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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR MINISTRO PRESIDENTE DO

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

Processo de referência n. 1624287-60.2019.8.13.0000

ANDRÉ LUÍS COELHO MERLO, PREFEITO DO MUNICÍPIO DE


GOVERNADOR VALADARES, brasileiro, casado, portador do CPF nº 546.591.246-
69, residente e domiciliado na Rua Dom Pedro II, nº 470, centro, Governador Valadares
e o MUNICÍPIO DE GOVERNADOR VALADARES, pessoa jurídica de direito
público interno, CNPJ 20.622.890/0001-80, com sede à Rua Marechal Floriano, nº 905,
bairro Centro, CEP: 35010-141, Governador Valadares/MG, via Procurador-Geral do
Município e advogados in fine assinados, ut instrumento de procuração e
substabelecimento acostados, vem propor a presente

SUSPENSÃO DE LIMINAR

contra decisão proferida pelo Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Minas Gerais,
no âmbito dos autos da Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 1624287-
60.2019.8.13.0000, interposta pelo MINISTÉRIO PÚBLICO DE MINAS GERAIS,
visando desconstituir decisão de ID nº 18, pelas razões a seguir expostas.

I – DA TEMPESTIVIDADE

A concessão de liminar pelo Pretório Excelso para suspender medida liminar


deferida ou mantida por Tribunal local, em ação contra o poder público, para evitar
grave lesão à saúde pública, entre outros censurabilíssimos danos ao interesse público,
encontra previsão expressa na Lei n° 8.437/92, pela leitura do seu art. 4°, conforme
exposto acima.
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A legislação aplicável não assinou prazo para que o legitimado formulasse o
pedido de suspensão de liminar. Assim, não há como cogitar intempestividade na
deflagração deste procedimento.

II. DOS FATOS

A decisão que se pretende obter a contracautela foi proferida pelo Órgão


Especial do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, nos autos da Ação
Direta de Inconstitucionalidade nº 1624287-60.2019.8.13.0000 (1.0000.19.162428-
7/000), que declarou a inconstitucionalidade dos art.44, caput e parágrafo único; art.45 e
do Anexo I, ambos da Lei Complementar Municipal nº231/2017, bem como do art.1º,
art.2º, caput e parágrafo único, e do Anexo XIV, da Lei Complementar Municipal
nº210/2016.

O pedido formulado objetiva, portanto, a suspensão dos efeitos do acórdão


proferido em Ação Direta de Inconstitucionalidade, à míngua da decisão monocrática
que indeferiu o pedido de efeito suspensivo ao acórdão, requerido em sede de embargos
de declaração, interpostos no órgão de origem.

A decisão aqui atacada acolheu o pedido do parquet para que, no prazo de 6


(seis) meses após a publicação do acórdão, exonere os servidores ocupantes de diversos
cargos declarados inconstitucionais, os quais se encontram lotados em TODAS as áreas
da estrutura administrativa, sendo eles partes imprescindíveis para o funcionamento de
TODA a engrenagem que locomove TODOS os interesses da coletividade.

Assim, como será demonstrado, a decisão impôs ao Município Requerente


determinações absolutamente destrutivas e que jamais poderiam ser concedidas em sede
interlocutória, já que a eficácia do acórdão importará na desestruturação do sistema
hierárquico vigente na municipalidade, que garante o funcionamento da máquina
administrativa e a continuidade da prestação de serviços públicos essenciais à população
valadarense.
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Cumpre aos Requerentes trazer à baila os cargos que foram atingidos, em razão
da modulação dos efeitos da decisão digladiada, a fim de comprovar desde o primórdio
deste petitório a envergadura da gravidade albergada no exíguo prazo concedido pelo
TJMG, a saber:

1) Analista Jurídico, 2) Assessor de Avaliação e Controle da Saúde, 3)


Assistente, 4) Assistente Técnico, 5) Consultor Técnico, 6) Coordenador de
Apoio e Assistência ao Idoso, 7) Coordenador de Relações Institucionais, 8)
Coordenador de Apoio e Assistência à Pessoa Portadora de Deficiência -
CAD, 9) Coordenador de Unidades e Especialidades, 10) Diretor de
Departamento, 11) Diretor Técnico, 12) Gerente da Defesa Civil, 13)
Gerente de Gerência, 14) Gerente do PEC, 15) Gerente do PROCON, 16)
Médico Auditor, 17) Procurador Fiscal, 18) Procurador Fiscal Adjunto, 19)
Procurador Geral Adjunto, 20) Secretária Executiva e 21) Coordenador de
Atendimento Comunitário.

Comprovado restou que são VINTE E UM cargos açambarcados pela decisão, o


que simboliza, com espeque no ofício nº 116/2021/SMA/DRH/Diretoria, oriundo do
Departamento de Recursos Humanos deste Município, o desfalque de DUZENTOS E
DEZENOVE servidores em toda a estrutura administrativa.

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Remanesceram na estrutura administrativa do Município apenas 09 (nove)
cargos de chefia, direção ou assessoramento, se excluirmos desta conta os agentes
políticos.

Certo é que se trata de algo desnecessário dizer a esses sapientes julgadores o


COLAPSO que representa essas exonerações, notadamente em relação a um Município
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que beira TREZENTOS MIL HABITANTES, sendo ele um dos maiores do Estado de
Minas Gerais.

IMPORTANTÍSSIMO é levar ao conhecimento de Vossas Excelências o fato de


que após a decisão, foram apresentados Embargos de Declaração que demoraram 3
(três) meses para ter seu efeito suspensivo indeferido, ou seja, o próprio TJMG, em
razão da sua morosidade, escoou pela metade o prazo por ele concedido a este ente
federativo.

Na prática, o Chefe do Executivo municipal terá menos de três meses, em plena


pandemia causada pelo Coronavírus (SARS-COV-2), para reformular a estrutura
organizacional da Administração Pública, reestruturando os cargos ora discutidos, seja
por meio de abertura de concurso público ou através de outro caminho que esteja
algemado aos princípios norteadores da administração pública.

Uma mudança dessa natureza e magnitude não pode ocorrer da forma como
delineada na r. decisão.

Trata-se de algo humanamente IMPOSSÍVEL, vez que, além dos trâmites


internos afetos à reestruturação, é inafastável o envio de projeto de lei à Câmara de
Vereadores para este fim, que será submetido à análise e parecer pelos Comissões
daquela Casa e, só após, levado à discussão e votação em dois turnos com quórum
qualificado, haja vista tratar-se de lei complementar.

Somente após a reestruturação será possível avaliar a necessidade de novo


concurso e, então, abrir edital com o objetivo de escolher a banca organizadora, realizar
concurso público de provas e títulos, homologar os resultados, nomear, realizar exames
admissionais, treinar e alocar os aprovados, em seus respectivos cargos.

Tudo isso, reforça-se, no remanescente prazo de menos de 03 (três) meses.

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Caso contrário, como se demonstrará adiante, o Gestor e a Municipalidade
ficarão sem a devida agilidade no que toca o amparo jurídico durante todo o trâmite do
concurso, tendo em vista que a decisão assolapou os cargos de analistas e procuradores
existentes na sua Procuradoria-Geral.
Não menos relevante é destacar que, diante da atual estrutura orgânica
municipal, o ente público ficará desprovido de qualquer cargo de chefia em todas as
Secretarias, haja vista que a decisão abarca os diretores, gerentes, coordenadores e
outros. Não haverá qualquer direcionamento na tomada de decisões e desempenho das
atribuições pelos servidores ocupantes de cargo de provimento efetivo.

Dessa forma, é absolutamente temerário e danoso permitir que se produzam os


efeitos da decisão antes do seu trânsito em julgado, principalmente, se considerar o
grave contexto envolvendo a pandemia.

A decisão desconsiderou a realidade burocrática para resolver a situação e,


principalmente, menosprezou o nefasto efeito que ela produzirá em virtude do prazo
concedido, o qual neste momento se tem em menos da metade.

Dessa forma, a suspensão dos efeitos do v. acórdão mostra-se essencial para


garantir a segurança jurídica ao menos pelo período necessário para levar a cabo a
reestruturação da Administração Pública, no total atendimento aos ditames
constitucionais e legais.

Com o máximo respeito, trata-se de decisão teratológica, demandando rápida


revisão deste Supremo Tribunal Federal.

III. DA LEGITIMIDADE

A Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 1624287-60.2019.8.13.0000 tem no


polo passivo o Prefeito de Governador Valadares, tendo em vista que a lei impugnada
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naquela ação é de sua iniciativa. Todavia, o Município de Governador Valadares, além

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de ter sido admitido como amicus curiae, sofrerá diretamente os efeitos da decisão
emanada pela Corte Especial do Tribunal de Justiça de Minas Gerais.

 Nesse sentido, prevê o art. 4º de Lei nº 8.437/92 que compete ao Presidente do


Tribunal, ao qual couber o conhecimento do respectivo recurso, suspender, em despacho
fundamentado, a execução da liminar nas ações movidas contra o Poder Público ou
seus agentes, a requerimento do Ministério Público ou da pessoa jurídica de direito
público interessada, em caso de manifesto interesse público ou de flagrante
ilegitimidade, para evitar grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e à economia
pública.

Diante disso, explica-se que “a legitimidade desses órgãos decorre da


circunstância de a decisão que se pretende suspender, interferir diretamente na sua
atividade ou afetar diretamente alguma de suas prerrogativas institucionais, ou, ainda,
em casos de conflito interno entre órgãos da pessoa jurídica de direito público”1.

Em outro vértice, entende o Supremo Tribunal Federal que o Prefeito Municipal,


alijado do exercício do mandato, por efeito de medida liminar, tem legitimidade para
requerer a suspensão desta, já que a questão envolve nítido interesse público, a permitir
o uso dessa medida (STF, Pleno, SS 444 AgR/MT). Muito embora não se trate de
questão que envolva exercício de mandato, o tema diz respeito ao próprio exercício
legiferante do Chefe do Executivo, como também ao exercício de autoridade máxima
dos servidores municipais a ele submetidos.

De toda forma, o Município de Governador Valadares também ostenta a


qualidade de ente público interessado mencionado no caput do dispositivo acima
mencionado, já que terá sobre si, seus servidores, serviços públicos e população os
reflexos e os resultados da ação de controle, cujos efeitos pretende-se suspender.

Acerca do tema explica Leonardo da Cunha:


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CUNHA, Leonardo Carneiro da. Fazenda Pública em juízo. 17 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017, p. 613 e
ss.

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O pedido de suspensão estratifica verdadeira pretensão à tutela de direitos
coletivos, que transcendem à pessoa jurídica interessada, exatamente
porque se destina à proteção de interesse público relacionado com a ordem, a
segurança, a economia e a saúde. Daí ser plenamente justificável admitir
que, além daqueles já apontados, possam ajuizar o pedido de suspensão
todos os legitimados para a propositura de ação civil pública ou de
alguma outra ação coletiva. O pedido de suspensão pode, enfim, ser
proposto por quem detém legitimidade para a propositura de ação coletiva e,
ainda, por quem sofra lesão, em extensão coletiva ou transcendente, que
repercuta na atividade de saúde ou segurança ou que abale a ordem ou a
economia públicas.

Assim, está demonstrada tanto a legitimidade do Prefeito de Governador


Valadares, quanto do Município de Governador Valadares para a propositura da
presente medida urgente.

IV. DO CABIMENTO DO PEDIDO

IV.1. DA POSSIBILIDADE DE SUSPENSÃO DE LIMINAR EM AÇÃO DE


CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

É possível ajuizar pedido de suspensão de liminar no âmbito de ações de


controle de constitucionalidade julgados em Cortes Estaduais.

Conforme se estabeleceu na moderna jurisprudência do Supremo Tribunal


Federal acerca do tema, a lesão à ordem pública restou presente na possibilidade de
imediata exoneração de servidores públicos ocupantes de cargos em comissão,
exatamente o que acontece na presente demanda, confira-se:

AGRAVO REGIMENTAL NA SUSPENSÃO DE LIMINAR. AÇÃO


DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE ESTADUAL. LEI
COMPLEMENTAR MUNICIPAL N. 02/2014. ALEGADA OFENSA À
ORDEM PÚBLICA. REQUERIMENTO DE SUSPENSÃO DE
CAUTELAR EM AÇÃO ESTADUAL DE CONTROLE CONCENTRADO
DE CONSTITUCIONALIDADE: Cabimento. provimento de cargos em
comissão. Necessidade de concurso público. Incs. II e V do art. 37 da
Constituição da República: precedente. Lesão à Ordem Pública configurada
quanto à imediata exoneração de 49 ocupantes de cargos. prejuízo do cidadão
na prestação de serviços públicos. agravo regimental ao qual se nega
provimento.2
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2
(STF - AgR SL: 1042 SP - SÃO PAULO 0055990-28.2016.1.00.0000, Relator: Min. CÁRMEN LÚCIA
(Presidente), Data de Julgamento: 17/08/2018, Tribunal Pleno, Data de Publicação: DJe-179 30-08-2018)

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Com efeito, o manejo do presente pedido se adequa à forma e ao conteúdo
daquilo que se busca tutelar perante esta Corte Suprema. Outros precedentes confirmam
a presente tese: SL: 293 Rel. Gilmar Mendes, RE 190.895 Rel. Sepúlveda Pertence, RE
421.256, Min. Ricardo Lewandowski.

IV.2. DA APRESENTAÇÃO DE MATÉRIA CONSTITUCIONAL

A decisão impugnada trata de matéria constitucional, isto é, relaciona-se com o


provimento de cargos do executivo, com a organização dos poderes, com o devido
processo legal e com o próprio contexto provocado pela pandemia do Covid-19 (arts. 5º,
LIV e LV, e 37, II e V, da CRFB/88).

Assim, trata-se de violação à Constituição. (Rcl nº 497-AgR , Rel. Min. Carlos


Velloso , Plenário, DJ de 06.4.2001; SS nº 2.187-AgR , Rel. Min. Maurício Corrêa , DJ
de 21.10.2003 e; SS nº 2.465, Rel. Min. Nelson Jobim , DJ de 20.10.2004)

De acordo com o regime legal de contracautela (art. 297, do RISTF), compete a


esta Presidência suspender a execução de decisões concessivas de segurança, de liminar
ou de tutela antecipada, proferidas em única ou última instância, pelos tribunais locais
ou federais, para evitar grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e à economia
públicas.

Assim, tratando-se de matéria passível de recurso extraordinário (art. 102, III,


“a”, da CF), este pedido de suspensão é cabível, visto que tal demanda ainda não
transitou em julgado.3

IV.3. DA DECISÃO ATACADA QUE PRODUZ EFEITOS CONCRETOS E


LESIVOS

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3
RODRIGUES, Marcelo Abelha. Suspensão de Segurança. 4 Ed. Salvador: Editora Juspodium 2017, p. 124.

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A decisão impugnada produz efeitos concretos que geram lesão à ordem e à
economia pública, bem como aos interesses coletivos atendidos pelo Município. A sua
suspensão destina-se a permitir a continuidade da prestação de serviço jurídico
essencial, em condições possíveis mínimas e com a situação provocada pela pandemia.

Se assim não for (i.e., se forem mantidos os efeitos da decisão combatida), os


habitantes de Governador Valadares, a área da SAÚDE, da ASSISTÊNCIA SOCIAL, da
INFRAESTRUTURA, do TRÂNSITO, da ADMINISTRAÇÃO, do JURÍDICO, da
LICITAÇÃO, da CULTURA, do ESPORTE, do LAZER, da TRIBUTAÇÃO, da
FISCALIZAÇÃO, da AUDITORIA, do TRANSPORTE PÚBLICO e muitas outras
sofrerão justamente a consequência que o Município pretendia evitar com o pedido
formulado perante o E. TJMG, qual seja:

Ficar sem a celeridade no atendimento jurídico e eficiência na governabilidade


daquelas diversas áreas, o que logicamente traria danos irreparáveis, sendo todos eles
serviços essenciais a toda a população do município, melhor expressando, algum deles
representa a continuidade da vida e o alicerce da sobrevivência.

O cumprimento das determinações exige do Município Requerente um ônus


operacional e financeiro insuportável considerando a realidade atual, resultando em
tamanho agravamento da sua situação financeira e fazendo com que não tenha mais
condições de arcar com as suas obrigações. Realmente, nas condições atuais, com os
poucos servidores disponíveis, tem-se uma condição extremamente sacrificante.

Com efeito, a eficácia da medida importaria na desestruturação do sistema


hierárquico vigente, que garante o funcionamento da máquina administrativa e a
continuidade da prestação de serviços públicos, essenciais à população e à própria
estrutura do Município.

Percebe-se, dessa forma, a necessidade de salvaguardar o princípio da segurança


jurídica e a harmonia das relações sociais, tendo vista que a desconstituição de uma
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situação jurídica, por vezes, resulta em maior prejuízo do que a sua consolidação. 24

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Significa dizer que o ato de exonerar imediatamente os servidores que ocupam cargos
comissionados para dar cumprimento ao acórdão pode ser extremamente prejudicial à
Administração, já que ocasionará, necessariamente, a interrupção da prestação do
serviço público essencial.

Nesse sentido, a tutela provisória proferida que requer sua suspensão é


desarrazoada e gravíssima, vez que pode instalar o caos no serviço público se for
cumprida imediatamente e sem nenhum tipo de fase de transição ou escalonamento.
Atualmente, inclusive, aguarda-se o julgamento de embargos de declaração opostos pelo
Município.

V. DA DECISÃO DOS EMBARGOS

Antes mesmo do julgamento dos citados embargos de declaração , o Exmo. Rel.


Des. Kildare Carvalho denegou a concessão do efeito suspensivo pleiteado pelo
Município de Governador Valadares, em sede de Embargos de Declaração.

Segundo o entendimento de Sua Excelência, “ainda que eventualmente se


considere presentes eventuais elementos suficientes a autorizar a conclusão acerca
do risco de dano irreparável, neste momento, não vislumbro a probabilidade do
direito”. Assim, para o Julgador, “não entrevejo, objetivamente, a possibilidade de
lesão grave ou de difícil reparação para a parte embargante até a análise do mérito
recursal”.

Com o máximo respeito, os efeitos da decisão não podem ser mantidos, sob pena
de graves danos à economia pública e aos interesses públicos atendidos pelo Município
Requerente.

VI. DOS ASPECTOS TERATOLÓGICOS DA DECISÃO

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VI.I. DA TOTAL IMPOSSIBILIDADE DE AGLOMERAÇÃO E GRAVÍSSIMA
VIOLAÇÃO À SAÚDE E À ORDEM PÚBLICA, SOCIAL E ECONÔMICA

O Relator também entendeu que o mérito da demanda não vislumbraria a


probabilidade do direito. No entanto, sabe-se que a probabilidade do direito e o perigo
de dano ou o risco ao resultado útil do processo atuam num regime de integração e de
complementação recíproca. Diante disso, quanto mais forte for o risco de dano, menor
será a exigência da probabilidade de direito.

Além disso, verifica-se grave lesão à saúde pública, pois caso sobrevenha a
necessidade de realização de prova de concurso público, em plena Pandemia do
COVID-19, isso resultaria no ALASTRAMENTO desse mortífero vírus, pois cerca de
milhares de candidatos irão se inscrever e realizá-la; entregar documentos; e efetuar os
demais exames admissionais.

A calamidade pública vivenciada neste Município, encontra estampada inclusive


no decreto municipal nº 11.464, de 19 de julho de 2021, publicado no Diário Oficial
Eletrônico da Prefeitura, o qual “Dispõe sobre REGRAMENTO ESPECÍFICO para a
realização de procedimentos cirúrgicos eletivos durante o ESTADO DE
CALAMIDADE PÚBLICA EM DECORRÊNCIA DA PANDEMIA DE GOVID-19”.

A calamidade é tão gritante que conduziu este Município, a Defensoria Pública


do Estado de Minas Gerais e Defensoria Pública da União a ajuizarem, em conjunto e
NESTE ANO, a ação civil pública, processo nº 1002414-58.2021.4.01.3813, em trâmite
perante a 1ª Vara Cível e Criminal da Subseção Judiciária de Governador Valadares-
MG, a qual, em síntese, possui os seguintes pedidos:

“2) seja deferida a medida liminar ora requerida, sem


justificativa prévia, seja a título de evidência, seja a título de
urgência, conforme o alvedrio deste D. Juízo, determinando aos
requeridos o seguinte:

2.1 – seja determinado o imediato custeio e fornecimento dos Página 12 de


mínimos equipamentos médicos hospitalares, recursos 24

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humanos, terapia intensiva comprovada por título, para haver
a instalação dos Leitos de Suporte Ventilatório Pulmonar –
LSVP, conforme discriminação elencada no ofício nº 227/2021,
anexado, firmado pela Diretora Executiva do Hospital
Municipal, pelo seu Diretor Técnico, pela sua Diretora de
Atenção Hospitalar e pela sua Diretora do DADT;

2.2 – seja determinado o imediato custeio e fornecimento dos


principais itens utilizados no CTI COVID, conforme planilha
existente no memorando nº 04/2021, anexado, oriundo do
DADT do Hospital Municipal;

2.3 – no prazo de 24 horas, seja apresentado plano para


abastecimento da rede de saúde do Município de Governador
Valadares/MG, a fim de ordenar o serviço durante a pandemia
causada pelo novo coronavírus (COVID-19);
2.4 – NO PRAZO DE 24 HORAS, SEJA PROMOVIDA A
TRANSFERÊNCIA, INCLUSIVE POR VIA AÉREA, DOS
PACIENTES DA REDE DESABASTECIDA PARA OUTROS
ESTADOS, ARCANDO OS RÉUS INTEGRALMENTE COM
O PAGAMENTO DO TRATAMENTO FORA DO
DOMICÍLIO - TFD, DEIXANDO NO MUNICÍPIO APENAS
O QUANTITATIVO QUE POSSA SER ATENDIDO PELO
SISTEMA LOCAL;

2.5 – no prazo de 24 horas, sejam requisitados, transportados e


implantados 100 (cem) leitos de UTI-Covid neste Município;

2.6 – imediatamente, sejam fornecidos todos os insumos


materiais, medicamentos, recursos humanos e assistenciais
para viabilizar a concretização e completo desempenho
funcional dos pedidos nos itens 2.1, 2.2 e 2.3;

2.7 – seja reconhecida a relevância das medidas de isolamento


social e restrição de atividades determinadas pelo governo
local, determinando aos requeridos que, no prazo de 24 horas,
disponibilizem suporte necessário às autoridades locais para
implementação de suas decisões; (...)

A realização de um eventual concurso público, ainda que de forma simplificada,


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para que não haja interrupção do serviço público, também ampliaria severamente a 24

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circulação de pessoas no Município. Mais ainda: muito além do momento da realização
de provas, os candidatos circularão pela cidade, ocuparão a rede de hotéis, necessitarão
se alimentar, passarão por aeroportos e rodoviárias, e, nestes momentos, não há como o
Município, muito menos, eventual banca organizadora, controlar a aglomeração das
milhares de pessoas que estarão nas sedes de provas.

Não obstante, os últimos meses revelaram o agravamento do cenário pandêmico


no Estado Minas Gerais, conforme se afere dos dados dos boletins epidemiológicos
emitidos pela Secretaria de Estado de Saúde4:

Além disso, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Governador Valadares


divulgou recentemente relatório com dados sobre a incidência de COVID-19 no
Município, que continua no “Nível de Alerta Alto”, equivalente às restrições impostas
pela onda vermelha do plano Minas Consciente5:

4
Disponível em https://coronavirus.saude.mg.gov.br/images/1_2021/07-julho/Boletim_Vers Página 14 de
%C3%A3o_Resumida_18-07-21_1.pdf 24
5
Disponível em http://jfsalvandotodos.ufjf.br/#!/pesquisar/datasus

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Há diversas outras notícias no mesmo sentido. Para fins elucidativos, seguem
apenas mais alguns dos inúmeros exemplos (com a transcrição da manchete e indicação
do link em que se encontra a notícia integral):

 COVID-19: Índices não melhoram, e Valadares segue na faixa de Alerta Alto 6


 Conselho Superior da UFJF mantém suspensão das atividades presenciais até o
fim de agosto por causa da Covid-197
 Governador Valadares bate novo recorde e registra 14 novas mortes por Covid-19 8

A questão é realmente séria, tanto é assim que na Suspensão de Liminar n.


1431, o Ministro Luiz Fux ordenou a suspensão de concurso público nos seguintes
termos:

Com efeito, a concentração presencial de tantos candidatos em momento de


agravamento da crise sanitária vivenciada pelo Brasil e também pelo Estado
do Pará representaria grave risco de lesão à saúde pública. Adicionalmente,
as provas poderão ser adequadamente realizadas em data oportuna, quando
relativizadas as restrições de circulação estabelecidas pelo próprio Estado do
Pará. Essas questões de fato e de direito ensejam a suspensão cautelar da
decisão impugnada, de modo a se restaurar a decisão de primeira instância,
porquanto satisfeitos os requisitos do fumus boni iuris e do periculum in
mora. Ex positis, DEFIRO O PEDIDO LIMINAR para suspender os efeitos
da decisão proferida nos autos da Suspensão de Liminar nº 0801974-
43.2021.8.14.0000, restabelecendo a proibição de realização de todas as
fases/etapas de concursos públicos e/ou processos seletivos simplificados em
andamento em que se faça necessária a presença física de candidatos em
6
https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2021/06/16/interna_gerais,1277524/covid-19-governador-valadares-se-
mantem-no-nivel-de-alerta-alto.shtml
7
https://g1.globo.com/mg/zona-da-mata/noticia/2021/07/01/conselho-superior-da-ufjf-mantem-suspensao-das-
atividades-presenciais-ate-o-fim-de-agosto-por-causa-da-covid-19.ghtml Página 15 de
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https://g1.globo.com/mg/vales-mg/noticia/2021/04/01/governador-valadares-bate-novo-recorde-e-registra-14-novas-
mortes-por-covid-19.ghtml

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locais de provas e/ou para entrega de documentos, enquanto em vigor as
fases vermelha ou preta de classificação de nível de risco do Decreto
Estadual nº 800/2020 e atualizações posteriores, até o trânsito em julgado da
ação principal ou até decisão posterior proferida nestes autos.

Em decisão sobre situação semelhante, proferida NO MÊS DE MARÇO, o


Tribunal de Justiça de Minas Gerais manteve a liminar que suspendeu os concursos
públicos no Município de Simonésia, manifestando-se da seguinte forma:

1. A Lei de Mandado de Segurança (Lei n. 12.016/09), em seu art. 7º, inciso


II, possibilita a concessão de medida liminar para a suspensão do ato que deu
fundamento ao pedido, quando for relevante o fundamento deduzido, e do ato
impugnado puder resultar a ineficácia da medida, caso seja deferida ao final.
2. Encontrando-se, o Município de Simonésia, na Onda Vermelha do
Programa "Minas Consciente", não se apresenta recomendável, no momento,
a realização de eventos que possam causar grande potencial de aglomeração.
3. Prevalecendo o protocolo sanitário que recomenda distanciamento social e
restrição de circulação, devendo ser evitadas, por conseguinte, aglomerações
e viagens intermunicipais e interestaduais, deve ser confirmada a suspensão
da realização das provas do concurso público local marcadas para novembro
último. 4. Relevância da fundamentação dos impetrantes, diante da existência
de risco à saúde pública e da possiblidade de violação aos princípios
norteadores da atividade administrativa. 5. Risco de ineficácia da medida
presente na possibilidade de os candidatos serem eliminados do certame se
não comparecerem ao local de prova. 6. Deve ser mantida a decisão liminar
que, com amparo no poder geral de cautela, impede a realização das provas, a
fim de que possam ser remarcadas para período no qual a pandemia esteja
controlada. 7. Recurso não provido9.

Diversas outras decisões dos tribunais do País direcionam-se para a suspensão de


toda e qualquer atividade presencial que implicasse no risco de aglomeração e
consequente aceleração do contágio:

Segundo o Supremo Tribunal Federal (STF) é assegurado aos governos


estaduais, distrital e municipal, no exercício de suas atribuições e no âmbito
de seus territórios, a competência para a adoção ou manutenção de medidas
restritivas durante a pandemia da Covid-19. ADPF nº 672. 2 - No âmbito do
Município de Pedra Dourada, o Decreto Municipal nº 022/2020, dispõe sobre
as medidas de prevenção ao contágio da COVID-19, decretou a situação de
calamidade pública, determinou o toque de recolher, e proibiu a circulação de
pessoas nos parques e praças públicas, ruas e logradouros, objetivando o fim
das aglomerações. 3 - O município pode estabelecer restrição e suspensão das
atividades comerciais, culturais, sociais e de ensino, em situações de
emergência pública, sendo certo que não constitui abuso de poder a
suspensão de leilão presencial, ainda que em ambiente aberto, em caso de

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9 24
(TJMG - AI: 10000205882830001 MG, Relator: Áurea Brasil, Data de Julgamento: 04/03/2021, Câmaras Cíveis /5ª
CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 06/03/2021)

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pandemia, a fim de resguardar a vida e a saúde dos munícipes. 4 - Recurso
provido10.

1. A Lei de Mandado de Segurança (Lei n. 12.016/09), em seu art. 7º, inciso


II, possibilita a concessão de medida liminar para a suspensão do ato que deu
fundamento ao pedido, quando for relevante o fundamento deduzido, e do ato
impugnado puder resultar a ineficácia da medida, caso seja deferida ao final.
2. Encontrando-se, o Município de Simonésia, na Onda Vermelha do
Programa "Minas Consciente", não se apresenta recomendável, no momento,
a realização de eventos que possam causar grande potencial de aglomeração.
3. Prevalecendo o protocolo sanitário que recomenda distanciamento social e
restrição de circulação, devendo ser evitadas, por conseguinte, aglomerações
e viagens intermunicipais e interestaduais, deve ser confirmada a suspensão
da realização das provas do concurso público local marcadas para novembro
último. 4. Relevância da fundamentação dos impetrantes, diante da existência
de risco à saúde pública e da possiblidade de violação aos princípios
norteadores da atividade administrativa. 5. Risco de ineficácia da medida
presente na possibilidade de os candidatos serem eliminados do certame se
não comparecerem ao local de prova. 6. Deve ser mantida a decisão liminar
que, com amparo no poder geral de cautela, impede a realização das provas, a
fim de que possam ser remarcadas para período no qual a pandemia esteja
controlada. 7. Recurso não provido. 11

Se de um lado o TJMG considera a situação gravíssima para realização de


certames públicos, de outro ignorou a verdadeira fissura que deixará com a
desocupação dos cargos declarados inconstitucionais.

Ora, não seria mais coerente ampliar o tempo para haver o vigor da modulação
dos efeitos da decisão vergastada até o trânsito em julgado? Não haveria qualquer
prejuízo reverso com a concessão do efeito suspensivo devidamente autorizado pelo art.
1.026, § 1º, do CPC/15.

A situação é gravíssima e extrapola a análise do direito positivo para invadir


violentamente não só a seara administrativa, mas também econômico-financeira do
Município, que não pode ser violada por decisão judicial.

A balança da Justiça, no caso presente, desprestigiou os maiores interesses da


população valadarense a qual, em brevíssimo prazo, caso não seja concedido o
intransponível efeito suspensivo, ficará à mercê da sorte.

10
(TJ-MG - AI: 10000200672889001 MG, Relator: Sandra Fonseca, Data de Julgamento: 01/12/2020, Câmaras Cíveis /
6ª CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 09/12/2020). Página 17 de
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(TJMG - AI: 10000205882830001 MG, Relator: Áurea Brasil, Data de Julgamento: 04/03/2021, Câmaras 24
Cíveis/5ª CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 06/03/2021)

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Além da insegurança jurídica que a decisão eivada de error in procedendo
representa, a inequívoca ocorrência de grave lesão dá ensejo ao presente pedido de
suspensão de segurança, para garantir a segurança jurídica, a ordem, a vida, a saúde, a
segurança e a economia pública no âmbito do Município de Governador Valadares, que
poderão sofrer prejuízos financeiros incalculáveis, como também o agravamento dos
casos de COVID-19 ao experimentar os efeitos deletérios da decisão do E. TJMG.

Impende destacar que, caso seja deferida a contracautela, deverá surtir efeitos até
eventual trânsito em julgado da ação principal, conforme determina o § 9º, do art. 4º, da
Lei nº 8.437/92, que assim dispõe:

Art. 4° Compete ao presidente do tribunal, ao qual couber o conhecimento do


respectivo recurso, suspender, em despacho fundamentado, a execução da
liminar nas ações movidas contra o Poder Público ou seus agentes, a
requerimento do Ministério Público ou da pessoa jurídica de direito público
interessada, em caso de manifesto interesse público ou de flagrante
ilegitimidade, e para evitar grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e à
economia públicas.

§ 9º A suspensão deferida pelo Presidente do Tribunal vigorará até o


trânsito em julgado da decisão de mérito na ação principal.

Assim, o instituto da suspensão da execução de decisão judicial só tem


cabimento quando se trata de liminar ou sentença/acórdão não transitada em julgado em
sede de mandado de segurança, ação cautelar inominada, ação popular, ação civil
pública ou em quaisquer outras ações movidas contra o Poder Público e seus agentes,
como a do caso concreto.

Outrossim, no presente caso, não será analisado com profundidade o mérito da


ação de controle de constitucionalidade estadual que originou a decisão impugnada, eis
que é cediço que não cabe em Suspensão de Segurança “a análise com profundidade e
extensão da matéria de mérito analisada na origem” (STF. SS 1.918-AgR/DF, rel. Min.
Maurício Corrêa, DJ 30.4.2004).

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Por outro lado, observa-se que a decisão embargada foi publicada em
30/03/2021, fazendo com que o Município tenha até 30/09/2021 (diante do
indeferimento do efeito suspensivo) para realizar considerável reforma em sua estrutura
orgânica, diante da declaração de inconstitucionalidade de mais de 20 (vinte) cargos
comissionados e consequente exoneração de mais de 200 (duzentos) servidores em
cargos de confiança , o que é impossível no atual contexto da pandemia.

Conforme explica a doutrina, “sendo a suspensão da liminar ou dos efeitos da


sentença uma providência drástica e excepcional, só se justifica quando a decisão
possa afetar de tal modo a ordem pública, a economia, a saúde ou qualquer outro
interesse da coletividade, que aconselhe a sua sustação até o julgamento final do
mandado”12.

Outrossim, repisa-se acerca da observância sobre a abordagem meritória com


incursão mínima, eis que, em sede de Suspensão de Segurança, o Pretório Excelso
consolidou o entendimento de que não cabe a análise com profundidade e extensão da
matéria de mérito da origem, analisando-se, pois, o suficiente para demonstrar-se a
pertinência do mérito aludido, em contraponto à tutela equivocada, teratológica e
vigente da decisão impugnada.

Diante disso, conclui-se que a presente medida judicial é perfeitamente cabível


no caso em tela, de modo que a decisão que estabeleceu o prazo de 6 (seis) meses para
modular seus efeitos merece a contracautela de suspensão imediata.

De acordo com a decisão atacada, todas as áreas da estrutura


administrativa municipal, na maior brevidade, “amanhecerão” desprovidas de
chefia, sem gerentes, diretores, coordenadores, etc.

Isso sem contar a previsão de um “amanhecer” contemplando quase que o


desmanche do corpo jurídico do Município de Governador Valares.

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1 MEIRELLES, Hely Lopes. Mandado de segurança e ação popular. 10. ed. ampl. -São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 1985, p. 55

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No que se refere aos cargos jurídicos a situação é igualmente preocupante. São
diversos os atos administrativos que precisam de avaliação e revisão do corpo jurídico.
Ademais, é crescente o número de demandas ajuizadas em desfavor do Município
(apenas no TJMG) conforme abaixo:

Demandas TJMG (Pje)

2017 2018 2019 2020 2021

Demandas TJMG

Além disso, os processos físicos e em digitalização somam mais de 10 mil


processos em andamento:

Um corpo jurídico não só labora diariamente apenas apresentando recursos ou


manifestações, mas realizando inúmeras obrigações de fazer e não fazer com multas
diárias que comumente são aplicadas ao Município, além de emitir pareceres opinativos
para a aquisição de bens e serviços indispensáveis.

São processos administrativos, cíveis, tributários e até trabalhistas com


participação do Ente Público. Na prática são milhares de processos em cursos e em
diversas fases e instâncias com valores que, se somados e atualizados, podem chegar a
centenas de milhões de reais. Questiona-se: será que tais questões não representam Página 20 de
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a possibilidade de lesão grave e de difícil reparação?

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Os efeitos no combate a Pandemia causada pela COVID-19 seriam igualmente
ignorados quando se vive, mesmo com as campanhas de vacinação, um momento ainda
bastante grave de acordo com dados oficiais:

O apagão do serviço público que se demonstrou é igualmente grave, mas


não é só isso. A reestruturação administrativa poderá conduzir à necessidade de
realização de concurso público em momento crítico de enfrentamento da
pandemia, o que vai de encontro à realidade vivenciada no Estado do Minas
Gerais e em quase todo o País, bem como põe em risco a vida dos candidatos e dos
trabalhadores da banca organizadora e o próprio sistema de saúde.

Outrossim, fere os princípios norteadores da administração pública, no que


tange à aplicação de concursos públicos, qual seja, a ampla concorrência; e não se
coaduna com as próprias normas restritivas do Governo do Estado de Minas
Gerais.

VII.2. DA APLICAÇÃO DO ART. 20, DA LIDB, E DA NECESSIDADE DE


EXAME DOS IMPACTOS DA DECISÃO

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O exame dos impactos de qualquer decisão judicial, como a atacada, é
obrigatório. De acordo com o art. 20, do Decreto-Lei 4.657/1942 (a LINDB), incluído
pela Lei 13.665/2018:
Art. 20. Nas esferas administrativa, controladora e judicial, não se decidirá
com base em valores jurídicos abstratos sem que sejam consideradas as
consequências práticas da decisão. Parágrafo único. A motivação
demonstrará a necessidade e a adequação da medida imposta ou da
invalidação de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa,
inclusive em face das possíveis alternativas.

Com o devido respeito, a decisão atacada se limitou a afirmar que não haveria
objetivamente “a possibilidade de lesão grave ou de difícil reparação para a parte
embargante até a análise do mérito recursal”. Mas não foram examinados os impactos
das determinações contidas na decisão cujos efeitos se pretende suspender – muito em
razão, inclusive, do inexistente contraditório por parte do Município, que requereu a
participação como amicus curiae na demanda.

Em semelhante sentido, o art. 489, § 1.º, do CPC, prevê que não se considera
fundamentada a decisão que “se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato
normativo, sem explicar sua relação com a causa e com a questão decidida” (inc. I),
“empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua
incidência no caso” (inc. II) e “invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer
outra decisão” (inc. III).

Realmente, se mantida, a decisão inviabilizará por completo a continuidade de


diversos serviços públicos pelo Município de Governador Valadares, na medida em que
lhe impõe um ônus insuportável, considerando a realidade atual.

De fato, os cidadãos não podem ser onerados pela não prestação de serviços
em razão da imediata exoneração de vários ocupantes de cargos de chefia, direção
e assessoramento em setores sensíveis como os da educação, saúde, infraestrutura,
transporte, trânsito e segurança públicas.

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Logo, a potencialidade lesiva do ato decisório, tendo em vista os interesses
públicos relevantes assegurados em lei, recomenda a suspensão da medida cautelar
questionada13.

Com relação aos servidores da área jurídica, deve-se atentar que, até que a
situação se normalizasse, o Município ficaria sem a adequada e necessária assessoria
jurídica (contenciosa e consultiva) e milhares de munícipes deixariam de contar com o
atendimento de que hoje dispõem pelos diversos servidores ocupantes dos cargos
declarados inconstitucionais. A reação em cadeia e os danos incalculáveis são evidentes.

Além do sério risco de paralisação de serviço público essencial, é possível


antever lesão à ordem pública como um todo: dispensa de servidores, perda do poder de
fiscalização e de cobrança de receitas oriundas da concessão e do recolhimento de
tributos, condenações pecuniárias decorrente de decisões liminares, necessidade de
realização de inúmeros dispêndios não previstos no orçamento municipal e assim por
diante.

Portanto, não restam dúvidas de que a manutenção da decisão e a consequente


inviabilização das atividades do Município Requerente são prejudiciais não apenas para
o Ente, mas também para os munícipes que estarão desatendidos, violando a ordem, a
saúde e a segurança públicas.

VIII. DOS PEDIDOS

Diante do exposto e muito respeitosamente, os Requerentes requerem, em vista


da extrema urgência do caso:

a) o deferimento, inaudita altera parte, deste pedido, para suspender os efeitos da


decisão proferida na Ação Direta de Inconstitucionalidade n.º 1624287-
60.2019.8.13.0000 do Tribunal de Justiça de Minas Gerais;

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(STF - AgR SL: 1042 SP - SÃO PAULO 0055990-28.2016.1.00.0000, Relator: Min. CÁRMEN LÚCIA 24
(Presidente), Data de Julgamento: 17/08/2018, Tribunal Pleno, Data de Publicação: DJe-179 30-08-2018)

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b) a intimação da autoridade judiciária no Tribunal de origem para fins de
apresentação de informações/manifestação, no prazo comum que vier a ser
assinado e o parecer da Procurador Geral da República, com ou sem a suspensão
imediata do provimento acautelatório;

c) a declaração de que os efeitos da suspensão deferida perdurem até o trânsito em


julgado da ação, a teor do disposto no § 9º, do art. 4º, da Lei nº 8.437/92 ou até
outro momento a critério deste Excelso Juízo.

De Belo Horizonte para Brasília/DF, 2 de agosto de 2021.

Elias Dantas Souto


OAB/MG 88.048

Patrícia Henriques Ribeiro Virgínia Afonso de Oliveira Morais da Rocha


OAB/MG 65.610 OAB/MG 96.187
OAB/DF 58.964

Mikaella Lorena Marques Mendes Araújo Alberto Jonathas Maia


OAB/MG 199.615 OAB/PE 36.520

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