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Psico-sustentabilidade

Andrielly Nascimento de Oliveira

Bárbara Rafaela Souza Cruz

Carlos Sérgio Tinoco Cortez Gomes Filho

Resumo:

Esse artigo tem como objetivo relacionar o contexto social e político do mundo
globalizado, a fim de introduzir a ideia de psico-sustentabilidade e mostrar meios para
alcançar esse objetivo.
Essa temática foi escolhida com base nas ideias tratadas pelo filósofo Edgar Morim,
pelo viés de sua corrente de pensamento tratado no seu livro “A Via”. Esse projeto
também apresenta uma visão voltada para o estudo e a observação dos aspectos
psicológicos e comportamentais do indivíduo contemporâneo.
Introdução

A realidade em que vive o homem urbano atualmente está cada vez mais conflitante.
O indivíduo urbano está cada vez mais propenso a problemas. Fatores como Violência,
insegurança e _, implicam em consequências que acarretam [o homem] ao stress, ao
isolamento, a solidão e em conseguinte a um estado de depressão. Os cenários urbanos
são caóticos, burocráticos, seletivos e devido a esses tantos processos, as crises e os
conflitos nas esferas sociais se propagam e ramificam facilmente, saturando e exaurindo
o psique do ser. Como lidar com toda essa problemática da conturbada vida em
sociedade em colisão com o bem estar psicológico?
Toda a problemática do homem que está imerso na planta urbana pode ser relacionada
com a visão ainda distorcida do que seria o Progresso para a humanidade. Será que há
progresso na vida do homem que cumpre seus deveres sociais (trabalhar, respeitar as
leis, etc.), mas que vive em solidão? Há progresso na sociedade que tem bons avanços
tecnológicos, mas que a cada dia que passa o número de (tentativas de) suicídios cresce
cada vez mais? Afinal, o que é Progresso?
Desenvolvimento

1) Perspectivas sociais e políticas do mundo globalizado: Embora desde a


Revolução Industrial no século XVIII tenha se cultivado uma ideia de progresso como
evolução científica e urbanização, observamos o surgimento de problemas psicológicos
e o aumento da frequência com que estes ocorrem com o passar do tempo. Esses fatos
mostram que certamente o tal “progresso da humanidade” vem cada vez mais
prejudicando ela própria, e que essas crises psicológicas refletem a situação em que o
homem está inserido.
Agora, apontaremos que o estado psicológico humano é afetado por diversos fatores,
os quais estão interligados entre si.
 A crise social: No momento estamos presenciando uma revolução no meio da
comunicação – de 1980 pra cá a internet se propagou pelo mundo todo e o celular, por
exemplo, foi inventado e desenvolvido, bem como o rádio e a TV que são utensílios
populares. No entanto, percebe-se que a sociedade moderna tem se apresentado mais
individualista; por exemplo, enquanto que a internet possibilita a troca de ideias
instantâneas através da rede de dados cibernética, traz consigo as interações dialogais
sem ligações emocionais vívidas; não criando o possível laço mais íntimo que poderia
ser desenvolvido através da conversa cara a cara; inibindo o encontro físico uma vez
que via internet seria menos trabalhoso do que pegar o carro, enfrentar o trânsito e
dirigir até a casa do familiar.
Os jovens, como os que mais são adeptos das mídias sociais, já são educados e
submetidos a essa cultura frívola da comunicação instantânea sem comprometimento
afetivo e valorativo que a tecnologia proporciona. Os pais, sujeitos as consequências da
correria do dia a dia (stress, falta de tempo) muitas vezes substituem uma valorosa
conversação com seus filhos pelo contato com o computador, dessa forma enquanto que
ele [o pai] faz algo em promoção da vida social; passa um e-mail para o chefe, fala com
um amigo distante e vê as notícias da economia, distraí o filho com um parelho de
última geração que é mais simultâneo, instantâneo e acrítico do que a experiência da
conversa com uma pessoa. Outrossim, devido as obrigações sociais e suas
consequências e as facilidades que a tecnologia propõe, as famílias estão remetendo
suas gerações à uma cultura emocional rasa e como consequência futura, é bem possível
que as pessoas se condicionem ao isolamento, à relações estreitas, parcas de sentimentos
sendo mais comum reproduzir ações banais, triviais.
A questão do individualismo por si só, já pode ser considerado como um dos motivos
que justificam a ocorrência da solidão, e consequentemente da depressão. A ausência
física de pessoas, ou a falta de um vínculo mais aprofundado com essas já é uma
situação comum ao ponto da depressão ser a 4ª colocada entre as principais causas para
incapacidade de trabalho no mundo, com previsão para ser a 2ª em 2020, segundo
pesquisas feitas pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O Cyberbullying também é
uma prática moderna que, com a massificação da internet, é cada vez mais frequente, pois os
bullies não precisam se comprometer fisicamente. No Brasil, uma reportagem do jornal O
Estado de S. Paulo, de abril de 2010, aponta que, desde novembro de 2010, pais de crianças
vítimas de cyberbullying têm registrado as agressões virtuais em atas notariais, ou seja,
procurado documentar o indício para que ele possa ser anexado às ações judiciais. O
cyberbullying, via Web, pode ser considerado tão prejudicial quanto o bullying "tradicional",
podendo, inclusive, levar, em casos extremos, ao suicídio.
 A crise política: Os casos de corrupção por parte de pessoas que ocupam cargos
de importância no cenário local e nacional de um país vêm se tornando cada vez mais
noticiados em vários cantos do mundo. Percebe-se que os governos apresentam
dificuldades para manterem uma relação aberta com a população, e com profissionais
das mais diversas áreas, que trabalhando em conjunto poderiam desenvolver ideias para
solucionar as adversidades que ocorrem em um ambiente social.
Essa falta de vigilância, comunicação e proximidade entre o Estado e a comunidade
incentiva a falta de confiança e descrença dos cidadãos para seus representantes
governamentais e desses para com os cidadãos uma vez que não há lado de
consideração. Assim, com o tempo, essa descrença resulta na perda da cidadania do
indivíduo que, por sua vez, passa a não sentir-se mais no dever de cumprir suas
obrigações como cidadão o que pode abalar a sua fé nos valores de outrem. Se esse
sentimento se torna comum na população, parte dela passa a perder sua confiança na
própria sociedade, não se identificando como membro desta, e, portanto buscando o
isolamento e adquirindo condutas individualistas.

Diante dessas duas perspectivas (social e política) acima, se pode considerar que o
estado da psique e da saúde do indivíduo e o quadro do cenário social estão intimamente
ligados por serem manifestações e consequências do ser humano frente as crises.

2) Introdução à ideia de desenvolvimento psico-sustentável: Nas ideias


trabalhadas anteriormente, foi exposto que muitos são os fatores da nossa vida em
âmbito coletivo e social que contribuem para um mau funcionamento psíquico,
apontando também a quais problemas se está exposto, à vista disso, é preciso trabalhar
com uma forma de poder progredir no meio social sem abalar ou convulsionar a
atividade mental dos indivíduos. E a essa ideia, definimos como sendo o
desenvolvimento psico-sustentável.
É importante ressaltar no entanto, que o que está se fazendo aqui não é dizer que o
sofrimento humano pode ser evitado; Ele [sofrimento] é inerente a qualquer pessoa e faz
parte da experiência de todos nós como indivíduo. A proposta real é mostrar que a
maneira como a sociedade moderna se encontra atualmente é em um estado
desorganizado, caótico, desconcertante e que isso está provocando um aumento na
incidência de doenças psicológicas, as quais prejudicam a vida do indivíduo e poderiam
ser evitadas.
Porém, para chegar a uma ideia de como alcançar esse objetivo é preciso observar o
contexto singular em que está inserido cada pessoa, pois, nossa vivência é um conjunto
de vários círculos de atuações e interações íntimas. Por isso, foi preciso fazer uma
abordagem inicial sobre alguns desses contextos para mostrar que cada uma delas
influenciam de alguma forma na vida do homem.
Analisando cada um desses pontos de vista, vinculamos todas as peças para avaliar a
totalidade da situação e, portanto, obter as devidas conclusões. Edgar Morin, em seu
livro “A Via”, deixou claro que há paradoxos na questão de progresso, neste
pensamento, Morin propôs uma análise da temática de “progresso do conhecimento”;
Ao progresso, o autor atribui seu contraponto de regressão, alterando a percepção de
ordenamento constante como conceito de progressivo. Desse modo, o progresso do
conhecimento apresenta uma realidade dual com aspecto progressivo e regressivo para
uma mesma realidade. Por exemplo: o crescimento de um determinado fator pode
acarretar o decrescimento de outro fator, o desenvolvimento de um segundo fator pode
acarretar o envolvimento de algo, a conservação de um terceiro fator pode acarretar a
transformação de outro fator e assim progressivamente.

Na idéia de progresso sem a conseqüência de um mau funcionamento psíquico,


separamos os seguintes itens que podem colaborar com a questão da psico-
sustentabilidade, dentre elas temos:

 Conhecimentos interdisciplinares: Especialistas da área da saúde apontam que


em todo o mundo as cidades estão crescendo e se transformando, mas não existem ainda
dados significativos de como uma cidade ideal deve ser quando se leva em consideração
a saúde mental de seus habitantes. As pessoas precisam ter acesso à ambientes com
contato social, ir ao cinema, encontrar-se com amigos na praia, passear com o cachorro,
conhecer a realidade que as rodeia, se envolver, criar vínculos além do superficial. As
pessoas devem criar relações valorosas reais para sentirem-se em paz consigo e com os
seus semelhantes uma vez que entendem esse estado de paz. No entanto, hoje esses
aspectos são muitas vezes ignorados no planejamento de novas cidades, como na China
ou na Indonésia, por exemplo. Os arquitetos se preocupam com as proporções e as
formas, e os urbanistas com a eficiência do transporte público, muitas vezes não temos
ideia das consequências desse fato para a população. Se a saúde mental dos habitantes
fosse levada em consideração com mais rigor como outros itens em planejamentos no
meio urbano, provavelmente iria contribuir para a diminuição na porcentagem de
pessoas com problemas relacionados ao estresse, a depressão, a hostilidade.
As forças governamentais têm poder e condições para promover a colaboração com
mudanças de cunho no que diz respeito a promoção da saúde mental e psíquica.
 Educação escolar: Esse é um ponto crucial para a colaboração de uma sociedade
que progride de forma psico-sustentável, é a chave de toda a transformação na
sociedade. A educação é prática que vincula as pessoas às boas práticas socialmente
precisas, e se houvesse a conscientização do conceito de Psico-sustentabilidade pelos
educandos, a vida ia se organizar de forma gradativa, pois a educação está ligada as
boas práticas profissionais, que essa se liga a boa conduta moral e que se relaciona com
a saúde e assim sucessivamente em todos os âmbitos do ciclo da Vida.
A dificuldade encontradas os ao longo da construção desse artigo na aplicação das
soluções, é que a eficácia do método de psico-sustentabilidade criado depende de uma
mudança drástica na organização e na forma de como os problemas são encarados na
sociedade. Felizmente, não é uma questão utópica, pois se trata de uma questão de
caráter educacional e cultural e se houver conscientização por parte da massa alvo. E
também foram procuradas e propostas soluções que amenizam o problema da
“terceirização” da saúde psicológica da sociedade burocrática.
Conclusão

Para finalizar, foi chegada a conclusão de que a ideia de progresso que muitos
indivíduos têm, na maioria dos casos, é equivocada, pois como ensina Morim em “A
Via”, o progresso, como tudo na vida, tem aspectos positivos e negativos; o crescimento
de um determinado fator nem sempre ocasiona o crescimento do seu consequente, pelo
contrário, é possível haver decrescimento da fase que antecedeu tal decrescimento, e de
algum modo, contrastar para certa solução conseguinte e assim sucessivamente num
ciclo em prol do desenvolvimento humano que visa o bem estar.

A Psico-sustentabilidade pode ser posta em prática com as seguintes atitudes:

 Criação de um ambiente urbano que leve em conta a saúde mental da população;


 Conhecimentos interdisciplinares;
 Educação, conscientização;
 Colaboração política local e global;
 Colaboração da população.
Referências:

 Portal Evolution: http://portalevolution.org/pensamentos/solidao-saiba-o-que-e-


causas-comuns-e-como-tratar

 Carta Capital: http://www.cartacapital.com.br/saude/medicos-veem-relacao-


entre-vida-urbana-e-disturbios-mentais/

 MORIN, Edgar - “A Via”.

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