
t00 = ϕ(v) · ϕ(−v) · t dois pontos materiais de um corpo em relação a S’.
00 De acordo com as equações de transformação derivadas
x = ϕ(v) · ϕ(−v) · x
acima, as seguintes relações entre x1 , y1 , z1 e x2 , y2 ,
y 00 = ϕ(v) · ϕ(−v) · y z2 , coordenadas desses dois pontos no sistema referen-
z 00 = ϕ(v) · ϕ(−v) · z cial S, mantêm-se para todos os tempos t de S:
5 Essaconclusão é baseada na suposição fı́sica de que o comprimento de uma régua e o perı́odo do relógio não sofrem uma alteração
permanente se esses objetos são colocados em movimento e então levados ao repouso novamente
6 φ(v ) = - 1 está obviamente fora de questão.
Sobre o princı́pio da relatividade e suas implicações 41
1 − Wc2v 1 − cos ϕ vc
T =l . ν0 = ν q .
W −v 2
1 − vc2
A velocidade v pode assumir qualquer valor menor
que c. Portanto, se assumirmos W > c, podemos 2. Se uma fonte de luz de freqüência ν0 relativa a um
sempre escolher v tal que T < 0. Esse resultado sig- sistema que se move junto com essa fonte de tal forma
nifica que terı́amos que considerar a possibilidade de que a linha conectando a fonte ao observador forma um
um mecanismo de transmissão pelo qual o efeito al- ângulo φ com a velocidade da fonte de luz em relação a
cançado precederia a causa. Ainda que esse resultado, um sistema em repouso relativo ao observador, então a
na minha opinião, não contenha nenhuma contradição freqüência ν da fonte percebida pelo observador é dada
de um ponto de vista puramente lógico, provocará sim pela equação
um conflito com o caráter de toda a nossa experiência
q
adquirida, que me parece prova suficiente da impossi- v2
1− c2
bilidade da hipótese W > c. ν = ν0 .
1 − cos ϕ vc
§6. Aplicação das equações de transformação a alguns
Essas últimas duas equações expressam o princı́pio
problemas de óptica
de Doppler em sua forma geral; a última equação
mostra como a freqüência observável da luz emitida (ou
Suponha que uma componente de uma onda plana
absorvida) por raios de canal depende da velocidade de
de luz que se propaga no vácuo é proporcional a
movimento dos ı́ons que formam os raios e da direção
· ¸ de observação.
lx + my + nz
senω t − Se os ângulos entre a direção de propagação (direção
c
do raio) e a direção do movimento relativo de S’ em
em relação ao sistema S e relação a S (ou seja, com o eixo x e x’, respectiva-
mente) são denominados φ e φ’, [quando medidos em
· ¸
l0 x0 + m0 y 0 + n0 z 0 S e S’, respectivamente]10 , então a Eq. de l ’ toma a
senω 0 t0 − forma
c
9 No
original aparece l em vez de λ (N.T.).
10 Otrecho entre colchetes falta no original, mas é necessário acrescentar para dar sentido à frase. Comparar a equação a seguir com
a expressão para l0 em (4) (N.T.).
Sobre o princı́pio da relatividade e suas implicações 43
h v i 1 ∂L ∂Y ∂Z
ω = βω 0 1 + 0 = −
V c ∂t ∂z ∂y
1 ∂M ∂Z ∂X
· ¸ = − (6)
ω ω0 V 0v c ∂t ∂x ∂z
=β 0 1+ 2 1 ∂N ∂X ∂Y
V V c = −
c ∂t ∂y ∂x
Aqui V ’ deve ser considerada como uma função de
ω’, como conhecido da óptica de corpos estacionários.
Nessas equações12 , (X, Y , Z) é o vetor “intensidade
Dividindo essas equações, obtemos
de campo elétrico”, (L, M , N ) é o vetor “intensidade
V0+v de campo magnético”, ρ = ∂X ∂Y ∂Z
∂x + ∂y + ∂z é a densidade
V = 0 .
de carga multiplicada por 4π e (ux , uy , uz ) é o “vetor
1 + Vc2v
velocidade da eletricidade”.
Essa equação também poderia ser obtida direta-
Essas equações, juntamente com a suposição de que
mente do teorema de adição de velocidades [12]. Se V ’
as cargas elétricas são imutáveis e ligadas a pequenos
for considerada conhecida, essa última equação resolve
corpos rı́gidos (ı́ons, elétrons), fornecem os fundamen-
o problema completamente. No entanto, se somente a
tos da eletrodinâmica de Lorentz e a óptica dos corpos
freqüência (ω) em referência ao sistema “estacionário”
em movimento.
S é considerada conhecida, como no experimento bem
conhecido de Fizeau, então as duas equações anteriores Se essas equações, que são válidas em relação ao
têm que ser utilizadas juntamente com a relação entre sistema S, forem transformadas pela aplicação das
ω’ e V ’ para poder determinar as três incógnitas ω’, V ’ equações de transformação (1) para o sistema em movi-
e V. mento S’, que se move em relação a S como nas con-
Além disso, se G ou G’ é a velocidade de grupo em siderações anteriores, obteremos as seguintes equações
relação a S ou S’, respectivamente, então, de acordo
com o teorema de adição das velocidades, ½ ¾
1 ∂X 0 ∂N 0 ∂M 0
u0x ρ0 + = −
G0 + v c ∂t 0 ∂y 0 ∂z 0
G= 0 . ½ ¾
1 + Gc2v 1 ∂Y 0 ∂L0 ∂N 0
u0y ρ0 + 0
= 0
− (50 )
Como a relação entre G’ e ω’ pode ser obtida da c ∂t ∂z ∂x0
½ ¾
óptica de corpos estacionários11 e ω’ pode ser calcu- 1 ∂Z 0 ∂M 0 ∂L0
lada de ω de acordo com o visto acima, a velocidade u0z ρ0 + 0 = 0
−
c ∂t ∂x ∂z 0
11 Porque V0
G0 = 0
1+ 10 dV 0
V dω
12 As Eqs. (5) são as componentes da lei de Ampere e as Eqs. (6) as componentes da lei de Faraday. É interessante conservar a
notação original, bem como a terminologia como “ vetor velocidade da eletricidade” em vez de densidade de corrente (N.T.)
44 Einstein
Essas equações têm a mesma forma das Eqs. (5) dx0 dy 0 dz 0 = βdxdydz.
e (6). Por outro lado, de acordo com o princı́pio da
relatividade, os processos eletrodinâmicos obedecem às
mesmas leis tanto em relação ao sistema S’ como em Em nosso caso a Eq. (8) significa
relação ao sistema S. Disso concluı́mos que X 0 , Y 0 , Z 0
e L0 , M 0 , N 0 , nada mais são, respectivamente, que as 1
ρ0 = ρ.
componentes das “intensidades dos campos elétrico e β
magnético relacionadas ao sistema S’ ”13 . Além disso,
a inversão das Eqs. (3) mostra que as quantidades Dessas duas equações concluı́mos que temos neces-
u0x , u0y , u0z nas equações são as componentes da “veloci- sariamente
dade da eletricidade”14 em relação a S’ e, portanto, ρ’
é a “densidade da eletricidade”15 em relação a S’. As- ε0 = ε.
sim a base da teoria de Maxwell-Lorentz está de acordo
com o princı́pio da relatividade. A Eq. (8) afirma, portanto, que a carga elétrica é
Para a interpretação das Eqs. (7) nota-se o seguinte. uma grandeza que é independente do estado de movi-
Imagine uma “quantidade pontual de eletricidade”16 mento do sistema referencial. Portanto, se a carga de
13 O acordo entre essas equações e as Eqs. (5) e (6) deixa, no entanto, aberta a possibilidade de que as grandezas X 0 , etc., difiram
de um fator constante das intensidades de campo relativas a S 0 . Que esse fator é necessariamente 1 é facilmente demonstrável por um
método análogo ao empregado em §3. para a função φ(v ).
14 Velocidade das cargas elétricas (N.T.).
15 Densidade de carga (N.T.).
16 Carga pontual (N.T.).
17 Mais uma terminologia curiosa para leitores de hoje: massa em vez de carga (N.T.).
18 Essa conclusão baseia-se na suposição de que a magnitude da carga elétrica não depende da história anterior de seu movimento.
Sobre o princı́pio da relatividade e suas implicações 45
por unidade de tempo. Se cargas elétricas estão rigida- Portanto, a grandeza ξ = q µẋ desempenha o papel
2
1− vc2
mente ligadas a pontos materiais (elétrons), então sua
do momento linear de um ponto material e, de acordo
parte no termo acima se iguala à expressão
com as Eqs. (11), temos
ε (X ẋ + Y ẏ + Z ż) , dξ
= Kx
na qual (X, Y , Z) representa o campo elétrico externo, dt
isto é, o campo menos a parte correspondente à carga como na mecânica clássica. A possibilidade de intro-
do elétron em si. Utilizando as Eqs. (12) essa expressão duzir um momento linear do ponto material é baseada
torna-se no fato de que nas equações de movimento a força, isto
é, o segundo termo da Eq. (15), pode ser representada
Kx ẋ + Ky ẏ + Kz ż. como uma derivada temporal.
Além disso, vemos imediatamente que nossas
Portanto, o vetor (Kx , Ky , Kz ) designado como equações de movimento para o ponto material podem
“força” no último parágrafo (seção) tem a mesma ser colocados na forma de equações lagrangianas de
relação com o trabalho realizado como na mecânica movimento; pois, de acordo com as Eqs. (11), temos
newtoniana.
Assim, se sucessivamente multiplicarmos as Eqs. · ¸
(11) por ẋ, ẏ, ż, somarmos os termos e integrarmos so- d ∂H
= Kx ,
bre o tempo, deveremos obter a energia cinética do dt ∂ ẋ
ponto material (elétron): etc. na qual colocamos
r
Z q2
µc2 H = −µc2 1− + const.
(Kx ẋ + Ky ẏ + Kz ż)dt = q + const. (14) c2
q2
1− c2 As equações de movimento também podem ser re-
presentadas de acordo com o princı́pio de Hamilton
Assim fica demonstrado que as equações de movi-
mento (11) estão de acordo com o princı́pio da energia. Zt1
Vamos agora mostrar que elas também estão de com o (dH + A)dt = 0,
princı́pio de conservação do momento.
t0
Multiplicando a segunda e a terceira das Eqs. (5)
e depois a segunda e terceira das Eqs. (6) por na qual t e as posições inicial e final são invariantes e
N M Z Y A representa o trabalho virtual
4π , − 4π , − 4π , 4π , somando os termos e integrando so-
bre um volume em cuja fronteira os campos se anulam,
obtemos A = Kx ∂x + Ky ∂y + Kz ∂z.
§10. Sobre a possibilidade de um teste experimental prática) acessı́veis à observação. O senhor W. Kauf-
da teoria de movimento do ponto material. mann inferiu a relação entre Ae e Am para radiação
A investigação de Kaufmann β emitida por grãos de brometo de rádio com notável
cuidado [13]. Ambas as figuras foram tiradas desse ar-
Uma perspectiva de comparação com experiências tigo.
dos resultados derivados na última seção existe somente Seu aparelho, cujas partes principais estão
no caso em que os pontos materiais carregados eletrica- esboçadas em tamanho real na Fig. 1, consiste essen-
mente movem-se com velocidades cujos quadrados não cialmente de uma cápsula de bronze a prova de luz, H,
são desprezı́veis em relação a c2 . Essa condição é satis- colocada em um recipiente de vidro evacuado, com um
feita no caso de raios catódicos mais rápidos e raios de grão de rádio colocado numa pequena roda, O, no fundo
elétrons (radiação β) emitido por substâncias radioati- A da cápsula. Os raios β que emanam do rádio passam
vas. através da lacuna entre as placas de capacitor, P1 e P2 ,
Existem três grandezas caracterı́sticas de feixes atravessam o diafragma D, cujo diâmetro é de 0,2 mm,
(raios) de elétrons cujas relações mútuas podem ser colidindo depois em uma placa fotográfica. Os raios são
objeto de investigação experimental mais detalhada, a defletidos, tanto pelo campo elétrico formado entre as
saber: o potencial gerador ou a energia cinética do feixe, placas do capacitor, quanto por um campo magnético
a capacidade de ser defletido por um campo elétrico ou na mesma direção (produzido por um grande magneto
por um campo magnético. permanente), que deflete perpendicularmente a essa
De acordo com a Eq. (14), o potencial gerador Π é direção. Assim os raios com a mesma velocidade mar-
dado pela fórmula cam um ponto na placa, enquanto que um aglomerado
de partı́culas com velocidades diferentes marcam uma
curva na mesma placa.
1
Πε = µ q −1 c2 .
q2
1− c2
r
d2 z ε q2 h q i
− 2 = 1− 2
Z+ M .
dt µ c m
Se as únicas componentes do campo defletor são Z e
M e, portanto, o desvio se dá no plano XZ,ho raio
i de cur-
q2 d2 z
vatura R da trajetória é dado por R = dt2 . Assim,
definindo a capacidade de deflexão dos campos elétrico
e magnético como Ae = R1 : Z e Am = R1 : M , respecti-
vamente, para o caso em que apenas uma componente
do campo elétrico defletor ou apenas uma componente
do campo magnético defletor está presente, temos
q
q2
ε 1− c2
Ae =
µ q2
q
q2
ε 1− c2
Am = . Figura 1 -
µ cq
A Fig. 2 mostra essa curva19 que na escala para
No caso dos raios catódicos as três grandezas Π, a abscissa e a ordenada, representa a razão entre
Ae e Am são possı́veis candidatos para medições; no Am (abscissa) e Ae (ordenada). As pequenas cruzes
entanto, nenhuma investigação com raios catódicos su- acima da curva calculadas de acordo com a teoria
ficientemente velozes foi até agora realizada. No caso da relatividade, se o valor de ε/µ for tomado como
da radiação β, apenas as grandezas Ae e Am são (na 1, 878 × 107 .
19 As unidades dadas no gráfico representam milı́metros na placa fotográfica. A curva desenhada não é exatamente a curva observada,
Figura 2 - D(x0 , y 0 , z 0 , t0 )
Em vista das dificuldades envolvidas no experi- D(x, y, z, t)
mento inclinamo-nos a considerar esse acordo como sa-
é igual a um. Com isso obtemos que
tisfatório. No entanto, os desvios são sistemáticos e con-
sideravelmente além do limite do erro do experimento Z ZZ
de Kaufmann. Que os cálculos do senhor Kaufmann ρ0 ¡ 0 0 ¢
dE = β ux Xa + u0y Ya0 + u0z Za0 dω 0 dt0 +
são livres de erros é demonstrado pelo fato de que o 4π
senhor Planck, baseado em outro método de cálculo,
chegou a resultados que estão em perfeito acordo com ZZ
ρ0 u0y 0 u0z 0
os do senhor Kaufmann [14]. βv (Xa0 + N − Ma )dω 0 dt0 ,
4π c a c
Apenas com disponibilidade de um corpo de obser-
vações mais amplo será possı́vel decidir com confiança ou, já que o princı́pio da conservação de energia é válido
se esses desvios sistemáticos são devidos a uma fonte no sistema S’ também, em uma notação simplificada
de erros ainda não identificada no experimento, ou de-
Z hX i
vido à circunstância que os fundamentos da teoria da
relatividade não correspondem aos fatos. dE = βdE 0 + βv Kx0 dt0 . (16)
Deve ser mencionado também, que as teorias de
Abraham [15] e de Bucherer [16], para o movimento Vamos agora aplicar essa equação ao caso em que
do elétron, levam a curvas que estão significativamente o sistema considerado move-se uniformemente, de tal
mais próximas à curva experimental, que à curva obtida forma, que como um todo esteja em repouso em relação
da teoria da relatividade. No entanto, a probabilidade a S’. Então, desde que as partes do sistema se movem
de que essas teorias estejam corretas é, na verdade, pe- tão lentamente em relação a S’, que os quadrados
quena, na minha opinião, porque suas hipóteses básicas, das velocidades sejam desprezı́veis em relação a c2 ,
relacionadas à dimensão do elétron em movimento, não podemos aplicar os princı́pios da mecânica newtoniana
são sugeridas por sistemas teóricos que dêem conta de em relação a S’. Portanto, de acordo com o teorema do
conjuntos mais amplos de fenômenos. centro de massa, o sistema considerado (ou, mais pre-
cisamente, seu centro de massa) pode permanecer em
repouso permanentemente apenas se para cada t’
V - Sobre a mecânica e a termodinâmica X
dos sistemas Kx0 = 0.
§11. Sobre a dependência da massa Mesmo assim, o segundo termo do lado direito da
em relação à energia Eq. (16) não desaparece necessariamente, pois a in-
tegração sobre o tempo é feita entre dois valores es-
Consideraremos um sistema fı́sico encapsulado por
pecı́ficos de t e não de t’.
um invólucro impenetrável à radiação. Suponha que o
Se considerarmos, no entanto, que no inı́cio e no fi-
sistema flutue livremente no espaço e não esteja su-
nal do intervalo de tempo considerado nenhuma força
jeito a nenhuma força, exceto aos efeitos das forças
age sobre o sistema de corpos, então esse termo se anula
elétricas e magnéticas do espaço circundante. Através
e obtemos simplesmente
desse último, energia pode ser transferida ao sistema
na forma de trabalho e calor. Essa energia pode sofrer
dE = β · dE 0 .
conversões de algum tipo no interior do sistema. A
energia absorvida pelo sistema, de acordo com a Eq. Em primeiro lugar concluı́mos dessa equação que a
(13), é dada pela seguinte expressão, quando relativa energia de um sistema em movimento (uniforme), que
ao sistema referencial S, não é afetado por forças externas, é uma função de duas
variáveis, a saber: a energia E0 do sistema relativa ao
Z Z Z
ρ sistema referencial movendo-se junto a ele20 e a veloci-
dE = dt (Xα ux + Yα uy + Zα uz ) dω, dade de translação q do sistema. Assim obtemos
4π
20 Aqui, como no que seguirá, usamos um sı́mbolo como o ı́ndice “0” para indicar que a quantidade em questão se refere a um sistema
de referência que está em repouso em relação ao sistema fı́sico considerado. Como o sistema fı́sico considerado está em repouso em
relação a S’, podemos substituir E’ por E0 aqui.
50 Einstein
ZZ
para substância, ao menos tanto quanto a constante de βv ρ0 £ 0 0 ¤
Xa ux + Ya0 u0y + Za0 u0z dω 0 · dt
decaimento21 . c2 4π
Está tacitamente implı́cito na discussão acima, que ou
essa mudança na massa poderia ser medida por um ins-
trumento que usualmente utilizamos para medir mas- Z nX
sas, ou seja, uma balança e, portanto, a relação v o
dGx = β dE 0 + β Kx0 dt0 . (18)
c2
E0
M =µ+ Novamente, deixemos o corpo mover-se sem acele-
c2 ração, de modo que se encontre permanentemente em
seria válida, não somente para a massa inercial, mas repouso em relação a S’. Temos, novamente, que
também para a massa gravitacional, ou, em outras
palavras, a inércia de um sistema e o peso são es- X
tritamente proporcionais sob todas as circunstâncias. Kx0 = 0.
Nós terı́amos que assumir também, por exemplo, que
a radiação contida em uma cavidade possui não ape- Embora os limites de integração temporal depen-
nas inércia, mas também peso. Essa proporcionalidade dam de x’, o segundo termo do lado direito da equação
entre a massa inercial e a gravitacional é válida, no en- acima desaparece no caso do corpo não estar sujeito a
tanto, sem exceção para todos os corpos com a precisão forças externas, antes e após a mudança em questão.
possı́vel até agora, de modo que devemos assumir sua Teremos então
validade geral até prova em contrário. Iremos encon-
trar um novo argumento em favor dessa suposição na
v
última secção desse artigo. dGx = β dE 0 .
c2
§12. Energia e momento de um sistema em movimento
Dessa relação segue que o momento de um sistema
Como na secção anterior, iremos uma vez mais con- não exposto a forças externas é função apenas de duas
siderar um sistema que flutua livremente no espaço variáveis, a saber: a energia E0 do sistema relativa-
e está encapsulado por uma pelı́cula impermeável mente ao referencial movendo-se junto a ele e a veloci-
à radiação. Novamente iremos designar os campos dade de translação q desse último. Assim
eletromagnéticos externos, que intermedeiam as tro-
cas de energia com outros sistemas, por Xa , Ya , Za , q
∂G c2
etc. Podemos aplicar a esse campo externo o mesmo =q .
∂E0 q2
raciocı́nio que nos levou à fórmula (15) e assim obter 1− c2
h v i p = p0 . (22)
Ky = ε Y − N Ky0 = εY 0
c As Eqs. (16c), (20) e (22) permitem que deter-
minemos o estado de um sistema fı́sico usando as
h v i grandezas E, V , p, que são definidas em relação ao
Kz = ε Z + M Kz0 = εZ 0 .
c mesmo sistema do momento G e a velocidade q, ao invés
de usar E0 , V0 , p0 que se referem ao sistema referencial
Dessas equações e as relações (7a) segue que
que se move junto ao sistema fı́sico. Por exemplo, se
para um observador que se move junto com o sistema, o
Kx0 = Kx estado do sistema considerado está completamente de-
Ky0 = β · Ky (21) terminado por duas variáveis (E0 e V0 ), ou seja, se as
Kz0 = β · Kz equações de estado do sistema podem ser consideradas
como relações entre p0 , V0 e E0 , então, com a ajuda
Essas equações permitem calcular as forças quando das equações mencionadas acima, a equação de estado
elas são conhecidas em relação ao sistema referencial pode ser colocada na forma
que se move junto ao sistema fı́sico considerado.
Agora consideramos a força de pressão agindo so- ϕ(q, p, V, E) = 0.
bre um elemento de superfı́cie s’, que está em repouso
relativo a S’: Analogamente, a Eq. (18c) pode ser colocada na
forma
Kx0 = p0 s0 · cos l0 = p0 · s0x · ¸
E + pV
Ky0 = p0 s0 · cos m0 = p0 · s0y G=q , (18d)
c2
Kz0 = p0 s0 · cos n0 = p0 · s0z ,
que, combinada com as equações que expressam o
na qual l0 , m0 , n0 representam os cossenos da direção princı́pio de conservação do momento
normal (com sentido para o interior do corpo) e
s0x , s0y , s0z são as projeções de s’. Das Eqs. (2) temos dGx X
que = Kx , etc.,
dt
22 Essa circunstância também justifica o procedimento usado na investigação precedente, na qual introduzimos apenas interações de
natureza puramente eletromagnética entre o sistema considerado e suas vizinhanças. Os resultados são válidos em geral.
54 Einstein
determina completamente o movimento translacional Uma parte desses valores deve ser alocada ao campo
do
P sistema como um todo, se, além das grandezas eletromagnético e o resto ao corpo sem massa, que está
Kx , etc., conhecemos E, V , p como função do tempo; sujeito a forças devidas à sua carga [19].
ou ainda, se ao invés dessas três funções, se conhecemos
três dados equivalentes relacionados às condições sob as §15. A entropia e a temperatura de corpos em
quais o movimento do sistema se realiza. movimento
§14. Exemplos
Das variáveis que determinam o estado de um siste-
O sistema a ser considerado consiste de radiação ma, utilizamos até agora a pressão, volume, energia,
eletromagnética, que está limitada por um corpo oco velocidade e momento, mas não foram discutidas ainda
sem massa, cujas paredes equilibram a pressão de ra- grandezas térmicas. A razão para isso é que para o
diação. Se nenhuma força externa age sobre o corpo movimento de um sistema é irrelevante que tipo de
oco, aplicamos as Eqs. (16a) e (18a) ao sistema como energia é fornecido, de modo que não há motivo para
um todo (incluindo o corpo oco). Teremos assim: distinguir entre calor e trabalho mecânico. Agora, no
E0 entanto, queremos introduzir também grandezas térmi-
E = q cas.
q2
1− c2 Consideremos que o estado de um sistema em movi-
q E0 E mento seja completamente determinado pelas quanti-
G = q = q 2, dades q, V e E. Obviamente, nesse caso temos que
q2 c2 c
1− c2 considerar que o calor fornecido, dQ, seja igual ao au-
na qual E0 é a energia da radiação em relação ao sis- mento de energia total menos o trabalho produzido pela
tema referencial que se move junto com o sistema fı́sico pressão e que é usado no aumento do momento, de
em consideração. modo que23
No entanto, se as paredes do corpo oco são comple-
tamente flexı́veis e extensı́veis, de modo que a pressão
de radiação exercida do interior tem que ser equilibrada dQ = dE + pdV − qdG. (23)
por forças externas exercidas por corpos não perten-
centes ao sistema considerado, é necessário aplicar as Após definirmos dessa forma o calor fornecido a um
Eqs. (16c) e (18c) e inserir o resultado do valor de sistema em movimento, podemos introduzir uma tem-
pressão de radiação bem conhecido peratura absoluta T e a entropia η do sistema em movi-
mento considerando processos cı́clicos reversı́veis do
1 E0 mesmo modo como nos livros-texto de termodinâmica.
p0 = ,
3 V0 Para processos reversı́veis, a equação
obtemos
h 2
i dQ = T dη (24)
E0 1 + 13 qc2
E = q
2
1 − qc2 também é válida no presente contexto.
4 O próximo passo é derivar as equações relacionando
q 3 E0 as grandezas dQ, η, T e as grandezas correspondentes
G = q .
1− q2 c2 dQ 0 , η 0 , T0 , que se referem ao sistema de referência que
c2
se movimenta junto com o sistema fı́sico considerado.
A seguir vamos considerar o caso de um corpo sem No que se refere à entropia, estarei repetindo a argu-
massa eletricamente carregado. Se forças externas não mentação do senhor Planck [20], chamando a atenção
agem sobre o corpo, podemos novamente aplicar as ao fato de que os sistemas de referência “linha” e “sem
fórmulas (16a) e (18a). Designando por E0 a energia linha” devem ser entendidos como os sistemas referen-
elétrica relativa ao sistema de referência que se move ciais S’ e S.
junto ao sistema fı́sico considerado, teremos “Imaginemos que um corpo é levado, por meio de
um processo reversı́vel e adiabático, de um estado, no
E0
E = q qual esteja em repouso em relação ao sistema referen-
q2
1− c2
cial “sem linha”, para um segundo estado, no qual ele
q E0 se encontra em repouso em relação ao sistema referen-
G = q . cial “linha”. Se a entropia do corpo para o sistema
q2 c2
1− c2 “sem linha” no estado inicial é η1 e no estado final é
23 Essa equação, como várias outras, apresenta um erro tipográfico no original, que está corrigido nessa tradução. No presente caso
η2 , então, por causa da reversibilidade e da natureza transformação para a pressão e temperatura da ra-
adiabática do processo, η1 = η2 . O processo é igual- diação de corpo negro)[20] e chega a resultados que
mente reversı́vel e adiabático para o sistema referencial são idênticos aos discutidos aqui. Surge, portanto, a
“linha”, portanto temos também que η10 = η20 .” questão de como os fundamentos de seu estudo se rela-
“Agora, se η10 não for igual a η1 , mas, digamos, cionam com os do presente trabalho.
0
η1 > η1 , isso significaria que: a entropia de um corpo é Partimos do princı́pio de conservação de energia e
maior para um sistema referencial em relação ao qual o do princı́pio de conservação do momento. Se as com-
corpo está em movimento, do que para o sistema refe- ponentes da resultante das forças agindo sobre o sis-
rencial em relação ao qual se encontra parado. Essa tema são chamadas Fx , Fy , Fz , podemos formular da
proposição, no entanto, requer também que η20 > η2 , seguinte maneira os princı́pios que usamos para proces-
pois no último estado o corpo está em repouso no refe- sos reversı́veis e um sistema cujo estado é definido pelas
rencial “linha” e em movimento no referencial “sem variáveis q, V , T :
linha”. Nota-se que essas duas desigualdades estão
em conflito com as duas igualdades estabelecidas. Do
mesmo modo não se pode ter η10 > η1 e, conseqüente-
dE = Fx dx + Fy dy + Fz dz − pdV + T dη (28)
mente, η10 = η1 e, em geral, η 0 = η, ou seja, a entropia do
corpo não depende da escolha do sistema referencial”.
Usando nossa notação, temos que estabelecer que dGx
Fx = , etc. (29)
dt
η = η0 . (25)
Tendo em mente que
Se agora introduzirmos as grandezas p0 , V0 e E0 no
lado direito da Eq. (23), usando as Eqs. (16c), (18c),
(20) e (22), obtemos Fx dx = Fx ẋdt = ẋdGx = d(ẋGx ) − Gx dẋ, etc
r
q2 e que
dQ = 1− (dE0 + p0 dV0 )
c2
ou
T dη = d(T η) − ηdT,
r
q2
dQ = dQ0 · 1− . (26)
c2 obtemos das equações acima a seguinte relação
Além disso, como de acordo com (24) as equações
d(−E + T η + qG) = Gx dẋ + Gy dẏ +
dQ = T dη
Gz dż + pdV + ηdT.
dQ0 = T0 dη
são válidas, obtemos finalmente, levando em conta (25) Dado que o lado direito dessa equação também tem
e (26), que24 que ser um diferencial total e levando em conta (29),
segue que
r
T q2
= 1− (27)
T0 c2
· ¸ · ¸ · ¸
d ∂H d ∂H d ∂H
Portanto, a temperatura de um sistema em movi- = Fx = Fy = Fz
dt ∂ ẋ dt ∂ ẏ dt ∂ ż
mento é sempre menor em relação a um sistema referen-
cial que se move relativamente a ele, do que em relação a
um sistema referencial em repouso em relação ao mesmo
sistema fı́sico.
∂H ∂H
=p = η.
§16. A dinâmica dos sistemas ∂V ∂T
e o princı́pio de mı́nima ação
No seu tratado “Sobre a dinâmica dos corpos em Essas são, no entanto, as equações deriváveis a par-
movimento”, o senhor Planck começa a partir do tir do princı́pio da mı́nima ação, que o senhor Planck
princı́pio de mı́nima ação (bem como das equações de utilizou como ponto de partida.
24 Muitos T r 1
anos depois, Einstein retoma o problema e chega a um resultado diferente: T0
= 2
(N.T.).
1− q2
c
56 Einstein
no argumento seguinte. Se alguém usa o tempo local σ Essa equação é válida acima de tudo se ξ e τ estão
para uma estimativa temporal de processos ocorrendo abaixo de certos limites. É óbvio que é válida para τ
em elementos espaciais individuais de Σ, então as leis arbitrariamente longo se a aceleração γ for constante
obedecidas por esses processos não podem depender em relação a Σ, porque a relação entre σ e τ tem que
da posição desses elementos espaciais, isto é, de suas ser linear. A Eq. (30) não é válida para ξ arbitrari-
coordenadas, se não apenas os relógios, mas também amente grande. Do fato de que a escolha da origem
as réguas usadas nos diversos elementos espaciais são das coordenadas não deve afetar a relação, temos que
idênticos. concluir que, estritamente falando, a Eq. (30) deve ser
Em vista disso, não devemos nos referir simples- substituı́da por
mente ao tempo σ como o “tempo” de Σ, porque de
acordo como a definição dada acima, dois eventos pon- γξ
§19. O efeito de campos gravitacionais sobre relógios que substituir t’ pelo tempo local σ. No entanto, não
podemos simplesmente definir
Se um relógio mostrando o tempo local está locali-
zado em um ponto P com potencial gravitacional Φ, ∂ ∂
então, de acordo com (30a) sua leitura será (1+ cΦ2 )vezes = ,
∂t0 ∂σ
maior do que o tempo τ , isto é, ele corre (1 + cΦ2 )vezes
porque um ponto que está em repouso relativo a Σ
mais rápido do que um relógio idêntico localizado na
muda sua velocidade relativa a S’ durante o intervalo
origem das coordenadas. Imagine um observador lo-
de tempo dt’ = dσ e a essa mudança corresponde mu-
calizado em algum lugar do espaço que percebe as in-
danças no tempo das componentes de campo relativas
dicações dos dois relógios de um certo modo, por exem-
a Σ. Temos, então, de acordo com (7a) e (7b)
plo, opticamente. O tempo ∆τ que passa entre o ins-
tante em que o relógio indica um tempo e o instante
em que essa indicação é percebida pelo observador é ∂X 0 ∂X ∂L0 ∂L
= =
independente de τ . Assim, para um observador situ- ∂t0 ∂σ ∂t0 ∂σ
ado em algum lugar do espaço, o relógio no ponto P ∂Y 0 ∂Y γ ∂M 0 ∂M γ
= + N = − Z
corre (1 + cΦ2 )vezes mais rápido que o relógio na origem ∂t0 ∂σ c ∂t0 ∂σ c
do sistema de coordenadas. Nesse sentido poderı́amos ∂Z 0 ∂Z γ ∂N 0 ∂N γ
dizer que os processos que ocorrem no relógio e, de = − M = + Y.
∂t0 ∂σ c ∂t0 ∂t c
modo mais geral, qualquer processo fı́sico, evolui mais
rapidamente, quanto maior o potencial gravitacional na Portanto, as equações eletromagnéticas referidas a
posição onde ocorre o processo. Σ são
Existem “relógios”, que estão presentes em locali-
· ¸
dades com diferentes potenciais gravitacionais, com 1 ∂X ∂N ∂M
seus contadores de tempo controlados com grande pre- ρuξ + = −
c ∂σ ∂η ∂ζ
cisão, que são os produtores de linhas espectrais. Pode
ser concluı́do pelo que foi mencionado acima27 , que o · ¸
comprimento de onda da luz vindo da superfı́cie do Sol, 1 ∂Y γ ∂L ∂N
ρuη + + N = −
originaria de um tal produtor (de linhas espectrais) é c ∂σ c ∂ζ ∂ξ
maior do que o da luz produzida pela mesma substância
na superfı́cie da Terra de uma parte em dois milhões28 . · ¸
1 ∂Z γ ∂M ∂L
ρuξ + − M = −
§20. O efeito da gravitação sobre fenômenos c ∂σ c ∂ξ ∂η
eletromagnéticos
1 ∂L ∂Y ∂Z
Se nos referirmos a um processo eletromagnético em = −
c ∂σ ∂ζ ∂η
um instante de tempo em relação a um sistema referen-
cial S’ não acelerado, que está momentaneamente em · ¸
repouso em relação ao sistema referencial Σ, acelerado 1 ∂M γ ∂Z ∂X
− Z = −
como no exposto acima, então as seguintes equações c ∂σ c ∂ξ ∂η
serão válidas, de acordo com (5) e (6):
· ¸
· ¸ 1 ∂N γ ∂X ∂Y
1 0 0 ∂X 0
∂N 0 ∂M 0 + Y = −
ρ ux + = − , etc. c ∂σ c ∂η ∂ξ
c ∂t0 ∂y 0 ∂z 0 h i
γξ
e Multiplicamos essas equações por 1 + c2 e defini-
mos para fins de abreviação
1 ∂L0 ∂Y 0 ∂Z 0
= − , etc.
c ∂t0 ∂z 0 ∂y 0 · ¸
∗ γξ
De acordo com isso, podemos imediatamente igualar X = X 1+ 2
c
as grandezas ρ’, u’, X’, L’, x’, etc., relativas à S’, · ¸
às correspondentes grandezas ρ, u, X, L, etc., relati- γξ
Y∗ = Y 1 + 2 , etc.
vas a Σ; se nos limitarmos a um perı́odo infinitesimal- c
· ¸
mente curto29 , que está infinitesimalmente perto ao ins- γξ
tante do repouso relativo de S’ e Σ. Além disso, temos ρ∗ = ρ 1+ 2 .
c
27 Enquanto assumirmos que a Eq. (31) também é válida para campos gravitacionais não homogêneos.
28 Trata-se da primeira predição de Einstein do que foi chamado depois de desvio para o vermelho gravitacional de linhas espectrais
(N.T.).
29 Essa restrição não afeta o intervalo de validade dos nossos resultados, porque as leis a serem derivadas não podem depender do
tempo inerentemente.
Sobre o princı́pio da relatividade e suas implicações 59
Desprezando então termos quadráticos em γ, obte- Disso segue que os raios de luz que não se propagam
mos as equações ao longo do eixo ξ são defletidos pelo campo gravita-
cional. Pode ser facilmente verificado que a mudança
· ¸ na direção é de cγ2 senϕ por cm de trajetória da luz, na
1 ∗ ∂X ∗ ∂N ∗ ∂M ∗
ρ uξ + = − qual φ representa o ângulo entre a direção da gravidade
c ∂σ ∂η ∂ζ e a do raio de luz.
· ¸
1 ∗ ∂Y ∗ ∂L ∗
∂N ∗ Com a ajuda dessas equações e as equações relacio-
ρ uη + = − (31a)
c ∂σ ∂ζ ∂ξ nando a intensidade do campo e a corrente elétrica em
· ¸
1 ∗ ∂Z ∗ ∂M ∗
∂L∗ um ponto, conhecidas da óptica dos corpos em repouso,
ρ uζ + = − podemos calcular os efeitos do campo gravitacional so-
c ∂σ ∂ξ ∂η
bre fenômenos ópticos de corpos em repouso. Temos
que manter em mente que, no entanto, as equações men-
1 ∂L∗ ∂Y ∗ ∂Z ∗ cionadas acima para a óptica dos corpos em repouso
= −
c ∂σ ∂ζ ∂η são válidas para o tempo σ. Infelizmente o efeito do
1 ∂M ∗ ∂Z ∗
∂X ∗ campo gravitacional terrestre é tão pequeno, de acordo
= − (32a) com a nossa teoria (devido ao valor pequeno para γx
c ∂σ ∂ξ ∂ζ c2 ),
1 ∂N ∗ ∂X ∗ ∂Y ∗ que não há previsões para comparar essa teoria com a
= − . experiência.
c ∂σ ∂η ∂ξ
Se multiplicarmos sucessivamente as Eqs. (31a) e
∗
N∗
Essas equações mostram, em primeiro lugar, como (32a) por X 4π ..... 4π e integrarmos sobre o espaço in-
o campo gravitacional afeta fenômenos estáticos e esta- finito, obtemos, usando a notação anterior, a seguinte
cionários. As mesmas leis são válidas como no caso relação
sem campo gravitacional, exceto pelo fato que as com- Z · ¸2
ponentes γξ ρ
h ide campo X, etc.h são
i substituı́das por 1+ 2 (uξ X + uη Y + uζ Z) dω +
γξ
X 1 + c2 , etc., e ρ por ρ 1 + c2 . γξ c 4π
Z · ¸2
Além disso, para seguir o desenvolvimento de es- γξ 1 ∂ ¡ 2 ¢
1+ 2 · X + Y 2 + ... + N 2 dw = 0.
tados não estacionários, fazemos uso do tempo τ nos c 8π ∂σ
termos diferenciados em relação ao tempo, bem como ρ
(uξ X + uη Y + uζ Z) é a energia ησ fornecido à
4π
nas definições de corrente elétrica, ou seja, colocamos matéria por unidade de volume e unidade de tempo
de acordo com (30) local σ, se a energia é medida por instrumentos de me-
dida situados nas posições correspondentes.
h i Assim, de
· ¸ γξ
∂ γξ ∂ acordo com a Eq. (30), ητ = ησ 1 − c2 é a ener-
= 1+ 2
∂τ c ∂σ gia (medida de maneira análoga) fornecida à matéria
e por¡ unidade de volume
¢ e unidade de tempo local τ .
1 2 2
8π X + .... + N é a energia eletromagnética ε por
· ¸ unidade de volume, medido da mesma forma. Se levar-
γξ mos em conta
ωξ = 1 + 2 uξ h que, ide acordo com (30), temos que
c ∂
definir ∂σ = 1 − γξ ∂
c2 ∂τ , obtemos
Obtemos então Z · ¸ ½Z · ¸ ¾
γξ d γξ
1 + 2 ητ dω + 1 + 2 εdω = 0.
· ¸ c dτ c
1 ∂X ∂N ∗ ∂M ∗ Essa equação expressa o princı́pio da conservação de
h i ρ∗ ωξ + = − etc. (31b)
c 1+ γξ
2
∂τ ∂η ∂ζ energia e contém um resultado notável. Uma energia,
c
ou injeção de energia, que, medida localmente, tem o
e valor E = ε dω ou E = η dω dτ , respectivamente, con-
tribui para a energia total, além do valor E que corres-
1 ∂L∗ ∂Y ∗ ∂Z ∗ ponde à sua magnitude, também um valor cE2 γξ = cE2 Φ,
h i = − etc. (32b) que corresponde à sua posição. Portanto, para cada
c 1+ γξ ∂τ ∂ζ ∂η
c2 energia E no campo gravitacional corresponde uma
energia de posição que se iguala à energia potencial de
Essas equações também têm a mesma forma que as uma massa “ponderável” de magnitude cE2 .
correspondentes equações para o espaço sem gravidade Assim, a proposição derivada em §11, na qual a uma
ou não acelerado, no entanto c é substituı́do por quantidade de energia E corresponde uma massa cE2 , é
válida não apenas para a massa inercial, mas também
· ¸ · ¸
γξ Φ para a massa gravitacional, se a suposição introduzida
c 1+ 2 =c 1+ 2 . em §17 for correta.
c c
60 Einstein
[18] A. Einstein, Ann. d. Phys. 23, §2 (1907). dinâmica de sistemas em movimento). Sitzungsber. d.
kgl. Preuss. Akad. d. Wissensch (1907).
[19] A. Einstein, Ann. d. Phys. 23, 373 (1907).
[21] Esse atigo.
[20] M. Planck, Zur Dynamic bewegter Systeme (Sobre a