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Casamento, uma aliança vitalícia.

Infelizmente os números não mentem, os casamentos estão em perigo. E nem


os casamentos entre aqueles que deveriam ser à débitos da defesa do
casamento vitalício, os cristãos, estão fora de perigo. O número de divórcios no
Brasil cresceu 75% em cinco anos, aponta IBGE. Segundo o (IBGE) em 2006,
o número não chegava a 80 mil. Hoje, quase 140 mil casamentos são
cancelados por ano no país.

O pior ainda é que hoje no Brasil o índice de divórcios entre evangélicos e igual
ao índice dos não cristãos. Na mesma proporção que há de divórcios no
mundo, há hoje infelizmente na igreja.

Mas o problema não é novo. Já nos tempos de Jesus, o divórcio devastava as


famílias. Contudo, muito além das estatísticas frias, as vidas das pessoas são
para sempre marcadas por casamentos traumáticos ou pelo divórcio. Para
alguns, não existe dor maior do que aquela experimentada num casamento
triste, abusivo ou marcado pela traição, pela violência, física, psicológica e
emocional. Ainda pior é a tragédia da dissolução de um casamento feito para
refletir a glória de Deus e o amor de Cristo pela sua noiva, a igreja.  (Texto
Mc10:1-12).

Os discípulos precisam tratar o casamento como uma instituição divina e


rejeitar o divórcio fácil dos judeus. A instrução aos discípulos quanto ao
casamento é que o considerem como permanente em oposição ao divórcio fácil
praticado em Israel. Jesus reafirma os termos da aliança feitos por Deus na
criação para o matrimonio. O considerando permanente em contraste com o
divórcio fácil praticado em Israel.

Para cumprirmos o objetivo divino para o casamento devemos trata-lo de


maneira vitalícia em oposição a ideia leviana do divórcio. Quero tratar esse
debate de Jesus com os fariseus acerca de casamento e divórcio em três
etapas. A primeira etapa é a:

I. A pergunta leviana feita pelos fariseus acerca do divórcio V1-4.


a. Eles queriam por Jesus à prova V1-2a.
Os fariseus não estavam interessados em saber o que Jesus pensava de fato
acerca do divórcio. Eles queriam pegar Jesus em algum erro e condena-lo de
alguma forma.

Para entendermos isso devemos olhar primeiramente para a região onde essa
pergunta ocorreu. O lugar do interrogatório era a Peréia, que, como a Galiléia
pertencia aos domínios de Herodes Antipas. Foi nessa mesma região que João
Batista foi preso e degolado por denunciar o divórcio e o casamento ilícito de
Herodes com sua cunhada Herodias. Com isso queriam colocar Jesus contra
Herodes Antipas para ver se Ele tinha o mesmo fim que João Batista.

E se olharmos bem também queriam, como já tinha tentado várias vezes,


colocar Jesus contra Moisés, se Cristo se opusesse aos ensinos de Moisés, o
acusariam de se colocar contra a própria lei. Então eles fazem a sua pergunta.

b.   Jesus então pergunta o que eles entendiam V2-3.

As vezes a pergunta é mais reveladora do que a resposta. Por isso sabendo


Jesus a intenção que havia no coração dos fariseus, Jesus aproveita a
oportunidade para ensinar aos seus discípulos verdades absolutas acerca do
casamento.

Após os fariseus fazerem a sua pergunta de “bolso”, aquelas perguntas nas


quais os alunos já sabem a resposta, mas querem pegar o professor. “É
permitido ao homem divorciar-se de sua mulher?” Jesus faz uma pergunta
meio que irônica, já que eles eram mestres da lei, e entendedores dos
escritos de Moisés. “O que Moisés lhes ordenou?”.

O ponto interessante aqui é que Jesus leva-os a quem tem autoridade para
falar, a Palavra de Deus. Não era Moisés em si, mas aquilo que ele escreveu
inspirado por Deus. Sabendo que os fariseus tinham um conceito formado em
relação ao casamento com uma visão banal sobre o divórcio, Jesus leva-os
ao centro da questão, mas antes...

c. Eles respondem equivocadamente à pergunta de Cristo V4.

Se olharmos para a resposta deda por eles tanto em Marcos : “Moisés


permitiu que o homem desse uma certidão de divórcio e a mandasse
embora”. Como em Mateus 19, a passagem paralela a essa : “Então, por que
Moisés mandou dar uma certidão de divórcio à mulher e mandá-la embora”.
Podemos perceber os erros dos fariseus em relação ao casamento e ao
divórcio.

O texto em questão é Deuteronômio 24:1: “Se um homem se casar com uma


mulher e depois não a quiser mais por encontrar nela algo que ele reprova,
dará certidão de divórcio à mulher e a mandará embora”.

A grande questão é entender o que significa “algo que ele reprova” ou em


outras versões “coisa indecente”. No ano 20 d.C., dois rabinos famosos, Hillel e
Shammai tornaram-se famosos na interpretação desse texto mosaico.

Hillel liderava uma escola liberal que entendia que o marido poderia despedir
sua mulher por qualquer motivo, queimou o almoço dele, ou por ser mal
educada, ou mesmo se esse marido encontrasse uma mulher mais
interessante. Shammai, por sua vez, liderava uma escola conservadora e
acreditava que o divórcio só poderia ser dado no caso de o marido encontrar
na mulher alguma coisa indecente. Esse termo hebraico para descrever “coisa
indecente”, era entendido por Shammai como falta de castidade, pudor ou
adultério. 

Olhando assim até parece que o texto dá uma ordenança ao divórcio, uma
carta branca para ele. Mas devemos entender o contexto por trás dessa
passagem.

A concessão para o divórcio estabelecida na lei de Moisés tinha como


propósito proteger suas vítimas. Segundo a lei judaica, somente o marido
poderia iniciar o processo do divórcio. A lei civil, porém, protegeu as mulheres,
que naquela cultura, estavam completamente vulneráveis eram condenadas a
viver sozinhas e desamparadas. Por causa dessa concessão de Moisés, um
marido não poderia despedir a mulher sem lavrar-lhe carta de divórcio e depois
de despedi-la não poderia tê-la de volta, caso essa mulher viesse a casar-se
novamente ou mesmo no caso dela ficar viúva. Assim, o marido precisava
pensar duas vezes antes de despedir a sua mulher.  

Os fariseus interpretavam equivocadamente a lei de Moisés sobre o divórcio;


eles a entendiam como um mandamento, enquanto Jesus considerou-a uma
permissão, uma tolerância. Moisés não ordenou o divórcio, ele permitiu. Há
uma diferença abissal entre ordenança e permissão.  

Então, a primeira etapa do debate entre Jesus e os fariseus acerca de


casamento e divórcio foi: a pergunta leviana feita pelos fariseus acerca do
divórcio. Como vimos, Jesus pergunta como eles entendiam essa questão. E
depois disso, sabendo Jesus da intenção e diante da resposta deles, entramos
na segunda etapa desse debate onde Jesus escancara:

II. O real motivo para o divórcio V5.


a. A dureza de coração.

O divórcio não foi criado por Deus, ele é fruto do coração endurecido e
pecaminoso do homem. Ele não é uma ordem de Deus, é uma permissão, que
encontra a sua legalidade na vontade do homem e não na vontade de Deus.
No princípio, quando Deus instituiu o casamento, antes da queda humana, não
havia nenhuma palavra sobre divórcio. Ele é fruto do pecado. Ele é resultado
da dureza do coração.

Jesus sendo muito maior do que Moisés afirma que Moisés nunca mandou se
divorciar por qualquer motivo. Muitos até hoje acreditam que o adultério é o real
motivo para o divórcio, não, o real motivo para o divórcio é a dureza de
coração. Na verdade, Moisés nunca mandou. O divórcio nunca é um
mandamento ou ordenança, mas uma permissão, e uma permissão bem
estreita, devido a dureza do coração. 

Um coração endurecido é o último estágio do processo de afastamento da


vontade de Deus. É uma forma, é claro, que incredulidade potencializada que
leva a negação da Palavra de Deus, da vontade de Deus, pelas ações
tomadas.

Para termos um bom exemplo disso, o povo de Israel quando peregrinava pelo
deserto começou a não crer nas promessas de Deus, depois passaram a
reclamar da vontade de Deus, até chegarem ao último e terrível estágio desse
processo de afastamento e revolta contra Deus, chamado dureza de coração.
O coração de Israel estava tão endurecido que o povo desejou voltar para o
Egito! Deus enviou seu julgamento sobre Israel no deserto em Cades-Barnéia,
e toda aquela geração foi condenada a morrer, e somente a nova geração
poderia entrar na terra. E é nisso que se sustenta o divórcio, em um coração
endurecido.

b. A falta de perdão.

Há casais que não se perdoam, não necessariamente por causa de adultério,


mas não se perdoam por qualquer motivo. Mas mesmo no caso de adultério,
poderia um pecado ser maior do que o perdão?

Se Deus criou o casamento como vitalício, sendo apenas desfeito pela morte,
então podemos afirmar que nenhum pecado será capaz de dissolver a aliança
conjugal. Somos ensinados a perdoar assim como fomos perdoados, por isso
perdão e restauração sempre são a vontade de Deus para relacionamentos
humanos.

Hernandes Dias Lopes afirma em seu livro “casamento”: “Onde há perdão, não
há necessidade de divórcio. O divórcio é a afirmação de que a ferida não tem
cura. O divórcio é a desistência definitiva de um relacionamento machucado. O
perdão, entretanto, cura a ferida, restaura o relacionamento e renova o
casamento”. Temos que entender que o divórcio é uma derrota para o
evangelho.

c. A banalização do divórcio e do casamento.

Infelizmente a palavra divórcio entrou no dicionário de muitos casais, e para


uma tristeza maior ainda, de muitos casais cristãos. Hoje, alguns casais
cogitam e flertam com a possibilidade do divórcio no menor desentendimento
que ocorra. Parece que estão lidando com um simples compromisso, com um
contrato meramente humano, que pode ser quebrado ou cancelado a qualquer
momento.

Muitos afirmam que precisam ser felizes, precisam mudar de vida, que já não é
do mesmo jeito, como se qualquer um desses argumentos fossem suficientes
para acabar com aquilo que Deus uniu.

Em Mateus 19, na passagem paralela a essa, depois de Jesus ensinar aos


seus discípulos a seriedade do casamento e que ele é vitalício, podemos ver
isso no espanto dos discípulos. “Os discípulos lhe disseram: ‘Se esta é a
situação entre o homem e sua mulher, é melhor não casar”.

Já vimos até aqui que a primeira etapa desse debate foi a pergunta leviana
feita pelos fariseus acerca do divórcio. Então Jesus pergunta o que eles
entendiam, depois da resposta dos fariseus Jesus escancarou que o real
motivo para o divórcio, a dureza de coração, e agora na última etapa desse
debate Jesus dar o veredito final, que é:

III. A resposta de Cristo ao divórcio V6-9.

Lembram da pergunta feita por Jesus ? “O que Moisés lhes ordenou?” E da


resposta reveladora dos fariseus ? Enquanto eles focavam no divórcio, Jesus
focava no casamento, enquanto eles procuravam, tanto uma forma de acusar
Jesus, como de buscar legalidade para o divórcio fácil praticado por Israel,
Jesus falava da irrevogável aliança, do pacto indissolúvel, que é o casamento.

Eles achavam que Jesus estava se referindo a Deuteronômio 24, a Moisés,


mas Cristo falava do princípio, de Genesis 2. Podemos ver um grande
contraste, uma grande diferença aqui. Enquanto eles pensavam na permissão
para o divórcio, que é fruto da dureza de coração, como já vimos, Jesus
pensavam no princípio, ou seja, antes da queda, antes do pecado, no plano
original de Deus, para o casamento.

A ordem dada por Moisés, que Cristo se referia, não era para o divórcio, “o
que Moisés lhes ordenou?” Mas, para a realidade vitalícia e indissolúvel do
casamento. Jesus ao citar Moisés não estava apontando para Deuteronômio,
mas para Genesis, para a criação do casamento.

De forma surpreendente e contundente, Jesus responde aos fariseus levando-


os de volta às bases do casamento, ou seja, à teologia bíblica da família. Luiz
Sayão afirma em seu livro divórcio e novo casamento: “Jesus procura mostrar
que Deus está mais interessado no casamento do que no divórcio. Por isso,
volta a atenção da discussão para a teologia do casamento na criação. Sua
postura era clara: o casamento é monogâmico e deve durar por toda a vida […]
Jesus corrige a teologia judaica, afirmando que a base teológica correta é “o
princípio”, e não “Moisés”. Aqui vemos o ideal cristão de restauração de todas
as coisas conforme o princípio”. 

Logo após Jesus afirma que foi devido a dureza de coração que fez Moisés lhe
permitir o divórcio, Jesus diz: “Mas”. Trazendo a ideia real e original de Deus
para o casamento. Perceba algo interessante quando Jesus diz: “no princípio
da criação Deus ‘os fez homem e mulher”.

“Por esta razão, (Ele revela o real motivo que fará) o homem deixará pai e
mãe e se unirá à sua mulher, e os dois se tornarão uma só carne’. Assim
(dessa forma), eles já não são dois, mas sim uma só carne. Portanto... (Aqui
chegamos ao ponto principal, que deve nos levar a cremos na vitaliciedade do
casamento, a sua impartível aliança que é o matrimonio), o que Deus uniu,
ninguém o separe”.

Nessa poderosa declaração Jesus afirma que os laços que unem homem e
mulher, são mais fortes do que qualquer outro laço, maior do que o de pais e
filhos. Agora unidos, se tornaram uma só carne, sendo impossível haver uma
terceira pessoa, que agora na verdade, há apenas um só carne, “eles já não
são dois, mas sim uma só carne”. E ratifica o poder dessa união dizendo que
aquilo que Deus uniu, o homem não tem autoridade de separar.

Então, voltando a pergunta inicial dos fariseus: “É permitido ao homem


divorciar-se de sua mulher?” A resposta de Jesus é clara: “O que Deus uniu,
ninguém o separe”.

Conclusão.

O casamento foi criado para a glória de Deus, em um primeiro momento o


casamento é um espelho de quem é Deus e como Ele se relaciona em sua
trindade, e com o seu povo. É uma aliança vitalícia, que só tem seu fim com a
morte. Por isso diante da falácia dos fariseus, diante da banalização do
casamento e do divórcio Jesus tem uma resposta tão forte e contundente.

Para cumprirmos o objetivo divino para o casamento estabelecido por Deus no


princípio, devemos trata-lo de maneira vitalícia em oposição a ideia leviana do
divórcio. O casamento foi criado por Deus, antes do pecado entrar na terra, e
divórcio pelo homem, depois de ter sido morte pelo pecado.
Talvez você posso estar pesando : “Pasto, eu sou divorciado, estou em um
outro casamento, eu não sabia o que era o casamento a luz da Palavra de
Deus, eu nem crente era”. Ou talvez: “Eu já era crente, mas não tinha esse
entendimento e agora?” Você não precisa voltar para o primeiro casamento.
O que se deve fazer é tomar a partir de agora a consciência e a seriedade, e
trata-lo como vitalício, arrependendo-se, claro do que passou, e vivendo de
agora em diante no casamento de maneira que glorifique a Deus, através do
seu casamento atual. Tratando-o como vitalício. Devemos proteger o
casamento, e trata-lo como vitalício, pois o que Deus uniu, o homem não deve
separar.

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