Você está na página 1de 13

ESPAÇO PARA DEUS

Vivendo uma vida espiritual em meio as agitações da vida moderna

A VIDA
DE JESUS
Aula 5

Cada detalhe da vida de Jesus é precioso para aqueles que


buscam viver uma vida espiritual. Todas as suas palavras
e ações, narradas nos Evangelhos, são como manuais que
instruem o cristão sobre o modo correto de viver. Em sua
trajetória terrena não houve excesso ou escassez, ele viveu
uma vida perfeita, completa e plena. Seu último suspiro
na cruz encerrou um ciclo de trinta e três anos na terra,
um curto período, mas poderoso o suficiente para dividir
a história e mudar para sempre o destino da humanidade.
Portanto, estão contidos nos Evangelhos relatos da história
mais importante de todos os tempos, cada um de seus
capítulos revelam o amor e a glória de Deus. Cada passo
da vida santa e justa que Jesus viveu na terra é como uma
bússola que guia os cristãos no caminho da santidade.
Sendo assim, é necessário que os filhos de Deus submetam
suas vidas ao Espírito de Jesus Cristo.

47
ESPAÇO PARA DEUS
Vivendo uma vida espiritual em meio as agitações da vida moderna

Uma vida no Espírito de Jesus Cristo diz respeito a uma vida


plena e integral, sendo um contraste da realidade fragmen-
tada na qual o homem moderno vive. Fato este que se dá
pelas diversas ocupações e preocupações às quais subme-
tem suas vidas. Por mais que as muitas ocupações impostas
pelo mundo contemporâneo possam afastar o homem de
seu propósito eterno, é importante ressaltar que a missão
de Jesus nunca foi livrar o homem de suas ocupações.
Cristo veio mostrar com sua própria vida que é possível
ocupar-se de atividades sem estar imerso no tenebroso mar
das preocupações, ou seja, veio mostrar ao mundo a possi
bilidade de viver uma vida integral e plena, livre das preocu-
pações, ainda que imerso em ocupações. Como vimos nas
aulas anteriores, as preocupações conduzem a humanidade
a uma nociva sensação de fragmentação e é desse lugar que
Jesus quer tirar o homem.
Nesta aula teremos como foco a vida de Jesus, analisaremos
o relacionamento entre Pai e Filho, buscando compreender
a obediência e confiança demonstradas por ele até as últimas
consequências. Ao olhar para a vida de Jesus é possível
aprender a viver de forma plena e integral, livre das preocu-
pações, mesmo que em meio às muitas ocupações.

O EXEMPLO DE JESUS
Os trinta e três anos de Jesus na terra revelaram que as ocu-
pações não são o foco do problema da humanidade, pois
Jesus andava extremamente ocupado, curando, ensinan-
do, orando, expulsando demônios e ainda assim era ple-
namente livre da fragmentação. Uma pessoa ocupada não
é necessariamente alguém fragmentado, muitas vezes o
contrário é verdadeiro, pois é comum que o sentimento de
fragmentação se destaque no ócio. O problema está contido
no fato de que os barulhos gerados pelas preocupações

48
ESPAÇO PARA DEUS
Vivendo uma vida espiritual em meio as agitações da vida moderna

acabam por abafar a voz de Deus, e a sua voz é a única


capaz de conduzir o homem do desespero da incompletude
para a paz. Segundo John Locke¹, as preocupações possuem
o poder de escravizar e controlar as mentes. Portanto, a
mensagem de Jesus vai de encontro a um interior abarro-
tado de preocupações, convertendo esse mal em confiança
e satisfação em Deus, para que dessa forma o homem este-
ja habilitado a viver a vida integral e plena, proposta pelo
evangelho.
É possível ler nos Evangelhos a respeito das diversas ocu-
pações com as quais Jesus lidou durante seu ministério
terreno. Ele era, de fato, um homem muito ocupado, veja-
mos no texto a seguir:
“Quando anoiteceu, depois que o sol se pôs, trouxe-
ram-lhe todos os doentes e endemoninhados; e toda
a cidade estava reunida à porta da casa. E ele curou
muitos doentes acometidos de diversas enfermidades
e expulsou muitos demônios; mas não permitia que os
demônios falassem, porque eles sabiam quem ele era.
De madrugada, ainda bem escuro, Jesus levantou-se,
saiu e foi a um lugar deserto; e ali começou a orar.
Então Simão e seus companheiros saíram para pro-
curá-lo e, quando o encontraram, disseram-lhe: Todos
te procuram. Jesus lhes respondeu: Vamos a outros
lugares, aos povoados vizinhos, para que também
eu pregue ali, pois foi para isso que vim. Foi, então,
por toda a Galileia, pregando nas sinagogas deles e
expulsando os demônios.” (Mc 1.32-39)

Mesmo após doar sua energia em prol da cura de uma


cidade inteira e ter sido perturbado em seu momento de in-
timidade com Deus, Jesus não hesitou em abraçar a próxima
ocupação, revelando a calma e a plenitude de um coração
satisfeito. Jesus raramente era deixado a sós, a missão que

1 John Locke (1632-1704): Filósofo inglês conhecido como o “ pai do liberalismo”.

49
ESPAÇO PARA DEUS
Vivendo uma vida espiritual em meio as agitações da vida moderna

veio desempenhar na terra era extensa e exaustiva, e ele era


o único capaz de solucionar as necessidades do povo que
clamava por auxílio. Porém, mesmo diante do quadro das
penosas ocupações, Jesus mantinha-se calmo e tranquilo.
O segredo da plenitude e tranquilidade encontradas em
Jesus, pode ser comparado a uma semente que lançada
sozinha na terra recebe dela todos os nutrientes para se
desenvolver, enquanto lançada com outras sementes divi
dirá com elas os nutrientes. Assim como a semente sozinha
se desenvolve com o máximo de nutrientes possíveis, no
interior de Jesus germina apenas uma semente, fazer a
vontade do Pai. Esse era o segredo da sua plenitude e tran-
quilidade.
Em João, capítulo 4, Jesus revela mais uma vez um coração
profundamente saciado. Essa passagem narra seu diálogo
com a mulher samaritana no poço de Jacó. Após ter gastado
suas energias derramando virtude nas palavras proféticas
que liberou ao coração daquela mulher, Jesus é convidado
pelos discípulos a saciar a sua fome. É evidente que o corpo
de Jesus necessitava de alimento, uma vez que havia gastado
sua vitalidade, porém, quando o alimento lhe é oferecido,
ele faz uma afirmação que revela o segredo de seu coração
suave e pleno:
“A minha comida é fazer a vontade daquele que me
enviou e completar a sua obra.” (Jo 4.34)

A saciedade de Jesus não estava contida na satisfação de


suas necessidades básicas, mas em fazer a vontade do Pai.
A tranquilidade de seu caráter não era transgredida com a
privação de alimento ou sono, ausências que alteram drasti-
camente o humor de boa parte dos homens. O seu alimento
e descanso encontravam-se em cumprir os desejos daquele
que o havia enviado. Jesus fazia apenas o que via o Pai fazer.
O relacionamento com Deus era a chave que o capacitava a

50
ESPAÇO PARA DEUS
Vivendo uma vida espiritual em meio as agitações da vida moderna

cumprir sua missão de maneira suave e tranquila, mesmo


ciente dos sofrimentos que lhe aguardavam. Nas passagens
bíblicas abaixo é possível perceber a importância que Jesus
atribuía ao seu relacionamento com Deus:
“Ele lhes respondeu: Por que me procuráveis? Não
sabíeis que eu devia estar na casa de meu Pai?” (Lc
2.49)

“E disse-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo


que o Filho nada pode fazer por si mesmo, senão o
que vir o Pai fazer; porque tudo quanto ele faz, o Filho
faz também.” (Jo 5.19)

“Se não faço as obras de meu Pai, não creiais em


mim.” (Jo 10.37)

“Quem não me ama não obedece às minhas palavras.


A palavra que estais ouvindo não é minha, mas do Pai
que me enviou.” (Jo 14.24)

“Então, exclamando em alta voz, Jesus disse: Pai, nas


tuas mãos entrego o meu espírito. E, dizendo isso,
expirou.” (Lc 23.46)

Jesus não era uma espécie de fanático que buscava divulgar


o seu próprio ministério e obras, tampouco alcançar me-
tas impostas por ele. Seu único foco era fazer a vontade de
Deus; Jesus veio à terra para obedecer ao Pai e por meio
de sua vida mostrar à humanidade a possibilidade de viver
uma vida plena, fruto de um relacionamento vivo com Deus,
mesmo que experimentada em dores, sofrimentos e mui-
tas ocupações. Como afirma Jônathas Braga (1908-1978)²,
de maneira poética “[...] Ele se deu em oferenda, para que
o pecador assim aprenda a segui-lo através desses caminhos
[...]”. Vejamos a poesia na íntegra:

2 Jônathas Braga: Poeta brasileiro (1908-1978)

51
ESPAÇO PARA DEUS
Vivendo uma vida espiritual em meio as agitações da vida moderna

O Rei dos Reis


Depois de andar por todos os caminhos,
Aos homens ensinando a boa senda,
Jesus teve por trono a cruz tremenda,
E por diadema uns ásperos espinhos.
Todos lhe foram fúteis e mesquinhos,
Porém ele se deu em oferenda,
Para que o pecador assim aprenda
A segui-lo através desses caminhos.
Porque na sua voz havia o encanto
Das melodias de um saltério santo,
Vibrando junto ao nosso coração...
E, Rei dos reis, morreu como um cordeiro,
A fim de assegurar ao mundo inteiro
Um reino de perpétua duração.

Jesus andou na terra cumprindo cada uma de suas obrigações


de maneira plena e tranquila, pois tudo que fazia era fruto
de seu relacionamento com o Pai, e é por esse caminho de
plenitude que ele quer conduzir o homem. Esse é o segredo
que veio desvendar, ele abriu o caminho e convida os filhos
de Deus a assumirem sua cruz e segui-lo.

OBEDIÊNCIA
O significado de obediência para Jesus tem, por vezes, uma
conotação diferente para o resto dos homens. É comum que
essa palavra seja associada à opressão imposta por figuras de
autoridade, que utilizam de suas funções para obter de seus
liderados obediência e lealdade forçadas. Quase todos os
homens já foram feridos por figuras de autoridade, fato que
justifica a atribuição de um significado negativo à palavra
obediência. Mas, para Jesus, obedecer não era um verbo im-
buído de conotação negativa, ele não era alguém que estava

52
ESPAÇO PARA DEUS
Vivendo uma vida espiritual em meio as agitações da vida moderna

na terra por obrigação, de maneira forçada e carrancuda,


antes era determinado a não seguir seus próprios desejos
para realizar apenas a vontade do Pai. Jesus era, na verdade,
alguém pleno e satisfeito, sua obediência era resultado do
relacionamento entre ele e o Pai. Por meio desse relaciona-
mento Jesus foi capacitado a cumprir sua missão na terra,
pois o amor que fluía entre os dois era forte o suficiente para
manter o interior de Jesus plenamente satisfeito. Na relação
entre o Pai e o Filho não existe reservas, informações retidas
ou poder negado, pois o Pai está aberto e compartilha tudo
com o Filho, como podemos ver nos versículos abaixo:

1. Poder
“E disse-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo
que o Filho nada pode fazer por si mesmo, senão o
que vir o Pai fazer; porque tudo quanto ele faz, o Filho
faz também. Porque o Pai ama o Filho e mostra-lhe
tudo o que ele mesmo faz; e lhe mostrará obras
maiores que estas, para que vos admireis. Pois, assim
como o Pai ressuscita os mortos e concede-lhes vida,
assim também o Filho concede vida a quem ele quer.”
(Jo 5.19-21)

2. Glória
“Jesus respondeu: Se eu glorificar a mim mesmo, a
minha glória não tem valor. Quem me glorifica é meu
Pai, do qual dizeis ser o vosso Deus.” (Jo 8.54)

3. Conhecimento
“E sei que o seu mandamento é vida eterna. Assim, o
que eu falo é exatamente o que o Pai me ordenou.”
(Jo 12.50)

“Vim do Pai para o mundo; outra vez deixo o mundo e


vou para o Pai.” (Jo 16.28)

53
ESPAÇO PARA DEUS
Vivendo uma vida espiritual em meio as agitações da vida moderna

O Filho recebe amor, poder, glória e conhecimento do Pai


e em uma ação voluntária devolve a ele todas essas coisas.
O amor que existe entre os dois não tem a ver meramente
com bons sentimentos, mas com o compromisso, fidelidade
e aliança existente entre eles. A dimensão desse amor é tão
forte e desmedida que se torna em uma Pessoa, o terceiro
integrante da trindade. O amor resultante do relacionamen-
to entre Pai e Filho é o próprio Espírito Santo.
Santo Agostinho nos dá essa compreensão a respeito da
Trindade, segundo ele há nas três Pessoas divinas: aquele
que ama (Pai), o que é amado (Filho) e o amor (Espírito
Santo). De acordo com Sergei Boulgakov (1996):
Santo Agostinho faz uma verdadeira descoberta trin-
itária estranha à teologia grega, a saber, a Trindade
Santa considerada como Amor. Realça, além disso,
a especial significação da Terceira hipóstase, exa
tamente como amor, como vínculo de amor, amor
ou dilectio. (...) Esta beatitude do amor na Trindade,
consolação do Paráclito, é o Espírito Santo. Em toda
a literatura patrística, é apenas em Agostinho que
encontramos este esquema de amor: o que ama, o
amado e o próprio amor. Ele compreendeu a Terceira
hipóstase como Amor hipostático e é isto que constitui
a importância perene da sua teologia trinitária.³

E é nesse relacionamento de amor que Jesus nos convida


a adentrar, nessa dança da Trindade, chamada Pericorese4,
onde Pai, Filho e Espírito Santo se entrelaçam em perfeita
harmonia. A obediência do Filho é resultado desse relacio-
namento.
Segundo Christopher Walker (2015)5, por mais que Jesus,
enquanto indivíduo, possuísse vontade própria, essa

3 BULGAKOV,Sergei Nikolaevich. Le Paraclet, Paris, L’ ge d’Homme, 1996, pp. 49.74 apud AGOSTINHO.De Trinitate,
Livros IX – XIII. Universidade da Beira Interior, Covilhã, 2008. pp 38, 39, grifo nosso.
4 PERICORESE: Relação interpenetrada entre as hipóstases (pessoas) da Trindade. Muitos se referem a pericorese
como sendo a dança da Trindade, uma dança dinâmica que envolve movimento contínuo.
5 WALKER, Christopher. A dança da Trindade. Americana: Impacto Publicações, 2015, p 26,27

54
ESPAÇO PARA DEUS
Vivendo uma vida espiritual em meio as agitações da vida moderna

vontade não o dominava. Cristo enfatizou em vários


momentos que não veio à terra para fazer a sua vontade, mas
a do Pai. Outro ponto sobre Jesus é que, mesmo possuindo
vontade própria, não era um grande sacrifício fazer a von-
tade de Deus, para ele obedecer não era penoso nem difícil.
Cristo envolvia suas emoções e anseios aos desejos de Deus
de maneira voluntária. A salvação por intermédio de Jesus
não se deu apenas pelas coisas que ele fez, mas por tê-las
feito em obediência ao Pai. Portanto, concluímos que o fato
mais importante da vida de Jesus é a sua obediência, e não
apenas as maravilhosas obras feitas por suas mãos.
Paulo, em Romanos 5, mostra todo o peso de importân-
cia atribuído à obediência de Cristo, contrastando-a com o
catastrófico resultado da desobediência de Adão:
“Porque, assim como pela desobediência de um só
homem muitos foram feitos pecadores, assim também
pela obediência de um só muitos serão feitos justos.”
(Rm 5.19)

Portanto, é possível dizer que tudo resulta da obediência ou


desobediência a Deus, por mais que tal pensamento pareça
simplório, essa é a realidade, uma verdade simples e real.
Não existe meio termo quando se trata da vida com Deus,
ou o homem anda em um caminho de obediência ao Pai,
como Jesus andou, ou caminha pela estrada da desobediên-
cia, o que o levará à fragmentação e à morte.

CONFIANÇA
O relacionamento de amor entre Pai e Filho capacitou Jesus
a viver uma vida de obediência. Por ter mantido seu coração
conectado ao de Deus, ele pôde viver uma vida perfeita, ple-
namente satisfeita e tranquila, livre de preocupações. Sendo
assim, com base no amor e confiança que fluíam dessa co-
munhão trinitária, ele se entregou em completo abandono à

55
ESPAÇO PARA DEUS
Vivendo uma vida espiritual em meio as agitações da vida moderna

providência divina. Ele tinha total consciência de que estava


nas mãos do seu Pai, aquele que sustenta o Universo com
a palma de suas poderosas mãos e, por isso, se entregou à
justiça e cuidados dele. Vejamos:
“Ele não cometeu pecado, nem engano algum foi
achado na sua boca; ao ser insultado, não retribuía
o insulto, quando sofria, não ameaçava, mas entre-
gava-se àquele que julga com justiça.” (1 Pe 2.22,23)

A calma e paz vistas em Jesus eram resultado da consciên-


cia de que ele estava nas mãos de Deus. Estar imerso nessa
realidade é uma das maiores preciosidades que podem
resultar da vida com Deus, ou seja, a consciência de estar
sob o domínio soberano de Deus, entendendo que nada
escapa de suas mãos, é uma grande dádiva. Esse é um dos
fatos que justificam a obediência sem limites de Jesus, ele
estava completamente ciente de que todos os seus passos eram
sustentados pelo Rei do Universo.
Jesus experimentou uma certa tensão e angústia quando
estava no Getsêmani. Nesse episódio sua alma se afligia com
o iminente fim da sua missão. Aproximava-se o momento
em que se tornaria maldição em favor da humanidade. To-
davia, mesmo em meio à profundidade de seus sofrimentos,
Jesus encontrou em Deus o alívio de suas angústias e se en-
tregou em obediência. Vejamos:
“Então Jesus foi com os discípulos a um lugar chama-
do Getsêmani e disse-lhes: Sentai-vos aqui, enquanto
vou ali orar. E levando consigo Pedro e os dois filhos
de Zebedeu, começou a entristecer-se e a angusti-
ar-se. Então ele lhes disse: A minha alma está tão triste
que estou a ponto de morrer; ficai aqui e vigiai comi-
go.” (Mt 26.36-38)

Jesus estava completamente ciente de que não existia nada


nem ninguém fazendo mal a ele, uma vez que sua vida es-
tava nas mãos de Deus. Cada ofensa, insulto ou injustiça

56
ESPAÇO PARA DEUS
Vivendo uma vida espiritual em meio as agitações da vida moderna

cometidas contra o Filho de Deus não estavam fora do


controle, Deus tinha a vida de Jesus em suas mãos, portanto,
não havia motivos para lamentações ou vitimizações. E é
por meio dessa percepção que ele logo rompeu a frontei-
ra da angústia e prosseguiu rumo ao cumprimento de sua
missão na Terra. A grande verdade é que foi do agrado de
Deus moer a Cristo e capacitá-lo a concluir sua missão:
“Contudo, foi da vontade do SENHOR esmagá-lo e
fazê-lo sofrer; apesar de ter sido dado como oferta
pelo pecado, ele verá a sua posteridade, prolongará
os seus dias, e a vontade do SENHOR prosperará nas
suas mãos.” (Is 53.10)

Para Jesus era clara a visão de que sua vida era regida por
aquele que detém todo o poder, isso o levava a descansar
na verdade de que nenhuma dor ou alegria escapavam do
domínio de Deus. Nada escapa do controle daquele que
tudo criou e não foi criado, portanto, não existem motivos
para se aborrecer com as injúrias sofridas, uma vez que elas
só existem com a permissão de Deus, aquele que é justo e
fiel. A justiça humana é deturpada, ela foi ferida pelo peca-
do, portanto, o único capaz de julgar e conduzir todas as
situações é o próprio Deus. A compreensão correta a res-
peito dessa verdade é a chave capaz de conduzir o homem à
paz e tranquilidade experimentadas por Jesus.
Temos na Bíblia o exemplo de Jó, homem reto e justo que,
por permissão de Deus, foi afligido em todas as áreas de sua
vida por Satanás. Jó teve sua saúde, família e bens afetados
para que sua lealdade a Deus fosse testada. Satanás almeja-
va, por meio do sofrimento imputado a Jó, provar que sua
lealdade era falsa. Dessa fascinante história, retratada de
maneira poética e profunda, vale a pena destacar um tre-
cho em que Deus exorta a Jó, quando este debate com seus
amigos a respeito do sofrimento dos inocentes. Deus inter-
vém dizendo:
57
ESPAÇO PARA DEUS
Vivendo uma vida espiritual em meio as agitações da vida moderna

“Quem é este que obscurece o conselho com palavras


sem conhecimento? Agora prepara-te como homem;
porque te perguntarei, e tu me responderás. Onde
estavas tu, quando eu lançava os fundamentos da
terra? Conta-me, se tens entendimento.” (Jó 38.2-4).

Deus está reafirmando o fato de que ele é poderoso e tem


o domínio de todas as situações, portanto, não cabe ao
homem julgar o sofrimento alheio, tampouco o seu. Outro
ponto importante a se destacar é que, ao mesmo tempo em
que nele está concentrado todo o poder, também está con-
centrado nele toda a bondade.
“Jesus lhe perguntou: Por que me chamas bom? Nin-
guém é bom, senão um, que é Deus.” (Mc 10.18)

Deus é poderoso e bom, verdade vista por muitos como


irreal. Os questionamentos a respeito da bondade de Deus
são inúmeros, pois ao se deparar com os sofrimentos pre-
sentes no mundo, a humanidade acaba por desconsiderar
que a bondade e poder de Deus são características síncro-
nas. Parece difícil aos homens conviver com a ideia de que
um Deus bom e poderoso consiga permitir os sofrimentos
nos quais padece a humanidade. Mas, como dito anterior-
mente, Deus é justo, bom e todo poderoso, nenhuma des-
sas qualidades são excludentes. Não confiar na bondade de
Deus é, por vezes, a raiz dos pecados, pois torna-se difícil
submeter-se em amor à vontade de quem governa o mundo
com injustiça.
Por mais que a Bíblia afirme a bondade de Deus a todo mo-
mento, por mais que os santos do passado tenham escri-
to a respeito dessa verdade e por mais que existem inúme
ros sermões e livros na atualidade sobre o tema, essa é uma
certeza que apenas o relacionamento com ele pode trazer.
Ninguém é capaz de imputar no coração do outro a con-
fiança na bondade de Deus, apenas ele pode convencer os

58
ESPAÇO PARA DEUS
Vivendo uma vida espiritual em meio as agitações da vida moderna

seus filhos sobre o fato de que as suas misericórdias se ren-


ovam a cada dia e que sua bondade extrapola os limites da
compreensão humana. Apenas o relacionamento com Deus,
caminho que Jesus ensinou com maestria, pode converter
corações desconfiados em corações que se entregam em
confiança à bondade e providência divina.

CONCLUSÃO
O anseio de Deus é que o homem se submeta à sua von-
tade, mas ele não deseja uma obediência desassociada da
confiança plena nele. Ele anseia por uma obediência que
seja fruto da fé, que venha como resposta à confiança em
sua bondade e amor. Deus não quer oprimir ou tolher a
liberdade do homem, o caminho que propõe é de alegria
e plenitude. A vida no Espírito de Jesus corresponde a essa
vida de plena liberdade e satisfação em Deus, livre das frag-
mentações, essa é a vida que nossa alma tanto anseia. Cada
um dos passos de Jesus na terra revelaram a vida de alguém
que se entregou em confiança à providência divina, alguém
que não questionava a bondade de Deus e que, por andar
sobre essa realidade, foi capaz de viver uma vida tranquila
e inteira, mesmo em meio ao mar das ocupações. Jesus, por
meio de seu exemplo, quer ensinar aos homens que a vida
que Deus propõe é uma vida eterna, inteira e que sua vonta-
de é boa, perfeita e agradável. Confiar na bondade de Deus
é o descanso e paz que a alma humana tanto anseia.

59

Você também pode gostar