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Cármen Cássia Velloso e Silva

Yara Maria Soares Costa da Silveira

GEOGRAFIA DA ENERGIA
E INDÚSTRIA

Montes Claros - MG, 2010


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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS - UNIMONTES

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Chefe do Departamento de Geociências


Guilherme Augusto Guimarães de Oliveira

Coordenadora do Curso de Geografia a Distância


Janete Aparecida Gomes Zuba
AUTORAS

Cármen Cássia Velloso e Silva


Mestre em Educação pela Universidade Vale do Rio Verde, Licenciada em
Geografia pela Universidade Estadual de Montes Claros. Professora do
Departamento de Geociências / centro de Ciências da universidade Estadual
de Montes Claros.

Yara Maria Soares Costa da Silveira


Doutoranda em Geografia pela Universidade Federal de Uberlândia, Mestre
em Geografia pela Universidade Federal de Uberlândia, Licenciada em
Geografia pela Universidade Estadual de Montes Claros. Professora do
Departamento de Geociências / Centro de Ciências Humanas da
Universidade Estadual de Montes Claros.
SUMÁRIO

Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 07
Unidade 1: Energia e sociedade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 09
1.1 Fontes de energia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 09
1.2 Fontes alternativas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
1.3 Quantidade de energia utilizada por região . . . . . . . . . . . . . . 17
1.4 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
Unidde 2: Meio ambiente, indústria e energia . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
2.1 A energia e o ambiente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
2.2 Fontes renováveis X não renováveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
2.3 Qualificação e tecnologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
2.4 A energia e a indústria. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
2.5 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
2.6 Vídeos sugeridos para debate . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
Unidade 3: Caracterização da indústria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
3.1 Conceito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
3.2 A importância da indústria no tempo . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
3.3 Revolução industrial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
3.4 Estrutura organizacional da indústria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
3.5 A ampliação do mercado e as multinacionais . . . . . . . . . . . . 41
3.6 A indústria no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
3.7 Em síntese. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
3.8 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
Referências básicas, complementares e suplementares . . . . . . . . . . . 69
Atividades de aprendizagem - AA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
APRESENTAÇÃO

Olá!

Bem-vindo novamente.

Neste conteúdo, trabalharemos a Geografia da Energia e Indústria.


Dessa forma, tentamos interrelacionar os principais temas relacionados a
estes dois assuntos, além de estabelecer nexos entre a Energia e a Indústria.
Colocamos, ao longo do texto, várias sugestões para consulta adicional: elas
farão com que você entenda melhor o conteúdo e podem subsidiar a
formação de opinião.
Esperamos que você aproveite todos os recursos disponibilizados
como ferramentas para alavancar seu aprendizado.

Vamos trabalhar!

07
1
UNIDADE 1
ENERGIA E SOCIEDADE

Aqui, estudaremos as fontes de energia, sua utilização e as


implicações da energia na sociedade. Lembre-se de utilizar sempre os outros
recursos à sua disposição. Não se prive de utilizar dicionários, enciclopédias
e a internet como fontes de pesquisa.

Vamos trabalhar!

1.1 FONTES DE ENERGIA

O uso da energia, ao longo da existência da humanidade tem sido


fundamental para a convivência entre a sociedade humana e o ambiente.
Portanto, a gestão da energia é uma ferramenta importante para o desenvol-
vimento e, também, para o poder. O aproveitamento e o uso de recursos
energéticos é, hoje, essencial a praticamente todas as atividades humanas,
como agricultura, transportes, tecnologia da informação, telecomunicações,
entre outros, que são pré-requesitos de uma sociedade desenvolvida. É
preciso lembrar, ainda, que a demanda por energia segue crescendo desde a
Revolução Industrial e isso traz consigo vários problemas, como por exemplo
os ambientais e políticos.

1.1.1 Combustíveis fósseis

Os combustíveis fósseis, também chama-


dos combustíveis minerais, são substâncias em
cuja composição existe grande quantidade de
carbono, de forma que são usados para alimentar
a combustão. São combustíveis fósseis utilizados
atualmente o carvão mineral, o gás natural e o
petróleo.
Figura 1: Carvão Mineral
O carvão mineral é um recurso energéti- Fonte: http://upload.
co considerado não-renovável, sendo necessários wikimedia.org/wikipedia/
commons/b/b6/Coal.jpg
milhões de anos para sua formação. Foi peça-
chave na Revolução Industrial e continua sendo
para a indústria atual.

1.1.2 Carvão mineral

O carvão mineral origina-se da decomposição de restos de grandes


quantidades de vegetais que foram soterrados por toneladas de sedimentos,
cerca de 350 milhões de anos atrás (Era Paleozóica).

09
Geografia Caderno Didático - 3º Período

Existem, definidas, quatro espécies de carvão mineral, sendo que


suas diferentes características se devem à idade geológica da jazida:
Ÿ Turfa - possui teor de carbono em torno de 55% (baixo poder
calorífico);
Ÿ Linhito - teor de carbono de 65% a 75% (ainda com baixo poder
calorífico);
Ÿ Hulha - teor de carbono de 75% a 90% (poder calorífico
considerável). É o tipo mais abundante e, consequentemente, consumido,
DICAS sendo utilizado para a produção de coque (carvão siderúrgico);
Ÿ Antracito - teor de 90% a 96% de carbono (alto poder
calorífico), sendo muito raro, corresponde a 5% do consumo mundal.
A exploração de carvão mineral é realizada em minas profundas,
Para saber mais sobre a Era
onde existe uma grande quantidade de trabalhadores trabalhando por
Paleozóica:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Pal longos turnos a centenas de metros de profundidade.
eozoico

1.1.3 Gás natural

Um outro combustível fóssil, o gás natural, é encontrado,


normalmente, associado ao petróleo. Constitui-se, majoritariamente, de gás
metano (Ch4).

Figura 2: Produção de gás natural no mundo em metros cúbicos (1000 litros) por ano
Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/1b/Natural_gas_production_world.PNG

Seu uso é crescente, com as novas técnicas de armazenamento e


transporte e com a descoberta de grandez jazidas. Tende a ser mais utilizado,
pois sua não toxicidade e rápida dissipação (é mais leve que o ar) o tornam
preferido a muitos outros combustíveis.
Já o petróleo é um produto oleoso, escuro e viscoso, constituído de
uma mistura de diversos compostos químicos, sobretudo hidrocarbonetos.
É originado da decomposição de restos de animais e vegetais
marinhos que viviam em oceanos primitivos, soterrados há centenas de
milhões de anos. É, portanto, considerado um recurso natural não-
renovável.

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Geografia da Energia e Indústria UAB/Unimontes

Figura 3: Plataforma de extração de petróleo marítimo na bacia de Campos – RJ (P-51)


Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/a/ab/Oil_platform_P-51_(Brazil).jpg

1.1.4 Petróleo

É, indubitavelmente, a fonte de energia mais utilizada no mundo.


Por isso, tem influenciado sobremaneira a história mundial (isso será tratado
no tópico “Influência do petróleo”)
São seus combustíveis derivados mais utilizados:

Ÿ Gasolina – combustível automotivo largamente utilizado nas


áreas urbanas em todo o mundo;

Figura 4: Preço da gasolina em diversas cidades do globo


Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/a/ae/Pre%C3%A7ogasolina.jpg

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Geografia Caderno Didático - 3º Período

Ÿ Diesel – muito utilizado em máquinas e motores de grande


porte, por sua característica de gerar uma forte explosão quando
comprimido, o diesel é considerado muito poluente;
Ÿ Querosene – utilizado para iluminação, solventes e QAV
(querosene para aviação);

1.1.5 Outros combustíveis

Carvão vegetal

O carvão vegetal é obtido da destilação seca da madeira. Nesse


processo, são queimadas toras de madeira empilhadas dentro de um forno.
Sendo o forno praticamente fechado, a reação ocorre com pouco oxigênio,
não permitindo que a madeira se queime em chamas, resultando um
produto com alto teor de carbono.

1.1.6 Biogás

Derivado do lixo orgâ-


nico, o Biogás promete ser
bastante útil no apreveitamento
do lixo urbano. É obtido a partir da
fermentação, por bactérias, do lixo
orgânico, resultando bastante
Figura 5: Uma carvoaria na Amazônia (note as metano (Ch4).
toras já cortadas, perto dos fornos)
O biodiesel é um éster
Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/
derivado de ácido graxo. Pode ser
commons/d/d4/CarvoariaWilsonDiasAgencia
Brasil.jpg
obtido através da reação química de
óleos ou gorduras (de origem animal ou vegetal) com um álcool. É
biodegradável e renovável.

Figura 6: Béquer contendo biodiesel Figura 7: Inauguração da Usina de Biodiesel da


(B100) produzido a partir de óleo de Petrobrás em Montes Claros
soja. Fonte: http://www.info.planalto.gov.br/imagens/
Fonte: http://upload.wikimedia.org/ Fotografia_imagens/foto_pequena/06042009P000
wikipedia/commons/f/f1/Bequer- 08.JPG
B100-SOJA-SOYBEAM.jpg

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Geografia da Energia e Indústria UAB/Unimontes

Uma desvantagem é a grande quantidade de glicerina gerada no


processo, não se sabe que destinação dar a esse subproduto da produção do
biodiesel.

1.1.7 Etanol

O Etanol é um álcool, que pode ser produzido a partir da cana-de-


açúcar, milho, beterraba e mandioca, principalmente. É utilizado desde o
início da indústria automotiva. Com o advento da utilização de combustíveis
fósseis, mais baratos e abundantes, o etanol tornou-se pouco utilizado.
O etanol de cana-de-açúcar, o mais produzido no Brasil, é o que
possui o processo de produção que, reconhecidamente, mais fixa CO2
atmosférico, sendo considerado por muitos, então, como ambientalmente
sustentável.
Mesmo assim, ainda recebe críticas por, potencialmente, invadir
áreas que deveriam ser
destinadas a culturas de
alimentos o que provocaria, a
curto/médio prazo, encare-
cimento dos alimentos.
O etanol de milho teve,
recentemente, sua produção
incentivada nos Estados Unidos
e Europa, para servir como
Figura 8: Típico trabalhador das colheitas de cana aditivo na gasolina e ser
-de-açúcar no Brasil utilizada, também, como
Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/
commons/b/bc/Trabalho.JPG combustível.
Tem sofrido duras
críticas ultimamente, pois fez, comprovadamente, subir o preço do milho e
tem sido taxado até mesmo como “combustível fóssil” por sua produção nas
usinas usar gás e carvão.
Além disso, o balanço ambiental (CO2 fixado X CO2 emitido) se
mostra inferior ao do etanol de cana-de-açúcar, por exemplo.

1.1.8 Energia nuclear

A energia nuclear é a
energia contida no núcleo dos
átomos. Para sua utilização é
necessário realizar processos de
fissão ou fusão de núcleos, onde
Figura 9: Produção de milho no Colorado, EUA uma grande quantidade de
Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/co
mmons/4/47/Corn_production_in_Colorado.jpg
energia é liberada.

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Geografia Caderno Didático - 3º Período

Uma usina nuclear funciona tal qual uma usina termelétrica, com a
diferença de que o calor usado para aquecer a água é gerado pela fissão de
núcleos atômicos, sobretudo de Urânio.
É responsável por 16% da energia disponível para uso direto no
mundo.
A energia nuclear é considerada por muitos perigosa, tomando por
base os acontecimentos em
Chernobyl, cidade próxima a
Kiev, capital da Ucrânia, em
26 de abril de 1986, quando
houve a liberação, na
atmosfera de 5 toneladas de
material radioativo, e como
consequencia atingindo
Figura 10: Uma usina nuclear em funcionamento milhares de pessoas ainda
(o que sai das chaminés é vapor d’água não-radioativo)
Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/com hoje.
mons/4/4e/Nuclear_Power_Plant_Cattenom.jpg Alguns cientistas
(inclusive ambientalistas)
argumentam que, devido ao nível de segurança atingido hoje, a energia
nuclear poderia ser considerada limpa, pois não libera CO2, por exemplo,
nem rejeitos na natureza.

1.1.9 Energia hidrelétrica

A energia hidrelétrica é “gerada” em barragens, onde o fluxo de


água é utilizado para fazer girar um turbina. Países que possuem rios de
planalto caudalosos têm alto potencial para energia hidrelétrica.
É responsável por 18% da energia disponível para uso direto no
mundo.
Apontada como uma
fonte de energia não-poluente, é
considerada uma forma de redução
do efeito estufa, uma vez que
substitui a queima de, estima-
damente, 600 milhões de
toneladas de petróleo por ano.
De qualquer forma,
Figura 11: Esquema de uma usina hidrelétrica
existem ainda os problemas
Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/
commons/7/71/Hydroelectric_dam_portuguese.
PNG ocasionados pela inundação
ocasionada pela contrução de
barragens: florestas submersas, destruindo fauna e flora locais;
deslocamento de comunidades; mudança do curso de rios, podendo afetar
os ecossistemas locais.

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Geografia da Energia e Indústria UAB/Unimontes

1.2 FONTES ALTERNATIVAS


1.2.1 Energia solar

As chamadas fontes alternativas de energia são renováveis e limpas,


mas geralmente aplicáveis a determinadas regiões, onde sua implantação é
menos custosa.
A energia solar é abundante nas zonas equatoriais, principalmente.
A dificuldade é o custo de implantação das placas fotoelétricas que, apesar
de estar se reduzindo nos últimos anos, não supera a relação custo/benefício
imediato das fontes de energia majoritariamente utilizadas.

1.2.2 Energia eólica

Uma fonte de energia que


também precisa de condições
favoráveis específicas é a eólica. São
correntes de ar fortes e contínuas para
que a produção de energia compense a
instação do equipamento, que
também não supera a relação
Figura 12: Painel solar
Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia custo/benefício imediato frente às
/commons/3/37/Solar_Panels.jpg fontes já utilizadas.

1.2.3 Energia maremotriz

A chamada energia mare-


motriz utiliza o movimento das
massas de água pelas marés para a
geração de energia elétrica. É
apontada por alguns especialistas
como uma das “fontes de energia do
Figura 13: Aerogeradores no Ceará futuro”. Seu custo de implantação é
Fonte: http://www.casacivil.ce.gov.br/noticias/
atlas-eolico-vai-medir-potencial-do-ceara/ alto, mas o retorno energético é
image.jpg muitíssimo alto, também, de forma
que é capaz de gerar muito mais
energia do que a humanidade seria capaz de gastar hoje ou no futuro,
mesmo considerando as altíssimas taxas de crescimento da demanda.
Uma barragem é construída, e são implantadas turbinas. Quando a
maré sobe, a água passa pelas turbinas fazendo-as girar; quando a maré
desce, a água passa novamente pelas turbinas, gerando mais energia.

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Geografia Caderno Didático - 3º Período

1.2.4 Energia geotérmica

Mais uma fonte de energia renovável, a energia geotérmica, utiliza-


se do vapor proveniente do centro
da Terra. A construção de dutos que
conduzam esse vapores à superfície
e a instalação de turbinas acionadas
pelo movimento aendente desses
vapores não são processos dema-
Figura 14: A usina geotérmica de Nesjavellir, siadamente custosos, o que a
próxima a Þingvellir, Islândia.
Fo n t e : u p l o a d . w i k i m e d i a . o r g / w i k i p e d i a
tornaria uma fonte de energia
/commons/9/9f/NesjavellirPowerPlant_edit2.jpg atraente.
Mas existem problemas
dramaticamente ilustrados decorrentes da utilização dessa fonte de energia,
pois a retirada de água subterrânea provoca afundamento do nível da
superfície: em Wairakei, Nova Zelândia, (Allis, 2000) a superfície afundou
14 metros em 47 anos. Além disso, os equipamentos são corroídos pelos
ácidos presentes no vapor, danificando o maquinário e, potencialmente,
causando danos à saúde humana.
A seguinte tabela resume bem os aspectos das principais fontes de
energia:

Combustível Aspectos positivos Aspectos negativos


• Abundante, • Alta emissão de gases de efeito estufa
Carvão economicamente acessível, • Necessita portentosos investimentos para
uso seguro desenvolvimento de tecnologias que reduzam
• Fácil de transportar e de as emissões de gases de efeito estufa (GEE) a
armazenar níveis aceitáveis
• Amplamente distribuído • Extração perigosa
• Conveniente • Fortemente poluidor da atmosfera
Petróleo • Alta densidade energética • Preços voláteis
• Fácil de transportar e de • Concentração geográfica das jazidas
armazenar • Produto cartelizado e mercado manipulável
• Co-evolução da fonte • Vulnerabilidade de interrupção de oferta e
energética com os instabilidade geopolítica
equipamentos para seu uso • Riscos de transporte e armazenamento
• Reservas em esgotamento
• Eficiente e conveniente • Produto emissor de gases de efeito estufa
Gás • Combustível multiuso • Transporte e armazenamento caro e arrisca do
• Alta densidade energética • Requer infra-estrutura cara, própria e
inflexível.
• Volatilidade de preços
• Jazidas concentradas geograficamente
• Produto cartelizado e mercado manipulável
• Não há emissões de gases
• Baixa aceitação da sociedade
Energia de efeito estufa
• Sem solução para eliminação dos resíduos
Nuclear • Poucas limitações de
• Operação arriscada e perigosa
recursos
• Muito intensivo em capital
• Alta densidade energética
• Baixas emissões de gases • Custos altos
Energia de efeito estufa • Fontes intermitentes
Renovável •Sustentabilidade • Distribuição desigual
• Estágio tecnológico inferior às demais fontes
em uso
Fonte: Donato Aranda - Panorama energético atual e perspectivas futuras
(http://www.biodieselbr.com/energia/agro-energia.htm)

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Geografia da Energia e Indústria UAB/Unimontes

1.3 QUANTIDADE DE ENERGIA UTILIZADA POR REGIÃO

Figura 15: Consumo de energia em kilogramas de petróleo equivalente por pessoa por ano
por país (tons mais próximos de vermelho indicam aumento de consumo e tons mais
próximos de verde, diminuição; tons mais escuros representam consumo maior, tons
mais claros, menor; as regiões em preto não apresentam dados)
Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/e/eb/Energy_per_capita.png

Analisando o mapa, nota-se a clara ligação gasto de energia / nível


de industrialização, não estando diretamente ligada à quantidade de
pessoas, mas à quantidade de capital circulante, por exemplo.
Compare a figura
anterior com a figura que se
segue:
Parece haver uma
confirmação dos dados, não? O DICAS
gasto energético se dá onde há
mais capital circulante e não
Figura 16: O mundo à noite necessariamente, maior
Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/ Entenda e conheça os Serviços
commons/b/bb/Whole_world_-_at_night.png população.
Secretos:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ser
1.3.1 Influência do Petróleo e a dependência dos combustíveis fósseis – vi%C3%A7o_de_intelig%C3%A
Ancia
um breve histórico das relações de poder ligadas ao “ouro negro”

O Petróleo, estabe-
lecido como fonte majoritária
de energia no mundo, tornou-
se um ele-mento de poder.
Essa importância estratégica
do petróleo provocou, então, DICAS
muitas crises envolvendo a
posse, o refino e a comercia-
lização do “ouro negro”, com
Figura 17: Maiores reservas de petróleo no mundo vistas à busca de lucro e poder. Entenda quem são os xiitas:
Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/ http://pt.wikipedia.org/wiki/Xiis
commons/2/2a/Reservaspetr%C3%B3leo.gif mo

17
Geografia Caderno Didático - 3º Período

No Golfo Pérsico, a exploração de petróleo iniciou-se em 1908,


quando foram descobertos grandes lençóis no Irã. As empresas que
passaram a explorar a área eram sete: cinco americanas, uma britânica e
uma anglo-holandesa. Assim, inicia-se uma rede de interesses transnacional.
Uma vez estabelecido o domínio do petróleo sobre a vida nas cidades, as
companhias que detivessem o controle sobre o petróleo poderiam controlar
a vida dos consumidores, determinando preços e quantidades a serem
comercializadas.
O Irã nacionaliza a British Petroleum em 1951, em movimentos
nacionalistas. Começam as consequências mais perigosas do poder ligado
ao petróleo. O governo britânico impôs ao Irã um boicote econômico e
ameaçou fazer intervenção militar. O governo nacionalista no Irã foi
derrubado pelo serviço secreto inglês com o apoio da CIA.
O governo sucessor era pró-americano. No Egito, o governo
nacionalizou o Canal de Suez; Tropas da Inglaterra e da França incentivaram
Israel a invadir a península do Sinai, o que provocou os países árabes a
interromper o fornecimento de petróleo. Os Estados Unidos e a antiga União
das Repúblicas Socialistas Soviéticas - URSS exigiram o fim da intervenção.
As tensões entre Israel e seus vizinhos árabes, com guerras e anexação de
áreas, provocaram crises econômicas mundiais de amplitude considerável.
Com a criação da Organização dos Países Produtores de Petróleo
(OPEP), em 1960, os países detentores de grandes reservas conseguem
assumir o controle dos preços e fornecimento, diminuindo o poder do cartel
das sete grandes empresas que dominavam o setor até então.

Figura 18: Países associados à OPEP


http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/5/5c/Opec_Organization_of_the_Petroleum
_Exporting_Countries_countries.PNG

As represálias dos países árabes às incursões de Israel eram no preço


do barril de petróleo, o que causou as grandes crises do petróleo. Os efeitos
dessas crises foram avassaladores, o que motivou as potências a tentarem
pacificar e praticar conciliação entre Israel e os países árabes.

18
Geografia da Energia e Indústria UAB/Unimontes

Em 1979, ocorre uma revolução xiita no Irã, que coloca no poder


um governo antiocidental.
Os Estados Unidos, em resposta, e para que a revolução não se
espalhasse para outros países produtores de petróleo do entorno, armou e
financiou Saddam Hussein para que o Iraque combatesse e desestabilisasse
o Irã.
Na mesma época, a URSS invadiu o Afeganistão. A OPEP
respondeu aumentando ainda mais o preço do barril de petróleo, gerando
mais uma crise mundial. Com
a demonstração de força da
OPEP sobre o mundo, os
países importadores passam a
investir em fontes alternativas
de energia. Com isso, a OPEP
perde parte de seu poder, não
mais mandando e desman-
dando na economia mundial,
como antes fazia. Com a
perda desse poder, o preço do
barril de petróleo desaba,
levando os países da OPEP a
adotarem políticas de
restrição da extração de
Fi g u r a 1 9 : S a d d a m H u s s e i n e m 2 0 0 4
Fonte: http://www.chinadaily.com.cn/en/doc/2003- petróleo. Isso era ruim para o
12/14/xinsrc_c8c42e76261045cf8f4254ffca4ff95c_ Iraque de Hussein que
SH.jpg
invadiu e tentou dominar o
Kuwait, por ser um país rico, pouco populoso e detentor de grandes reservas
de petróleo: tem início a Guerra do Golfo.

Figura 20: Irã (em vermelho), Iraque (em cinza) e Kuwait (em verde)
Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/a/ad/LocationIraq.svg

Os EUA conseguem, na ONU, autorização para intervir no Kuwait,


forçando uma desocupação pelo Iraque. Essa intervenção foi decisiva na não
anexação do Kuwait pelo Iraque. Em 2003, os EUA invadiram o Iraque, sob a

19
Geografia Caderno Didático - 3º Período

falsa alegação de que o país possuiria armas não permitidas pela ONU, e
depuseram Saddam Hussein, passando a controlar uma área rica em
petróleo.
Alguma dúvida sobre a amplitude do poder do petróleo?

REFERÊNCIAS

ALLIS, R. G. (2000). Review of subsidence at Wairakei Field, New Zealand.


Geothermics, 29, 455-478.

ARANDA, D. Panorama energético atual e perspectivas futuras.

Disponível em <http://www.biodieselbr.com/energia/agro-energia.htm>.
Acesso em 26 de agosto de 2009.

TOLMASQUIM, M. T. (coord.). Alternativas energéticas sustentáveis no


Brasil. Rio de Janeiro: Relume Dumará: COOPE: CENERGIA, 2004.

20
2
UNIDADE 2
MEIO AMBIENTE, INDÚSTRIA E ENERGIA

Nesta unidade, veremos as relações entre Meio Ambiente e


Energia, focando nos problemas existentes; a indústria com suas
características gerais e problemáticas; a relação indústria x meio ambiente e,
finalmente, as questões envolvendo indústria e energia.
Esperamos que você perceba o conteúdo como um estímulo para ir
além nos seus estudos.

Mãos à obra!

2.1 A ENERGIA E O AMBIENTE

A utilização massiva de combustíveis fósseis, seja por automóveis,


fábricas ou por termelétricas, como ocorre hoje, provoca uma liberação
acentuada de CO2 na atmosfera, um gás que participa do efeito estufa. A
intensificação do efeito estufa é um problema, atualmente, superexposto na
mídia. O efeito estufa é um fenômeno causado por uma variedade de gases
em suspensão na atmosfera, que impedem que uma parte da radiação
infravermelha deixe a Terra, conservando assim, uma temperatura média
mais alta no planeta. Tal efeito é benéfico pois é bastante provável que, caso
não acontecesse, não haveria a biodiversidade existente hoje.

Figura 21: Variações de temperatura entre dos anos de 1880 e 2000.


Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/f4/Instrumental_
Temperature_Record.png

O problema é a intensificação desse fenômeno que causa uma alta


na temperatura média global, interferindo em ciclos animais e vegetais que
se regulam pela temperatura.

21
Geografia Caderno Didático - 3º Período

Entre os problemas causados pelo aumento da temperatura média


do planeta estão o possível derretimento das calotas polares, resultando no
aumento do nível dos mares e inundação das cidades litorâneas e um efeito
de médio prazo seria a necessidade de deslocamento de populações
humanas das zonas tropicais para temperadas e, a longo prazo, para mais
perto dos polos, pois as áreas tropicais tornar-se-iam inóspitas.

2.2 FONTES RENOVÁVEIS X NÃO RENOVÁVEIS

A energia renovável é a obtida de fontes naturais que se regeneram


e, portanto, são “inesgotáveis”. Contém grande quantidade de energia e
podem se regenerar naturalmente.
Alguns exemplos de fontes renováveis são:
Ÿ Energia hidrelétrica
Ÿ Biomassa
Ÿ Energia solar
Ÿ Energia eólica
Ÿ Biocombustível
Ÿ Energia maremotriz
Ÿ Energia geotérmica

As energias renováveis são alternativas ao modelo energético


tradicional, tanto pela sua disponibilidade atual e futura garantida como por
causarem menos dano ao ambiente.
Contudo é preciso lembrar que não é porque uma forma de energia
é renovável que ela possui, necessariamente, baixo impacto ambiental. Um
grande impacto ambiental é causado pelas grandes hidroelétricas. A
Barragem das Três Gargantas, que foi, há pouco tempo, finalizada na China é
um bom exemplo: provocou a inundação de uma enorme área de muitos
quilômetros. Sem falar no impacto social, pois houve o deslocamento de
milhões de pessoas.
Já os recursos energéticos não-renováveis são aqueles que, quando
utillizados, não podem ser recompostos, em um prazo razoável, seja por
ação humana ou da natureza. Essas são as fontes de energia são as mais
utilizadas atualmente. O maior exemplo são os combustíveis fósseis, como
petróleo, carvão e gás natural, que poluem muito, liberando dióxido de
carbono em sua combustão.
Assim, os combustíveis fósseis são considerados não-renováveis por
sua utilização ser muitas vezes maior que sua formação (lembre-se de que
são necessários milhões de anos para que os combustíveis fósseis se
formem). No ritmo da utilização atual, vão se esgotar em alguns anos, pois
suas reservas são limitadas e estão acabando com a utilização. A energia
nuclear também é considerada não-renovável, por utilizar reservas minerais.

22
Geografia da Energia e Indústria UAB/Unimontes

Figura 22: Engarrafamento na cidade de Belo Horizonte - carros liberando


Co2 na atmosfera.
Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/2e/Engarrafamento.JPG

A indústria, tecnologia, qualificação, capital, desenvolvimento e a


Divisão Internacional do Trabalho

A indústria no Brasil, que vem crescendo desde o fim da segunda


guerra, tem exercido esse crescimento de forma desigual: e o setor industrial
que mais se expandiu foi o de bens intermediários, que mais causa impactos
no ambiente, em com-
paração com os outros tipos
de indústria.
Essas indústrias são
as de celulose e papel,
química, metalurgia, entre
outras. Tal crescimento foi
motivado, além do aumento
do consumo interno, pela
demanda do mercado de
Figura 23: Poluição do ar por indústrias. exportação.
Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commo
ns/a/aa/AlfedPalmersmokestacks.jpg E é o mercado
externo que tem sido res-
ponsável por boa parte do crescimento das indústrias de bens
intermediários, já que, em menos de quinze anos (1977-1990) a
porcentagem dos principais produtos do setor de bens intermediários
aumentou de 5,8% para 28,7%.

23
Geografia Caderno Didático - 3º Período

Boa parte do impacto ambiental que vem sofrendo o planeta é


atribuída à indústria, mas, é importante lembrar que, os impactos são
diferenciados, de acordo com os diversos setores industriais. Sendo o setor
de bens intermediários o majoritário no Brasil, é possível começar a
entender o perfil dos impactos ambientais causados pela indústria brasileira.
As referidas indústrias são campeãs em depleção de recursos
naturais, com grande consumo de água, energia e necessidade de
mineração; além da poluição, com lançamento de vários gases poluidores
da atmosfera, dejetos químicos em leitos de água, entre outros.
Essas indústrias tendem a se localizar de forma aglomerada. Assim
sendo, são as regiões que recebem esses aglomerados que sofrem os
impactos ambientais de forma imediata. Com o objetivo de maximizar o
lucro, as empresas tendem a rejeitar investimentos em áreas que não darão
retorno imediato, como a ambiental.
Normalmente, quando uma indústria adota uma tecnologia que
preserva o meio-ambiente, ou é porque ela está sob pressão da sociedade,
governo ou porque ela pode, com isso, reduzir os custos de produção.
Como há diferenças no controle ambiental nas diferentes regiões,
as indústrias, para maximizar o lucro, preferem locais onde há menos
controle sobre os impactos ambientais. Ou seja, a maioria das indústrias, se
atende determinações especiais com relação ao ambiente, não é porque
querem.

2.3 QUALIFICAÇÃO E TECNOLOGIA


2.3.1 A população e a economia

Há uma parte da população que está disponível para produzir,


gerar riqueza. Esta é a chamada população economicamente ativa. Tais
indivíduos são considerados motor da economia de uma região.

DICAS

Lembre-se rapidamente dos Figura 24: Pirâmide etária do Brasil em 2005 (em milhões de pessoas).
Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/0/09/Brazil_
principais fatos da 2ª Guerra
population_pyramid_2005.png
Mundial:
http://pt.wikipedia.org/ A população economicamente ativa está diretamente relacionada à
wiki/Segunda_Guerra_Mundial
geração de riqueza.

24
Geografia da Energia e Indústria UAB/Unimontes

A divisão internacional do trabalho, desde muito tempo e, ainda


hoje, pode ser identificada entre os países: no período colonial brasileiro por
exemplo, produtos de extração vinham da colônia e manufaturados, da
metrópole; no período do capitalismo industrial (antes da 2ª Guerra
Mundial) enquanto as colônias de exploração forneciam à metrópole os
produtos primários, recebiam os produtos industrializados vindos das
metrópoles; no capitalismo financeiro (após a 2ª Guerra Mundial), os países
subdesenvolvidos fornecem produtos primários e os países desenvolvidos,
além dos produtos industrializados, investem capital naqueles países; na
nova distribuição internacional do trabalho, os países subdesenvolvidos
fornecem, além dos produtos primários, produtos industrializados de
tecnologia inferior e retornam capitais como lucros das empresas
transnacionais e os países desenvolvidos, produtos industrializados de
tecnologia superior, e, no mercado de capitais, inserem dinheiro na
economia daqueles através de investimentos, empréstimos, entre outros.
Com estas dinâmicas, os países estabelecem um mercado
interno/externo diferenciado: enquanto nos países desenvolvidos a
produção tem cotação mais alta, os países subdesenvolvidos fornecem
produtos de baixo valor agregado, fazendo com que estes últimos tenham
menos capital em seu mercado do que aquele, o que reflete no estilo de vida
de suas populações.
As sucessivas ondas de revolução tecnológica e informacional estão
fazendo com que várias profissões desapareçam e apareçam outras, novas.
Com o advento das ondas tecnológicas, houve também uma
necessidade de atualização constante dos trabalhadores. Caso não seja
qualificado o indivíduo corre o risco de ser alijado do mercado de trabalho
ou “empurrado” para uma função subalterna.
Os setores de atividades permitem uma compreensão mais ampla
da distribuição e da evolução do trabalho.
O setor primário caracteriza as atividades ligadas ao extrativismo,
agricultura, pecuária; no secundário são classificadas as atividades
industriais, como as de transfor-mação dos produtos do setor primário e de
produção de bens, por exemplo; o
setor terciário engloba o comércio
e os serviços.
Dentro dessas classifi-
cações, é possível indentificar onde
estão empregados indivíduos mais
ou menos qualificados.
No setor primário, embora
hoje haja o emprego de tecnologias
avançadas nos países desen-
Figura 25: Agricultura - setor primário.
volvidos, a maioria dos empre-
Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/
commons/b/bd/Rice_Field.jpg endimentos deste segmento

25
Geografia Caderno Didático - 3º Período

utilizam baixa tecnologia e


não exigem muita
qualificação, podendo
empregar indivíduos
menos qualificados,
mesmo que em funções
subalternas.
No setor secun-
dário é possível notar a
maior demanda de mão
Figura 26: Indústria - setor secundário de obra qualificada, mas
Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/ ainda assim há lugar para
f/f1/Hyundai_car_assembly_line.jpg
aquele que possui pouco
preparo em empregos que
envolvem funções menos qualificadas.
No setor terciário, excluídas as atividades de comércio e serviços de
baixa complexidade, há pouco ou pouquíssimo espaço para indivíduos com
baixo nível de qualificação, exigindo alto nível de especialização e
qualificação do profis-
sional.
Dessa forma é
possível intercruzar os
dados sobre a predo-
minância regional de cada
setor de atividade com os
da divisão internacional
do trabalho e entender o
Figura 27: Produção de software (serviços) - setor terciário padrão de vida e consumo
Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons
/7/77/Bill_Gates_talking_2004.jpg
diferenciado dos países.

A influência da Tecnologia na Divisão Internacional do Trabalho

Até agora, podem-se assinalar três períodos da história que são


denominados “Revolução Industrial”. São chamados de Primeira, Segunda e
Terceira Revolução Industrial. Cada período reflete as características de um
forte momento de desenvolvimento tecnológico.
A Primeira Revolução Industrial, baseada em tecnologias mais
primárias, como a máquina a vapor, utilizando carvão e mão de obra não
qualificada nem especializada, vigorou até o fim do século XIX.
O Reino Unido foi o pivô dessa fase de industrialização, sendo a
maior potência mundial da época e principal exemplo de industrialização.

26
Geografia da Energia e Indústria UAB/Unimontes

Figura 28: Um motor a vapor, base da Primeira Revolução Industrial.


Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/9/9e/Maquina_vapor_Watt_ETSIIM.jpg

A Segunda Revolução Industrial vem com base técnica mais


complexa, exigindo o refino do petróleo (fonte de energia mais utilizada até
hoje), máquinas mais elaboradas que eram movidas a energia elétrica, além
de utilizar mão de obra especializada. Vigorou do fim do século XIX até o
final da década de 1970.

Figura 29: Linhas de produção automobilística em duas épocas distintas


e a substituição da mão-de-obra - Segunda Revolução Industrial
Fonte: http://carrosantigos.files.wordpress.com/2008/12/fotos_carros_antigos140.jpg
http://www.atarde.com.br/arquivos/2007/10/14486.jpg

Faz-se necessário notar que ela ainda está presente, já que muitos
países não ingressaram, realmente, na Terceira Revolução Industrial. Assim
como também há países subdesenvolvidos – principalmente na África e no
sudeste e sul da Ásia – que nem mesmo chegaram à Segunda Revolução
Industrial.
A potência mundial eram os Estados Unidos, sendo o principal
modelo de industrialização desse estágio da Revolução Industrial.
A Terceira Revolução Industrial, chamada também de “revolução
técnico-científica”, vigora desde o fim dos anos de 1970 e continua se
desenvolvendo durante o século XXI.

27
Geografia Caderno Didático - 3º Período

Ela se caracteriza por se iniciar em mais de um país. Nos Estados


Unidos, com a informática e telecomunicações, no Japão com a robótica e
microeletrônica, além da Europa ocidental, principalmente na Alemanha
com a biotecnologia e química fina.

Figura 30: Um robô humanóide Figura 31: Uma microbiologista trabalhando


da companhia japonesa Toyota no desenvolvimento de vacinas para bactérias,
Fonte: http://upload.wikimedia. a indústria de biotecnologia
org/wikipedia/commons/8/84/ Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons
Toyota_Robot_at_Toyota_Kaikan /a/af/Microbiologist_01.jpg
.jpg

Há, aqui, o predomínio de indústrias bastante sofisticadas,


exigindo muita tecnologia e maior qualificação da mão-de-obra.

Figura 32: Ondas de Inovação Tecnológica da Economia Industrial – note que a primeira onda
dá início à Primeira Revolução Industrial, a Segunda Revolução Industrial se inicia na terceira
onda de inovação e a Terceira Revolução Industrial ocorre em meio à quarta onda.
Fonte: Elaboração Própria

Na Primeira e Segunda Revolução Indutrial a demanda por mão-


de-obra barata e desqualificada era a tônica da indústria, assim como a
procura de fontes abundantes das matérias-primas comparativamente mais
raras que as utilizadas na Terceira Revolução Industrial e fonte de energia
próxima ao sítio da indústria. Com o desenvolvimento da revolução técnico-
científica, a mão-de-obra pouco qualificada não é mais tão necessária, uma
vez que pode ser substituída por robôs, além de ocorrer uma desvalorização
das matérias-primas em geral, como minérios, produtos agrícolas, entre
outros, porque, primeiramente, aumenta a reciclagem e, também, porque
novas matérias-primas são criadas nas indústrias de novos materiais, como
novas ligas metálicas, novos materiais (mídias) para gravação de dados, para
a fuselagem de aviões, por exemplo, que utilizando produtos mais
abundantes e baratos.

28
Geografia da Energia e Indústria UAB/Unimontes

Nesse meio, a tecnologia é que vale, ou seja, as pesquisas científicas


e tecnológicas. Dessa forma, materiais raros são substituídos por outros mais
abundantes; variedades agrícolas mais lucrativas são desenvolvidas, entre
outras coisas. Nesses termos,
diminui a importância do
tamanho do espaço e dos
recursos naturais e aumenta o
valor da ciência e da educação.
Tendo a ciência e
tecnologia como principais
ferramentas, a Terceira Revo-
lução Industrial é denominada
“técnico-científica”.
Figura 33: Robotização da linha de montagem Embora sempre se
Fonte: http://www.psa-peugeot-citroen-press.co.uk/
images/2007-10-03/Laser%20welding%20robot%
tenha utilizado tecnologia na
20on%20the%20body-assembly%20line%20of% produção econômica da
20the%20FIAT%20FIORINO,%20PEUGEOT%20
BIPPER%20and%20CITROEN%20NEMO.jpg
humanidade, primeiro,
conhecia a técnica prática e,
depois, havia o estudo dessa técnica. Com a Terceira Revolução Industrial
isso mudou: os setores de tecnologia de ponta aliados à indústria põem em
aplicação conhecimentos científicos em seus processos de produção.
Com o advento da economia informacional e da globalização, a
partir dos anos 1980, o sociólogo espanho Manuel Castells entende que
surge uma nova estrutura da DIT. O próprio explica:

O que chamo de a mais nova divisão internacional do


trabalho está disposta em quatro posições diferentes na
economia informacional/global: produtores de alto valor
com base no trabalho informacional; produtores de grande
volume baseado no trabalho de mais baixo custo;
produtores de matérias-primas que se baseiam em recursos
naturais; e os produtores redundante, reduzidos ao trabalho
desvalorizado
(CASTELLS, 1999, p. 160)

O que mais chama a atenção neste entendimento parafraseando


Castells é que “todos os países são penetrados pelas quatro posições
apontadas”, de forma que “mesmo as economias mais marginalizadas têm
um pequeno segmento de funções direcionais conectado à rede de
produtores de alto valor” e “certamente as economias mais poderosas têm
segmentos marginais de sua população situados em uma posição de trabalho
desvalorizado”.
Assim, não se fala em países que exercem uma função, mas de
“redes e fluxos, utilizando a infra-estrutura tecnológica da economia
informacional”.

29
Geografia Caderno Didático - 3º Período

2.4 A ENERGIA E A INDÚSTRIA

A energia é um dos fatores mais importantes no desenvolvimento


industrial, pois é através delas que se consegue a energia que faz funcionar a
DICAS
atividade industrial.
A energia pode ser obtida por exploração local ou “importação”.
Um elemento decisivo na escolha da localização de uma indústria era o
Saiba quem é Manuel Castells: consumo energético e seu preço relativo. Quando a diferença entre o preço
http://pt.wikipedia.org/wiki/
relativo na exploração local e na importação for grande, a solução adotada
Manuel_Castells
em termos de localização pode variar, seguindo o maior lucro.
A localização de muitas das indústrias tradicionais, ou seja, as da
Primeira e Segunda Revolução Industrial, dependeu da ocorrência dos
seguintes fatores: energia, matérias-primas, transporte, mão-de-obra e
mercado consumidor.
Com relação à energia, as indústrias da Primeira e Segunda
Revolução Industrial utilizavam carvão e petróleo, principalmente. Dessa
forma, a obtenção de energia dependia de um produto que, para chegar à
B GC fábrica, precisava ser transportado. O custo desse transporte era o fator que
GLOSSÁRIO E
fazia com que as indústrias se concentrassem em torno das minas de carvão e
A F dos poços de petróleo.
Clímax: ponto máximo Após a Segunda Guerra Mundial, muitas das tecnologias
desenvolvidas para fins bélicos foram adaptadas para uso pacífico, passando
a ser utilizadas pelas indústrias para a produção de bens de consumo. Com
início nos Estados Unidos, chegou à Europa e ao Japão, tendo como seu
clímax o início da Terceira Revolção Industrial.
O avanço tecnológico, sobretudo na distribuição da energia elétrica
e substituição das máquinas (à carvão e combustíveis fósseis), que passaram
a utilizar a eletricidade, permite uma independência da localização da
indústria em relação às fontes de energia.
Este desenvolvimento prossegue neste século (XXI), em ritmo muito
DICAS acelerado, dando origem a indústrias que utilizam técnicas altamente
sofisticadas. São essas as tecnologias que fazem parte da denominada
“fábrica global”, uma nova forma de distribuição espacial das indústrias.
Mesmo exigindo uma nova teoria geográfica para explicar sua localização, a
Quem são os Tigres Asiáticos? indústria global segue a mesma lógica da velha teoria da localização
Descubra em
http://pt.wikipedia.org/wiki industrial: a lógica do lucro. Uma importante consequência do modelo da
/Tigres_asiaticos “fábrica global” é a desconcentração, em termos espaciais, da atividade. Na
verdade, cria-se uma verdadeira fábrica global, devido à distribuição do
processo produtivo. Um bom exemplo é a fabricação de celulares: uma
linha de montagem no México que utiliza teclados dos Tigres Asiáticos,
baterias da Índia e antenas da Europa.

30
Geografia da Energia e Indústria UAB/Unimontes

REFERÊNCIAS

CASTELLS, M. A sociedade em rede - A era da informação: economia,


sociedade e cultura. 6.ed. São Paulo: Paz e Terra, 1999.

GOLDEMBERG, J. VILLANUEVA, L. D. Energia, Meio Ambiente e


Desenvolvimento. 2.ed rev. São Paulo: EDUSP, 2003.

BRANCO, S. M. O Meio Ambiente em Debate. São Paulo: Moderna, 1988.

CHIAVENATO, J. J. O Massacre da Natureza. São Paulo: Moderna, 1989.

COIMBRA, P.; TIBÚRCIO, J. A. M. Geografia: Uma Análise do Espaço


Geográfico. São Paulo: Harbra, 1995.

VÍDEOS SUGERIDOS PARA DEBATE

Tempos Modernos (Modern Times) 1936 – Preto e Branco – 87


minutos
Trata-se do último filme mudo de Chaplin, que focaliza a vida
urbana nos Estados Unidos nos anos 30, imediatamente após a crise de
1929, quando a depressão atingiu toda sociedade norte-americana, levando
grande parte da população ao desemprego e à fome.
A figura central do filme é Carlitos, o personagem clássico de
Chaplin, que ao conseguir emprego numa grande indústria, transforma-se
em líder grevista conhecendo uma jovem, por quem se apaixona. O filme
focaliza a vida do na sociedade industrial caracterizada pela produção com
base no sistema de linha de montagem e especialização do trabalho. É uma
crítica à "modernidade" e ao capitalismo representado pelo modelo de
industrialização, onde o operário é engolido pelo poder do capital e
perseguido por suas idéias "subversivas".
Disponível em: História Net, A nossa história
<http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=181>

Revolução Industrial
A revolução industrial: seu início nos Estadsos Unidos 1o. filme (23
min.)
A revolução industrial na Inglaterra 2o. filme (25min).

31
3
UNIDADE 3
CARACTERIZAÇÃO DA INDÚSTRIA

Caro (a) aluno (a):

A indústria é a chave do desenvolvimento econômico, ela tem uma


relação direta com o desenvolvimento de um lugar.
A revolução industrial representou a evolução do capitalismo
mundial, pois provocou profundas mudanças na vida social, cultural e
econômica da população.
Convidamos você para dar um mergulho neste mundo onde a
matéria prima se transforma em produto manufaturado e esta transformação
faz a diferença na vida contemporânea. Venha conosco, com certeza vai ser
bem interessante.

Bons estudos!

3.1 CONCEITO

O ato de transformar a matéria prima em produto elaborado


transformou a realidade da população no século XIX, pois originou as
máquinas que por sua vez, modificou as relações de trabalho nas áreas
urbanas.

3.2 A IMPORTÂNCIA DA INDÚSTRIA NO TEMPO

A importância da
indústria advém da sua capa-
cidade de aglutinar atividades
diversas. Estas atividades são
importantes fontes gera-doras
de empregos que podem ser
diretos ou indiretos, que por sua
vez fazem a economia girar. Tal
Figura 35: Trabalho na indústria. fato resulta no fortalecimento do
Fonte: Iannone (1992).
capita-lismo, a isto também é
pertinente acrescentar a qualificação profissional que surge como exigência
para suprir a demanda e oferecer como contrapartida a produção de capital
resultando no desenvolvimento do comércio, transportes e serviços.
A partir da segunda metade do século XVIII, a atividade industrial
ganha status cada vez maior no cenário econômico, podendo ser
considerada como determinante para classificar o grau de poder de um país.
Busco nas palavras de Andrade 1998 p. 204, confirmação para tal ideia.

32
Geografia da Energia e Indústria UAB/Unimontes

[...] sua importância é tal que coloca os países e as regiões


industrializadas na vanguarda do desenvolvimento, fazendo
com que aqueles países que não se industrializaram fiquem
na dependência deles. Salvo algumas exceções, os
desenvolvidos são os industrializados, enquanto que os
menos desenvolvidos são os produtores de alimentos e
matérias primas.

3.3 REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

Nas sociedades pré-industriais a confecção dos artefatos usados no


cotidiano do cidadão era responsabilidade do próprio usuário ou do artesão.
Mas ao longo do tempo aliada à enorme capacidade criativa do homem, a
indústria evolui da fase familiar para a industrial no verdadeiro sentido da
palavra.
Este fato é denominado de Revolução Industrial, que para Iannone
(1992 p.55) é:

[...] revolução do processo produtivo, pois se deixou de


produzir através da manufatura e passou-se à mecanização
ou, mais especificamente, para a manufatura.

Assim as relações econômicas foram transformadas, uma vez que


com o advento da indústria houve o aumento das possibilidades de emprego
oferecido pelas fábricas nas cidades. A produção criou equipamentos novos
e mais sofisticados que impulsionaram o capitalismo. Neste período, vimos o
artesão se transformar em assalariado e as oficinas em grandes galpões que B GC
GLOSSÁRIO E
abrigavam num mesmo local material, máquinas e trabalhadores, o que
viriam a se transformar mais tarde em indústrias; que por sua natureza
A F
passaram a exigir nova estrutura organizacional. Advento: instituição,
Para Iannone a Revolução Industrial pode ser definida em dois implantação.
momentos marcantes:
Ÿ No primeiro, o homem era dono da sua própria produção, ou
seja, ela dependia da sua
habilidade, capacidade ou
energia;
Ÿ No segundo mo-
mento, ele passou a se ocupar
em melhorar sua produção,
pois a máquina realizava o
Figura 36: Galpões industriais. serviço pesado.
Fonte: Iannone (1992 p.57).

33
Geografia Caderno Didático - 3º Período

Quadro 1: Principais inovações técnicas da Revolução Industrial.

DATA INOVAÇAO CARACTERÍSTICA


1733 Lançadeira volante Peça do tear manual que possibilitou a
fabricação mais rápida de tecidos mais
largos.
1767 Fiadeira mecânica Fiadeira mecânica de pedal que
produzia vários fios simultâneos.
1768 Máquina a vapor Aperfeiçoamento do aparelho de
bombear água do fundo das minas de
carvão, criado em 1712.
1769 Máquina de tecer Máquina movida a água qu e produzia
fios muitos grossos.
1785 Tear mecânico Processo automático para fabricação de
DICAS tecidos, movido a vapor.
1792 Descaroçador Máquina que separava o caroço da
mecânico fibra do algodão, barateando os preços
da matéria-prima.
1807 Navio a vapor Os transportes marítimos e fluviais
Aprenda mais sobre a ganharam maior rapidez.
revolução industrial com:
1814 Locomotiva a vapor Os transportes terrestres ganharam
Roberto Antonio Iannone em A
maior rapidez.
Revolução Industrial.
Fonte: Adaptação de Pazzinato, Alceu Luiz e Senise, Maria Helena Valente. História Moderna
e Contemporânea. São Paulo. Ática. 1992 p.173. Citado por Viegas 1999.

3.4 ESTRUTURA ORGANIZACIONAL DA INDÚSTRIA

Por uma questão de organização a atividade industrial foi agrupada


em duas categorias que se convencionou a chamar de:
Ÿ Indústria pesada;
Ÿ Indústria leve.

Com o aprofundamento dos estudos referentes ao assunto surgiu


então uma subdivisão, que é ilustrada a seguir a partir das figuras 03 e 04
Ÿ Indústria de bens de produção;
Ÿ Indústria de bens de consumo.

Figura 37: Bens de consumo. Figura 38: Bens de produção.


Fonte: http://www.procon.se.gov.br/ver_noticia Fonte: http://www.jumbotti.com.br/jumbo
.php?idnoticias=64 Info.asp?id_lang=1

34
Geografia da Energia e Indústria UAB/Unimontes

3.4.1 Indústria pesada ou de bens de produção

Na indústria pesada é necessário maior alocação de capital, pois


nela o custo da matéria-prima tem grande participação. A indústria pesada é
composta por grandes grupos e até pelo próprio Estado e a dinâmica
econômica deste grupo possui características próprias: elas necessitam de
mais volume de capital como investimento, o que por sua vez leva um tempo
maior para gerar lucros, porém, como recompensa, estes se apresentam em
um montante maior. Neste grupo, merece destaque, conforme Andrade
(1998): a extração e preparação de metais, a química de produtos de base e
cimento, a de construção e mecânica pesada.
Em relação à sua localização, normalmente elas se dão nas
proximidades das áreas de produção de matéria-prima. O texto de Andrade
(p.209) esclarece de forma clara a ideia acima explicitada:

[...] a extração de minerais metálicos tem de ser situadas nas


áreas em que ocorrem as jazidas que possuem minérios de
alto ou médio teor, em quantidade suficiente – que
compense a instalação de exploração -, e que tem ou possam
ter facilidade de acesso ao mercado consumidor.

3.4.2 Indústria leve ou de bens de consumo

Neste tipo de indústria a demanda por capital é menor, porém, esta


oferece uma margem de lucro menor. Neste grupo podemos listar o
beneficiamento de produtos agrícolas, a indústria têxtil e de transformação,
a farmacêutica e de perfumaria, a de curtume e calçados, a de
eletrodomésticos e de móveis e a de cerâmica. A indústria leve vem
apresentando um alto nível de expansão no mundo. É pertinente salientar
que tal expansão independe do nível de desenvolvimento do país. No caso
B GC
da indústria de beneficiamento de produtos agrícolas – por ser na maioria GLOSSÁRIO E
das vezes produtos perecíveis – é recomendável que se implante as usinas A F
próximas às áreas de produção. Este é o caso da cana-de-açúcar, da
conservação da carne, fabricação de embutidos, do processamento e o Feudal: Feudalismo foi o
período da história em que a
beneficiamento de frutas e verduras, do leite e derivados, do tratamento e da ordem social, política e
fabricação de artefatos de couro.3.4.3 O pioneirismo da indústria têxtilA econômica da Europa
Indústria Têxtil foi a pioneira e é valorizada em todas as partes do mundo. Ocidental era baseada no
poder dos nobres. Vigorou do
Iniciou-se na Inglaterra a partir da desagregação feudal, mas só se destaca em século IX ao século XV.
fins do século XVII. Por sua natureza complexa a indústria têxtil fortaleceu a
divisão do trabalho, o que favoreceu a especialização dos trabalhadores, Redundou: resultou,
converteu.
habilitando-os a produzir sempre mais e melhor. O que redundou no
barateamento dos custos de produção final.

35
Geografia Caderno Didático - 3º Período

Figura 39: Indústria Têxtil.


Fonte: Iannone (1992 p.57)

As inovações não cessavam, com isso ocorreu também o aumento


da produtividade, ainda que lentamente. Até que no final do século XVIII,
mais precisamente em 1785, Edmund Cartwright criou o tear mecânico
movido por tração animal. Era pouco, apresentava imperfeições, mas não
deixou de ser um avanço da indústria, fato que pode ser comprovado a partir
do qtabela 1, que retrata a evolução da produtividade da indústria têxtil no
Reino Unido.

Tabela 1: Produtividade na indústria têxtil no Reino Unido

Período Horas Produção por trabalhador


1829-1831 100 100
1844-1846 87 372
1859-1861 87 708
1880-1882 82 948
Fonte: Adaptado de Rioux, J.P. A Revolução Industrial. 1780-1880. São Paulo.
Pioneira 1975 - Citado por Iannone 1992 p.58.

Como podemos comprovar, ao analisar a tabela 01, no decorrer de


meio século com menos horas de trabalho produz-se mais tecido de algodão
na Inglaterra. Este ramo da indústria, até os dias atuais, merece destaque na
economia de diversos países do mundo; são utilizadas como matérias-
primas fibras nacionais e importadas dependendo do que se vai produzir.
Atrelada à produção têxtil está a indústria de confecções, que vem
aumentando com frequência a sua produção para atender a crescente
demanda, uma vez que vem sendo largamente
substituída pela produção em série.

3.4.4 Distribuição da indústria no espaço

Um conjunto de fatores de natureza


físico-natural ou econômico-social podem ser
considerados determinantes no processo de
distribuição espacial da indústria.
Dentre os que merecem destaque, a
Figura 40: Mapa Ilhas Britânicas
Fonte: Piffer. (1999 p.68) disponibilidade de matéria-prima e a oferta de

36
Geografia da Energia e Indústria UAB/Unimontes

mão de obra contribuem para a concentração dos estabelecimentos


industriais em algumas áreas, resultando assim na formação de vilas
operárias, distritos industriais que comporão mais tarde os núcleos
populacionais no entorno das fabricas. Já no tocante à agroindústria,
observamos a expansão da atividade pela área e a desconcentração
populacional. Disto é possível depreender o papel polarizador da indústria,
ou seja, que a atividade industrial tem importante papel na atração da
população para sua área de atuação.

3.4.4.1 A indústria interferindo no espaço

É sabido que o mundo contemporâneo está dividido em países do


norte ou industrializado e países do sul ou fornecedores de matéria-prima e
produtos alimentícios tropicais. É pertinente salientar que esta divisão norte-
sul não obedece com rigor à linha do Equador, como pode ser visto na figura
42, apresentada logo abaixo:

Figura 41: Divisão do mundo em países industrializados (norte) e fornecedores de matéria-prima (sul).
Fonte: http://www.santiagosiqueira.pro.br/mapas/mundo/divisao_norte_sul.gif

Esta divisão do mundo norte-sul conforme apresentado no mapa


acima elucida a forma de divisão do espaço, tendo como referência o nível
de vida da população, pois ela nos possibilita compreender também o nível
de desenvolvimento econômico do país.
Este modelo se inicia no século XV, conforme Andrade (1998) e só
veio à tona com o advento da Revolução Industrial, onde os países
colonizadores, visando à expansão da sua economia, passaram a se dedicar
à indústria leve – a têxtil inicialmente – e, na sequência, foram ampliando
para a indústria pesada ligada à siderurgia, metalurgia, petrolífera, dentre
outras. Tal fato resultou no estabelecimento e fortalecimento da Divisão
Internacional do Trabalho, DIT, onde os países industrializados do norte

37
Geografia Caderno Didático - 3º Período

tinham o papel de abastecedores de produtos manufaturados aos países do


sul que desempenhavam o papel de fornecedores de produtos primários.
Este quadro era bastante lucrativo para os países do norte, pois estes
forneciam produtos manufaturados, claro, com valor agregado e adquiriam
produtos brutos, portanto a preços mais baixos. Assim, o comércio entre eles
assegurava a soberania aos países detentores da tecnologia industrial, fato
que confirma a divisão do trabalho que vigora até os dias atuais.

3.4.4.2 Fatores que contribuíram para a expansão industrial

A indústria já era fato concreto nos países mais ricos e desenvolvidos


da Europa. O elevado poder aquisitivo do povo inglês aumentou a demanda
por novos produtos e tornou assim a Grã-Bretanha o berço da
industrialização, pois a Inglaterra já possuía uma produção industrial ainda
que rarefeita desde o período da desagregação feudal, mas a atividade
industrial propriamente dita só é efetivada a partir do século XVIII.
É importante salientar que a indústria foi responsável pela
ampliação dos diversos ramos da economia, pois ela apontava para novas
necessidades que precisavam ser atendidas, ou seja, para se produzir algo
era gerada a demanda por matérias primas e serviços diversos como energia,
transporte, comércio etc., e isto gera emprego, impostos, enfim, faz a
economia se movimentar.

3.4.4.3 Tipos de indústria

Indústria têxtil

Quanto à produção manufatureira, a têxtil merece destaque


porque foi a pioneira e o seu progresso se mostrou bastante consistente,
fazendo-a valorizada em todas as partes do mundo, por se tratar de um
produto considerado quase que de primeira necessidade. Como matéria-
prima ela se utiliza tanto de fibras nacionais como importadas, naturais e
sintéticas. Aliada à indústria têxtil está a de confecções, uma vez que o tecido
é a sua matéria-prima principal.
Com a intensa mecanização da produção que gera produção em
série, que por sua vez barateia o preço do produto final, temos assistido ao
aumento da demanda no sentido de abastecer o mercado, uma vez que a
produção artesanal vem sendo relegada a segundo plano.

38
Geografia da Energia e Indústria UAB/Unimontes

Indústria siderúrgica

Várias questões estruturais


como: elevada dependência da água,
uso do carvão vegetal como
combustível e baixo teor calorífico do
carvão mineral inglês emperravam a
evolução da indústria de ferro na Grã-
Bretanha, gerando uma grave crise no
setor desde o início do século XVIII.
O uso do carvão mineral na
fundição data do século XVI e a
Figura 42: Tear (produção de tapetes) introdução do carvão vegetal só
impulsionado por máquina a vapor (1862).
Fonte: Quadro de Alexander Smith ocorreu em 1709, feita por Abraham
(Lucci. 2005) Darby. Mas não atendia a demanda
do mercado pela insuficiência do carvão mineral, que por isso, gerava a
intensificação nas buscas. Tais buscas eram agravadas pela quantidade de B GC
água existente nas minas, cuja solução veio com o uso da máquina a vapor GLOSSÁRIO E
que bombeava essa água. A F
Em 1735, na atividade siderúrgica obteve-se o ferro-guza. Em Pudlagem: operação com a
qual se apura a gusa,
1750, Benjamin Hunstman chegou ao aço fundido, que o aperfeiçoou, separando o carbono e
melhorando enormemente a sua qualidade. O barateamento da produção transformando-a em ferro
do aço só ocorreu em 1784 com o processo de pudlagem, que consistia na forjível.

produção de um aço com menor


porcentagem de carbono,
desenvolvido por Henry Cort. Porém
os problemas persistiam porque a
forjaria necessitava ser alimentada
pelo carvão vegetal por questões de
viabilidade econômica.
Com o aperfeiçoamento da
máquina a vapor, protagonizada por
Figura 43: Mina de carvão inglesa de 1820.
Fonte: CEDOC. (Citado por Lucci - 2005) Watt em 1781, houve a garantia da
produtividade da indústria
siderúrgica que passou a ser
dependente da água e da madeira,
porque gerou um produto
competitivo no mercado.
Analise a tabela 2,
produção de hulha na Grã-Bretanha
e compreenda o processo de
Figura 44: Paisagem Industrial em 1855 na evolução da indústria siderúrgica.
Inglaterra.
Fonte CEDOC. (Citado por Lucci. 2005).

39
Geografia Caderno Didático - 3º Período

Tabela 2: Produção de hulha na Inglaterra.


Produção (milhões Crescimento
Ano
de toneladas) percentual
1790 6 66,7
1800 10 25,0
1820 12,5 28,0
1830 16 87,5
1840 30 63,3
1850 49 63,3
1860 80 63,3
1870 110 37,5
1880 149 35,5
1890 184 23,5
1900 230 25,0
Fonte: Adaptado de Rioux. J.P. A Revolução Industrial. 1780-1880.
São Paulo. Citado por Iannone 1992 p.59.

Extrativismo vegetal

Nesta área se destaca a extração de madeira para a construção civil,


indústria naval, moveleira, papel e celulose, extração de produtos nativos
para alimento, cosméticos e produtos químicos em geral. Por uma questão
de estratégia, este ramo de produção industrial normalmente fica localizado
em locais próximos às áreas de onde é extraída a matéria-prima, neste caso,
florestas naturais, florestas cultivadas ou áreas desmatadas.
Com o avanço do capitalismo – momento econômico que resultou
B GC no aparecimento da civilização de consumo – a sociedade contemporânea
GLOSSÁRIO E
assiste à ascensão de diversos ramos industriais, como: a indústria
A F aeronáutica, construção civil e fabricação de eletrodomésticos. O grande
Auferido: obtido, colhido.
destaque se dá ao setor de eletrodomésticos que, de acordo com Andrade
(1998, p. 13):

[...] generalize-se entre as famílias de classe média o que


outrora só estava ao alcance da classe alta: o uso de
refrigeradores, aspiradores de pó, enceradeiras, vasilhas de
alumínio e de uma série de outros utensílios provocando a
fabricação em massa destes produtos, mesmo nos países
cujos níveis de desenvolvimentos não são os mais elevados.

No setor de eletrodomésticos é fundamental ressaltar a importância


do papel do Estado, que por meio de políticas de isenção ou redução fiscal,

40
Geografia da Energia e Indústria UAB/Unimontes

créditos a juro baixos, os tornam com preços mais competitivos e, portanto,


mais acessíveis à população, em especial a de baixo poder aquisitivo. O
crescimento do setor é notado a partir da invasão de produtos estrangeiros
no mercado. O aumento da demanda é notado pela quantidade de novas
empresas estrangeiras que são criadas todos os dias, especialmente nos
países mais pobres.

3.5 A AMPLIAÇÃO DO MERCADO E AS MULTINACIONAIS

Visando abastecer o amplo mercado consumidor existente nos


países do sul, surge a indústria de bens de consumo: confecções, calçados,
eletrodomésticos, alimentícia etc. Este ramo industrial na maioria das vezes é
controlado pelas classes abastadas do país, com apoio de capital estrangeiro,
que monopolizam certos produtos no mercado internacional – como é o
caso da Coca-cola, Nestlé, entre outros. Estas empresas se beneficiam dos
incentivos oferecidos pelo poder público local e instalam filiais de suas
fábricas onde o custo com mão de obra, energia, transporte e impostos são
reduzidos; a isto também devemos acrescentar que pelo fato da produção
ser nacional os produtos não geram custos com a alfândega e os lucros
auferidos com a produção são enviados ao país de origem do capital, fato
que fortalece o chamado mercado invisível.
Na tentativa de minimizar os efeitos nocivos gerados pelas
multinacionais aos países hospedeiros, muitas vezes o Estado participa da
economia se tornando empresário, dando origem a estatais - como é o caso
da Petrobrás no Brasil e o da Pemex no México - ou ainda participa como
sócio onde divide a participação com o capital privado, como é o caso da
Companhia Siderúrgica Nacional, CSN, porém na atualidade com a
economia globalizada os grupos econômicos estão cada vez mais ampliando
sua participação na economia, a partir do processo de privatização,
fortalecendo ainda mais a concentração de capital, fato comum nos países
fornecedores de matéria-prima, também chamados de países do sul.

3.5.1 O Fordismo

O Fordismo foi um sistema


de produção em série que
provocou uma verdadeira revo-
lução na indústria automobilística
no inicio do século XX, mais
precisamente em 1914.
O sistema foi idealizado
Figura 45: Representação de países do norte pelo empresário estadunidense,
e países do sul. Henry Ford, fundador da Ford
Fonte: Lucci. (2005 p.70)

41
Geografia Caderno Didático - 3º Período

Motor Company, inspirado no trabalho de empacotadores de carne. Foram


criadas esteiras rolantes que se moviam carregando os automóveis,
enquanto os operários ficavam parados. A atividade era entediante e
limitada, pois cada trabalhador era responsável por uma etapa da produção
e com isso era necessário qualificá-los.
O modelo de produção Fordista era oneroso, pois demandava altas
somas em investimentos, desde maquinário a instalações. Porém,
possibilitou a produção de mais de dois milhões de carros em 1920. O
grande destaque da produção fordista foi o Ford modelo T, no Brasil, o Ford
Bigode.
Com este sistema de produção em série, a Ford pretendia baratear
o custo de produção do carro ao ponto de torná-lo acessível às classes
populares, mas seu objetivo não foi alcançado.
O Fordismo atingiu o seu auge nas décadas de 1950 e 1960, mas a
característica rígida do processo de produção foi a causa do seu declínio a
partir de 1970, quando não foi capaz de vencer a concorrência da General
Motors que flexibilizou o seu
modo de produção e gestão.
Seu fim é decretado em 2007,
quando é substituído pelo
modelo de produção enxuta
implantado pela Toyota.
Entenda melhor o
processo de produção em
série, assistindo ao filme
Tempos Modernos, com
Figura 46: Linha de produção do Ford T. Charles Chaplin.
Fonte: http://www.ensp.unl.pt/lgraca/textos123.html

3.6 A INDÚSTRIA NO BRASIL


3.6.1 Antecedentes da indústria no Brasil

Inglaterra, potência mundial do século XVIII, tal posição se justifica


a partir do seu pioneirismo no que se refere à Revolução Industrial. Assim
ficou garantida aos britânicos a soberania na expansão do capitalismo pelo
mundo.
A participação portuguesa neste episódio foi de coadjuvante, já que
o país não produzia a quantidade de manufaturados que fosse capaz de
satisfazer suas necessidades internas e destas lacunas surgem acordos onde a
grande beneficiária era a Inglaterra.
Na colônia, Brasil do século XVIII, período de ascensão da
mineração, observava-se um crescimento populacional e aliado a
isto observava-se a diversificação das ocupações, que originou, conforme
Mendonça (1995 p.9):

42
Geografia da Energia e Indústria UAB/Unimontes

[...] severa política de restrições econômicas por parte da


metrópole, dentre os quais se destacou o Alvará de 1785
mandando fechar as manufaturas – poucas – aqui existentes,
tais como a fabricação de tecidos e as de construção naval.

A título de curiosidade, analise o documento apresentado a seguir,


onde um fragmento do original esclarece termos da proibição da
implantação de manufaturas no Brasil, em 1785.
É importante salientar
que no período em referência –
século XVIII – a atividade
industrial exercida no Brasil era
considerada complementar no
conjunto da economia nacional.
A proibição da implan-
tação de indústria no Brasil B GC
corrobora com a posição GLOSSÁRIO E
privilegiada da Inglaterra, pois ela A F
possuía uma indústria mais Corrobora: fortifica, confirma.
evoluída e continuava a abastecer Benesse: lucro fácil,
favorecimento.
Portugal de produtos manu-
faturados. Tal quadro se manteve
inalterado até 1808, conforme
atesta Mendonça (1995 p.10):
[...] o Brasil, por sua vez, também
Figura 47: Alvará de D. Maria I. se veria numa ambígua condição:
Fonte: Mendonça (1995 p.10)
a de colônia e sede da
monarquia, ao mesmo tempo. Esse novo quadro marcaria o inicio do fim da
situação colonial brasileira.
A situação política brasileira passava a viver uma nova realidade e
não se justificava a manutenção do sistema tradicional que mantinha o
monopólio português/inglês, pois afinal a colônia Brasil era agora sede da
monarquia.
No sentido de atender a condição brasileira na sua nova realidade
de sede da monarquia, algumas medidas foram adotadas, dentre elas,
conforme Mendonça (1995) e que vale destacar: o alvará de 1º de abril de
1808 em que seu texto revoga as proibições de regime colonial no que se
refere à indústria e à abertura dos portos brasileiros às nações em paz e
harmonia. Essas medidas, ao serem adotadas, extinguiram o monopólio
comercial lusitano e, por consequência, as benesses até então destinadas ao
Reino Unido. A partir daí, estava liberado o comércio do Brasil com outras
nacionalidades, excetuando, é claro, a França em função do bloqueio
continental imposto em 1806.
O Brasil foi invadido pelos mais diversos produtos manufaturados,
das mais diversas nacionalidades. Houve, é claro, a preponderância inglesa
no Brasil, por causa dos tratados assinados em 1810, o que Mendonça (1995

43
Geografia Caderno Didático - 3º Período

p.11) nos ajuda a entender melhor:

[...] o de Aliança e Amizade referia-se no fundamental, a


compromissos políticos entre os dois países. Já no outro, o de
Comércio e Navegação, garantia aos produtos ingleses entrar
no Brasil em condições mais vantajosas do que aqueles
precedentes de outros países, inclusive de Portugal:
enquanto os artigos vindos da Inglaterra pagariam apenas
15% ad valorem nas alfândegas, os próprios produtos
portugueses pagariam 16% e os de outras nacionalidades,
24%. Semelhante ao privilégio iria propagar-se por mais
alguns anos com exclusividade.

Diante dos acordos que beneficiavam abertamente o capital inglês,


fica claro que iniciativas para a implantação da indústria no Brasil já
nasceram fadadas ao fracasso, mas não podemos ser ingênuos ao ponto de
responsabilizar exclusivamente a concorrência britânica pelo insucesso da
indústria brasileira. Fatores como: regime escravista, que gerava
consumidores inativos e uma população rural, que por sua vez se encontrava
dispersa. Diante do quadro apresentado é possível identificar um perfil que
não apontava para a efetivação da indústria brasileira.
Apesar dos percalços, algumas manufaturas sobreviveram,
merecendo destaque a tecelagem. Assistimos ao surgimento das tecelagens
no Rio de Janeiro (1819) e em Minas Gerais (1824). Para Mendonça (1995),
em 1840 o Brasil já possuía um importante núcleo industrial no ramo de
tecelagem, que utilizava maquinaria importada, trabalhadores livres,
responsáveis por uma produção que girava em torno de 1(um) milhão de
metros de tecidos bastante diversificados, indústria moderna, considerando
a época e as adversidades.
O quadro da época nos revela que, até meados do século XIX,
mesmo sendo o Brasil independente politicamente, a sua industrialização
foi lenta, vários fatores emperravam o avanço da indústria no país, dentre
eles, conforme a visão de Mendonça (1995 p.13): “A presença da escravidão
continuaria a ser um entrave à formação do mercado interno e ao
desenvolvimento industrial”, isto porque o poder aquisitivo é nulo e sua mão
de obra não é qualificada.

3.6.1 A consolidação da indústria no Brasil

Em 1850, registra-se uma maior dinamicidade na economia


brasileira. Tal dinamismo reflete no crescimento do número de empresas
industriais que, neste período, contava com apenas cinquenta
estabelecimentos, isto incluindo a este total as unidades não industriais no
sentido restrito da palavra, como é o exemplo das salineiras. A partir desta
data, novas fábricas foram implantadas, merecendo destaque o ramo dos

44
Geografia da Energia e Indústria UAB/Unimontes

couros, calçados, malas, chapelaria e mobiliário. Também existem indícios


de que a imprensa registrou avanço no período. Mendonça (1995 p.13) nos
relata que: “em inícios da década de 1880, de 25 tipografias no Rio de
Janeiro, quatorze litografias e dezenove oficinas de encadernação”.
As dificuldades existiam, é claro, e eram superadas aos poucos, mas
persistia a falta de algumas matérias
primas e de maquinário que, por
indisponibilidade interna, teve que ser
importada. O caso da mobília ilustra
bem esta fase, pois utilizava a madeira
que era nacional, mas os espelhos e as
ferragens eram importados.
Em resumo, na segunda metade
do século XIX, o Brasil já registrava
grande aumento de estabelecimentos
industriais. A este número é possível
acrescentar uma considerável quanti-
dade de fabriquetas que atuavam na
informalidade nos ramos mecânico,
Figura 48: Jornal A Verdade.
Fonte: http://tomaracidade.blogspot. alimentício e de sabão.
com/2009_04_01_archive.html
Para Mendonça (1995), um fato
importante merece ser destacado: em
1869, uma fábrica de tecidos em Itu (São Paulo) utilizou pela primeira vez a
máquina a vapor.

3.6.2 O café: berçário da indústria

Nos primórdios do período republicano registrou-se o nascimento


da indústria brasileira propriamente dita, o que significa uma unidade de
fabricação com alto índice de mecanização implantada em uma sociedade
urbana.
A expansão da lavoura cafeeira em São Paulo e no Rio de Janeiro
nos anos de 1870 fomentou o dinamismo econômico da oligarquia cafeeira
que foi acalentado com a implantação de ampla infraestrutura no setor de
serviços, transportes, comércio e financeiro, propiciando assim, o
aparecimento do setor terciário que advém da ampliação das áreas urbanas.
O diferencial deste período foi a entrada do capital estrangeiro em
importantes setores da nossa economia, considerados estratégicos, como
exemplo, as ferrovias e os bancos.
Os fatores acima descritos ratificam o termo que dá titulo ao texto:
O café: berçário da indústria.
3.6.3 Peculiaridades da indústria no Brasil

45
Geografia Caderno Didático - 3º Período

A característica marcante da indústria brasileira na sua fase inicial e


a sua subordinação ao capital excedente do café podem ser explicadas em
dois momentos distintos:
Ÿ A infraestrutura criada para atender a cafeicultura, como energia
e transporte, acabou por favorecer a nascente industrialização.
Ÿ Outro fator, e para muitos o mais importante, é que a cultura
cafeeira liberou fluxos de mão de obra para as áreas urbanas e esses
trabalhadores se tornaram consumidores dos produtos industrializados.
Um ponto a ser considerado no que se refere à subordinação da
indústria ao café foi que, por questões de organização interna, o contingente
de mão de obra proveniente da lavoura cafeeira foi mais abundante do que
o previsto, e por este fato gerou um enorme exército de reserva que trouxe
consequências socioeconômicas desastrosas à economia urbana do país,
como:
Ÿ A grande disponibilidade de trabalhadores nas cidades onde
haviam sido instaladas as indústrias, o que colocou os industriais em posição
favorável, pois a oferta de trabalhadores superava a demanda por emprego e
assim os salários caíram drasticamente.
Ÿ A segunda característica enumerada foi a preferência pelas
indústrias de bens de consumo corrente ou indústrias leves, que podem ser
representadas pelas fabricas de tecidos, vestuário, alimentos etc., que se
concentra nas áreas urbanas e tem na população sua fonte de trabalho e
mercado consumidor. Ainda no que se trata da produção de bens de
consumo corrente é que este ramo industrial não carece de altos
investimentos em capital e tecnologia.
A tabela 3 apresentado abaixo nos serve de referência para melhor
compreensão do valor da produção industrial no Brasil:

Tabela 3: Valor de Produção da Indústria no Brasil em 1920


Tipo de indústria Valor produzido (%)
Alimentícia 30,7
Bebidas/cigarros 29,3
Têxtil 6,3
Metalúrgica/mecânica 4,7
A partir
Fonte: Censoda análisededa
Nacional expressão
Produção máquinas
de 1920. produzem máquinas, é
Citado por Mendonça 1995. Org. Silva.
possível encontrar justificativa para a terceira característica da indústria
brasileira nos tempos onde observamos a inexistência da indústria pesada.
Tal fato advém de a indústria pesada demandar de um amplo
desenvolvimento econômico, que se expressa em altos investimentos de
capital e tecnologia - o que no período em questão o país não dispunha.

46
Geografia da Energia e Indústria UAB/Unimontes

Na visão de Mendonça (1995 p.18), os grandes nomes da indústria


no Brasil são: [...] Antônio Prado (fábrica de vidros Santa Marina); o coronel
Rodovalho (fundador da primeira fábrica de cimento portland do país); o
coronel Anhaia (o introdutor da primeira máquina a vapor em uma
tecelagem); Eugênio de Oliveira (diretor da tecelagem Votorantin).
Outros nomes também podem ser acrescentados a esta lista, como
importantes colaboradores da indústria no Brasil no inicio do século XX, nas
palavras de Mendonça (1995 p.19):
B GC
GLOSSÁRIO E
Francisco Matarazzo (proprietário de moinhos, tecelagens e
fabricas de botões), Alexandre Siciliano (máquinas agrícolas),
A F
Klabin (indústria de papel), Nicolau Scarpa (tecelagem), Burguesia: classe social surgida
Domingos Bebiano, fundador da Companhia América Fabril na Europa no final da Idade
de Tecidos, no Rio de Janeiro, Hermann Lundgren, dono de Média que, a partir do século
fábricas têxteis em Pernambuco e fundador da famosa rede
XIX, prevalecia política,
de lojas Pernambucanas, ou ainda o alemão Hering de Santa
econômica e culturalmente
Catarina, também ligado à tecelagem e, posteriormente, à
malharia. Personalidades até hoje reverenciadas no cenário
econômico brasileiro.

São nomes importantes para a indústria brasileira, que sua presença


no país ligado à condição do imigrante, mas que já aportaram no Brasil com
dinheiro para investir, condição diferente do imigrante que veio para o Brasil
fruto do subsídio do governo do Estado de São Paulo para suprir a mão de
obra escrava.
Desta forma, desponta no Brasil uma nova classe social: a burguesia
industrial, que é composta por detentores do capital que doravante seria
aplicado na nova atividade. Assim, o país assiste ao aparecimento de um
grupo social que é representado de um lado pelos cafeicultores que também
estavam se transformando em industriais e do outro lado pelos imigrantes
empresários, que ao longo do tempo foi se transformando em uma só por
meio de diversas formas de alianças – em especial os casamentos –, isso tudo
era considerado meio lícito para manter o prestigio e a renda concentrada.
Assim é caracterizado o quarto aspecto da industrialização brasileira.

3.6.3.1 A Primeira Guerra Mundial muda a ordem econômica

Em 1918, com o fim da primeira guerra mundial, a Europa já não


reinava absoluta no mundo. Este fato mudou drasticamente a ordem
econômica que até então vigorava. A Inglaterra, mesmo vitoriosa no embate,
dava sinais de declínio, não ostentava o título de principal exportadora de
capital e tecnologia, pois, como toda a Europa no pós-guerra, precisava se
concentrar na sua recuperação.
Daí o mundo assiste ao surgimento de uma nova potencia mundial:
os Estados Unidos da América, que passa a ocupar a posição de centro do

47
Geografia Caderno Didático - 3º Período

capitalismo, inclusive como fornecedora de recursos para a recuperação da


B GC Europa, no que se refere à reconstrução de cidades, estradas, áreas agrícolas
GLOSSÁRIO E
etc., que foram destruídas pela guerra.
A F Passo a passo, a nova potência mundial espalha sua influência pelo
A Crise de 1929 foi a quebra mundo e invade os mercados dos chamados Terceiro Mundo. A dominação
da bolsa de Nova Iorque,
imposta pelos Estados Unidos foi maior do que a inglesa, e isto deu mais
devido à superprodução da
indústria americana. força e prestígio à nova potência no cenário internacional.
A economia do Brasil era dependente do café, este regulava as
relações do país com o mundo, inclusive com os Estados Unidos e isto gerava
fragilidade no tocante à indústria.
Em 1929 ocorre a Grande Depressão ou Crise de 29 que, a
PARA REFLETIR
princípio, era uma preocupação só americana, mas que devido a sua
gravidade espalhou seus efeitos por todo o mundo se tornando então uma
Os preços do café no mercado Crise mundial. Isto ocorreu porque a economia mundial dependia
externo caíram, em 1931, para economicamente dos Estados Unidos. Claro, o Brasil por sua vez, também se
a terça parte do seu valor em
viu afetado pela crise de 29. O café, o seu principal produto de exportação –
1929.
que era largamente produzido desde 1910 - perdeu seu maior comprador.
Esta perda ocasionou uma vertiginosa queda dos preços e o café passou a ser
considerado produto supérfluo. Também atingiu a economia brasileira a
B GC redução no volume de empréstimos, que outrora era abundante e passou a
GLOSSÁRIO E ser escasso e obviamente o dinheiro passou a ser usado para preencher as
A F lacunas internas.
Paradoxo: Afirmação ou Para se ter uma idéia mais clara da dimensão dos prejuízos causados
opinião que, à primeira vista, pela Crise de 29 nas exportações do café, faça uma análise da tabela 4:
parece ser contraditória, mas
expressa uma verdade possível.

Tabela 4: Declínio das exportações do café brasileiro em 1929/1931

Valor das exportações (milhões de libras) Data


95 1929
38 1931
Fonte: Mendonça
Diante 1995 p.
do paradoxo da38.superprodução
Org. Silva - 2009. e queda da demanda do

produto em relação ao mercado externo nos períodos entre 1931 e 1938,


toneladas de café foram quei-madas ou jogadas ao mar em virtude da
superprodução. A figura 48 retrata o fato acima mencionado:
Muitas medidas foram adotadas no sentido de se evitar o naufrágio
da economia brasileira e estas
ben e f i c i a r i a m a i n d ú s t r i a
nacional, de acordo com os
relatos de Mendonça (1995
p.40):
[...]
c o m
o s
Figura 49: Café sendo jogado ao mar. preços
Fonte: Mendonça (1995 p.39) d o

48
Geografia da Energia e Indústria UAB/Unimontes

café em baixa e as dificuldades de importar bens


manufaturados (muito caros desde a crise de 29), mas com o
poder de consumo preservado, inaugurou-se um período
bastante favorável à expansão da indústria brasileira. Pela
primeira vez em nossa história os preços dos produtos
industriais aqui fabricados eram mais vantajosos que os
importados.

3.6.4 A indústria e a recuperação econômica

A atividade industrial ganha status na economia brasileira e vários


fatores favoreceram este quadro, dentre eles, merecem destaque:

Ÿ O incentivo ao aproveitamento máximo da capacidade de


produção das indústrias;
Ÿ A facilidade de aquisição de equipamentos de segunda mão que
estavam sendo subutilizados na Europa;
Ÿ O poder de organização dos industriais brasileiros no sentido de
cobrar do poder público políticas direcionadas ao beneficio da indústria;
Ÿ A diversificação dos ramos industriais.

Os fatores acima relatados gestaram uma nova etapa na indústria


nacional que pode ser mais bem compreendido nas palavras de Mendonça
(1995 p. 40): [...] no lugar dos tradicionais ramos de tecidos, vestuários e
produtos alimentícios, cresceram doravante, setores como os de metalurgia,
mecânica, cimento, material elétrico e transportes, além das indústrias
químicas e farmacêuticas.
A partir daí, muitos produtos industrializados – que até então, eram
importados – passaram a ser produzidos dentro do próprio país. A este
momento denominou-se substituição de importação. PARA REFLETIR

3.6.4.1 Indústria de substituição de importação


O dado referente aos anos de
1939 a 1945 mostrou uma
Tal nomenclatura se tornou por mais de duas décadas a forma de vertiginosa queda na produção
representar a indústria brasileira, no período em questão, também industrial e isto se deve ao fato
de, no período em questão, ter
conhecido como Era Vargas (1930/1945). Neste período registrou-se a
ocorrido a Segunda Guerra
expansão da produção industrial, que chegou a suplantar o valor da Mundial, conflito que se fez
produção agrícola, o que pode ser analisado à luz da tabela 5. sentir em todas as nações do
mundo e no Brasil não foi
As transformações no período foram tão marcantes que, já em diferente.
1937, áreas da indústria pesada como: cimenteira, ferro-gusa, aço em
lingotes e o de laminados supriam de 70% a 90% o mercado interno, o que
dá ao período o status de gestor da indústria brasileira.

49
Geografia Caderno Didático - 3º Período

Tabela 5: Taxas anuais de crescimento


Anos Agricultura Indústria
1920/29 4,1 % 2,8 %
B GC
GLOSSÁRIO E 1933/39 1,7 % 11,2 %
A F 1939/45 1,7 % 5,4 %
Estado Novo: governo Fonte: Diniz, Eli. Empresário, Estado e Capitalismo no Brasil (1930-45)
presidencial que vigorou de Rio de Janeiro, Paz e Terra 1978, p.67. Citado por Mendonça 1995 p. 41.
1937 a 1945.
Aquiescência: consentimento
quieto e voluntário.
3.6.4.2 A hora e a vez do Estado

Durante o Estado Novo, Getúlio Vargas visando a ampliação do


parque industrial brasileiro sugere uma parceria entre a iniciativa pública e a
particular. Desta parceria surge a divisão do trabalho onde o governo assume
o controle dos setores básicos da nossa indústria – com aquiescência do setor
privado – todos ligados por um sentimento nacionalista para incluir o Brasil
na era da modernidade.
Desta ação conjunta vimos nascer empresas estatais cuja atuação
foi fundamental para incrementar o parque industrial brasileiro. Mendonça
(1995) nos relata que estiveram neste esforço conjunto:
Ÿ A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em 1941;
A Companhia Vale do Rio Doce, em 1942;
A Fábrica Nacional de Motores (FNM) em 1942;
A Companhia Hidrelétrica do São Francisco, em 1945.

Neste período, coube ao Estado financiar setores estratégicos da


nossa economia, como:
Ÿ Matéria-prima;
Ÿ Energia;
Ÿ Máquinas.

Que, conforme Mendonça (1995


p.43), tinham o papel de: “Produzir bens e
serviços a baixos preços, de modo a fornecê-los
PARA REFLETIR aos empresários privados, visando fortalecer a
burguesia industrial a ao próprio capitalismo no
país”.
O que fazer?
Embora fundamentais para o
A indústria não pode parar...
desenvolvimento industrial brasileiro, as
medidas adotadas na era Vargas não
conseguiram atingir plenamente os seus
Figura 50: Inauguração da CSN.
objetivos, pois faltava capital, o que gerou sérias
Fonte: Mendonça (1995 p. 42)

50
Geografia da Energia e Indústria UAB/Unimontes

restrições ao processo de industrialização, daí a denominação ao período ou


fase de indústria restringida.
Restou ao Estado criar algumas linhas de ação. Diante da escassez
de capital no mercado, o Estado passou a subsidiar a indústria em
detrimento do setor agrário, estratégia que serviu também para desestimular
a produção cafeeira, pois o produto não era mais tão interessante ao
mercado externo.

3.6.4.3 Nascimento das leis trabalhistas

Com o crescimento da atividade industrial, surge uma nova classe


de trabalhadores: os operários. Visando obter o controle dessa classe
trabalhadora, Vargas articulou a regulamentação das leis de trabalho que, até
então, vinha sendo evitada pela burguesia industrial. Mas, com as
transformações ocorridas no cenário político e ainda com o aumento do
proletariado a partir da expansão das indústrias no Brasil, surge a
necessidade de uma legislação que organizasse essa massa trabalhadora,
conforme o próprio presidente, citado por Mendonça (1995 p.44):

As leis sociais com que o atual governo, por iniciativa própria


tem procurado amparar as classes trabalhadoras, devem
constituir motivo de orgulho para os brasileiros. Tudo se fez
sem abalos e inquietações. Os beneficiados pelas nossas leis
sociais, vendo satisfeitas as suas mais justas aspirações,
souberam responder ao amparo do Estado, repelindo todas
as tentativas de infiltrações demagógicas dos pregoeiros de
teorias exóticas [...].
(Vargas, G. A nova política do Brasil. Rio de Janeiro, José
Olímpio 1938 p.171.v. 5)

Era evidente que as classes trabalhadoras se fortaleciam e se


organizavam, por isso era necessário criar mecanismos para aquietar as
lideranças trabalhadoras. Diante das ameaças, o empresariado nacional
concordou em cumprir algumas leis trabalhistas em troca da intervenção do
Estado no controle dos trabalhadores em face de alguma agitação
denominada por eles de fantasma da anarquia ou de teorias exóticas.
Deste acordo, surge, em 1930, o Ministério do Trabalho, que
atuava junto aos sindicatos, que anteriormente tinham autonomia em suas
ações e agora passavam a ser controlados pelos patrões e, como se não
bastasse, pelo Estado na figura do Ministério do Trabalho.
Assim, os sindicatos passaram a ser reconhecidos pelo Ministério, o
que permitiu aos sindicalizados benefícios até então negados. Entre esses
benefícios, houve a regulamentação da lei de férias, jornada de trabalho de
oito horas, legislação que regulamentava o trabalho da mulher e do menor
de idade. No período que compreende de 1935 a 1937, os sindicatos

51
Geografia Caderno Didático - 3º Período

DICAS

“Agosto” de Rubem Fonseca.


Editora: Companhia das Letras.
Um relato emocionante, onde
o autor mistura ficção e
realidade narrando os
acontecimentos que
Figura 51: Manifestação comemorativa à promulgação da CLT.
culminaram no suicídio de
Fonte: http://futeboldorio.wordpress.com/2008/05/01/dia-do-trabalhador/
Getúlio Vargas em agosto de
1954. Um capítulo importante estatais eram organizados por categoria profissional e facultativa. No
na história da implantação da
indústria no Brasil. período posterior passou a ser único e obrigatório para os trabalhadores. No
ano de 1937, com o Estado Novo – regime ditatorial implantado por Vargas
entre os anos de 1937 a 1945 –, o governo manteve o controle sobre o
trabalho e assim evitava que eles se confrontassem com os patrões.
A criação do salário mínimo exemplifica bem este período em que
B GC houve uma unificação dos salários, resultando na redução dos mesmos, em
GLOSSÁRIO E
alguns casos e beneficiando os empresários que experimentaram uma
A F drástica redução nas suas folhas de pagamento, com consequente aumento
Neoliberalismo: doutrina nas margens de lucro. Nesta ação, o poder público por um lado protegeu o
econômica que procura
trabalhador, quando criou leis que regulamentaram a sua vida profissional,
adaptar o liberalismo
tradicional às condições do mas por outro, o penalizou quando instituiu um salário que só cobriria suas
capitalismo moderno. necessidades básicas.

3.6.5 O Brasil na onda do Neoliberalismo

Em 1945, com o fim da ditadura Vargas, deu-se inicio à


redemocratização do Brasil.
Ÿ Foram convocadas eleições no país;
Ÿ O congresso voltou a funcionar plenamente.
A insatisfação do povo brasileiro com o regime em vigor, o levou a se
manifestar de diversas maneiras.
A política adotada por Vargas desagradava os setores interessados
na abertura do país ao livre comércio internacional. , fantasma do
neoliberalismo chega também ao Brasil. Nasceu então uma forte campanha
contra a atuação direta do Estado na economia, onde também se combatia
as barreiras alfandegárias impostas aos produtos estrangeiros, movimento
semelhante ao que hoje assistimos no mundo. Todas essas idéias colocaram
fim ao Estado Novo, originando o populismo que inaugurou um novo

52
Geografia da Energia e Indústria UAB/Unimontes

momento político que demandava habilidade para seguir seu rumo. Este
momento se apresentava frágil e subdividido em dois grupos cujas PARA REFLETIR
tendências eram:
Ÿ Um grupo de industriais partidários do neoliberalismo;
Ÿ Outro grupo também de industriais que por temor à Qual era o motivo para tais
mudanças? Tendo o Brasil se
concorrência estrangeiras aos seus produtos defendiam uma indústria posicionado contra o nazismo,
nacional. juntamente aos aliados, não era
Estas tendências contrárias caracterizaram a indústria brasileira no coerente o país ser governado
por uma ditadura.
período de 1945 a 1954.
Eurico Gaspar Dutra, primeiro presidente eleito para o período pós-
1945, conforme Mendonça (1995 p.52): “... optou por abrir as fronteiras do
país às importações de bens de consumo estrangeiros, que iam desde B GC
chicletes até meias de náilon”. GLOSSÁRIO E
Essa atitude adotada por Dutra criou um caos social econômico no A F
país, pois faltava investimento em tecnologia para a indústria de base o que a
Populismo: política baseada na
estagnou, gerando uma crise inflacionária que corroeu os salários fazendo demagogia, em que se aliciam
cair drasticamente o poder de compra do trabalhador, que por sua vez as classes sociais menos
privilegiadas da população.
respondeu com mobilizações que foram reprimidas pelo governo.
Diante da situação que se instalou no país, ficou claro que as
medidas liberais adotadas por Dutra não eram as ideais para o momento
econômico pelo qual passava o país. Com o intuito de minimizar os efeitos
da crise, Dutra:
Ÿ Restabeleceu o controle de algumas estatais;
Ÿ Fez uma revisão das políticas cambiais e alfandegárias.
Findo o governo Dutra, Vargas volta ao poder, aclamado pelo voto
popular e retoma sua tradicional política de intervenção estatal na
economia, criando o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico
(BNDE), o primeiro banco público que tinha por objetivo fomentar o
desenvolvimento da indústria nacional e ainda visando solucionar o
problema do combustível, cria também a Petrobrás.
A elite econômica do país continua dividida em duas correntes
econômicas onde:
Ÿ Uma defende a entrada do capital estrangeiro em setores
estratégicos da economia;
Ÿ Outra, que conti-
nua a acreditar em uma
economia nacionalista, sendo
o capital privado ou estatal.
Este grupo era composto de
setores da classe média,
oficiais das forças armadas e
ainda intelectuais do
Figura 52: Getúlio Vargas assina o ato de criação da momento. É importante
Petrobrás.
r e s s a l t a r q u e Va r g a s
Fonte: http://pre-vestibular.arteblog.com.br/82/

53
Geografia Caderno Didático - 3º Período

corroborava desta corrente.


No embate, o projeto proposto por Vargas naufragou por causa das
próprias características da indústria brasileira que Mendonça 1995 p.53,
assim descreve:

[...] se a expansão industrial brasileira dependia de reservas-


ouro e estas só eram produzidas pela exportação de
produtos agrários, era claro que a modernização tecnológica
do nosso parque industrial estaria sempre atrelada ao
comportamento de nossas exportações.

Como o país não possuía recursos para sustentar seu próprio


desenvolvimento industrial, os grupos que se opunham a Vargas
precipitaram o caos econômico e social no país o que levou o presidente ao
suicídio em 24 de agosto de 1954.

3.6.6 A indústria de JK

Uma nova etapa foi inaugurada na economia brasileira, pondo fim


ao modelo defendido por Vargas e onde ficou clara a necessidade da
abertura ao capital externo.
Na segunda metade da década de 1950, mais precisamente em
1956, assume o poder o presidente Juscelino Kubistchek, considerado
moderno, arrojado e desenvolvimentista e que governou o país de 1956 a
1960 sob o jargão Desenvolver o país cinquenta anos em cinco. Para
conseguir este feito, ele construiu Brasília – uma aspiração antiga da elite
política brasileira - abriu estradas que a ligariam aos mais diversos pontos do
país, investiu em infra-estrutura e principalmente alocou recursos para a
implantação da indústria automobilística em São Paulo que, como
consequência, gerou a expansão da siderurgia, metalurgia e autopeças.
A indústria protagonizada por JK tinha na automobilística sua maior
representante; esta funcionava como uma espécie de tripé que pode ser
explicada da seguinte maneira:
Ÿ Numa ponta está a multinacional, que fica com a função de
montar o veículo;
Ÿ Em outra, a estatal, que é encarregada da matéria-prima;
Ÿ Finalmente, as privadas nacionais, que eram responsáveis pelo
fornecimento das autopeças.
Assim, observa-se na indústria brasileira uma dependência do
capital e tecnologia externos, ou seja, ela perde sua autonomia, mas não
podemos negar que houve um expressivo crescimento no período. Estima-
se que tenha sido em torno de 50% em relação ao período anterior.
Nesta época, surge no país um novo setor industrial: o de bens de

54
Geografia da Energia e Indústria UAB/Unimontes

consumo duráveis com a


participação do capital
estrangeiro.
O Brasil já possuía uma
economia amadurecida o
bastante para comportar um
novo setor industrial. Este
Figura 53: Fabricação de chapas para chassis de
amadurecimento advém de:
automóveis. Ÿ A classe industrial
Fonte: Mendonça (1995. p. 5)
havia no período anterior,
auferido lucros suficientes para possibilitar a diversificação dos seus
investimentos;
Ÿ A mudança estrutural do mercado interno brasileiro, onde as
cidades aumentavam sensivelmente o número de habitantes e esses eram
consumidores em potencial.
Mas o grande diferencial deste período foi a liberação de capital
oriundo dos Estados Unidos para
investimento na indústria de
países em desenvolvimento e,
diga-se de passagem, o Brasil se
encaixava neste perfil. Assim, os
Estados Unidos passam a ser um
dos grandes investidores na
indústria de bens de consumo
duráveis no Brasil.
O Estado brasileiro não
dispunha de capital para
continuar investindo na
expansão do setor industrial. A
alternativa encontrada foi abrir a
economia do país ao mercado
externo e diante de tal atitude
ocorreu uma entrada maciça de
Figura 54: Linha de montagem de automóveis. grandes montadoras estrangeiras
Fonte: Mendonça (1995. p.5)
no país, dentre elas, as que mais
se destacaram foram: a Volkswagen, a Mercedes-Benz, a General Motors e a
Ford. Desta forma, ocorreu a internacionalização da economia brasileira.
Para que se concretizasse a proposta de JK - desenvolver o país
cinquenta anos em cinco – era necessário munir o país de infraestrutura para
sustentar essa nova etapa de desenvolvimento. Dentro das metas propostas
por Juscelino estavam investimentos em: energia elétrica, energia nuclear,
do carvão e do petróleo; construir estradas de ferro, de rodagem, portos,
barragens e aeroportos; ainda fomentou o crescimento de setores já

55
Geografia Caderno Didático - 3º Período

existentes, mas sucateados


em função das crises pelas
quais passou o país, como
alumínio, metais não-
ferrosos, cimento e equi-
pamentos elétricos; outro
setor também beneficiado no
período foi o ligado a
alimentos, fertilizantes e
Figura 55: Fábrica de automóveis.
Fonte: Mendonça (1995. p. 5) maquinaria agrícola. Mas a
prioridade absoluta de JK era a multinacional automo-bilística.
É importante salientar que a presença das multinacionais
impulsionou a indústria nacional, quando o espetáculo tecnológico exibido
B GC por elas serviu de incentivo ao crescimento da nossa indústria. O que
GLOSSÁRIO E Martinez (1993 p. 37), nos ajuda a entender:
A F
Muitos empresários brasileiros absorveram essa cultura e
Opulência: fartura, abastança,
equipararam suas empresas às mais desenvolvidas do
desenvolvimento
extraordinário. mundo. Na média, porém, o empresariado brasileiro não
Arroubo: êxtase, enlevo. alcançou o mesmo grau de sofisticação e, quando não é
adotada uma atitude prepotente, pratica-se a filantropia no
trato com os empregados.

DICAS A opulência e o arroubo da indústria protagonizados por JK


trouxeram graves consequências à nossa economia. Ela foi desnacionalizada
e o lucro obtido pelas multinacionais implantadas no Brasil era enviado, é
claro, para o país de origem das empresas, ao invés de serem reaplicados no
A Implantação da Indústria Brasil, o que Martinez (1993 p. 38), esclarece no texto a seguir:
Automobilística no Brasil de
Sydney A. Latini. Editora
Alaúde. Depois de um curto período contributivo, as multinacionais
O registro da evolução do começaram a colher os frutos dos investimentos e remetê-los
processo de industrialização, a para o exterior. Foi só a partir desse momento que ficamos
partir da Segunda Guerra sabendo o preço que iríamos pagar pelo desenvolvimento
Mundial, com ênfase na induzido do exterior.
implantação da indústria
automobilística, foi o propósito
do autor, que testemunhou Essa situação perdurou até 1962, quando o Congresso Nacional
suas diversas etapas e aprovou uma lei que limitava e regulamentava a remessa de lucros aos seus
participou de muitas delas.
países de origem. Porém, conforme Martinez (1993) a lei foi assinada pelo
presidente João Goulart, em 1964, às vésperas do golpe militar que instalou
B GC no país o autoritarismo com todas as benesses das multinacionais.
GLOSSÁRIO E
A F 3.6.7 Indústria do período autoritário ao atual
Retaliação: represália, punição
Em 1960, a situação se torna insustentável e a crise abafada por JK
eclode com toda a magnitude e os governos que o sucederam não tiveram
como evitar a tomada do poder pelos militares em 1964 - o chamado Golpe

56
Geografia da Energia e Indústria UAB/Unimontes

Militar de 64 - que ocorreu em 31 de março, culminando no controle do país


pelas forças armadas, com apoio da embaixada e das forças armadas dos
Estados Unidos que temiam que o fantasma do socialismo – que havia se
instalado em Cuba – se espalhasse pela América Latina.
O governo militar altera a ordem das ações no Brasil, instalado à
força e é claro, usa desta para se tornar legítimo, governa por meio de Atos
institucionais que alteram a Constituição e dá ao Poder Executivo
prerrogativas que outrora eram do Legislativo e do Judiciário. Segue-se uma
onda de retaliações a todas e quaisquer manifestações populares que
viessem a alterar a segurança nacional. Era comum a expressão Tudo pela
segurança nacional.
Quanto ao incentivo às multinacionais, elas se sucedem e se
ampliam. O maior exemplo disto foi, conforme Martinez (1993 p.5): [...] em
1964, foi revogada a lei de remessa de lucros aprovada em 1962. Com
poucas exceções, foram eliminados os limites, ficando as empresas livres
para remeter ao exterior quanto quisessem.
Com tantas vantagens ofertadas às multinacionais, aqui não só
permaneceram como também provocaram uma verdadeira sangria na nossa
economia, criando um círculo vicioso, onde elas são sempre vencedoras,
seus custos são mais baixos e as margens de lucros, maiores. Mediante esta
estranha matemática, muitas empresas nacionais fecharam, outras faliram e
outras foram absorvidas pelas multinacionais. E com tantas vantagens
oferecidas às multinacionais em detrimento das nacionais, é claro, elas não
tinham condições de competir em igualdade, isto resultou na redução da
concorrência, gerando então o monopólio de algumas organizações em
setores estratégicos, o que mais uma vez prejudicou o consumidor e
beneficiou os industriais.
Nas décadas seguintes, inúmeros acordos de gabinete entre o
governo militar e os representantes das multinacionais determinaram os
grandes projetos econômicos e políticos no Brasil. O período foi marcado
por uma profunda crise sócio-econômica interna. O desemprego assolou, a
carestia tomou proporções insustentáveis e o governo autoritário, com mão
de ferro, abafava qualquer tentativa de protesto das massas populares.
Assim, sob a batuta da ditadura, a produção brasileira aumenta
sensivelmente por mais ou menos quatro anos seguidos. Este feito do
governo militar, foi denominado O milagre brasileiro.

3.6.7.1 O Brasil nos tempos do Milagre Brasileiro

No período que concerne aos anos de 1964 a 1970, observamos


que os militares deram prioridade às realizações materiais com o propósito
de fazer do Brasil uma potência e investiram neste audacioso projeto. Na
verdade, resumia-se na consolidação do modelo implantado em 1950. No

57
Geografia Caderno Didático - 3º Período

período, se registravam elevadas taxas de crescimento de nossa economia e


que, para tal, o governo procedeu da seguinte maneira:
Ÿ Buscou recursos dentro e fora do país;
Ÿ Manteve o estímulo à formação dos oligopólios de empresas e
de capitais.
Porém, nos primeiros anos da década de 1970, ocorreu um
aumento significativo nos preços do petróleo e este fato expôs a fragilidade
do Milagre brasileiro. Sem reservas financeiras capazes de suprir suas
necessidades internas, mais uma vez restou ao governo recorrer aos
empréstimos no exterior que, por sua vez, aumentou o volume da dívida
externa a níveis insustentáveis. Mesmo com toda a recessão causada pala
crise, os lucros das multinacionais não se reduzem. Isto porque elas tomaram
medidas internas de redução de custos que não interferem nas margens de
lucro. O que pode ser mais bem entendido nas palavras de Martinez (1993
p.54):

[...] elas reduzem os custos demitindo empregados, cortando


benefícios, intensificando o ritmo de trabalho, prorrogando
a jornada de trabalho, trocando empregados por outros de
salários mais baixos, obrigando seus fornecedores a
baixarem os preços, cortando créditos e reduzindo os prazos
de pagamento de seus clientes (em geral, revendedores
nacionais), aplicando seus capitais no mercado financeiro.

É interessante destacar que medidas semelhantes também foram


adotadas por indústrias nacionais e assim a crise se instala na economia
brasileira, provocando aumento do desemprego, arrocho salarial e inflação.
No decorrer da década de 1980, surgiram campanhas de
mobilização popular em prol das eleições diretas para presidente da
república. O fim do governo autoritário é aclamado em todos os cantos do
país e o regime ditatorial é substituído aos poucos por um regime mais
democrático e juntamente com ele são tomadas medidas no sentido de
redirecionar a economia. Dessa reorientação
econômica, surgiu a estratégia de instalar
fábricas existentes no sudeste e nas diversas
regiões do país. Também faz parte dessas
medidas – conforme Martinez (1993) - a
criação do polo petroquímico do Nordeste e a
Zona Franca de Manaus.
Ao longo da década de 1980, registra-
se uma grave estagnação econômica no país, a
tal ponto que ela é denominada de A Década
Figura 56: Representação das Perdida, isto porque, no período, foi registrada
Multinacionais. uma queda vertiginosa no produto interno
Fonte: Eduardo Borges. (Citado
por Scarlato. sd) bruto do país – o PIB – seguido de um aumento

58
Geografia da Energia e Indústria UAB/Unimontes

estrondoso da dívida externa. Diante do quadro, é impossível ao país voltar a


crescer.
Em 1985, Tancredo Neves foi eleito, de forma indireta, presidente
da república, porém, quem toma posse é o seu vice, José Sarney, que assume
o país num compasso de transição em busca do melhor meio para
administrar o país e esbarra numa sociedade civil fragmentada por
profundas desigualdades e que a Constituição de 1988 não teve força para
solucionar.

3.6.8 Tempos modernos na indústria brasileira

O novo governo a principio se preocupa em minimizar as tensões


advindas dos períodos anteriores. Era necessário encontrar soluções para
sanear as finanças do país.
Surge daí a chamada era dos planos:
Ÿ Plano Cruzado - 1986;
Ÿ Plano Bresser - 1987;
Ÿ Plano Verão - 1989.
Cada plano tem a sua característica própria, mas sempre a mesma
finalidade: atingir a estabilidade econômica. Porém, nenhum deles
conseguiu alcançar o seu objetivo maior que era pôr fim à especulação
financeira e à concentração de renda que assolava o país.
A economia da década de 1980 se caracteriza pelas altas taxas de
inflação, fato que pode ser mais bem compreendido a partir da análise da
tabela 6.
Abatido pelo descrédito e sem a sustentação política necessária
para se manter de pé, os meses finais do governo Sarney foram marcados
pelo caos, deixando para trás um país esgotado e uma economia
depauperada.
Em 1989, findo o governo Sarney, o país convoca eleições diretas e

Tabela 6
Anos % Anos %
1977 39 1984 224
1978 41 1985 235
1979 77 1986 65
1980 110 1987 416 B GC
GLOSSÁRIO E
1981 95 1988 1.038
1982 98 1989 1.783
A F
1983 211 1990 2.596 Depauperada: debilitada, pobre.
Fonte: Conjuntura Econômica, Índice
Geral de Preços - IGP - DI - FGV. Citado
por Piquet 2007.

59
Geografia Caderno Didático - 3º Período

elege o alagoano Fernando Collor de Melo. Nas palavras de Mendonça


(1995 p. 82), “ele foi eleito como o falso Messias, prometia modernização e
salvação da economia brasileira, porém sua postura messiânica foi um
desastre, pois suas medidas econômicas provocaram sérios impactos
sociais”.
Dentre as estratégias usadas por Collor a que merece destaque foi a
intensa campanha de privatização das estatais, por considerá-las um peso
morto para o poder público.
Para a reorientação da economia nos termos propostos pelo
governo em questão era imprescindível - nas palavras de Piquet (2007 p. 85)
- “[...] a redefinição do papel do Estado, a atenuação das disparidades
econômicas, sociais e regionais”. Neste sentido foram adotadas as seguintes
medidas:
Ÿ Munir a indústria brasileira de competitividade;
Ÿ Buscar a produção especializada;
Ÿ Adoção de tecnologias de vanguarda.
Visando a viabilização do projeto de modernização, foram criados
os Programas de Competitividade Industrial e o Programa Brasileiro de
Qualidade e Produtividade.
Surge uma nova etapa na indústria do país. Houve uma redução
gradativa da participação pública no que chamamos de, segundo Piquet
(p.86): “[...] privatização de empresas e serviços compreendidos na esfera
estatal...” e que inaugurou no país uma fase denominada de inserção
internacional competitiva por meio da modernização da indústria e
eficiência estatal. O Brasil entra assim, na era da globalização.
A política de privatização se sucede com o presidente Itamar Franco
e Fernando Henrique Cardoso, onde na verdade, setores estratégicos da
nossa economia foram transferidos, em condições vantajosas, para o setor
privado ou até para o capital externo. Para compreender melhor, veja na
tabela 4 a quantidade de empresas públicas que foram privatizadas no Brasil
entre 1991 e 2000.

3.7 EM SÍNTESE

O aparecimento da indústria proporcionou a dinamização de


atividades já existentes no mundo moderno. As unidades de produção que
antes não passavam de pequenas fábricas familiares foram sendo
transformadas em manufaturas e mais tarde em grandes indústrias.
A indústria transformou as relações sociais e as máquinas

60
Geografia da Energia e Indústria UAB/Unimontes

Tabela 7 DICAS
Resultados de Dívidas
Setores Total
venda transferidas
Siderúrgico 5.562 2.625 8.187
Conheça os bastidores da
Petroquímico 2.698 1.003 3.701 Indústria no Brasil com Sônia
Mendonça em A
Mineração 3.305 3.559 6.864 Industrialização Brasileira.
Elétrico 24.481 7.510 31.991
Saneamento 699 - 699
Petróleo e Gás 6.037 88 6.125
Telecomunicações 28.675 2.947 31.622
Financeiro 1.508 - 1.508
Transportes 2.320 - 2.320
Participação minoritária 1.110 - 1.110
Outros 1.233 344 1.577

Tota l 77.628 18.076 95.704

Fonte: BNDES: Privatização no Brasil - Resultados & Agenda (em 21 de agosto de 2000).
Citado por Piquet (2007).

funcionaram como um elo no processo produtivo. Elas deram origem a uma


nova concepção de trabalho, pois passavam a exercer a força de trabalho no
lugar do homem e disto originou-se a produção em série, que por sua vez
gerou a intensificação do trabalho e o barateamento dos custos de
produção, aumentando os lucros e fortalecendo a acumulação de capitais.
A indústria nasceu na Inglaterra no século XVIII e se espalhou
rapidamente pelos países do mundo a ponto de ser determinante no que se
refere à classificação de um país em desenvolvido ou não.
A atividade industrial transformou os espaços incentivando o êxodo
rural e por consequência houve o aumento das populações nas cidades. Isto
transformou e ampliou a malha urbana munindo-as de serviços como:
saúde, educação, segurança, comércio, transporte, lazer etc., que antes
eram precários e em alguns casos até inexistentes.
No Brasil, a indústria surgiu a partir da década de 1930, financiada
pela produção excedente da cultura cafeeira. O governo teve uma atuação
fundamental na sua consolidação a partir de financiamentos a setores
estratégicos como matéria-prima e energia. É importante salientar que a
intelectualidade brasileira, desde a primeira metade do século XX,
preocupou-se em debater sobre os rumos da indústria no Brasil.
Porém o tema só foi considerado importante no meio universitário,

61
Geografia Caderno Didático - 3º Período

após 1945, com a publicação de Caio Prado Júnior, História Econômica do


Brasil, em que um capítulo do livro foi dedicado à indústria brasileira.
Assim, o tema passou a ser prioridade nas políticas destinadas a
promover o desenvolvimento do país e em cada governo a indústria
apresentou características específicas, mas que sem dúvida representou
uma importante etapa na economia do Brasil.

REFERÊNCIAS

ANDRADE, Manuel Correia de. Formação do Território Brasileiro. IN:


BECKER, Berta. CRISTHOFOLETTI, Antônio. DAVIDOUCH, Fany R.
GEIGER, Pedro P. Geografia do Brasil e Meio Ambiente no Brasil. Editora
Hucitec. 1995.p. 163-180.

____________. Geografia Econômica. 12ª edição. Atlas. São Paulo. 1998.

BECKOUCHE, Pierre. Tradução Isa Mara Lando. Indústria Um só Mundo.


Editora Ática. São Paulo. 1995.

IANNONE, Roberto Antônio. A Revolução Industrial. 1ª edição. Editora


Moderna. São Paulo. 1992.

MENDONÇA, Sônia. A Industrialização Brasileira. 1ª edição. Editora


Moderna. São Paulo. 1995.

PIFFER, Osvaldo. Mundo Contemporâneo em Transformação. São Paulo


IBEP. 1999.

PIQUETE, Rosélia. Indústria e Território no Brasil Contemporâneo.


Gramond. Rio de Janeiro. 2007.

SCARLATO, Francisco Capuano. O Espaço Industrial Brasileiro. IN: ROSS,


Jurandir L. Sanches (org.). Geografia do Brasil. EDUSP. São Paulo. 1995.

LUCCI, Elian Alabi. BRANCO, Anselmo Lázaro. Geografia Homem &


Espaço. Editora Saraiva. São Paulo. 2005.

____________________. FURLAN, Suely Angelo. Geografia em Verso e


Reverso. Editora Nacional. s/d. São Paulo.

VIEGAS, Silvio. BORBA, Nívea. FONSECA, Noêmia. Abrindo Caminhos


com a Geografia. O Mundo do Eixo Sul. Editora do Brasil. Belo Horizonte.
1999.

62
Geografia da Energia e Indústria UAB/Unimontes

Sites Consultados

http://www.ensp.unl.pt/lgraca/textos123.html

http://futeboldorio.wordpress.com/2008/05/01/dia-do-trabalhador/.

http://www.jumbotti.com.br/jumboInfo.asp?id_lang=1

http://pre-vestibular.arteblog.com.br/82/

http://www.procon.se.gov.br/ver_noticia.php?idnotici...

http://www.santiagosiqueira.pro.br/mapas/mundo/divisao_norte_sul.gif

63
RESUMO

Fontes de Energia:

Combustível Aspectos positivos Aspectos negativos


• Abundante, • Alta emissão de gases de
Carvão economicamente efeito estufa
acessível, uso seguro • Necessita portentosos
• Fácil de transportar e investimentos para
de armazenar desenvolvimento de tecnologias
• Amplamente que reduzam as emissões de
distribuído gases de efeito estufa (GEE) a
níveis aceitáveis
• Extração perigosa
• Alta densidade • Fortemente poluidor da
Petróleo energética atmosfera
• Fácil de transportar e • Preços voláteis
de armazenar • Concentração geográfica das
• Co-evolução da fonte jazidas
energética com os • Produto cartelizado e
equipamentos para seu mercado manipulável
uso • Vulnerabilidade de
interrupção de oferta e
instabilidade geopolítica
• Riscos de transporte e
armazenamento
• Reservas em esgotamento
• Eficiente e conveniente • Produto emissor de gases de
Gás • Combustível multiuso efeito estufa
• Alta densidade • Transporte e armazenamento
energética caro e arriscado
• Requer infra-estrutura cara,
própria e inflexível
• Volatilidade de preços
• Jazidas concentradas
geograficamente
• Produto cartelizado e
mercado manipulável
• Não há emissões de
• Baixa aceitação da sociedade
Energia gases de efeito estufa
• Sem solução para eliminação
Nuclear • Poucas limitações de
dos resíduos
recursos
• Operação arriscada e perigosa
• Alta densidade
• Muito intensivo em capital
energética
• Baixas emissões de • Custos altos
Energia gases de efeito estufa • Fontes intermitentes
Renovável •Sustentabilidade • Distribuição desigual
• Estágio tecnológico inferior às
demais fontes em uso

65
Geografia Caderno Didático - 3º Período

Meio Ambiente, Indústria e Energia

A energia é um dos fatores mais importantes no desenvolvimento


industrial, pois é através delas que se consegue a energia que faz funcionar a
atividade industrial.
A energia pode ser obtida por exploração local ou “importação”.
Um elemento decisivo na escolha da localização de uma indústria era o
consumo energético e seu preço relativo. Quando a diferença entre o preço
relativo na exploração local e na importação for grande, a solução adotada
em termos de localização pode variar, seguindo o maior lucro.
Os países estabelecem um mercado interno/externo diferenciado:
enquanto nos países desenvolvidos a produção tem cotação mais alta, os
países subdesenvolvidos fornecem produtos de baixo valor agregado,
fazendo com que estes últimos tenham menos capital em seu mercado do
que aquele, o que reflete no estilo de vida de suas populações.
Com o advento da economia informacional e da globalização, a
partir dos anos 1980, o sociólogo espanho Manuel Castells entende que
surge uma nova estrutura da DIT. O próprio explica:
“O que chamo de a mais nova divisão internacional do trabalho está
disposta em quatro posições diferentes na economia informacional/global:
produtores de alto valor com base no trabalho informacional; produtores de
grande volume baseado no trabalho de mais baixo custo; produtores de
matérias-primas que se baseiam em recursos naturais; e os produtores
redundante, reduzidos ao trabalho desvalorizado” (CASTELLS, 1999, p.
160)
O que mais chama a atenção neste entendimento conforme o autor
acima citado e contextualizando-o, é que “todos os países são penetrados
pelas quatro posições apontadas”, de forma que “mesmo as economias mais
marginalizadas têm um pequeno segmento de funções direcionais
conectado à rede de produtores de alto valor” e “certamente as economias
mais poderosas têm segmentos marginais de sua população situados em
uma posição de trabalho desvalorizado”.
Assim, não se fala em países que exercem uma função, mas de
“redes e fluxos, utilizando a infra-estrutura tecnológica da economia
informacional”.

Geografia da Energia e da Indústria

Ÿ O uso da energia, ao longo da existência da humanidade tem


sido fundamental para a convivência entre a sociedade humana e o
ambiente.
Ÿ A gestão da energia é uma ferramenta importante para o
desenvolvimento e, também, para o poder.

66
Geografia da Energia e Indústria UAB/Unimontes

Ÿ O aproveitamento e o uso de recursos energéticos é, hoje,


essencial a praticamente todas as atividades humanas como agricultura,
transportes, tecnologia da informação, telecomunicações, entre outros, que
são pré-requesitos de uma sociedade desenvolvida.
Ÿ É preciso lembrar, ainda, que a demanda por energia segue
crescendo desde a Revolução Industrial e isso traz consigo vários problemas,
como por exemplo os ambientais e políticos.
Ÿ Com relação à energia, as indústrias da Primeira e Segunda
Revolução Industrial utilizavam carvão e petróleo, principalmente.
Ÿ A energia pode ser obtida por exploração local ou “importação”.
Um elemento decisivo na escolha da localização de uma indústria era o
consumo energético e seu preço relativo.
Ÿ A importância da indústria advém da sua capacidade de
aglutinar atividades diversas.
Ÿ Estas atividades são importantes fontes geradoras de empregos
que podem ser diretos ou indiretos, que por sua vez fazem a economia girar.
Ÿ Tal fato resulta no fortalecimento do capitalismo, resultando no
desenvolvimento do comércio, transportes e serviços.
Ÿ A partir da segunda metade do século XVIII, a atividade
industrial ganha status cada vez maior no cenário econômico podendo ser
considerada como determinante para classificar o grau de poder de um país.
Ÿ A atividade industrial foi dividida em indústria de bens de
produção e indústria de bens de consumo.
Ÿ Um conjunto de fatores de natureza físico-natural ou
econômico social podem ser considerados determinantes no processo de
distribuição espacial da indústria merecem destaque a disponibilidade de
matéria-prima e a oferta de mão de obra, .
Ÿ É importante salientar que a indústria foi responsável pela
ampliação dos diversos ramos da economia, pois ela apontava para novas
necessidades que precisavam ser atendidas.
Ÿ Nos primórdios do período republicano registrou-se o
nascimento da indústria brasileira propriamente dita, o que significa uma
unidade de fabricação com alto índice de mecanização implantada em uma
sociedade urbana.
Ÿ Característica marcante da indústria brasileira na sua fase inicial
e a sua subordinação ao capital excedente do café.

67
REFERÊNCIAS

BÁSICAS

ALLIS, R. G. (2000). Review of subsidence at Wairakei Field, New Zealand.


Geothermics, 29, 455-478.

ANDRADE, Manuel Correia de. Formação do Território Brasileiro. IN:


BECKER, Berta. CRISTHOFOLETTI, Antônio. DAVIDOUCH, Fany R.
GEIGER, Pedro P. Geografia do Brasil e Meio Ambiente no Brasil. Editora
Hucitec. 1995.p. 163-180.

ARANDA, D. Panorama energético atual e perspectivas futuras.


Disponível em <http://www.biodieselbr.com/energia/agro-energia.htm>.
Acesso em 26 de agosto de 2009.

BECKOUCHE, Pierre. Tradução Isa Mara Lando. Indústria Um só Mundo.


Editora Ática. São Paulo. 1995.

CASTELLS, M. A sociedade em rede – A era da informação: economia,


sociedade e cultura. 6.ed. São Paulo: Paz e Terra, 1999.

GOLDEMBERG, J. VILLANUEVA, L. D. Energia, Meio Ambiente e


Desenvolvimento. 2.ed rev. São Paulo: EDUSP, 2003.

IANNONE, Roberto Antônio. A Revolução Industrial. 1ª edição. Editora


Moderna. São Paulo. 1992.

____________. Geografia Econômica. 12ª edição. Atlas. São Paulo. 1998.

MENDONÇA, Sônia. A Industrialização Brasileira. 1ª edição. Editora


Moderna. São Paulo. 1995.

PIFFER, Osvaldo. Mundo Contemporâneo em Transformação. São Paulo


IBEP. 1999.

PIQUETE, Rosélia. Indústria e Território no Brasil Contemporâneo.


Gramond. Rio de Janeiro. 2007.

SCARLATO, Francisco Capuano. O Espaço Industrial Brasileiro. IN: ROSS,


Jurandir L. Sanches (org.). Geografia do Brasil. EDUSP. São Paulo. 1995.

TOLMASQUIM, M. T. (coord.). Alternativas energéticas sustentáveis no


Brasil. Rio de Janeiro: Relume Dumará: COOPE: CENERGIA, 2004.

69
Geografia Caderno Didático - 3º Período

COMPLEMENTARES

LUCCI, Elian Alabi. BRANCO, Anselmo Lázaro. Geografia Homem &


Espaço. Editora Saraiva. São Paulo. 2005.

____________________. FURLAN, Suely Angelo. Geografia em Verso e


Reverso. Editora Nacional. s/d. São Paulo.

VIEGAS, Silvio. BORBA, Nívea. FONSECA, Noêmia. Abrindo Caminhos


com a Geografia. O Mundo do Eixo Sul. Editora do Brasil. Belo Horizonte.
1999.

SUPLEMENTARES

BRANCO, S. M. O Meio Ambiente em Debate. São Paulo: Moderna, 1988.

CHIAVENATO, J. J. O Massacre da Natureza. São Paulo: Moderna, 1989.

COIMBRA, P.; TIBÚRCIO, J. A. M. Geografia: Uma Análise do Espaço


Geográfico. São Paulo: Harbra, 1995.

SITES CONSULTADOS

www.ensp.unl.pt/lgraca/textos123.html

http://futeboldorio.wordpress.com/2008/05/01/dia-do-trabalhador/.

www.jumbotti.com.br/jumboInfo.asp?id_lang=1

http://pre-vestibular.arteblog.com.br/82/

www.procon.se.gov.br/ver_noticia.php?idnotici...

www.santiagosiqueira.pro.br/mapas/mundo/divisao_norte_sul.gif

70
ATIVIDADES DE
APRENDIZAGEM
AA

1) Reflita sobre o fragmento apresentado:


O ato de transformar a matéria-prima em produto elaborado
transformou a realidade da população no século XIX, pois originou as
máquinas que, por sua vez, modificou as relações de trabalho nas áreas
urbanas.

a) Tente imaginar o mundo sem produtos industrializados.


b) Na sua visão como seria a vida das pessoas?
Ÿ Como elas iriam conservar os alimentos?
Ÿ E a locomoção?
c) Agora escreva um pequeno parágrafo sobre suas reflexões.
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2) Observando o quadro sobre as principais inovações da Revolução


Industrial, monte uma linha de tempo sobre a influência da revolução
industrial na vida contemporânea.
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71
Geografia Caderno Didático - 3º Período

3) Avaliando a forma como a indústria interfere na produção do espaço faça


uma análise da urbanização ocorrida no Brasil após o advento da indústria.
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______________________________________________________________
______________________________________________________________
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4) Baseando-se na atuação das multinacionais,analise a ilustração abaixo e


redija suas impressões.

5) A opulência e o arroubo da indústria protagonizado por JK trouxeram


graves consequências à nossa economia. À luz desta afirmativa enumere os
prejuízos sociais e econômicos da era JK.
______________________________________________________________
______________________________________________________________
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______________________________________________________________
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______________________________________________________________

72
Geografia da Energia e Indústria UAB/Unimontes

6) Com base nas afirmativas abaixo assinale como verdadeiro ou falso:

a) ( ) Quanto maior o desenvolvimento tecnológico de um parque industrial,


menor será a sua emissão de poluentes.
b) ( ) O setor quaternário é composto do comércio em áreas pobres, que não
exige qualificação e, portanto, não pode ser enquadrado no setor terciário.
c) ( ) As energias renováveis são alternativas ao modelo tradicional tanto por
sua disponibilidade atual e futura garantida, por causarem menos danos ao
ambiente.
d) ( ) São também chamados de combustíveis minerais, os combustíveis
fósseis que são substâncias em cuja composição existe pouca quantidade de
carbono.

7) O que é preciso para que uma fonte de energia seja considerada


renovável?
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8) Por que o petróleo confere tanto poder àqueles que detêm suas fontes de
exploração?
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______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________

9) Quais são as áreas que mais utilizam energia? (Responda contrapesando


desenvolvimento e população, não em razão de área geográfica)
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______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________

73
Geografia Caderno Didático - 3º Período

10) No que se refere a fontes de energia relacione a 2ª coluna pela 1ª.


1. Carvão mineral
2. Petróleo
3. Biogás
4. Etanol
5. Energia Nuclear

( ) É a energia contida no núcleo dos átomos.


( ) É um álcool produzido a partir da cana-de-açúcar, milho, beterraba e
mandioca.
( ) Trata-se de um produto oleoso, escuro e viscoso constituído de uma
mistura de diversos compostos químicos.
( ) É originada da decomposição de restos de grandes quantidades de
vegetais soterrados na era Paleozóica.
( ) É obtido a partir da fermentação por bactérias, do lixo orgânico,
resultando o gás metano.

74

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