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AR TE E CU L TU R A D O P O V O KR AH Ô
1ª Edição
2012
Faculdade de Letras
D i retor: L ui z F ranc i s c o D i as
V i c e- D i retora: S andr a Mari a G ua l be rto B raga B i anc het
Autoria:
Organização
Francisco Edviges Albuquerque(Org.)
Fotografia
F ranc i s c o E dvi ge s Al buqe rque
Diagramação
J os é va l do B ri nge l da Cruz
J oã o P aul o de Cas tro P ai m
Capa
F ranc i s c o E vid ge s Al buqe rque
J os é va l do B ri nge l ad Cruz
Digitação
F ranc s i c o E vid eg s Al buqe rque
J oã o P aul o ed Cas tro P ai m
Todos os di rei tos res erva do s aos í ndi os Krahô: P roi bi da a repr oduç ã o total ou p arc i al , por
qualquer meio de processo, especialmente por sistemas gráficos, microfilmicos, fotográficos,
reprográficos, fonográficos, videográficos, internet, note-book. A violação dos direitos autorais é
punível como crime (art. 184 e parágrafos, do Código Penal, cf. Lei nº 6.895, de 17/12/80) com
pena de prisão e multa, conjuntamente com busca e apreensão e indenizações diversas (art. 102,
103 parágrafo único, 104, 105, 106 e 107 itens 1, 2 e 3 da Lei nº 9.610 de 19/06/98. Lei dos Direitos
Autorais).
Apoio:
ISSN ............
CDU - ........
1º Edição
- 2012-
A organização deste Livro partiu de uma constatação de que alunos e professores Krahô
da Aldeia Manoel Alves dispunham de bons métodos didáticos para falar, ler e escrever em língua
materna e em Português, mas necessitavam de uma obra específica de sua língua, pois todos os
l i vr os di d á ti c os que exi s tem nas es c ol as de s ua s al de i as vi s am ape nas à s i s temati z aç ã o d a L í ngua
Portuguesa, assim professores e alunos Krahô sentem a necessidade de um subsídio didático
adequado na sua língua materna.
Ini c i al mente, es s e traba l ho c onduz i u- nos a três obs erva ç õe s i mpor tantes : a pr i mei ra
elaborar um livro didático; a segunda, torná-lo acessível aos professores e alunos Krahô; a terceira,
garantir a sua praticidade.
O L i vr o de Arte e Cul tur a do P ovo K rahô s e c ompõe de qua tro pa rtes pr i nc i pa i s :
A Primeira parte (Festas Krahô) aborda os aspectos socioculturais e históricos sobre as
festas Krahô ainda realizadas nas aldeias desses povos.
Na Segunda parte (Mitos e Narrativas Krahô) foram catalogados pelos alunos e professores
i ndí ge nas Krahô, na Al de i a Manoel Al ve s , todos os Mi tos e N arrati va s c ontados pe l os mai s ve l hos
e, ainda, preservadas e mantidas as Histórias na cultura desses indígenas.
A Terceira parte (Artesanatos Krahô) apresenta a relação dos principais artesanatos, onde
professores e alunos indígenas fizeram uma pesquisa juntos à comunidade e aos índios mais velhos,
catalogando os artesanatos ainda preservados na cultura dessa comuidade.
Na Quarta parte (Pintura Krahô) traz uma amostra das pinturas Krahô que representam os
dois partidos do Inverno e do Verão.
Este livro é fruto de uma experiência de 9 anos de convivência e pesquisa entre os povos
Krahô, bem como através da implantação e extensão do Projeto de Apoio Pedagógico à Educação
Escolar Krahô, que, ao longo desses anos, vem contribuindo significativamente para a educação
escolar bilíngue e intercultural nas escolas, considerando seus sabeberes, culturas e línguas próprias,
de ac ordo c om real i da de s oc i ol i nguí ti c a Krahô, um a ve z que dur ante a el abor aç ã o da s aul as , os
professores indígenas sentem a necessidade de apoio bibliográfico para prepararem suas aulas e
conduzirem suas práticas pedagógicas no processo de ensino e aprendizagem dos alunos indígenas.
Segunda Parte: Mitos e Narrativas Krahô – Mam mẽ ihtũm jũjãrẽn xà nẽ ihtỳj hipẽr ampo jarẽn
xà.....................................................................................................................................................91
1. Tokàhnã Cwẽmcwẽ.....................................................................................................................92
2. O Macaco e o Jabuti - Cukôj mẽ Caprãn.......................................................................................100
3. Um Homem Guerreiro sem medo: Hecahô.............................................................................108
4. A Onça e o Menino..................................................................................................................121
5. A História de Hôhpore..............................................................................................................128
6. Hitôhkrere..................................................................................................................................140
7.Awkê............................................................................................................................................157
8. A Mulher Estrela - Caxêkwuj......................................................................................................174
9. Krãhkrokrocre............................................................................................................................187
Kwỳrti ita quê ha pom jũm kra xà te hamãr cupê ihcuran ita pẽr xà.
Quê há mẽ hõ amji kin to, Kwỳrti.
Kwỳrti representa uma criança que quase foi morta por uma doença. Daí, nós
chamamos a festa dela de kwỳrti.
Os índios se reúnem para organizar como vai ser esta festa. Depois chamam
todos das aldeias, para saberem quem quer participar da festa.
Por volta das cinco horas da tarde, vão tocar fogo no moquém e deixar esquentar
as pedras.
Depois, o povo da aldeia que fez a festa de kwỳrti, faz filas para pegar seus
pedaços de paparuto. Enfim, os que vieram para participar da festa, voltam para suas
al de i as .
Pàrti jõ amjĩ kĩn ita mã hõtpê mẽ ita hãm tu. Mẽhĩ té amjĩ ton xà mã.
Nẽ ihkrãre pahhi cà pê mẽ cati to cuprõ nẽ mẽ to ihhêmpej. Pea quê há mẽ
ihnõ kàre nõ amjĩ kĩn ita to ihcaakôc krĩ ita kãm. Pea quê há mẽ ihcunẽa
capehnã mẽ ajpen to ihhêm pêj pa, nẽ ma amẽ ihcahkũm mẽ hũrkwa mã.
De manhã cedo, os Hôxwa vão para o mato cortar a tora de batata. Arrumam
o machado, o facão e vão para o mato procurar as árvores grandes. Depois, cada
Hôxwa corta um pouquinho até derrubarem as árvores maiores.
Cortam duas toras grandes da mesma árvore, que foram derrubar e vão arrumar
a tora que foi cortada. Arrumam com facão, para ficar bem bonita e bem feitinha.
Em seguida, os Hôxwa voltam para aldeia. No outro dia, de manhã bem cedo, os
Hôxwa saem para o pátio, falam para a comunidade, que a tora de batata está pronta
e bem feitinha.
Após esse período, todos da comunidade voltam para o córrego, para tirar
a tora de batata e colocar na estrada bem próxima da aldeia. A tora fica a uns 150
metros da aldeia, porque é muito pesada. Por isso, as mulheres não carregam a tora
de batata, somente os homens.
Para colocar no meio do pátio, um dos partidos chega primeiro. Aquele que
chega por último, fica triste. O cantador vai ao meio do pátio, e os partidos vão
rodear a tora de batata, que fica no meio do povo. Depois os parentes vão se molhar
com água da garrafa, e o cantador para de cantar.
Depois saem de casa e vão rodeando a aldeia, parando em cada casa. O homem
que quiser brincar, fica na frente de jogador de batata, que vai jogando batata até
ac ertar o homem , que s ai da br i nc ade i ra e va i pa ra o pá ti o, onde a br i nc ad ei ra
termina.
Após alguns meses, o milho está pronto para ser colhido. O dono do
milho recolhe a palha para fazer peteca.
Depois, as mulheres vão pintar os filhos com urucum, ficam na fila, as crianças,
os jovens e os adultos.
Eles vão se dividir em dois grupos. O partido do Peixe tira uma rainha, e o
partido da Lontra tira duas rainhas.
Nessa festa, existe um homem que vai ser o Cará. Ele tem só uma rainha.
Há também um homem que vai ser a Arraia, que possui também uma só rainha.
Pela manhã, eles combinam e tiraram todas as rainhas. Escolhem dois rapazes para
cortarem a tora.
hõ to ahcuprõ quê tere ihkur caxuw pom quê tep. Mẽ cupê tep catêjê quê ha ma cà pê ampa mã krĩ
cape kôt quê ha amẽ ihcuhhê. Nẽ mẽ krare quê ha tapi amẽ ihcuhhê cà wỳr pry kôt.
À tarde, os homens vão correr com a tora. Depois vão espalhar e arrumar as comidinhas
que as Lontra comem, como peixe. A turma do Peixe espalha também e fica mais longe do pátio,
A turma da Lontra corre atrás da turma do Peixe. Depois que eles terminam de
correr, vão para suas casas, tomar banho, jantar e descansar um pouco.
Tarde da noite, cada partido pega uma vara e faz uma fila. O parido que está
no pátio, vem gritando como Seriema, até chegar na frente da pensão, onde termina
a música, encerrando a festa.
Quando eles acabam de cortar as toras, cada partido vai onde estão as toras.
Um homem, que sabe cantar a música dessa festa, canta assim.
No término dessa festa, os homens vão caçar e matar os bichos tais como:
capivara, anta, catingueiro, cutia e trazem para aldeia.
De manhã, cedinho, cada homem vai para sua própria tora, e as mulheres ficam
no meio da estrada, esperando a tora dos homens. Quando as mulheres encontram os
homens com as toras, cada mulher pega a tora de um homem e corre. Ao cansar, dá a
tora para dono, que corre e pega do outro homem, e cada mulher faz isso até chegar
à aldeia.
Pàrtere está chegando à aldeia e vai ser jogada no pátio. São convidadas duas
mulheres para cantarem a cantiga da Pàrtere.
O jogo ficou empate entre kỳjcatyẽ e harãhcateyẽ. O povo vai pegar paparuto
nos parentes e comer junto no pátio, depois vai para a casa da pensão.
Eles ficam na casa da pensão, e à tarde vão correr novamente com a tora. Vão
para o pátio e o pessoal do harãhcatijê pede desculpas para kỳjcatyê e a festa do
Pàrtere acaba.
As mulheres vão para roça arrancar mandioca, para fazerem o paparuto para
irmãos, filhos e parentes que vão correr com as toras.
O cantor começa a cantar. Quando ele termina de cantar, aqueles que estão na
frente vão pegando suas toras e carregando para aldeia, um de cada vez até terminar
a fila. No caminho da aldeia, as mulheres vão ajudando os homens a carregarem as
toras para não cansarem. Ao chegarem à aldeia, dão algumas voltas com a tora.
Ỹhỹ
ihkrãrê quê ha mẽ ihcunẽa mẽ cuprõ nẽamẽ amjĩ jakrepej. Nẽ
mẽ amjĩ mã mẽ ihcakrôc cà pê nẽ amẽ ihcahkũm nẽ amẽ amjĩ mã ampo to.
Cà ita kãm ampo cunẽa caxuw eute mẽ ajpẽn ta mẽ ihkêm pej xà.
As mulheres que, são mães, pintam os filhos e o marido com pau de leite,
urucum ou jenipapo. Todos se pintarm e bem preparados à espera da corrida. Depois,
o partido do Verão, que é Catàmjê, vai à frente onde está a tora. O partido do Inverno
que é Wacmẽjê vai se juntar e se pintar também.
Todo mundo vai para a tora, e os outros partidos que já foram na frente, vão
ficar esperando onde a tora foi cortada.
Quando termina a cantiga, todo mundo fica perto da tora de Catàmjê onde
começa a corrida de tora.
Cahtyti ita mã ihat am, quê ha xônti mẽ ĩntuwajê itojê cuncã pro
portu. Quê ha patre ahpán nẽ mẽ ihkrã par tu quê ha ahpãn mẽ hujỹr ton
portu, quê ha ra mẽ cupê pẽp cahàc re.
No início da festa de Cahtyti, um velho mais experiente, que sabe fazer a festa,
batiza o jovem para festa de Cahtyti. O gesto de batizar é feito assim, passa a mão na
cabeça do jovem, mais ou menos cinco vezes. Este Pẽp Cahàcre está preparado para
festa da esteira.
Aqui estão os Pẽp Cahàcre, que deram a volta na aldeia e estão comendo
sua comida. O Mestre deles está dividindo a comida, e a rainha fica, ao lado do Pẽp
Cahàcre, comendo também. Depois de jantarem, eles vão para suas casas .
Se no outro dia, o Pẽp Cahácre sentir-se mal ou doente, não vai acompanhar
o grupo dele. Esta casa é o lugar de ficar a jovem da esteira. Toda tarde, na hora de
pegar comida, o mestre delas está sempre de olho nelas, se alguém fizer alguma coisa
de mal, ele vai dar uma chicotada nele.
No final desta festa, a mãe ou parente da jovem, enfeita-a com penas de pássaro,
para despedida da festa que vai se acabar.
Todas as mães pintam seus filhos, e os parentes também ajudam nas pinturas.
- Agora vou cuidar dele para você, e a mãe nem descofiava da mulher.
A mã e do be be z i nho l ogo i a dor mi r; a mul her ve l ha í a c antar pa ra o be be z i nho,
ía cantando, cantando e ía embora para casa dela.
Certo dia, uma mulher ganhou um bebezinho e ficou muita feliz, porque ela
tinha ganhado um filhinho. Quando ele completou três meses, a mãe estava muito
feliz.
Ela saiu de casa, correndo para casa dela. Chegou cansada, colocou o bebezinho
no c hã o, a mul her ve l ha pe gou um a pe dr a redondi nha, ba teu na c abe ç a do be b ez i nho,
comeu o corpo todo e deixou só os ossos.
Alguns anos depois, um homem foi caçar no mato, viu a mulher velha dormindo
e muitos ossos de bebezinho perto dela. O homem voltou correndo para a aldeia e
contou para a comunidade.
Amcro nã pê cukôj capãn japrô quê cupê hõxô nõ krẽr caxuw. Cukôj
japacture pê ihtêm mã api nẽ cute capãn mãn quê pjê kãm xa.
Pea mã cukõj kỳj pê intep pit ku nẽ caprãn mã iràràr pit rẽ. Mã caprãn
c um ã :
Certo dia, o Macaco convidou o Jabuti para comer sua fruta preferida. O
Macaco esperto subi e falou para o Jabuti ficar embaixo.
L á em c i ma, o Mac ac o c omi a as mai s madur as e joga va as ve rde s pa ra o
Jabuti.
O Jabuti ficou tentando escapar dali, foi se mexendo até que escapoliu e caiu
no chão, foi a uma caverna e lá ficou.
Mas um dia, o homem guerreiro foi caçar sozinho, viu o Quati e se escondeu
no mato.
Yhỳ pê jũm ita huprê to mõ, ne cumã ihihêjme pantoreh kãm cute
cumã hikram.
Mã pê cúria ihkrĩ to, cute amcro to to incre, pea pe ra, pram ne cumã
krô. Ropti kẽnkri capehna hapôj to ma.
Pe pũm ita roti cumãmã hara mẽm mã ihcukỳ, juma mã mẽ ano ita te,
no GO pir. Pea nã cumã amjaré, iwaey te mã imã ihhỳ, ne itar imã hikraj,
nẽ mã te.
O G enro e o Cunha do pa s s eava m pe l a mata e, de repe nte, enc ontraram o
filhote de arara no buraco da serra. O Genro deixou o menino junto com o filhote da
arara e foi embora. Lá ele ficou três dias sentado com fome e cede. Lá tava cheia de
fezes de arara.
A onç a es tava pa s s eando pe l a mata, pa s s ou de ba i xo da s erra, o meni no c us pi u
na frente dela. Ela olhou para cima viu o menino lá dentro, junto com o filhote de
arara.
Quando Onça macho chegou com o menino, ele ficou assustado com medo da
mulher. Ela ficou fazendo careta e o menino chorava de medo. O Marido da Onça fez
um arco e flecha. O menino flechou a mulher dele.
O Marido da Onça deixou mais uma vez o menino, a mulher e foi caçar. A
Onça fez mais uma careta. O menino flechou a fêmea da Onça Macho na mão.
Pegaram o fogo correram com ele para a aldeia. Chegaram com fogo a aldeia
e depois distribuíram para cada pessoa.
Pê ajco mehĩ ihtỳj amẽ ipa, nẽ ajco mẽ awja, He, nẽ mẽ tep rẽ. Nẽ mẽ
ihcunẽa amẽ ipa, nẽ krĩ kãm amẽ ipa itajê, mã ajpẽn jahkre quèatre.
Os povos Mẽhĩ viviam felizes em sua aldeia, pescavam, caçavam todos juntos.
Aldeia era muito grande, e as pessoas não se conheciam.
Ela mesma convidava para relação sexual. O homem perdia o controle e subia
na árvore. Ela deitava num galho torto lá em cima e ficava chamando o homem.
Depois um homem resolveu matá-la. Quem será que já matou muitas pessoas?
Mas essa coisa não vai me matar. Eu vou matar essa coisa. Fez arco e flechas bem
feito. Quando todos os homens foram para o mato, estavam todos juntos para caçar;
ele foi sozinho para caçar. Quando ouviu a voz dela, foi até lá, viu uma mulher tão
linda e falou:
- Desça daí, nós podemos conversar.
- E l a res pondi a:
Mas um dos homens ouviu essa voz, chegou até lá. Ela ficava em cima da
árvore. O homem perguntava para ela: onde passou o veado!
- E l a res pondi a:
- O veado passou rápido, você chegou atrasado. O homem olhava para ela e se
apaixonava por ela, sem saber se ela era alguém da aldeia.
- O homem falava:
- Desça daí! Vamos conversar.
- A mulher assassina falava... Ah! Eu não posso descer, você e que sobe. Nós
podemos conversar aqui.
- Ela ficou teimando. O homem afinal atirou a flecha bem no peito, ela caiu
morta. O homem ficou gritando, logo os outros ajudaram e todo mundo viu a mulher
assassina.
Os rapazes foram buscar um velhinho na aldeia para que ele cantasse quem
era. O velhinho cantou que era a mulher assassina que matava os homens, depois
voltaram para aldeia e termina a história.
Pê mam mẽ ihtũm ajco krĩ catea kãm amẽ ipa. Nẽ ajco mẽ amjĩ
kĩn to, nẽ mẽ awjahê, nẽ mẽ ahcukre nẽ mẽ crê, nẽ mẽ tep mã cupẽ, nẽ
ajco pur kãm mẽ apê. Pê pyjê ajco pê xô to mẽ ihjên, Crow mẽ capêr, mẽ
cũmxê, itajê to. Nẽ mẽ cumã amjĩ kĩn crinare hanẽ.
Quando chegaram à roça, o homem saiu para tirar o cipó, para envenenar
a água e pegar peixe. A esposa ficou arrancando mandioca e preparando a massa
para o paparuto. O homem chegou à beira do córrego, tirou o cipó, bateu na água,
e, enquanto, os peixes se embebedavam, ele tirou palha, forrou o chão, deitou e
dormiu.
- A mãe ficou ouvindo, saiu para fora de casa, viu aquele bicho muito feio,
c onhec eu que nã o era o s eu m ari do e di s s e pa ra os meni nos :
- Este não é seu pai. É o bicho feio, que matou seu pai e vem trazendo a perna
dele.
O sapo ficou esperando, passou uma hora, ele pensou, eles me engannaram
e foram embora, mas eu vou pegá-los no caminho. Saiu correndo atrás deles. Eles
estavam chegando à aldeia, ouviram o sapo grintar atrás deles.
- Ah! se a aldeia fosse longe, eu ia pegar vocês, mas voltou para a toca dele.
- Quando ela chegou, contou para os irmãos e parentes. De manhã cedo, eles
saíram para a roça e, logo no caminho, viram o rasto do sapo. Foram atrás dele,
chegaram à roça, pegaram a perna choraram e enterraram. Mas seguiram o rasto do
sapo até onde ele morava.
O Hitôhkrere ficou lá andando pelas matas e quando as mulheres iam para tirar
bacaba, ele ouvia o barulho, ficava atentamente.
Q ua nd o um a s ubi a, c ortava o c ac ho, e l e c hega va emba i xo e di z i a:
- Desce que eu subo e tiro para você.
As mulheres olhavam para baixo, ele subia com a cabeça para baixo. As
mulheres caiam lá de cima do pé de bacaba e morriam de medo. Toda vez que elas
iam tirar a bacaba, sempre faltava uma.
Entraram no bacabal, essa mulher ficou distante das outras, viu uma bacaba
madura e subiu, lá de cima ela gritou. É o Hitôhkrere ouviu o grito. Ele vinha
que br ando o m ato, c hegou e mba i xo, e l a vi u e di s s e:
- Ah! É este bicho que já matou muita gente, agora ele vai morrer também.
Foram buscar um velhinho, para ver e descobrir o nome dele. Quando chegaram
com o velhinho. Ele ficou olhando, virou com o bastão dele e disse para as mulheres:
Pê jũm cahãj ita amjĩ pê ih kra cura, pê ajco ahte apu ta ipa hõh wej
nã, jũm quê cumã ihkra to ajpa. Pê carna ihkra incrire.
Certo certa vez, havia uma mulher que teve coragem de matar seu próprio
filho. Ela morava sozinha e não tinha com quem criar o seu filho. O filho dela era
pequeno, morava com ela, a avó e o avô.
Um dia, ela foi tomar banho, de repente, apareceu o homem que ela nem sabia
de onde apareceu, a mulher ficou assustada.
- O homem começou a falar com ela.
- O homem que tinha tanta habilidade, foi conversando com calma até que a
mulher confiou nele.
- Q ua ndo el es c omeç aram a namorar e ti ve ram a pr i mei ra rel aç ã o s exua l, o
filho que era pequeno morreu de vômito.
Agora que ela estava só, continuou a namorar. Depois que ele parou de namorar
com ela, ela estava grávida.
Quando a mulher estava bem grávida, saiu para tomar banho, o filho que
estava dentro da barriga, transforrmava-se em rato e saía da barriga da mãe.
- Quando já estava chegando o dia de nascer, transformava-se em paca e saía
novamente da barriga da mãe.
O menino nesceu. Era bonito, corpo moreno. Mas não nasceu um menino bem
calmo, nasceu chorão.
O menino chorava tanto que a mãe já estava cansada de ouvir o choro.
Até que um dia, a mãe dele foi tomar banho e deixou o menino com a avó. A
avó pegou o menino no colo, de repente, começou a falar com a avó dele.
Um dia depois, a avó deixou ele, saiu com o marido para roça. A mãe resolveu
entregar o filho para os irmãos dela.
Os irmãos levaram o menino para matar.
Pê mam mhĩ na ĩncrecrer nẽ ihtỳj hõ krĩ kãm apu hacry nã amẽ kwỳ
mẽ ipa nẽ pê ajco amẽ pẽ jacrô pit ku. Pê ajco ihtỳj mẽ kwỳ kôt awjahê nẽ
ihtỳj tep mã mẽ kwỳ kôt cupẽ. Nẽ pe ajco cunẽa cà pê amẽ gõr.
Certa vez um Mehĩ solteiro vivia feliz na aldeia com seu amigo. Comia pau
pubo, caçava, pescava e dormia com seu amigo junto no pátio.
Até que o amigo do Mehĩ arrumou uma noiva, dormia na casa da noiva e não
dormia mais no pátio.
O Mehĩ solteiro dormia sozinho no pátio. Quando Caxêlỳj viu o Mehĩ dormindo
sozinho, desceu para terra e transformou-se numa rã.
Bem cedo, o Mehĩ pegou a cabaça, colocou Caxêkwỳj dentro e levou para casa
dele. Amarrou a cabaça em cima de jirau dele. Niguém sabia que Caxêkwỳj estava
dentro da cabaça.
Mas quando o irmão mais novo do Mehĩ viu o Mehĩ sorrindo para Caxêkwỳj,
ficou cheio de curiosidade. Quando o Mehĩ saiu para caçar, o irmão foi lá no jirau
do Mehĩ, subiu no jirau, abriu a cabaça, viu Caxêkwỳj dentro da cabaça e ficou com
medo de Caxêkwỳj.
Ele desceu de jirau e não contou, para niguém ficar com mendo. Mas quando
o Mehĩ chegou da caçada, subiu no jirau dele, abriu a cabaça, Caxêkwỳj não sorria
mais para ele.
- O Mehĩ perguntou:
- Por que você não sorriu mais para mim?
- Porque teu irmão mais novo já me viu.
Nesta noite, eu vou voltar para o céu para trazer a semente para sua família
plantar.
Caxêkwỳj perguntou a Mehĩ por que sua família esta comendo pau-pubo. Isto
não presta, é muito ruim.
Naquela noite Caxêkwỳj subiu para o céu, voltou com as sementes, na mesma
noite e Caxêkwỳj explicou tudo bem direitinho.
O Mehĩ, você vai fazer uma roça bem grande e plante todas estas sementes.
- Fale para sua família, para não comer mais pau-pubo.
Caxêkwỳj subiu de volta para o céu na mesma noite. O Mehĩ ficou muito triste
e voltou para casa dele. Até hoje, nós Mehĩ, quando estamos no pátio, procuramos
Caxêkwỳj.
Os índios teimosos continuavam tocar fogo nela. Os amigos deles diziam para
el es :
- Deixem! Vamos embora para aldeia, porque aquilo ali não era arapuá, é um
bicho desconhecido, vamos logo, meus amigos.
Entãom, eles deixaram os amigos e foram ambora.
Os teimosos que ficaram tocando fogo nela, decidiram parar de tocar fogo.
E l es c orreram um pouc o e di s s eram:
- Cabeça de arapuá, pegue-nos e corte os nossos pés.
- Então cabeça de arapuá caiu no chão e correu atrás deles.
Kẽnre ita mã cupẽ pin ma, cupẽ mã to hapôj ma pyjê cola, mẽ, mẽ to
apà. Ne cormã mẽ amji mã mẽ haxô, que jum mã ronti jõr na haxor prãm
que ha. Mã mõ nẽ ihno jõr mẽ, ne to mo, ne to ahti ne cormã tahnã haxo,
ne haxor pa, no corma to hokresce ihtyj ampo Jô amji kin na to hokresce.
Me que nem mẽ to hokrexe na, pean kãm que ha jũn pro Cuma to ihno hyy,
ihlra ka quet puser, que ha cama to ihpaxê no ihkrã ka.
Pean pyjê ma apu mẽ apê, ne amẽ to cuhy to ipa. Nẽ mẽ taamã me to
hohtêkjê.
A Miçanga vem dos cupẽ que trazem até a aldeia, e as mulheres trocam por
colares de tiririca. Elas fazem a linha de tucum, para fazerem colar. Mas quando
estiver pronto, o colar é bom para ser usado na festa, mas só as mulheres podem
usar.
Os homens só podem usar se a esposa fizer pulseira ou cocar. Eles podem usar,
mas somente as mulheres fazem.
Càhà ita mã pyjê mã apu cuhy to ipa. Quê ha jun mã mo ne rarê, kãm,
crowhô ita no jakêp ne to mô nẽ cuhy nẽ hipêj, ne kãm amjĩ mã hõtêhkrej
kjê kênre, pàrhô pam têhkrej krỳjre itajê.
Càhà ita hanẽan pur pin ampo itajê kjêj xà nã impej, kwỳr, arỳjhy,
põõhỳ, cukôn cahàc, jat, pãnkryt. Nẽ hanẽan ahcunẽ kãm ampo xô itajẽ a
atyj kãm to ajêj càhà kãm.
Ca hanẽan atyj cupẽ ma to vende, kot mã mẽ pajĩ itajê cunẽa jur kwa
kôt càhà ita apu ihrôt pêan pyjê mã apu càhà ita hyr to ipa. hamrẽ.
O Mocó é feito pelo homem. Também é tirado no brejo. Alguém vai ao brejo,
pa ra ti rar o ol ho de bur i ti , traz pa ra c as a, bot a no s ol pa ra s ec ar, de poi s , el e c omeç a a
fazer o Mocó.
A pessoa pode terminar em dois ou três dias, porque ele é pouco diferente
do cofo. O mocó também serve para guardar isqueiro, colares, fumo, anzol, faca,
lanterna e os objetos dos homens, mas só os homens usam; as mulheres não.
Mẽ Itê Krahô Catêjê Te Amj ̃ Ton Xà
Arte e C ultura do P ovo K rahô
201
Côhtoj - Maracá
Autor: L eonardo K rahô
Côhtoj ita mã ipàr pĩn mã, que ipar kãm cato ca ta nẽ panẽr kãm to
ihhorhot ne intête ihhy cakên partu, nẽ axi que incrà ca caxuw pi no jakêp
ne to cohtoj peã ne to (kre) cre, mehũmre mã apu to cõhtoj ita to.
O Maracá é feito somente pelos homens que cantam com ele. O Maracá é
muito fácil de fazer. Ele é uma fruta, que sai da planta e vira maracá. Quando tiver
uma no pé, o homem tira-a, fura os dois lados e coloca na panela, bota no fogo,
deiva ferver para as sementes ficarem moles. O homem tira do fogo, retira todas as
sementinhas dele, bota para secar. Depois, é só enfeitar o cabo e cantar com ele.
A flecha é usada para caçar e outras coisas. A flecha fica no mato, mas alguém
corta com faca, depois bota no sol ou aquece no fogo. Tira folha de juncu, faz a linha,
arruma a pena de qualquer pássaro e empena a flecha. Guarda-a para alguma coisa e
somente os homens usam-na. Pode ser usada com arco ou sem arco.
Cahà ita mã mam mẽ hohcukrẽj nõ mã. Mam pê ajco cahà kãm pit
amẽ ampo to, py jê petĩ. Cahà ita mã Crow hô te hipẽj, kãm ihho pijakrut
mã.
Cahà ita mã nẽẽ mẽ hũm re mã amẽ ton nare, mẽ cahãj mã amẽ to.
Quê mẽ cumã cahà ita hyr prãn quê há ma mẽ mõ nẽ mẽ Crow hô nẽ jakep.
Quê há krĩ mã mẽ to cato nẽ mẽ hikjê hy nẽ hikjê nõ hy nẽ mẽ to ajpẽn pro
nẽ hapuh nã mẽ to ihhyr pej.
Cora mã hakrepeaj, quê tỳj jũm to, pyjê mẽhũmre mẽntuw mẽ cuprỳ.
Pyjê mã caxuw ampo to ahcupro acà nẽ ihtỳj ampo. Quê jũm impjên to
mõ quê ikrã cajpapa quê ha krĩ mã to pôj nẽ panẽr wỳ nõ kãm pjêm xôw
jaxwỳ nẽ kãm acà jaxwỳ pêan kãm to hãm, cuhy kãm.
Nẽ to por nẽ ihkre, pêan corma to cora.
Colar é o artesanato bem fácil e qualquer pessoa pode fazer, tanto as mulheres,
como os homens, moças e rapazes. A mulher leva o marido para ajudar tirar a tiririca
e trazer para aldeia, depois faz fogo, bota numa panela velha com um pouco de areia
e a tiririca. Quando fica pronta, tira do fogo, fura e transforma em calor.
ỹhỹ, que ha ramã jũm mã hàchô ita kĩn, que ma pianti japên to ma ne
ihna cura, ne to pôj no incwỳn cure nẽ mã ne ronti jõr no ta no to põj ne
hõr rẽn parti ne tahna panti cwỳn jaxô ne que rama hapry pĩ hachô nẽ que
ihtỳj ampo jõ amjĩ kĩn na haxà.
Os homens fazem o Cocar com penas de arara. Eles vão ao mato, para matarem
a arara, qua ndo c hega m à al de i a, vol tam nova mente ao mato, pa ra pe ga r as l i nhas de
tucum. Retiram as penas da arara e fazem o cocar. Quando eles terminam, usam em
qualquer festa dos Krahô.
Ỹhỹ, que ha ramã juna to càhà ita jipêj que impjên caxuwn cumã
càhà jõhkô ita nã ne que tahnã cuxô ne que ihtỳj jũm cahãj quêt jũm xũmre
ihtỳj càhà jõhkô ita no to. Hõrti to ma amẽ càhà jõhkã ita to.
A Trança é feita para colocar no cofo, mas primeiro alguém vai ao brejo cortar
um olho de buriti e trazer para aldeia. Depois coloca ao sol, para transformar em
trança.
Tanto os homens como as mulheres podem fazer a trança.
O Abano é feito de palha de buriti, para abanar o fogo. Tanto os Homens como
as mulheres podem fazer abano.
Kop kwỳ cuprã, quêt pĩroc pê quêt ihtỳj pĩ nõh tỳaj nẽ impej. Quê
hanẽan caxuw mããtĩ Jana hara mã hakràj nẽ ronti jõr, nẽ hanẽan caxuw
pen hê, quê mẽ to ron xê cukê, nẽ mẽ to pĩ cukê, pĩh nã mẽ to ihcajpre.
Ita jirô pê quê há mẽ py mẽ ajêêti to mẽ ajxacwa quê cuxwaare hanẽ.
Pean pĩ jihôt nã quê ha mẽ mãã cwỳn mẽ ronti jõr to mẽ ihcajpre.
Ihkrãri quê ha mã jũm harê kãm apu crow jate capi to mõ, quê há
júri ihnõ japê quê há hakep nẽ ma krĩ mã to mõ nẽ to cato, nẽ to ihcate nẽ
amcro mã cuxu quê há ihcukã, quê ha cuhy tapti nã.
Tapti ita mã kwỳr jatên caxuw mã. Quê há kãm mẽ kwỳr jatê nẽ mẽ
to peju.
Tapti ita mã mẽ ihcunẽa ihtỳj mẽ cuhy pyjê mẽ mẽ hũmre.