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UNIOESTE – UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ

CECE – CENTRO DE ENGENHARIAS E CIÊNCIAS EXATAS


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO “STRICTO SENSU” EM
ENGENHARIA QUÍMICA – NÍVEL DOUTORADO

MÉTODOS E TECNOLOGIAS PARA O TRATAMENTO E


INDUSTRIALIZAÇÃO DE RESÍDUOS (Estudo de caso: SUINOCULTURA)

TOLEDO – PARANÁ

ABRIL/2019
JÉSSICA CAROLINE ZANETTE BARBIERI

MÉTODOS E TECNOLOGIAS PARA O TRATAMENTO E


INDUSTRIALIZAÇÃO DE RESÍDUOS (Estudo de caso: SUINOCULTURA)

Trabalho apresentado ao Programa de


Pós-Graduação em Engenharia Química
em cumprimento parcial aos requisitos da
disciplina de Processamento de Resíduos
ministrada pelo Prof. Dr. Camilo Freddy
Mendoza Morejon.
Orientadora: Profª. Dra. Márcia Teresinha
Veit.

TOLEDO – PR / BRASIL

Abril/2019
1 GENERALIDADES

Durante muitos anos, os resíduos, como a própria etimologia da palavra exibe,


foram tratados simplesmente como produtos remanescentes das atividades de
transformação, sendo acondicionados ou descartados da forma menos dispendiosa do
ponto de vista econômico, ou seja, muitas vezes sem receber tratamento algum.

Com a virada do século a questão ambiental passou a ganhar importância e os


ideais de sustentabilidade passaram a ter força de lei, as novas legislações ambientais
exigem o tratamento das diferentes formas de resíduos.

Para se garantir a melhor forma de tratamento dos resíduos, do ponto de vista


econômico e da eficiência, faz-se necessário um estudo das fontes geradoras do resíduo,
possibilitando assim um melhor entendimento a respeito do resíduo que advém daquela
atividade, e também da caracterização do resíduo, sendo assim possível um melhor
entendimento quanto ao tratamento necessário, destinação final ou possíveis
oportunidades de reaproveitamento e valoração do resíduo.

Este trabalho tem por objetivo apresentar os métodos e tecnologias para o


tratamento de um resíduo proveniente de alguma atividade de transformação. Para estre
trabalho a atividade de transformação abordada será a suinocultura.

2 FUNDAMENTAÇÃO

Segundo a EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), a carne


suína consolidou-se como a mais importante fonte de proteína animal do mundo após
1978. A produção mundial cresceu 3,1% nos últimos 50 anos, sendo que neste período,
a produção foi avaliada em 75,2 milhões de toneladas. Para o ano de 2007 estimava-se
uma produção mundial de 99,9 milhões de toneladas.

Segundo dados do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) o


Brasil é o quarto maior produtor mundial de carne suína atualmente, a produção
nacional em 2013 foi de 3,3 milhões de toneladas, mais de 3 milhões de toneladas acima
do volume registrado há 50 anos. Embora o país tenha mostrado um crescimento
considerável em poucos anos, os maiores produtores estão muito acima desta
quantidade. A produção chinesa, maior do mundo, foi de 54,9 milhões de toneladas, a
da União Europeia totalizou 22,3 milhões de toneladas, e a dos Estados Unidos, 10,5
milhões de toneladas para o mesmo ano de 2013.

Atualmente, a região Sul do Brasil detém a maior parcela da produção nacional.


Segundo a Pesquisa Pecuária Municipal de 2013 do IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística), o rebanho dessa região foi da ordem de 17,9 milhões de
cabeças, o que corresponde a 49% do total nacional. Se considerada apenas a
suinocultura industrial, essa participação deve ser ainda maior.

O Paraná tem o terceiro maior rebanho de suínos do Brasil, superado apenas


pelos outros dois estados da região Sul, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Considerando levantamento realizado em 2011, o Paraná representa uma fatia de 13,9%
na participação da suinocultura do país, e crescimento de 6,91% em relação a 2010. No
Paraná, avaliando o mesmo período, os maiores núcleos regionais na criação de suínos
são os municípios de Toledo e Cascavel, que somados representam 53,8% de todo o
rebanho de suínos do estado.

A produção de suínos, via de regra, segue um modelo padrão. Os porcos são


dispostos em currais de criação conhecidos como “chiqueiros”. Estes chiqueiros
geralmente são constituídos de baias, sendo o tamanho destas proporcional ao número
de animais que se pretende criar em cada uma, e também do período de criação em que
o animal se encontra. Nestas baias os animais são alimentados e hidratados, sendo que o
alimento fica disposto ao alcance da boca, e realizam suas atividades fisiológicas na
própria baia. Os chiqueiros devem ser climatizados, geralmente dispõem de grandes
janelas para garantir uma boa ventilação, que são fechadas por um sistema de lonas
durante dias frios, e de sistemas de gotejamento de água nas baias para diminuição da
temperatura destas em dias quentes. Alguns chiqueiros dispões de alto-falantes
reproduzindo música, pois acredita-se que os animais relaxam ao som de música
ambiente. Como os animais realizam suas necessidades fisiológicas na própria baia,
pelo menos uma vez ao dia estas passam por um processo de higienização, que consiste
basicamente de realizar a raspagem das fezes e da urina para uma espécie de ralo.
3 ESTUDO DE CASO

Do ponto de vista da geração de resíduos pode-se mencionar dois principais


tipos, os resíduos sólidos e os resíduos líquidos. Os resíduos sólidos podem ser
identificados como a carcaça de animais mortos durante o período de criação,
geralmente pelas condições climáticas inadequadas ou por alguma doença, e as fezes em
estado sólido. O resíduo líquido pode ser identificado como a mistura entre água, urina e
fezes que se forma no momento em que a higienização das baias é realizada. A
raspagem deteriora as fezes, fazendo com que estas se misturem a urina e a água,
formando um resíduo líquido concentrado. Este trabalho foca neste resíduo específico.

Segundo dados da EMBRAPA, a quantidade total de fezes produzida por um


suíno varia de acordo com o seu período de desenvolvimento, mas apresenta valores
decrescentes de 8,5 a 4,9% em relação a seu peso vivo/dia para a faixa de 15 a 100 kg.
Cada suíno adulto produz em média 7 - 8 litros de dejetos líquidos/dia ou 0,21 - 0,24 m 3
de dejetos/mês. Os dejetos podem apresentar grandes variações em seus componentes,
dependendo do sistema de manejo adotado e, principalmente, da quantidade de água e
nutrientes em sua composição, conforme Tabela 1.

Tabela 1 – Composição química média dos dejetos suínos obtida pela EMBRAPA

O resíduo líquido contém matéria orgânica, nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio,


sódio, magnésio, manganês, ferro, zinco, cobre e outros elementos incluídos nas dietas
dos animais.
A problemática dos resíduos oriundos da suinocultura está relacionada a sua
capacidade poluente, em termos comparativos, a capacidade poluente dos dejetos suínos
é muito superior que a de outras espécies. Utilizando o conceito de equivalente
populacional um suíno, em média, equivale a 3,5 pessoas. (LINDNER, 1999). Ou seja,
uma propriedade de criação que conte com 600 animais possui um poder poluente
semelhante ao de um núcleo populacional de aproximadamente 2100 pessoas.

Caso seja realizado o lançamento direto deste resíduo nos cursos de água, sem o
devido tratamento, pode-se desencadear desequilíbrios ecológicos e poluição em função
da redução do teor de oxigênio dissolvido na água, disseminação de patógenos e
contaminação das águas potáveis com amônia, nitratos e outros elementos tóxicos. Os
principais constituintes deste resíduo que afetam as águas superficiais são matéria
orgânica, nutrientes (nitratos, potássio e fósforo), bactérias fecais e sedimentos.

Diante do exposto, fica claro que os resíduos provenientes da suinocultura


apresentam um elevado risco ambiental, e por isso os órgãos ambientais, principalmente
na região sul, que se destaca neste mercado, têm apresentado exigências cada vez mais
rígidas para os produtores de suínos do ponto de vista do manejo dos dejetos.

Para satisfazer as exigências dos órgãos ambientais e a necessidade dos


produtores de suínos, várias metodologias e tecnologias tem sido desenvolvidas para o
manejo dos dejetos da suinocultura. O manejo dos dejetos da suinocultura pode ser
dividido em duas vertentes, manejo sem tratamento e manejo com tratamento.

No primeiro caso os dejetos suínos são armazenados em recipientes específicos


por um determinado período de tempo (relacionado ao período necessário para
promover a diminuição dos agentes patogênicos) e depois utilizados como fertilizantes
na lavoura ou como alimento para bovinos e peixes. Entre os recipientes mais utilizados
para armazenar os dejetos vale ressaltar as esterqueiras e os biodigestores. Nas
esterqueiras os dejetos produzidos diariamente são armazenados em uma espécie de
piscina, onde ocorre a fermentação anaeróbica dos dejetos e por consequência
diminuição dos agentes patogênicos. Nos biodigestores, após o mesmo processo, o
biogás e biofertilizante produzidos com a fermentação anaeróbica são captados e
utilizados para diferentes fins.
No segundo caso os dejetos suínos recebem diferentes formas de tratamento
antes da disposição final. A escolha do processo a ser adotado dependerá de fatores
como: características do dejeto e do local, operação e recursos financeiros. Ao final dos
processos de tratamento os parâmetros definidos na legislação ambiental vigente devem
ser atendidos. As principais técnicas de tratamento de dejetos costumam combinar
processos físicos e biológicos de tratamentos. Os tratamentos físicos consistem em
separar as fases sólida e líquida, podendo-se utilizar técnicas de decantação,
centrifugação, peneiramento e prensagem. Os tratamentos biológicos consistem em
realizar a degradação biológica do dejeto por microrganismos aeróbios e anaeróbios,
obtendo-se um material estável e isento de organismos patogênicos. Para os dejetos
sólidos é possível utilizar a técnica de compostagem como tratamento, enquanto para os
dejetos líquidos pode-se utilizar as lagoas de estabilização.

Como dito anteriormente a escolha da melhor técnica para o tratamento de


resíduos depende de fatores econômicos e da eficiência. Quanto a questão econômica,
além de avaliar os custos da metodologia escolhida para o tratamento dos resíduos, uma
nova ótica vem ganhando força nos últimos anos, o estudo da possibilidade de agregar
valor nos resíduos dos processos de transformação, tornando-os matéria-prima de outros
processos de transformação, buscando obter um produto de valor agregado.

Por este motivo, este trabalho tratará os resíduos como matéria-prima para a
produção de biogás e biofertilizante pelo uso de biodigestores, conforme apresentado
anteriormente. Mais uma justificativa para esta abordagem está na eminente necessidade
global de energias alternativas.

Podemos dividir os modelos existentes de biodigestores quanto a sua operação


em modelos de operação em semibatelada e modelos de operação contínua. Nos
modelos em semibatelada a carga orgânica é adicionada de uma única vez, e o biogás é
retirado continuamente, até que o fluxo de biogás diminua, indicando que a carga
orgânica foi totalmente digerida. Nos modelos contínuos a carga orgânica é adicionada
diariamente, sendo o biogás e o biofertilizante retirados da mesma forma. Os
biodigestores contínuos são os mais difundidos no Brasil, sendo os modelos mais
utilizados o canadense, o indiano e o chinês.

O biodigestor modelo Canadense, Figura 2, é um modelo tipo horizontal,


apresentando uma caixa de carga em alvenaria, com a largura maior que a profundidade,
e uma cúpula feita de material plástico maleável (PVC), podendo ser retirada ou
substituída. Durante a produção do biogás a cúpula do biodigestor infla, este modelo
também é conhecido como biodigestor de lona.

Figura 2 – Biodigestor modelo canadense

O biodigestor modelo Chinês, Figura 3, é um modelo de peça única, construído


em alvenaria e enterrado no solo. Este modelo tem o custo mais barato em relação aos
outros, pois sua cúpula também é feita em alvenaria.

Figura 3 – Biodigestor modelo chinês

O biodigestor modelo Indiano, Figura 4, também é um modelo em peça única,


tem sua cúpula geralmente feita de ferro ou fibra. Nesse tipo de biodigestor o processo
de fermentação acontece mais rapidamente, pois aproveita a temperatura do solo que é
pouco variável, favorecendo a ação das bactérias. Ocupa ainda pouco espaço e a
construção por ser subterrânea, dispensa o uso de reforços, tais como cintas de concreto.
Figura 4 – Biodigestor modelo indiano

O biogás gerado pode ser utilizado para suprir a necessidade energética da


propriedade, enquanto o biofertilizante pode ser utilizado na lavoura. No início dos anos
2000 a política de créditos de carbono mobilizou a instalação de inúmeros biodigestores
em propriedades, entretanto o elevado custo de manutenção dos biodigestores levou
vários destes a desativação. Hoje surge uma nova onda de investimentos no mercado do
biogás, buscando a instalação de usinas de produção de biogás em larga escala. Desta
forma os suinocultores tornam-se fornecedores de matéria-prima para usinas de
processamento, produção e limpeza de biogás.

4 CONCLUSAO

A nova filosofia da questão dos resíduos promove um olhar diferenciado para


estes, buscando agregar valor e tornando-os matéria-prima de outros processos de
transformação. Para um correto estudo dos resíduos de determinada atividade de
transformação, primeiramente é necessário realizar o estudo da fonte geradora destes
resíduos, do ponto qualitativo e quantitativo, uma vez que isto facilita o entendimento e
caracterização do resíduo em si. Levando em consideração o que foi exposto, é possível
visualizar um novo mercado em surgimento, o mercado dos resíduos. Um exemplo
desta abordagem é utilização dos resíduos provenientes da suinocultura para a produção
de biogás e biofertilizante.

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