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Apostila de Meteorologia Básica - IF 111 – 2013 – DCA/IF/UFRRJ

CAPÍTULO 8. CONDENSAÇÃO

Rafael Coll Delgado


José Francisco de Oliveira Júnior
Gustavo Bastos Lyra

8.1. Introdução

A entrada de mais vapor num ambiente já saturado a uma dada temperatura ou a


diminuição da temperatura desse ambiente condiciona a condensação do vapor d’água.
Na atmosfera, a condensação do vapor d’água ocorre basicamente em condições de ar
saturado e na presença de partículas higroscópicas, como por exemplo, o cloreto de
sódio (NaCl), em torno dos quais são formadas as gotículas que constituirão as nuvens
(Pereira et al., 2007). A condensação acontece sobre pequenas partículas em suspensão
na atmosfera. Estas partículas são conhecidas por núcleos de condensação e incluem
poeiras, sal marinho, entre outras. Assim, para que ocorra condensação na atmosfera são
necessárias duas condições: i) ar saturado e ii) presença de núcleos de condensação.

Existem duas formas para que o ar atmosférico alcance a saturação, são elas:

I. Aumento da pressão real de vapor d’água (ea) devido à adição de vapor


d’água a atmosfera, que naturalmente ocorre por evaporação e
transpiração;

II. Resfriamento do ar, de forma a diminuir a pressão de saturação do vapor


d’água do ar (es);

Os dois processos citados acima (I e II) podem ocorrer simultaneamente na


atmosfera, mas o segundo é bastante efetivo em promover a formação de nuvens e do
orvalho.

A condensação em certos núcleos ocorre com pressões de vapor inferiores à


pressão de saturação para uma superfície plana de água pura à mesma temperatura.
Alguns núcleos de condensação, tais como os núcleos salinos, têm também forte
tendência para adsorver a água, o que favorece a condensação. Por isso são chamados
de núcleos de condensação.

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Na atmosfera, ocorre geralmente condensação devido ao resultado do


arrefecimento do ar úmido, isto é, ar que contém vapor d’água. Quando há diminuição
da temperatura do ar, diminui a quantidade de vapor d’água necessária para o ar ficar
saturado. Eventualmente, atinge-se uma temperatura para a qual a pressão de vapor real
(ea) se torna igual à pressão de saturação (es). Qualquer arrefecimento subsequente
provoca a condensação.

8.2. Condensação do Vapor D’Água Atmosférico

Para que haja condensação na atmosfera é necessário: 1) a presença de núcleos


de condensação, em torno dos quais se formam os elementos de nuvem (pequenas
gotículas de água que permanecem em suspensão no ar) e 2) que o ar fique saturado.
O principal núcleo de condensação é o cloreto de sódio (NaCl). No entanto, em algumas
regiões específicas, outras substâncias podem atuar como núcleos de condensação,
como é o caso do 2-metiltreitol, álcool proveniente da reação do isopreno emitido pela
floresta com a radiação solar, considerado o principal núcleo de condensação para
formação das chuvas convectivas na região Amazônica.

Para que haja precipitação (Capítulo 9), entretanto, é necessário que não
somente o vapor d’água retorne à fase líquida, processo que recebe o nome de
condensação, como também que as gotas cresçam até um tamanho suficiente para que
sob a ação gravitacional vençam a resistência e as correntes de ar ascendentes. O
crescimento das gotículas de água formadas por condensação é chamado
coalescência.

Desta maneira, conclui-se que mesmo que haja condensação, não


necessariamente ocorrerá à precipitação, caso o processo de coalescência não seja
intenso o suficiente para promover um crescimento das gotículas até uma dimensão que
vençam as resistências do ar.

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8.3. Fatores que fazem com que a Parcela de Ar seja levada a Saturação

I. Resfriamento da massa de ar: O ar pode ser resfriado por muitos


processos. Entretanto, a formação de nuvens e do orvalho ocorre quando
parcelas de ar úmido se elevam na atmosfera e se resfriam
adiabaticamente, devido à expansão interna causada pela diminuição da
pressão atmosférica. A taxa e a quantidade de condensação são funções
da taxa e quantidade de resfriamento e da umidade contida na massa de
ar para repor o vapor d’água que está sendo convertido em água.

II. Adição de vapor d´água à massa de ar: Ao adicionar mais vapor


d’água no ambiente, a saturação da massa de ar ocorrerá quando a
pressão de vapor d’água existente no ar, ou seja, pressão real (ea) tornar-
se igual à pressão na capacidade máxima de retenção de vapor d’água do
ar (pressão de saturação - es). De acordo com a equação de Tetens quanto
maior for a temperatura do ar maior será a pressão de saturação de vapor
es, portanto, menor será a umidade relativa do ar para uma condição de ea
constante. Para situações idealizadas sem nebulosidade, o aumento da
umidade relativa do ar ocorre sempre no período do amanhecer e a noite.

8.4. Condensação em Altitude

Suponha que uma parcela de ar não-saturada seja forçada a se elevar (Figura


8.1), seja porque tenha sofrido maior aquecimento que o ar na sua vizinhança, e assim
diminui sua densidade, seja elevando-se porque uma massa de ar mais fria, portanto
mais densa, em movimento força-a a subir.
Considerando que a pressão atmosférica diminui com a altitude, assim, ao
elevar-se a parcela de ar expande rapidamente. Isso somente ocorre, porque para essa
expansão há consumo de energia, na forma de trabalho pressão-volume. Com a redução
da energia interna da parcela de ar, diminui sua temperatura, sem que existam
significativamente trocas de calor com o ambiente. Nessa ascensão a parcela de ar sofre
o que se denomina de resfriamento adiabático.

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Figura 8.1. Expansão Adiabática da Massa de Ar na Atmosfera. Fonte:


http://agr.unne.edu.ar.

Ao resfriar, quando se alcança à denominada temperatura do ponto de orvalho,


se inicia a condensação, se existirem na atmosfera os chamados núcleos de
condensação, que podem ser sais, partículas ou superfícies onde o vapor d’água possa
ter base para retornar a fase liquida. Os núcleos de condensação poderiam ser
comparados, em macroescala, à superfície dos automóveis onde em noites frias
acumula-se água ou o embaçamento que ocorre quando se dirige com os vidros
fechados em dias frios.

Na atmosfera em situações especificas a condensação atmosférica poderá ocorrer


a uma umidade do ar entre 80% e 97-98%. No caso da umidade relativa do ar estar
próxima a 80% a condensação poderá ocorrer na presença de óxidos de enxofre e
fósforo, que funcionam também como núcleos de condensação. A reação do enxofre
com o vapor d’água poderá dar origem a formação da chuva ácida, em locais
densamente urbanizados. Já a umidade relativa do ar entre 97-98% a condensação
ocorrerá pela abundância e eficiência dos núcleos de condensação, como o sulfato de
amônio (processos industriais) e o sal marinho (oceanos).

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Tanto mais água deverá condensar, quanto maior a energia que a parcela de ar
tenha para a ascensão. Entretanto, ao condensar ocorre a liberação do calor latente de
evaporação, que promove aumento, extremo, de energia da parcela para continuar o
processo de ascensão na forma de calor sensível (temperatura), com consequente
redução da sua densidade, que poderá levá-la mais ao alto, e assim, eventualmente,
chegar ao nível onde ocorra o congelamento da água.

Do processo descrito acima surgirá à nuvem que é o resultado visível das


gotículas formadas pelo processo de condensação, as quais recebem o nome de
elementos de nuvem, pequeninas gotas de tamanho da ordem de 100 µm. Além do
processo de resfriamento adiabático, a condensação também pode ocorrer por
resfriamento por contato e resfriamento por irradiação. Estes últimos fenômenos
formam geralmente o orvalho, geada e neblina.
As nuvens são constituídas por gotículas ou cristais de gelo que se forma em
torno de núcleos microscópicos na atmosfera. Há vários processos de formação das
nuvens e das suas consequentes formas e dimensões.

8.5. Fatores que Favorecem a Elevação da Massa de Ar

8.5.1. Relevo

Quando os ventos encontram um obstáculo do relevo (e.g. montanha), o ar é


forçado a subir (Figura 8.2). Se a parcela de ar que se eleva resfriar até atingir a
temperatura do ponto de orvalho, poderá condensar e formar uma nuvem orográfica. O
nível em que ocorre a saturação, ou seja, ao atingir a temperatura do ponto de orvalho, é
denominado de nível de condensação por levantamento (NCL).

O levantamento orográfico ocorre quando terreno inclinado, como montanhas,


age como barreira ao fluxo de ar e força-o ar a subir. Muitos dos lugares mais chuvosos
do mundo estão localizados na encosta de montanhas, da face de onda escoa o vento,
denominado de barlavento. Quando o ar escoa pela montanha e atinge o outro lado,
muito da umidade se perde, essa face é denominada de sotavento. Quando o ar desce ele
aquece, tomando a condensação e a precipitação ainda menos provável da outra face da
montanha. O deserto da Patagônia, na Argentina, é um exemplo de deserto situado a
sotavento de montanhas.

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Figura 8.2. Influência do relevo no levantamento forçado de uma massa de ar.

8.5.2. Processo de Convecção Térmica

Este processo se dá através da transferência de calor da superfície para a


atmosfera (fluxo de calor latente-evaporação e condensação da água) (Figura 8.3). O ar
próximo a superfície se aquece por contato com a mesma (condução), como o processo
de condução não é eficiente para aquecer o perfil vertical da atmosfera, o ar mais
quente, menos denso se eleva, e aquece esse perfil por convecção. Por aquecimento em
superfície, o crescimento vertical poderá prosseguir, a medida que a parcela de ar se
eleva, ela se expande, o que induz ao processo de resfriamento adiabático. Quando a
temperatura da parcela se iguala a temperatura do ponto de orvalho, a atmosfera estará
saturada e se existirem núcleos de condensação, ocorre a condensação. Esse processo
leva a formação de nuvens do tipo Cumulus Congestus ou Cumulonimbus que poderá
dar origem a chuva.

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Figura 8.3. Processo de convecção térmica dando origem a formação de uma nuvem
convectiva.

8.5.3. Superfície Frontal

Numa Frente (Figura 8.4), o encontro entre massas de ar de diferentes


propriedades (temperaturas, umidade, pressão atmosférica e vento), faz com que o ar
mais quente ascenda por cima do ar frio, que por ser mais denso tende a ficar próximo
do solo. No caso de uma Frente Fria se aproximando, a massa de ar frio se desloca em
direção de ar quente, fazendo com que o ar mais quente se eleve à sua frente e este vai
esfriando a medida que é obrigado a subir. Desde que seja suficientemente úmido, o ar
quente condensa formando Cumulus, e posteriormente Cumulonimbus. Os ventos em
altitudes mais altas escoam no topo da Cumulonimbus, gerando Cirrus e Cirrostratus
que anunciam a chegada da frente.

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Figura 8.4. Esquema de formação de uma frente fria (Superfície Frontal).

No caso da Frente Quente (Figura 8.5), a massa de ar quente se desloca em


direção da massa de ar frio, o ar quente por ser menos denso que o ar frio, sobe acima
do ar frio. Muitas vezes, uma camada de Cirrus é observada a mais 1.000 quilômetros
da frente quente, ou seja, aproximadamente 48 horas antes dela chegar. Daí forma-se
nuvens Cirrostratus e Altostratus. Na sequência surgem nuvens do tipo Stratus e
Nimbostratus. Após a passagem da Frente Quente, observa-se o tempo com céu sem
nebulosidade, isto é, sem nuvens. As nuvens mais pesadas como Cumulus e
Cumulonimbus, embora sejam mais comuns nas frentes frias, podem ocorrer em frentes
quentes também.

Figura 8.5. Esquema de formação de uma frente quente (Superfície Frontal).

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8.6. Na Superfície

8.6.1. Nevoeiro

É uma suspensão de minúsculas (< 60 m) gotículas de água liquida ou cristais


de gelo numa camada de ar próxima à superfície da Terra (Figura 8.6) capaz de reduzir
a visibilidade. Por convenção internacional, usa-se o termo nevoeiro quando a
visibilidade horizontal no solo é inferior a 1 km (Vianello & Alves, 1992).

(a) (b)

Figura 8.6. Formação do nevoeiro em diferentes superfícies: sobre uma ponte (a) e uma
superfície montanhosa (b).

Os tipos de nevoeiros são:

Nevoeiro de Radiação

Resulta do resfriamento radiativo da superfície e do ar adjacente. Ocorre em noites


de céu sem nebulosidade, de clamaria ou ventos fracos (1 m/s) e umidade relativa alta.
Se a umidade relativa é alta, um pequeno resfriamento diminuirá a temperatura até o
ponto de orvalho, alcançando a saturação, e uma camada de gotículas de água em
suspensão se formará próximo à superfície. Se o ar está calmo, o nevoeiro pode ser raso
e descontínuo. Para um nevoeiro com maior extensão vertical, é necessária uma brisa
leve.

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O vento fraco resulta mistura fraca do ar atmosférico, que transfere calor para a
superfície fria, e faz com que uma camada maior se resfrie até abaixo do ponto de
orvalho, levando o nevoeiro para cima sem dispersá-lo. Se os ventos são calmos, não há
mistura e a transferência de calor é apenas por condução. Por outro lado, se os ventos se
tornam muito fortes, o ar úmido em níveis baixos se mistura com o ar mais seco acima,
a umidade relativa do ar diminui e não se desenvolve o nevoeiro de radiação.

Nevoeiro de Advecção

Ocorre quando o ar quente e úmido passa sobre (escoa) uma superfície fria,
resfriando-se por contato e também por mistura com o ar frio que estava sobre a
superfície fria, até atingir a saturação. Certa quantidade de turbulência é necessária para
um maior desenvolvimento do nevoeiro. Assim, ventos entre 10 e 30 km/h são
usualmente associados com nevoeiro de advecção. A turbulência não só facilita o
resfriamento de uma camada mais profunda de ar, mas também leva o nevoeiro para
alturas maiores. Diferentemente dos nevoeiros de radiação, nevoeiros de advecção são
frequentemente profundos e persistentes.

Nevoeiro Orográfico

É criado quando ar úmido escoa sob terreno inclinado, como encostas de colinas
ou montanhas. Devido ao movimento ascendente, o ar se expande e resfria
adiabaticamente. Se o ponto de orvalho é atingido, pode-se formar uma extensa camada
de nevoeiro.

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8.6.2. Neblina

Condensação que ocorre junto à superfície, causada pelo resfriamento do ar


quente e úmido (Figura 8.7). Formada normalmente abaixo do topo das encostas das
serras e montanhas. O ar quente perde calor para o solo frio ou para a água e se esfria,
fazendo com que o vapor d’água se condense. Quando as gotículas de água formada tem
diâmetro superior a 60 m e a visibilidade horizontal na superfície é superior a 1 km, a
suspensão é denominada neblina (Varejão-Silva, 2006).

Figura 8.7. Formação da neblina.

Pode ocorrer a qualquer momento do dia e não necessariamente se dissipa


quando o Sol nasce ou quando aumenta a velocidade do vento. A neblina nada mais é
que uma nuvem orográfica, que ocorre nas regiões montanhosas ou quando uma nuvem
Stratus toca a superfície.

8.6.3. Orvalho

As superfícies esfriam intensamente à noite por resfriamento radiativo. O


resfriamento é mais intensamente em condições de céu sem nebulosidade e baixas
velocidades do vento. Se uma superfície esfria a uma temperatura inferior ao ponto de
orvalho, a água condensa sobre a superfície e gotas de orvalho se formam (Figura 8.8).
A formação do orvalho como a de nevoeiro ocorre quando o ar atmosférico se resfria
junto à superfície, porém, no orvalho a formação das gotículas se dá por deposição
sobre superfícies de plantas, objetos, carros, casas, entre outros (Vianello & Alves,
1992).
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Figura 8.8. Formação do orvalho.

As épocas do ano mais propícias à ocorrência do orvalho são o Inverno e o


Outono.

8.6.4. Geada

Para Meteorologia, geada é o processo de congelamento (solidificação) do


vapor d’água condensado (orvalho) sobre os vegetais e superfícies lisas ou a passagem
direta do vapor d’água para cristais de gelo (sublimação) (Figura 8.9). Contudo, apesar
da formação de gelo sobre as plantas, não necessariamente ocorre morte ou dano ao
vegetal. Para Agronomia, considera-se geada como sendo o fenômeno atmosférico que
provoca a morte das plantas ou de suas partes, devido à ocorrência de baixas
temperaturas, que acarretam o congelamento dos tecidos vegetais, havendo ou não a
formação de gelo sobre as plantas (Pereira et al., 2002).

Figura 8.9. Ocorrência de geada na vegetação.

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As geadas normalmente ocorrem no período noturno, quando o balanço de


radiação é negativo, devido às perdas de radiação por ondas longas (radiação
infravermelha). Suas ocorrências são favorecidas pela atuação de uma massa de ar fria
(Alta Pressão - Massa Polar), com T ≈ 0°C; por temperatura da folha inferior ou igual a
0°C; céu sem nebulosidade e baixas velocidades do vento (1 a 2 m/s). Isso ocorre
porque, em noites de calmaria e sem nebulosidade, objetos próximos às superfícies
perdem calor por irradiação (radiação infravermelha) e assim suas temperaturas
diminuem. Se a perda de calor continua durante o período noturno pode ocorrer o
fenômeno da geada. A formação das geadas está associado ao avanço de anticiclones
extremamente frios e secos (Altas Pressões).

Quando há nuvens, estas absorvem a radiação infravermelha emitida pela


superfície e reemitem em direção à superfície, o que diminui a perda de radiação
infravermelha e a diminuição da temperatura, fazendo com que a formação do orvalho
ou da geada seja retardada ou mesmo não ocorra.

A ocorrência de geadas é um problema que afeta a produtividade de cultivos


realizados em regiões que apresentam características que favorecem a sua formação,
sobretudo em regiões com ocorrência de geada precoce devido ao avanço de frentes
frias e massas polares (outono) ou tardia (primavera).

No Brasil as geadas ocorrem nas latitudes superiores a 18o S, abrangendo os


estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e parte dos estados de
Minas Gerais, Rio de Janeiro, Goiás e Mato Grosso do Sul, em regiões de altitude
elevada (Figura 8.10). Entre as latitudes de 18o S a 20o S as geadas são esporádicas e
normalmente de fraca intensidade, com maior frequência de ocorrência em altitudes
elevadas e distantes do litoral. Na região compreendida entre 20o S e 23o S o fenômeno
ocorre preferencialmente no inverno e com maior frequência nas áreas de maior
altitude. Ao nível médio do mar, as geadas são observadas somente em latitudes
superiores a 23o S. Entre as latitudes de 23º S a 27o S o fenômeno é observado apenas no
inverno (geadas normais). E em regiões com latitudes superiores a 27o S observa-se
geadas normais e também precoces (outono) e tardias (primavera).

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Figura 8.10. Distribuição espacial da frequência de ocorrência de geadas no Brasil.

8.6.4.1. Tipos de Geada

As geadas podem ser classificadas quanto à sua origem ou pelos efeitos visuais
(aspectos das plantas) que elas produzem (Pereira et al., 2002). As geadas têm origem
devido a dois fenômenos meteorológicos: i) Advecção de ar frio e ii) Perda de radiação
de ondas longas (radiação terrestre).

 Origem

Geada de Advecção: A advecção de massas de ar é o processo de deslocamento


horizontalmente de uma massa de ar com características atmosféricas próprias
(temperatura, umidade do ar, pressão atmosférica, entre outras), através das
isotermas, de uma região para outra. Com esse deslocamento ocorre transporte
de propriedades atmosféricas. Assim, quando a massa de ar passa por
determinado local, ela substitui a massa de ar existente, que normalmente
apresenta diferentes características.

As geadas de advecção ocorrem devido à passagem de uma massa de Ar Polar,


que se desloca de regiões Subtropicais em direção ao Equador. A advecção dessas
massas de ar está associada ao transporte de ar frio das regiões Polares para as regiões
Tropicais, o que resulta na diminuição das temperaturas do ar, e assim, induzem as
ocorrências de geadas.

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Geada de Irradiação: É um fenômeno de caráter local e para a sua ocorrência


são necessárias baixas velocidades do vento e sempre com céu claro, temperaturas e
umidade do ar, associadas à baixa nebulosidade, normalmente sobre a atuação de um
sistema de Alta Pressão (Anticiclone).

Durante a noite, a superfície terrestre emite radiação de ondas longas, como não
se tem incidência de radiação solar, e normalmente a contribuição da contra radiação
atmosférica é menor, o balanço de radiação é negativo (Capítulo 5). Assim, a superfície
terrestre resfria, e, por conseguinte, o ar próximo a essa superfície também resfria,
resultando no fenômeno conhecido como inversão térmica (Figura 8.11). Na inversão
térmica, a temperatura do ar aumenta com a altura, ao invés de diminuir, como seria
esperado na Troposfera. Se o processo de resfriamento próximo à superfície ocorre a
taxas elevadas durante toda a noite, induz a geada.

Em noites com baixa nebulosidade e umidade do ar, o processo de resfriamento


ocorre a velocidades superiores em condições de alta umidade e nebulosidade. Isso
porque o vapor d´água do ar é um dos principais gases de efeito estufa, e seu aumento
resulta em maior contra radiação para a superfície, fazendo com que o balanço seja
menos negativo, e assim, atenua as velocidades de resfriamento.

Figura 8.11. Influência da nebulosidade no balanço de radiação e no perfil vertical de


temperatura do ar próximo a superfície.

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Em noites de calmaria, o ar frio próximo à superfície não sofre mistura com o ar


mais quente acima, enquanto com o aumento da velocidade do vento, o ar mais frio
próximo à superfície é misturado ao ar mais quente acima, o que ameniza a diminuição
da temperatura do ar. Dessa forma, em noites de calmaria, espera-se que o ar se resfrie
mais rápido, o que pode resultar em condições favoráveis à formação da geada.

Segundo PEREIRA et al. (2002), pode ser observado ainda uma geada mista,
decorrente da ocorrência simultânea dos processos de advecção de massa de ar fria e
seca, com subsequente estagnação da massa na região, o que favorece as perdas por
irradiação no período noturno.

 Efeitos Visuais

Geada Branca: Ocorre devido ao intenso resfriamento noturno, em condições de


atmosfera próxima a saturação ou saturada, que produz a formação de orvalho
sobre as plantas, seguidas da formação de gelo ou cristais de gelo, quando a
diminuição da temperatura continua até atingir o ponto de congelamento (Figura
8.12). É observada em noites muito frias, com temperatura na relva inferior a
0°C e temperatura do ar no abrigo em torno de 5°C, com céu sem nebulosidade e
umidade relativa do ar próxima da saturação (~100%).

Com o processo de mudança de fase relacionado a condensação do vapor


d´água, ocorre liberação de calor latente, o que contribui para reduzir as taxas de
resfriamento, ou seja, a diminuição da temperatura do ar ocorre de forma mais lenta
(PEREIRA et al., 2002). Associado a esse processo, a camada de gelo formado sobre a
planta atua como isolante térmico, fazendo com que a temperatura no interior da planta
não diminua a níveis que causem danos ao tecido vegetal, o que não acontece com a
geada negra. Assim, a geada branca é menos nociva às plantas que a geada negra.

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Figura 8.12. Ocorrência de geada branca sobre a vegetação.

Geada Negra: Na geada negra, também ocorre à diminuição da temperatura do


ar, porém o ar possui baixíssimo teor de umidade, não havendo, portanto a
condensação e o congelamento. Como não há formação de gelo e nem liberação
de calor latente, devido ao processo de condensação da água, as temperaturas
diminuem a níveis letais ao tecido vegetal. Devido aos danos do tecido, ocorre
necrose do mesmo, o que resulta no aspecto negro a planta (Figura 8.13). A
geada negra costuma congelar a parte interna (seiva, vasos, entre outros) das
plantas.

Figura 8.13. Ocorrência de geada negra.

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8.6.4.2. Previsão de Geada

 Advecção

No caso da geada de advecção, os órgãos oficiais de Meteorologia (Instituto


Nacional de Meteorologia - INMET e Centro de Previsão e Estudos Climáticos -
CPETC) realizam as previsões com até três dias de antecedência, baseado na trajetória
das massas de Ar Polar. A estimativa da trajetória da massa de Ar Polar depende do
conhecimento das características dessa massa de ar (temperatura, umidade, velocidade
do vento) e a sua variação no tempo, sendo um fenômeno de grade escala (previsão
sinótica).

 Irradiação

Como a geada de irradiação é um fenômeno local, sua previsão pode ser


realizada pelo acompanhamento das observações das temperaturas de bulbos seco (ts) e
molhado (tu), obtidas no conjunto psicrométrico. Com as medidas das temperaturas
utiliza-se o gráfico de Belfort de Matos para avaliação das condições de probabilidade
de ocorrências de geadas: livre de geada, geada provável e geada certa (Figura 8.14).

Esse método permite a previsão de geadas com até oito horas de antecedência.
Para o uso do gráfico de Belfort de Matos é necessário realizar as observações das
temperaturas entre as 19h e 20h. Se a intersecção das temperaturas se localizar na área
de geada provável é necessária realizar novamente as observações de temperatura uma
hora depois para confirmar a ocorrência ou não de geada.

Figura 8.14. Gráfico de Belfort de Matos para a previsão de geadas de irradiação em


função da temperatura do bulbo seco e do bulbo úmido.
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8.6.4.3. Mecanismos de Proteção contra Geada

 Planejamento da Época de Plantio

Definição do calendário de plantio baseado no conhecimento da fenologia da


cultura e na probabilidade de ocorrência de temperaturas mínimas do ar e de geadas
durante o ano. As probabilidades são determinadas com auxílio de modelos estatísticos
e séries climáticas da temperatura mínima do ar e de ocorrências de geadas (Pereira et
al., 2002).

Com essas informações, as datas de plantio são definidas de forma que as fases
fenológicas mais sensíveis ao frio (Tabela 8.1) apresentem menor risco de ocorrer em
épocas de menores temperaturas e maiores incidências de geadas. Dependendo do
comprimento do ciclo da cultura, pode-se também programar para que todo o ciclo
ocorra em épocas menos criticas de ocorrência de geadas.

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Tabela 8.1. Resistências das culturas a temperatura do ar mínima.

Resistência Temperatura Letal (C)


Germinação Florescimento Frutificação
Altamente resistentes
Trigo -9,0 -1,0 -2,0
Aveia -8,0 -1,0 -2,0
Cevada -7,0 -1,0 -2,0
Ervilha -7,0 -2,0 -3,0
Lentilha -7,0 -2,0 -2,0
Coentro -8,0 -2,0 -3,0
Resistentes
Tremoço -6,0 -3,0 -3,0
Feijão -5,0 -2,0 -3,0
Girassol -5,0 -2,0 -3,0
Linho -5,0 -2,0 -2,0
Beterraba -6,0 -2,0 -
Cenoura -6,0 - -
Resistência mediana
Couve -5,0 -2,0 -6,0
Soja -3,0 -2,0 -2,0
Pouco resistentes
Milho -1,0 -2,0 -2,0
Capim Sudão -2,0 -1,0 -2,0
Sorgo -2,0 -1,0 -2,0
Batata -2,0 -1,0 -1,0
Não resistentes
Melão -0,5 -0,5 -1,0
Arroz 0,0 -0,5 -0,5
Amendoim -0,5 - -
Pepino -0,5 - -
Tomate 0,0 0,0 0,0
Fumo 0,0 0,0 0,0
Fonte: Da Silva & Oliveira (2008).

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 Escolha de Espécies e Variedades Resistentes

Na escolha das espécies e variedades devem-se conhecer as temperaturas letais


para diferentes variedades ou espécies cultivadas (Tabela 8.1) e a climatologia local das
temperaturas mínimas do ar e de ocorrência de geadas (Pereira et al., 2002). Assim,
baseado na probabilidade de ocorrência de um valor mínimo de temperatura do ar,
define-se a variedade ou espécie baseado na sua resistência aos extremos de temperatura
do ar. Variedades resistentes podem ser obtidas através de melhoramento genético.

 Barreiras com Vegetação

Deve-se evitar o plantio em áreas de baixada, devido ao escoamento e posterior


acumulo do ar frio (mais denso) para essas regiões. No caso de plantio a meia encosta,
deve-se evitar regiões com matas ou culturas de porte alto abaixo do cultivo agrícola, de
forma a não permitir o acumulo do ar frio nessas regiões. No caso de mata, deve-se
realizar o controle da vegetação do sub-bosque para facilitar o escoamento do ar. O
ideal é que a vegetação de baixo porte fique à montante do vale e à medida que se
aproxime da jusante, aumente o porte da vegetação (Figura 8.15).

Figura 8.15. Distribuição da vegetação em função do seu porte e da localização em


relação ao vale/planalto.

Cultivos em sistemas agroflorestais, de forma, que as árvores sombreiem em


torno de 20% a 30% da área cultivada. Normalmente, são empregados esses sistemas
em cultivos perenes de espécies sub-bosque, como por exemplo, cafeeiro. Esse sistema
ameniza a incidência direta dos ventos frios e também diminuem as perdas de radiação
de ondas longas pelas culturas (Pereira et al., 2002).

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 Plantio próximo a Superfícies de Água Livre

Grandes corpos de água livre (lagos, rios, açudes, entre outros) contribuem com
o aporte de umidade para a atmosfera, o que faz com que ocorra aumento de vapor
d´água do ar. O vapor d´água, devido o seu elevado calor específico, funciona como
termorregulador, o que ameniza os extremos de temperatura do ar nas proximidades
desses corpos de água. Além desse efeito, o vapor d´água é um dos principais gases de
efeito estufa, e assim, diminui as perdas de radiação de ondas longas à noite; como
resultado tem-se uma menor taxa de resfriamento do ar próximo à superfície.

 Uso de Coberturas de Plástico ou Estufa de Vidro

Atualmente, a plasticultura e o cultivo em ambientes protegidos (casa-de-


vegetação, estufas de vidro, túnel baixo, túnel alto, entre outros) são aplicados em
diversas culturas, práticas de manejo e condições ambientais (Figura 8.16). Devido ao
alto custo dessas práticas, sua utilização é priorizada para culturas com elevado retorno
econômico.

A cobertura plástica ou vidro altera todo o balanço de radiação e energia.


Durante o dia, a cobertura permite a transmissão de radiação de ondas curtas para o
interior do ambiente protegido, onde parte dessa radiação é absorvida pela superfície e
usada, entre outros processos, para o aquecimento do ar (calor sensível) no interior do
ambiente.

À noite, esse calor fica retido no interior do ambiente protegido, e a superfície


aquecida emite radiação de ondas longas. Diversas coberturas plásticas (Polietileno de
Baixa Densidade – PBDE, Acetato de Vinil Etileno – EVA, entre outros) ou de vidro
absorvem de forma eficiente a radiação de ondas longas emitidas pela superfície e
reemitem essa radiação de volta, o que resulta em contribuição positiva para o balanço
de radiação, e dessa forma, aumento das temperaturas internas. Dessa forma, na maior
parte do dia as temperaturas do ar no interior do ambiente protegido são superiores ao
do ambiente externo, o que dificulta a ocorrência de condições favoráveis a incidências
de geadas.

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Apostila de Meteorologia Básica - IF 111 – 2013 – DCA/IF/UFRRJ

Figura 8.16. Tipos de cobertura usados na agricultura, túnel baixo e estufa de vidro.

 Nebulização Artificial

O processo de geração de neblina artificial tem como objetivo diminuir as perdas


de radiação de ondas longas, alternado também o perfil vertical de temperatura do ar
próximo à superfície. A neblina forma uma camada acima da cultura (Figura 8.17), que
aumenta o reenvio da radiação de ondas longas para a superfície, e dessa forma,
ameniza o processo de resfriamento do ar próximo da mesma.

Segundo PEREIRA et al. (2002), dois tipos de neblina artificiais são usadas: 1)
Consiste da emissão de núcleos de condensação (partículas higroscópicas) para a
atmosfera, e 2). Produzida em termo-nebulisadores, comumente com mistura de óleo
diesel com serragem salitrada. A nebulização deve ser aplicada na parte alta do terreno.
Para definição da aplicação ou não da nebulização, utiliza-se o gráfico de Belfort de
Matos.

Figura 8.17. Termo-nebulizador portátil e fixo.

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 Irrigação

Em noites com probabilidade de ocorrência de geada, utilizasse da irrigação por


aspersão acima da cultura (Figura 8.18), de modo, que a água aplicada, ao congelar
sobre a mesma, libera o calor latente de congelamento para o ar adjacente à superfície
da planta. Assim, o processo de resfriamento é reduzido. Além de reduzir o processo de
resfriamento, o gelo formado sobre as plantas funciona como isolante térmico, o que
dificulta a diminuição das temperaturas abaixo de 0C. Nota-se na Figura 8.18, que os
sistemas de aspersão para controle da geada são específicos para essa prática.

Figura 8.18. Sistemas de irrigação por aspersão, usados para controle de geada.

 Aquecimento Artificial

O controle de geada por esse método se baseia na utilização de aquecedores ou


mesmo pequenas fogueiras, queimando óleo ou gás (Figura 8.19). Com a queima,
transfere-se calor para o ar próximo à cultura, fazendo com que aumente a sua
temperatura ou diminua as velocidades de resfriamento.

PEREIRA et al. (2002) comentam que o método é eficiente em condições de


inversão térmica, com baixas velocidades do vento associadas, em regiões de relevo
plano. A decisão de utilização do método, também pode ser tomada com base no gráfico
de Belfort de Matos.

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Um dos problemas deste método é a emissão de fumaça, que impede a


incidência de radiação solar (radiação de onda curta), nas primeiras horas da manhã. Em
função disso, deve-se continuar o processo de aquecimento mesmo após o nascer do Sol
(Pereira et al., 2002).

Figura 8.19. Aquecedores localizados em cultivos agrícolas.

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8.7. Nuvens

Nuvem é um conjunto visível de gotículas de água na fase líquida ou sólida


(cristais de gelo) suspensos no ar, ou de ambas ao mesmo tempo, que se encontram em
suspensão na atmosfera (OMM, 1972). As nuvens são originadas devido à condensação
da umidade do ar na atmosfera. As nuvens são constituídas por gotículas de água
condensada, oriunda da evaporação da água na superfície do planeta, ou cristais de gelo
que se formam em torno de núcleos microscópicos, geralmente de poeira ou sais
suspensos na atmosfera, denominados núcleos de condensação.
Ela é importante para a caracterização e avaliação das condições do tempo
meteorológico, juntamente com a temperatura do ar, pressão atmosférica, umidade,
vento e precipitação. As nuvens podem ser líquidas (constituídas por gotículas de água),
sólidas (constituídas por cristais de gelo) e mistas (constituídas por gotículas de água e
cristais de gelo).
As nuvens apresentam diversas formas, que depende essencialmente da natureza,
dimensões, número e distribuição no espaço das partículas que a constituem e das
correntes atmosféricas. Além disso, dependem também da intensidade e da
luminosidade que a nuvem recebe, assim como das posições relativas do observador e
da fonte de luz (Sol e a Lua) em relação à nuvem (INMET, 2013).

8.7.1. Classificação das Nuvens

Dada a impossibilidade de classificar as nuvens, considerando uma infinidade de


formas que elas assumem, procurou-se selecionar certas formas características isto é,
aquelas que são observadas com maior frequência. Tal procedimento evitou que fossem
consideradas todas as possíveis formas intermediárias que uma nuvem pode assumir no
discurso de sua evolução (Varejão-Silva, 2006).
O primeiro sistema de classificação das nuvens foi proposta na França por
Lamarck em 1802. No ano seguinte (1803) Luke Howard, pesquisador inglês, propôs
com êxito outra classificação para as nuvens. O sistema de Howard usa termos Latinos
para descrever as formas de nuvens. Contudo, o primeiro Atlas Internacional de Nuvens
somente foi publicado no ano de 1896 pela Organização Meteorológica Internacional
(OMI) atual OMM. O sistema usado atualmente é baseado no sistema original de
Howard.

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De forma geral, as nuvens podem ser classificadas de três maneiras distintas:


 Quanto ao Aspecto;
 Quanto à Constituição;
 Quanto ao Estágio.

Aspecto:

Quanto ao seu aspecto elas podem ser classificadas da seguinte forma:


 Estratiformes – Nuvens de desenvolvimento horizontal. Cobrem grandes áreas,
apresentam pouca espessura e dão origem à precipitação de baixa intensidade e
contínua (Figura 8.20).

Figura 8.20. Tipo de nuvem Estratiforme. Fonte:


http://turmadlasallepdp.pbworks.com/w/page/28984857/Como%20as%20nuvens%20se%20criam.

 Cumuliformes – Nuvens de desenvolvimento vertical. Alcançam grande


extensão, surgem de forma isolada, e originam precipitações de intensidade
moderada a forte, em forma de pancadas localizadas (Figura 8.21).

Figura 8.21. Tipo de nuvem Cumuliforme. Fonte: http://olhares.uol.com.br/nuvens-


cumuliformes--foto904701.html.
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 Cirriformes – Nuvens de desenvolvimento horizontal. São fibrosas, de aspecto


frágil e ocupam a alta atmosfera. Além disso, são formadas por cristais de gelo
microscópicos e não dão originam à precipitação, porém são fortes indicadoras
da mudança de tempo (Figura 8.22).

Figura 8.22. Tipo de Nuvem Cirriforme. Fonte:


http://turmadlasallepdp.pbworks.com/w/page/28984857/Como%20as%20nuvens%20se%20criam.

Constituição:

No tocante á constituição as nuvens são classificadas conforme abaixo:

Sólidas – Constituídas por cristais de gelo, e podem conter gelo até mesmo de
tamanho elevado, ocorrendo normalmente em nuvens chamadas de tremulas ou negras.
Líquidas – Constituídas basicamente por gotículas de água.
Mistas – Constituídas tanto por gotículas de água quanto por cristais de gelo.

Estágio ou Altura:

De acordo com o Atlas Internacional de Nuvens da Organização Meteorológica


Mundial (OMM) existem três estágios ou alturas de nuvens:
 Nuvens Altas: base acima de 6 km de altura – sendo constituídas por nuvens do
tipo sólidas.

 Nuvens Médias: base entre 2 a 4 km de altura nos Pólos, entre 2 a 7 km em


latitudes médias, e entre 2 a 8 km no Equador – contendo características de
nuvens líquidas e mistas.

 Nuvens Baixas: base até 2 km de altura – com características líquidas.

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8.7.2. Tipos de Nuvens

Nuvens Altas:

 Cirrus (Ci): aspecto delicado, sedoso ou fibroso, cor branca brilhante (Figura
8.23).

Figura 8.23. Nuvem Cirrus (Ci). Fonte: Atlas Internacional de Nuvens (OMM).

 Cirrocumulus (Cc): delgadas, compostas de elementos muito pequenos em


forma de grânulos e rugas. Indicam base do fenômeno Corrente de Jato e
turbulência (Figura 8.24).

Figura 8.24. Nuvem Cirrocumulus (Cc). Fonte:


http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Cirrocumulus_to_Altocumulus.JPG.

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 Cirrostratus (Cs): véu transparente, fino e esbranquiçado, sem ocultar o Sol ou a


Lua. Apresentam o fenômeno de Halo (Fotometeoro), discutido no Capítulo 1
(Figura 8.25).

Figura 8.25. Nuvem Cirrostratus (Cs). Fonte:


http://www.capetownskies.com/4370/23_sunrise_veila.jpg

Nuvens Médias:

 Altostratus (As): camadas cinzentas ou azuladas, muitas vezes associadas à


altocumulus; compostas de gotículas superesfriadas e cristais de gelo. Não formam
Halo, encobrem o Sol; precipitação de baixa intensidade e contínua (Figura 8.26).

Figura 8.26. Nuvem Altostratus (As). Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Altostratus.

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 Altocumulus (Ac): banco, lençol ou camada de nuvens brancas ou cinzentas, tendo


geralmente sombras próprias. Constituem o chamado "céu encarneirado" (Figura
8.27).

Figura 8.27. Nuvem Altocumulus (Ac). Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Altocumulus.

Nuvens Baixas:

 Stratus (St): muito baixas, em camadas uniformes e suaves, cor cinza; próxima à
superfície é denominada de nevoeiro; apresenta topo uniforme (condição de ar
estável) e produz chuvisco (garoa) (Figura 8.28). Quando se apresentam fracionadas
são chamadas fractostratus (Fs).

Figura 8.28. Nuvem Stratus (St). Fonte:


http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/8/87/Clouds_CL6.jpg.

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 Stratocumulus (Sc): lençol contínuo ou descontínuo, de cor cinza ou esbranquiçada,


tendo sempre partes escuras. Quando em voo, produz turbulência dentro da nuvem
(Figura 8.29).

Figura 8.29. Nuvem Stratocumulus (Sc). Fonte:


http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/8/89/Large_Stratocumulus.JPG.

 Nimbostratus (Ns): aspecto amorfo, base difusa e baixa, muito espessa, escura ou
cinzenta. Produz precipitação intermitente e de intensidade moderada e forte (Figura
8.30).

Figura 8.30. Nuvem Nimbostratus (Nb). Fonte:


http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/ff/Splendid_weather_on_other_side_of_heavy_snow_s
hower_and_Ns.JPG.

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 Cumulus (Cu): contornos bem definidos, assemelham-se a couve-flor; máxima


frequência sobre a terra durante o dia e sobre a água durante a noite (Figura 8.31).
Podem ser térmicas (convectivas) ou frontais (Varejão-Silva, 2006); apresentam
precipitação em forma de pancadas; correntes convectivas. Quando se apresentam
fracionadas são chamadas fractocumulus (Fc). As mais desenvolvidas são
denominadas de Cumulus Congestus (Ccs).

Figura 8.31. Nuvem Cumulus (Cu). Fonte: INMET.

Nuvens de Desenvolvimento Vertical:

 Cumulonimbus (Cb): nuvem de tempestade ou trovoada; base entre 700 e 1.500 m,


com topos chegando em média entre 9 e 12 km, sendo formadas por gotas d'água,
cristais de gelo, gotas superesfriadas, flocos de neve e granizo. Elas são
caracterizadas pelo formato de “bigorna”: o topo apresenta expansão horizontal
devido aos ventos superiores, lembrando a forma de uma bigorna de ferreiro, e é
formado por cristais de gelo (Figura 8.32).

Figura 8.32. Nuvem Cumulonimbus (Cb). Fonte: INMET.


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Na Figura 8.33 está mostrada a representação de um esquema visual contendo os


tipos de nuvens (altas, médias, baixas e desenvolvimento vertical), enquanto que a
Tabela 8.2 contém a descrição de cada um destes tipos de nuvens.

Figura 8.33. Esquematização de todos os tipos de nuvens. Fonte:


http://meioambiente.culturamix.com/natureza/tipos-de-nuvens-principais.

Tabela 8.2. Resumo da classificação das nuvens segundo sua designação (em latin),
simbologia e altura da base para a região tropical.
Altura da base
Classes Designação Símbolo
(km)

Cirrus (Cirro) Ci 6 - 18

Cirrocumulus
Cc 6 - 18
Nuvens Altas (Cirrocumulo)

Cirrostratus
Cs 6 - 18
(Cirrostrato)

Altostratus
As 2-8
(Altostrato)
Nuvens Médias
Altocumulus
Ac 2-8
(Altocumulo)

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Stratus (Estrato) St 0-2

Stratocumulus
Sc 0-2
Nuvens Baixas (Estratocumulo)

Nimbostratus
Ns 0-2
(Nimbostrato)

Nuvens de Cumulonimbus
Cb 0 - 20
desenvolvimento (Cumulonimbo)
Vertical
Cumulus (Cumulo) Cu 0 - 20

Fonte: Atlas Internacional de Nuvens – OMM (1972).

8.7.3. Nebulosidade

Nebulosidade é definida como a fração do céu que se apresenta encoberta de


nuvens no momento da observação. Esta observação é visual e é expressa de acordo
com escala que varia de 0 a 8 ou na escala de 0 a 10. Em que, 0 é atribuído a céu sem
nenhuma nuvem e de 8 ou 10 seria o céu totalmente encoberto (Figura 8.34).

Figura 8.34. Condições de céu com nebulosidade 0, ou seja, ausência de nuvens (a) céu
totalmente encoberto 8 ou 10 de nebulosidade (b).

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Referências do Capítulo

INMET - Instituto Nacional de Meteorologia. Meteorologia Básica - Nuvens. Acesso:


http://www.inmet.gov.br/portal/index.php?r=home/page&page=meteorologia_basi
ca, Ago., 2013.

OMM, 1972. Atlas Internacional de Nuvens. Organização Meteorológica Mundial. 2ª


ed. Tradução por Feirão, R.C.P., Rio de Janeiro: DNMET.

PEREIRA, A.P; ANGELOCCI, L.R.; SENTELHAS, P.C., 2002. Agrometeorologia:


Fundamentos e Aplicações Práticas. Lavras: Agropecuária, 478p.

PEREIRA, A.R.; ANGELOCCI, L.R.; SENTELHAS, P.C., 2007. Capítulo 8. Chuva.


LCE 306 – Meteorologia Agrícola, ESALQ/USP.

VAREJÃO-SILVA, M.A., 2006. Meteorologia e Climatologia. Versão Digital. Acesso:


www.asasdaamazonia.com.br/.../Meteorologia_Climatologia.pdf. 552p.

VIANELLO, R L.; ALVES, A. R., 1992. Meteorologia Básica e Aplicações. Viçosa:


UFV – Imprensa Universitária, 449p.

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Exercícios Resolvidos

Teóricos

1. O que é Nuvem?

Resposta: Nuvem é um conjunto visível de partículas minúsculas de água na forma


líquida ou de gelo, ou de ambas ao mesmo tempo, em suspensão na atmosfera.

2. De acordo com o Atlas Internacional de Nuvens quais são os seus


estágios?

Resposta: Nuvens Altas, Médias e Baixas.

3. As geadas têm origem devido a dois fenômenos meteorológicos. Quais


são eles?

Resposta: Advecção de ar frio e Perda de radiação de ondas longas (radiação terrestre).

4. Quantos e quais são os mecanismos de proteção contra Geada?


Resposta: São 8 mecanismos: Planejamento da Época de Plantio, Escolha de Espécies e
Variedades Resistentes, Barreiras com Vegetação, Plantio próximo a Superfícies de
Água Livre, Uso de Coberturas de Plástico ou Estufa de Vidro, Nebulização Artificial,
Irrigação e Aquecimento Artificial.

5. Cite exemplos de nuvens baixas:

Resposta: Stratus, Stratocumulus, Nimbostratus e Cumulus.

6. Cite exemplos de nuvens altas:

Resposta: Cirrus, Cirrocumulus e Cirrostratus.

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Exercícios Propostos

1. Quais as diferenças entre geada branca e geada negra?

2. Sabendo que a temperatura do bulbo seco foi de 10º C e a do bulbo


úmido foi de 7º C, use o gráfico de Belfort de Mattos mostrado na Figura 8.14.
(pág. 321) para verificar qual da seguinte situação ocorreu: i) livre de geada, ou
ii) geada provável, ou iii) geada certa?

3. Cite os fatores que influenciam nas características das nuvens.

4. Defina o que é Nebulosidade.

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