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Como é sabido, em 18.12.

2020, o STF proferiu decisão com


repercussão geral e efeito vinculante, estabelecendo a aplicação
obrigatória dos índices de atualização IPCA-E e da taxa SELIC, por
aplicação analógica do art. 406 do Código Civil, conforme o dispositivo
abaixo transcrito:

“Decisão: O Tribunal, por maioria, julgou parcialmente


procedente a ação, para conferir interpretação conforme à
Constituição ao art. 879, § 7º, e ao art. 899, § 4º, da CLT, na
redação dada pela Lei 13.467 de 2017, no sentido de
considerar que à atualização dos créditos decorrentes de
condenação judicial e à correção dos depósitos recursais
em contas judiciais na Justiça do Trabalho deverão ser
aplicados, até que sobrevenha solução legislativa, os
mesmos índices de correção monetária e de juros que
vigentes para as condenações cíveis em geral, quais sejam
a incidência do IPCA-E na fase pré-judicial e, a partir da
citação, a incidência da taxa SELIC (art. 406 do Código
Civil), nos termos do voto do Relator, vencidos os Ministros
Edson Fachin, Rosa Weber, Ricardo Lewandowski e Marco
Aurélio. Por fim, por maioria, modulou os efeitos da
decisão, ao entendimento de que (i) são reputados válidos
e não ensejarão qualquer rediscussão (na ação em curso
ou em nova demanda, incluindo ação rescisória) todos os
pagamentos realizados utilizando a TR (IPCA-E ou qualquer
outro índice), no tempo e modo oportunos (de forma
extrajudicial ou judicial, inclusive depósitos judiciais) e os
juros de mora de 1% ao mês, assim como devem ser
mantidas e executadas as sentenças transitadas em
julgado que expressamente adotaram, na sua
fundamentação ou no dispositivo, a TR (ou o IPCA-E) e os
juros de mora de 1% ao mês; (ii) os processos em curso que
estejam sobrestados na fase de conhecimento
(independentemente de estarem com ou sem sentença,
inclusive na fase recursal) devem ter aplicação, de forma
retroativa, da taxa SELIC (juros e correção monetária), sob
pena de alegação futura de inexigibilidade de título judicial
fundado em interpretação contrária ao posicionamento do
STF (art. 525, §§ 12 e 14, ou art. 535, §§ 5º e 7º, do CPC) e
(iii) igualmente, ao acórdão formalizado pelo Supremo
sobre a questão dever-se-á aplicar eficácia erga omnes e
efeito vinculante, no sentido de atingir aqueles feitos já
transitados em julgado desde que sem qualquer
manifestação expressa quanto aos índices de correção
monetária e taxa de juros (omissão expressa ou simples
consideração de seguir os critérios legais), vencidos os
Ministros Alexandre de Moraes e Marco Aurélio, que não
modulavam os efeitos da decisão. Impedido o Ministro Luiz
Fux (Presidente). Presidiu o julgamento a Ministra Rosa
Weber (Vice-Presidente). Plenário, 18.12.2020 (Sessão
realizada por videoconferência - Resolução 672/2020/STF)”.

A decisão modulou os efeitos da seguinte forma na tentativa


de evitar discussões:

Segundo a melhor doutrina, não haverá alteração nos


seguintes casos: pagamentos judiciais já realizados no tempo e modo
oportunos, e decisões transitadas em julgado que expressamente
definiram a forma de atualização monetária.

Será aplicada a nova regra e de forma retroativa: processos


em curso, sem trânsito em julgado, e decisões já transitadas em julgado
que não definiram a forma de atualização monetária.

A taxa SELIC deverá ser aplicada, de forma retroativa, aos


processos que estavam sobrestados na fase de conhecimento
(independentemente de estarem com o sem sentença, inclusive na fase
recursal).

Entendo que ocorrerão discussões porque:

1-A taxa SELIC substituiria a TR e os juros, sendo a aludida


taxa prejudicial ao trabalhador em comparação com o IPCA-E;

2-A decisão colide com a Lei na medida em que estabelece


que não haveria discussão sobre pagamentos efetuados em qualquer
ação, sabendo-se que, em caso de simulação a parte tem a prerrogativa
do ajuizamento de ação rescisória (inciso III do art.966 do CPC);

3-Impossível seria a contagem de atualização a partir da


citação, pois esta não constitui em mora o devedor em ação trabalhista,
sendo claros o art. 833 da CLT e § 1º do art. 39 da Lei nº 8.177/91 quando
dispõem que a mora começa a fluir a partir da data da distribuição da
ação trabalhista;

4-Havendo normas especiais e gerais aplicam-se as normas


especiais, sendo este o caso em questão, pois a CLT e a Lei nº 8.177/91,
contendo normas especiais relacionadas com o Direito do Trabalho
devem ser aplicadas pelo Juiz do Trabalho em ações trabalhistas e não
aquelas previstas no direito comum;

5-O crédito trabalhista é privilegiado, mas não será


atualizado com base no IPCA-E, salvo em tratando de crédito de período
anterior à judicialização ou em caso de decisório transitado em julgado
prevendo dito índice. Todavia, o pagamento por meio de precatório terá
tratamento privilegiado, cabendo, nesta hipótese, a incidência do IPCA-E
pelo fato de inconstitucionalidade de norma infraconstitucional
reconhecida como tal recentemente pelo STF;

6-É injustificável o tratamento desigual. O credor vencedor


em processo contra a Fazenda Pública terá crédito atualizado pelo IPCA-E,
enquanto o crédito trabalhista terá acréscimos legais menores com base
na taxa SELIC; e

7-A redação do acórdão não é muito clara no item (ii), pois


ali está escrito que a taxa SELIC será aplicada retroativamente aos
processos que estavam sobrestados na fase de conhecimento
(independentemente de estarem com o sem sentença, inclusive na fase
recursal). O texto permite a conclusão de que somente a taxa SELIC será
aplicada e não em modulação o índice do IPCA-E até a data da citação.

Por aí se vê que a decisão proferida pelo Supremo Tribunal


Federal não veio para pacificar. Todavia, aplico-a em face do
ordenamento jurídico (§ 2º do art. 102 da CF/88, parágrafo único art. 28
da Lei nº 9.868/1999 e art. 406 do Código Civil), considerando a eficácia
erga omnes e efeito vinculativo (repercussão geral) em sede ação direta
de controle concentrado de constitucionalidade (ADC 58).

Dito isto agora decido com fundamento na decisão já


referida e proferida pelo STF, embora reconhecendo que a mesma ainda
não foi publicada.

No presente caso, o MM. Juízo de origem determinou, em

sentença, a aplicação dos índices TR e IPCA-E(com modulação).

Deste modo, procedendo com fulcro no § 2º do art. 102 da

CF/88 e parágrafo único art. 28 da Lei nº 9.868/1999, conforme a decisão

proferida pelo Supremo Tribunal Federal com eficácia erga omnes e efeito

vinculativo (repercussão geral) em sede ação direta de controle

concentrado de constitucionalidade (ADC 58), determina-se a atualização

dos créditos da seguinte forma: a incidência do IPCA-E na fase pré-judicial

e a incidência da SELIC (art. 406 do Código Civil) a partir da data da

citação, assegurado às partes eventuais ajustes de cálculos na hipótese

da oposição de novos embargos declaratórios.

Dou provimento parcial.

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