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Twelve Merciless Men (1957), filme dirigido por Sidney Lumet, foi considerado pela crítica
como o melhor filme jurídico da história. Os doze membros de um júri devem decidir sobre a
culpa ou inocência em um caso em que um menino é acusado de ter esfaqueado o próprio pai
até a morte. Concluída a fase oral do julgamento, o juiz, de posse da lei, indica que há duas
alternativas: absolvição ou pena de morte; se houver a menor dúvida razoável, ele os avisa, eles
devem dar o veredicto de inocentes. Pelas provas apresentadas ao tribunal, todos têm como
certa a culpa do acusado, para a qual é necessária a unanimidade dos doze jurados. Mas quando
os membros do júri deliberaram, após voto secreto, um dos doze homens, júri número oito
(Henry Fonda), votou inocente e, com atitude crítica, fez uma análise da inconsistência das
provas, e de o pouco peso que a prova tem, começa a levantar dúvidas razoáveis que, faz com
que os demais membros do júri mudem de posição, que decidiram seu voto. O tema central em
que se baseia esta obra-prima é o conceito jurídico de "dúvida razoável" e a necessidade de
distinguir entre fatos provados e opiniões subjetivas através da elaboração de razões que sirvam
para convencer os outros da justeza de uma decisão, como os temas tratados de certeza e incer-
teza durante a disciplina bem como, sem sombra de dúvidas, da caracterização prova testemu-
nhal como um artefato jurídico de menor valor em face da prova material. É nesta fase que se
confrontam os pontos de vista de cada um dos membros do júri e os argumentos convincentes
começam a mudar o filme. O raciocínio jurídico gira em torno dos fatos do caso, não das normas
jurídicas que devem ser aplicadas. Destacou-se que a regra aplicável ao caso era clara e que,
comprovada a culpa do réu, a pena seria de morte por homicídio.
ANÁLISE CRÍTICA EM DIREITO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Quando um filme, além de cumprir sua função principal de entreter, trata com maestria
algum problema real de cunho social —, a competição de crítica a posteriori ultrapassa o me-
ramente cinéfilo e se soma a uma série de análises. e reflexões sobre dilemas que estão na base
das ciências sociais e da filosofia. Afinal, um filme representa um documento que para a pes-
quisa social pode ser um objeto de estudo muito interessante.
Um documento que se assume como um acontecimento com materialidade informativa
e de importância social única e singular. Assim, filmes que refletem aspectos 'transcendentais'
da realidade social ainda são práticas autênticas, que, expressas na metodologia foucaultiana,
têm: uma estratégia (o solo: tem suas raízes em uma sociedade específica, composta de outros
documentos, podendo transportar a análise ao infinito), uma intenção (o que o documento tenta
fazer na sociedade) e algumas consequências (o que o documento faz para a sociedade).
Sidney Lumet (1957) é um dos filmes mais bem avaliados da história do cinema; por
exemplo, a Fimaffinity está entre as cinco melhores por votação. Mas, além disso, é um daque-
les filmes cujo tema e a forma como foi tratado têm o interesse que foi descrito acima. Com
grande talento, seu diretor Sidney Lumet consegue representar através de uma situação de mi-
crogrupo um grande problema macrossocial que, aliás, está na própria origem da condição hu-
mana, da moral e da ética social. É sobre como os preconceitos, interesses e influências do
pensamento vigente na sociedade exercem grande pressão sobre o indivíduo na hora de julgar
e decidir sobre o outro, e que pelas evidências, apenas aparentes, ele acredita que age com
certeza justiça até que uma dúvida razoável apareça. Dúvida que nem sempre tem a sorte de ser
suficientemente respondida, mas quando leva os indivíduos a refletir, tal reflexão não só os
levará a repensar o próprio problema, mas também a uma verdadeira análise retrospectiva e a
questionar seus próprios valores morais.
No filme surgem várias atitudes de reflexão: no início, apenas um opta por realizá-la e
arrasta outras. Nas outras se encontram: ou uma primeira passividade, que eles superam de outra
forma, ou uma hostilidade aberta: em alguma cena se vê como um deles recusa a evidência
racional de aceitar uma certa interpretação dos fatos como possível.
Após uma primeira tentativa, aquele que promove a reflexão propõe um segundo voto,
antes do resultado do qual se renderá. Essa sequência não é trivial: o diálogo só pode ser esta-
belecido quando duas partes estão dispostas a fazê-lo. Fonda percebe que seu monólogo não
levará a lugar nenhum; a atitude do velho representa aquela aceitação do desafio do diálogo.
Diante da cegueira ou preguiça alheia, desperta-se uma consciência crítica, que dá origem ao
desenvolvimento do filme.
Embora o filme pareça realista, na realidade o resultado é mais um apelo ético sobre o
que deveria e, em última análise, poderia ser se a razão humana, o instrumento fundamental da
ética, guiasse a conduta do julgado em sociedade.
A justiça não pode ser esperada do futuro da vida; é um ideal humano, mas um ideal ao
alcance não de cada indivíduo, mas da humanidade como um todo. As consequências éticas de
nossa conduta, deixadas ao devaneio da "justiça cósmica", dependerão inteiramente do acaso.
Como a vida do menino do filme depende do “acaso” que compôs os membros do seu júri, e
que neste caso permitiu a participação da razão e da consciência, necessariamente introduzida
por um ser humano.
No presente caso, o personagem representado por Henry Fonda assume esse papel.
Vence todo tipo de ataque: é acusado de ambição de destaque, de dar-se importância, de pro-
vocação ... críticas que ignora com uma integridade beirando o heroico (esta mesma postura
impassível também é mantida pelo corretor). No mundo real, é mais comum a atitude de outros
membros do júri, indignados com a malícia dos comentários daqueles que insistem em boicotar
os argumentos. É importante enfatizar que esse debate não ocorre porque se pensa que é ino-
cente; sua afirmação é que ele não sabe.
O primeiro passo é a dúvida. O filme apresenta constantemente uma dialética que gira
em torno dos conceitos de óbvio, possível e provável. O que a princípio parece não deixar dú-
vidas, é questionado quando alguém começa a se perguntar até que ponto os fatos são, de fato,
evidentes. Aqui se caracteriza, amplamente, o standard probatório, fundamento base para o de-
senvolvimento do filme. O que se tira é que os fundamentos da decisão penal vão além das
observações e dos regramentos jurídicos, devendo ser passando, inclusivo, dentro da crimina-
lística crítica e da avaliação da prova, da sua certeza e não da necessidade de achar um culpado
para todos os crimes da sociedade.