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ENSINO ESTRUTURADO E TRANSTORNO DO ESPECTRO

AUTISTA: UMA ARTICULAÇÃO POSSÍVEL

Wilza Brito Miralha Duarte 1


Rochelle da Silva Batista¹
Kássia Cristina da Silva Raiol¹
Angélica Bittencourt Galiza Macedo¹
Edith Gonçalves Costa¹

¹Professoras do Atendimento Educacional


Especializado na Associação de Pais e Amigos dos
Excepcionais – APAE/Belém

Eixo Temático: Deficiência Intelectual


Categoria: Pôster

RESUMO

Dentro do contexto da aprendizagem estão algumas questões, dentre


elas as de ensinar e o aprender, são questões que perpassam pelos direitos de
todos os cidadãos, como os das crianças com Transtorno do Espectro Autista
(TEA) que é o direito à Educação de qualidade. Neste sentido este trabalho de
pesquisa tem por objetivo apresentar através de fundamentações teóricas
como as de Leon (2016); Fonseca (2016) e Orru (2012) considerações
pertinentes sobre a prática da aprendizagem para pessoas com Transtorno do
Espectro Autista (TEA), como aprende a pessoa com TEA, e a necessidade de
um planejamento de ensino que atenda suas reais necessidades acerca de sua
aprendizagem. A pesquisa se deu através de análises bibliográficas de teóricos
que levantam questões pertinentes à aprendizagem de uma pessoa com TEA,
apresentando o programa TEACCH e o planejamento de ensino estruturado
relevantes para a aprendizagem da pessoa com TEA. Observou-se a
importância do programa TEACCH e a proposta de um planejamento de ensino
estruturado para o desenvolvimento educacional da pessoa com TEA,
ressaltando o olhar sobre a prática docente em levar o conhecimento a essas
pessoas que apresentam uma forma peculiar de desenvolver sua
aprendizagem.

Palavras- chave: Transtorno do Espectro Autista (TEA). Programa TEACCH.


Ensino Estruturado.
INTRODUÇÂO
Dentro de um contexto sobre a aprendizagem cabe sempre colocar entre
nossos estudos as questões sobre o ensinar e o aprender, compreendendo
com Paulo Freire (2014) que esse processo se dá por meio de uma troca
mútua em que educador e educando, apresentam-se como coautores dessa
ação.
Pensar sobre os processos de aprendizagem dos alunos nos remete às
questões sobre quais seriam tais processos e no que se diferenciam, visto que
as crianças também possuem formas diferentes de desenvolver o
conhecimento.
Ao planejar seu ensino, é importante que o professor leve em questão as
diferentes formas de aprendizagem de cada criança, dentre elas as crianças
Transtorno do Espectro Autista (TEA). Nesse contexto levanta-se a questão
sobre a importância de se pensar planejamentos que se voltem para o
desenvolvimento e aprendizagem dessas crianças.
Sabendo que o autismo é considerado um transtorno global do
desenvolvimento, e que pode afetar a capacidade de comunicação,
socialização e comportamento do indivíduo, sua aprendizagem precisa ser
pautada em adequar seus anseios de forma a contribuir com sua maneira de
agir e pensar, direcionando sua forma de lidar com o conhecimento.
Neste sentido, ressalta-se a relevância de um planejamento de ensino
estruturado para a aprendizagem de crianças com espectro autista, uma vez
que ela precisa ser atendida em suas particularidades com a organização de
um ambiente que favoreça as discriminações necessárias e potencialize a
organização de suas funções neuropsicológicas. De acordo com FONSECA
(2014 p.42), o ensino estruturado propõe:
Oferecer na realização da tarefa dicas e organização visual suficiente
para atender ao estilo cognitivo diferenciado que possuem, é
fundamental para a compreensão daquilo que está sendo ensinado e,
principalmente, a independência em tudo que lhe é proposto.
(FONSECA, 2014, p.42)

A busca por modelos ou metodologias de ensino para trabalhar a


aprendizagem das crianças com autismo, fazem-nos chegar ao ensino
estruturado embasado na proposta do programa Treatment and Education of
Autisticand Related Communicattion Children (TEACCH), que tem por objetivo
especificar e definir de maneira operacional os comportamentos que devem ser
trabalhados (ORRÚ, 2012, p.60). O programa TEACCH possibilita a criação de
recursos psicoeducacionais que vem auxiliando na transformação dos
currículos, programas e adequação de material, atuando nas formas de
avaliação e adequação dos aspectos referentes à interação e organização dos
comportamentos, além do desenvolvimento do indivíduo em diferentes níveis.
Tendo relevância por trabalhar com os passos cognitivos que envolvem o
processo de aprendizagem das crianças com espectro autista.
A importância de se desenvolver um planejamento de ensino estruturado
está ligada ao ato de facilitar o processo de ensino e aprendizagem da criança
com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), e assim promover a interação
entre educador e educando, criança e sociedade.
Percebe-se que com a chegada de alunos com espectro autista nas
salas de aulas regulares, emergem também em dificuldades de professores na
busca de formas de ensino para tais alunos, o que não é de se estranhar, uma
vez que nem todas as escolas dão suporte aos seus professores e muito
menos formação específica para lidar com esses alunos. Tal trabalho, já não é
fácil para o professor especializado que atua no AEE, e sabe-se que também
não o é para o professor da escola regular que além de uma criança com
deficiência em sua sala, que requer adaptações e metodologias adequadas a
ele, esse professor ainda tem mais 20 ou 30 alunos em sua turma. O que
acaba acontecendo é que as metodologias de ensino pouco contribuem para a
aprendizagem da criança com autismo, não levando em consideração suas
necessidades cognitivas..
Partindo da hipótese de que a criança com autismo precisa de uma
proposta de ensino estruturada, por ter dentro de suas necessidades
dificuldades com as interações sociais, comunicação e comportamentos
atípicos, torna-se fundamental um olhar minucioso acerca de sua
aprendizagem. Mas que importância tem um planejamento de ensino
estruturado para a aprendizagem dessas crianças? Quais as implicações do
programa TEACCH para a sua aprendizagem? E em que termos uma proposta
de ensino estruturado contribui com os Atendimentos às pessoas com TEA?
É partindo desses questionamentos que esse estudo se propõe a
dialogar com alguns autores da área na tentativa de iniciar a busca por essas
resposta, com a intenção de aprofundar tais estudos e garantir melhorias nos
atendimentos especializados com os quais nos dispomos a trabalhar.

OBJETIVO GERAL

Apresentar a importância de se trabalhar com o a proposta do ensino


estruturado por meio do programa TEACCH na aprendizagem de crianças com
Transtorno do Espectro Autista.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

• Desenvolver uma pesquisa biliográfica, buscando a relevância de


ser trabalhada a proposta do ensino estruturado;
• Apresentar, com ajuda de acervos bibliográficos, análises já
desenvolvidas que constroem o pensamento acerca da
aprendizagem de uma pessoa que apresente o TEA
• Realizar Atendimento Educacional Especializado às crianças com
TEA com base no ensino estruturado

METODOLOGIA
A proposta metodológica deste estudo baseia-se em uma pesquisa
bibliográfica realizada com o objetivo de colher informações a cerca da
importância do programa TEACCH e o planejamento de ensino estruturado
para a aprendizagem de crianças com TEA, para o qual constitui parte de uma
pesquisa descritiva que tem também acompanhado as práticas docentes das
professoras autoras desse trabalho.
Nesse sentido a metodologia deste trabalho proporciona a catalogação
de alguns livros e artigos de instituições e análises de teóricos que já trabalham
com crianças com TEA, e embasam suas pesquisas no desenvolvimento do
ensino estruturado e do referido programa. Através de uma compilação dos
materiais catalogados pôde-se chegar a construção das análises acerca do
assunto.
Esse processo de leitura sobre o que já se produziu é importante pois,
de acordo com Bell (2008) o pesquisador, vai envolver a “leitura do que outras
pessoas escrevem sobre sua área de interesse, coletar informações para
apoiar ou refutar esses argumentos e escrever as suas conclusões.” O que
dará mais base para que se busque orientações para as afirmativas descritas
dentro da orientação da aprendizagem de pessoas com autismo.
De acordo com Demo (2014), a leitura nos permite a formulação de um
“quadro de referências”, onde a proposta está na justificativa da pesquisa, na
relevância do tema, o ponto de vista e de partida para a elaboração do trabalho
cientifico. Nesse sentido, o quadro de referencias desse trabalho estruturou-se
com autores como
Fonseca (2014) que levanta questões acerca da mediação escolar e o
autismo, apresentando uma proposta sobre a prática pedagógica intermediada
na sala de aula; Orrú (2012) que apresenta questões sobre a interação da
criança autista dentro de sua linguagem e educação; Cunha ( 2013)
ressaltando as práticas educacionais com um jeito diferente de aprender e
ensinar; Ociolla e Fonseca (2016) que dentro de seus estudos debatem as
questões referentes as propostas do ensino estruturado para pessoas com
autismo, bem como Freire (2014) proporcionando o debate sobre as questões
do ser que aprende, dentro de uma visão voltada para o ser que ensina.
Trata-se, portanto, de um levantamento que cerca as ações pedagógicas
com experiências voltadas a crianças com autismo e sua aprendizagem, assim
como as ações pedagógicas pertinentes a qualquer educador, com intuito de
tornar relevante a vida educacional de pessoas que necessitam de ajuda nesse
processo.
Com material catalogado os dados acerca do assunto, dinamizaram a
pesquisa, trazendo informações relevantes para o aprofundamento do assunto.
Fazendo-se necessário repensar as práticas educacionais voltadas para as
crianças com autismo, assim como as áreas de aprendizagem (cognitivo,
afetivo, psicomotor, social; a integração sensório-motora; comunicação,
concentração e memória).
Assim, os resultados desse estudo dividem-se em apresentar questões
relevantes sobre a aprendizagem da criança com TEA, e as contribuições do
ensino estruturado e do Programa TEACCH;

RESULTADOS PARCIAIS

Os resultados desse estudo nos permitiram compreender melhor como


funciona o universo autista e como o ensino estruturado por meio de
Programas como o TEACCH podem contribuir com o processo de
aprendizagem dos alunos com TEA. Conforme apresenta-se a seguir.
O UNIVERSO AUTISTA.
São muitas as indagações acerca do universo da pessoa com autismo,
suas insatisfações, seus desejos, seu desenvolvimento educacional,
principalmente relacionado à aprendizagem de criança com espectro autista.
Tais indagações perpassam por uma falta de conhecimento acerca de tal
assunto e uma inquietação do que estará sendo trabalhado dentro das
instituições de ensino para que o trabalho com esse público seja satisfatório.
Ao longo de décadas surgem especulações acerca do universo do
autismo. Uma das primeiras teorias acerca do autismo foi a de Kanner (1948
apud, ORRÚ 2012) considerando que as manifestações apresentadas pelos
pacientes apontavam para uma possível esquizofrenia, ocasionada pelo
afastamento familiar, ficando conhecida como a “síndrome da mãe geladeira”.
Este autor, publicou uma investigação minuciosa sobre a “doença”, nomeando-
a como: “Distúrbio Autístico do Contato Afetivo”. Cinco anos depois o
pesquisador considera a hipótese do autismo se encaixar como uma psicose,
por motivos da falta de comprovação laboratorial.
Orrú (2012) menciona em seu livro “Autismo, Linguagem e Educação”,
outros autores, além de Kanner, que desenvolveram pesquisas acerca do
autismo. Entre eles, Frances Tustin que embasava suas pesquisas na hipótese
de que o desenvolvimento psicológico teria paralisado em um estágio da vida
prematura da criança, considerando a separação da mãe do bebê. Tustin
levanta também considerações importantes na fundamentação educativa de
tais crianças, referenciando as práticas metodológicas de Maria Montessori e
outros, iniciando um olhar a mais as práticas educacionais das crianças com
Autismo.
Atualmente, após grande avanços nos estudos acerca do autismo, o
mesmo passa a ser considerado uma “Síndrome Comportamental com
Etiologias Múltiplas e curso de um distúrbio de desenvolvimento” ( GILBERT,
1990 apud ORRÚ 2012 p.23).
O termo “autismo” é usado para descrever um transtorno global do
desenvolvimento caracterizado por anormalidades qualitativas nas
interações sociais e nos padrões de comunicação, bem como por um
repertório restrito, estereotipado ou repetitivo de interesses e
atividades, (SCHMIDT, 2014 p.13).

Em 1989 o D.S.M III passa a considerar o autismo como um Transtorno


Global do Desenvolvimento (TGD), onde as manifestações estão ligadas a uma
perturbação característica do funcionamento da interação social, comunicação
e comportamento. No decorrer dos anos os estudos aprofundam-se no assunto
e em 1994 a APA publica a quarta edição do DSM, mudando o termo “Global”
para “Invasivo” e alterando critérios no diagnóstico. Onde as principais
características estão voltadas para as anormalidades qualitativas na “interação
social recíproca e nos padrões de comunicação, por repertório de interesse e
atividades restritas, repetitivas e estereotipadas” (ORRÚ 2012 p.27).
Compreende-se que as principais dificuldades encontradas para a
aprendizagem de uma criança com espectro autista está justamente voltada à
estimulação das três áreas do desenvolvimento: interação social, comunicação
e comportamento. E uma das funções da escola estará ligada ao
conhecimento de trabalhar a aprendizagem de forma diferenciada, porém não
excludente.

A APRENDIZAGEM DA PESSOA COM TRANSTORNO DO ESPECTRO


AUTISTA.

Cunha (2013) ressalta a reflexão sobre o que é a aprendizagem, se não


a característica do ser humano. Um ato inato pela busca do novo, curiosidades
colocadas para fora. Por conseguinte uma relação que se faz para todos sem
distinção.
A proposta dos questionamentos sobre a aprendizagem de uma criança
com TEA apresenta-se na citação de Eugênio Cunha ( 2013) em que ligada o
ato de refletir sobre as ações educacionais a serem tomadas para uma criança
com o transtorno do espectro autista.
O pensar sobre a aprendizagem de uma criança com TEA estará ligado
às manifestações da doença em seu comportamento e a relação com sua
forma de desenvolver a aprendizagem. Neste sentido torna-se relevante
destacar que, as crianças com autismo não desenvolvem a atenção
compartilhada, e essa atenção compartilhada tem sido considerada a
habilidade mais importante dessa fase por ser um precursor da compreensão
das interações comunicativas dos outros, da imitação com inversão de papéis e
da linguagem.

O distúrbio da atenção compartilhada tem sido considerado um dos


indicadores mais poderosos do autismo, junto como o jogo simbólico,
permitindo diferenciar crianças com autismo de crianças com outros
tipos de atraso no desenvolvimento (CUNHA 2013 apud
CARPENTER e TOMASELLO 2000).

Os sinais apresentados por uma criança com autismo devem ser


detectados precocemente, para que os estímulos sejam conduzidos junto com
o desenvolvimento da criança. Dentro desses estímulos os programas de
intervenção acompanham a aprendizagem da criança com TEA. Conduzindo-
os a uma organização para a construção de habilidades que propiciem uma
organização sensorial.
Os enfoques ligados à aprendizagem de uma pessoa com TEA estão na
interação entre as funções motoras, psicomotoras e perceptivas, segundo
FONSECA (2014 p.41), essas três funções constituem-se como funções
permanentes da cognição, por essas serem importantes na eficácia da
aprendizagem.
As funções motora, psicomotoras e perceptivas tornam-se primordiais no
processo de aprendizagem por estarem relacionadas ao movimento e a ação
reflexiva do que chega até nós. Quando é trabalhada a percepção e
representação mental do espaço na leitura e na escrita levanta-se justamente a
capacidade do indivíduo em trabalhar sua organização motora, psicomotora e
perceptiva. “A boa visualização e a fixação das formas e, principalmente, a
possibilidade de respeitar sua sucessão impõem o domínio, pelo menos
implícito, de uma orientação fixa, da qual depende a ordem temporal tanto da
decifração como da reprodução.” (FONSECA, 2014: p 43)
Neste sentido a aprendizagem de uma pessoa com TEA estará
associada a sua capacidade de regular sua integração sensório-motora, para a
obtenção de qualidade de vida por meio de atividades sensoriais que
favoreçam respostas mais adequadas ao ambiente.
A organização sensorial está na habilidade em organizar, interpretar
sensações e responder apropriadamente ao ambiente, auxiliando nas
atividades do dia-a-dia. Haja vista que a alguns estímulos aparentemente
comuns são percebidos como algo estressante, causador de medo e
ansiedade, enquanto outros, como fontes de prazer e satisfação. Percebe-se
que crianças autistas com problemas sensoriais apresentam dificuldade em
interpretar e organizar as informações sensoriais vindas do seu próprio corpo
ou do ambiente.
Os programas de intervenção só serão válidos se pautarem suas
observações nas habilidades de desenvolvimento que precisam ser
estimuladas. Compreendendo as necessidades de cada criança, tendo em
vista que cada criança manifesta o transtorno de formas diferenciadas,
apresentando necessidades específicas a suas necessidades.
Dentro das habilidades de desenvolvimento que precisam ser
estimuladas estão: atenção e foco; engajamento e relacionamento; gesto não
verbal; afeto; resolução de problemas; comunicação simbólica e pensamento
abstrato e lógico. Para que se faça uma intervenção dentro das reais
necessidades apresentadas pela criança com TEA, faz-se necessário um
prognóstico para analisar os comportamentos que merecem atenção.
O processo de aprendizagem de uma criança com TEA requer estudos
acerca de cada indivíduo, e uma estruturação no desenvolvimento deste
processo, na dinâmica de articulação seja dentro de centro de atendimento
educacional especializado ou na própria sala de aula da rede regular. O ensino
estruturado e o programa TEACCH, vem mostrar a importância de organização
para o atendimento de pessoas com TEA.

O PROGRAMA TEACCH E O ENSINO ESTRUTURADO.

Neste capítulo apresento o TEACCH e a proposta do ensino estruturado


que está dentro do método TEACCH, embasados nas obras de Viviane Costa
de Leon ( 2016), que apresenta as práticas baseadas em experiências para a
aplicação do TEACCH nos TEA, Juliana Ociolla e Maria Elisa Granchi Fonseca
(2016) que dentro de seus estudos também debatem as questões referentes às
propostas do ensino estruturado para pessoas com autismo. O objetivo deste
capítulo é apresentar as fundamentações teóricas acerca do trabalho com as
pessoas com TEA mostrando a importância do trabalho com o TEACCH e o
ensino estruturado.
O método TEACCH iniciou como projeto piloto em 1960 pelo
Dr.EricSchopler( 2005 apud LEON 2016 p.11) onde as primeiras investigações
se embasava na busca de conhecimentos acerca de como o autismo afeta a
criança e suas famílias. Em português o significado da sigla TEACCH é:
tratamento e educação para crianças com autismo ou desordens relacionadas
à comunicação.
Segundo Viviane de Leon (2016) trata-se de um trabalho ligado à prática
psicopedagógica, que busca observar os comportamentos das crianças
autistas em diversas situações. Como vimos em capítulos anteriores as
pessoas com TEA apresentam uma mente diferenciada, uma forma de
compreender e aprender diferente, de acordo com suas necessidades, pois sua
cognição estará afetada pelo TEA.
“Nesse sentido o pensamento do TEACCH pode ser
resumido da seguinte forma: se a cognição é diferente,
logo, o método de aprendizagem também precisa ser
diferenciado, necessita valorizar e entender essas
diferenças.” (LEON, 2016: p. 14)
O TEACCH é um programa que parte do pensamento autista, para a
prática do trabalho com a pessoa com autismo, levando em consideração o
desenvolvimento da autonomia da pessoa com TEA, partindo do principio de
que quanto menos intervenções em seu processo de construção do
conhecimento melhor será sua qualidade de vida.
FONSECA e OCIOLA (2016: p.16) apud (Leon e Fonseca 2013),
ressaltam que “o programa é um sistema de orientação da base visual com
apoio na estrutura e na combinação de vários recursos para aprimorar a
linguagem, a aprendizagem de conceitos e a mudança de comportamento”. A
pessoa com TEA desenvolve sua aprendizagem de forma muito mais explicita
do que implícita, ou seja, trabalhando a sua base visual, pautada pelo
TEACCH.
O TEACCH trabalha com os princípios da organização, rotina,
tarefas estruturadas, material visualmente mediado, ensino de
relações de causa e efeito, comunicação alternativa, espaços
com suas funções, delimitações físicas, eliminação de
estímulos concorrentes e controle do comportamento.
(FONSECA e OCIOLA, p.17 apudLEON e FONSECA 2013)
Neste sentido o TEACCH apresenta em sua abordagem à organização
no que tange as atividades, e a própria organização do ambiente para
asatividades, a estrutura são eixos norteadores para a prática do TEACCH.
Para que esses materiais e a estrutura física do ambiente de desenvolvimento
das atividades alcancem a aprendizagem da pessoa com TEA, haja vista o seu
potencial de aprendizagem explícita.
O ensino estruturado vem como uma proposta de intervenção embasada
pela filosofia do programa TEACCH, com a aplicação de métodos instrucionais
baseados no cotidiano de cada criança com TEA. Os déficits cognitivos da
pessoa com autismo são pautados na utilização de uma rotina de trabalho
individualizada favorecendo as áreas do conhecimento.
Segundo FONSECA e OCIOLA ( 2016), apud Schopler e Mesibov(1995),
os alunos autistas respondem bem aos sistemas organizadores e, por essa
razão, os centros de atendimentos e as escolas deveriam organizar seus
espaços para conseguir uma aprendizagem de qualidade. LEON (2016) aponta
também a importância da organização do ambiente para a criança com autismo
por este apresentar pistas para o melhor entendimento da criança com TEA.
É notório a importância da organização dos espaços e das atividades
para o atendimento educacional da pessoa com autismo, pois desta
organização parte a auto regulação de seus comportamentos e ainda a
compreensão do que deve ser feito.
Os sistemas de trabalho do ensino estruturado seguem uma forma
sistemática de apresentação, onde as instruções, as tarefas e os materiais são
elaborados para que os alunos trabalhem de forma independente. “É um
sistema que a pessoa usa para ser independente: olhar, buscar, engajar,
executar e terminar.” (FONSECA e OCIOLA , 2016 p.19).
A experiência do TEACCH mostra que quanto mais o aluno
compreende o que deve ser feito, quanto trabalho vai ser
realizado, o que vem em seguida e o conceito de fim, a sua
produtividade aumenta satisfatoriamente, já que o sistema de
trabalho clarifica a compreensão de toda a atividade
(FONSECA e OCIOLA ( 2016) p.55, apud MESIBOV,
SCHOPLER e HEARSEY, 1994)
A avaliação é um ponto muito importante no TEACCH, pois o processo
de intervenção é individualizado, a determinação previa do que irá ser
trabalhado com a pessoa com TEA é construída a partir das avaliações
danecessidades da pessoa, ouvindo as famílias. O autismo apresenta a
mesma base de sintomas, a mesma natureza de disfunções cognitivas, porém
sua a manifestação da problemática é particular.
Segundo LEON (2016) no TEACCH são trabalhadas duas formas de
avaliações: as avaliações formais e as avaliações informais. A avaliação formal
vem atender as necessidades clínicas se referindo a testes padronizados a
partir de critérios estatísticos e amostras, determinado padrões, idades e
escores. A avaliação informal sendo mais dinâmica são protocolos gerados a
partir da observação de grupos clínicos de pesquisa, tendo o objetivo de
fornecer uma avaliação das habilidades do sujeito.
A avaliação da pessoa com TEA torna-se eixo relevante para a
construção de um processo de aprendizagem específico, dentro de objetivos
traçados para as proposta de ensino e aprendizagem, valorizando as áreas
favoráveis ao processo de aprendizagem e seus pontos habilidosos. Pensando
na avaliação e o processo de aprendizagem de uma pessoa com TEA, se
constrói as maneira de ensinar uma pessoa com autismo, o TEACCH e o
ensino estruturado tornam-se pontos fundamentais para a construção do
processo de ensino e aprendizagem de uma criança com TEA.

CONCLUSÕES PARCIAIS
As pessoas com TEA apresentam uma mente diferenciada, uma forma
de compreender e aprender distinta, compreender essas manifestações e suas
necessidades é fundamental para profissionais e família, mas acima de tudo a
compreensão das manifestações do TEA no indivíduo está ligada a forma que
será desenvolvida as intervenções, do aprender e do ensinar.
Assim como em uma sala com 20 ou 30 alunos não se consegue uma
hegemonia na aprendizagem e no conhecimento, com a pessoa com autismo é
igual, formas de pensar e agir diferenciadas, aprendizagem pautadas em
assuntos específicos. A necessidade constante de buscar conhecimento torna-
se relevante para todos os profissionais que atuam com pessoas autistas.
Por isso essa busca em apresentar a importância de se trabalhar o
TEACCH e a propostas das intervenções do ensino estruturado para a pessoa
com autismo. É perceptível a preocupação com o desenvolvimento, com a
aprendizagem de uma criança com autismo, seja na família ou nas escolas.
Neste trabalho o objetivo foi apresentar como a aprendizagem de uma
pessoa com TEA se desenvolve, como aprende uma criança com autismo, e
apresentar o programa TEACCH como uma proposta de estruturação do
desenvolvimento dessa aprendizagem. Compreendendo que a pessoa com
autismo aprende, basta um olhar em suas manifestações para a aprendizagem.
Tirar o foco da “deficiência”, não há deficiência, há uma maneira
diferente de aprender, assim como a pessoa surda precisa da LIBRAS( Língua
Brasileira de Sinais) para se comunicar e compreender o que esta sendo
repassado, o autista precisa de uma proposta de ensino estruturada haja vista
que o mesmo pode aprender dentro de uma organização de trabalho.
Nesse sentido, este trabalho veio por meio de fundamentações teóricas
propiciar o conhecimento sobre a pessoa com TEA e as intervenções de
trabalho com eles. Mostrar que há anos já se fala em formas diferenciadas de
trabalhar a aprendizagem das pessoas com autismo e dentre elas a TEACCH
A proposta desta pesquisa não se encerra por aqui, o objetivo mais
importante é levar além dos muros acadêmicos, fundamentar mais a pesquisa,
e continuar levando para dentro do Atendimento Educacional Especializado da
APAE bem como das escolas regulares essa proposta de ensino estruturado.
A continuidade de uma pesquisa torna-se ponto favorável para todo
pesquisador, uma vez que sua busca por conhecimento não pára e o professor
está em constante aprendizado. Nesse sentido, para objetivos futuros propõe-
se relatar as experiências já iniciadas com as crianças com TEA que
freqüentam o AEE da APAE/Belém.
Conclui-se inicialmente que a pesquisa favorece a criação de novos
rumos para o entendimento sobre o universo autista, em que o repensar a
prática será mais valioso, pois não há receitas prontas, mas sim propostas de
melhorias nas ações educacionais que referem a mediação da aprendizagem
da criança com transtorno do espectro autista e é o professor, refletindo sobre
suas ações, que saberá o melhor caminho a seguir.
REFERÊNCIAS

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BELL, Judith. Projeto de pesquisa : guia para pesquisadores iniciantes em


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FONSECA, Maria Elisa Granchi; CIOLA, Juliana de Cássia Baptistella. Vejo e


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LEON, Viviane Costa de. Práticas baseadas em experiências para a


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SCHMIDT, Carlo (Org.) Autismo, Educação e Transdisciplinaridade. São


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