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COMARCA DE GOIÂNIA/GO
Processo nº 5256432-87.2020.8.09.0051
CONTESTAÇÃO
Em face aos pedidos formulados na Ação de Cobrança c/c Indenização por Danos Morais,
Corporais e Estéticos movida por AMAX DE OLIVEIRA SANTOS, já qualificado nos autos, o que
faz com arrimo nos fatos e fundamentos a seguir expostos:
I - PRELIMINARMENTE
DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA
O réu faz jus à concessão do benefício da gratuidade da justiça, nos termos dos arts. 98 e
seguintes do Código de Processo Civil, por ser pessoa pobre na acepção jurídica do termo – já que não
pode arcar com as custas e despesas processuais, nem honorários advocatícios, sem prejuízo de seu
sustento e/ou de sua família.
Para demonstrar sua hipossuficiência financeira, além da declaração de pobreza firmada
nos termos do art. 1º da Lei 7.115/83, o réu também junta a este processo os três últimos
contracheques, no qual comprova a percepção do valor líquido mensal de R$ 1.636,64 (mil seiscentos e
trinta e seis reais e sessenta e quatro centavos), já com os descontos compulsórios legais, o que, por si
só, já demonstra a veracidade da declaração prestada e o estado de hipossuficiência da parte ré.
Não obstante, ressalta-se que, de acordo com o § 3º do art. 98 do CPC/15, “presume-se
verdadeira a alegação de insuficiência deduzida exclusivamente por pessoa natural”, somente podendo o
Magistrado “indeferir o pedido se houver nos autos elementos que evidenciem a falta dos pressupostos
legais para a concessão de gratuidade, devendo, antes de indeferir o pedido, determinar à parte a
comprovação do preenchimento dos referidos pressupostos”, conforme dita o § 2º do mesmo
dispositivo legal.
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Deste modo, requer sejam concedidos desde já ao réu os benefícios da justiça gratuita, por
subsunção à disposição de lei, primando também pelos princípios do acesso à justiça e da
inafastabilidade de jurisdição.
II – PRELIMINAR DE MÉRITO
EXCEÇÃO DE INCOMPETÊNCIA TERRITORIAL. DECLINIO DE
COMPETENCIA PARA COMARCA DE CIDADE OCIDENTAL-GO
Trata-se de Ação de Cobrança c/c indenização por danos morais, corporais e estéticos
decorrentes de acidente de trânsito ocorrido em 31/03/2019 na SQ 19, Quadra 13, Centro, na Cidade
Ocidental/GO.
Como é sabido, na conformidade da regra do art. 53, V, do NCPC, nas ações de reparação
de dano sofrido em razão de delito ou acidente de veículos, será competente o foro do domicílio do
autor ou do local do fato.
Tal regra, porém, não afasta a aplicação da regra geral de competência do foro de domicílio
do réu, prevista no art. 46 do NCPC.
Disso, então, resulta que, nas ações de reparação de danos sofridos em razão de delito ou
acidente de veículos, é facultado ao autor optar pelo ajuizamento da ação no foro de seu
domicílio, no do local do fato ou até mesmo no do domicílio do réu.
No entanto, observa-se, no caso dos autos, que o autor optou por ajuizar a ação
indenizatória, de forma aleatória, vez que o autor reside na cidade ocidental, o fato ocorreu na
cidade ocidental e o réu reside na cidade ocidental., devendo a demanda ser processada e julgada na
comarca de Cidade Ocidental.
Observa-se que a parte autora, junto com a sua inicial, apresentou procuração e declaração
de hipossuficiência, fls. 22/23, inclusive redigida por seu próprio punho, declarando-se residente no
endereço: Quadra 02, Lote 86, Dom Bosco – Cidade Ocidental/GO.
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Ademais, nos termos das declarações prestadas pelo autor da ação, levadas a termo na
Delegacia de Polícia, acostada as fls. 25/27; no Boletim de Ocorrência, realizado pelo próprio autor,
acostado as fls. 28/30; bem como no cadastro realizado junto ao hospital de urgências de Goiânia,
acostados as fls. 31 dos autos, todos constam como endereço do autor a Quadra 02, Lote 86, Dom
Bosco – Cidade Ocidental/GO.
Ainda, no cadastro realizado do autor junto ao sistema Projudi, consta cadastrado o
endereço: Quadra 02, Lote 86, Dom Bosco – Cidade Ocidental/GO, como sendo a residência do
autor.
Até mesmo, na qualificação do autor na petição inicial foi fornecido o endereço: Quadra
02, Lote 86, Dom Bosco – Cidade Ocidental/GO.
No entanto, ao ser determinado para acostar aos autos comprovante de residência, o autor
acostou as fls. 69 comprovante de residência em nome de terceiro estranho a lide, Sr. Denílson de
Almeida Ramos e sem comprovação de qualquer vinculo com o mesmo, ou real residência no local.
Assim, denota-se que a ação deveria ter sido proposta em Cidade Ocidental/GO. Em
primeiro lugar porque o acidente ocorreu naquela cidade e em segundo porquê é lá que residem autor e
réu da ação.
Com tais considerações, é o caso de acolhimento da presente preliminar de mérito de
incompetência territorial relativa, para processar e julgar o caso vertente, com fundamento dos artigos
46 e 53, IV, “a” e V do CPC, com a consequente remessa do feito a uma das varas cíveis da comarca de
Cidade Ocidental/GO, onde o autor e o réu residem, bem como onde ocorreram os fatos.
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386 do Código de Processo Penal e que por obvio que o seu reconhecimento em processo penal, tem o
condão de refletir diretamente na responsabilidade civil arguida em processo civil.
A lesão corporal no trânsito decorrente de acidentes com atropelamentos e/ou colisão de
veículos pode ocorrer por culpa do motorista, mas em muitos casos se verifica que a culpa pode sim ser
da vítima.
Na instrução processual dos autos criminais a análise vai focará no local do acidente e nas
circunstâncias, tais como: se a vítima não invadiu a via do motorista , se o abalroamento se deu em
razão de ato de negligência da vítima, se ela estava distraída, se estava em alta velocidade, por estar
envolvida em alguma briga ou por outro motivo ou ainda se ela simplesmente se distraiu na direção do
veículo.
O fato de a vítima ter perdido a direção e esta ter colidido com o réu está entre as situações
imprevisíveis para o motorista, sendo exatamente o tema ser explorado dentro da defesa naqueles autos,
pois é causa de exclusão da responsabilidade do condutor.
O fato é que existem várias situações nas quais é verificada a culpa exclusiva da vítima, o
que resulta na absolvição sumária do motorista.
Se a culpa da vítima for comprovada o fundamento de ausência de tipicidade, previsto no
art. 386, III do Código de Processo Penal ausentará o motorista da culpa.
Em vários pontos, a instrução processual no processo criminal, como a feitura de perícia,
será fundamental para apurar não só a velocidade dos veículos, mas as próprias condições da colisão,
posições do carro e da vítima, e ainda, através do exame de vistoria dos veículos o perito poderá
constatar como a colisão ocorreu, ou seja, toda a dinâmica do acidente.
Dispõe o art. 64, parágrafo único do Código de Processo Penal:
Art. 64 (...)
Parágrafo único: Intentada a ação penal, o juízo da ação civil poderá suspender o
curso deste, até o julgamento definitivo daquela.
Cabível, portanto, a suspensão pretendida pelo contestante.
No mais, o art. 313, inciso V, alínea a do Código de Processo Civil, estabelece que dentre as
causas de suspensão do processo, está a seguinte hipótese:
Art. 313. Suspende-se o processo:
V - quando a sentença de mérito:
a) depender do julgamento de outra causa ou da declaração de existência ou de
inexistência de relação jurídica que constitua o objeto principal de outro processo
pendente;
b) tiver de ser proferida somente após a verificação de determinado fato ou a
produção de certa prova, requisitada a outro juízo;
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Assim, diante do exposto, não resta alternativa senão acolher o pedido formulado pelos
réus, para fins de determinar a suspensão dos presentes autos até o julgamento da Ação
Penal de nº 40300-10.2019.8.09.0164/201900403000, em trâmite na Vara Criminal da Comarca de
Cidade Ocidental.
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Na via, que é de mão dupla, não há nenhuma sinalização de trânsito, nem mesmo faixa
divisória marcadas no asfalto, e o demandado tinha acabado de trafegar sob um quebra-molas, motivo
pelo qual não é possivel o mesmo estar em alta velocidade como alega o autor, estando o réu, no
momento do acidente, trafegando com velocidade aproximada de 20/25 quilômetros por hora.
Aliás cabe obtemperar que essa informação é perfeitamente verificada, nas fotos anexas do
local do acidente, bem como por visita in loco que será realizada no processo criminal, quando da
realização da reconstituição do acidente pela perícia criminal.
Ademais, entrando na linha histórica do acidente, diferentemente do que alega o autor, o
réu estava trafegando em sua via normalmente, saindo da quadra 17, sentido quadra 10, da Super
Quadra 19, quando passou pelo quebra-molas. Logo mais a frente iria virar à direita, na rua da sua
residência, quando foi surpreendido pela motocicleta que invadiu a contramão de direção do réu, vindo
a colidir com a parte lateral da frente do seu veículo, conforme faz foto anexas, que trafegava em sua
faixa de direção.
Necessário narrar que quando o réu viu o veiculo vindo em sua direção, em reação
extintiva, tentou brecar o veículo, mas acabou colidindo com a moto, embora não fosse possivel ver a
trajetória dele antes do acidente.
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Nesse cenário, o que se verifica é a falta de cuidado pelo condutor da motocicleta, que
dirigia de forma imprudente na contramão de direção, acarretando a colisão frontal com o veículo do
réu.
O que é preciso ter em conta é que a invasão injustificada da pista de direção contrária
caracteriza agir culposamente do condutor da moto.
In casu, a responsabilidade pelo acidente deve ser atribuída unicamente ao condutor da
motocicleta, pois adentrou na contramão de direção. Assim, não há como se imputar qualquer
responsabilidade ao réu, que seguia na sua faixa de direção.
Sem dúvida, o condutor da motocicleta criou a situação que deu causa ao sinistro. Não
houvesse ele violado as normas de trânsito, o acidente não se teria consumado.
Outro detalhe é que após o acidente, os passageiros que estavam junto com o réu em seu
veículo, chamaram o socorro, bem como a polícia militar, e o réu acompanhou todo o procedimento
até a finalização do socorro à vítima/autor. Logo, a argumentação da autora não passa de uma
proposital inveracidade para atribuir ao réu a pecha de irresponsável, o que, convenhamos, não irá de
forma alguma convencer este digno Juízo.
Posta assim a questão, e à luz das provas coligidas nos autos, não há como se afirmar que o
demandado agiu com dolo ou culpa no evento trágico descrito na petição exordial.
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Importante consignar que réu foi submetido a exame do bafômetro tendo em vista que é
procedimento padrão no atendimento policial em acidentes de trânsito. E, que apesar de ser relatado
pelo policial conduto ter encontrando 0,95mg de álcool por litro de sangue, o exame não foi acostado
aos autos criminais, e ao contrário do narrado pelo policial condutor, no relatório médico em anexo,
quando realizado o exame clinico no conduzido, as 04h04 do mesmo dia, consignou que o examinado
Antônio André do Nascimento, estava em estado geral Bom, Vigil (atento, desperto), Verbalizando e
Deambulando (preocupado, desnorteado), não sendo asseverado pelo perito, em nenhum momento,
que o conduzido apresentava sinais de alteração da capacidade psicomotora e/ou estado de
embriaguez.
É de suma importância tal informação, porque em caso de consideração do suposto estado
alcoólico do réu, deve ser relevado que o grau de embriaguez de uma pessoa comporta variações que
oscilam entre a discreta influência da bebida alcoólica e o completo esta etílico. Tais oscilações 0 que
traduzem situações fáticas indicadoras de comportamentos distintos – permitem também diferentes
graus de reprovabilidade da conduta.
Assim, não se afigura razoável atribuir a mesma reprovação quem ingere uma dose de
bebida alcoólica e em seguida dirige em veiculo automotor, comparativamente àquele que, após
embriagar-se completamente, conduz automóvel em via pública.
Portanto, a ingestão de bebida alcoólica, horas antes da colisão pelo agente condutor do
automóvel, sem o acréscimo de outras peculiaridades que ultrapassem a violação do dever de cuidado
objetivo, inerente ao tipo culposo, não pode servir de premissa bastante para a afirmação de culpa pelo
acidente ocorrido.
Ademais, pelos atestados e relatório médicos acostados aos autos, verifica-se que no dia
que ocorreu o trágico acidente (31/03/2019) o
autor foi submetido a procedimento cirúrgico na tíbia e fêmur na perna esquerda, bem
como no antebraço esquerdo. (fls. 32), para tratamento das fraturas.
No entanto, após a bem-sucedida intervenção médica, o paciente, ora autor, em
08/04/2019, quando ainda convalescia no hospital, relatou queda no banheiro, havendo evolução de
trauma com a soltura do fixador externo da coxa externa (fls.33), momento no qual foi avaliado e
novamente retornou ao centro cirúrgico pra reposicionamento do fixador externo.
Sendo então, por esse motivo, realizado novos procedimentos cirúrgicos, pois ainda há a
informação, (fls. 36) de que foi “optado por retirar o fixador do fêmur e deixar peso de tração em
fixador de tíbia”.
Ainda, há relatório médico, (fls.38) no qual informa que o paciente, ora autor, recebeu alta
hospitalar em 06/05/2019 em estado clinico melhorado/curado. Fazendo retornos ao hospital para
acompanhamento ambulatorial.
Assim, o fato de o autor ter realizado várias cirurgias e permanecido por 36 dias internado
em hospital, não tem nenhuma adequação/causalidade com o acontecimento anterior.
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Portanto, caso seja reconhecida a responsabilidade do réu pela ocorrência do evento de
trânsito (o que não se acredita), e apenas em obséquio ao princípio da eventualidade, o réu impugna
todas as pretensões vestibulares, e o faz segundo os fundamentos dispostos adiante
1
http://www.portaldotransito.com.br/noticias/dados-preliminares-de-2019-mostram-queda-no-numero-de-mortes-no-transito-
brasileiro/
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se com o cenário geral; a agilidade que permite rápidas e súbitas mudanças de direção; os pontos cegos
nos espelhos retrovisores, e uma série de fatores individuais que influenciam a condução do piloto.
Esse conjunto de fatores de risco influencia, inclusive, o cálculo atuarial das companhias de seguro, e
torna a contratação muito onerosa, razão pela qual a maioria das motocicletas não tem seguros.
Podemos considerar, portanto, que o motociclismo é uma atividade de risco, em que os
acidentes são não apenas previsíveis, como também bastante prováveis. Cada piloto que sobe em sua
moto no início da manhã tem que levar em consideração esse fator. Aliás, o risco está na proporção
direta dos benefícios, ou seja, quanto mais ágil for a motocicleta no trânsito, quanto menos tempo o
piloto levar para chegar ao seu destino, maior será o risco a que está se expondo.
O agravamento potencial do risco, nesses casos, tem uma feição muito especial, pois os
acidentes que envolvem motocicletas acarretam quedas do piloto e uma série de consequências muito
comuns, como fraturas importantes na bacia, pernas e braços, lesões na coluna e amputações, que
geram sofrimento, cirurgias, afastamento do trabalho por período prolongado e deformidades
permanentes.
Para uma perfeita compreensão da magnitude do risco envolvido, basta considerar que, na
grande maioria dos casos, acidentes urbanos entre dois automóveis costumam provocar leves danos
materiais, enquanto que se uma motocicleta estiver envolvida, as consequências serão invariavelmente
muito mais graves. Uma leve batida do carro no veículo à frente vai provocar um leve arranhão, mas se
for numa motocicleta, a queda será inevitável e as lesões físicas poderão ser graves. O grau de culpa do
motorista, que é o mesmo, vai gerar consequências muito diversas.
Digamos que o motorista de um veículo atingido por outro tenha sua perna quebrada.
Pode-se presumir, então, que se tratou de um acidente grave, uma colisão violenta, que causou lesões
importantes apesar dos sistemas de segurança veicular, como barras de proteção lateral, air-bags
frontais e de cortina, etc, além da própria proteção que a lataria já proporciona. Entretanto, um leve
toque numa motocicleta pode causar a mesma lesão no piloto, e dependendo das particularidades do
acidente, como a velocidade da motocicleta, as lesões podem ser muito mais sérias e até fatais.
Trazendo essas observações para o contexto das ações de indenização movidas por
motociclistas, é justo dar ao acidentado a indenização plena de todos os danos sofridos (incluindo o
inevitável dano moral), dando-lhe idêntico tratamento ao de um pedestre atropelado por um automóvel
na faixa de pedestres ou a do motorista de outro veículo acidentado??? A resposta é NÃO!
O risco do motociclismo é do piloto e não pode ser transferido para o motorista em sua
integralidade. O risco envolvido é enorme e todo motociclista o conhece muito bem, já que a maioria
deles já se envolveu em algum tipo de acidente, mais de uma vez. Logo, não é adequado que o
motorista de um automóvel, que só tem os ônus do trânsito urbano, seja responsável pelo risco criado
por um meio de transporte extremamente perigoso, justamente pelo bônus que oferece.
Apesar disso, o risco criado não é levado em consideração nos tribunais e as indenizações
concedidas aos motociclistas não é proporcional a esse risco, o risco não entra na equação, e a
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reparação é plena, gerando condenações excessivas. Essa postura não deixa de ser curiosa, porque os
tribunais reconhecem que o agravamento do risco nos contratos de seguro é causa de exclusão de
cobertura, como a embriaguez ao volante, por exemplo, ou a entrega do bem a alguém não habilitado
ou menor de idade. O conceito de risco, portanto, integra o jurídico, mas o risco inerente ao meio de
circulação empregado não é contabilizado pelos tribunais, apesar de o ser pelas companhias de seguro.
Ademais, no âmbito das relações de emprego, o uso de motocicletas é causa de pagamento
de adicional de periculosidade e a Justiça do Trabalho reconhece a responsabilidade objetiva do
empregador em caso de acidente de motocicleta com seu empregado, para efeitos de indenizá-lo. 2
Na verdade, não há obstáculo a que a indenização seja arbitrada equitativamente. Decorre
do sistema de responsabilidade civil adotado pelo nosso Código. Se, por um lado, a indenização se
mede pela extensão do dano (art. 944), por outro, o art. 927, do mesmo Código, ao tratar da
responsabilidade objetiva, faz uma expressa referência ao tema do risco, dispondo que existe a
obrigação de indenizar quando a atividade do causador do dano implicar, por sua natureza,
risco para os direitos de outrem. Mais importante ainda é a ressalva do parágrafo único, do art.
944, que dispõe que "se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano,
poderá o juiz reduzir, equitativamente, a indenização".
Da mesma forma, o art. 945, do mesmo Código, ao tratar da culpa concorrente, impõe a
análise da gravidade da culpa para a fixação da indenização. Embora esses dispositivos não tratem
especificamente do risco e sim de culpa, é legítimo utilizar esses conceitos, e não há dissonância em
afirmar que, nos casos de responsabilidade civil envolvendo motocicletas, a existência de culpa do
motorista do automóvel não exclui a mensuração do risco inerente (previsível e provável) da condução
de um veículo de duas rodas, sem nenhuma proteção.
No caso dos autos é indeclinável concluir que o réu agiu com culpa, causando o trágico
acidente, por isso os pedidos devem ser julgados improcedentes. Mas, caso seja reconhecida a
responsabilidade do réu pela ocorrência do evento de trânsito (o que não se acredita), e apenas em
condescendência ao princípio da eventualidade, deve ser aplicado o art. 944, do CC/02, admitindo que
a parte “inocente” criou um risco enorme - tanto em sua probabilidade quanto em suas consequências -
que não pode ser transferido integralmente para quem deu causa ao acidente.
Devendo ainda, ser observado pelo juízo, a excessiva desproporção de risco criado, que
pode equivaler (juridicamente) à concorrência de culpa e fixá-la de forma equitativa, com uma redução
substancial do seu montante, comparado ao que ocorre em hipóteses nas quais não há enorme risco
preexistente inerente ao meio de transporte eleito, vez que essa relação de transferência de risco existe e
tem que ser ponderada.
2 https://www.conjur.com.br/2019-ago-19/empresa-responde-acidente-trabalhador-usa-moto
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III.V – DOS INCOMPROVADOS DANOS ESTÉTICOS
O dano estético, segundo leciona a consagrada jurista Teresa Ancona Lopes, citada por
Cristiano Chaves, Nelson Rosenvald e Felipe Peixoto Braga Neto, pode ser conceituado como
“qualquer modificação duradoura ou permanente na aparência externa de uma pessoa, modificação esta
que lhe acarreta um enfeamento e lhe causa humilhações e desgostos, dando origem por tanto a dor
moral” (in Curso de Direito Civil: responsabilidade civil, 4ª ed., - Salvador: Ed. JusPodivm, 2017, p. 398).
Expostas as notas de natureza teórico-jurídicas sobre os danos estéticos, sobreleva dizer
que a demandante afirma que o acidente lhe acarretou “dores, enormes cicatrizes, marcas em sua perna
esquerda, oriundas do tratamento, além de redução da mobilidade”. Assim, pede que o réu seja
condenado a pagar-lhe a extravagante quantia de R$ 10.000,00 (dez mil reais) a título de danos estéticos.
Não obstante, o autor não trouxe ao caderno processual qualquer prova a respeito das
eventuais cicatrizes ou outros estigmas que pudessem ser confrontadas e eventualmente consideradas
para efeito de reparação por danos estéticos.
Logo, já que inexistem nestes autos documentos capazes de demonstrar as hipotéticas
vagas que o demandante afirma ter sofrido relativas ao evento automobilístico, é possível asseverar que
os danos estéticos não existem, de modo que o pedido reparatório respectivo deve ser julgado
improcedente, como vem entendendo o Tribunal de Justiça de Goiás, verbo ad verbum:
Quanto ao propalado dano estético, a sua caracterização pressupõe a
existência de deformidade ou sequela estética irreversível e permanente que
afete a imagem da vítima ou a sua integridade física, o que, na hipótese,
não vejo demonstrado pelo conjunto probatório dos autos. (TJGO. Terceira
Câmara, AC 0111148-50.2012.8.09.0137. Rel. Des. Gerson Santana Cintra, Ac.
21/06/2017, g.)
...V - Não há nenhuma comprovação nos autos da existência danos
estéticos, portanto improcedente este pedido. (TJGO, Apelação Cível
0054969-09.2009.8.09.0103, Rel. Dr. José Carlos de Oliveira, 2ª Câmara Cível,
julgado em 25/01/2018, DJe de 25/01/2018, g.)
...4. Para a configuração do dano estético, é necessária a demonstração de
que do ato ilícito resultou deformidade ou sequela estética irreversível e
permanente que afete a imagem da vítima ou a sua integridade física,
munus do qual não se desincumbiu o autor/1º apelado neste feito.
Inteligência do art. art. 333, I, do CPC/1973 (correspondente ao art. 373, I,
do CPC/2015). (TJGO, Apelação / Reexame Necessário 0108660-
55.2013.8.09.0051, Rel. Maurício Porfírio Rosa, 2ª Câmara Cível, julgado em
01/11/2017, DJe de 01/11/2017, g.)
Contudo, na remota hipótese deste Juízo condenar o réu a pagar ao demandante
compensação por danos estéticos, o que se admite apenas em prol do princípio da eventualidade, que
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sejam arbitrados no máximo em R$ 1.000,00 (mil reais), dada às peculiaridades da causa, associados à
parca situação financeira do réu.
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Conclui-se, pois, que a pretensão reparatória por danos morais deve ser julgada
improcedente.
Na contingência de que haja o reconhecimento judicial de reparar danos morais, que então
seja o quantum arbitrado à luz dos predicados da razoabilidade e proporcionalidade, associados à parca
situação financeira do réu, e nunca no hiperbólico valor de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), a título
de danos corporais tendo como causa de pedir verdadeiro bis in idem com o dano estético requerido,
bem como 15.000,00 a título de danos morais, como se danos morais e corporais fossem danos
distintos, como almeja a autora.
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Compulsando os documentos acostados junto a inicial, não há nada que comprove o
prejuízo sofrido pelo autor. Não se pode considerar como prova hábil a do efetivo prejuízo apenas a
narrativa do autor na petição inicial.
Sabe-se que a configuração dos lucros cessantes exige mais do que a simples possibilidade
de realização do lucro, requer probabilidade objetiva e circunstâncias concretas de que estes teriam se
verificado sem a interferência do evento danoso.
No âmbito doutrinário, Gustavo Tepedino, Heloísa Helena Barboza e Maria Celina Bodin
de Moraes revisitam a matéria ressaltando que o lucro cessante:
(...) não se confunde com o lucro imaginário ou simplesmente hipotético. O
art. 402 serve-se do princípio da razoabilidade para a quantificação do lucro
cessante, de modo que somente pode ser considerado o que razoavelmente se
deixou de lucrar. Segundo Agostinho Alvim, a locução indica que, até prova em
contrário, deva ser atribuído ao credor o valor que lucraria se os fatos se
desenrolassem dentro do seu curso normal, tendo em vista os antecedentes (Da
Inexecução, p. 188).
(...)
Não basta, pois, a simples possibilidade de realização de lucro, mas
também não é indispensável a absoluta certeza de que se teria verificado
sem a interferência do evento danoso. O que deve existir é uma probabilidade
objetiva que resulte do curso normal das coisas e das circunstâncias do caso
concreto (Aguiar Dias, Da Responsabilidade, vol. II, pp. 720 e 721)." (Código civil
interpretado conforme a constituição da república, v. I, 3. ed. rev. e atual., Rio de
Janeiro: Renovar, 2014, pág. 733, g.)
Percebe-se, então, que os lucros cessantes não podem ser amparados em meras conjecturas
ou hipóteses, exigindo elementos seguros e concretos da lucratividade interrompida.
Elaboradas as considerações de índole propedêuticas sobre o tema (lucros cessantes), tem-
se que, in casu, o autor não comprovou qualquer derrocada financeira fruto do evento automobilístico,
ou seja, os fatos descritos no exórdio concernentes aos lucros cessantes não passam de reles
conjecturas.
Desta feita, haja vista a completa falta de provas dos lucros cessantes alvitrados na petição
inicial, a aludida pretensão indenizatória deve ser julgada improcedente
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III.IX - DA DEDUÇÃO DO SEGUTO DPVAT
O autor não mencionou na petição inicial que teria recebido o seguro DPVAT, mas é certo
que foi agraciado com a indenização respectiva.
Então, deve ser intimado a juntar aos autos o comprovante de recebimento do referido
seguro, para que o montante respectivo seja deduzido (com as devidas correções) dos valores que
ocasionalmente venham a ser fixados por este Juízo a título reparatório, com supedâneo na Súmula 246
do Superior Tribunal de Justiça.
IV – DO PEDIDO
Ante o exposto requer:
a) A concessão das benesses da justiça gratuita ao réu, nos termos do art. 98 do NCPC,
por ser o réu pobre no sentido jurídico do termo, conforme declaração e documentos comprobatórios
em anexo;
b) O acatamento da preliminar de mérito de incompetência territorial, com fundamento
dos artigos 46, 53, IV, “a” e 53, V do CPC, com a remessa do feito a uma das varas cíveis da comarca
de Cidade Ocidental/GO;
c) A total improcedência dos pedidos iniciais, condenando a parte autora nas custas,
despesas processuais e honorários advocatícios a serem arbitrados
d) Caso haja condenação do réu a reparar os supostos danos estéticos e morais/corporais,
bem como os supostos lucros cessantes, que então seja o quantum arbitrado à luz dos predicados da
razoabilidade e proporcionalidade, associados à parca situação financeira do réu, e nunca no hiperbólico
valor requerido pelo autor.
e) Que a importância relativa ao seguro DPVAT percebido pela autora, seja abatido (com
as devidas correções) das quantias que ocasionalmente venham a ser fixadas por este juízo a titulo
reparatório.
Ad Cautelam, protesta provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidos,
especialmente depoimento pessoal das partes, inquirição de testemunhas a serem arroladas
oportunamente.
Assinado Eletronicamente
Thatielle O. Tomaz
OAB-GO 39.561
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