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Gestor Ambiental: da

formação a atuação
profissional
Cladecir Alberto Schenkel
IFTM Campus Uberaba
schenkel@iftm.edu.br

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Foco do estudo:
 O perfil e a formação de Gestores
Ambientais, em nível superior, em função da
diversidade curricular dos cursos ofertados
nessa área (bacharelados e tecnológicos, e
formato disciplinar, modular e
interdisciplinar, dentre outros) e do
desencontro entre os propósitos desses
cursos (visão sistêmica, complexa) e os
conhecimentos que os embasam (modelo
cartesiano).

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Situando o problema ...
 [...] Ora, sabendo que quando se trata de
meio ambiente, por mais importante que seja
o conhecimento das partes, todas elas,
absolutamente todas, mantêm um vínculo de
relacionamento vital entre si; daí a
importância da visão sistêmica que deve
orientar o estudo das questões ambientais
do planeta Terra [...] (BRUNA; PHILLIPPI
JUNIOR; ROMERO, 2004, p. 698, destaques
dos autores).

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Situando o problema ...
 O campo da gestão ambiental é muito amplo.
 Porque o tema meio ambiente precisa ser entendido
em sua complexidade como um conjunto de fatores
interligados que constitui o todo.
 Acontece que a extensão dos problemas costuma
ser conhecida como decorrência das diversas
facetas interdependentes, cuja importância e
emergência dependem do problema a ser resolvido
(BRUNA; PHILLIPPI JUNIOR; ROMERO, 2004).

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Situando o problema ...
 Dilema:
 É exigido do Gestor Ambiental uma compreensão
sistêmica dos problemas ambientais e de suas
soluções, entretanto, os projetos dos cursos
predominantemente são organizados no formato
disciplinar, fragmentado e estanque; bem como, a
base científica desses cursos, na perspectiva dos
conhecimentos e das metodologias de investigação
aos quais os alunos têm acesso durante a sua
formação, permanece pautada pela especialização e
fragmentação desse saber.

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Problema central da pesquisa:
 Considerando o perfil profissional
esperado pelo mundo do trabalho do
gestor ambiental, nas atuais condições
históricas do desenvolvimento
socioeconômico capitalista brasileiro,
estariam os processos de formação dos
cursos superiores da área afinados com
esse perfil?

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Objetivo geral:
 Investigar o perfil profissional do gestor
ambiental e o currículo que contribui
para formá-lo, compreendendo os
paradigmas que fundamentam a
organização curricular para atender
essas especificidades dos cursos
Superiores em Gestão Ambiental.

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Pressupostos
 Como se trata de um profissional que exige
uma formação diferenciada em relação aos
padrões convencionais de Ciência, de
conhecimento, de ensino, de práticas e,
portanto, de organização do currículo, a
pressuposição é a de que o modelo de
educação superior e profissional vigente
não dá suporte à complexidade de formação
exigida por esse profissional.

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Pressupostos
 A compreensão dos paradigmas de organização
curricular e científicos que servem de base ao
curso, é condição para possibilitar uma
contribuição sobre a formação do Gestor Ambiental,
considerando as exigências do mundo do trabalho.
 Fundamentado em Morin (2000, p. 30), de que “[...]
não há como se produzir um conhecimento correto,
isolando o objeto de conhecimento de seu
ambiente”, pressupõe-se que os currículos atuais,
predominantemente, encontram limitações para
atender as exigências dessa formação.

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Aspectos metodológicos
 Opção pelo paradigma da complexidade.

Complexidade:
Rompe com o Apropria do Rompe com o
Fenomenológico- Qualitativo: Crítico-dialético:
hermenêutico Papel central do pesquisador; Princípio da
(qualitativo): compreensão da relação entre contradição (tese
Busca centrado nos o objeto e sua totalidade; não versus antítese)
aspectos há neutralidade científica e que resulta em
invariantes (em seu dualidade sujeito-objeto. síntese superadora
lugar: das contradições;
Crítico-dialético:
irredutibilidade do com as
Papel do pesquisador;
acaso e da determinações
compreensão da inter-relação
desordem, estruturais (em seu
entre os fenômenos e entre o
complicação e lugar: ordem,
todo e as partes; história
história sincrônica). desordem,
diacrônica; e a perspectiva
interação e
relacional.
organização.

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Aspectos metodológicos
 Quatro cursos (instituições) foram selecionados
para a pesquisa:
 O Instituto Federal do Triângulo Mineiro, Campus
Uberaba – MG (Tecnologia);
 O Centro Federal de Educação Tecnológica Celso
Suckow da Fonseca (Tecnologia);
 A Escola Superior de Agricultura Luiz de
Queiroz/USP (Bacharelado);
 A Universidade Federal do Paraná, Setor Litoral
(Bacharelado).

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Resultados parciais
 Ciência e conhecimento: Ciência Moderna
versus paradigma emergente (Adorno e
Horkheimer; Habermas; Morin; Sousa Santos;
e outros) – o sucesso que leva ao colapso;
 Conhecimento e Gestão Ambiental (Manzini e
Vezzoli; Scharf; Sachs; Leff; Morin; Sousa
Santos; e outros) – um conhecimento
multidisciplinar e/ou transdisciplinar;
 Currículo (Young; Sacristán; Apple; Goodson;
e outros) – construção social e política;

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Resultados parciais
 Trajetória histórica das Instituições de Ensino
Superior e das Escolas Profissionalizantes no
Brasil – vínculo com os interesses
socioeconômicos: uma educação
instrumentalista, operacional e utilitarista
(Goergen, 2003);
 Reforma dos anos 1990: mais informação,
menos formação; mais mercado
(empregabilidade), menos educação.

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Resultados parciais
 Diversidade: tecnológicos e bacharelados;
disciplinar, modular e transdisciplinar.
 Focos diversos (próximos da administração, das
engenharias, da ecologia ...).
 Abordagens específicas, tais como, GA
Agropecuária, GA Urbana, GA Industrial, Controle
Ambiental, dentre outras.
 Cursos tradicionais passam a ser oferecidos com
foco em GA: licenciaturas e/ou bacharelados em
Geografia, Biologia e Administração.
 Ampla oferta de cursos de pós-graduação lato
sensu em Gestão Ambiental.

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Resultados parciais
 Os cursos de graduação da área de Gestão
Ambiental (Tecnologia e Bacharelado) são
relativamente recentes.
 O primeiro curso de Tecnologia foi criado em 1998,
pelo Centro Federal de Educação Tecnológica Celso
Suckow da Fonseca, na cidade do Rio de Janeiro.
 O primeiro curso de Bacharelado em Gestão
Ambiental foi implantado em 2002, na Escola
Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da
Universidade de São Paulo, em Piracicaba, estado
de São Paulo.

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Resultados parciais
 No Brasil 227 cursos de Gestão Ambiental e
correlatos (e-MEC, 03/08/2010):
 200 com palavra chave Gestão Ambiental;
 01 para cada uma das palavras chave: “Gestão
Ambiental Industrial”, “Planejamento e Gestão
Ambiental”, “Sistemas da Qualidade e de Gestão
Ambiental”, “Gestão do Meio Ambiente”, “Gestão e
Planejamento Ambiental”, “Curso Superior de
Formação Específica em Gestão Ambiental” e
“Controle Ambiental”;
 207 são Cursos Superiores de Tecnologia;
 11 são Cursos Sequenciais;
 09 são Cursos de Bacharelado.

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Resultados parciais
 Gestão: um aglutinado de conhecimentos de
diversas áreas do saber (DIAS, 2002).
 Ambiental: o adjetivo que qualifica as coisas e
os elementos que estão à volta de determinado
ser.
 Assim, a gestão ambiental indica o ato de gerir
(administrar, dirigir ou reger) o ambiente (as
partes constitutivas do meio ambiente, tanto o
natural como o construído).

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Resultados parciais
 Gestão Ambiental é [...] o ato de administrar,
de dirigir ou reger os ecossistemas naturais
e sociais em que se insere o homem,
individual ou socialmente, num processo de
interação entre as atividades que exerce,
buscando a preservação dos recursos
naturais e as características essenciais do
entorno, de acordo com padrões de
qualidade. O objetivo último é estabelecer,
recuperar ou manter o equilíbrio entre
natureza e homem (BRUNA; PHILLIPPI
JUNIOR; ROMERO, 2004, p. 700).

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Resultados parciais

 A gestão ambiental pode ser entendida


como um “potencial” e uma “ação”.
 Isto é, as questões com as quais lida, que se
encontram em contínuo processo de
mudança e constituem um sistema aberto,
tem um potencial de realização, que pode
não se concretizar (“fenômeno da não-
realização”).

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Resultados parciais
 Onde está o potencial da Gestão Ambiental?
 No acúmulo de conhecimentos de diversas
áreas, no aparato jurídico-legal, nas normas
de produção, de serviços e de qualidade,
dentre outros, necessárias para
compreender e solucionar as questões
ambientais.
 Onde está a ação?
 Na transformação desses potencias em ação
concreta, em gestos e atitudes, tornando o
“poder ser” em “ser real”.

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Resultados parciais
 Essa é a principal finalidade dos cursos de Gestão
Ambiental.
 Transformar o “potencial” da legislação, da
consciência ambiental e outros em “ação”.
 Para colocar em marcha as ações que contribuem
para interromper, amenizar ou eliminar o curso da
degradação ambiental causada pelas formas de
trabalho, de produção e de vida da civilização
contemporânea.
 Envolve um campo amplo de conhecimentos e
saberes (teóricos e práticos), bem como, de atuação
profissional.

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Resultados parciais
 Para que o “poder ser” se torne em “ser real”, é
necessário que os conhecimentos de diversas áreas
sejam tomados em conjunto e de forma
interconectada (compreensão da interação entre os
fenômenos), tanto para o diagnóstico dos
problemas ambientais ligados às diversas esferas
da vida moderna, quanto das ações necessárias
para superá-los.
 Daí, a necessária visão sistêmica, holística ou
complexa que deve caracterizar a formação e a
atuação profissional dos gestores ambientais, bem
como, da inter/transdisciplinaridade dos processos
de formação.

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Resultados parciais
 A sustentabilidade perpassa as dimensões do
econômico, do social, do ecológico, do cultural e do
político.
 Se o objetivo do curso é buscar a sustentabilidade
de longo prazo, essas questões precisam ser
percebidas pelo Gestor Ambiental de forma
sistêmica e integrada, ou seja, em suas
interconexões, reciprocidades,
complementaridades, antagonismos e contradições
(ordem, desordem e organização para Morin).
 O gestor ambiental precisa saber ver e saber
resolver essas situações em sua complexidade.

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Resultados parciais
 Um destaque: nessa compreensão de
sustentabilidade, nem tudo o que apresentar algum
tipo de melhoria em relação aos problemas
ambientais pode ser considerado sustentável (“em
longo prazo” ou “gerações futuras”).
 Assim, pois, as intervenções puramente técnicas ou
tecnológicas (ambiental ou limpa) que tragam
benefícios ambientais podem não se concretizar
sustentáveis (exemplo: eficiência energética de
aparelhos eletro-eletrônicos).

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Resultados parciais
 Portanto, é um profissional que precisa desenvolver
um conhecimento abrangente, compreender o todo
e as partes, as interações e interconexões
dinâmicas dos diversos aspectos e fenômenos que
interferem nas relações do homem com o meio
ambiente, sejam essas relações de caráter
produtivo ou outras.
 E isso aparece nos projetos pedagógicos dos
cursos pesquisados, quando são apresentados os
perfis profissionais (atribuições profissionais) dos
egressos (às vezes contraditórios entre si).

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Resultados parciais
 Apresenta um campo de trabalho com tendência de
expansão.
 Pressões dos setores organizados da sociedade
(consciência e responsabilidade ambiental), das
consequências da degradação ambiental, dos
limites e da finitude dos recursos naturais (matéria
prima e energia), das regras de comércio
internacionais (exportação), da preservação da
biodiversidade, das alterações climáticas, e outros.
 As organizações contratantes, diante da oferta dos
cursos de graduação em Gestão Ambiental, têm
preferido aqueles com formação de base na área
(MOURA, 2004; MENDES, 2008).

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Resultados parciais
 Mas é um campo que apresenta restrições.
 Como campo profissional transversal ligado a
diversas áreas técnico-científicas, relativamente
novo e não regulamentado, a atuação em Gestão
Ambiental é, ainda, aberta a profissionais com
formações diversas.
 Consequências:
 Com a não regulamentação específica para o
exercício profissional na área, muitas organizações
contratantes preferem profissionais de áreas
consagradas especializadas em Gestão Ambiental;

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Resultados parciais
 A não regulamentação deixa o campo aberto à
atuação de pessoas e organizações que
desenvolvem, em nome do Gestor Ambiental,
atividades de caráter duvidoso;
 Um PL tramita no Congresso Nacional, nº
1.431/2007, de 27/06/2007 (Dep. Fed. William Woo-
SP), para a criação do Conselho Brasileiro de
Ambientalismo (COBAM) e regula o exercício da
profissão de Ambientalista (Gestão Ambiental e
Ciências Ambientais);
 Em 09/07/2007 foi apensado ao de nº. 1.105/2007
(Dep. Fed. Alexandre Silveira-MG), que regulamenta
a Profissão de Técnico em Meio Ambiente;

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Resultados parciais
 Tramitação: aprovado por unanimidade pela
Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento
Sustentável – CMADS, em 07 de maio de 2008;
devolvido sem manifestação pela Comissão de
Trabalho, de Administração e Serviço Público –
CTASP, em 29 de junho de 2010 (ainda falta
apreciação das comissões de Finanças e Tributação
– CFT e de Constituição e Justiça e de Cidadania –
CCJC);

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Resultados parciais
 Recentemente os egressos dos cursos de Gestão
Ambiental encontraram guarida no Conselho
Profissional de Administração (CRA/CFA) – RN/CFA
nº. 373/2009, em 12/11/2009, para Tecnólogos em
GA; RN/CFA nº. 395, de 08/12/2010, para
Bacharelados em GA;
 Parcialmente, junto ao Conselho Regional de
Engenharia, Arquitetura e Agronomia – CREA e
Conselho Regional de Química – CRQ.

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Resultados parciais
 O Ministério do Trabalho e Emprego incluiu,
em 2010, o Engenheiro Ambiental, o
Tecnólogo em Meio Ambiente e afins no
Código Brasileiro de Ocupações,
respectivamente, sob os nºs. 2140-05 e 2140-
10 (MTE, 2010a);
 Sob o título “Tecnólogo em Meio Ambiente”,
incluem-se o Tecnólogo em Gestão Ambiental,
Tecnólogo em Processos Ambientais e
Tecnólogo em Saneamento Ambiental.

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Obrigado!!

schenkel@iftm.edu.br
Professor do Instituto Federal do Triângulo
Mineiro, Campus Uberaba.

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