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tação dos planos de saúde, com ênfase na ca- apreciação dos entrevistados, inclusive sofrendo
racterização dos projetos disputados pelos mais alterações atendendo aos pedidos dos mesmos.
importantes atores sociais interessados direta- Foi enviada cópia da versão final da dissertação
mente no processo de regulação por parte do para todos os entrevistados.
Estado. Utilizando-se do conceito de ator social
de Matus 19, para quem o ator social é uma per-
sonalidade, agrupamento humano ou organi- Resultados e discussão
zação, que tem capacidade de acumular força,
desenvolver necessidades e interesses e atuar As posições defendidas pelos atores sociais em
produzindo fatos na situação. A reconstrução do relação aos 28 temas mais polêmicos em disputa,
posicionamento dos atores durante o processo coletados através de análise documental e entre-
de regulamentação foi feita por meio da análise vistas complementares, foram sistematizadas e
documental e de entrevistas. agrupadas em cinco grandes blocos temáticos.
No estudo, tiveram destaque os seguintes
atores ou forças sociais: o Executivo, o Conselho Bloco temático 1: o grau e as características
Nacional de Saúde (CNS), o Ministério Público, da regulamentação do setor suplementar
o PROCON, as diversas organizações não-gover- (7 temas em disputa)
namentais (ONGs) de usuários e consumidores,
as entidades médicas, as operadoras de planos 1) Contra ou a favor da regulamentação;
de saúde (medicinas de grupo, seguradoras, au- 2) Regulamentação dos planos e seguros, separa-
togestão e cooperativas médicas). Esses atores damente ou conjuntamente;
tiveram protagonismo destacado no processo de 3) A favor ou contra a entrada de capital estran-
regulamentação que resultou na aprovação da geiro;
Lei nº. 9.656, em 1998. 4) Subordinação da Saúde Suplementar ao Mi-
Tais atores sociais envolvidos no processo de nistério da Saúde ou ao Ministério da Fazenda,
regulamentação são, na verdade, “macroatores”, ou a ambos;
isto é, muitas vezes representam mais do que co- 5) A favor ou contra a subordinação da saúde
letivos unificados por um só programa ou matriz suplementar ao Conselho Nacional de Seguros
discursiva 20, na medida em que também podem Privados;
ser vistos como verdadeiras arenas de disputas 6) A favor ou contra a criação de agência estatal
de interesses divergentes e inconciliáveis. Como para regulamentar o setor supletivo;
exemplo, basta analisarmos a composição do 7) Câmara de Saúde Suplementar de caráter con-
CNS e os interesses divergentes que ele congrega. sultivo ou deliberativo.
O próprio “Executivo” não é um ator homogêneo,
tendo em seu interior atores que atuam com ló- Bloco temático 2: cobertura e exclusões a
gicas diferentes, muitas vezes conflitantes, bas- doenças e problemas relacionados à saúde
tando ver as relações entre Ministério da Saúde dos usuários/consumidores de planos
e a equipe econômica da Fazenda ou os técnicos (9 temas em disputa)
da Superintendência de Seguros Privados. De
qualquer forma, e para fins do presente estudo, 8) Instituição ou não do plano referência de as-
consideramos tais atores como dotados de cer- sistência à saúde;
ta “homogeneidade discursiva”, na medida em 9) Contra ou a favor da segmentação dos planos
que era possível reconhecer seu posicionamento (possibilidade de cobertura restrita a áreas am-
diante dos vários temas disputados. O campo da bulatorial, hospitalar, hospitalar com obstetrícia
regulamentação foi trabalhado como um territó- e odontologia);
rio político povoado por atores ou forças sociais, 10) Cobertura ou não no atendimento à emer-
portadores de interesses na maioria das vezes gência e urgência durante o período de carência;
incompatíveis entre si e em permanente peleja 11) Exclusão ou não de cobertura às epidemias;
e disputa. 12) Existência ou não de limite de tempo máximo
Além da leitura da extensa fonte de documen- de internação, inclusive em unidade de terapia
tos escritos, que evidenciam as posições defendi- intensiva;
das pelos atores no processo de regulação, alguns 13) Carência ou não para partos e demais casos;
dos seus mais expressivos representantes foram 14) Cobertura total ou parcial dos honorários mé-
entrevistados para precisar melhor as posições dicos nas internações e consultas ambulatoriais;
identificadas por meio da análise documental. 15) Cobertura ou não a doenças e lesões pré-exis-
A investigação foi aprovada pela Comissão de tentes;
Ética em Pesquisa da UNICAMP. Todas as entre- 16) O grau de cobertura dos serviços de diagnós-
vistas foram anotadas, digitadas e submetidas à tico e tratamento.
Bloco temático 3: o exercício profissional e um tema em cada um dos cinco blocos temáticos
a organização do trabalho médico e com eles organizamos a Tabela 1.
(6 temas em disputa) Na disputa em relação ao tema Necessidade
de Regulamentação dos Planos de Saúde, perten-
17) O grau de autonomia do profissional médi- cente ao bloco temático 1, pode ser visto que o
co e demais profissionais frente às operadoras executivo tinha a mesma posição das segurado-
quanto à escolha de meios diagnósticos e tera- ras e das autogestões, disputando posição com
pêuticos; os demais atores. O termo “a favor, com restri-
18) A possibilidade de livre escolha dos médicos, ção” significa uma posição favorável a uma regu-
demais profissionais e prestadores pelos usuá- lamentação restrita a uma parcela dos planos de
rios; saúde. As seguradoras e autogestões pleiteavam
19) O credenciamento dos médicos e demais ficar fora da nova Lei, por se considerarem já re-
profissionais de saúde pelas operadoras de pla- gulamentados e, no caso do Executivo, por apre-
nos de saúde; sentarem o Projeto de Lei nº. 3.617/97 17 que aten-
20) O referenciamento dos médicos e demais dia o pleito das seguradoras. Pode-se dizer que o
profissionais de saúde pelas operadoras; bloco temático 1, quando analisado o material
21) Proibição ou não da unimilitância, isto é, a completo coletado pelo estudo, abrigou alguns
criação de vínculo exclusivo do médico à ope- temas quase consensuais, entre eles a necessi-
radora; dade de regulamentação conjunta dos planos de
22) Aceitação e reconhecimento da lista de pro- saúde. Nesse tema, as seguradoras defendiam
cedimentos médicos da Associação Médica Bra- uma regulamentação separada dos planos e se-
sileira (AMB). guros saúde, e as autogestões e cooperativas de-
fendiam ser excluídas da regulamentação. Cha-
Bloco temático 4: a relação público-privado ma a atenção, ainda, nesse bloco, algumas con-
(4 temas em disputa) vergências de posição entre o poder executivo
e as seguradoras, em particular a defesa de que
23) A favor ou contra o fornecimento obrigatório os planos de saúde deveriam ser subordinados
de dados epidemiológicos ao Ministério da Saú- ao Ministério da Fazenda. A entidades médicas,
de por parte das operadoras; os consumidores e usuários eram favoráveis à
24) A favor ou contra o ressarcimento ao SUS, do subordinação ao Ministério da Saúde, enquanto
atendimento feito a usuários dos planos; que o CNS, o Ministério Público, as medicinas de
25) A favor ou contra subsídios governamentais grupo e as cooperativas médicas eram favoráveis
aos planos via dedução do Imposto de Renda; à subordinação tanto ao Ministério da Fazenda
26) A favor ou contra estímulos governamentais quanto ao da Saúde.
aos planos via a concessão de certificado de uti- O tema Cobertura dos Meios de Diagnóstico e
lidade pública. Tratamento, do bloco temático 2 e mostrado na
Tabela 1, mostra um alinhamento das entidades
Bloco temático 5: continuidade de usufruto médicas e das organizações de usuários e de de-
do plano após término do vínculo fesa do consumidor a favor da cobertura integral,
empregatício (2 temas em disputa) contra a posição das operadoras de medicina de
grupo, seguradoras, cooperativas médicas e Exe-
27) O direito do trabalhador manter-se como be- cutivo que eram favoráveis à segmentação, isto é,
neficiário em caso de demissão; à possibilidade do atendimento apenas nas áreas
28) O direito do trabalhador manter-se como be- ambulatorial, hospitalar, de obstetrícia e odonto-
neficiário em caso de aposentadoria. lógico e conseqüente cobertura apenas na área
Com o material empírico coletado por meio contratada, excluindo as demais.
de extensa pesquisa documental, foi construído Quanto à Autonomia do Médico para Solicitar
um quadro, para cada um dos temas em dispu- Exames e Decidir Tratamentos, do bloco temático
ta, no qual era possível, quase sempre, se visu- 3, é possível reconhecer uma grande diversida-
alizar a posição defendida pelo ator estratégico. de de posições, evidenciando-se uma questão
Os quadros mostravam a posição dos diferentes bastante polêmica, com as entidades médicas
atores, em relação ao tema em disputa, durante o defendendo a total autonomia do profissional,
processo de regulamentação, caracterizando sua o IDEC a favor da boa técnica e os demais não
posição como “a favor”, “contra” ou “a favor, com se posicionando ou defendendo medidas geren-
restrição”. Para dar uma idéia de como os qua- ciais de controle como auditorias e outras. Os
dros estavam organizados e tinham potência pa- blocos temáticos 2 e 3 apresentaram, também,
ra mostrar, de forma sistematizada, as posições grandes disputas. No que se refere às cobertu-
convergentes e/ou divergentes, selecionamos ras e exclusões, havia, no geral, convergência
Tabela 1
Síntese das posições defendidas pelos vários atores que disputaram o processo de regulamentação dos planos, em relação a cinco dos 28 temas que
compunham a pauta da regulamentação.
CID: Classificação Estatística Internacional das Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde; IDEC: Instituto de Defesa do Consumidor; PROCON:
Fundação de Defesa e Proteção do Consumidor; UNIMED: Cooperativas médicas; FENAM: Federação Nacional dos Médicos.
* Critérios gerenciais como pacotes e metas referenciais.
entre consumidores, portadores de patologias, concordaram, de uma maneira geral, com o for-
profissionais de saúde, na maioria das vezes com necimento de dados para o Ministério da Saúde,
o apoio do CNS, Ministério Público e PROCON, porém as seguradoras ressaltaram que deveria
em favor da maior cobertura, da não exclusão ser sem ônus, o que é uma forma de dificultar a
e contra as carências, ao passo que as operado- implantação de tal medida. Apenas as medici-
ras, como era de se esperar, defendiam posição nas de grupo foram favoráveis ao ressarcimento,
oposta. O Executivo teve posição variável em re- pois o atendimento na rede pública amplia a sua
lação a este tema. No bloco temático 2, a única rede de atendimento.
unanimidade foi quanto à instituição do Plano Em relação à Manutenção como Beneficiário
Referência de Assistência à Saúde. No bloco 3, se o Trabalhador for Demitido, do bloco temático
referente ao exercício profissional do médicos, 5, a Tabela 1 mostra que a posição foi bancada
houve grandes divergências, principalmente en- eminentemente pelo Executivo, que adotou o
tre entidades médicas e operadoras de planos de Projeto de Lei do Senado nº. 177, de 1977 21, com
saúde. Na maioria das vezes, o Executivo posicio- o apoio dos consumidores e CNS, sendo que as
nou-se ao lado das OPS. Várias questões defen- medicinas de grupo e autogestões eram contra
didas pelas entidades médicas tiveram o apoio e as seguradoras e UNIMEDs não se manifes-
dos consumidores, portadores de patologia, CNS taram.
e PROCONs. No caso da manutenção do trabalhador be-
Em relação aos Estímulos aos Planos de Saú- neficiário após a aposentadoria, repetiu-se o
de via Dedução do Imposto de Renda, do bloco mesmo posicionamento, exceto quanto aos usu-
temático 4, as operadoras e o governo eram a ários que não se posicionaram.
favor, enquanto que o IDEC e a FENAM questio- O material empírico coletado permite afir-
navam tal medida. Ainda nesse bloco, que trata- mar que houve uma importante convergência
va das relações público-privado, quando o tema entre as entidades médicas e as organizações de
era o fornecimento de dados epidemiológicos usuários e consumidores nos temas referentes à
ao Ministério da Saúde e ressarcimento ao SUS, necessidade de regulamentação, à subordinação
houve concordância entre o poder Executivo, do setor de saúde suplementar ao Ministério da
entidades médicas e ONGs de usuários e con- Saúde, à garantia de cobertura, a não exclusão, a
sumidores. As operadoras de planos de saúde não existência de carências e à defesa da autono-
mia profissional dos médicos. O poder Executivo quando não há patrocinadores. Por outro lado,
na maioria das vezes aliou-se às operadoras de a maioria dos planos de saúde é coletiva, sen-
planos de saúde, em particular às seguradoras. do que algumas operadoras de planos de saúde,
O governo federal, à época, tinha uma visão como as autogestões, só têm este tipo de plano,
liberal de internacionalização da economia brasi- enquanto que as demais oferecem planos indi-
leira e desta forma buscava proporcionar marcos viduais, embora com tendência a diminuir sua
regulatórios seguros para os agentes financeiros presença no mercado.
nacionais e internacionais, que, como já vimos,
é uma condição básica para o desenvolvimento
do capitalismo. Conclusões
Por outro lado, havia razões da própria área
de gestão da saúde pública e da saúde suplemen- A aprovação da Lei nº. 9.656/98 22 foi fruto da
tar, pois, segundo José Carlos Seixas, secretário articulação dos movimentos dos consumidores
executivo do Ministério da Saúde nos governos de planos de saúde, dos portadores de patolo-
Fernando Collor de Mello (1990-1992) e Fernan- gia e dos médicos que se sentiam ameaçados.
do Henrique Cardoso (1995-2002), entrevistado Os primeiros, em relação aos seus direitos de as-
durante a pesquisa: “... a motivação do Governo sistência, os últimos, em relação à sua autono-
era que o setor governamental tivesse um papel re- mia profissional, tendo em vista a racionalização
gulamentador no setor suplementar, tanto em re- crescente das práticas das operadoras, atuando
lação à qualificação, como em relação à natureza na lógica do mercado.
e as condições de trabalho. Interessava ao setor pú- A aliança usuários/consumidores/profissio-
blico que houvesse regulamentação, pois as regras nais de saúde/setores da academia e corpo téc-
existentes do Ministério da Fazenda e Ministério nico das universidades já havia ocorrido durante
da Agricultura eram insuficientes; e interessava a Assembléia Nacional Constituinte na década
ao setor suplementar uma regulamentação para de 1990, que, com o apoio dos partidos políticos
resolver suas contradições internas” 4 (p. 131). vinculados à luta pela redemocratização do Bra-
Essa afirmação é corroborada pelas posi- sil, inseriu na Constituição brasileira o direito à
ções diferentes assumidas pelas operadoras de saúde.
planos de saúde quanto à necessidade de regu- Entendemos que aqui, na arena de disputas
lamentar ou não os planos de saúde, ou se os do setor privado, assim como ocorreu na arena
planos e seguros saúde deveriam ter sido regula- pública durante a regulamentação do Direito à
mentados em conjunto ou em separado, como já Saúde, o fator fundamental foi a identidade de
foi indicado quando comentamos os resultados posições entre os atores que representavam os
encontrados na investigação. Isso se deve, in- trabalhadores e profissionais de saúde e os usuá-
clusive, entre outros fatores, às características rios/consumidores, na defesa do direito à vida e
das próprias operadoras de planos de saúde, à saúde, em sintonia com os pensadores progres-
uma vez que as medicinas de grupo possuem sistas do campo sanitário. A história tem mos-
redes próprias de atendimento, enquanto que as trado que os governos atuam em consonância
UNIMEDs são cooperativas de médicos que com consensos conquistados na luta social, e
atendem os usuários em clínicas e consultórios estes se transformarão em texto legal, a exem-
dos próprios cooperados, embora esteja haven- plo da Constituição Federal de 1988 23, da Lei nº.
do um movimento progressivo para construção 8.080/90 24 e da Lei nº. 9.656/98 22, modificada
de uma rede hospitalar própria, e as autogestões pela Medida Provisória nº. 2.177/2001 25. Por ou-
e seguradoras geralmente contratam serviços tro lado, achamos que o maior conhecimento do
de prestadores pessoas físicas e jurídicas (sejam setor privado evidenciou os seus estrangulamen-
eles profissionais de saúde ou estabelecimen- tos, demonstrando a necessidade de um sistema
tos de diagnose e terapêutica ou hospitalares). público universal para viabilizar o direito à saúde
Outra questão é que, enquanto as medicinas de ao conjunto da população.
grupo e UNIMEDs têm sua receita por sistema A conclusão é que ocorreram avanços signifi-
de pré-pagamento, advindo o lucro ou “sobra”, cativos com a regulamentação, relativos à consti-
no caso das UNIMEDs, da boa administração tuição e ao funcionamento das empresas, como o
da assistência à saúde realizada pelos planos, as disposto sobre registro, normas de funcionamen-
seguradoras trabalham com um lucro garanti- to e fiscalização; exigências de reservas técnicas
do, vendendo seus seguros-saúde sob a forma e ampliação da cobertura, como a definição do
de prêmios que têm custos atuariais estimados plano referência, proibição da seleção por faixas
para a população a ser atendida. As autogestões etárias e dos limites de internação. Um dos fatos
podem ratear seus custos com os eventuais pa- de inegável importância foi a maior divulgação e
trocinadores ou mesmo com o grupo assistido o maior acesso aos dados do setor.
Tabela 2
No. 9.656 22 foi atualizada 04/Jun/1998 Dispõe sobre os planos e seguros privados
pela Medida Provisória de assistência à saúde
nº. 2.177-44/2001 25
Tabela 3
Como ficaram os temas em disputa, durante o processo de regulamentação, nos textos da Lei nº. 9.656/98 e da Medida Provisória nº. 2.177-44/01.
Segmentação em relação ao plano referência Sim: ambulatorial, hospitalar, Sim: ambulatorial, hospitalar,
com e sem obstetrícia e odontológico com e sem obstetrícia e odontológico
Cobertura de serviços de apoio diagnóstico e tratamento De acordo com a segmentação De acordo com a segmentação
Exclusão de cobertura às doenças e lesões pré-existentes Até 24 meses da vigência Até 24 meses da vigência
do contrato ou agravamento do contrato ou agravamento
Cobertura às urgências e emergências De acordo com as definições da Lei De acordo com as definições da Lei
Livre escolha dos médicos e demais profissionais de Sim para seguros e não para planos Sim
saúde pelos usuários
Autonomia no exercício profissional dos médicos quanto De acordo com a segmentação De acordo com a segmentação
à escolha dos meios diagnósticos e terapêuticos
(continua)
Tabela 3 (continuação)
Tema Lei no. 9.656/98 22 Medida Provisória no. 2.177-44/01 25
Estímulos governamentais aos Planos e Seguros Privados de Não trata do tema Não trata do tema
Assistência à Saúde, via dedução no Imposto de Renda
saúde mostram o quanto permanecem questões entre operadoras de planos de saúde e presta-
ainda não resolvidas pela regulação 4,27. dores, à adaptação dos planos antigos, ao rela-
Há autores como Mehry & Júnior 28 (p. 4) que cionamento entre Agência Nacional de Saúde
defendem a necessidade “da qualificação da as- Suplementar e Ministério da Saúde, ao caráter
sistência na saúde suplementar em torno do mun- da Câmara de Saúde Suplementar (se delibe-
do das necessidades de saúde dos usuários e com rativa e paritária), ao controle social do setor
a necessária garantia das boas práticas profissio- suplementar e fornecimento de dados epide-
nais, o que só uma poderosa regulação pública miológicos/econômicos/financeiros ao gover-
pode fornecer a este país”. no e sociedade. Ou seja, uma história de dis-
Concordamos com Scheffer 13 quando afir- putas que se desdobrará em novas etapas, com
ma que as futuras disputas entre os atores so- novos temas, conseqüência da multiplicidade
ciais serão relacionadas à vinculação com a po- de interesses e projetos políticos em disputa no
lítica de saúde, ao estímulo econômico e tribu- campo da saúde suplementar e sua regulamen-
tário do Estado aos planos de saúde, à relação tação pelo Estado brasileiro.
Resumo Colaboradores
O artigo reconstrói a disputa travada entre os princi- O artigo foi elaborado conjuntamente por todos os au-
pais atores sociais interessados diretamente no proces- tores.
so de regulamentação da saúde suplementar no Brasil,
no período imediatamente anterior à edição da Lei
no. 9.656/98, destacando convergências e divergências
destes atores em relação a 28 temas centrais para a
configuração do arcabouço regulatório vigente no Bra-
sil desde 1998. O material utilizado para a descrição
e sistematização das posições em disputa no processo
regulatório resultou de um estudo empírico, descritivo,
de natureza comparativo-contrastante, baseado em
análise documental e entrevistas com atores-chave.
O estudo sistematiza os principais pontos de polêmi-
ca e/ou consenso entre os vários atores, destacando,
em particular, as muitas convergências das propostas
das entidades médicas com aquelas defendidas pelas
organizações de usuários e pelos institutos de defesa
dos consumidores, apontando para a possibilidade de
construção de um bloco ético-político compromissado
com a defesa de uma melhor qualificação da assis-
tência, em contraposição a uma lógica meramente de
mercado.
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