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Questão de método:
a homogeneização
do território rural paulista
Jaboticabal
Fevereiro de 2008
i
José Gilberto de Souza
Questão de método:
uma análise sobre o padrão de homogeneização
do território rural paulista
ii
Caminho que a gente é
D. Pedro Casaldáliga
Retirante
só caminho
É que há.
Terra de roça e morada
não tem mais.
Retirante,
caminheiro,
só caminho
é que há.
Para viver,
Para andar;
para outros caminheiros se ajuntar.
Caminho para os parados se animar.
Para os perdidos, de novo achar.
Para os mortos não faltar!
iii
SUMÁRIO
Apresentação........................................................................................... 03
1. A questão do método.......................................................................... 12
1.1. Categorias, conceitos e variáveis de análise................................................. 21
1.2. As ideologias extrínseca e intrínseca............................................................. 30
1.3. Objetivos e procedimentos de pesquisa......................................................... 37
2. Uso e ocupação do solo: apropriação capitalista da terra.............. 41
3. Os desdobramentos do padrão de homogeneização: um olhar 67
sobre o essencial................................................................................
3.1. Valor da Terra Nua....................................................................................... 67
3.1.1. A estrutura do mercado de terras: algumas características....................... 69
3.1.2. O valor da terra nua no estado de São Paulo............................................. 73
3.2. Valor da produção.……………………………………………………...…. 86
3.3. A concentração fundiária no estado de São Paulo...................................... 98
4. O imposto territorial rural no estado de São Paulo........................ 109
4.1. ITR no Brasil: breve histórico....................................................................... 110
4.2. ITR – Legislações recentes……………………………………….………………. 115
4.3. Arrecadação e elisão do ITR no estado de São Paulo................................... 121
5. Considerações finais........................................................................... 145
Bibliografia............................................................................................. 150
Apêndice
iv
Para Mara Akiko dos Santos
Souza e Maura Bernardes
Teles, minha esposa e minha
mãe. Mulheres que de formas
distintas têm força, luta e brilhos
no olhar.
v
Agradecimentos
A Ian Taibo Timponi (Casé), Ana Terra Reis e Sany Spinola Aleixo pelo apoio e ajuda
constantes, vocês são imprescindíveis.
Aos amigos de caminhada Ana Paula, Ana Claudia Giannini, Ana Claudia Terence e
Marcel Brito, pelo incentivo e alegria de compartilhar cada gráfico, tabela e mapa.
Ao fraterno amigo José Jorge Gebara pelo apoio e insistência na realização desta pesquisa
e concurso, desde os tempos de doutorado, não há boa caminhada quando se está sozinho.
Aos Amigos do Departamento de Ciências Exatas Antonio Sérgio Ferraudo, Gener Tadeu
Pereira e Newton La Scala Júnior, pelo apoio e paciência nas discussões e demonstrações
estatísticas. Descobrindo que Físicos e Geógrafos preferem a tendência ao grau de
significância.
À Fapesp e ao CNPq que desde 2004, apóiam os projetos que se cristalizaram nesta
pesquisa.
Aos meus orientandos e todos que desejaram o melhor e colaboraram para sua plenitude.
À minha família (Mara Akiko, Giulia Akemi, Raquel Tiemi e Vitória Mayumi) que
conhecem minha amargura e intolerância à injustiça, com quem caminho e compartilho
também a alegria de cada passo.
Obrigado!
José Gilberto
vi
LISTA DE TABELAS
Tabela 5 – Valor da Terra Nua (terra de segunda) por EDR (SP) - 1996-2005 (preços
novembro - R$).
Tabela 6 – Variação dos preços de Terra EDR e estado de São Paulo 1996/99 – 2000/05.
Tabela 7 – Taxa média de crescimento anual (IEA) do valor de terra nua por grupo
predominante de uso do solo (2000- 2005).
Tabela 8 – Valor da Produção EDR e estado de São Paulo - 1998 – 2005 (R$)
Tabela 9 – Variação do Valor da Produção EDR e Média do Estado de São Paulo -1998/99
e 2000/05.
Tabela 10 – Valor da produção total e por hectare (ano 2005) e taxa média de crescimento
(2000-2005) por grupo predominante de uso do solo.
vii
Tabela 13 - Índice de Gini e Tamanho Médio das UPAs por grupo predominante de uso do
solo.
Tabela 14 – Valor das Arrecadações do ITR EDR e estado de São Paulo -1998 – 2005 (R$)
Tabela 15 – Valor da produção e valor do ITR arrecadado (ha) EDR e estado de São
Paulo (R$).
Tabela 17 – Base de dados para cálculo de projeção do ITR – Município Agudos (SP)
(LUPA 1996).
Tabela 19 - Índice de elisão fiscal do ITR EDR e estado de São Paulo - 1998-2005.
Tabela 20 - Tabela 20- Índice de Conc. Fundiária, valor de produção total e por ha, valor
arrecadado (ha), taxa anual de crescimento da arrecadação do ITR e Índice de
elisão fiscal por grupo predominante de uso do solo.
viii
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 2 – Partic. Ativid. Agric. Familiares (%) no total das Explorações. Agropec. EDR (SP).
Gráfico 6 - Evolução dos preços de terras e das principais commodities São Paulo (R$)
Gráfico 8 - Evolução dos preços de terras (R$) e das taxas de inflação (%)
Gráfico 15 – Variação do Valor da Terra (2000/05) / Índice de Conc. Fundiária EDR (SP).
Gráfico 16 – Variação do Valor da Produção (2000/05) / Índice de Conc. Fundiária EDR (SP).
Gráfico 21 – Índice de Conc. Fundiária / VariaçãoProj. Arrec. ITR EDR (SP) 2000/05
Gráfico 24 – Taxa de Elisão Fiscal (2000/05) / Valor da Produção EDR (SP) 2005
ix
Gráfico 25 – Taxa de Elisão Fiscal ITR EDR (SP) - 2005./ Índice de Concentração Fundiária
EDR (SP).
Gráfico 26 – Padrão de Homogeneização / Taxa de Elisão Fiscal ITR EDR (SP) – 2005
x
LISTA DE MAPAS
Mapa 4 - Valor da Terra Nua Médio (ha) - EDR (SP) 2005 (R$)
xi
LISTA DE SIGLAS
xii
Apresentação
da realidade. Não são meros instrumentos taxonômicos, mas constituem um sistema de análise
cada vez mais complexo, como modo de produção teórico que permite compreender o objeto, o
social da terra, nas diversas dimensões de um uso sustentável, o que suscita a elaboração de
Ambiental, Lei das Águas, o Estatuto da Cidade, a Lei de Reserva Legal, esta última que tem
sido alvo de críticas pelos setores ruralistas, mas todos estes instrumentos legais precisam
reduzir as distâncias entre o direito formal e sua real efetividade no campo e na cidade.
territorialidades, esta última pensada como uma estrutura de governança com concretudes,
simbolismos, etc.
3
regulação e intervenção sobre o território, segundo seus interesses e perspectivas de
desenvolvimento.
território, para agentes da territorial governance. Neste aspecto se produz esta aproximação
abordagens focadas na ação do governo que viam na atuação deste setor o motor do processo
perspectiva ampliou-se associando Estado, iniciativa privada e sociedade civil como atores de
vez que até mesmo do ponto de vista terminológico, o conceito de gestão territorial foi
construído por dentro dos processos de luta e resistência dos movimentos sociais à lógica
Esse modelo tem uma dinâmica territorial que se refere ao conjunto de ações
identificada histórica e espacialmente. O modelo tem uma relação direta com a dinâmica
territorial. Assim não são “os territórios que assumem opções de desenvolvimento que os
4
favorecem ou que os prejudicam, em diferentes intensidades”, como propõe Bandeira. (2000).
Mas se constituem em expressões materiais dos conflitos, dos projetos sociais, definindo
desenvolvimento.
concretos e lógicas conceituais que dão amparo prático e ideológico à sua determinação.
5
de determinadas atividades econômicas, neste caso, agropecuárias. Esse processo implica em
caso do rural brasileiro, há uma trajetória de avanço do setor sucroalcooleiro que figura como
resposta, imediatista, à “crise energética”, ou de uma demanda por geração de alternativas, que
externo. Numa dinâmica que realoca práticas produtivas em todo espaço brasileiro, redefinindo
“manada de agricultores”, ou melhor, proprietários rurais, uma vez que a lógica não é a
inserção produtiva desses sujeitos, mas de apropriação de terras, via arrendamento, pelos
produção.
regionalizada, estado de São Paulo e fragmentos no país. De caráter menos hegemônico passou
a ter uma proporção escalar considerável. Não obstante, do ponto de vista mais geral, ou seja,
de crescimento e desenvolvimento nacional, esse fato não é novo, uma vez que nada representa
Essa questão já havia sido pontuada por Batista (1982) em sua análise sobre o
6
brasileira, consolidando-a como exportadora de produtos primários, sobretudo a partir dos
feita pela revalorização da agricultura de exportação. [...] uma sugestão de volta ao passado, de
produtos primários para os quais possuíssem uma vocação natural e/ou em produtos
práticas protecionistas que constantemente se esboçam nos documentos e normas técnicas dos
aos países economicamente periféricos) uma retirada do poder do Estado nas relações
desenvolve de maneira desigual e contraditória e que ao livre sabor das concorrências, exclui
abertura comercial sobre as dimensões territoriais, sociais, políticas e econômicas são tratadas
sobejamente sob a terminologia de “globalização”, o que tem sido fortemente criticado por
alguns autores (BATISTA JUNIOR, 1998; CARNEIRO, 2002) tendo em vista o caráter
7
ideológico e pouco explicativo que o conceito enseja em decorrência da banalização e da
Um fenômeno ideológico nem sempre muito sofisticado, que serve a propósitos variados […].
Nos planos econômicos e políticos, contribui para apanhar países ingênuos e despreparados na
malha dos interesses internacionais dominantes. Não há dúvida de que, como toda ideologia de
produtivos.
(protecionismo) dos países centrais que se rompe na mesma proporção do avanço dos
arrendamento) 1.
1
Evidência empírica desse processo se estabelece com a desnacionalização do Grupo Açúcar Guarani pelo Grupo
Tereos. Cooperativa de produtores franceses de açúcar de beterraba. “Tereos regroupe, dans son organisation
8
Compreende-se a relação global/local que se espelha nos processos de
intensificação do uso e ocupação do solo concorrendo com a substituição por culturas de maior
tamanho das propriedades alteram, por hipótese, na mesma direção o valor dos impostos
arrecadados?
territoriais?
agroindustriais (MULLER, 1989) e o alto valor das terras de algumas regiões paulistas fazem
predominância da agricultura familiar ou ocupadas com novas atividades rurais (“novo rural”)?
Do ponto de vista fiscal há uma relação direta entre a produção do bem comum e
a capacidade econômica do Estado na gestão dos direitos coletivos. O problema central tem
sido garantir concomitância entre políticas fiscais e ordenamento territorial, gestão sócio-
ITR, o estado de São Paulo com menor índice de inadimplência entre as unidades da federação.
tecnificação e exploração do solo, teriam maior controle de custos e, por sua vez, gerariam um
coopérative, 14 000 agriculteurs français, associés-coopérateurs partageant les mêmes valeurs de solidarité et
d’équité, en vue de réaliser en commun la transformation et la commercialisation de leurs productions de
betteraves et de céréales.”. www.tereos.com (Capturado em 20/01/2008).
9
tratamento fiscal diferenciado em relação às atividades tradicionais extensivas, a pecuária, por
contributiva do setor, pode ser pautada pela análise do valor da produção gerado por hectare
identificação das áreas ocupadas pelos grandes complexos agroindustriais tenderia, dadas suas
uma alternativa de renda, de manutenção da propriedade rural o que apresentaria uma trajetória
diferenciações de ocupação territorial no estado de São Paulo. No entanto, cabe salientar que
esta abordagem tem como pressuposto uma reflexão acerca da produção de conhecimento e da
definição das categorias de análise aqui desenvolvidas, como instrumentos de síntese de uma
10
visão social de mundo, um amálgama de ideologia, gnosiologia e metodologia. Questão de
11
1. A questão do Método
pensamento geográfico ao final dos anos 1980, se ainda não o é. Marcada por esta questão, a
“complexidade” (MORIN, 2000, 2002), tomam um escopo escolástico, assim como algumas
capitalistas recorreu a algo denominado de “espírito da modernidade” que, segundo ele, já era
percebido por alguns pré-modernos como Rousseau. Esse espírito é caracterizado por certo
que a realidade impõe. Apresentando uma visão de mundo fragmentada, tais como seus
do sentido de realidade, em que atônitos pela imagem a tomamos como referência plena e
única.
12
Nesta lógica, o desenvolvimento é simplesmente a busca do “novo” e sua
segundo Berman (1986), esta sociedade não consegue conviver com o velho e existe uma
sobre a vida do ser humano. O homem contemporâneo é atingido em suas certezas e nas
premissas que utiliza para construir opiniões e seguranças. “Tudo que é sólido desmancha no
Esse paradigma da fluidez, da certeza das incertezas, aponta para uma crise das
atônitos pela velocidade deixam de perceber o movimento concreto das formações sociais.
cognoscente não é abstrata, que analisa a realidade de forma especulativa, aleatória, frente a
um mundo arbitrário, mas de um sujeito histórico que exerce sua atividade prática no trato com
Este processo não representa, como se apressam alguns a caracterizá-lo, como determinista,
mas longe desta perspectiva reconhece uma dimensão teleológica precisa no fazer humano,
Compreende-se aqui uma outra realidade existente por trás dos fenômenos, sua
essência, e desde que este fundamento precisa ser revelado, se constitui o pensamento
13
Romper a perspectiva do fenômeno trata-se de algo essencial na produção do
conhecimento. O fenômeno não é diferente de sua essência e sua essência não é uma realidade
seria cognoscível, não seria demonstrável seu conteúdo e seus desdobramentos (materiais e
imateriais) sobre a vida cotidiana. Assim, o domínio sobre esta realidade aparece a partir de
uma desconstrução. Esta desconstrução tem uma dimensão prática, empírica, permite
identificar as partes de cada fenômeno e exige uma perspectiva teórica - a romper com
afastamento do que é secundário, mostrando sua coerência interna. Esta decomposição do todo
2002).
comum da vida humana que, com sua realidade, imediatismo e evidência, penetram na
uma totalidade concreta, por sua vez trata-se agora de uma outra perspectiva sobre o real, como
14
Da mesma forma, senso comum e pensamento científico têm em comum uma
dimensão prática, porém há uma diferença, uma singularidade, uma identidade de domínio do
fenômeno ainda que, de forma taxonômica, apenas se nomeie todas as suas partes. Ao
ele também encerra uma dimensão prática cotidiana, o que rompe qualquer viés de
científico, o que não representa hierarquia, mas diferença e, portanto, identidades. Assim, a
assertiva de SOUSA SANTOS (1988) permite reconhecer algumas das características dessa
forma de pensamento:
“O senso comum faz coincidir causa e intenção; detém uma visão do mundo que
senso comum é superficial porque desdenha das estruturas que estão para além da consciência,
mas, por isso mesmo, é exímio em captar a profundidade horizontal das relações conscientes
entre pessoas e entre pessoas e coisas. O senso comum é indisciplinar e imetódico; não resulta
suceder do quotidiano da vida. O senso comum aceita o que existe tal como existe; privilegia a
ação que não produza ruptura significativa do real, por último o senso comum é retórico e
essência. Neste processo, as diferenciações atribuídas a estas formas de pensamento podem ser
15
tomadas como rupturas, conforme Bachelard (2006), para quem o pensamento científico se
refere aos movimentos descontínuos e, neste sentido, uma forma de pensar o conhecimento se
coloca como ruptura em relação à outra. Para Bachelard trata-se de uma ruptura epistêmica do
pensamento concreto.
estatuto que o difere de outras formas do pensamento (senso comum, religião, filosofia, por
exemplo).
estabelece como visão de método que muda a forma do pensar, mas que o conhecimento
desse movimento à espiral, quer-se ter a nítida representação de não hierarquia, pois não há
primeiro torna-se senso comum o segundo dele se nutre. Talvez neste processo resida um
verdade, hegemônica, monolítica, porque sua trajetória linear na direção do senso comum
16
A apropriação social do conhecimento científico (como senso comum) se
estabelece sem método (a-crítico), como ideologia, porque não é da natureza de seu
pensamento e neste movimento uma exigência de nova ruptura esta posta. A questão central
para o homem é saber como romper com um modelo técnico-científico que se coloca como
senso comum, como ideologia que se quer neutra, como dominação, com um pleno sentido de
verdade.
totalitário, na medida em que nega o caráter racional a todas as formas de conhecimento que
não se pautarem pelos seus princípios epistemológicos e pelas suas regras metodológicas”
todo complexo.
PRIGOGINI, 1998) em muitos casos criam uma espécie de bolha que não pode ser rompida, ou
que está para romper com um perigo eminente à humanidade. Quando não, recorrem ao
Haveria o nível que se poderia chamar de empírico e de conhecimento científico, que, graças às
17
verificações obtidas por observações e experimentações múltiplas, esclareceria dados objetivos
e, sobre esses dados objetivos, induziria a teorias que, pensava-se, “refletiam” o real. Num
não existe um nível, não existem dois níveis. Existem instâncias que permitem controlar o
conhecimento; cada uma delas é necessária e cada uma delas é insuficiente” (MORIN, 2000, p.
62).
que os regem são complexos; o inframundo e a retaguarda-mundo são eles próprios complexos
– a complexidade não está apenas nas interações, inter-retroações, ela não está somente nos
sistemas e organizações. Ela é a base do mundo físico. Nós somos confrontados pela
para lugar algum. Existem aqueles que se esquecem de que o homem não coloca para si um
18
“Às vezes esta mitologia exprime-se claramente no discurso publicitário tal como
o cartaz de propaganda difundido pela Airbone (poltronas, canapés, assentos). Sob o título: “O
verdadeiro conforto não se improvisa”. (cuidado com a facilidade: o conforto é passivo, precisa
torná-lo ativo, é preciso criar condições para a passividade), imediatamente se acentua o caráter
estética, conforto, estrutura e acabamento... Para criar semelhante obra prima as qualidades
industrial). “Mas em nossa época um bom assento deve ser fabricado segundo as normas e
os métodos que regem o mundo econômico moderno” (BAUDRILLARD, 2004 p.177- grifo
nosso).
superação tem um discurso que se prolonga até mesmo sobre a matéria e a forma e, como no
perspectiva materialista nada pode contribuir com questões relacionadas ao meio ambiente ou
que não permite estabelecer relações com a natureza e a natureza de suas transformações
2002) processo pelo qual o homem transforma a natureza externa e sua própria natureza
19
depredação capitalista no uso e ocupação do solo e seus desdobramentos sobre a cultura e a
condição humana.
constituição de cultura, e seu efeito sobre a natureza interna se manifesta na forma como se
uma prática empírica e uma prática teórica que tem a capacidade de recriar o fenômeno, um
saber fazer, que entende claramente a dinâmica do fenômeno, pois esta recriação permite
a uma forma taxonômica, mas teórico-prática, pois é necessário que sua essência seja a
(CHEPTULIN, 1982)
uma dimensão filosófica, de elaborar uma atitude em relação à vida social, caracterizando uma
Por tudo isso, as categorias são usadas para compreender a essência da atividade
cognitiva e desempenham uma função gnosiológica e por sua vez metodológica, dada a
20
1.1. Categorias, conceitos e variáveis de análise
suas mediações materiais na existência humana. As categorias não encerram uma perspectiva
na realidade humana. Assim, estes instrumentos não engendram uma realidade, como concebia
Kant (apud, LUKÁCS, 1979), de característica essencialmente subjetiva e é neste sentido que
Marx & Engels (1991) conferem uma crítica a esta concepção idealista apontando a função
verdadeiras.
trabalho.
teórico que transpassa o tempo cronológico, ou seja, as categorias são construídas à luz do
determinado estágio de desenvolvimento humano. Em Marx, “as categorias são formas de ser,
determinações da existência” (MARX, 1983, p.189), o que implica não se constituírem a partir
projeção humana, no sentido de busca de sua existência sobre o mundo e a concretude desse
21
As categorias não apresentam existência independente, não existem como formas
Há uma projeção específica sobre o espaço. Não se trata de um espaço em si, mas
para si, como “lócus” da reprodução social, pressuposto de toda produção e de todas as práticas
do segundo por meio do primeiro não implica o decréscimo de seu significado. O espaço em
relações sociais de produção, que se intensifica pela inovação tecnológica e dada sua densidade
paisagem, está última como sendo as marcas de uma determinada projeção espacial capitalista.
Não se constitui a paisagem pela manutenção de uma diversidade, pela lógica das
amplia pela perturbação, ao contrário, esta diversidade sucumbe aos processos de perturbação
da paisagem, tornando-a homogênea, pois tal processo se fundamenta em uma lógica que
espaço como soma de tempos desiguais. Os tempos de projeção das práticas sociais sobre o
22
contemporânea, ao contrário da soma de tempos desiguais o espaço passa a ser síntese de
territorial, uma simplificação, uma homogeneização expressa no rural pela monocultura, uma
desordem, uma entropia, que aniquila, elimina a diferença. Uma perspectiva de unificação e
do território que está efetivamente ligado à dimensão de poder (RAFESTIN, 1993) que enceta
categorial, uma vez que somente no desvendamento das relações de poder estabelecidas entre
para desvencilhar-se de uma visão sobre a velocidade (tudo ao mesmo tempo agora, espaço –
tempo) e determinar a compreensão de que plano e objeto de análise que impõem no percurso a
mediação de categorias e conceitos, uma transição que se estabelece entre estas dimensões
(plano e objeto) que são materialmente únicas, mas não são as mesmas coisas.
constituir como tribal, comunal ou privada - por exemplo, na medida em que são as
(materialmente únicas).
23
Neste sentido afirma Marx: “a categoria mais simples pode exprimir relações
todo mais desenvolvido, relações que existiam historicamente antes que o todo se
desenvolvesse no sentido que se encontra a sua expressão numa categoria mais concreta.”
Percebe-se com isso que as categorias e conceitos não são abstratos, não se
estabelecem a priori, mas são produtos das relações, engendrados por elas e grávidos de
historicidade, de acordo com os diversos níveis das relações humanas, das condições materiais
que os engendram. Isso revela seu caráter ontológico, representações humanas de condições
ao longo de sua existência, como conceitos são fecundos de tempo histórico, representações de
que se apropria de forma privada, mas também do sujeito não proprietário. (plano). A
iguais. (objeto).
assinalar que tomados pela perspectiva positivista normalmente adquirem sentido nominalista
24
e, como variável, busca-se delimitar um comportamento do fenômeno e trata-se de um
equívoco analítico tomá-lo como essência, a variação em si, como foco do processo de
pensar que “o rigor científico afere-se pelo rigor das medições. As qualidades intrínsecas do
objeto são, por assim dizer, desqualificadas e em seu lugar passam a imperar as quantidades em
dividir e classificar para depois poder determinar relações sistemáticas entre o que se separou.
Já em Descartes uma das regras do Método consiste precisamente em “dividir cada uma das
dificuldades... em tantas parcelas quanto for possível e requerido para melhor as resolver. A
divisão é a que distingue entre “condições iniciais” e “leis da natureza”. As condições iniciais
as condições relevantes dos fatos a observar; as leis da natureza são os reinos da simplicidade e
da regularidade onde é possível observar e medir com rigor. Esta distinção entre condições
iniciais e leis da natureza nada tem de “natural”, são é mesmo completamente arbitrária. No
entanto é nela que assenta toda a ciência moderna”. (SOUSA SANTOS, 1988:50).
que a observação e a classificação das partes eram essenciais à constituição do saber humano
sobre si e sobre a natureza, por sua vez, é preciso que se reconheça sua limitação para
25
De outra forma, cabe também considerar que a essência cartesiana das variáveis,
em seu aspecto quantitativo, deve ser objeto de reflexão sobre os conceitos que reúnem uma
de fronteiras espaciais, sob a forma de ponto, de linha, de superfície e de figura. (O que não
Não se pode com isso abarcar uma visão exclusivista da perspectiva qualitativa,
bem como certo apriorismo não reducionista dessa dimensão e, pressupostamente, que a
que transforma a natureza num autômato. Este aviltamento da natureza acaba por aviltar o
próprio cientista na medida em que reduz o suposto diálogo experimental ao exercício de uma
Porque essa redução nem sempre é fácil e nem sempre se consegue sem distorcer
Cabe considerar que esse processo não se realiza numa perspectiva de negação
26
múltiplo das categorias (a quantidade é uma categoria e uma dimensão categorial) e tampouco
de sua verossimilitude, frente aos pressupostos das ciências naturais ou ciências clássicas.
Esse processo também não se realiza com a compreensão de que “a ciência social
será sempre uma ciência subjetiva e não objetiva como as ciências naturais... onde é necessário
nas ciências naturais, métodos qualitativos em vez de quantitativos, com vista à obtenção de
plano de análise (definição de categorias) e objeto de análise. Suscita ainda uma perspectiva
sempre menos científica, porque menos objetiva, das ciências humanas. Uma visão que
que conduz à decisão de categorias e formas de análise, nesse processo emerge “um corpo
o construtivismo; e
a participação.
27
objetivos e pelas normas, cuja natureza é intrinsecamente subjetiva, pois refletem valores dos
variáveis, não permite definir o valor de apenas uma das ações potenciais, é um “todo” difícil
de ser analisado nas suas minúcias, ou seja, desse “todo”, embora formado pela mistura de
elementos de avaliação de natureza subjetiva e objetiva, dificilmente poderá se dizer qual das
duas naturezas teve papel mais preponderante na elaboração do juízo a ser representado,
característica das ações e dos objetivos e têm um importante papel no processo de construção
do modelo de preferências dos sujeitos, sem que se possa, a priori, afirmar que um tipo de
realidade, uma vez que o “todo” é mais do que a simples soma das partes.
de ciência que obstinada pela objetividade estuda as partes individualmente e conclui pelo
“todo”.
ação humana é permeada por uma noção de valor, por uma visão social de mundo. Nas
procura por modelos matemáticos como sínteses das relações entre os instrumentos de análise.
28
Assim é preciso construir uma visão coerente sobre a realidade e sua representação destacando
um processo decisório para moldar e/ou questionar e/ou transformar sua visão de mundo e
objetivos.
decisão como referência na percepção de “valor” por meio da procura de hipóteses de trabalho,
Na ciência clássica, quase como uma religião, a visão do pesquisador é de que seu
trabalho é uma revelação sobre a natureza e seus fenômenos, e não como um processo de
essencialmente recursiva, não determinística e, desta maneira, pode ser visto como uma forma
social, exige uma interlocução e o caracteriza como uma “cocriação” promove a participação
Estes três princípios acabam por definir uma leitura acerca da decisão sobre os
instrumentos de análise e como eles representam uma visão social de mundo e por sua vez de
ciência. Rompem com uma visão dicotômica que se estabeleceu por muitos anos no debate
geográfico, por exemplo, sobre a apropriação quantitativa pelo método, como se fosse uma
estabelece pelo caráter de relação existente entre as dimensões quantitativas, cindindo uma
29
representação neutra da realidade, reconhecendo as especificidades dos objetos e dos planos de
externalidade, tomada como corpo externo, com a qual elaborou-se uma representação de
entendimento dos vegetais e dos animais como máquinas químicas e passíveis de controle e
alteração genética.
humano, por meio da ciência e da tecnologia sobre a natureza como um objeto, separado do
sujeito, o quer consolidar uma visão neutra acerca dos processos de intervenção. Processos de
intervenção que diante do avanço dos controles físico-químicos sintetizam as duas visões, uma
vez que se trata de uma intervenção sobre a máquina-mercadoria química (plantas e animais)
30
Esse apego à neutralidade do conhecimento tem como referência os
uma folha. O padrão de variabilidade não se estabelece a priori pelo olhar do pesquisador, mas
pela alteração de comportamento de um todo que interfere em sua natureza e determina o nível
uma vez que quando a ciência natural coloca seu “olhar” para além da ação científica
Latour (1994, 2001) chama atenção desse processo para a construção de conceitos
híbridos, cujo caráter extrapola a separação natureza e sociedade e de uma divisão purista e
reconhecer uma concepção acerca das ideologias extrínsecas. Ou seja, as ideologias nas
ciências naturais e exatas não se constituem no bojo do processo de investigação, mas a priori
semelhantes, cuja margem de diferença no stricto sensu está normalmente na variabilidade dos
efeitos.
31
Tomado de exemplo o aparecimento de fungo ou praga em uma cultura, como a
banana, na região de Registro, estado de São Paulo. Por tratar-se de uma atividade também
efeitos adversos sobre outras plantas e seres. Cabe então considerar as características de
de trabalho familiar.
agricultores em relação aos insumos externos à unidade de produção e sua alteração coloca em
processos são reveladores do grau de concentração do capital no setor que opera na busca de
32
Observa-se, assim, que do ponto de vista do objeto de pesquisa em si e de seu
revelador da visão social de mundo, que o pesquisador assume muitas vezes particularizada,
dependência tecnológica.
das estratégias de reprodução social, cultural e econômica desses produtores, sendo que
mundo, que do ponto de vista do objeto e do objetivo mais central (controlar a praga e a
Explicita-se, assim, que este olhar, por meio das variáveis, realizado comumente
pelas ciências naturais, como busca de neutralidade, se constitui no “olhar cego” aos
financiamento.
33
Observa-se que embora o caminho (método) procure o mesmo objetivo, parte-se
de um outro ponto de pesquisa, como diria o poeta Tiago de Melo, talvez não seja necessário
mudar o caminho, mas a forma de caminhar. A perspectiva extrínseca reconhece, portanto, que
diferenciam.
Reflexos A
Ponto de
Pesquisa 1
Objetivo
Controle de Pragas e
Ponto de Doenças na produção de
bananas / Registro – SP.
Pesquisa 2
Reflexos B
Ciências Humanas. Neste caso, é necessário romper com quaisquer leituras pré-conceptuais
variáveis de análise. A escolha reflete sua visão social de mundo tal qual no primeiro caso, por
sua vez, elas são, como afirmado anteriormente, reveladoras de uma representação da
realidade. Assim, se contrário a uma política de gestão social do territorial, de imediato pode
natural. Como os animais que preocupados com a permanência de sua espécie defendem
34
territórios, pela sobrevivência. O sentido de propriedade aparece como uma construção natural
dos seres e que sua defesa sustenta sua conceptualização “privada” e que quaisquer ações da
Este tem sido o discurso constante dos setores ruralistas resistentes às ações de
controle e gestão social do território. O debate acerca da Lei Federal nº 8.171/91- dispõe sobre
a política agrária, quando obriga a recomposição da reserva legal pelo proprietário rural - e
recomposição das áreas de reserva legal para a autorização de exploração agrícola das várzeas
economicamente inviável e tira a pessoa do seu estado de direito” (SÃO PAULO QUER...,
2006).
territorial de natureza irracional (os seres não humanos são irracionais), objetivando explicar
natureza, agora sob os auspícios de “necessidade de defesa do grupo”, “da espécie”, mas que se
particulariza e se projeta no indivíduo, na classe social, ainda que no final o discurso reproduza
35
regulação desse processo e que estão vinculados a uma idéia de coletividade. Ou seja, somente
análise e por sua vez do caminho a ser construído na compreensão do fenômeno. Objeto e
grosseiramente, representadas:
Hipó tese
Reserva Legal e
Ponto de rentabilidade do
Pesquisa 1 setor
sucroalcooleiro
paulista
Hipótese
Reserva Legal e
impactos sociais e
Ponto de econômicos do
Pesquisa 2 setor
sucroalcooleiro
paulista
análise, bem como a forma de sua apropriação são completamente distintas o que permite
conhecimento. Mas o que difere esse conhecimento do senso comum dado o grau de
verdade, define a visão social de mundo, determina as categorias de análise e, por sua vez,
orienta o método. É efetivamente a pergunta de Alice ao gato Cheshire. E agora? Qual caminho
devo escolher? Depende! Aonde você quer chegar? Respondeu o gato (CARROL, 2002).
compreender seu rebatimento sobre diversas dimensões da realidade humana, neste trabalho
elisão fiscal por Escritório de Desenvolvimento Rural no estado de São Paulo2. Segundo as
com as regiões que apresentam perfil de uso e ocupação fortemente marcado pela agricultura
a) de perfis de uso e ocupação do solo nos EDR do estado de São Paulo (base de
dados LUPA/ IEA/ SAA. (2001-2006). Os dados serão apresentados por estado e agregados
por EDRs representativos das principais formas de uso e ocupação do solo (complexos
2
. Escritório de Desenvolvimento Rural, unidade territorial administrativa da Secretaria de Agricultura e
Abastecimento do estado de São Paulo.
37
b) do comportamento de preços de terras e valor da produção segundo o padrão de
uso ocupação
apresentadas foram:
Uso do solo
verificando as principais tendências, com base nos dados do projeto LUPA nos
tradicionalmente familiares (arroz, feijão, mandioca, tomate, etc...) em relação ao número total
metropolitanas com base nos dados de pesquisa do Projeto Rurbano, (CAMPANHOLA &
forma: o padrão 1 quando uma atividade supera a taxa de ocupação de 90%, 1,5 quando
primeira e a segunda superam 90%; 2 quando superam 80%; 2,5 em 70%; 3 em 60%; 3,5 em
50%; 4 em 40%; 4,5 em 30% e por último, no padrão 5, quando juntas, a primeira e a segunda
38
Valor da Terra Nua
A primeira parte deste item foi dedicada a uma leitura dos principais trabalhos
terras rurais. Os valores foram apurados com base nos dados do Instituto de
Concentração Fundiária
estado de São Paulo. A tabela de classes foi realizada como base na legislação
do ITR Lei 9.393/96 (tabela 1), para cada um dos 645 municípios e
39
Valor de arrecadação e projeção de arrecadação do ITR e elisão fiscal
Terra Nua, terra de cultura de segunda, apurados pelo IEA. Destaca-se que
fiscal são subestimados, uma vez que a legislação isenta apenas as propriedades
com menos de 30 ha, desde que explorada unicamente pela família e não
A projeção foi identificada para cada município (645), por classe de área total e
corrigidos pelo IGP-DI (FGV) base 04/2007. Demonstra-se que as variáveis de análise
o que representa um nível de confiança de 95% e 90%, respectivamente. Por sua vez foi
40
utilizada a regressão linear simples para demonstrar o comportamento sobre uma reta, sem a
41
2. Uso e ocupação do solo: apropriação capitalista da terra
a ser perscrutado. Figuram como representação objetiva das formas de apropriação capitalista
reprodução social, sínteses da lógica de valor (material e imaterial) dos produtores em relação à
terra e ao trabalho, concepções práticas de mundo dos sujeitos. Valor de Uso e Troca
desenvolvimento que permita conviver com outras territorialidades, outras formas de projeção
42
de desenvolvimento. É a vida do homem que deve desabrochar pela utilização dos produtos
desdobramentos desta lógica de produção de riqueza existente: sejam eles sobre o trabalho, a
outros.
práticas sócio-espaciais dos sujeitos, que demarcam diferenças territoriais pelas diferentes
conquistada pela sociedade sobre a natureza transforma-se em potência crescente dessa mesma
longo das trajetórias de ocupação e exploração no campo brasileiro pelo cerceamento de acesso
a terra, forjada juridicamente pela Lei de Terras (1850), mas, sobretudo, pelos mecanismos de
43
comercial que atingem os pequenos agricultores e, também, subordinação da reprodução
(GURTS – tecnologias genéticas com restrição de uso). (MARTINS, 1990; OLIVEIRA, 1981;
produção, sobretudo nos últimos 20 anos sob a égide do capital monopolista, determinam que
ora a produção esta subordinada à circulação, ora a circulação está subordinada à produção.
faz com que das situações apontadas acima, segundo Oliveira (1988), a primeira assertiva se
torne mais comum na realidade agrária brasileira, diante de implacável sujeição que conduz a
outras atividades as lógicas de controle produtivo, de padrão técnico, fazem com que se
seres. Essa contradição entre a propriedade privada da natureza e a preocupação com sua
sustentabilidade em função das futuras gerações não é uma novidade ao debate sobre a questão
ambiental.
44
“Do ponto de vista de uma formação econômica superior da sociedade, a
propriedade privada de certos indivíduos sobre o globo terrestre parecerá tão absurda quanto a
propriedade privada de um ser humano sobre outro ser humano. Mesmo uma sociedade inteira,
uma nação, mesmo todas as sociedades coesas em conjunto não são proprietárias da Terra, são
apenas possuidoras, usufrutuárias dela, e como boni patres familias devem legá-la melhorada
privada por meio da obtenção da renda da terra nas suas diferentes formas (absoluta,
da ruptura do metabolismo societal com a natureza, uma vez que os modos pré-capitalistas de
produção eram agrícolas, o modo capitalista cria a indústria e, com ela, redimensiona as
relações com a terra. Institui-se o que Marx chama de moderna propriedade do solo sob os
produto, ou, inclusive, em dinheiro, antes estava regulada pelo próprio trabalho agrícola. A
renda capitalista do solo está regulada pelo lucro industrial. (MARX, 1983).
ponto de vista da dinâmica do avanço capitalista nas atividades agrícolas, pelo viés do
45
atividades produtivas, consolidando no caso do estado de São Paulo a formação de grandes
acumulação, por meio de maior acesso aos fundos públicos ou antivalor, que
Usinas e Destilarias.
o setor de pecuária de corte que apesar da modernização pela qual passou nos
Estes são três setores com expressiva representação na ocupação de terras e, nos
dois primeiros casos, de força de trabalho agrícola (BASALDI, 2003), com atuações
realizando hedges para seus preços e com amplitude de ação territorial e movimentação
ocupação do solo por estes setores produtivos, verificando como estes complexos compõem o
46
mosaico rural paulista, juntamente com as áreas de produção familiar e de novas atividades
rurais.
de Ribeirão Preto e Jaú que apresentaram índices de apropriação do território em torno de 50%
superior a 70%. Nestas regiões surgiram os focos de maior resistência às mudanças tributárias,
quando da elaboração da Lei 9.393/96, que alterou as alíquotas para padrões mais aceitáveis e
definiu correções nos valores mínimos de terra nua (VTNm). Os pecuaristas destas regiões
realizaram por meio de seus sindicatos rurais (patronais) maior contestação em relação aos já
os mecanismos de controle sobre as áreas de plantio se dão inicialmente por meio de contratos
47
efetiva obrigação fiscal sobre as mesmas por parte dos novos proprietários. (SOUZA &
CASTRO, 2002).
48
Continuação Tabela 2
Marilia 2006 56,2 18,2 6,3 5,6
2001 44,1 31,8 5,6 4,1
Mogi Cruz.(51%) 2006 50,1 23,9 6,5 3,8
2001 51,1 21,0 6,6 3,4
Mogi-Mirim 2006 26,3 22,3 16,2 13,0
2001 28,2 22,1 15,2 13,1
Orlandia 2006 72,7 20,9 2,6 2,3
2001 61,4 27,0 5,0 2,8
Ourinhos 2006 38,8 16,2 14,6 9,3
2001 36,8 17,1 11,0 10,3
Pindam(55%) 2006 64,9 26,9 1,9 1,3
2001 69,4 22,5 2,4 1,7
Piracicaba 2006 71,8 19,6 3,1 2,2
2001 69,6 20,5 3,3 2,8
Presid. Prudente 2006 71,9 14,2 4,5 1,9
2001 34,4 25,4 11,5 8,6
Presid. Venceslau 2006 60,2 17,5 8,4 3,8
2001 29,2 22,5 16,4 13,7
Registro (11%) 2006 58,2 31,7 2,2 2,2
2001 46,3 33,9 8,8 3,5
Ribeirao Preto 2006 74,1 10,0 8,5 2,6
2001 71,6 10,2 10,1 3,1
Sao Joao B.Vista 2006 29,9 23,9 13,1 10,3
2001 26,9 20,1 15,8 12,1
São José R. Preto 2006 53,8 13,1 12,8 9,9
2001 22,7 21,2 19,4 16,6
Sao Paulo (16%) 2006 36,9 25,2 23,3 2,7
2001 67,7 11,0 7,9 1,4
Sorocaba 2006 38,0 25,9 10,8 5,6
2001 24,1 23,5 17,7 4,6
Tupa 2006 57,8 8,7 8,7 8,2
2001 24,3 16,9 12,8 10,5
Votuporanga 2006 49,8 16,2 15,8 7,3
2001 30,5 21,5 21,0 7,9
Fonte:IEA/LUPA 2001-2006.
Atividades Agrícolas
Cana Arroz Irrig
Pecuária Soja
Laranja Algodão
Milho Olerícula
Eucalipto Caqui
Café Cana Forragem
Banana Uva
Chá Abacaxi
Manga Feijão
Mandioca
49
acima, demonstra-se as alterações na taxa de uso e ocupação do solo entre 2001 e 2006. As
áreas de ocupação sucroalcooleira saíram dos patamares de 50% a 60%, em 1996 e atingiram
as faixas, para os anos de 2001 e 2006, de 54,4% e 58,4% em Jaboticabal; 69% e 70,5% em
Jaú; 69,6% e 71,8% em Piracicaba; 71,6% e 74,1% em Ribeirão Preto, um crescimento que se
às crises do setor citrícola no início dos anos 2000 e a tradição das relações contratuais do setor
24,9% em 2001 para 17,8% em 2006; Limeira com 21% e 18,8%, respectivamente, e redução
em Catanduva e Mogi Mirim), porém algumas regiões apresentam leve recuperação na taxa de
ocupação (Araraquara, Lins, Ourinhos e Bauru) demonstrando uma fase de ajustes no setor,
taxas de ocupação territorial. Regiões tradicionais, como Araçatuba e Presidente Prudente, que
nos anos 1990, apresentavam taxas de ocupação da ordem de 60% a 70% nesta atividade,
tiveram forte alteração entre 2001-2006 indicando percentuais de 25,4% para 14,29% em
Presidente Prudente; de 22,5% para 17, 5% em Presidente Wenceslau, e de 10,9% para 4,7%
sucroalcooleiras (Piracicaba 19,6% e Ribeirão Preto 10,1%) que reúnem áreas de alta
50
declividade e normalmente com animais de dupla aptidão (exploração leiteira e corte). Desta
feita as áreas de consolidação da atividade pecuária estão fortemente vinculadas aos EDRs de
Presidente Wenceslau, destacando que nos dois últimos EDRs o crescimento em hectares entre
2001 e 2006 foi superior a 100%, saindo de 34,4% para 71,9%, e de 29,2% para 60,2%,
respectivamente.
processos de poder e acumulação, uma vez que avança o setor sucroalcooleiro sobre terras
Para Azevedo; Thomaz Junior; Oliveira (2006) “esta questão ganha importância
quando considera o jogo político que consubstancia a aliança entre o Estado e empresários
rurais, interessados em legitimar a posse da terra por meio da tentativa de garantir a veracidade
As áreas que por ora apresentam certa diferenciação nos processos de uso e
ocupação do solo, com alguma importância em agricultura de modelo familiar estão restritas
aos EDRs de Jales; Avaré; São João da Boa Vista, em que pese, nos dois últimos, a cana-de-
açúcar já atingir patamar superior a 20%. Mesmo assim estas regiões reúnem algumas
51
Outras áreas com expressividade de ocupação diversificada são aquelas que se
Consolidam estas áreas a produção olerícula, frutas e atividades de recreio, sobretudo nas
Mogi Mirim, considerando que em suas áreas apresenta-se um crescimento gradual do setor
sucroalcooleiro, mas que os preços de terras e ou condições topográficas tendem a ser fatores
limitadores a um avanço tão veloz como o vivenciado no extremo oeste do estado de São
Paulo.
homogênea. Uma mudança (na permanência) na trajetória do capitalismo que amplia a escala
incorporam capitais. A mobilidade espacial dos projetos neoliberais se refina nas técnicas, nos
produção, nos custos da força de trabalho, dos valores das terras, da matéria prima, dos apoios
públicos (BNDES). Altera também a organização do espaço, ou reorganiza segundo sua lógica,
52
amplia um quantum de produtividade, agregando modos de fazer que sejam suficientemente
53
desenvolvidas no EDR. Na coluna seguinte o percentual de participação de atividades agrícolas
tomate, melancia, feijão, cebola, cana para forragem, banana e arroz, permitindo identificar os
área total dos EDRs, por se tratar de uma atividade de uso intensivo do solo. (mapa 1).
M ean 45,575
S tD ev 8,455
V ariance 71,481
S kew ness -0,593514
Kurtosis -0,258225
N 40
M inimum 25,000
1st Q uartile 41,000
M edian 47,000
3rd Q uartile 52,000
30 40 50 60 M aximum 59,000
95% C onfidence Interv al for M ean
42,871 48,279
95% C onfidence Interv al for M edian
43,411 49,000
95% C onfidence Interv al for S tD ev
9 5 % C onfidence Inter vals 6,926 10,856
Mean
Median
43 44 45 46 47 48 49
vinculam à agricultura familiar foi de 37%, ou seja, em média tem-se um total de 22 atividades
54
Mapa 1
54
Gráfico 2 - Partic. Ativid. Agríc. Familiares (%) no Total das Explor. Agropec. EDR (SP)
Median
30 32 34 36 38 40 42
composição de uma espécie de "cinturão verde" ou EDRs com vilas, distritos, bairros rurais
hegemônicas. (mapa 2). Considerando que a inclusão das atividades olerículas amplia o grau
de diversificação (em número e com reduzida expressividade em área) em regiões com altas
taxas de ocupação de determinada cultura. Em Jaboticabal, por exemplo, que contrasta com a
incorporação de terras por uma ou duas culturas. Atribuiu-se índice 1 quando uma atividade
apresenta uma taxa de ocupação superior a 90%, 1,5 quando primeira e a segunda superam
90%; 2 quando superam 80%; 2,5 em 70%; 3 em 60%; 3,5 em 50%; 4 em 40%; 4,5 em 30% e
por último, no padrão 5, quando juntas, a primeira e a segunda atividade, estão abaixo de 30%
55
Mapa 2
56
Mapa 3
57
Neste último índice, indicando um padrão distributivo tendencialmente mais
seus indicadores alterados, tendo em vista que o percentual de ocupação foi restabelecido em
relação à área total, por se tratar de fator de diversificação as extensões de matas preservadas.
padrão de homogeneização em que a média está situada em 2,8, concebido como um alto fator,
uma vez que, proporcionalmente ao índice representam que 67% das terras são ocupadas por 1
apropriação e concentração dos fatores de produção (terra e trabalho rural). Esse processo é
conforme o mapa 3.
se sempre uma tendência de redução da diversidade com o aumento da taxa de ocupação dos
setores agroindustriais.
Os dados não foram significativos a p value < 0,10, (p value = 0,15) ainda que
58
Gráfico 3 - Padrão de Homogeneização / Número de Atividades Agropecuárias
4,5
4,0
3,5
Padrão Homog.
3,0
2,5
2,0
1,5
20 30 40 50 60
Nr. Atividades
4,5
4,0
3,5
Padrão Homog.
3,0
2,5
2,0
1,5
20 25 30 35 40 45 50 55
% Partic. Ativ. Agric. Familiares
59
Processo também explicitado na correção entre número de atividades
social, consiste em não determinar elevado grau dependência econômica em relação a uma
value = 0,00.
60
50
Nr. Ativ. Agropec.
40
30
20
20 25 30 35 40 45 50 55
% Partic. Ativ. Agric. Familiares
pelo debate da agroenergia e de sua relação direta com a utilização de recursos não renováveis,
bem como dos problemas advindos da poluição atmosférica e das mudanças climáticas globais.
Entrementes, é preciso pontuar que estas questões estão envoltas em uma pseudoconcreticidade
social (atividades familiares) que o setor sucroalcooleiro impõe, amparados pela inversão
60
significativa de capitais estrangeiros (desnacionalização produtiva) evidenciando que questões
No que se refere à questão técnica de exploração, ela está imbricada com o padrão
e dos níveis de produtividade (SHIKIDA, 1997; MORAES & SHIKIDA, 2002), bem como dos
controle produtivo aos fornecedores no pagamento por ATR (Açúcar Total Recuperável).
61
vivo. (ANTUNES, 1999; ALVES, 2000). Estratégias do capital quando as taxas de
locais em que a produtividade média do trabalho não foi sobrepujada pela mecanização,
mantendo as taxas de lucro, como no caso das colheitas manuais no setor citrícola e em
chegam a atingir, segundo Botelho (2007) no EDR de Jaboticabal, patamares de 70% a 83% do
total das terras agrícolas de municípios como Jaboticabal, Guariba e Dobrada, na porção
nordeste do estado.
demonstram claramente que qualquer inflexão nos preços das principais commodities do setor
como apontados nos anos de 1998 e 1999. Neste período o açúcar e o álcool apresentaram
superprodução e estoques elevados, o primeiro por conta da queda dos preços internacionais e
sucroalcooleiro no estado.
Esse quadro de predominância de ocupação e uso do solo com padrões entre 1,5 e
4,5 permite identificar 5 grupos de EDRs que serão utilizados como referência de análise sobre
62
Tabela 4 – Grupos de EDRs por atividade predominante e índice do padrão
homogeneização.
Grupo Atividade EDRs Padrão Uso
G1 Cana-de-açúcar Andradina- Piracicaba- Ribeirão Preto 1,83
G2 Pecuária Guaratinguetá- Marília- Registro 3,00
G3 Citricultura Limeira – Ourinhos -Barretos 2,83
G4 Agric. Divers. (Fam.) Avaré- Jales- Lins 3,83
G5 Novas Ativid. Rurais Bragança Paulista- Campinas - Mogi Mirim 3,33
PINO, 1996/ IEA
(G1) dada sua característica de arrendamento, quase que não permite a coexistência com outras
atividades rurais nos estabelecimentos, considerando que seu nível de coordenação, tende a
matas das regiões sucroalcooleiras não ultrapassam 5% da área total. O sistema intensivo de
talhões compromete elementos naturais e culturais do espaço rural e, como destacado, seu
avanço nas regiões tradicionais de pecuária não encontram resistência face ao elevado perfil de
desmatamento.
tecnológico (G2) e neste caso apresenta-se susceptível ao efeito manada exercido pelo mercado
de etanol. A pecuária é uma atividade em que o fator terra apresenta relativa importância no
processo de produção e tende a manter-se territorilizada em EDRs com menor valor e maior
pela erradicação 117 mil ha da cultura, sobretudo em pequenas e médias propriedades rurais,
no período de crise dos anos 2000-02 (IBGE/PAM, 2007), ainda apresenta áreas em transição,
63
com menor grau de homogeneização, considerando que todas estas regiões sofrem o impacto
espaciais” (SANTOS, 1988), se fazem presentes no território paulista (G4). Desta forma, foram
definidos EDRs com padrão de uso do solo com atividades agrícolas familiares destacando,
território paulista, quando são relacionadas a fatores como concentração fundiária, valor da
produção e tamanho médio das propriedades, permitindo inferir seus desdobramentos sobre os
que são implementadas na franja das regiões metropolitanas, como Bragança Paulista,
Campinas, Mogi Mirim e São Paulo, acabam, também, definindo padrões de uso do solo mais
Entretanto, a presença destas atividades familiares nos EDRs não é suficiente para
padrão de ocupação e modelo técnico produtivo regional, mas fatores locacionais (rede urbano-
desses sujeitos em suas atividades frente aos grandes complexos agroindustriais paulistas,
64
A tabela 2 constitui uma demonstração desse processo e permite verificar que esta
superiores a 4,5 apenas Avaré e Jales (mapa 3), sendo que ponderando as áreas de matas
4,5, apresenta uma taxa de ocupação pecuária nas áreas de uso superior a 76%, o que
do território paulista e inferir sobre seus desdobramentos e relações com outras categorias de
análise.
pela grande propriedade e a redução das populações rurais, sobretudo no caso da cana cujo
perfil absenteísta é mais acentuado. Durante um primeiro estágio esse processo ainda se
não existe resistência da produção familiar mercantil, não por conta dos patamares de
concorrência dos custos de produção, mas por conta da rentabilidade da terra (valor de
65
Para Marx (1982), esse processo revela uma ruptura radical do metabolismo com
a natureza, o que gera situações de insustentabilidade, uma situação de desperdício das leis
66
3. Os desdobramentos do padrão de homogeneização:
Neste capítulo discorre-se sobre três elementos essenciais que se colocam como
que carregam em si a força material da existência humana e como modo de ser rebatem com
progresso.
Nesse item analisa-se analisar a trajetória do valor da terra nua nos EDRs do estado de São
Paulo, segundo os padrões de homogeneização. A questão central é que a demanda por terra
altera seu valor na proporção de sua incorporação pelos grandes complexos agroindustriais ou
constituição e a dinâmica dos mercados nacionais e seus fatores determinantes. A análise tem
propriedade e posse da terra; à evolução da produtividade agrícola, e por conta dos grandes
67
conflitos fundiários e sociais no campo que tal processo engendra. (BERGAMASCHO &
2006).
(CARNEIRO, 2003). A análise desta problemática indica ainda que a agricultura brasileira
passou por um processo de modernização dos métodos produtivos, com crescente utilização de
terras no processo produtivo e as tendências de sua valorização como ativo. (REYDON &
PLATA, 2002).
Em resumo, a terra rural pode ser caracterizada como um ativo que é de moderada
liquidez, negociada em uma estrutura de mercado flexível e onde seu preço é determinado em
função das expectativas que os vendedores e compradores tenham de ganhos futuros com o seu
uso. Segundo Reydon (1992) o preço de venda da terra rural, como a maioria dos ativos, é
atividade produtiva;
Afirma ainda o autor que o mercado apresenta preços com características bem
marcantes e comuns em seu todo, considerando que nos últimos trinta anos, o preço de terra
macroeconômicas. Isto faz com que, em qualquer processo de intervenção neste mercado, seja
68
O estado de São Paulo é a unidade da federação com os mais elevados preços de
terras do país, e existem muitas diferenças entre os preços de terras, que refletem elementos
alteração dos padrões de custos na agricultura, as políticas restritivas ao crédito, entre outras,
associadas aos ganhos razoáveis no mercado financeiro e de títulos, fez o preço da terra cair
significativamente. Segundo Reydon e Plata entre junho de 1994 e junho de 1995, o preço de
terra teve uma redução de 42%, chegando ao patamar mais baixo pós-modernização dos anos
70. De junho de 1995 a junho 1996, os preços das diferentes terras rurais continuaram caindo
patamar médio dos R$1.000,00 o hectare em reais de junho 1996. (REYDON & PLATA,
2002).
mercado. No entanto, estas questões pouco se aplicam ao estado de São Paulo à exceção da
situação jurídica. Um problema adicional das terras rurais uma vez que mais da metade dos
69
a) as ocupações ocorrem em imóveis consolidados, mas não regularizados
legalmente. Isto, principalmente, pelos elevados custos da titulação e também porque o título
terras públicas por ocupantes que, em momentos diferentes, obtiveram títulos sem
fundamentação jurídica. A regularização deste tipo de imóvel requer uma ação mais intensa do
Estado, envolve a recuperação histórica do imóvel original e seus desmembramentos. Este tipo
de problema ocorre no país como um todo, mas, principalmente, nas regiões mais tradicionais:
não interfere sobremaneira no mercado de terras e na dinâmica de seus preços e não têm
capacidade para frear um mercado com patamares de intensidade superiores a quaisquer outras
de São Paulo (SOUZA, 1999), mas fator de baixa produtividade, em áreas tradicionalmente de
Brasil, tem sido de suma importância para mudar o papel social da terra e, principalmente, para
consolidar e dinamizar seu acesso. No Brasil este processo tem acontecido de modo gradual, de
70
tal forma que a terra rural é hoje um ativo e como qualquer outro este acesso se dá,
implantado nos anos 1996 - 1999, mas que se mostrou insuficiente. Como política de
propriedade, título ou sua escritura. Este documento transforma a terra em um ativo factível de
Estas ações do Estado, ainda que sob formas diferenciadas, atuam tanto no
sentido da consolidação como na dinamização dos mercados de terras rurais. Alguns outros
fatores apontados como determinantes na dinâmica de preços de terras são descritos por Rahal
(2003) e Nascimento e Souza (2007) que definem o Estado e suas políticas agrárias, crédito
rural e tributação da terra e de produtos agrícolas como capazes de interferir nos preços.
Afirmam ainda que políticas econômicas expansivas e recessivas interferem nos mercados e o
71
sobre a renda indicam a importância deste mercado. A compra de terras também se relaciona a
da comercialização das terras, sobretudo no período que vai da primeira metade dos anos 70
até meados de 1994. A elite de proprietários tem capitalizado privilégios com a elevação no
analisam a influência do mercado financeiro, taxas de juros e inflação na trajetória dos preços
de terras. Como mencionado a partir do Plano Real, o preço da terra rural apresenta uma
tendência de queda. Entre os períodos de 1995-1999, o preço real das terras de lavouras
terra, segundo os tipos de uso, é menor nas terras de lavouras e de pastagens e sua maior
rural e a redução da inflação fez com que a terra rural perdesse atratividade perante outros
de rendas, fossem elas especulativas ou vinculadas a ganhos produtivos, uma vez que a
expansão da renda foi acompanhada por um processo de abertura comercial que segundo
72
Baccarin (2004) e Bacha (2004) promoveu a redução dos preços de insumos, dos produtos
juros altos e um processo de abertura comercial, implementado desde o início dos anos 1990
aspecto cambial a moeda nacional sobre forte desvalorização, as taxas anuais de inflação
situações de crise e expansão no final dos anos 1990, por fatores de oferta e de sanidade
mundiais. Portanto, são conjunturas diferentes das analisadas acima, e acabam por influenciar a
liquidez no bojo das relações de mercado coloca-se nos últimos anos uma ascendente de preços
e uma das explicações está vinculada à ocupação do solo e ao valor da produção das principais
comportamentos totais de preços e dos mercados de terras. Não obstante, são parâmetros
importantes acerca dos processos de valorização, ainda que seja importante considerar tratar-se
se articulam aos objetivos desta pesquisa: a trajetória dos preços e seus impactos na
73
Salienta-se que o valor da terra nua é o valor de um hectare de área agricultável
Lei.9393/96.
novembro) por EDR. Destaca-se que Dracena, Mogi das Cruzes, Presidente Prudente,
Presidente Wenceslau, Registro e Tupã apresentaram, na relação entre os anos de 1996 e 2005,
segundo os dados do IEA, as maiores inflexões negativas. Áreas que, excetuando Mogi das
o que implica em um movimento de valorização das terras frente a conjuntura vivida pelo
setor. Observa-se, ainda na tabela 5 que de maneira geral em todos os EDRs os preços
apresentaram uma inflexão negativa a partir de 1996, retomaram uma tendência de alta a partir
de 2000 e mantiveram-se nos anos posteriores. Acompanharam a queda das taxas de inflação
no período de 1994 a 1997, fortemente influenciados pela implantação do Plano Real até
1998/1999.
Neste sentido o mapa 4 indica que os valores de terra nua concentram valorização
nas regiões tradicionais do setor sucroalcooleiro e nos EDRs da franja metropolitana, neste
caso fortemente influenciados pela especulação imobiliária urbana, com preços superiores a R$
terras, no ano de 2005, estão relacionados (na faixa entre R$ 1.000,00 e R$ 4.000,00) ao
74
Tabela55- – Valor da Terra Nua (Terra de segunda) por EDR – São Paulo – 1996 – 2005 (preços novembro - R$).
Tabela
EDR 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Andradina 4602,37 3823,64 3121,69 2875,08 3723,29 4023,67 4894,57 5937,65 6613,87 6607,41
Aracatuba 4602,37 3823,64 3932,84 3942,96 5026,43 5364,89 5710,33 7422,06 8818,49 8672,16
Araraquara 7255,53 5111,62 5407,66 4928,71 5957,25 6370,80 5438,41 7422,06 7054,80 10840,21
Assis 4764,78 3270,22 4916,06 5750,15 5957,25 5364,08 8157,62 12370,10 10141,27 10840,21
Avare 6497,50 4185,83 3687,05 3285,80 3157,58 3453,65 3942,85 7422,06 7275,26 6937,74
Barretos 5820,67 4913,11 5899,27 4928,71 4840,26 6706,11 8157,62 13607,11 11023,12 13008,24
Bauru 4829,80 3673,69 2949,63 2875,08 2978,62 2850,10 4350,74 4948,04 5952,48 7371,33
Botucatu 6497,50 4185,83 4916,06 4435,83 3723,29 4358,97 5438,41 6432,45 6613,87 7804,95
Braganca Paulista 10504,28 7949,18 8848,90 7803,79 7446,55 6706,11 5438,41 7422,06 7936,65 8672,16
Campinas 10504,28 7949,18 15731,37 13553,94 15637,78 16094,67 13596,04 15338,92 14770,99 14742,69
Catanduva 5089,71 3823,64 4916,06 4928,71 5398,76 10059,17 8973,38 11133,09 11684,50 11490,62
Dracena 4115,06 2149,51 1474,80 1232,17 1377,61 1944,78 1631,52 2548,24 2425,09 2384,85
Fernandopolis 5089,71 3823,64 3932,84 3614,38 4281,76 6035,50 5982,25 6432,45 8818,49 7804,95
Franca 6974,15 3672,71 4916,06 4928,27 4467,94 4694,27 6526,10 7422,06 8818,49 9756,19
General Salgado 4602,37 3823,64 3441,23 3696,52 4095,61 6035,50 5710,33 7422,06 7495,72 8672,16
Guaratinguetá 2992,22 2029,43 2073,03 1807,19 2606,29 1777,12 1631,52 2350,32 2535,31 3252,06
Itapetininga 6497,50 4185,83 4916,06 4107,26 5212,59 4023,67 5438,41 5195,44 6172,94 8672,16
Itapeva 2723,18 1847,00 2212,22 1478,61 2606,29 3353,06 3263,05 6432,45 5732,02 6504,13
Jaboticabal 6876,50 5534,22 6882,47 6571,62 8377,38 10729,77 13867,95 17318,14 15432,37 16477,12
Jales 5089,71 3823,64 4424,44 4107,26 5212,59 6706,11 6526,10 7422,06 8377,57 7804,95
Jau 4829,80 3673,69 5899,27 4928,71 4654,09 6706,11 5438,41 7669,46 7829,95 10406,60
Limeira 10504,28 7949,18 7865,70 7393,06 7446,55 7041,41 8157,62 8906,47 8818,49 13008,24
Lins 4829,80 3673,69 2949,63 2875,08 3350,94 4694,27 5438,41 6679,85 6613,87 7804,95
Marilia 4006,78 2475,29 2851,32 2464,35 2606,29 3520,70 4350,74 5294,40 5291,10 5203,31
Mogi das Cruzes 7607,48 7216,15 10795,65 9035,95 8109,30 7302,95 5922,43 5388,41 4801,67 4722,00
Mogi-Mirim 10504,28 7949,18 11798,53 9857,42 11169,84 12071,00 10876,82 16081,13 13227,74 14525,89
Orlandia 8025,82 3672,71 5899,27 5339,43 6701,90 8717,94 10876,82 13607,11 13227,74 15176,29
Ourinhos 4764,83 3270,22 3932,84 4107,26 4467,94 4694,27 5438,41 7422,06 8818,49 8672,16
Pindamonhangaba 4981,40 4789,63 5899,27 6160,88 5584,91 5364,89 4350,74 3958,44 3968,32 4336,08
Piracicaba 10504,28 7949,18 6882,47 5750,15 5212,59 5364,89 5982,25 9896,08 8818,49 9539,38
Presidente Prudente 4115,06 1326,19 1278,17 1150,03 1340,38 2011,83 3263,05 3463,63 2645,55 2211,40
Presidente Venceslau 4115,06 1326,19 1179,86 985,75 893,59 1475,34 1631,52 2226,61 1940,07 1582,67
Registro 2128,11 1443,36 2064,75 1478,61 1973,34 1676,53 1449,34 1484,41 1543,24 1300,83
Ribeirao Preto 6876,50 5534,22 6882,47 4928,71 6329,58 8047,33 7341,85 11133,09 12345,90 13658,67
Sao Joao da Boa Vista 10504,28 7949,18 5899,27 5339,43 5398,76 5700,20 5438,41 7422,06 6613,87 8672,16
São José do Rio Preto 5089,71 3018,68 3441,23 3285,80 3723,29 6035,50 5982,25 7916,86 7936,65 8672,16
Sao Paulo 5455,27 2505,54 18681,00 12732,49 14893,11 13747,51 8157,62 7422,06 6613,87 8888,97
Sorocaba 6497,50 4836,36 10323,70 8214,51 2978,62 4023,67 3263,05 4948,04 5291,10 8238,55
Tupa 4006,78 2475,29 1966,43 1642,91 1601,01 1676,53 1665,52 2350,32 2866,01 2384,85
Votuporanga 5089,71 4185,83 3932,84 4107,26 4467,94 5364,89 6254,18 7422,06 7936,65 8238,55
Média São Paulo 6009,15 4270,47 5475,58 4815,75 5124,73 5797,24 5898,88 7567,28 7521,05 8389,00
75
Mapa 4
76
Os preços médios da VTN por hectare em São Paulo, em valores reais,
período de 1994 a 2005, nítida relação com os preços crescentes das principais commodities
produzidas em São Paulo (laranja, boi gordo, cana-de-açúcar) (gráfico 6) e com o crescimento
das liberações de crédito rural no estado de São Paulo (gráfico 7). No que se refere a inflação a
trajetória dos preços não acompanha de modo constante o comportamento da curva. Observa-
inflexão negativa dos preços que acompanha a queda da inflação. Mas no período seguinte de
tendência mesmo com a redução da inflação, após 2002, permitindo inferir que a dinâmica dos
mercados agrícolas é que respondem pelo comportamento dos preços de terras no período
8.000,00 70,00
7.000,00 60,00
Preço Médio da Terra em Reais por Hectare
6.000,00
50,00
Preços em Reais (R$)
5.000,00
40,00
(R$/ha)
4.000,00
30,00
3.000,00
20,00
2.000,00
10,00
1.000,00
0,00 0,00
1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Grupo Diversificados Anos Cana-de Açúcar Preço da Tonelada
Commoditie "Boi Gordo" Laranja para Mesa
Laranja para Indústria
77
Preço da Terra por Grupo de EDR
x
Evolução do Crédito Rural
14.000,00 50,00
Bilhões
45,00
12.000,00
10.000,00 35,00
25,00
6.000,00
20,00
4.000,00 15,00
10,00
2.000,00
5,00
0,00 0,00
1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
12.000,00
Preço da Terra em Reais por Hectare (R$/ha)
20
10.000,00
Variação Anual da Inflação (%)
15
8.000,00
6.000,00
10
4.000,00
5
2.000,00
0,00 0
1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Anos
Curva de Preço de Terra por Grupo de EDR Cana-de-Açúcar
Curva de Preço de Terra por Grupo de EDR Diversificados
Curva de Preço de Terra por Grupo de EDR Laranja
Curva de Preço de Terra por Grupo deEDR Carne (Pastagem)
Curva da Variação Anual da Inflação
78
Preço da Terra por Grupo de EDR
x
Taxa de Crescimento do Brasil (PIB)
14.000,00 2,50
Trilhões
12.000,00
2,00
6.000,00
1,00
4.000,00
0,50
2.000,00
0,00 0,00
1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Anos
Curva de Preço da Terra por Grupo de EDR Cana-de-Açúcar Curva de Preço da Terra por Grupo de EDR Diversificado
Curva de Preço da Terra por Grupo de EDR Laranja Curva de Preço da Terra por Grupo de EDR Pecuária
PIB em Reais Correntes (R$)
queda. Este processo indica uma inflexão negativa nos preços médios do estado, em torno de -
19,9%, sendo que os EDRs com quedas significativas segundo os dados do IEA, são os EDRs
de Presidente Prudente, Dracena e Presidente Wenceslau com valores superiores -70%. EDRs
que passaram por processos de alteração de uso, tradicionalmente pecuário, para percentuais de
ocupação do setor sucroalcooleiro superiores a 70%. Por sua vez não é possível inferir sobre
um comportamento homogêneo para outros tipos de uso e ocupação do solo, embora regiões
79
Tabela 6 – Variação dos preços de Terra EDR
e estado de São paulo 1996/99 –
2000/05
EDR 96/99 00/05
Andradina -37,5 77,46
Aracatuba -14,3 72,53
Araraquara -32,1 81,97
Assis 20,7 81,97
Avare -49,4 119,72
Barretos -15,3 168,75
Bauru -40,5 147,47
Botucatu -31,7 109,63
Braganca Paulista -25,7 16,46
Campinas 29,0 -5,72
Catanduva -3,2 112,84
Dracena -70,1 73,12
Fernandopolis -29,0 82,28
Franca -29,3 118,36
General Salgado -19,7 111,74
Guaratinguetá -39,6 24,78
Itapetininga -36,8 66,37
Itapeva -45,7 149,56
Jaboticabal -4,4 96,69
Jales -19,3 49,73
Jau 2,0 123,60
Limeira -29,6 74,69
Lins -40,5 132,92
Marilia -38,5 99,64
Mogi das Cruzes 18,8 -41,77
Mogi-Mirim -6,2 30,05
Orlandia -33,5 126,45
Ourinhos -13,8 94,10
Pindamonhangaba 23,7 -22,36
Piracicaba -45,3 83,01
Presidente Prudente -72,1 64,98
Presidente Venceslau -76,0 77,11
Registro -30,5 -34,08
Ribeirao Preto -28,3 115,79
Sao Joao da Boa Vista -49,2 60,63
São José do Rio Preto -35,4 132,92
Sao Paulo 133,4 -40,31
Sorocaba 26,4 176,59
Tupa -59,0 48,96
Votuporanga -19,3 84,39
Média São Paulo -19,9 63,70
Fonte: IEA/SAA.
crescimento significativo, ao passo que EDRs com atividades familiares e novas atividades
80
Mapa 5
81
No mapa 5 verifica-se que as regiões tradicionais de exploração de cana de açúcar
trajetória associada a expansão do setor. Destaca-se ainda uma faixa noroeste-sul, que se
amplia ao norte (Orlândia, Franca e Ribeirão Preto) que embora reúna EDRs com atividades
A pesquisa de campo realizada nos anos de 2004, 2005 e 2006 apresentou preços
superiores aos apontados pelo levantamento do IEA (tabela 7). O valor médio dos preços do
Valor da Terra Nua (Terras de cultura de segunda) para o mesmo período em relação aos
82
terras na região do que apresentados nos dados do IEA e da pesquisa de campo, mesmo em se
campo apresentou taxa de crescimento muito superior (37,5%) ao apurado na análise dos dados
acompanha a trajetória de subdeclaração do valor da terra nua como apontado por Souza
(1999). A trajetória de queda relatada no período de 1994 a 1998, teve como justificativa,
pelos setores ruralistas que pressão dos movimentos sociais gerava situação de “insegurança”
para as transações imobiliárias na região, desconsiderando o fato de grande parte das terras
serem públicas.
Esta justificativa para os preços não se confirmou uma vez que os preços
apresentaram tendência de alta, mesmo para os dados do IEA, e os dados apurados em campo
influenciados pelos dados de Mogi Mirim sob forte expansão sucroalcooleira. Entretanto a
pesquisa de campo não confirmou significativa inflexão de preços de terras de segunda naquele
EDR, identificando uma trajetória média crescente dos preços, consolidando uma taxa média
Paulo.
Considerara-se que a trajetória dos preços esteve mais influenciada pelos fatores
internos da agricultura do que por fatores macroeconômicos, em que pese sua mudança como
83
ativo no período inicial do Plano Real, para um padrão de meio de produção o que não
representa uma posição de mercado simplesmente como reserva de valor, mas da acentuada
influência do dinamismo dos preços agrícolas e sobre sua valorização no período de 2000 –
dos preços de maneira geral, mas, sobretudo o processo de espacialização do setor produtivo
territorialização. Ainda que de forma diferenciada nos EDRs, essa espacialização se coloca
ganhos futuros.
4,5
4,0
3,5
Padrão Homog.
3,0
2,5
2,0
1,5
variação dos preços de terras entre 2000 e 2005 no estado de São Paulo, que obteve uma média
84
<0,05 (p value = 0,049). Na medida em que reduz o índice de homogeneização aumenta (a
escala é inversa), ou seja, aproxima-se de 1 e ocorre maior valorização dos preços das terras.
riqueza regional este é um fator de força imaterial do conceito de valor de troca (da terra) na
seu processo de produção do espaço. Essa natureza incorporada à vida humana, no âmbito de
suas necessidades, tem uma denominação em Marx de valor de uso. Uma categoria não
riqueza material. A terra apropriada no sentido mais geral de satisfação das necessidades
humanas.
e é subsumida pelo valor atribuído pela sociedade no âmbito das relações sociais de produção
(mercantis).
(1982), terra mercadoria como característica imediata das relações de produção. O valor de uso
se expressando como valor de troca (riqueza social), este é o valor da natureza no capitalismo
exploração, considerando que no sistema capitalista a natureza é ainda valorizada não apenas
pela sua transformação em mercadoria (terra e valor de troca), mas como meio de produção
85
Esta expectativa é que explica a velocidade das trajetórias dos preços e num
processo que suprime num primeiro momento fatores edáficos e locacionais. Ainda que a
trajetória ascendente não seja totalmente homogênea (mapa 5), mas tendencialmente, como
observado nos dados anteriores, ela confirma a lógica de especulação da terra que promove
internamente ao valor de produção. Tecnicamente pode ser concebido como receita bruta de
cada produto ou seu conjunto, resultado da multiplicação de seu preço específico ou médio
pela estimativa ou efetiva produção, com certas unidades de medidas diferenciadas (toneladas,
arrobas, litros, etc.) em uma mesma unidade de comercialização, de valor. (TSUNECHIRO &
MARTINS, 2006). Materialização de uma das três funções da moeda: padrão de troca.
humano sobre a natureza e sua conversão em riqueza material. Esta natureza humana, o
apropriação e constitui a partir daí o seu duplo sentido: de riqueza material transformando-se
em riqueza social. Marx (1982) denomina esse processo em constituição de uma “imensa
coleção de mercadorias”, onde esta riqueza tem um valor intrínseco às condições históricas que
86
está sobremaneira vinculada à matéria prima. O sentido que faz da agricultura uma atividade
valor de produção total, tendo como referência o ano de 2005, foram de São João da Boa Vista,
são Fernandópolis, Guaratinguetá, Marília, Mogi das Cruzes, Pindamonhangaba e Jales. Nestes
destes EDRs não tendem a ter problemas de concorrência de áreas de produção com o avanço
da cana-de-açúcar, por sua vez, em outras áreas com valores reduzidos, deve ocorrer pressão de
Araçatuba, Presidente Prudente e São José do Rio Preto apresentam a terceira maior faixa de
valor da produção entre R$ 700 milhões a R$ 1,05 bilhão, regiões recentemente ocupadas com
o setor sucroalcooleiro.
87
Tabela 8 – Valor da Produção por EDR e estado de São Paulo 1998 – 2005 (R$)
EDR 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Andradina 740.844.800,20 654.533.962,68 593.343.276,91 739.449.199,60 720.697.654,49 834.255.977,64 848.817.247,31 907.972.378,89
Aracatuba 788.978.761,95 757.037.446,20 800.549.197,47 786.705.513,90 736.769.742,02 871.141.862,78 902.383.909,00 949.289.868,02
Araraquara 1.705.836.946,32 1.252.027.518,22 1.300.153.457,21 1.564.768.025,81 1.504.771.485,95 1.449.641.112,02 1.361.472.437,79 1.437.840.313,78
Assis 1.059.808.740,05 1.011.584.384,66 878.699.683,34 1.073.179.034,08 1.013.939.779,95 1.180.065.589,68 1.154.214.374,56 1.023.497.473,96
Avare 673.771.179,08 645.178.137,59 555.302.904,00 629.394.890,92 637.759.447,50 731.906.393,45 745.750.372,34 715.160.490,41
Barretos 1.675.924.603,53 1.339.277.046,65 1.290.481.129,52 1.668.606.804,86 1.713.177.611,38 1.774.348.222,63 1.699.708.475,78 1.826.473.042,34
Bauru 610.239.641,84 464.348.970,71 504.463.902,49 529.912.511,97 495.808.891,92 528.412.766,11 549.792.245,23 569.893.027,17
Botucatu 529.560.124,07 523.984.251,13 584.007.204,13 585.457.603,81 539.657.120,10 680.576.928,72 702.574.529,63 745.980.032,05
Braganca Paulista 496.246.350,78 413.461.220,01 461.848.931,98 486.584.412,03 385.987.226,15 440.007.912,19 461.348.771,12 500.407.229,02
Campinas 591.906.689,35 472.861.451,45 551.266.461,89 540.980.706,65 489.146.696,09 552.874.172,51 604.895.915,63 630.642.826,40
Catanduva 888.407.640,47 805.129.931,99 813.465.861,20 899.282.151,91 941.817.325,37 921.273.454,96 937.316.616,61 992.632.664,56
Dracena 390.026.014,67 376.250.492,81 366.141.730,50 362.908.852,23 343.408.176,05 391.693.277,51 471.524.049,76 504.940.060,74
Fernandopolis 308.255.062,79 300.549.330,66 299.095.462,10 311.102.149,87 285.808.023,67 355.063.485,16 319.686.101,47 321.160.722,12
Franca 906.836.430,01 711.925.800,05 716.600.734,18 581.836.293,99 648.997.408,21 592.770.844,83 735.519.142,98 849.285.863,39
General Salgado 682.328.186,37 609.804.253,22 638.760.486,36 638.516.322,73 593.486.605,21 628.819.153,45 662.710.942,05 708.289.878,80
Guaratingueta 167.441.548,87 116.755.930,21 148.452.649,72 143.201.504,66 117.535.844,90 127.340.947,57 111.805.248,24 105.416.710,77
Itapetininga 867.941.708,53 667.508.500,28 650.777.753,82 786.865.279,98 792.117.620,19 864.488.532,04 873.465.719,64 1.004.220.793,88
Itapeva 704.565.340,38 555.276.790,60 552.744.770,45 590.709.506,48 686.313.458,65 742.930.376,83 704.956.925,71 801.114.850,54
Jaboticabal 1.404.624.814,90 1.131.778.358,89 1.138.967.354,12 1.308.482.269,94 1.326.485.354,41 1.353.794.137,09 1.316.651.178,45 1.454.654.046,32
Jales 409.072.456,07 387.930.734,94 382.763.843,23 390.573.239,14 392.028.091,90 414.406.655,14 405.025.586,35 382.875.330,72
Jau 1.020.846.994,56 768.163.223,13 909.588.861,16 1.028.207.308,38 961.476.143,67 972.985.079,61 1.049.091.349,25 1.167.369.235,45
Limeira 1.209.539.620,45 940.129.523,08 857.532.890,79 1.247.336.598,46 1.044.639.559,63 1.019.922.438,96 992.630.441,73 987.858.035,18
Lins 569.848.208,90 442.836.635,99 498.546.664,85 492.126.045,44 502.081.193,01 543.425.514,44 533.561.279,10 579.360.243,76
Marilia 412.737.960,61 352.391.525,73 366.095.288,75 288.026.529,78 307.728.675,57 325.542.448,54 330.237.831,90 322.784.255,16
Mogi das Cruzes 290.233.751,13 271.375.020,69 285.577.362,27 293.525.187,95 267.286.007,72 288.576.926,40 273.145.571,40 264.708.999,34
Mogi-Mirim 892.399.135,50 745.201.394,41 559.660.211,87 753.059.315,48 762.525.477,85 824.544.146,82 750.481.622,86 752.477.984,61
Orlandia 1.261.856.381,85 1.052.415.232,65 1.191.212.512,16 1.278.927.016,13 1.181.296.825,51 1.272.201.217,36 1.399.262.283,14 1.445.618.399,56
Ourinhos 664.128.861,82 581.368.235,19 653.270.991,45 599.741.451,70 571.134.741,40 686.458.487,32 705.121.068,82 748.387.782,60
Pindamonhangaba 315.339.544,15 210.076.789,57 221.231.533,47 212.938.083,23 217.998.313,99 264.814.654,47 227.782.304,80 208.529.600,58
Piracicaba 751.378.470,06 651.279.055,61 694.775.601,93 771.619.795,17 682.956.955,89 706.445.014,08 710.000.558,65 824.263.951,78
Presiden. Prudente 735.324.572,09 688.667.899,32 701.163.023,60 713.779.449,13 715.593.863,47 906.426.940,12 938.621.352,44 948.369.431,46
Presiden. Venceslau 441.633.142,27 400.476.677,04 442.922.454,98 421.821.974,96 401.620.660,67 482.360.719,54 474.245.441,48 524.664.221,54
Registro 514.957.571,97 398.941.391,52 420.548.156,95 411.913.410,77 299.598.507,55 415.304.349,15 439.561.275,36 455.324.558,04
Ribeirao Preto 1.298.630.835,70 1.052.045.172,35 1.303.467.899,43 1.203.930.231,76 1.102.740.782,17 1.090.119.003,75 1.178.643.038,74 1.311.431.016,31
Sao João Boa Vista 1.771.394.024,28 1.362.598.966,75 1.530.045.611,29 1.502.509.911,45 1.633.668.066,20 1.477.467.789,59 1.545.248.536,89 1.608.107.399,12
88
Sao Jose Rio Preto 941.921.382,78 944.998.363,00 773.701.211,30 821.509.555,34 873.665.545,80 888.913.882,39 926.389.570,48 947.736.041,87
Sao Paulo 131.672.866,95 99.206.140,27 123.096.843,94 116.269.494,69 90.092.250,23 97.174.748,15 111.436.060,60 67.858.231,28
Sorocaba 908.433.375,00 692.872.565,17 759.916.977,11 671.259.934,82 631.372.961,78 597.086.579,97 581.515.800,70 572.535.885,74
Tupã 540.918.494,82 507.231.658,05 589.978.131,90 561.017.370,82 686.534.741,33 822.512.682,14 761.950.098,19 760.177.733,84
Votuporanga 423.413.926,85 357.010.794,39 358.555.511,14 387.502.996,30 389.015.329,31 430.871.887,62 455.353.849,35 464.613.965,79
São Paulo 30699228162,31 25716492777,83 26468776536,74 28395539938,96 27688742170,20 29548968316,97 29953901130,60 31393926582,95
Fonte: IEA-SAA/SP.Valores Corrigidos IGP-DI 04/2007
89
Mapa 6
90
Mapa 7
91
O mapa 7 apresenta o valor da terra nua por ha e destaca o EDR de Andradina,
pequenas alterações nos tons de cinza, sem com isso mudar a lógica de valor e apropriação de
(Tabela 9), quando analisada por períodos, denota-se que também sob influência do Plano
Real, e marcado pela crise econômica do país, a primeira etapa analisada na pesquisa,
Baccarin (2005) sobre alterações nas estruturas de mercados e preços do setor agropecuário de
afetou a produção interna do ramo da agropecuária brasileira, como arroz, algodão, trigo e
leite, especialmente entre 1994 e 1998, quando a moeda nacional esteve valorizada”.
2005, o valor da produção apresenta uma trajetória de alta com patamares de 18% a 35% para a
região pecuária; média de 27,5% para a região sucroalcooleira, sendo que as taxas negativas ou
92
de reduzido crescimento se vincularam as regiões com atividades familiares e da franja
metropolitana, considerada aqui sob influência das novas atividades rurais. (mapa 8).
93
Mapa 8
94
Na análise por grupo de uso e ocupação predominante observa-se o crescimento
ambientalmente responsável.
Esse fator tende a colocar determinadas EDRs em situação diferenciada em relação ao processo
de produção de valor na agricultura. Observa-se ainda que as médias dos grupos 4 e 5 também
são influenciadas pelo avanço do setor sucroalcooleiro nestas regiões. (Tabela 10)
Tabela 10 - Valor da produção total e por hectare (ano 2005) e taxa média de
crescimento (2000-2005) por grupo predominante de uso do solo
Grupo Atividade EDRs Valor Total Valor Taxa Média
Produção Produção/ha Crescimento
(2000-2005)
G1 Cana-de-açúcar Andrad.- Piracic.- Rib. 1.196.783.005,00 3.049,09 15,5%
Preto
G2 Pecuária Guaratinguetá- Marília- 807.441.173,60 2.292,01 21,5%
Registro
G3 Citricultura Limeira– Ourinh. – 868.122.909,90 1.634,04 14,9%
Barretos
G4 Agric. Div. (Fam) Avaré- Jales- Lins 433.231.160,30 670,49 1,7%
G5 Novas Ativ. Rurais Brag. Paulista- Camp.- 465.253.018,20 1.171,20 5,7%
Mogi Mirim
e a variação do valor da produção no período de 2000 a 2005 e com o valor total da produção
95
Gráfico 11 - Padrão de Homogeneização / Variação Valor Produção 2000/05
4,5
4,0
3,5
Padrão Homog.
3,0
2,5
2,0
1,5
-50 -25 0 25 50
Variação Valor Produção 2000/05
4,5
4,0
3,5
Padrão Homog.
3,0
2,5
2,0
1,5
96
da produção para o período de 2000/05, quanto ao que se refere ao valor total da produção para
o ano de 2005.
hegemônicos, suas ações sobre o território e articulação com o Estado na recomposição do jogo
Embora seja oportuno registrar que essa disputa territorial estabelecida pelos
movimentos sociais de luta pela terra apresente equivocadamente uma convergência à “ceita
reconhecer uma postura adesista e fisiológica. Uma “religiosidade” sustentada pelo governo
(dos trabalhadores) que coloca a reprodução familiar numa lógica produtivista, de escala de
exclusão do campo.
É oportuno ainda observar que tal trajetória se coloca como desserviço ‘a reforma
açúcar degrada o ambiente), o que exige perguntas sobre a mudança da palavra de ordem na
luta pela terra: “terra para quem trabalha nela/ terra para quem ela arrenda”. Essa é a
97
Neste embate, para se ter consciência do caráter de antiteticidade das formações
Araraquara São Paulo, que estavam em situação irregular na preservação das áreas verdes e/ou
Desta feita, cabe por último considerar que todo esse processo de alteração do
valor e do sentido de valor (para os movimentos sociais) está sendo conduzido pela lógica dos
natureza.
nos países periféricos pelo agrário. O valor da produção quer transparecer um valor social de
paulista poderia finalizar esse processo reflexivo não fosse considerar que um outro elemento
pernicioso à sociedade se constitui no rompimento do contrato fiscal por meio da elisão fiscal
como vivência (dada a desterritorialização que ela enseja); do rural como produção e
reprodução social (dada sua vinculação como concentração de renda); e da resistência à gestão
98
Neste sentido o processo de concentração de terra no Brasil revela uma situação
índice de Gini, como medida de desigualdade, permite identificar esse processo de exclusão e
foram calculadas com base na Tabela 1 (Lei do ITR, 9393/96) aplicados a área e número de
Unidades de Produção Agropecuária dos 40 EDRs do estado. Coloca-se como objeto de análise
produtiva.
produtivo corrobora para o processo de concentração fundiária e mesmo em áreas com práticas
em alguns países: Austrália, EUA, Nova Zelândia, por exemplo. Considerando, ainda, que a
medida de distribuição sobre a posse geraria resultados de maior desigualdade dos que
agricultura. Exemplo concreto é a citricultura onde cinco grandes processadoras detêm total
rural e da propriedade de produção agrícola paulistas. Esta questão já foi objeto de regulação
99
com o sistema de quotas do IAA e o Estatuto da Lavoura Canavieira (Decreto Lei nO 3855, de
concentração fundiária pelas usinas. Segmento que realizou pressões para alterações nos
10 de setembro de 1946) que em seu artigo 5 O permitiu às usinas utilizar lavouras próprias em
até 50% do aumento das quotas concedidas, um processo que segundo Ramos (1999),
desequilíbrio sócio-espacial, uma vez que seus reflexos extrapolam o território rural.
índices de concentração. Embora esta seja uma forte tendência no campo brasileiro, alguma
reduzida diferenciação foi identificada nos EDRs de Jales, Bragança Paulista e Mogi das
Cruzes com os menores índices de concentração. Destacando que os três municípios reúnem
100
um padrão de ocupação de atividades diversificadas familiares e novas atividades rurais. Os
maiores índices de concentração estão nos EDRs de Ribeirão Preto, Andradina e Presidente
apenas duas classes entre 0,501 - 0,700 e 0,701 - 0,900, concentração média a forte e forte e
101
Mapa 9
102
Um padrão de alta concentração que se agrupa em termos de unidades territoriais
em 31 (77,5%) EDRs do estado na classificação de forte e muito forte, e que em termos de área
total atinge 86% do território paulista, revelando a gravidade desse processo. (Mapa 9).
Observa-se ainda que os EDRs com as maiores taxas de crescimento do valor da produção total
M ean 0,73625
S tD ev 0,06274
V ariance 0,00394
S kew ness -0,240779
Kurtosis -0,191956
N 40
M inimum 0,59000
1st Q uartile 0,70000
M edian 0,73000
3rd Q uartile 0,79500
0,60 0,66 0,72 0,78 0,84 M aximum 0,86000
95% C onfidence Interv al for M ean
0,71618 0,75632
95% C onfidence Interv al for M edian
0,72000 0,75589
95% C onfidence Interv al for S tD ev
9 5 % C onfidence Inter vals 0,05140 0,08057
Mean
Median
segue um padrão mediano que concentra a maior parte dos EDRs do estado com alto valor de
Gini.
acompanham a classificação do índice de Gini, à exceção de São Paulo e dos EDRs de Mogi
das Cruzes (25,4ha), Campinas (29,9ha) e Bragança Paulista (32ha) que reúnem as menores
103
Wenceslau (167ha), Andradina (142,1ha) e Orlândia (125,4ha), reforçam nossa análise acerca
do papel concentrador das atividades rurais hegemônicas no estado de São Paulo.(tabela 12).
104
Na análise dos grupos representativos de ocupação do solo, de acordo com a
pequena redução no índice de GINI para o G4 e G5, sobretudo o último. Os tamanhos médios
das UPAs dos grupos também são elevados, mesmo para as áreas com presença de agricultura
familiar.
Tabela 13 – Índice de concentração fundiária e tamanho médio das UPAs por grupo
predominante de uso do solo
Grupo Atividade EDRs Índice de Tamanho
Concentr. Médio UPAs/
Fundiária ha
G1 Cana-de-açúcar Andrad.- Piracicaba- Ribeirão Preto 0,83 122,0
G2 Pecuária Guaratinguetá- Marília- Registro 0,75 91,1
G3 Citricultura Limeira – Ourinhos -Barretos 0,75 79,60
G4 Agric. Div. (Fam.) Avaré- Jales- Lins 0,72 84,6
G5 Novas Ativ. Rurais Bragança Paulista- Camp.- Mogi Mirim 0,65 37,4
Cabe considerar que estes dados revelam uma constante no que se refere à
concentração, pois a análise de Hoffmann & Graziano da Silva (s.d.), apontam para índices no
Agropecuário de 1995/1996, sendo que o índice total paulista nos Censos foi de 0,778 (1975);
0,774 (1980); 0,772 (1985); e invertendo a trajetória passou para 0,760 o que gerou por parte
dos autores a discussão se a alteração da metodologia não permitiu capturar as atividades rurais
(posse) “transitórias”, respondendo pela redução do índice. O total apontado nesta pesquisa,
105
Nota-se que a curva apresenta uma relação direta entre a redução da homogeneização e o
4,5
4,0
3,5
Padrão Homog.
3,0
2,5
2,0
1,5
009 (Gráfico 14). Estabelecendo a correlação de Pearson para os gráficos 15 e 16, verifica-se p
value 0,022 e 0,089, respectivamente, indicando apenas correlação a p < 0,05, no gráfico 15.
dos valores da terra e produção para o período de 2000/05. Os altos valores de concentração
propriedade, significa dizer que uma análise sobre a posse apresenta índices concentracionistas
106
Gráfico 15 - Variação do Vlr. Terra (2000/05) / Índice Conc. Fundiária (EDR)
200
100
50
-50
0,60 0,65 0,70 0,75 0,80 0,85
Índice de Concentração Fundiária
50
25
-25
-50
0,60 0,65 0,70 0,75 0,80 0,85
Índice de Concentração Fundiária
efetivo domínio sobre o território abrem caminho, com suas complexas estruturas produtivas,
para a apropriação definitiva da terra, como estratégia, como “cultura organizacional” destes
107
Consolida-se assim o processo de homogeneização, em plena démarche
preconizada pela transformação do valor de uso (valor material) da terra em seu valor social
(mercadoria), alterando a variação do seu preço sob a lógica da demanda por apropriação como
108
4. O imposto territorial rural no estado de São Paulo
fiscal. Estes conceitos (tributação e federalismo) devem ser compreendidos à luz de dois
cujos movimentos de ruptura foram sensivelmente marcados pela mão forte do Estado
unitário, sendo sabido que no caso do federalismo fiscal esta questão não foi menos
importante (SOLA, 1994). Assim o Imposto Territorial Rural parece seguir esta lógica de
setores ruralistas e seu envolvimento na tessitura social. Assim, quando muito (ou pouco) se
avança com os objetivos extra-fiscais que incentivam o “uso e ocupação do solo”, mas sem
109
sociedade na consolidação da ação fiscal no processo de gestão sócio-territorial. Tais
1989).
deve ser imposta aos grandes proprietários de terras e aos capitalistas do setor agrícola.
municipal. Esta se coloca em oposição a dimensão de objetivos pouco eficazes nos incentivos
estabelecendo reduções de alíquotas para unidades rurais com maior perfil de produtividade
(imóveis rurais e urbanos) era da competência estadual. Pelas Constituições de 1934 e 1937,
a propriedade rural continuava sendo tributada pelos Estados, enquanto os imóveis urbanos
110
dos municípios na receita dos impostos, embora permanecesse inalterada a tributação da
parcela dos recursos tributários das diversas unidades da federação, embora constituísse
tributação e as diferenças entre as taxas das unidades federativas evidenciavam que o tributo
mantinha-se vulnerável às influências políticas regionais, o que não se fez menor quando da
1989).
Vilarinho (1989) mostra a recente experiência da sua cobrança pelo município foi
Imposto da esfera Estadual para a Municipal e afirma ainda o autor que poucos municípios
111
manutenção de cadastros territoriais confiáveis, o uso indiscriminado de taxações
base institucional que permitiria a utilização do Imposto Territorial Rural pela União, como
Tendo como fato gerador a propriedade, domínio útil ou posse do imóvel rural,
o ITR, na sua formulação inicial, foi idealizado sob a concepção de que o imposto é uma
declarada pelo contribuinte, embora pudesse ser impugnada pelo INCRA, quando inferior a
básicos que influenciavam a fixação das alíquotas tinham como objetivo diagnosticar as
tributação progressiva que evitasse o uso meramente especulativo da terra. O imposto incidia
sobre os imóveis com área superior a 25 ha e a alíquota básica do ITR, de 0,2%, era
3
Os coeficientes previstos eram: a) coeficiente de dimensão, estabelecido em função do número de módulos do imóvel,
variando de 1 a 4,5; b) coeficiente de localização, estabelecido em função da proximidade do imóvel dos centros de
consumo, variando de 1 a 1,6; c) coeficiente de condições sociais, estabelecido em função da natureza da posse da terra e
112
Segundo SILVA (1986), na proposta original do Estatuto da Terra, a alíquota
acabaram por recolher bem menos, na medida em que subdeclaravam ou não precisavam as
informações, sem considerar os casos de inadimplência. Mesmo a partir de 1979 com a Lei nº
valor da terra nua; b) a área do imóvel rural; c) o grau de utilização da terra na exploração
junto ao INCRA, ou da Secretaria da Receita Federal (SRF), que só viria ser realizado no ano
fiscal”, definido como uma unidade de medida, expressa em hectares, para cada município
brasileiro.
dispositivos de estímulo fiscal que reduziria o valor do tributo até o percentual “máximo” de
condições dos contratos de trabalho, variando de 0,4 a 1,6; d) coeficiente de produtividade, estabelecido em função das
condições técnico-econômicas, variando de 0,4 a 1,5.
113
90%, conforme a eficiência e o grau de utilização da terra. Ao mesmo tempo previa
agravantes do imposto para o caso de não haver uma utilização mínima da terra, definida
imposto, além de não ter o Imposto Territorial Rural apresentado os resultados esperados em
conservava uma série de falhas, tendo mesmo criado novas distorções ou agravado algumas
já existentes. Até 1982, o INCRA detinha o percentual de 20% do ITR arrecadado, com o
(VILARINHO, 1989).
imposto. Assim, a corrosão dos valores arrecadados somou-se a uma administração fiscal
Isto reforça uma convicção de que o Estado de direito pouco representa para
implementação de um imposto sobre propriedade rural para estimular o melhor uso produtivo
4
Estes mecanismos trouxeram complicadores ao INCRA, uma vez que não tendo recursos próprios para administrar
a arrecadação do imposto, reduziu sua capacidade de atualização dos dados e fiscalização.
114
das terras subtilizadas ou ociosas tem estado na ordem do dia ao longo de décadas. No
entanto, a história mostra que não é tão fácil cobrar impostos sobre terra devido a pressões
fiscalização das declarações. Esta fiscalização poderia ser feita por meio de pesquisas locais
por amostragem dos grandes imóveis e por meios de imagens de satélites ou de outras formas
indiretas. Além disso, a comparação dos preços da terra na declaração do ITR e do Imposto
terra nua, a ser cobrado anualmente. Conforme estabelecia o Estatuto da Terra, a base de
benfeitorias, era aquela declarada pelo contribuinte, embora pudesse ser impugnada pelo
INCRA, quando inferior a uma base mínima estabelecida. (Vilarinho, 1989). Constituiu-se
esse fator, por curto período, no grande avanço das legislações recentes sobre o tributo.
No ano de 1994, uma nova lei sobre o ITR foi elaborada e que apesar de
algumas alterações, estava muito aquém do desejado frente à tributação, pois representou
1995). Um ponto central da nova legislação refere-se ao Valor da Terra Nua mínimo
(VTNm) que passava a ser arbitrado pela Secretaria da Receita Federal (SRF) (SOUZA,
1999).
115
Nesta legislação também se achava presente a relação entre o tamanho da
propriedade, o grau de utilização da terra e o Valor da Terra Nua (VTN) a ser declarado,
avanço. Um avanço que setores progressistas afirmaram ser o máximo possível a ser
sobretudo, com o acordo realizado junto às lideranças dos partidos que veio permitir ao
municipalização, por exemplo, a de que o Governo Federal não tem estrutura para
rural elaborado a cada cinco anos e centralizado em Brasília. (COUTO, 1995, SOUZA,
1995).
tributária, assinada pelos Ministros Nelson A. Jobim (Justiça), Pedro S. Malan (Fazenda) e
José Serra (Planejamento), a argumentação foi pela transferência aos Estados. Textualmente:
competência da União, para os Estados. Este imposto sempre foi pouco explorado pelo
governo federal, seja como fonte de receita, seja como instrumento de política econômico-
116
social. Admite-se que os Estados, dotados de maior capacidade de fiscalização em seus
economias e os dados fiscais do ICMS (sobre a produção agropecuária). Com isso poderão
dar pleno cumprimento ao preceito básico do ITR – taxar mais do que proporcionalmente as
FAZENDA, 1996).
posteriormente sua transformação em Lei fez com que o ITR permanecesse junto à União. O
elemento fundamental desta Lei, incorporado da Lei 8847/94, é a fixação do VTNm, para o
O governo para o ano seguinte, em 1997, resolveu não editar nova tabela
checagem dos dados pela SRF com as declarações de renda, e que estes valores seriam os
Destaca-se que este argumento é pouco válido para o estado de São Paulo, onde
Trabalhadores Rurais Sem Terra para realizarem Programas de Reforma Agrária, cuja lei
Paranapanema, onde a maior parte das terras é devoluta. Por sua vez, para essas terras o saldo
5
O valor da terra nua mínimo arbitrado para o ano de 1996, foi definido pela Instrução Normativa, nº 058, de 14 de outubro
de 1996.
117
valor da propriedade é retirado o valor da terra subdeclarado, superestima-se os valores de
ausência de ações de controle por parte da SRF nos preços de terras o que poderia representar
maior valor de contribuição do tributo nas receitas municipais e federais. O mesmo ocorreria
no caso de execução de dívida ativa, em longo processo judicial, com resultados poucos
convincentes.
Com a nova lei as alíquotas se alteraram, uma vez que a maior alíquota para o
menor percentual do Grau de Utilização da Terra (GU) da lei anterior (8.847/94) atingia
6,4%. No entanto, algumas questões ainda ficaram em aberto, tais como a ausência de uma
estabilização monetária que reduziu sua importância como ativo, sua baixa liquidez, foram as
alegações do setor fundiário para fugir a nova legislação. Considera-se que, gradativamente,
a própria legislação tenderia a flexionar a curva de preços para baixo. Há, no entanto, a
criação de mecanismos para fugir dessa tributação: por meio do grau de utilização da terra
Existem ainda alguns casos particulares neste processo, no estado de São Paulo,
tributo - definida pela IN 058 (14/10/96) da Secretaria da Receita Federal, eram coletadas
fortalecida pelo conflito fundiário. Os valores apontados na VTNm de 1996, têm como média
6
AZEVEDO FILHO, ªJ.B.V. & MARTINEZ FILHO, J.G. Análise do novo ITR. Preços Agrícolas. Piracicaba, 11(123):24-
32, jan/97; SOUZA, J.G, Preço da terra cai 60% em dez anos. UNESP RURAL, Jaboticabal, 2(9):15-16, 1998.
118
a importância de R$ 409,00 por hectare, uma das mais baixas e extremamente diferenciados
dos valores apontados por Souza (1999), com valores superiores a R$700,00 nos EDRs da
de luta pela terra, dentre eles o MST, por conta de suas ocupações, desvalorizam as terras,
lógicas de apropriação dos recursos públicos nos processos de indenização por ocupação de
nos mercados regionais, estão em um patamar superior aos apurados pelo IEA, e que mesmo
em áreas com problemas jurídicos para a comprovação de titularidade (terras griladas) não
tendo em vista que no ano seguinte o governo deixa de arbitrar a VTNm. Segundo Souza
(1999) esse processo promoveu uma renúncia fiscal por parte do governo federal da ordem
de 40% sobre o valor total do tributo a ser arrecadado no período de 1996 a 1998.
no processo de composição das receitas públicas. Por sua vez, os municípios apresentam
poucas estratégias de controle e fiscalização das arrecadações sobre a terra rural, pois ainda
tributário brasileiro apresenta. Borges e Souza (2007). apontam que as receitas públicas são
tributário brasileiro se refere ao número de impostos o que exige uma grande estrutura
119
administrativa e de fiscalização, tornando alguns tributos pouco atrativos para a esfera
federal, seja por suas particularidades fiscais ou pela reduzida expressão de sua receita, como
é o caso do ITR.
três esferas de governo são nitidamente regressivas e que o resultado de arrecadação no item
representa 71% do total das receitas, enquanto os impostos sobre a renda e a propriedade
atingem apenas 17% do total. Concluem os autores sobre a reduzida importância atribuída ao
ITR, que comparece agregado em “Outros impostos sobre a renda e a propriedade”, inferindo
que com base nos valores apresentados no resultado nominal das receitas do governo geral,
ano 2004, o ITR não superou a casa de 3 bilhões de reais, cerca de 0,9% do total arrecadado.
120
4.3. Arrecadação e elisão do ITR no estado de São Paulo
São Paulo refere-se a sua reduzida importância na composição geral das receitas públicas.
Nacional (STN) aos 645 municípios paulistas, para cada ano (1998-2005), posteriormente
agregados por EDR e corrigidos com base no IGP(DI) – FGV, abril 2007.
fiscalização do ITR uma vez que para o período total (1998/2005) ocorreu uma queda da
questão dos movimentos sociais e valor da terra ele se espelha no fato de que os anos de
maior organização e luta (1994-98) produziu os maiores níveis de arrecadação do ITR em sua
A luta pela terra, a disputa pelo território, ou melhor, o campo como espaço de
exclusão, contribuiu sobremaneira para práticas fiscais mais realistas, quiçá fosse possível
e cooptação dos movimentos sociais pelos governos. Marx (1984) em Crítica do Programa de
Gotta auxilia claramente nesta questão ao afirmar que não é o estado que deve “educar” a
121
Tabela 14 – Valor das Arrecadações do ITR por EDR e estado de São Paulo 1998 – 2005 (R$)
EDR 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Andradina 3970380,50 2362278,65 1844107,61 1400037,97 1609844,18 1297871,80 1215924,37 1164989,09
Aracatuba 5426166,99 3675605,74 3354997,61 2722819,67 2379115,03 2499765,90 2068987,17 2236459,60
Araraquara 2939141,87 2031483,06 1553395,96 1168349,78 1064517,48 1100200,18 1268934,61 1114418,06
Assis 4725299,72 3578400,73 2291859,44 2365405,70 2300441,39 2343796,54 2461051,59 2066091,13
Avare 2913160,44 1990487,16 1519696,41 1271023,05 1128935,41 1050612,46 1008269,09 945881,45
Barretos 6879495,07 4584916,98 3637351,42 2883134,78 2509316,78 2841456,66 2639778,75 2601834,05
Bauru 3257213,66 2045285,09 1699875,41 1308334,77 1253337,38 1225564,93 1119899,87 1104888,72
Botucatu 3014796,30 2053459,82 1675124,06 1325253,73 1257715,53 1262620,86 1485636,39 1172075,75
Braganca Paulista 2484594,36 1607286,92 1370796,89 1118621,71 1315895,22 948804,59 894626,36 956801,30
Campinas 6551347,80 4564268,62 4160097,70 3155850,31 4081542,40 3356687,18 3294615,83 3793941,26
Catanduva 2682098,68 1743794,30 1827768,06 1320692,50 1086788,04 1057882,80 1043062,79 996069,68
Dracena 1931977,32 1276269,52 1009897,77 764460,51 824680,86 739378,97 736343,91 668232,27
Fernandopolis 1128419,74 891578,35 630937,97 512967,39 510650,91 479419,21 496006,15 462211,46
Franca 2475411,70 1533727,95 1213986,66 972256,59 870910,84 933164,61 1859916,40 889822,35
General Salgado 2761100,17 1994669,96 1458492,56 1182357,52 1038658,41 1147893,68 1143825,62 1078387,08
Guaratingueta 1093245,81 627260,31 535972,01 399966,38 529573,18 414899,87 580098,28 403179,12
Itapetininga 3601374,03 2630667,66 1858689,18 1665444,22 1672617,30 1535478,67 1420724,07 1445541,03
Itapeva 2954368,17 2420813,14 1760860,92 1429549,13 1532490,77 1457899,51 1364593,52 1235316,06
Jaboticabal 4015419,88 2138922,92 1902473,28 1697082,81 1503821,38 1497386,69 1336341,25 1371625,45
Jales 1236964,73 790199,04 603464,52 530209,43 419925,04 412598,05 417906,69 398992,77
Jau 4285017,72 2790480,71 2227243,70 2065230,10 1624368,67 1632553,11 1237123,45 1771028,03
Limeira 3766352,71 2316586,55 2080588,98 1657682,87 1656692,30 1574354,36 1510242,03 1486045,40
Lins 2489595,27 1841264,38 1495500,78 1121652,46 1039803,62 896582,69 915858,26 952136,81
Marilia 1892691,79 1366525,83 1405436,87 720239,90 764684,97 712875,87 742138,07 651512,46
Mogi das Cruzes 1896399,99 1317392,17 1193689,73 948710,22 1168918,25 789469,65 801170,16 774367,59
Mogi-Mirim 3056954,31 1788505,01 1837337,86 1662893,80 1467105,25 1241959,69 1158745,37 1021179,40
Orlandia 5088352,91 3353834,44 2630320,42 2073898,42 2057667,27 3963039,91 2836836,04 2746724,88
Ourinhos 2295805,38 1364413,08 1099765,18 868986,85 863996,62 888273,66 963203,61 924761,40
Pindamonhangaba 2968604,41 1821849,29 1345142,60 1188910,93 1440575,12 1030834,80 1183631,11 1132480,80
Piracicaba 3360774,57 1906851,90 2664043,07 1446738,21 1242702,59 1105699,43 1136637,79 1103983,08
Presiden. Prudente 3224824,49 2336707,31 1707848,48 1339293,87 1271662,12 1313416,11 1233550,45 1298995,38
122
Presiden. Venceslau 2611242,48 2110947,32 1533708,74 1188098,03 945317,38 904865,90 987758,91 899526,85
Registro 1322159,86 680034,47 615818,16 540060,86 785686,28 517848,76 657785,63 442146,49
Ribeirao Preto 6200741,85 3592396,18 3247530,31 2541744,70 2313597,11 3579951,09 2644340,14 2946357,80
Sao João Boa Vista 3390570,42 2262644,05 1863423,28 1499719,43 1340850,66 1239725,75 1093686,06 1141942,73
Sao Jose Rio Preto 3008329,23 1818660,60 1363120,49 1185751,77 1178638,38 1313179,14 1073973,81 1090779,21
Sao Paulo 4519786,77 2926691,10 2538524,54 1987884,67 3753208,85 2262200,27 2776782,95 2335532,75
Sorocaba 4643717,09 2933908,21 3633843,01 2036829,73 2504992,90 1865553,94 1970468,30 1647131,90
Tupã 1560790,01 929141,64 768769,01 577424,12 569181,57 515232,70 570241,67 548566,54
Votuporanga 1674566,99 1387299,66 1027772,04 834587,25 842946,12 744487,02 780904,40 731079,98
São Paulo 129299258,57 85387512,30 72189275,76 56680158,89 57723375,78 55695488,32 54131622,27 51753038,19
123
Gráfico 17 - Valor da Arrecadação ITR (EDR) 2005 (ha)
A nderson-D arling N ormality Test
A -S quared 7,58
P -V alue < 0,005
M ean 3,4940
S tD ev 4,8411
V ariance 23,4363
S kew ness 4,2306
Kurtosis 19,3730
N 40
M inimum 0,7100
1st Q uartile 1,6075
M edian 2,1250
3rd Q uartile 3,4025
0 8 16 24
M aximum 28,3100
95% C onfidence Interv al for M ean
1,9457 5,0423
95% C onfidence Interv al for M edian
1,7982 2,9114
95% C onfidence Interv al for S tD ev
9 5 % C onfidence Inter vals
3,9656 6,2161
Mean
Median
terras e crescimento do valor da produção, praticamente toda parte oeste do estado a exceção
de Assis e Araçatuba, não atingiram uma arrecadação de R$ 2,00 por hectare. Apresentando,
valores da produção e do valor arrecadado por hectare nos EDRs (Tabela 15) indica maior
correlação contributiva no EDR de Assis, uma que vez que o valor arrecadado frente ao valor
124
Mapa 10
125
Assim o que se observa é que as práticas de subdeclaração não se diferem muito
da forma de ocupação e uso do solo (Jales, 0,10% e Presidente Wenceslau 0,17%) embora
pode se fazer uma correlação entre tais perfis com as altas taxas de concentração fundiária
enquanto tendência.
sucroalcooleiro observando pela ordem crescente São João da Boa Vista, Tupã e Araraquara
(0,07%), Jaboticabal (0,09%), esse último que apresenta o segundo maior valor de produção
do estado.
126
Estes elementos demonstram o comportamento do tributo frente a trajetória dos
arrecadação do ITR.
anual do período 1998/99, verifica-se inflexões negativas nos EDRs de todo o estado de São
Paulo. Observa-se que para esse período a média do estado encontra-se no patamar negativo
de -34% e que os EDRs com as maiores taxas negativas, em média, estão vinculadas às
apresentaram queda média de -36,3%, ao passo que o EDR com maior presença de
agricultura familiar Avaré (-31,7%), acompanhou a média do estado (-32%). (tabela 16).
pouco acima da média do estado, indicando que os dados têm uma distribuição quase
apresentam superiores a média paulista de queda do valor da terra nua (-19,91%). O processo
acaba refletindo uma tendência de crise vivida no setor agropecuário de maneira geral,
todo país.
Não obstante, é o período posterior que chama mais atenção uma vez que o
média paulista atinge -28,3% e as regiões tradicionais sucroalcooleiras uma faixa de queda
-31,8, fortemente influenciado pelos números do EDR de Piracicaba mas que se associam a
127
outros EDRs, não definidos como representantes do G1, mas com alta taxa de ocupação de
Base: STN/MF.
128
Mapa 11
129
As áreas de pecuária com o patamar de queda de -31,4%. Avaré, Jales e Lins
com uma média de -36% e o grupo 5 (novas atividades rurais) com um percentual de -27,8%.
trajetória dos preços de terra e do valor da produção nestas regiões e considerando apenas
fixação do VTN mínimo que permita identificar mecanismos de elisão fiscal como serão
4,5
4,0
3,5
Padrão Homog.
3,0
2,5
2,0
1,5
130
Gráfico 19 - Índice de Conc. Fundiária / Variação Arrec. ITR EDR (SP) 2000/05
0,85
0,80
0,70
0,65
0,60
Os gráficos não apresentam correlação significativa a p < 0,10, e tal processo se estabelece
pelos elevados níveis de concentração fundiária e tamanho médio das UPAS nos EDRs e que
para a relação a outras variáveis (tamanho médio, % partic. atividades familiares, p. ex.).
projeção de arrecadação do ITR, tendo como referência a base de dados apurados por Souza
(1999), para cada município paulista. A tabela 17, abaixo, demonstra, a título de exemplo, as
informações de área total, área isenta, área das propriedades inferiores a 30 ha que foram
131
Tabela 17 – Base de dados para cálculo de projeção do ITR – Município Agudos (SP)
(LUPA 1996).
Área Área Área Área Área de Grau Classes Área Alíquota
Total Isenta Utilizável excluída Cálculo Utilização (Lei 9393/96) do ITR
(ha) (ha) (ha) 30 ha (ha) (%) (ha) %
5920,3 687,8 5231,5 3.299,20 1933,3 98,64 Até 50 (0,03)
15132,2 1527,7 13577,5 - 13604,5 99,79 Maior que 50 até 200 0,07
21179,1 2785,9 18372,2 - 18393,2 99,93 Maior que 200 até 500 0,10
18132,3 2059,4 16050,3 - 16072,9 99,88 Maior que 500 até 1000 0,15
40613,5 7172,3 33421,2 - 33441,2 99,96 Maior que 1000 até 5000 0,30
13580,8 2272,6 11308,2 - 11308,2 100 Maior de 5000 0,45
Fonte: Souza (1999).
terra nua apurados pelo IEA. Reforça-se aqui o fato que estes dados são subestimados. Em
primeiro lugar por terem sido excluídas todas as propriedades com área inferior a 30 ha,
áreas urbanas e, portanto com maior valor imobiliário; em segundo lugar se considerou todas
as terras como de cultura de segunda, bem como a utilização da mediana que dada a
Com base na tabela abaixo se verifica que as projeções para o ano de 1998,
efetivamente arrecadado, conforme apresentado na tabela 14, que atinge para esse ano o
abaixo dos valores do mercado terras e sensivelmente abaixo dos valores declarados pelos
proprietários rurais e, por outro, que as projeções apontadas neste trabalho colocam-se em
patamares subestimados.
descendente de todos os fatores agrícolas analisados atingindo até o ano de 2000, o valor de
ordem de 89,9%, indicando que esta inflexão positiva na projeção inicia-se a partir de 2001.
132
Tabela 18 – Projeção de Arrecadação do ITR por EDR – São Paulo 1998-2005 (R$)
EDR 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Andradina 2453379,91 2157634,50 2347109,77 2972431,15 2856930,72 3411607,16 4343030,31 5694614,37
Aracatuba 2453379,91 2157634,50 2347109,77 2972431,15 2856930,72 3411607,16 4343030,31 5694614,37
Araraquara 4072360,02 3683669,81 3642862,48 4374183,43 4212419,65 4034305,59 5392520,26 5629852,33
Assis 2238308,51 2877029,61 3651278,89 3757966,74 3047553,39 5198958,40 7721405,05 6985814,84
Avare 2753657,54 2073915,53 2005358,63 1917914,33 1885631,46 2415175,42 4452800,07 4816800,23
Barretos 4982996,18 5314416,76 4817585,69 4700091,64 5864007,69 8002894,50 13074341,62 11688536,55
Bauru 2946283,57 2022667,13 2139166,28 2201664,59 1897067,66 3248965,07 3618975,56 4804547,07
Botucatu 2732024,08 2743496,41 2685963,60 2239717,67 2361224,61 3305101,47 3721495,88 4344510,61
Braganca Paulista 1081282,53 1035335,18 1001967,31 946390,03 771019,77 701498,02 914764,62 1076123,92
Campinas 1305014,43 2208227,02 2057813,84 2366094,74 2192934,80 2078333,70 2296510,19 2440532,65
Catanduva 1389368,93 1502763,83 1634726,56 1778881,58 2984707,74 2987136,80 3629822,22 4204181,78
Dracena 987878,91 678200,21 617946,68 690041,14 812090,31 787737,86 1160584,56 1181920,29
Fernandopolis 1072148,53 942905,19 940231,49 1106534,29 1404565,33 1561897,10 1644882,33 2488596,41
Franca 1665286,64 1905914,79 2073236,05 1867122,90 1766529,27 2755278,34 3069070,57 4024188,67
General Salgado 2585715,00 1989766,68 2319101,71 2552621,95 3387409,05 3595628,93 4577293,08 5101513,41
Guaratinguetá 802580,86 693119,27 663041,56 949951,20 583284,64 600782,93 847658,92 1009085,27
Itapetininga 3397760,65 3519941,47 3190871,25 4023010,41 2796446,47 4240488,04 3967677,60 5202453,23
Itapeva 1577381,02 1626009,79 1179198,67 2064896,22 2392230,55 2611827,63 5042753,36 5722014,80
Jaboticabal 2258115,20 2401141,16 2487622,16 3150368,25 3633544,14 5268798,43 6444227,10 6337256,42
Jales 852955,12 843900,96 850011,27 1071683,53 1241567,43 1355541,57 1509921,04 1880829,67
Jau 2164781,37 2972308,67 2694435,23 2527612,97 3279690,27 2983965,27 4121516,88 4701413,51
Limeira 3613801,89 3057478,46 3118094,91 3120049,93 2656759,87 3453152,01 3692566,51 4034767,73
Lins 2390551,84 1641149,10 1735674,03 2009680,46 2535215,29 3295170,49 3964085,40 4331456,47
Marilia 1401205,07 1380081,10 1294198,40 1359759,77 1654074,59 2293230,17 2733206,31 3014414,17
Mogi das Cruzes 416361,51 840110,12 762550,55 762262,30 585569,49 651404,59 593687,77 674803,85
Mogi-Mirim 1708897,90 2168732,58 1965983,39 2213119,67 2153712,78 2177237,77 3152758,38 2861946,92
Orlandia 2966354,84 3330828,01 3220197,07 4078799,41 5002218,46 6687781,26 8194386,20 8789354,57
Ourinhos 1587111,47 1632000,28 1849292,71 1998486,61 1890815,59 2457605,78 3284998,77 4307679,68
Pindamonhangaba 2099695,15 2211242,52 2505644,93 2256496,01 1951938,25 1775934,76 1582553,46 1750828,26
Piracicaba 2883749,65 2134832,16 1935252,22 1741739,20 1614434,46 2019969,55 3272222,95 3217790,87
Presidente Prudente 1947683,78 1564212,48 1528853,94 1771852,30 2386518,44 4251650,64 4422063,26 3828360,33
Presidente Venceslau 2628469,42 1999458,22 1812534,04 1632304,63 2426844,24 3010939,62 4024614,63 3869878,12
Registro 658921,06 804413,24 625035,37 828692,56 634002,03 614904,98 616827,19 707689,69
Ribeirao Preto 5083122,21 5405080,29 4199810,55 5358122,30 6134460,57 6278985,01 9325448,65 11412437,94
Sao Joao da Boa Vista 3617998,49 2295769,45 2254571,17 2264665,32 2062557,63 2304772,84 3080712,15 3029592,34
São José do Rio Preto 2197099,59 1709528,71 1771094,81 1993739,63 2910327,67 3236638,34 4146717,64 4640847,24
Sao Paulo 249079,11 778064,38 575396,93 668621,97 555784,04 370002,65 329713,11 324242,01
Sorocaba 1625625,58 3200695,05 2763306,05 1230748,68 1383825,56 1199359,45 1684559,97 1959399,22
Tupa 893263,09 606757,56 550033,37 532489,09 502128,28 559644,48 773498,93 1040908,25
Votuporanga 1558161,48 1332213,70 1509591,09 1631379,16 1763988,41 2307088,36 2681568,40 3164486,14
Média São Paulo 85299812,07 83442645,87 81323754,45 87684618,92 93032961,35 113503002,12 147450471,23 161990284,21
Fonte: Valores corrigidos 04/2007
133
Outro fato a considerar, é que as projeções poderiam atingiriam cifras bem
pesquisa de campo, com percentual médio superior de 30% aos apurados pelo IEA.
Nos primeiros anos de mudança da lei do ITR, e com o Projeto de Lei do rito
desapropriação das terras pelo valor da terra nua declarado, o valor arrecadado nos anos de
1998 e 1999 esteve, em alguns EDRs, acima dos patamares projetados na pesquisa.
indicam que os preços de terras não apresentaram alterações significativas, casos registrados
em Bragança - 0,5%; Registro - 7,4%; Limeira -11,6%. Os EDRs com maior variação no
para o período de 2000/05, procurando eliminar a influência da queda dos valores no período
econômica.
quais se apontaram que os valores de terra sofrem forte influência da especulação imobiliária
IEA, são aqueles que apresentam uma taxa de crescimento da projeção no período em
percentuais inferiores a 0.
atingir classes superiores a 50% que concentram 30 dos 40 EDRs do estado, chamando
134
Mapa 12
135
Gráfico 20 - Padrão Homog. / Var. Projeção Arrec. ITR RDR (SP) 2000/05
4,5
4,0
3,5
Padrão Homog.
3,0
2,5
2,0
1,5
Gráfico 21 - Índice Conc. Fundiária / Var. Projeção Arrec. ITR EDR (SP) 2000/05
0,85
0,80
Índice Conc. Fundiária
0,75
0,70
0,65
0,60
primeira situação verifica-se uma variação negativa do padrão com o aumento da projeção
decorrente da trajetória de valorização das terras que se inserem na lógica das commodities
136
grandes propriedades rurais, embora as correlações não tenham sido significativas a p < 0,10,
realizou o cálculo de elisão fiscal do tributo. Uma vez que a subtributação do ponto de vista
Estado brasileiro, ao deixar de declarar o Valor da Terra Nua mínimo, desde 1996, aponta
para uma renúncia ou evasão fiscal significativa, tendo em vista que a média do estado de
M ean -44,113
S tD ev 111,425
V ariance 12415,480
S kew ness 5,7302
Kurtosis 34,5952
N 40
M inimum -81,430
1st Q uartile -78,275
M edian -71,315
3rd Q uartile -60,220
0 200 400 600 M aximum 620,310
95% C onfidence Interv al for M ean
-79,748 -8,477
95% C onfidence Interv al for M edian
-76,901 -63,642
95% C onfidence Interv al for S tD ev
9 5 % C onfidence Inter vals 91,275 143,073
Mean
Median
M inimum -72,460
1st Q uartile -55,445
M edian -48,895
3rd Q uartile -31,013
0 100 200 300 400 500
M aximum 497,950
95% C onfidence Interv al for M ean
-52,552 5,134
95% C onfidence Interv al for M edian
-53,680 -40,704
95% C onfidence Interv al for S tD ev
9 5 % C onfidence Inter vals
73,878 115,803
Mean
Median
137
Observa-se que nos gráficos 22 e 23 a distribuição é normal, indicando apenas
os patamares positivos do EDR de São Paulo, Campinas e Mogi Mirim, nesta ordem de
Tabela 19- Índice de elisão fiscal do ITR por EDR e estado de São Paulo no
período de 1998-2005.
98 99 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Andradina 111,11 24,38 (37,23) (37,06) (24,52) (54,92) (68,13) (70,42)
Araçatuba (27,83) (44,85) (57,36) (73,29) (74,73) (72,73) (76,47) (80,21)
Araraquara 121,17 70,35 42,94 (8,40) (16,72) (26,73) (52,36) (60,73)
Assis 61,83 9,48 (21,43) (52,90) (43,65) (61,96) (72,00) (79,54)
Avaré 5,79 (4,02) (24,22) (33,73) (40,13) (56,50) (77,36) (80,36)
Barretos 38,06 (13,73) (24,50) (38,66) (57,21) (64,49) (79,81) (77,74)
Bauru 10,55 1,12 (20,54) (40,58) (33,93) (62,28) (69,05) (77,00)
Botucatu 10,35 (25,15) (37,63) (40,83) (46,73) (61,80) (60,08) (73,02)
Braganca Paulista 129,78 55,24 36,81 18,20 70,67 35,25 (2,20) (11,09)
Campinas 402,01 106,69 102,16 33,38 86,12 61,51 43,46 55,46
Catanduva 93,04 16,04 11,81 (25,76) (63,59) (64,59) (71,26) (76,31)
Dracena 95,57 88,18 63,43 10,78 1,55 (6,14) (36,55) (43,46)
Fernandópolis 5,25 (5,44) (32,90) (53,64) (63,64) (69,31) (69,85) (81,43)
Franca 48,65 (19,53) (41,44) (47,93) (50,70) (66,13) (39,40) (77,89)
General Salgado 6,78 0,25 (37,11) (53,68) (69,34) (68,08) (75,01) (78,86)
Guaratinguetá 36,22 (9,50) (19,16) (57,90) (9,21) (30,94) (31,56) (60,05)
Itapetininga 5,99 (25,26) (41,75) (58,60) (40,19) (63,79) (64,19) (72,21)
Itapeva 87,30 48,88 49,33 (30,77) (35,94) (44,18) (72,94) (78,41)
Jaboticabal 77,82 (10,92) (23,52) (46,13) (58,61) (71,58) (79,26) (78,36)
Jales 45,02 (6,36) (29,01) (50,53) (66,18) (69,56) (72,32) (78,79)
Jaú 97,94 (6,12) (17,34) (18,29) (50,47) (45,29) (69,98) (62,33)
Limeira 4,22 (24,23) (33,27) (46,87) (37,64) (54,41) (59,10) (63,17)
Lins 4,14 12,19 (13,84) (44,19) (58,99) (72,79) (76,90) (78,02)
Marilia 35,08 (0,98) 8,60 (47,03) (53,77) (68,91) (72,85) (78,39)
Mogi das Cruzes 355,47 56,81 56,54 24,46 99,62 21,19 34,95 14,75
Mogi Mirim 78,88 (17,53) (6,54) (24,86) (31,88) (42,96) (63,25) (64,32)
Orlândia 71,54 0,69 (18,32) (49,15) (58,86) (40,74) (65,38) (68,75)
Ourinhos 44,65 (16,40) (40,53) (56,52) (54,31) (63,86) (70,68) (78,53)
Pindamonhangaba 41,38 (17,61) (46,32) (47,31) (26,20) (41,96) (25,21) (35,32)
Piracicaba 16,54 (10,68) 37,66 (16,94) (23,03) (45,26) (65,26) (65,69)
Presidente Prudente 65,57 49,39 11,71 (24,41) (46,71) (69,11) (72,10) (66,07)
Presidente Venceslau (0,66) 5,58 (15,38) (27,21) (61,05) (69,95) (75,46) (76,76)
Registro 100,66 (15,46) (1,47) (34,83) 23,92 (15,78) 6,64 (37,52)
Ribeirao Preto 21,99 (33,54) (22,67) (52,56) (62,29) (42,99) (71,64) (74,18)
Sao Joao Boa Vista (6,29) (1,44) (17,35) (33,78) (34,99) (46,21) (64,50) (62,31)
Sao Jose Rio Preto 36,92 6,38 (23,04) (40,53) (59,50) (59,43) (74,10) (76,50)
Sao Paulo 1714,60 276,15 341,18 197,31 575,30 511,40 742,18 620,31
Sorocaba 185,66 (8,34) 31,50 65,50 81,02 55,55 16,97 (15,94)
Tupã 74,73 53,13 39,77 8,44 13,35 (7,94) (26,28) (47,30)
Votuporanga 7,47 4,13 (31,92) (48,84) (52,21) (67,73) (70,88) (76,90)
Estado de São Paulo 51,58 2,33 (11,23) (35,36) (37,95) (50,93) (63,29) (68,05)
138
Mapa 13
139
Mapa 14
140
A tabela 20 apresenta os índices de elisão fiscal por EDR. Observa-se que
Fernandópolis, Avaré, Araçatuba, Assis, e General Salgado para o ano de 2005 apresentaram
elisão, apontando que percentuais inferiores a -70% (mapa 13) para o ano de 2005 e
inferiores a – 50%, para o período de 2000/05, estão presentes em quase todo o território
indicam esta perniciosa relação entre, concentração fundiária, valor da produção e elisão
fiscal.
Tabela 20- Índice de Conc. Fundiária, valor de produção total e por ha, valor
arrecadado (ha), taxa anual de crescimento da arrecadação do ITR e
Índice de elisão fiscal por grupo predominante de uso do solo.
Grupo Índice Média Valor da Média Valor Vlr.Arrecad Média Índice de
Gini Produção Total Produção . Tx.Anual Elisão
/ha /ha Arrecadação Fiscal
G1 0,72490 1.196.783.005,00 3.049,09 4,30 (9,78) (72,74)
G2 0,80237 807.441.173,60 2.292,01 4,65 (11,83) (74,35)
G3 0,74639 868.122.909,90 1.634,04 2,29 (11,00) (70,85)
G4 0,69064 433.231.160,30 670,49 1,25 (12,00) (64,32)
G5 0,63416 465.253.018,20 1.171,20 4,45 (8,92) 19,70
A análise destes dados por EDR permite inferir que a trajetória de concentração
fundiária no estado de São Paulo, vem acompanhada de uma relação extremamente desigual
entre valor da produção e arrecadação do ITR por hectare, as taxas de crescimento negativas
das arrecadações e os altos índices de elisão fiscal denotam a necessidade de uma política
tributária mais eficiente, evidenciando que embora ocorra a existência de outras atividades
rurais (familiares ou novas atividades) nos EDRs, o fato de não se consubstanciarem como
hegemônicas não altera o tratamento tributário, considerando que o valor positivo em relação
141
às projeções adotadas esteve presente apenas nos EDRs vinculados às novas atividades rurais
G 5.
abaixo sintetizam os processos de acumulação, dada relação entre taxa de elisão (2005) e
valor de produção (2005) (Gráfico 24) e a taxa de elisão (2000/05) e concentração da terra
(Gráfico 25).
Gráfico 24 - Taxa de Elisão Fiscal ITR (2005) / Valor Prod. EDR (SP) 2005
700
600
500
Taxa de Elisão 2005
400
300
200
100
-100
-200
0 500000000 1000000000 1500000000 2000000000
Valor Produção 2005
Gráfico 25 - Taxa de Elisão Fiscal ITR / ìndice Conc. Fundiária EDR (SP)
50
25
Taxa Elisão Fiscal ITR
-25
-50
-75
-100
0,60 0,65 0,70 0,75 0,80 0,85
Índice Concentração Fundiária
142
Na análise de correlação dos gráficos 24 3 25, identificou-se significância a p <
mais nítida a relação de concentração de terra e renda via elisão fiscal. No gráfico 26
4,5
4,0
3,5
Padrão Homog.
3,0
2,5
2,0
1,5
produção frente a elisão fiscal são expressões de tempo (2005) e movimento (2000-2005),
demonstradas também pelo avanço territorial destes complexos que se sintetizam como
de apropriação dos “fundos públicos” (Oliveira, 1988) nas duas pontas, na primeira se
143
beneficia dos créditos e de outro se apropria da riqueza social, no rompimento do contrato
fiscal.
(terra e trabalho).
144
5. Considerações Finais
fator de produção e elevam seus preços. Tal dinâmica se articula à expectativa de ganho
mediada pelo valor da produção num ciclo que mantém ou acentua a trajetória de
territorial.
formas como se consome, vive e produz. Não representa apenas uma estrutura física, área,
social - troca).
por meio de sua efetiva apropriação, responde pela morosidade na resolução dos problemas
145
manutenção da espinha dorsal do domínio territorial, a propriedade privada, a necessidade
de sua reestruturação. De forma que propriedade privada não se estabeleça incólume aos
produtividade, que não sofrem nenhum tipo de fiscalização, pois não se articulam com
outros tributos que incidem sobre a propriedade, renda e circulação de mercadorias, apenas
gestão territorial e de instalação de instrumentos políticos para este fim. Uma magnitude
acabam por não alterar o perfil de arrecadação do imposto sobre a propriedade territorial
rural e se mostra num dos mecanismos de perpetuação das diferenças sociais e econômicas
do campo brasileiro.
146
Sob o histórico conceito de modernização conservadora, as atividades
para necessidade de uma política tributária justa, exeqüível do ponto de vista político,
econômico e administrativo; eficaz do ponto de vista da ação fiscal e que deve ser exercida
uma dinâmica de preços de terras e padrões de rentabilidade que, com efeito, alteram as
processo a acumulação de terras e capital, este último não apenas pela exploração do
trabalho, mas de apropriação de uma outra riqueza social fundada no aparato tributário por
147
Um processo determinante na negação do Estado inviabilizando suas
estruturas, como espaço e dimensão política necessária para reduzir as distâncias entre as
questão básica de como a sociedade decide o seu destino, constrói sua transformação, se
idéia de Milton Santos, para quem o espaço é a soma de tempos desiguais, em substituição
produção capitalistas, em sua fase mais monopolista, os dias atuais, que costumam chamar
fundamental àqueles que para o mercado são apenas mercadorias, cada vez mais obsoletas
148
de um tempo em que já perdure a ausência de economias solidárias (dado seu fim em si
alteridade possível.
o desvendamento de essência e fenômeno. Nesta escolha esta posta também aqui a (minha)
149
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