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PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATOLICA DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS - DEPARTAMENTO DE DIREITO


JUR 1542 | 2HB - Turma 2HA – G1 Direito Processual Penal II 2021.2
Prof. Victoria Sulocki
Aluna: Ana Clara Benevenuto Mattos de Andrade
Matrícula nº 1621055

RESUMO E FICHA TÉCNICA

Estado e Ano: EUA, 1957


Diretor: Sydney Lumet
Elenco: Henry Fonda, Lee J. Cobb, E.G. Marshal, Jack Warden, Ed Begley, Martin Balsam,
John Fiedler Robert Webber, George Voskovek, Jack Klugman, Ed Binns, Joseph Sweeney
Título original: Twelve Angry Men.

Twelve Merciless Men (1957), filme dirigido por Sidney Lumet, foi considerado pela crítica
como o melhor filme jurídico da história. Os doze membros de um júri devem decidir sobre a
culpa ou inocência em um caso em que um menino é acusado de ter esfaqueado o próprio pai
até a morte. Concluída a fase oral do julgamento, o juiz, de posse da lei, indica que há duas
alternativas: absolvição ou pena de morte; se houver a menor dúvida razoável, ele os avisa, eles
devem dar o veredicto de inocentes. Pelas provas apresentadas ao tribunal, todos têm como
certa a culpa do acusado, para a qual é necessária a unanimidade dos doze jurados. Mas quando
os membros do júri deliberaram, após voto secreto, um dos doze homens, júri número oito
(Henry Fonda), votou inocente e, com atitude crítica, fez uma análise da inconsistência das
provas, e de o pouco peso que a prova tem, começa a levantar dúvidas razoáveis que, faz com
que os demais membros do júri mudem de posição, que decidiram seu voto. O tema central em
que se baseia esta obra-prima é o conceito jurídico de "dúvida razoável" e a necessidade de
distinguir entre fatos provados e opiniões subjetivas através da elaboração de razões que sirvam
para convencer os outros da justeza de uma decisão, como os temas tratados de certeza e incer-
teza durante a disciplina bem como, sem sombra de dúvidas, da caracterização prova testemu-
nhal como um artefato jurídico de menor valor em face da prova material. É nesta fase que se
confrontam os pontos de vista de cada um dos membros do júri e os argumentos convincentes
começam a mudar o filme. O raciocínio jurídico gira em torno dos fatos do caso, não das normas
jurídicas que devem ser aplicadas. Destacou-se que a regra aplicável ao caso era clara e que,
comprovada a culpa do réu, a pena seria de morte por homicídio.
ANÁLISE CRÍTICA EM DIREITO

Doze homens presos em um tribunal, devem dar o veredicto de inocência ou culpa de


um jovem acusado de ter matado seu pai com uma faca (homicídio em primeiro grau, que acar-
reta pena de morte). Este é o fundamento do filme que já apresenta características em relação
ao in dubio pro reo, ou seja, presunção constitucional de inocência que não é afirmada na de-
cisão dos 11 de 12 juízes que tomaram decisão no caso.
O enquadramento do filme se passa inteiramente no tribunal dos Estados Unidos, com
um júri composto inteiramente por homens, previamente informado pelo juiz sobre o curso que
deve conduzi-los à sua decisão, ressaltando a importância de um exame minucioso dos fatos
que foram expostos no julgamento, devendo ser analíticos com eles e enfatizando a necessidade
de um veredicto de inocência no caso de acreditarem haver dúvida razoável sobre os fatos ou
sobre a autoridade destes por parte do jovem, que isto é, princípio já consagrado no Direito
Romano, in dubio pro reo, de forma que, em caso de dúvida, deve ser interpretado a favor do
arguido, especialmente quando se fala em provas tácitas e que preencham, concretamente, o
standard probatório (clear and convincing evidence; more probable than not; preponderance of
the evidence ebeyond a reasonable doubt), o que, devidamente, não ocorre.
Numa primeira apreciação dos fatos, e submetendo-os a um primeiro voto, todos decla-
ram o arguido culpado (standard probatório), com excepção do júri n.º 8, que o declara inocente,
não em razão da sua convicção a este respeito, mas justificando que a decisão de mesmo calibre,
que decide sobre a vida de uma pessoa, merece trazer os fatos a um mínimo de discussão e
raciocínio por parte de todos os membros (reconstrução dos fatos delituosos e certeza dentro da
decisão), e não simplesmente o voto de todos eles daquilo que, à primeira vista (prova testeste-
munhal não efetiva), parece evidente a partir do fatos extraídos no desenvolvimento do julga-
mento.
Muitos dos argumentos dos membros do júri que, num primeiro momento, declaram o
arguido culpado, baseiam-se simplesmente em preconceitos de origem e raros (e aqui pode se
falar em criminal crítico), evidenciando o âmbito pessoal a que o caso é conduzido pelo júri n.º
3, que mantém o seu voto de culpa até o fim como consequência de levar o caso ao relaciona-
mento com o próprio filho (o juiz não atende, principalmente, ao beyond a reasonable doubt e
nem mesmo objetiva e clareza na tomada de decisão em face de provas factíveis e, especial-
mente, materiais).
Quando ocorre a formação de um juízo, muitos são os fatores que intervêm, como já
apontados antes, são aspectos como preconceitos, atitudes ou aparências. O fio condutor em
que se desenvolve o filme não se refere a um dos membros do júri estabelecendo que o jovem
é inocente, mas que ele não o sabe, ou seja, a dúvida (in dubio pro reo), em decorrência do
personagem passar a considerar a verossimilhança de fatos que, à primeira vista, parecem ób-
vios, mas necessitam de meios materiais a fim de não comprometer a qualidade processual e o
direito do indivíduo na tomada de decisão.
A primeira coisa que o júri número 8 consegue é que haja um diálogo, que os outros
membros do júri concordem em apresentar um raciocínio e uma exposição sobre as razões pelas
quais eles são tão claros sobre o veredicto de culpado. Como um resultado desse diálogo come-
çam a ser geradas dúvidas que fazem os demais participantes mudarem de posição, levantando
a noção de decisões, isto é, decisões interlocutórias – que podem ter um standard mínimo –
como as observações durante a discussão – e a final, que deve se comprometer em face da
decisão certa a fim de não prejudicar o réu. Como afirmou Voltaire: “″Mais vale um culpado à
solta do que um inocente na cadeia″.
É por conta destas dúvidas que o mérito do júri número 8, não que gradualmente con-
vença os outros de que o jovem acusado de matar seu pai é inocente, mas os exorta e os con-
vence a manter um diálogo, cujo resultado ninguém pode dizer que o arguido é sim inocente,
mas também podem declarar com firmeza o fato de ser culpado, visto que se levantaram uma
série de dúvidas que fazem, algo que parece óbvio, poder ser questionado e, portanto, não seria
justo decretar a sentença de morte de uma pessoa com base em evidências ou declarações que
não são totalmente convincentes. Aqui se faz a caracterização clara e coesa do que é chamado
de standard probatório, pois não há cumprimento dos quatro princípios fundamentais na decisão
dos juízes.
Desse modo, passam a examinar e discutir cada uma das provas, a peculiar faca que
constitui a arma do crime, que parece especial, mas o tribunal número 8 obteve uma exatamente
igual (reduzindo o poder da prova material). Também o depoimento do velho lá embaixo que,
pelo que afirma, é difícil por causa da idade dele ir até o olho mágico e ver o rapaz sair e, por
último, o do vizinho do outro lado da rua, de onde eles deduzem por algumas marcas nos olhos
que ele usa óculos, que quando ele se levantou e viu o crime não selam logicamente que ele os
estava usando e, portanto, ele pode ter visto o crime, mas não com clareza suficiente para ga-
rantir que o autor do crime era o filho do homem assassinado (reduzindo a certeza da prova
testemunhal – que já não apresenta valor em qualidade dentro do direito penal tão quanto a
prova material). Nunca será possível saber se o jovem realmente matou o pai ou não, mas o que
se observa no filme é como a força dos preconceitos que reinaram no primeiro momento de
troca de impressões em prol da honestidade e da racionalidade, exame razoável da evidência e
da prevalência de um processo justo e garantias. Há uma grande conscientização em face, por-
tanto, a incerteza dentro do direito penal.

Análises dos Juízos em Face das Decisões e Vida Pessoal


» Júri número I: presidente do júri., em nenhum momento se opõe ao diálogo, enquanto
tenta impor uma ordem, até que, num momento de tensão, declara que cada um age como bem
entender.
» Júri número 2: bancário, praticamente não participa da discussão, portanto não tem
influência sobre os outros. Em sua primeira argumentação, ele apenas afirma que é culpado,
pelo simples fato de que uma testemunha o testemunhou.
» Júri número 3: vê-se nele um ódio pelo arguido, provavelmente produzido pela sua
transferência para uma situação pessoal, o que afinal o torna o único que insiste em não declarar
o arguido inocente, uma vez que existe uma ligação clara entre os seus critérios aos seus senti-
mentos. Sua falta de opiniões e pontos de vista razoáveis significa que durante o filme ele entra
em várias discussões com outros membros do júri.
» Júri número 4: escriturário da bolsa, mantém-se sério durante toda a discussão, defen-
dendo uma posição de culpa, mas, ao mesmo tempo, sendo o único que a comprova de forma
inteligível através do apuramento dos factos, ao final mudando o seu voto quando questionado
e cria dúvidas razoáveis como resultado do debate realizado.
» Júri número 5: é o único que pode ser colocado nas circunstâncias do arguido, visto
que cresceu numa vizinhança marginal. Um de seus argumentos é a chave para convencer parte
do júri, embora ele não use sua primeira argumentação.
» Júri número 6: não interfere muito, mas quando o faz é com reflexões importantes.
» Júri número 7: convencido desde o início da culpa do arguido, o que quer que diga em
consequência do preconceito devido ao registo criminal do jovem, este só quer ficar o menor
tempo possível, embora acabe por se convencer e mudar de voto. Seu excessivo senso de humor
muitas vezes causa certa tensão.
» Júri número 8: arquiteto, único que na primeira votação declara o arguido inocente,
por considerar que merece discussão uma decisão deste calibre sobre a vida de uma pessoa.
» Júri número 9: está convencido das razões do júri 8 e é criticado por alguns membros,
sendo o mais velho e identificando-se com a testemunha que disse ter ouvido o corpo cair,
dando-se conta de pormenores em que nenhum deles caiu. Jurados, como marcas nos olhos de
uma das testemunhas devido ao uso de óculos.
» Júri número 10: tem muita vontade de terminar porque considera uma perda de tempo,
movido a todo o momento pelos preconceitos que tem sobre as pessoas das periferias que não
o deixam ver mais longe.
» Júri número I I: valoriza em mais de uma ocasião a grande responsabilidade que têm
como membros de um júri e as consequências da sua decisão.
Júri número 12: muda de voto várias vezes, dependendo dos argumentos que forem co-
locados na mesa. Mostra-se coeso com a flexibilidade jurídica, mas não se apoia, devidamente,
na certeza das provadas para tomada de decisão.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Quando um filme, além de cumprir sua função principal de entreter, trata com maestria
algum problema real de cunho social —, a competição de crítica a posteriori ultrapassa o me-
ramente cinéfilo e se soma a uma série de análises. e reflexões sobre dilemas que estão na base
das ciências sociais e da filosofia. Afinal, um filme representa um documento que para a pes-
quisa social pode ser um objeto de estudo muito interessante.
Um documento que se assume como um acontecimento com materialidade informativa
e de importância social única e singular. Assim, filmes que refletem aspectos 'transcendentais'
da realidade social ainda são práticas autênticas, que, expressas na metodologia foucaultiana,
têm: uma estratégia (o solo: tem suas raízes em uma sociedade específica, composta de outros
documentos, podendo transportar a análise ao infinito), uma intenção (o que o documento tenta
fazer na sociedade) e algumas consequências (o que o documento faz para a sociedade).
Sidney Lumet (1957) é um dos filmes mais bem avaliados da história do cinema; por
exemplo, a Fimaffinity está entre as cinco melhores por votação. Mas, além disso, é um daque-
les filmes cujo tema e a forma como foi tratado têm o interesse que foi descrito acima. Com
grande talento, seu diretor Sidney Lumet consegue representar através de uma situação de mi-
crogrupo um grande problema macrossocial que, aliás, está na própria origem da condição hu-
mana, da moral e da ética social. É sobre como os preconceitos, interesses e influências do
pensamento vigente na sociedade exercem grande pressão sobre o indivíduo na hora de julgar
e decidir sobre o outro, e que pelas evidências, apenas aparentes, ele acredita que age com
certeza justiça até que uma dúvida razoável apareça. Dúvida que nem sempre tem a sorte de ser
suficientemente respondida, mas quando leva os indivíduos a refletir, tal reflexão não só os
levará a repensar o próprio problema, mas também a uma verdadeira análise retrospectiva e a
questionar seus próprios valores morais.
No filme surgem várias atitudes de reflexão: no início, apenas um opta por realizá-la e
arrasta outras. Nas outras se encontram: ou uma primeira passividade, que eles superam de outra
forma, ou uma hostilidade aberta: em alguma cena se vê como um deles recusa a evidência
racional de aceitar uma certa interpretação dos fatos como possível.
Após uma primeira tentativa, aquele que promove a reflexão propõe um segundo voto,
antes do resultado do qual se renderá. Essa sequência não é trivial: o diálogo só pode ser esta-
belecido quando duas partes estão dispostas a fazê-lo. Fonda percebe que seu monólogo não
levará a lugar nenhum; a atitude do velho representa aquela aceitação do desafio do diálogo.
Diante da cegueira ou preguiça alheia, desperta-se uma consciência crítica, que dá origem ao
desenvolvimento do filme.
Embora o filme pareça realista, na realidade o resultado é mais um apelo ético sobre o
que deveria e, em última análise, poderia ser se a razão humana, o instrumento fundamental da
ética, guiasse a conduta do julgado em sociedade.
A justiça não pode ser esperada do futuro da vida; é um ideal humano, mas um ideal ao
alcance não de cada indivíduo, mas da humanidade como um todo. As consequências éticas de
nossa conduta, deixadas ao devaneio da "justiça cósmica", dependerão inteiramente do acaso.
Como a vida do menino do filme depende do “acaso” que compôs os membros do seu júri, e
que neste caso permitiu a participação da razão e da consciência, necessariamente introduzida
por um ser humano.
No presente caso, o personagem representado por Henry Fonda assume esse papel.
Vence todo tipo de ataque: é acusado de ambição de destaque, de dar-se importância, de pro-
vocação ... críticas que ignora com uma integridade beirando o heroico (esta mesma postura
impassível também é mantida pelo corretor). No mundo real, é mais comum a atitude de outros
membros do júri, indignados com a malícia dos comentários daqueles que insistem em boicotar
os argumentos. É importante enfatizar que esse debate não ocorre porque se pensa que é ino-
cente; sua afirmação é que ele não sabe.
O primeiro passo é a dúvida. O filme apresenta constantemente uma dialética que gira
em torno dos conceitos de óbvio, possível e provável. O que a princípio parece não deixar dú-
vidas, é questionado quando alguém começa a se perguntar até que ponto os fatos são, de fato,
evidentes. Aqui se caracteriza, amplamente, o standard probatório, fundamento base para o de-
senvolvimento do filme. O que se tira é que os fundamentos da decisão penal vão além das
observações e dos regramentos jurídicos, devendo ser passando, inclusivo, dentro da crimina-
lística crítica e da avaliação da prova, da sua certeza e não da necessidade de achar um culpado
para todos os crimes da sociedade.

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