Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Resumo: Enrique Leff vem provocando diálogos profícuos e constitutivos dentro do campo ambiental,
por meio de uma abordagem inovadora, apontando a relevância da discussão epistemológica para a
resolução da crise ambiental. Ele não só nos apresenta o conceito de ambiente inscrito dentro de sua
epistemologia ambiental, mas também reflete sobre outros posicionamentos teóricos acerca do
ambiente, trazendo contrapontos à sua teoria que compreende, dentre outros conceitos, os de saber
ambiental, racionalidade ambiental, complexidade ambiental e diálogo de saberes. Sendo assim, é
objetivo deste artigo apresentar e analisar as concepções de ambiente desenvolvidas em Leff (2001,
2002, 2009, 2010 e 2012). Para isto, recorreu-se à pesquisa bibliográfica através da leitura,
comparação e análises de argumentos presentes ao longo das obras selecionadas de Leff,
publicadas originalmente no decorrer de três décadas, findando, neste texto, em uma sistematização
de sua abordagem sobre o conceito de ambiente. Justifica-se a pertinência do debate, pois para Leff
(2002) é preciso estudar os efeitos da problemática ambiental sobre as transformações
metodológicas, as transferências conceituais e a circulação terminológica entre as diferentes
disciplinas que participam na explicação e no diagnóstico das transformações socioambientais, assim
como a forma que estes paradigmas produzem e assimilam um conceito de meio ou de ambiente.
Cabe também à ciência geográfica parte nesse estudo, já que um dos grandes problemas das
relações múltiplas que se estabelecem entre a Geografia e a questão ambiental parece-nos ser a
construção e a concepção epistemológica do conceito de ambiente. É necessário aprofundarmos o
conhecimento de como se faz Geografia, promovendo um adensamento dos referenciais teóricos,
metodológicos e de técnicas utilizadas nesta construção no que se refere ao ambiente que, muitas
vezes, beiram a imprecisão conceitual em sua relação interna ao debate geográfico. Vale ressaltar
que argumentar por precisão conceitual não é o mesmo que advogar por um pensamento único.
Pensamos que a obra de Enrique Leff e esta análise aqui proposta podem trazer contribuições para
uma compreensão mais objetiva e sistemática dos conceitos e teorias da Geografia, especificamente
no que se refere ao conceito de ambiente, pois a crise ambiental que problematiza os paradigmas
estabelecidos do conhecimento, demanda um processo de reconstrução do saber, principalmente em
um momento em que no Brasil há a progressiva tentativa de deslegitimar o conhecimento científico.
Por fim, é possível observar que, à medida que o autor desenvolve sua trajetória e que vai
sistematizando seu corpus teórico, surgem premissas que, aliadas à caracterização por negação,
delineiam a compreensão do significado de ambiente.
Abstract: Enrique Leff has been provoking meaningful and constitutive dialogues within the
environmental field through an innovative approach that points out the relevance of the
epistemological discussion to solve the environmental crisis. He not only presents us the concept of
environment within his environmental epistemology, but he also reflects about other theoretical
assumptions on the environment, bringing up counterpoints to his theory that includes, among other
concepts, those of environmental knowledge, environmental rationality, environmental complexity and
1 – Introdução
2 Vale destacar que todas as referências utilizadas são traduções para a Língua Portuguesa. Faz-
se importante esse ponto, visto que, como bem alerta o autor, a Língua Portuguesa não
contempla o debate feito em Língua Espanhola entre sostenible e sostentable, por exemplo.
Contudo, outros termos se fazem por tradução idêntica como em ambiente e medio ambiente.
Atento a estas diferenças, Leff ou mantém o termo em espanhol ou faz ressalvas, solicitando a
leitura atenta na tradução para essas especificidades. Pensamos que, apesar de usar os textos
traduzidos, isto não trouxe prejuízos à argumentação exposta neste artigo.
A problemática ambiental não é percebida só a partir de diferentes posições
teóricas, visões políticas e interesses sociais entre diferentes grupos sociais.
Estas diferenças traduzem-se no sentido dos conceitos, nos discursos
teóricos e práticos que atravessam a temática do meio ambiente e do
desenvolvimento sustentável. […] Estas concepções transferiram-se tanto
no discurso político e acadêmico como por ativistas dos movimentos sociais.
(LEFF, 2009, p. 329)
Posto isso, cabe também à ciência geográfica parte nesse estudo, já que um
dos grandes problemas das relações múltiplas que se estabelecem entre a
Geografia e a questão ambiental parece-nos ser a construção e a concepção
epistemológica do conceito de ambiente. Na mesma linha, Leff (2002, p.217)
defende que “A crise ambiental não é crise ecológica, mas crise da razão. Os
problemas ambientais são, fundamentalmente, problemas do conhecimento.” Ou
seja, é necessário aprofundarmos o conhecimento de como se faz Geografia,
promovendo um adensamento dos referenciais teóricos, metodológicos e de
técnicas utilizadas nesta construção no que se refere ao ambiente que, muitas
vezes, beiram a imprecisão conceitual também na sua relação interna ao que
corresponde o debate geográfico. Vale ressaltar que argumentar por precisão
conceitual não é o mesmo que advogar por um pensamento único.
Pensamos que a obra de Enrique Leff e esta análise aqui proposta podem
trazer contribuições para uma compreensão mais objetiva e sistemática dos
conceitos e teorias da Geografia, especificamente no que se refere ao conceito de
ambiente. A crise ambiental que problematiza os paradigmas estabelecidos do
conhecimento, demanda um processo de reconstrução do saber, principalmente em
um momento em que no Brasil há a progressiva tentativa de deslegitimar o
conhecimento científico.
A partir das obras, fica evidente que o conceito de ambiente para Leff se faz a
partir de um sentido ampliado. Dessa forma, nos perguntamos qual seria a maneira
mais adequada de expormos o seu pensamento e ainda assim atender ao objetivo
aqui proposto. Então, nossa preocupação não foi traçar uma linha temporal para a
evolução de seu pensamento, visto que ele é permeado por premissas necessárias
para armar seu raciocínio. Não nos parece coerente com o objetivo - analisar as
concepções de ambiente desenvolvidas pelo autor – apresentar estas contribuições
de forma linear. Foi também escolha de Leff agrupar seus textos por temáticas,
sendo assim, as suas publicações contêm, na mesma obra, capítulos com
diferenças de mais de duas décadas entre suas divulgações. À vista disso,
adotamos a perspectiva presente em Leff (2010) que aborda as raízes
epistemológicas para a criação do conceito de ambiente. Para isso, sistematizamos
esta interpretação nos três seguintes pontos:
dessa externalidade, vide a demanda acerca da gestão e planejamento ambiental e todo seu
ferramental técnico instrumental.
4 Para o autor, a racionalidade ambiental só é possível a partir da articulação de quatro níveis de
racionalidades: a racionalidade substantiva, a racionalidade ambiental teórica, a racionalidade
ambiental técnica ou instrumental e a racionalidade ambiental cultural. A racionalidade econômica
tem seus princípios diametralmente opostos à racionalidade ambiental. Para maior detalhamento,
ver Leff (2002).
um objeto-núcleo de conhecimento, vê que a busca de unidade e objetividade
acabou por fraturar o conhecimento. Esta fragmentação do conhecimento em áreas,
acabou por gerar as “ciências ambientais”, bem como constituiu um espaço de
exclusão ocupado pelo ambiente no universo destas formações centradas. Desta
forma, sua tese central é de que “O ambiente nunca chega a se internalizar em um
paradigma científico ou em um sistema de conhecimento. (LEFF, 2012, p.27).
Para defender esta centralidade, argumenta que no momento de constituição
da ciência moderna foi possível pensar em “[…] uma concepção meramente
empírica e funcional do ambiente, como meio ou entorno de uma população, da
economia da Sociedade.” (LEFF, 2010, p. 259). Tal concepção gerou, a partir dos
anos 1960 (com o movimento contracultural, com a ascensão de questões
ambientais e em contraposição a empiria e ao positivismo na ciência), uma transição
do ambiente como meio ou entorno para o ambiente enquanto
3 – Considerações finais
Referências
V
o
z
e
s
,
2
0
0