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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS


CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE GEOCIÊNCIAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

CARLA REGINA MOTA GUEDES

DINÂMICA DA PAISAGEM DA MICROBACIA


HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO DAS PEDRAS,
BURITIZEIRO - MG

MONTES CLAROS/2018
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS - UNIMONTES


DEPARTAMENTO DE GEOCIÊNCIAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

CARLA REGINA MOTA GUEDES

DINÂMICA DA PAISAGEM DA MICROBACIA


HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO DAS PEDRAS,
BURITIZEIRO - MG

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de


Pós-Graduação em Geografia, da Universidade
Estadual de Montes Claros, para a obtenção do título
de Mestre em Geografia.

Área de concentração: Dinâmica e Análise


Espacial.

Linha de Pesquisa: Território, Cultura e Meio


Ambiente.

Orientadora: Professora Maria Ivete Soares


de Almeida

MONTES CLAROS

2018
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Guedes, Carla Regina Mota.


G924d Dinâmica da paisagem da microbacia hidrográfica do Córrego das Pedras,
Buritizeiro - MG [manuscrito] / Carla Regina Mota Guedes. – Montes Claros, 2018.
125 f. : il.

Bibliografia: f. 118-125.
Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes,
Programa de Pós-Graduação em Geografia/PPGEO, 2018.
Defesa: 26/07/2018.

Orientadora: Profa. Dra. Maria Ivete Soares de Almeida.

1. Recursos naturais – Buritizeiro (MG). 2. Geossistemas. 3. Paisagem. 4.


Microbacia hidrográfica. 5. Planejamento. 6. Gestão. I. Almeida, Maria Ivete Soares de.
II. Universidade Estadual de Montes Claros. III. Título.

Catalogação: Biblioteca Central Professor Antônio Jorge


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CARLA REGINA MOTA GUEDES

DINÂMICA DA PAISAGEM DA MICROBACIA


HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO DAS PEDRAS,
BURITIZEIRO - MG

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da


Universidade Estadual de Montes Claros, como requisito parcial à obtenção do título de
Mestre em Geografia.

BANCA EXAMINADORA:

_______________________________________________________________
Profª. Drª. Maria Ivete Soares de Almeida – Orientadora – UNIMONTES

_____________________________________________________________
Prof. Dr. Gabriel Alves Veloso - UFPA

_______________________________________________________________
Prof. Dr. Marcos Esdras Leite UNIMONTES

Montes Claros, 26 de julho de 2018


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Dedico este trabalho à minha família: meu esposo Juvenal,


meus filhos, Lucas e Letícia, aos meus pais por terem me
educado repetindo que “os estudos podem transformar a vida
para melhor”, aos meus irmãos, sobrinhos e afilhadas. Dedico
também a todos que respeitam a natureza e acreditam que ela
é antes de tudo, obra de DEUS, Ele nos presenteou enquanto
passamos pela vida.
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AGRADECIMENTOS

Ao DEUS Pai, Filho e Espírito Santo, aos seus anjos prometidos a nós no Salmo 91,
disponíveis para que invoquemos para nos guardar.

À Maria, mãe de JESUS e nossa mãe, sempre presente em nossas vidas e em nossas orações
no grupo do Rosário. Agradeço a todos os amigos os quais oramos juntos.

Ao meu marido pela parceria e aos nossos filhos, sempre juntos.

À minha mãe pelas orações e companheirismo.

Às minhas irmãs por sempre torcerem por mim e em especial a Cecy pela disponibilidade.

À Professora Dra. Maria Ivete Soares de Almeida, pela paciência ao me orientar, receba o
meu agradecimento especial.

Ao Professor Manoel Reinaldo Leite pelas contribuições.

Aos demais professores do Programa de Pós-Graduação em Geografia da UNIMONTES.

À CAPES pela concessão da bolsa de estudo.

Ao Sr. Antônio Cândido pelo acompanhamento nos trabalhos de campo e por compartilhar
com satisfação seus conhecimentos sobre a área de estudo.

Por todos que colaboraram e torceram por mim, no decorrer do curso.

Aos colegas de Curso, em especial aqueles os quais tivemos mais afinidades, agradeço pela
parceria e conhecimentos compartilhados.

À EMATER de Buritizeiro pela disponibilidade em fornecer informações necessárias.


7

Disse DEUS: “Eis que dou a vocês todas as plantas que


nascem em toda a terra e produzem sementes, e todas as
árvores que dão frutos com sementes. Elas servirão de
alimento para vocês. E assim se fez....DEUS contemplou toda
a sua obra, e viu que tudo era muito bom”.

(GÊNESIS, 1:29-31)
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RESUMO

Estudos que envolvem a análise de elementos da paisagem de forma integrada, permitem a


compreensão do espaço geográfico sob diversos aspectos, sejam estes físicos ou antrópicos,
numa dinâmica espaço-temporal. Essas interferências antrópicas provocam na paisagem, em
seu processo de uso e ocupação a exploração dos recursos naturais. No Brasil, os problemas
ambientais relacionados à degradação ambiental se intensificaram a partir da década de
1960, com a introdução de políticas governamentais agroindustriais visando avanços das
fronteiras agrícolas, florestais e pecuárias, que refletiram seus impactos em áreas de bacias
e microbacias hidrográficas no que se refere à quantidade e qualidade de água disponível.
Neste sentido, a área de estudo se encontra no contexto dessas políticas, com ocorrência de
intensas modificações paisagísticas como consequência de explorações antrópicas. Este
trabalho tem como objetivo analisar de forma sistêmica e integrada, a paisagem da
microbacia hidrográfica do Córrego das Pedras, com relação a aspectos naturais e antrópicos.
A metodologia consistiu em pesquisa bibliográfica buscando a fundamentação teórica tendo
como base estudos da Paisagem, a Teoria Geral dos Sistemas, Geossistemas, Bacias e
Microbacias Hidrográficas. Para melhor detalhamento das informações, houve a utilização
do Sistema de Informação Geográfica (SIG). O programa ArcGIS 10.2foi utilizado na
geração de mapas temáticos, para a caracterização física e antrópica, visando uma análise
integrada da área de estudo. Para a caracterização física foram analisados aspectos
climáticos, vegetacionais e foram gerados os seguintes mapas: geologia, pedologia,
hipsometria, declividade e geomorfologia e como resultado da análise desses aspectos
físicos, resultou-se no mapa das fragilidades. Para a análise espaço-temporal dos efeitos
antrópicos, foram elaborados mapas do uso da terra, compreendendo os períodos de: 1987,
1997, 2007, 2017.Após a elaboração desses mapas, foram realizadas as validações em
trabalhos de campo. Observou-se que a área da microbacia em estudo, encontra-se em
intenso uso da terra, com ocorrências de silvicultura de eucalipto, solo exposto e
principalmente para fins pecuários, que abrangem áreas de Cerrado bem como de veredas.
A caracterização da fragilidade ambiental foi realizada segundo Ross (1993), justificando-
se que tal caracterização permite a análise integrada de elementos naturais a partir do seu
grau de fragilidade. Constatou-se que do alto ao médio curso da microbacia, encontram-se
as seguintes classes de fragilidade: média, forte e muito forte e é onde estão localizadas a
maioria das veredas e usos do solo mais intensos. Espera-se que este estudo contribua na
compreensão da dinâmica dos diversos elementos que compõem bacias e microbacias
hidrográficas e que auxilie políticas públicas de planejamento e gestão, no sentido de
conservar os recursos naturais, bem como prevenir prejuízos ambientais futuros.

Palavras-Chave: Recursos Naturais. Geossistemas. Paisagem. Microbacia hidrográfica.


Planejamento. Gestão.
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ABSTRACT

Studies that involve the analysis of elements of the landscape in an integrated way, allow the
understanding of the geographical space under various aspects, be they physical or anthropic,
in a spatio-temporal dynamics. These anthropic interferences cause in the landscape, in its
process of use and occupation the excessive exploitation of natural resources. In Brazil,
environmental problems related to these overuse intensified since the 1960, with the
introduction of agroindustrial government public aimed at advancing the agricultural,
forestry, and livestock frontiers, reflecting their impacts on watershed and watershed areas
in refers to the quantity and quality of water available. In this sense, the area of study is in
the context of these public, with intense landscape modifications as a consequence of
anthropic explorations. The objective of this work is to analyze in a systemic and integrated
way, the landscape of the hydrographic basin of Córrego das Pedras, in relation to natural
and anthropic aspects. The methodology consisted of bibliographical research seeking the
theoretical foundation based on Landscape studies, the General Theory of Hydrographic
Systems, Geosystems, Basins and Microbacies. For better information, the Geographic
Information System (GIS) was used. The ArcGIS 10.2 program was used to generate
thematic maps for physical and anthropic characterization, aiming at an integrated analysis
of the study area. For the physical characterization, climatic and vegetative aspects were
analyzed and the following maps were generated: geology, pedology, hypsometry, slope and
geomorphology and as a result of the analysis of these physical aspects, the map of the
fragilities resulted. Land-use maps were developed for the space-time analysis of
anthropogenic effects, including the periods of: 1987, 1997, 2007, 2017. After the
elaboration of these maps, the field validations were performed in the laboratory. It was
observed that the area of the microbasin under study is in intense land use, with occurrences
of eucalyptus silviculture, soil exposed and mainly for livestock purposes, that cover areas
of Cerrado as well as of sidewalks. The characterization of the environmental fragility was
performed according to Ross (1993), justifying that such characterization allows the
integrated analysis of natural elements based on their degree of fragility. It was observed
that from the upper to the middle course of the microbasin, the following fragility classes
are found: medium, strong and very strong, and it is where most of the most intense trails
and land uses are located. It is hoped that this study will contribute to the understanding of
the dynamics of the various elements that make up river basins and watersheds, and to help
public planning and management public to conserve natural resources and prevent future
environmental damage.

Keywords: Natural Resources. Geosystems. Landscape. Hydrographic microbasin.


Planning. Management.
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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Localização da Microbacia Hidrográfica do Córrego das Pedras ................... 45


Figura 2 - Fluxograma Demonstrando Etapas dos Procedimentos Metodológicos ........ 46

Figura 3 - Fluxograma de procedimentos para mapeamento geomorfológico ................ 48


Figura 4 - Fluxograma de procedimentos para mapeamento de uso da terra ................... 49
Figura 5 - Fluxograma de procedimentos para mapeamento pedológico ........................ 50
Figura 6 - Fluxograma de procedimentos para mapeamento geológico .......................... 51
Figura 7 -Mapa Litológico da Microbacia Hidrográfica do Córrego das Pedras ........... 62
Figura 8- Mapa Pedológico da Microbacia Hidrográfica do Córrego das Pedras .......... 65

Figura 9 -Mapa Hipsométrico da Microbacia Hidrográfica do Córrego das Pedras ...... 68


Figura 10- Mapa Clinográfico da Microbacia Hidrográfica do Córrego das Pedras ....... 70
Figura 11- Mapa Geomorfológico da Microbacia Hidrográfica do Córrego das Pedras .. 74
Figura 12- Nascente do Córrego das Pedras ................................................................. 76
Figura 13 - Nascente do Córrego das Pedras ................................................................. 76
Figura 14 - Visão Geral do Interior da Microbacia do Córrego das Pedras ................... 77

Figura 15 - Encontro do Córrego Piraporinha com o Córrego das Pedras ..................... 78


Figura 16- Área da Nascente do Córrego das Pedras .................................................... 83
Figura 17 - Monocultura de Eucalipto Próxima ao Córrego das Pedras ........................ 84
Figura 18 - Rede Hidrográfica do Município de Buritizeiro – MG ............................... 91
Figura 19 - Uso da Terra da Microbacia do Córrego das Pedras – 1987 ....................... 97
Figura 20 - Uso da Terra da Microbacia do Córrego das Pedras – 1997 ....................... 99

Figura 21 - Uso da Terra da Microbacia do Córrego das Pedras – 2007 ....................... 101
Figura 22 - Uso da Terra da Microbacia do Córrego das Pedras – 2017 ....................... 103
Figura 23 - Mapa das Fragilidades da Microbacia do Córrego das Pedras .................... 107
Figura 24 - Plantio de Eucalipto ................................................................................. 109
Figura 25 - Plantio de Eucalipto Próximo à Vereda .................................................... 109
Figura 26 - Voçoroca Localizada Próxima ao Canal do Córrego das Pedras ............... 110
Figura 27 - Área de Pastagem Destinada à Criação de Gado Bovino ........................... 111
11

Figura 28 - Carvoaria Próxima à Área de Eucalipto .................................................... 111

Figura 29 - Residência Localizada à Margem da Vereda ............................................. 112


Figura 30 - Pequena Cultura de Mandioca nas Proximidades da Vereda ...................... 112
Figura 31- Cachoeira no Córrego das Pedras, Prática do Turismo Ecológico ............... 113
Figura 32-Margem do Córrego das Pedras na Área Urbana ........................................ 114
Figura 33 - Balneário das Pedras, Cachoeira Artificial na Área Urbana ...................... 114
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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 –Litologia Quantificada na Microbacia do Córrego das Pedras ....................... .63

Tabela 2 –Pedologia Quantificada na Microbacia do Córrego das Pedras ...................... .66

Tabela 3 – Hipsometria Quantificada na Microbacia do Córrego das Pedras.................. .69

Tabela 4 –Geomorfologia Quantificada na Microbacia do Córrego das Pedras .............. .75

Tabela 5 –Uso da Terra, 1987 em km2 ........................................................................... .98

Tabela 6 - Uso da Terra, 1997 em km.2 ........................................................................ 100

Tabela 7 - Uso da Terra, 2007 em km2 ......................................................................... 102

Tabela 8 - Uso da Terra, 2017 em km2 ......................................................................... 104

Tabela 9 –Classes de Fragilidades, em km2 .................................................................. 108


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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 –Precipitação Anual – 1989 a 1997 – Microbacia do Córrego das Pedras ...... 56

Gráfico 2–Precipitação Anual – 1998 a 2007 – Microbacia do Córrego das Pedras ...... 57

Gráfico 3–Precipitação Anual – 2008 a 2017 – Microbacia do Córrego das Pedras ...... 58

Gráfico 4–Precipitação Mensal – Microbacia do Córrego das Pedras – Totais de 1989 a


2017 ............................................................................................................................. 59

Gráfico 5 – Temperaturas Médias, Microbacia Hidrográfica do Córrego das Pedras–


Valores – 1989 a 2017 .................................................................................................. 60

Gráfico 6 - Evolução dos Valores Quantitativos Populacionais do Município de Buritizeiro


no período de 1970 a 2010 ........................................................................................... 88
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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 –Graus de Fragilidade Atribuídos às Classes: geologia, hipsometria, declividade


e pedologia (solos) .......................................................................................................... 53
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LISTA DE SIGLAS

APP Área de Preservação Permanente

CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente

CPP Conselho Pastoral dos Pescadores

CPRM Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais

FCA Ferrovias Centro-Atlântica

FNS Ferrovias Norte Sul

FUCAM Fundação Caio Martins

GESTA Grupo de Estudos em Temáticas Ambientais

GTP Geossistema, Território e Paisagem

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDH Índice de Desenvolvimento Humano

IEF Instituto Estadual de Florestas

INMET Instituto Nacional de Meteorologia

INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais


Ma Milhões de anos
MDE Modelos Digitais de Elevação
MDS Ministério do Desenvolvimento Social
ONU Organização das Nações Unidas
PH Potencial Hidrogeniônico

PMMG Polícia Militar de Minas Gerais

PNMH Programa Nacional de Microbacias Hidrográficas

SPU Secretaria do Patrimônio da União

SRTM Shuttle Radar Topographic Mission

TGS Teoria Geral dos Sistemas


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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 18

1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ........................................................................ 24

1.1 Breves Reflexões Sobre os Estudos da Paisagem ............................................... 24

1.2 A Teoria Geral dos Sistemas.............................................................................. 30

1.3 A Teoria dos Geossistemas ................................................................................ 33


1.4 A Bacia Hidrográfica como Unidade de Paisagem ............................................. 37
1.4.1 As Microbacias Hidrográficas ................................................................... 42

2. MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................... 44

2.1 Caracterização da Área de Estudos .......................................................................... 44


2.2 Procedimentos Metodológicos ............................................................................. 47

3. CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESPAÇO DA PESQUISA ..................................... 54

3.1 Elementos da Paisagem da Microbacia Hidrográfica do Córrego das Pedras ...........54

3.1.1 Clima ................................................................................................................... .54

3.1.2 Geologia ................................................................................................... 60


3.1.3 Pedologia ............................................................................................................. 63
3.1.4 Hipsometria ......................................................................................................... 67
3.1.5 Clinografia ................................................................................................ 69
3.1.6 Geomorfologia ..................................................................................................... 71

3.1.7 Vegetação ............................................................................................................ 78


3.1.8Contextualização Socioeconômica e Socioambiental do município de
Buritizeiro, MG ................................................................................................. 84
17

4. ANÁLISE ESPAÇO-TEMPORAL DA PAISAGEM DA MICROBACIA


HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO DAS PEDRAS E SUAS FRAGILIDADES
AMBIENTAIS............................................................................................................. 94

4.1 Uso e Ocupação das Terras da Microbacia Hidrográfica do Córrego das Pedras no Ano
de 1987 ......................................................................................................................... 96

4.2 Uso e Ocupação das Terras da Microbacia Hidrográfica do Córrego das Pedras no Ano
de 1997 ......................................................................................................................... 98

4.3 Uso e Ocupação das Terras da Microbacia Hidrográfica do Córrego das Pedras no Ano
de 2007 ........................................................................................................................ 100

4.4 Uso e Ocupação das Terras da Microbacia Hidrográfica do Córrego das Pedras no Ano
de 2017 ........................................................................................................................ 102

4.5 Fragilidades Ambientais ....................................................................................... 106

4.6 Relação entre Fragilidades Ambientais e Uso e Ocupação das Terras na Microbacia do
Córrego das Pedras .................................................................................................... 108

CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 115

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 118


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INTRODUÇÃO

A busca pela compreensão dos elementos da paisagem de forma integrada, permite a


análise do espaço geográfico sob diversos aspectos dinâmicos ao longo do tempo, sejam
estes físicos ou antrópicos. Neste sentido, torna-se necessária a análise e o entendimento dos
efeitos que as interferências antrópicas provocam na paisagem, em seu processo de uso e
ocupação do espaço geográfico, ao longo de sua existência, que exploram excessivamente
os recursos oferecidos pela natureza.
Tomando-se as bacias hidrográficas para efeito de análise, estas podem ser
consideradas unidades de paisagem, Botelho & Silva (2011) afirmam que o estudo das bacias
hidrográficas possibilita conhecer e avaliar seus diversos processos e interações de
elementos da paisagem, sob uma visão sistêmica e integrada. Silva (1994), estima que esta
análise ainda possa ocorrer em menor escala, ao considerar a microbacia como a menor
unidade territorial capaz de evidenciar as variáveis ambientais de forma sistêmica.
Portanto, nessas áreas de bacias ou microbacias hidrográficas se tornam perceptíveis
à observação, as transformações ocorridas, sejam causadas por fenômenos naturais, sejam
por processos de uso e ocupação antrópicos.
A utilização da microbacia hidrográfica como unidade de estudo neste trabalho de
pesquisa segue a proposta de Silva (1994), Botelho (1999), Botelho & Silva (2004); tais
autores sugerem a existência do planejamento de uso e ocupação para essas áreas. Adequa-
se também como um alerta para a redução gradativa dos recursos hídricos à medida que a
paisagem é alterada e transformada. É importante considerar sobre as microbacias, que estas
juntas alimentam as bacias hidrográficas maiores, portanto, quando há alterações negativas
na paisagem dessas microbacias, ocorrem efeitos negativos em maior escala. É fato que as
atividades econômicas são necessárias à vida humana, porém é visível que tais práticas
devem se conciliar à conservação dos sistemas ambientais.
Nesse contexto, o processo de uso e ocupação da área da microbacia hidrográfica do
Córrego das Pedras, deu-se historicamente com recorrências de cultivos de eucalipto,
agricultura familiar e pecuária extensiva. Há contrastes socioeconômicos: grandes
fazendeiros produtores principalmente de eucalipto, praticantes da pecuária extensiva e
chacareiros com a prática da agricultura familiar. As monoculturas de eucalipto causam
primeiramente o impacto visual na paisagem da microbacia, porém observa-se outros efeitos,
como a influência nos processos de deterioração das águas superficiais e subterrâneas, pois
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ocupam áreas localizadas nas cabeceiras das veredas que deveriam estar protegidas para
absorver as águas trazidas pelas precipitações.
As alterações presentes nessa microbacia, demonstram a existência de desequilíbrios
entre elementos dessa paisagem, tais desequilíbrios, provocados por ações de uso e
ocupação. Para Bertrand (2004), esses elementos da paisagem, compreendidos em:
ecológicos, hidrológicos, pedológicos, climáticos, morfológicos, fitogeográficos e
antrópicos devem estabelecer importantes inter-relações para o equilíbrio da paisagem,
considerando que há relação direta entre harmonia e a estabilidade desses elementos.
Ao considerar as transformações sofridas pelas paisagens ao longo dos tempos,
estima-se que a sua dinâmica possui duas causas principais: naturais e antrópicas. Sabe-se
que a dinâmica da natureza modifica e transforma a paisagem, porém as ações
antropogênicas aceleram esses processos, que resultam em alterações de diferentes formas e
intensidade, isso produz inúmeros efeitos negativos nos sistemas ambientais.
Nesse contexto, a paisagem e sua dinâmica natural e antrópica já era percebida no
século XIX por Humboldt, que elaborou seu conceito clássico, já considerando que a
paisagem compreendia o “caráter integrado e único do espaço.” Então, uma das formas de
se estudar a paisagem de maneira integrada, segundo o alemão Bertalanffy no século XX, é
utilizar a proposta metodológica fundamentada na TGS (Teoria Geral dos Sistemas). Esta
teoria foi difundida a partir da segunda metade do século XX, por volta de 1968 e afirmava
sobre a constante interdependência existente entre os elementos de um sistema ou mesmo a
relação de reciprocidade entre eles.
Quanto à Teoria dos Geossistemas, Bertrand (2004), propôs defini-la como uma
categoria espacial em que se inclui a ação antrópica, e sua estrutura e dinâmica seriam
resultado da interação entre: potencial ecológico (clima, hidrologia, geomorfologia);
exploração biológica (vegetação, solo, fauna) e ação antrópica, em uma relação de
recorrentes interdependências, realizando trocas constantes de energia entre seus elementos.
Os elementos de um sistema podem ser estabelecidos de acordo com o interesse do
pesquisador e a natureza da pesquisa; neste trabalho, optou-se por analisar estes elementos:
clima, vegetação, geologia, pedologia, geomorfologia, hipsometria, declividade, uso da terra
e suas relações de interdependência, por se tratar da análise da dinâmica da paisagem de uma
microbacia hidrográfica.
Entende-se que a microbacia hidrográfica em estudo, é resultado da combinação de
elementos formadores da sua paisagem. A Teoria Geral dos Sistemas e a Teoria dos
20

Geossistemas são fundamentos que irão nortear neste trabalho os estudos sobre a paisagem
dessa microbacia.
A microbacia do Córrego das Pedras está inserida na área da extensa bacia
hidrográfica do rio São Francisco, ocupando uma superfície de aproximadamente 112,07
km2, com cobertura natural de Cerrado. Esta cobertura natural, até os dias atuais, veio sendo
substituída por pecuária, cultivos de eucalipto e agricultura familiar, tanto na área da
microbacia, quanto no município de Buritizeiro onde está localizada, este conta com
inúmeras veredas e córregos que transformam a paisagem e contribuem para com as riquezas
hídricas do rio São Francisco.
Torna-se necessário destacar que no município de Buritizeiro, onde está situada a
área da microbacia em questão, autores como Gama (2003), Viana (2006), Baggio (2003;
2008), ao estudarem a microbacia hidrográfica do Rio Formoso que é também formada por
tributários que alimentam o rio São Francisco, constataram que a paisagem desta microbacia
sofreu intensos impactos causados pelas políticas governamentais de ocupação das áreas de
Cerrado, políticas estas que compreenderam a expansão do capitalismo no campo e avanço
das fronteiras agrícolas. Elas foram implantadas no Brasil a partir da década de 1960 e mais
intensamente a partir da década de 1970, tais políticas causaram destruição do bioma
Cerrado, para dar lugar às carvoarias, à extensas áreas de reflorestamento principalmente de
eucalipto, à agricultura comercial e pecuária extensiva.
Pesquisas realizadas por Fonseca et al (2011), analisaram a qualidade da água da
microbacia hidrográfica do Córrego das Pedras, área de estudo analisada nesse trabalho,
constatando a necessidade de monitoramento ambiental por não haver o cumprimento da
Resolução CONAMA 357/2005, quanto às concentrações de PH (Potencial
Hidrogeniônico), que se encontravam abaixo do permitido. Observou-se como possíveis
causas, dentre outras, a diluição de rejeitos da granja suína direto no curso do córrego e
resíduos (agrotóxicos) originados da prática de monoculturas próximas às margens e no
entorno da microbacia.
Nesse município, como resultado dos efeitos antrópicos, constata-se o
comprometimento das reservas de água doce, com redução da quantidade e qualidade dessas
águas ou até esgotamento de nascentes. Estas compreendem áreas de veredas, sendo
identificadas como cabeceiras ou nascentes de pequenos rios, iniciando-se e formando as
microbacias, que contribuem ou contribuiriam com a manutenção da extensa bacia
hidrográfica do rio São Francisco.
21

A escolha da área se justifica pela importância de se discutir a dinâmica dos


elementos da paisagem de uma microbacia hidrográfica e seus processos naturais: clima,
vegetação, geologia, pedologia, geomorfologia, hipsometria, declividade; e aqueles
processos resultantes da ação antrópica, como o uso e ocupação das terras. Percebe-se que
nos últimos anos, as formas de uso e ocupação das terras têm transformado negativamente
as paisagens de forma acelerada. Tais processos modificam e desequilibram a paisagem,
tendo-se como resultado, prejuízos relacionados à redução ou escassez dos recursos da
natureza.
Ao selecionar como objeto de estudo a microbacia hidrográfica do Córrego das
Pedras, situada na área da bacia hidrográfica do rio São Francisco, pretendeu-se chamar a
atenção para o equilíbrio que deve existir entre os elementos que compõe a paisagem de uma
microbacia, e como esse equilíbrio pode refletir na conservação dos recursos naturais, em
escala local e em longo prazo em escala global. É fato que mundialmente, pesquisadores da
área de recursos hídricos confirmam a escassez (quantitativa e qualitativamente) das águas
para um futuro próximo, como é o caso de Tucci (2006), Tundisi (2006;2008), caso não se
crie políticas para conservação desses recursos.
Neste trabalho, procurou-se também produzir informações que sirvam de elementos
norteadores que contribuam com o planejamento e gestão dessa microbacia hidrográfica,
como por exemplo, a caracterização climática e vegetacional, a elaboração de mapas com os
elementos da paisagem contendo a caracterização física da área com informações específicas
da geologia, pedologia, geomorfologia, hipsometria, declividade, hidrografia;
caracterização socioeconômica, como o uso da terra e o mapeamento das fragilidades
ambientais da microbacia hidrográfica do Córrego das Pedras, considerando que estas
informações poderão ser úteis em seus processos de uso e ocupação futuros. Estudos dessa
natureza permitem o diagnóstico para mitigação de danos, como para prevenção quando se
trata de planejamento e gestão, portanto, para atender tais premissas temos os seguintes
objetivos.
O objetivo geral desse trabalho é analisar a dinâmica da paisagem da microbacia
hidrográfica do Córrego das Pedras, com relação a aspectos naturais e antrópicos, de forma
sistêmica. Tem-se como objetivos específicos:
 Caracterizar elementos da paisagem: geologia, pedologia, geomorfologia,
hipsometria, declividade, hidrografia, uso da terra;
 Identificar o uso e ocupação da terra no período de 30 anos (1987 a 2017);
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 Apontar as fragilidades presentes na área da microbacia hidrográfica;


 Correlacionar elementos da paisagem natural às formas de uso da terra.

Este estudo tem como base a análise da dinâmica da paisagem da microbacia


hidrográfica do Córrego das Pedras, situada no município de Buritizeiro, MG, no que se
refere aos aspectos naturais e antrópicos, de forma sistêmica e integrada, (utilizando-se da
Teoria Geral dos Sistemas e da Teoria dos Geossistemas). O estudo será fundamentado em
pesquisas bibliográficas, em trabalhos de campo e utilização de geotecnologias, como
imagens de satélite e uso do software ArcGIS 10.2, para a confecção de mapas.
Como referencial teórico principal, utilizou-se os seguintes autores: Bertalanffy
(1968), Bertrand (2004), Christofoletti (1980, 1981, 1999), Troppmair (2006), Botelho
(1999), Botelho & Silva (2004), Cunha 2010, Ab’ Saber (2003), Ross (1993), Guerra &
Mendonça (2011), Guerra& Marçal (2014), Casseti (1995, 2005), Guerra (2010), Tucci
(2006), Tundisi (2006;2008), dentre outros.
Alguns dos métodos utilizados para o conhecimento da dinâmica dos elementos da
paisagem na área da microbacia, foi o mapeamento das características físicas (geologia,
pedologia, geomorfologia, hipsometria, declividade, hidrografia). Considera-se ainda, para
melhor detalhamento das informações, a utilização do Sistema de Informação Geográfica
(SIG).
Como método de identificação dos aspectos antrópicos relacionados aos processos
de uso e ocupação das terras, foram gerados mapas no programa ArcGIS 10.2 e foi realizada
análise espaço-temporal sobre os principais usos da terra, considerando um período de 30
anos, (1987 a 2017). Para a identificação das fragilidades, foi adotada como referência a
proposta de Ross (1993) e foi elaborado o mapa das fragilidades da área da microbacia.
Com a finalidade de se estabelecer correlações entre os resultados da pesquisa em
laboratório e situações reais que envolvem a paisagem, validando os dados pesquisados,
realizou-se pesquisa de campo em diversos pontos da microbacia, os quais foram
georreferenciados.
Acredita-se que os resultados desse estudo para essa área, permitirão a construção
de conhecimentos mais consistentes sobre a compreensão da dinâmica dos elementos
naturais e antrópicos da paisagem em microbacias hidrográficas, como sugeridos por
Botelho (1999), Botelho & Silva (2004).
23

Espera-se que os resultados desta pesquisa possam servir de subsídios no


planejamento e gestão das paisagens que compõem bacias ou microbacias hidrográficas, pois
através do uso das geotecnologias como ferramentas é possível mapear e conhecer elementos
da paisagem. Esses dados aliados a uma análise sistêmica e integrada podem contribuir em
diagnósticos para a tomada de decisões sobre os sistemas ambientais.
A estruturação desse trabalho ocorreu da seguinte forma: Primeiramente com a
definição do referencial teórico-metodológico bem como dos procedimentos de trabalho
estabelecidos; a contextualização da área da pesquisa; a análise espaço-temporal da
microbacia no período de 1987 a 2017; as fragilidades presentes na microbacia e suas
relações com fatores de uso e ocupação.
A pesquisa está organizada em seções, sendo estas: fundamentação teórica; materiais
e métodos; contextualização do espaço da pesquisa; análise espaço-temporal da paisagem da
microbacia hidrográfica do Córrego das Pedras e suas fragilidades ambientais.
A fundamentação teórica sustenta-se na revisão bibliográfica embasada em autores
que discutem os conceitos de Paisagem, Teoria Geral dos Sistemas, Geossistemas, Bacia
Hidrográfica como Unidade de Paisagem e Planejamento e Gestão de Microbacias
hidrográficas.
Na seção materiais e métodos, procurou-se elaborar roteiro metodológico com a
finalidade de se descrever as etapas de trabalho: a localização da área de estudo, a descrição
dos procedimentos técnicos envolvendo as geotecnologias, a utilização da metodologia de
Ross (1993), para o reconhecimento das fragilidades presentes na área.
Na seção, contextualização do espaço da pesquisa, ocorreu a caracterização dos
elementos naturais da paisagem no contexto da área de estudo, bem como da
contextualização socioeconômica e socioambiental em que o município se encontra.
E finalmente, na análise espaço-temporal da paisagem da microbacia hidrográfica do
Córrego das Pedras e suas fragilidades ambientais se discutiu a evolução no uso e ocupação
das terras na área de estudo e seus efeitos, considerando o período de 30 anos
compreendendo de 1987 a 2017. Discutiu-se também as fragilidades ambientais presentes
nessa área, bem como as relações entre fragilidades e os efeitos do uso e ocupação das terras.
24

1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Nesta seção, buscar-se-á estudar análises conceituais e referencial teórico que servirá
de base às discussões sobre à dinâmica da paisagem da microbacia hidrográfica do Córrego
das Pedras, Buritizeiro, MG, considerando-a como uma unidade de paisagem. Para tanto,
serão abordados os seguintes temas: paisagem, a teoria geral dos sistemas, a teoria dos
geossistemas, bacia hidrográfica como unidade de paisagem e microbacias hidrográficas.
Para essas discussões, considerar-se-á a origem epistemológica dos temas, bem como as
diversas formas de abordagens trabalhadas pelos autores, em busca da compreensão dos
elementos da paisagem e das transformações ocorridas na paisagem da microbacia em
estudo. A seguir será realizada breve discussão sobre esses temas, procurando enfatizar os
seus fundamentos, conceitos e as suas contribuições na abordagem da paisagem da
microbacia.

1.1 BREVES REFLEXÕES SOBRE OS ESTUDOS DA PAISAGEM

A concepção geográfica da paisagem foi utilizada como um meio de se analisar as


diversas feições da microbacia hidrográfica do Córrego das Pedras, no que se refere a
aspectos físicos (geologia, pedologia, geomorfologia, hipsometria, declividade, hidrografia)
e antrópicos (uso das terras). Através da caracterização da paisagem sob esses aspectos, será
possível evidenciar suas peculiaridades, observando-se que esses componentes sendo físicos
ou socioeconômicos, serão analisados como um todo integrado. Tal concepção da paisagem
e suas definições são importantes para o entendimento das inter-relações dos elementos que
a compõem, considerando sua abordagem sistêmica.
Historicamente o significado de paisagem se tornou por vezes conflituoso, já que o
pesquisador o adotava adequando-o à necessidade de atender ao seu objeto de pesquisa. Esse
fato resultou em diversas definições ao conceito de paisagem, sendo estas, aplicáveis tanto
nas ciências geográficas, quanto em outros campos de estudos, como é o caso, segundo Vitti
(2007), da utilização do conceito de paisagem aplicado às artes, na época do Renascimento
pelo artista Leonardo da Vinci.
Vitte (2007), sustentando sua argumentação em Cunha (1982), explica que a origem
da palavra paisagem, ocorreu no século XVI e está relacionada ao significado de região,
25

território e nação. Complementa que, em hebraico, a origem da palavra paisagem expressa


“algo maravilhoso”, podendo ser comprovado no Livro dos Salmos (48:2).
No entanto, foi ainda no século XIX, na concepção de Troppmair (2006), que surgiu
a primeira definição conceitual de paisagem, a mais coerente que poderia ser aplicável às
ciências geográficas, principalmente no que se refere aos estudos direcionados à Geografia
Física. Esse conceito clássico foi elaborado por Humboldt, no século XIX já considerando
que a paisagem compreendia o “caráter integrado e único do espaço.”
Segundo Schier (2003), a visão holística da paisagem era uma prática de Humboldt,
que já a concretizava no final do século XVIII em suas viagens, pois já associava diversos
elementos naturais e humanos em seus estudos que envolviam a ciência geográfica.
Para Vitte (2007), o conceito de paisagem é carregado de significados, passando por
uma significação filosófica, social ou ainda por uma significação física, envolvendo
elementos geomorfológicos e climáticos. Para esse autor alguns pesquisadores clássicos se
destacaram nos estudos da paisagem como: Goethe, Humboldt, Ritter e Richthofen, em
estudos relacionados à interação entre elementos físicos e culturais; Troll e Ab’Saber em
estudos envolvendo a fisiologia e a ecologia da paisagem.
Com o intuito de compreender o conceito de paisagem e seus aspectos
epistemológicos, Almeida (2015) esclarece que ao final do século XIX e meados, do século
XX, a escola geográfica francesa por meio de Vidal de La Blache, baseou-se na descrição
da paisagem, na caracterização da região geográfica e sua fisionomia. Ressalta que a
geografia francesa é referência em estudos de epistemologia da paisagem, pois para La
Blache, o homem era o principal modificador do planeta, onde este utilizava a natureza como
possibilidades de exploração de acordo à sua cultura. Para La Blache, há interações entre o
homem e o ambiente físico, que se tornou um só fenômeno, inseparável.
Na geografia, há uma pluralidade de conceitos de paisagem, em suas diferentes
vertentes. Por se constituir em uma ponte entre variadas abordagens, a paisagem é
considerada uma das categorias de análises mais citadas na ciência geográfica. Segundo
considerações de Troppmair (2006), a paisagem pode assumir múltiplos sentidos, tudo
depende do olhar do observador. Esta pode ser observada sob olhar artístico, sob o espaço
de vivência, sob os aspectos naturais ou ainda resultado da ação humana.
Para Schier (2003), é perceptível a existência de conceitos que envolvem o sentido
de paisagem, sendo possível aplicá-los à paisagem de uma região, território ou lugar; no
entanto, trazer essa pluralidade conceitual para o olhar geográfico se trata de grande desafio.
26

Segundo o mesmo autor, considera-se uma grande evolução que o homem tenha passado a
ser elemento importante inserido na paisagem. Ao considerar a problemática da paisagem
sob o olhar da geografia física, esta buscou conciliar interesses sociais e ecológicos na busca
pelo desenvolvimento sustentável, sobretudo já no final do século XX.
Para Guerra & Marçal (2014), os conceitos de paisagem variam de acordo às
abordagens que se quer enfatizar, esses conceitos vão desde a abordagem estético-descritiva
à discussões mais científicas. Quanto à abordagem estético-descritiva, esta se refere às
primeiras ideias sobre os fenômenos naturais até meados do século XIX; enquanto que a
abordagem científica, se refere ao conceito construído com a influência de outras ciências,
resultando na sua definição como Ciência da Paisagem.
De acordo com Christofoletti (1999), o termo alemão landschaft possuía uma
conotação científica como também um caráter estético-descritivo, apresentando de forma
mais ampla a integração de elementos da paisagem. Ressalta ainda que nas duas primeiras
décadas do século XX ocorreu maior tendência para estudos de elementos físicos da
paisagem, valorizando estudos relacionados à topografia, morfologia, cobertura vegetal,
estabelecendo-se distinções entre a paisagem natural e a paisagem cultural.
Almeida (2015) ao analisar diversas definições de paisagens, a partir de vários
autores, considera que ao serem analisados estes conceitos de paisagem, repletos de
diferentes leituras, se destacam duas formas básicas de interpretação: a paisagem vista como
um fenômeno cultural e a paisagem vista como um fenômeno natural, porém, sabe-se que
ela é social e natural.
Casseti (2005) afirma que ao proceder à análise da paisagem, deve-se considerar os
seguintes componentes: a natureza da rocha, o clima, o poder orogênico, a vida das plantas,
dos animais e dos homens, demonstrando os efeitos antropogênicos nas modificações
ocorrentes na natureza, considerando o tempo histórico. Para esse autor, também Tricart
(1979) tratou o relevo como um elemento importante da paisagem.
Segundo considerações de Dalbem (2005), o termo paisagem, historicamente
apresenta diversos significados, porém no século XX, suas definições vêm ocupando seu
espaço no que se refere a estudos, tanto de natureza física quanto de aspectos socioculturais,
com isso criou-se um novo paradigma holístico ambiental.
Para Guerra e Marçal (2014), retomando o século XIX a paisagem era analisada no
sentido de uma abordagem descritiva e morfológica, tendo como base, os naturalistas. No
entanto, em meados do século XX se inicia uma visão integradora, considerando os
27

elementos que compõem essa paisagem. Após esse período, segue-se a aplicação da Teoria
Geral dos Sistemas como uma nova forma de se analisar e interpretar a paisagem sob o olhar
sistêmico e integrador analisando a sua dinâmica.
Estevez et al (2011) consideram que a teoria sistêmica utilizada como uma
abordagem teórico metodológica, agregada ao estudo da paisagem, torna possível o
conhecimento da estrutura vertical e horizontal da paisagem, como também a sua dinâmica,
tendo em vista as relações estabelecidas entre seus elementos, sejam eles naturais ou
antrópicos.
Para Rodriguez et al (2007), a paisagem ao ser concebida como um sistema, significa
percebê-la como um todo, especialmente a dinâmica dos seus elementos, suas inter-relações,
compreendendo-os como partes integradoras daquele sistema em uma visão dialética,
admitindo a existência de uma organização sistêmica. Segundo o autor, a partir dessa visão
é possível conceber planejamentos ambientais adequados.
Nesse contexto, segundo Bertrand (2004) a paisagem pode ser definida por diversos
elementos, sendo que nesta, pode-se conter definições envolvendo a dinâmica de elementos
físicos, biológicos e antrópicos. Considera ainda que as paisagens naturais podem ser
extensamente modificadas pela ação antrópica, que a explora e a modifica de acordo às suas
necessidades. Bertrand (2004) propõe ainda que:

“a paisagem não é a simples adição de elementos geográficos disparatados.


É uma determinada porção do espaço, resultado da combinação dinâmica,
portanto instável, de elementos físicos, biológicos e antrópicos que,
reagindo dialeticamente uns sobre os outros, fazem da paisagem um
conjunto único e indissociável, em perpétua evolução”. (BERTRAND,
2004, p. 141)

O autor citado complementa sobre a importância das inter-relações que devem existir
entre os fatores: ecológicos, hidrológicos, pedológicos, climáticos, morfológicos e
fitogeográficos, para o equilíbrio dos elementos da paisagem, enfatizando a relação entre
harmonia e a estabilidade desses elementos. Portanto, a paisagem é resultante da interação
entre o potencial ecológico, exploração biológica e ação antrópica.
Almeida (2015) descreve que historicamente, o conceito de paisagem foi introduzido
e analisado por diversos autores, todavia tais autores tratavam do tema de forma a atender
suas expectativas conforme o objeto de estudo que seria analisado naquela oportunidade.
Alguns tratavam a paisagem em seus aspectos naturais outros em seus aspectos culturais.
28

Neste sentido, segundo Bertrand (2004), abordar os conceitos de paisagem focando


apenas em elementos físicos, resultam em formas de representá-la, no entanto não a define
com a complexidade dos seus elementos, os quais devem estar incluídos os fatores
antrópicos. Rodrigues (2001) ao se referir ao conceito de paisagem, lembra que esta para a
Geografia Física, apesar de ter sofrido diversas modelações e concepções, tem como suporte
lógico a teoria geral dos sistemas.
Nesse contexto, considerando-se a Teoria Geral dos Sistemas como uma abordagem
teórico metodológica para se analisar os elementos da paisagem de forma sistêmica,é
possível observar que na descrição da paisagem que se segue, está presente essa
caracterização sistêmica, ao serem abordados seus elementos naturais (o relevo e sua
evolução, a dinâmica fluvial, por exemplo) e antropogênicos (bem como seus efeitos na
morfodinâmica).
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2009), em seus estudos sobre
os elementos que compõem a fisionomia da paisagem, enfatiza sobre essa forma de
abordagem sistêmica, considerando as relações que se estabelecem entre o relevo e sua
evolução, bem como com as ações antrópicas e suas interações com os elementos naturais:
rochas, solo, vegetação, clima e hidrografia. Observa-se que ao se estabelecer as interações
nos diversos sistemas ambientais que compõem o ambiente, constata-se a possiblidade de
analisar a dinâmica desses elementos que compõem esses sistemas, utilizando-se da Teoria
Geral dos Sistemas, como descrito a seguir:

Com base no conhecimento do tipo de relevo, da evolução das vertentes e


da dinâmica fluvial é possível proceder uma análise integrada do ambiente,
tendo como base a avaliação do relevo ou avaliação morfodinâmica da
paisagem. Esta avaliação identifica categorias de relevo em função de suas
características e sua dinâmica atual, bem como os efeitos das atividades
antrópicas e sua reciprocidade sobre a morfodinâmica. Nela é considerada
a interação do relevo com outras variáveis ambientais como a rocha, o solo,
a cobertura vegetal, além do clima e da hidrologia. (IBGE, 2009, p. 4)

Para Troppmair (2006), “Paisagem é a fisionomia do próprio geossistema, resultado


da estrutura dos elementos.” “Paisagem abrange área ampla”. No entanto, para Silva &
Rodriguez (2011), as paisagens são formações complexas e possuem estruturas próprias e
feições heterogêneas, diversidade de inter-relações e de hierarquia tipológica e individual.
Segundo estes autores, cada unidade paisagística é caracterizada por interações entre seus
componentes e seus processos naturais é que condicionam a evolução antropogênica.
29

Casseti (1995), propõe que a paisagem pode ser considerada um fator de integração
de parâmetros físicos, bióticos e socioeconômicos e vem sendo empregada em análises que
envolvem impactos ambientais em diferentes empreendimentos com relevantes resultados.
Estes possibilitam conhecer as potencialidades e fragilidades que envolvem o espaço natural,
buscando a compreensão integrada dos componentes da análise.
Para Ab’ Saber (2003), a paisagem é uma herança moldada pela natureza, (paisagem
natural) e pelo homem (paisagem cultural). No contexto da paisagem cultural o autor propõe
que os indivíduos são responsáveis pelas mudanças que causam na paisagem; daí
ponderarem por um modelo de gestão equilibrada da área que sofrerá interferência. Seguindo
essa abordagem das mudanças na paisagem, o autor enfatiza os impactos antrópicos gerados
pela substituição dos ecossistemas naturais por diversos usos da terra, em especial no bioma
Cerrado.
Para Christofoletti (1999), a paisagem compreende o campo de pesquisa da
Geografia onde são analisados: sistemas ambientais físicos e socioeconômicos, bem como a
dinâmica dos seus elementos. Guerra e Marçal (2014) complementam que de acordo aos
estudos soviéticos, a visão sistêmica dos elementos que compõem a paisagem, proporcionou
maiores possibilidades de reflexão e compreensão dos sistemas naturais e seus elementos.
Para Rodriguez et al (2007), ao analisar a dinâmica da paisagem focando em seus
elementos, concluiu que é indispensável considerar o tempo, o conjunto de processos
recorrentes, a resistência ou não dos seus elementos a esses processos, sua morfologia,
radiação solar, precipitações recebidas e sua dinâmica, destacando que a paisagem
(interagindo efeitos naturais e antropogênicos) se encontra em constante e contínuo
desenvolvimento/transformação.
Para que seja compreendido o conceito de paisagem, consideram-se as contribuições
trazidas pelos diversos autores, onde os mesmos estabelecem que é indispensável mencionar
a importância da análise sistêmica nesses estudos. Este permitiu a compreensão da paisagem,
bem como sua análise geográfica sociedade/natureza, buscando os efeitos das inter-relações
de elementos naturais e antrópicos. Entende-se que o conceito de paisagem, bem como a
delimitação de unidades de paisagem, favorecem a uma proposta de visão holística,
avaliando seus elementos de forma integrada, como proposto por Bertran (2004). Para o
autor, a paisagem deve ser vista como um todo homogêneo, e nesta paisagem se inclui a
unicidade entre sociedade e natureza.
30

1.2 A TEORIA GERAL DOS SISTEMAS

A (TGS) Teoria Geral dos Sistemas ou abordagem sistêmica será utilizada neste
trabalho como pressuposto teórico-metodológico para se compreender que o estudo das
interações que ocorrem entre os diversos elementos de um sistema, pode ser aplicado em
diversas ciências, como por exemplo na Geografia. No caso da aplicação dessa teoria em
estudos geográficos, como é o caso deste trabalho, parte-se da análise de elementos físicos
(geologia, pedologia, geomorfologia, hipsometria, declividade, hidrografia) e antrópicos
(uso das terras) dos sistemas ambientais que compõem a paisagem da microbacia
hidrográfica do Córrego das Pedras.
A Teoria Geral dos Sistemas (TGS) ou Teoria Sistêmica, surgiu com o cientista
alemão Ludwig Von Bertalanffy, no século XX, por volta de 1901, porém somente se
difundiu a partir da década de 1950, influenciando diversas ciências no que se refere a sua
organização e funcionalidade, bem como facilitando integrações e conceitos entre as várias
ciências. Em sua obra: “Teoria General de Los Sistemas”, Bertalanffy (1968), demonstra as
diversas possibilidades de aplicações da Teoria Geral dos Sistemas na matemática, na
psicologia, nas ciências sociais, humanas, biológicas, tecnológicas, dentre outras.
Segundo Rodrigues (2001), a Teoria Geral dos Sistemas, proposta por Bertalanffy,
tinha como objetivo a pesquisa científica dos sistemas nas diversas ciências, sua aplicação
tecnológica e ainda, discussões quanto a um novo modelo científico que estaria sendo criado.
Para Neto (2008), Bertalanffy demonstra preocupações com relação ao possível
esgotamento e às limitações de propostas metodológicos da ciência clássica, compreendendo
a utilidade do estudo integrado de elementos, distanciando-se de ideias separativas e
reducionistas.
Nesse contexto, na Teoria Geral dos Sistemas (TGS), segundo Bertalanffy (1968),
considera-se que há constante interdependência entre os elementos de um sistema ou relação
de reciprocidade, no intuito de atingir um mesmo objetivo, permitindo a organização do todo
e não simplesmente das partes independentes. Considera-se ainda que os sistemas vivos são
sistemas abertos, estes se encontram em constante intercâmbio, realizando interações
permanentes.
Para Tricart (1977), os sistemas possuem dinâmica própria, bem como cada
fenômeno nele incorporado, o qual pode ser também considerado como um sistema,
recebendo a denominação de subsistema e definindo relações de taxonomia. Para esse autor,
31

não há limite inferior para os subsistemas, pois sempre há descobertas de partículas cada vez
menores, considera-se o universo como limite superior.
Tricart (1977), define sistema, como sendo um instrumento eficaz para a realização
de estudos relacionados ao meio ambiente, pois oferece recursos para as técnicas de
investigação, como por exemplo a visão de conjunto. Esta oferece o caráter dinâmico como
meio de se compreender os sistemas ambientais.
Na Ciência Geográfica, esses sistemas de acordo com Casseti (1995), caracterizam-
se por serem sistemas naturais, onde ocorrem regularmente processos de interação e
interconexão entre os elementos desse sistema em que o homem é tido como ser integrante
e responsável pela organização espacial e social.
Para Neto (2008), o pensamento sistêmico que é utilizado em estudos geográficos
tem por objetivo compreender o quanto se torna complexa a explicação de como se organiza
um sistema, segundo suas interações, interdependências entre seus elementos, ao mesmo
tempo possuindo relações dinâmicas entre si; considerando relações interativas entre homem
e natureza.
Segundo Batista et al (2014), analisando conceitos da visão sistêmica a partir de
diversos autores, afirmam que:

...a visão sistêmica surge com a premissa de se estudar a organização como


um todo e não apenas pelas partes, para ter uma análise mais efetiva. Pois,
a ideia de visão sistêmica, está baseada no conceito de sinergia, que
consiste em que o todo é mais que a soma das partes. (BATISTA, et al,
2014, p.4)

Quanto à forma sistêmica de análise, utilizada pela Geografia, Troppmair (2006),


lembra que analisar o espaço geográfico de forma holística ou integrada, é uma linguagem
atual (análise sistêmica) na ciência Geográfica. Porém esta forma de análise já ocorria com
o clássico, Alexander Von Humboldt (1769/1857), quando realizava seus estudos
considerando a totalidade do fenômeno analisado.
Ainda segundo Troppmair (2006), ao se referir à visão sistêmica, afirmou que foi um
importante evento ocorrido para a ciência geográfica, pois houve o direcionamento para a
sistematização e a integração dos elementos que compõem o meio ambiente suas conexões
e processos como um importante acontecimento que poderia ser utilizado pelo homem em
suas observações.
32

Para Ross (1995), a Teoria Geral dos Sistemas é uma concepção teórica que embasa
análises referentes a unidades de sistemas naturais ou antrópicos. Nela estão envolvidos
estudos sobre os fluxos de matéria e energia que envolvem componentes, sejam originados
na natureza sejam causados por ações humanas. Esses componentes, segundo o autor são
determinados por leis da física ou da química, definindo sua funcionalidade e resultando em
um equilíbrio dinâmico ou em desequilíbrio temporário.
Christofoletti (1980), define que um sistema pode ser determinado como um conjunto
de elementos e suas relações mútuas de interdependência. Neste sentido, entende-se que a
Teoria Geral dos Sistemas, aproximou-se da Geografia Física especificamente no sentido de
definir os conceitos de paisagem e de geossistema. Nascimento & Sampaio (2005), definem
as relações existentes entre Geografia Física, Geossistema e a dinâmica entre seus elementos
da seguinte forma:

Entende-se por Geografia Física o estudo da organização espacial dos


geossistemas, de vez que essa organização se expressa pela estrutura
conferida pela distribuição e arranjo espacial dos elementos que compõem
o universo do sistema, os quais são resultantes da dinâmica dos processos
atuantes e das relações entre os elementos. (NASCIMENTO & SAMPAIO,
2005, p.167)

A análise sistêmica confere à Geografia resultados mais consistentes quanto a sua


análise, já que permite conhecer sobre o comportamento dos diversos elementos que
compõem o espaço estudado e suas relações entre si. A seguir será realizada uma breve
explanação sobre a abordagem teórico-metodológica denominada de Teoria Geossistêmica,
utilizada como ferramenta para o estudo de análise ambiental. Esta abordagem conferiu à
Geografia Física um novo olhar sobre o seu objeto de estudo.

1.3 TEORIA DOS GEOSSISTEMAS

A Teoria dos Geossistemas será utilizada neste trabalho como forma de abordagem
para se compreender as interações entre os elementos físicos (geologia, pedologia,
geomorfologia, hipsometria, declividade, hidrografia) e antrópicos (uso das terras), da
paisagem da microbacia hidrográfica do Córrego das Pedras, compreendendo que as relações
contidas nos elementos que compõem os geossistemas, devem ser analisadas de forma
sistêmica.
33

Para Bertrand (2004), a Teoria dos Geossistemas foi criada aplicando-se


pressupostos trazidos pela Teoria Geral dos Sistemas às Ciências Geográficas, com foco em
suas paisagens naturais. Essa abordagem metodológica tem como proposta analisar de forma
integrada os elementos da geosfera, litosfera, atmosfera e biosfera em relação a uma
realidade antrópica.
Nascimento e Sampaio (2005) lembram que essa teoria é considerada recente na
Geografia. Foi criada pelo russo Sotchava, na década de 1960 como forma de analisar as
paisagens geográficas complexas e a dinâmica dos seus elementos. Enfatizava a existência
dos fluxos de matéria e de energia recorrentes entre os elementos bióticos e abióticos no
geossistema, porém não considerava a ação humana como componente desse sistema.
Bertrand (2004), aperfeiçoou as teorias de Sotchava, bem como incluiu a ação
antrópica em seu conceito de geossistema. Propôs um método de estudo do geossistema,
definindo-o como uma categoria espacial em que se inclui a ação antrópica em que sua
estrutura e dinâmica é resultado da interação entre: potencial ecológico (clima, hidrologia,
geomorfologia); exploração biológica (vegetação, solo, fauna) e ação antrópica, em uma
relação de interdependência, realizando trocas constantes de energia entre seus elementos.
Para esse autor, a forma que um geossistema, que também pode ser considerado uma unidade
de paisagem, evolui, reúne diversas formas de energia complementares ou antagônicas e
estas reagem combinadas entre si e definem a evolução dessa paisagem.
Rodrigues (2001), considera que os estudos trazidos pela teoria de Sotchava, que se
concretizaram no Brasil nos estudos realizados por Monteiro (1982, 2000), concebeu
possibilidades para melhor se compreender e valorizar a dinâmica dos ambientes, afirmando
que os geossistemas eram formados por elementos humanos, físicos, químicos e biológicos
bem como com os aspectos socioeconômicos, formando um conjunto com inter-relações
entre esses elementos.
Para Rodriguez et al (2007), a paisagem natural é concebida como um geossistema,
este se define como um espaço onde os componentes naturais se encontram em relações
sistêmicas entre si e interagindo com a esfera cósmica, bem como com a sociedade humana.
Casseti (1995), caracteriza os geossistemas como um conjunto de elementos em
equilíbrio dinâmico e considera que esse geossistema é composto por subsistemas como a
atmosfera, a litosfera, a hidrosfera e complementa que na área de intersecção dessas 3
unidades, ocorre outro subsistema, a biosfera, em uma relação direta com o homem.
34

Considera que havendo intervenções em elementos que compõem os subsistemas, o


resultado dessa intervenção reflete em todo o conjunto, no geossistema.
Segundo Rosolém et al, utilizando-se de argumentos de Monteiro (2001) afirma que
o emprego da abordagem teórico metodológica através do método geossistêmico, contribui
nas estruturas dos subsistemas, por meio de uma hierarquia da dinâmica espacial e ambiental
e também natural e social, viabilizando análises geográficas de forma estruturada e
hierárquica.
Para Nascimento & Sampaio (2005) e Christofoletti (1980): Bertrand (1968)
aprimorou a definição de geossistema trazida por Sotchava, para facilitar a delimitação da
área de estudo, e acrescentou uma “tipologia espaço-temporal”, bem como “fatores
socioeconômicos e biogeográficos”. Classificou as unidades de paisagem criando
denominação taxonômica: zona, domínio, região natural (unidades superiores); geossistema,
geofácies e geótopo (unidades inferiores). Tal taxonomia se tratou de adaptação baseada na
classificação taxonômica criada por Tricart (1965).
Na procura por definir o geossistema, Christofoletti (1980), em seus estudos
referentes à análise ambiental, descreve o conceito de ecossistema e geossistema,
demonstrando que este último traz maior complexidade entre seus elementos. Tal autor
propõe o conceito de geossistema, assim definido:

Os Geossistemas, também designados como sistemas ambientais físicos,


representam a organização espacial resultante da interação dos elementos
físicos e biológicos da natureza (clima, topografia, geologia, água,
vegetação, animais, solos). Os sistemas ambientais físicos possuem uma
expressão espacial na superfície terrestre, funcionando através da interação
areal dos fluxos de matéria e energia entre os seus componentes.
(CHRISTOFOLETTI,1999, p. 37)

Troppmair (2006), quando analisou a dinâmica do Geossistema, considerou que


assim como as plantas e os animais evoluem em seu ciclo biológico, o homem também evolui
inserido no Geossistema e provoca modificações na estrutura e na dinâmica das inter-
relações. Porém segundo o mesmo autor, essas modificações não exercem grandes
influências no Geossistema a ponto de descaracterizá-lo.
Neste sentido para esse autor, o Geossistema mantém suas características naturais
fundamentais, a energia e os fluxos, desconsiderando, portanto, a ideia de que o Geossistema
seria totalmente descaracterizado pela ação antrópica.
35

Troppmair (2006) ao definir os Geossistemas, afirma que estes são sistemas


dinâmicos que englobam os elementos abióticos e bióticos, onde se deve levar em conta não
somente aqueles existentes no momento, mas também a sua história, acrescentando nesta a
definição do elemento “tempo”, considerando a dinâmica da natureza como reflexo do
comportamento social e econômico. Neste sentido, os estágios de evolução no tempo e no
espaço refletem as diferentes paisagens que são resultantes das relações entre os meios
bióticos, abióticos e antrópicos.
Christopherson (2007), afirma que a teoria sistêmica está na base da compreensão
das diversas paisagens da superfície da Terra e tomando-se os geossistemas como
subunidades, sob a análise da teoria geossistêmica, apanha-se suas características
individuais, porém interconectadas com as demais, em harmonia com o fluxo de energia e
matéria.
Conforme Pissinati et al (2009), Bertrand apresentou em 1997, uma nova forma de
estudo dos geossistemas que se baseava em um sistema tripolar: o Sistema Geossistema,
Território e Paisagem (GTP), se tratando de três vias metodológicas. Neste sentido,
baseando-se em Bertrand (2007), os autores afirmam que nesse método, o geossistema
compreende os elementos abióticos (rocha, ar e água); bióticos (animais, vegetais e solos) e
antrópicos (a sociedade e os efeitos sobre o ambiente). O território compreende os elementos
sociais e econômicos, considerando sua relação com o espaço/tempo. E a paisagem
compreende elementos socioculturais referentes ao espaço geográfico analisado. Considera-
se para essa análise integrada três conceitos básicos: espacial, natural e antrópico.
Observa-se que o objetivo do sistema: Geossistema, Território e Paisagem (GTP),
como metodologia, é analisar estes três conceitos para assim compreender a dinâmica de um
determinado espaço geográfico. Trata-se então da compreensão das interações recorrentes
entre seus elementos para se compreender as interações entre a paisagem, o território e o
geossistema. O pesquisador ao visualizar a paisagem e a relação entre seus elementos,
compreende a dinâmica da sua área de estudo.
Para Pissinati et al (2009),há necessidade da procura pela compreensão das
dinâmicas presentes nos geossistemas e neste sentido, Botelho e Silva (2004), consideram
que o homem é um componente integrante desse sistema, que age e interage com os demais
elementos, todavia há expectativas que as modificações concretizadas pelo homem sejam de
forma consciente, buscando as implicações resultantes de intervenções antrópicas sem o
36

devido planejamento, o homem é a possibilidade da instalação de um novo equilíbrio


inserido em um sistema.
A busca por esse equilíbrio nos sistemas ambientais que segundo Botelho e Silva
(2004), deve ser proporcionada pela existência humana, traria resultados consistentes,
quanto ao comportamento dos elementos que compõem os sistemas ambientais e suas
relações estabelecidas ao longo do tempo. É visível a necessidade de tomadas de decisões
quanto ao uso racional dos recursos naturais, principalmente com relação à conservação das
paisagens, ou da quantidade e qualidade das águas nas bacias e microbacias hidrográficas.
Nesse contexto, trazendo a necessidade de discussões sobre a conservação das
paisagens e da água como um recurso finito, a seguir será realizada uma breve abordagem
sobre o estudo da bacia hidrográfica como unidade de paisagem. Ao se utilizar essa
abordagem, propõe-se que a dinâmica dos elementos dessa bacia ou microbacia hidrográfica
poderá ser analisada de forma sistêmica e poderão ser observadas as transformações
causadas por influências naturais e antrópicas.

1.4 A BACIA HIDROGRÁFICA COMO UNIDADE DE PAISAGEM

Com relação à bacia hidrográfica como unidade de paisagem, buscar-se-á discussões


às quais serão tomadas como referência para se compreendera importância dos elementos
que compõem a bacia hidrográfica, bem como a escala de análise em que esses estudos
podem ocorrer. Importante considerar que estudos envolvendo a bacia hidrográfica como
unidade de paisagem criaram precedentes para que fossem realizados estudos também em
bacias menores, como as microbacias hidrográficas, sendo que estas últimas foram
regulamentadas pelo Decreto 94.076/1987.
No caso da realização desse trabalho, serão analisados os elementos físicos,
(geologia, pedologia, geomorfologia, hipsometria, declividade, hidrografia) e antrópicos
(uso das terras) da paisagem de uma microbacia hidrográfica. Porém, estudos referentes a
bacias hidrográficas serão utilizados como referência para melhor compreensão dessa
pesquisa.
Segundo Estêvez et al (2011), as unidades de paisagem caracterizam situações
homogêneas de determinado ambiente, distinguindo espaços heterogêneos e permitindo a
análise de elementos, suas relações, inter-relações mediante explorações antrópicas, bem
37

como suas potencialidades e limitações. Segundo esses mesmos autores, as unidades de


paisagem, são dotadas de atributos que servirão como indicadores para sua delimitação e tais
atributos compreendem: o relevo, o clima, o solo ou a vegetação.
Conforme Dalbem (2005), a delimitação das unidades de paisagem é o início da
resolução de problemas complexos enfrentados pelos elementos daquela paisagem,
principalmente no que tange às complexidades do modelo produtivo o qual a sociedade
capitalista atual está inserida.
Para Guerra & Marçal (2014), a paisagem vista como unidade ambiental, permite a
delimitação de unidades territoriais com dinâmicas semelhantes, às quais denominam-se,
“unidades de paisagem”. Estas acumulam padrões homogêneos representados nessa
paisagem e que podem ser utilizados em ações que envolvem planejamento ambiental.
Segundo Oliveira (2004), o planejamento compreende a preparação com roteiro e
métodos determinados, que no caso do planejamento ambiental, deve ser elaborado por uma
equipe multidisciplinar de pesquisadores e em sua execução, trata-se de envolvimento da
instância governamental em seus diversos níveis.
Ao se definir a bacia hidrográfica como unidade de paisagem, define-se a escala de
planejamento para a realização de ações concretas na área de estudo estabelecida. Botelho
(2004) define bacia hidrográfica como célula básica de análise ambiental, que permite
conhecer e avaliar seus diversos componentes, bem como os processos e interações que nela
ocorrem, sendo que a visão sistêmica e integrada do ambiente está implícita na adoção desta
unidade fundamental.
Em se tratando das unidades de paisagem, a bacia hidrográfica, segundo Botelho
(2004), Botelho & Silva (2011), deve ser estudada como uma unidade de paisagem, pois
naquela área de estudo onde está localizada a bacia hidrográfica, ocorrem inter-relações de
diversos elementos resultando na interdependência daqueles seres vivos e não vivos.
Botelho & Silva (2011), afirmam que a bacia hidrográfica possibilita conhecer e
avaliar seus diversos processos e interações e sob uma visão sistêmica e integrada, toma-se
a bacia hidrográfica como unidade fundamental de análise. Esses autores ainda
complementam que através dos elementos que compõem o sistema hidrológico (solo, água,
ar, vegetação) e seus processos (infiltração, escoamento, erosão, assoreamento, inundação,
contaminação), é possível avaliar o equilíbrio e a qualidade ambiental do sistema .
Nesse contexto, Novaes et al (2000), enfatizam que a gestão de forma integrada em
bacias hidrográficas é necessária, uma vez que possibilita melhor atendimento às
38

necessidades da sociedade e assim, minimiza os impactos ao meio ambiente. Portanto essa


gestão integrada se tornou de suma importância como possibilidade de uso racional e
conservação dos recursos ambientais, bem como dos sistemas ambientais.
A discussão sobre a bacia hidrográfica como unidade de paisagem permite que tal
área seja analisada e estudada com a finalidade de se encontrar elementos norteadores, que
auxiliem na conservação dos recursos naturais. Neste sentido, para Guerra (2010),
considerando a bacia hidrográfica, bem como a gestão dos seus recursos, afirma que:

A bacia hidrográfica é uma unidade de investigação antiga no campo da


Geografia Física. É definida pela área de drenagem de um rio principal e
de seus tributários. As bacias são compostas de subsistemas (microbacias)
e de diferentes ecossistemas (várzeas, terra firme). Os limites territoriais
das bacias hidrográficas ou de seus subsistemas nem sempre coincidem
com as delimitações político-administrativas, de modo que uma mesma
bacia pode ser compartilhada por diferentes países, estados ou municípios,
criando complicadores para a gestão ambiental. (GUERRA, 2010, p.70)

Considerando esses complicadores para a gestão ambiental das áreas de bacias


hidrográficas e a degradação causada pelo uso e ocupação antrópicos que resultam no risco
de escassez dos recursos naturais, Lopes (2011) traz a seguinte discussão: como medida de
prevenção, foi criado o dia mundial da água pela Organização das Nações Unidas (ONU) no
dia 22 de março de 1992. Esta criação se justificou pela pouca disponibilidade de água
potável no planeta, tratando-se de menos de 1%. No entanto, grande parte das fontes, rios,
lagos e represas continuam sendo contaminados e degradados pelo modelo de exploração
adotado pelo homem. Tal situação, segundo o autor, é preocupante, uma vez que, em um
futuro próximo, faltará água para grande parte da humanidade, estimando que para 2025
mais de 2,7 bilhões de pessoas sofrerão com essa escassez.
Sobre tais circunstâncias, Tundisi (2008), considera que o Brasil possui cerca de 14%
de toda a água do planeta, entretanto há uma distribuição desigual dessa notável quantidade
e isso é perceptível quando se estabelece parâmetros a respeito dessas quantidades nas
regiões brasileiras, ao se comparar a quantidade disponível para um habitante da Amazônia
e para um habitante da região nordeste; porém o autor enfatiza ainda questões como os
inúmeros problemas econômicos e sociais, especialmente, levando-se em conta a
disponibilidade/demanda e saúde humana na periferia das grandes regiões metropolitanas do
Brasil, bem como a complexidade das questões que envolvem saneamento básico e a
importância de se avançar na gestão dos recursos hídricos.
39

Pressupondo a atual forma de uso e ocupação dos espaços, a necessidade de


planejamento e de práticas de gestão sustentável nas bacias hidrográficas ou microbacias
hidrográficas, Botelho (1999), afirma que para se conhecer as potencialidades e limitações
de uso e ocupação de uma área que sofrerá interferências antrópicas, é necessário realizar
levantamentos sobre características físicas como: clima, geologia, relevo, solos, rede de
drenagem e vegetação. Em se tratando de microbacias hidrográficas, a análise desses
elementos deve ser detalhada.
Veloso et al (2011), apontam que o estudo ambiental de bacias hidrográficas,
justifica-se pela visão integrada de todos os elementos do meio. Essa análise permite o
gerenciamento de medidas públicas e também a fiscalização de irregularidades como o
desmatamento e a remoção das zonas ripárias. O avanço das geotecnologias utilizando-se de
softwares capazes de analisar imagens de satélites permite o monitoramento eficaz desse
sistema à distância.
Em se tratando dos efeitos naturais e antrópicos sobre as unidades de paisagem,
Christofoletti (1981), ao analisar processos erosivos em áreas de bacias hidrográficas,
apontou que para os cursos fluviais alcançarem o equilíbrio hidrodinâmico, ocorrem erosões
como mecanismo natural de equilíbrio, no entanto afirma que no último século as
interferências antrópicas têm influenciado negativamente, acelerando esses processos
naturais. Leite (2012), complementa que o equilíbrio hídrico está vinculado essencialmente
ao nível de preservação das bacias hidrográficas. Entende-se, portanto, que as ações
antrópicas influenciam diretamente na qualidade ambiental e no equilíbrio das unidades de
paisagem.
Para Cunha (2010), ações naturais e humanas presentes em uma bacia hidrográfica
refletem de forma direta e indireta nos rios dessa bacia, realizando alterações como descargas
sólidas e dissolvidas, poluição de diversas origens, retiradas das matas ciliares onde se
misturam fatores naturais e antrópicos. Essa autora lembra ainda que os sistemas fluviais
necessitam de longos períodos, até centenas de anos, para se recuperarem de degradações.
Com relação a essas degradações geradas por fatores antrópicos e a importância de
se manter as matas ciliares, de acordo com pesquisas realizadas pela Embrapa (2012) e
Cunha (2010), afirmam que as matas ciliares geram importantes benefícios ambientais, como
por exemplo: diminui riscos de contaminação da água, diminui riscos de assoreamento,
estabiliza barrancos de rios, fornece alimento, abrigo e refúgio para animais terrestres e
aquáticos, mantém a temperatura e o nível de oxigênio adequados, funcionam como um
40

corredor ecológico. E a ausência dessas matas ciliares causaria desequilíbrios ambientais que
afetariam a vida dos animais, das plantas, dos seres humanos e a qualidade das águas.
Segundo Botelho & Silva (2011), o valor da bacia hidrográfica se tornou bastante
notável, como unidade de análise, pois nesta é possível realizar avaliações de forma
integrada principalmente no que se refere às ações humanas e o equilíbrio ecológico.
Segundo Cunha (2010), a gestão sustentável ao ser aplicada em uma bacia
hidrográfica deve conciliar mudanças antropogênicas e proteção ambiental. Delimitar a
escala espacial de trabalho dentro da bacia hidrográfica, bem como o grau de intensidade, se
total, parcial ou mínimo. No entanto, segundo a mesma autora os fatores abióticos que
compreendem a forma do canal e a hidrologia, somados à qualidade da água, são
considerados os fatores mais relevantes; pois estes, sendo recuperados, há o retorno da fauna
e flora.
Para Fernandes (2013), as unidades de paisagens devem ser geridas, visando
principalmente: a preservação, a recuperação e a geração de renda; resultando em avaliação
das terras segundo a sua capacidade de uso, com o aproveitamento da paisagem que favorece
ao ecoturismo, controle nas atividades agrosilvipastoris e identificação de áreas de risco; tais
procedimentos têm resultados satisfatórios quando o objetivo proposto é a conservação dos
recursos naturais.
Conhecer os elementos da paisagem com suas potencialidades e fragilidades, bem
como a dinâmica de uso e ocupação das terras da área da bacia hidrográfica podem conduzir
a políticas públicas, visando o planejamento e gestão dos sistemas ambientais. Diante do
exposto, percebe-se a evolução de conceitos, métodos e técnicas em diferentes espaços e
tempos na busca por um entendimento da paisagem como local das relações de trocas entre
os meios biótico, abiótico e antrópico.
Embora este estudo esteja relacionado a uma microbacia hidrográfica, tornaram-se
necessárias algumas discussões conceituais sobre o tema, “bacia hidrográfica”, pois tratam
de discussões necessárias à compreensão do uso da microbacia como unidade de estudo ou
que influenciaram a possibilidade da microbacia ser utilizada para tal finalidade.
Observa-se que para tratar de forma legal situações específicas referentes às
microbacias hidrográficas, principalmente no que tange ao planejamento, gestão e
aproveitamento socioeconômico em âmbito local, foi criado o Decreto 94.076/1987 que
institui o Programa Nacional de Microbacias Hidrográficas (PNMH), sob a responsabilidade
do Ministério da Agricultura.
41

1.4.1 As Microbacias Hidrográficas

Sobre as microbacias hidrográficas, serão conduzidas discussões considerando-as


como unidades de paisagem e considerando-se o marco legal da sua criação. Essa pesquisa
é direcionada à análise de diversos elementos da paisagem, da microbacia hidrográfica do
Córrego das Pedras, compreendidos em elementos físicos: clima vegetação, geologia,
pedologia, geomorfologia, hipsometria, declividade, hidrografia e antrópicos: uso das terras.
A análise de tais elementos, auxiliarão em estudos que envolvem o conhecimento e a
compreensão da paisagem da microbacia, como proposta nos estudos realizados por Botelho
(1999), Botelho & Silva (2004) ou Silva (1994).
Para Botelho & Silva (2004) a utilização da bacia hidrográfica como escala de estudo
pressupõe as múltiplas formas que ela pode ser analisada, como por exemplo: bacias de
ordem zero, sub-bacias e microbacias. Observa-se que a escolha da forma de estudá-las,
esteja diretamente relacionada ao que se deseja pesquisar.
O Programa Nacional de Microbacias Hidrográficas, PNMH (1987), estabelece a
definição de microbacia como sendo uma “área drenada por um curso d’água e seus
afluentes, a montante de uma seção transversal, para a qual convergem as águas que drenam
a área considerada”.
Silva (1994), no entanto, considera que a microbacia é a menor unidade territorial
capaz de evidenciar as variáveis ambientais de forma sistêmica e que as políticas públicas
que determinam as microbacias como unidade de planejamento partem da perspectiva do
desenvolvimento sustentável e pressupõem o uso racional dos recursos naturais nela
existentes.
Segundo Florenzano (2011), a bacia hidrográfica ou bacia de drenagem pode ser
classificada em sub-bacias ou microbacias, e podem ser unidades de estudo ou de
planejamento, esta autora define a microbacia como sendo uma unidade espacial mínima
estabelecida pelos canais fluviais de primeira ordem.
Bigarella (2003), ao se referir às microbacias hidrográficas, considerou-as como
cabeceiras de drenagem influenciadas geomorfologicamente por fatores naturais e
antrópicos. Este autor esclarece que estas microbacias sofrem alterações de acordo com: a
disponibilidade de umidade no fundo dos vales; a acumulação e transporte de sedimentos
provocados por desmatamentos e erosões que ocorrem nas encostas ou ainda, outras
perturbações presentes em seus canais fluviais efêmeros, intermitentes e perenes.
42

Botelho & Silva (2004), esclarecem que a utilização do termo “microbacia” está
relacionado às práticas de projetos de manejo e conservação do solo em área rurais, em que
o planejamento das propriedades rurais foi aos poucos sendo substituído pelo planejamento
das microbacias onde estas propriedades estavam localizadas, no entanto, consideram que
as dimensões da área da microbacia se encontram entre 0,8 e 700 km2. Esses autores, ainda
consideram que:
“... microbacia é toda bacia hidrográfica cuja área seja suficientemente
grande, para que se possam identificar as inter-relações existentes entre os
diversos elementos do quadro socioambiental que a caracterizam, e
pequena o suficiente para estar compatível com os recursos disponíveis
(materiais, humanos e tempo), respondendo positivamente à relação
custo/benefício existente em qualquer projeto de planejamento. ”
(BOTELHO & SILVA, 2004, p.157)

Botelho & Silva (2011) lembram que não há consenso entre pesquisadores quanto à
dimensão da microbacia ou sua definição conceitual, no entanto esta vem sendo utilizada
por profissionais da área ambiental, principalmente em projetos que envolvem planejamento
e gestão.
Segundo Silva (1994), o manejo integrado, envolvendo planejamento ambiental em
microbacias hidrográficas no Brasil, se iniciou por volta da década de 1980 e possui um
conjunto de possibilidades como também de limitações. Esta abordagem em microbacias se
trata de escala local e regional, buscando interferências na organização territorial de acordo
às condições naturais.
Nesse contexto, foi criado o Decreto 94.076/1987 que instituiu o Programa Nacional
de Microbacias Hidrográficas PNMH, sob a responsabilidade do Ministério da Agricultura,
tendo em vista um aproveitamento agropecuário eficaz dessas áreas, por meio de práticas
coerentes de utilização dos recursos naturais, em seu artigo 20 descreve como objetivos:

I - executar ações voltadas para a prática de manejo e conservação dos


recursos naturais renováveis, evitando sua degradação e objetivando um
aumento sustentado da produção e produtividade agropecuárias, bem
como da renda dos produtores rurais;
II - estimular a participação dos produtores rurais e suas organizações
nas atividades de que trata o inciso anterior;
III - promover a fixação das populações no meio rural e reduzir os
fluxos migratórios do campo para a cidade.
43

Para Silva (1994), o planejamento estratégico por bacias hidrográficas se define,


fundamentalmente, nos diagnósticos das microbacias, considerando o balanceamento entre
os elementos culturais, sociais, econômicos e ecológicos na elaboração dos diagnósticos
dessas áreas. Observa-se que esse diagnóstico será decisivo na natureza da intervenção.
Para Botelho (1999), no caso de planejamentos realizados para áreas de microbacias
hidrográficas é necessário haver estudos detalhados de determinados atributos como: clima,
geologia, relevo, solos, rede de drenagem e vegetação, a fim de que sejam diagnosticadas as
potencialidades e limitações para os planos de uso e ocupação. Também é necessário que se
conheça os interesses dos proprietários de terra, o que produzem, quanto produzem, se em
escala comercial ou familiar, quais os problemas enfrentados; tais informações são
indispensáveis ao serem elaboradas medidas de planejamento (visando principalmente ações
preventivas) para a área da microbacia hidrográfica.
Neste sentido, o estudo da microbacia do Córrego das Pedras foi realizado nesse
trabalho através da interpretação da sua paisagem, de forma sistêmica, com a análise de suas
variáveis físicas e antrópicas: clima, vegetação, geologia, geomorfologia, pedologia,
hipsometria, declividade, hidrografia e uso das terras.
44

2 MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 Caracterização da Área de Estudos

Geograficamente, a microbacia hidrográfica do Córrego das Pedras, situa-se na


porção leste do município de Buritizeiro, mais precisamente na delimitação das coordenadas,
170 23' 23'' latitude Sul e 440 57' 20'' longitude W, drenando uma área de aproximadamente
112,07 km² e se integrando à bacia hidrográfica do rio São Francisco pela margem esquerda.
O município de Buritizeiro, MG, tem seu polígono delimitado pelas seguintes
coordenadas: 170 21’ 03’’ de latitude Sul e 440 57’ 43’’ de longitude Oeste (IBGE, 2014).
A 160 30’ de latitude Sul e 450 00’ de longitude Oeste (ao Norte próximo à Cachoeira do
Manteiga). A 180 00’ de latitude Sul e 450 00’ de longitude Oeste (ao Sul próximo de Três
Marias), (LACERDA et al, 2014). Segundo o IBGE (2016), com uma vasta área territorial
de 7.218,401 km2.
Esse município localiza-se na mesorregião administrativa no Norte do Estado de
Minas Gerais, correspondendo à parte da microrregião Alto Médio São Francisco, limitando-
se ao leste por Pirapora, ao Sul por Barreiro Grande e São Gonçalo do Abaeté, a Sudoeste
por Várzea da Palma e Lassance, a Oeste por João Pinheiro, a Noroeste por Lagoa dos Patos,
ao Norte por Ibiaí, Ponto Chique e Santa Fé de Minas (BAGGIO, 2002).
Para Ab’Saber (2003), a região estudada se encontra no domínio dos Chapadões
Tropicais Interiores, compostos por Cerrados e Matas de Galerias. A área de estudo,
localizada no município de Buritizeiro/MG, segundo Gama (2003), insere-se no contexto
brasileiro da intensa exploração dos recursos naturais, à qual se caracteriza pela
modernização da agricultura e criação extensiva de gado que teve início na década de 1960
e se intensificou a partir da década de 1970, com novos padrões agropecuários e com a
expansão do capitalismo no campo. Tais aspectos trouxeram à paisagem rural
transformações e degradações provocadas pela inserção de tecnologias no campo e
incentivos gerados pelo modelo de agricultura comercial. Gama (2003), Viana (2006) e
Baggio (2003, 2008) relatam tais situações em seus estudos sobre a paisagem do município
de Buritizeiro. O contexto da microbacia hidrográfica em estudo compõe-se de
características semelhantes, com presença de pastagem e silvicultura de eucalipto.
Esta microbacia é composta por pequenos córregos e veredas que compõem os
afluentes e subafluentes do Córrego das Pedras, tendo como principais afluentes: Córrego
45

do Gentil pela margem esquerda, Córrego Brejinho e Córrego Piraporinha pela margem
direita.
O Córrego das Pedras, (área de estudo), conforme (Figura1), é um afluente da
margem esquerda do rio São Francisco, localiza-se na porção leste de Buritizeiro, MG,
possuindo aproximadamente 20 quilômetros de extensão. Sua nascente compreende área de
vereda situada na zona rural do município, percorre área de vegetação de Cerrado e
posteriormente depara-se com a área urbana (pequena parte do seu curso próxima à foz) e
logo em seguida deságua no rio São Francisco.

Figura 1 – Localização da Microbacia Hidrográfica do Córrego das Pedras

Fonte: IBGE, 2010. Org. GUEDES, C. R. M. (2018).

Para a execução da proposta metodológica seguiu-se o cronograma planejado que foi


estabelecido previamente conforme (Figura 2). A pesquisa foi programada para ser
desenvolvida na área ocupada pela microbacia hidrográfica do Córrego das Pedras, que teve
pontos georreferenciados. O objetivo principal foi analisar a paisagem da microbacia em
questão, no que se refere a aspectos físicos: clima, vegetação, geologia, pedologia,
geomorfologia, hipsometria, declividade, hidrografia e aspectos antrópicos, (uso da terra,
46

considerando a relação espaço-temporal). Importante considerar que esses aspectos físicos e


antrópicos foram analisados de forma sistêmica (utilizando-se da Teoria Geral dos Sistemas
e da Teoria dos Geossistemas).

2.2 Procedimentos Metodológicos

A seguir observa-se as quatro etapas, em resumo, dos procedimentos metodológicos


às quais estão expostas na (Figura 2):

Etapas dos procedimentos metodológicos

1a etapa: planejamento das etapas de


pesquisa; pesquisas em acervos
bibliográficos e cartográficos;
análises de imagens de satélites,
delimitação da área de estudo,
elaboração de mapas, gráficos e
tabelas.

2a etapa: pesquisa empírica,


levantamento e validação de dados
em campo (especialmente a 3a etapa: análise e discussão dos
localização das veredas); resultados.
georreferenciamento, registro das
características da paisagem através de
fotografias.

4a etapa: Elaboração de Carta Síntese das fragilidades


ambientais presentes na área da microbacia hidrográfica, de
acordo com Ross (1993); Elaboração de relatório.

Figura 2: fluxograma demonstrando as etapas dos procedimentos metodológicos.

Inicialmente esta pesquisa constituiu-se em acervo bibliográfico sobre estudos


científicos relacionados a aspectos teóricos/conceituais que envolveram o conceito de
paisagem e sua análise integrada, a Teoria Geral dos Sistemas, a Teoria dos Geossistemas,
47

Bacias e Microbacias Hidrográficas, tendo como base os seguintes autores como referencial
teórico principal: Bertalanffy (1968), Bertrand (2004), Christofoletti (1980, 1981, 1999),
Troppmair (2006), Botelho (1999), Botelho & Silva (2004), Cunha 2010, Ab’ Saber (2003),
Ross (1993), Guerra & Mendonça (2011), Guerra & Marçal (2014), Casseti (1995, 2005),
Guerra (2010), Tundisi (2008), dentre outros.
Os principais materiais utilizados compreenderam: Software do Sistema de
Informação Geográfica ArcGIS1; Microsoft Excel; cartas topográficas; câmera fotográfica;
imagens de satélite, aparelho geodésico do Sistema de Posicionamento Global (GPS).
A área de estudo foi delimitada e foi elaborado mapa com informações sobre a rede
de drenagem, rodovias com maior proximidade, áreas urbanas e o limite da microbacia
hidrográfica. Tais informações foram extraídas a partir de imagens de satélites e cartas
topográficas. Utilizou-se da carta 1:250.000 SE-23-X-A.
Para fins de caracterizar os elementos da paisagem: geologia, pedologia,
geomorfologia, hipsometria, declividade, hidrografia e uso da terra, ocorreu a seleção,
análise e a interpretação de imagens de satélite, bem como outros procedimentos que
envolveram as geotecnologias, utilização de software do Sistema de Informação Geográfica
ArcGIS 10.2, para assim ocorrer a elaboração de mapas e dados quantitativos referentes à
área de estudos.
Para fins de identificar os diversos tipos de uso da terra no período de 30 anos, foram
confeccionados mapas de uso da terra, a partir de imagens de satélite Landsat 5 e 8, (órbita
219, ponto 72), representando os seguintes períodos: 1987, 1997, 2007 e 2017.
Para se correlacionar os elementos da paisagem natural às formas de uso da terra,
foram observados aspectos antrópicos que ocasionaram (alterações) aos elementos da
paisagem natural.
Para a identificação e diagnóstico das fragilidades na área da microbacia, foi adotado
como referência a proposta de Ross (1993) e foi elaborada a carta síntese das fragilidades da
área da microbacia.
A seguir serão detalhados os materiais cartográficos e os procedimentos utilizados:
Os procedimentos metodológicos para elaboração do mapa Geomorfológico,
conforme (Figura 3), consistiram em: realização de download das imagens de satélite e dados
SRTM-X, com a interpolação das imagens SRTM - X de 30 para 10 metros; houve a geração

1
O laboratório da Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES), possui licença para uso do
programa ArcGIS.
48

do Modelo digital de elevação de 10 metros, a geração das curvas mestras do relevo,


compartimentação topográfica da bacia e reclassificação do MDE. Elaboração de mapas da
compartimentação topográfica da bacia (parte alta, média e baixa), elaboração de perfil
topográfico de cada compartimento da bacia, elaboração do mapa clinográfico da bacia e a
elaboração do mapa de fases do relevo da bacia. Ocorreu a sobreposição dos mapas de
clinografia, fases do relevo e compartimentação topográfica, com a análise integrada dos
dados morfométricos (hipsometria, compartimentação, declividade e fases do relevo) com
dados Geológicos da CPRM, 2010. Houve a adaptação das formas e modelados e finalmente
a elaboração do mapa Geomorfológico com a análise e validação dos dados resultantes do
mapeamento.

FIGURA 3 - Fluxograma de procedimentos para mapeamento geomorfológico

Org.: GUEDES, C. R. M. (2018)

Os procedimentos metodológicos para elaboração do mapa de Uso da Terra


conforme (Figura 4), consistiram em: realização de download das imagens de satélite e dados
49

LANDSAT 5; com composição de bandas coloridas RGB 3, 4 e 5 no ArcGIS2 10.2 e registro


e correção geométrica da imagem hidro/IBGE. Classificação das imagens, seleção das
classes de uso da terra e organização dos dados quantitativos, elaboração dos mapas de uso
da terra com a análise e validação dos dados resultantes do mapeamento. Foram utilizadas
as seguintes classes para o uso da terra: área desmatada, área degradada com exposição do
solo, veredas, cerrado e afins, pastos e vegetação rarefeita, eucalipto, solo em exposição e
vegetação rarefeita.

FIGURA 4: Fluxograma de procedimentos para mapeamento do uso e ocupação das


terras

Org.: GUEDES, C. R. M. (2018)

Quanto aos procedimentos metodológicos para elaboração do mapa Pedológico,


conforme (Figura 5), procedeu-se ao download das imagens de satélite e dados SRTM- X; a
vetorização das bases do mapa de Minas Gerais, tendo-se como fonte, Jacomine, 1979;
adaptação das bases aos dados de campo obtidos com GPS; correlação entre as
topossequências obtidas pela vetorização e os dados de campo às fases do relevo; verificação
do registro fotográfico e fotoleitura de imagens de satélite; adaptações das antigas

2
A escolha dessas bandas ocorreu devido apresentarem melhor contraste para a elaboração da imagem para a
classificação supervisionada.
50

nomenclaturas dos sistemas de solos para a atual classificação dos solos brasileiros e a
elaboração final do mapa de solos.

FIGURA 5 - Fluxograma de procedimentos para mapeamento pedológico

Org.: GUEDES, C. R. M. (2018)

Para a geração do mapa geológico, conforme (Figura 6), procedeu-se ao download


das imagens de satélite e dados SRTM- X; cruzamento dos dados dos mapas temáticos: mapa
hipsométrico, declividade, solo e vegetação; fotointerpretação de imagens obtidas em
campo; estabelecimento de correlação com as cartas do mapeamento geológico.
51

FIGURA 6 - Fluxograma de procedimentos para mapeamento geológico

Org.: GUEDES, C. R. M. (2018)

Na análise dos aspectos climáticos, foram utilizadas as principais fontes: Nimer et al


(1989) e para a geração dos gráficos com as informações sobre o clima foram utilizados os
dados do INSTITUTO NACIONAL DE METEOROLOGIA – INMET, estação
convencional Pirapora, a mais próxima da área da pesquisa. Na caracterização dos aspectos
vegetacionais, foram utilizados como autores principais: Scolforo et al (2008), Ab’ Saber
(2003) e Ribeiro & Walter (2008).
Quanto à elaboração da caracterização socioeconômica e socioambiental foram
utilizados as principais fontes: Gama (2003), Baggio (2002, 2003), IBGE (2017), Viana
(2006), Magno et al (2012).
A segunda etapa compreendeu 4 trabalhos de campo, percorrendo-se a área de
estudo, da nascente até à foz do Córrego das Pedras. Ocorreu o levantamento de dados que
englobou observações de campo, pesquisa empírica onde foram verificadas as condições
ambientais da área da microbacia hidrográfica, com a realização da coleta de informações
através de anotações, fotografias e o georreferenciamento de diversos pontos, utilizando-se
do Sistema de Posicionamento Global (GPS).
Os trabalhos de campo foram realizados nos meses de novembro e dezembro de 2017
e abril de 2018, estes permitiram o conhecimento das características gerais da área de estudo:
52

formas de uso e ocupação, condições ambientais, principais vias de acesso, localização das
moradias na área rural e urbana, bem como a observação das condições ambientais do
Cerrado, das veredas e matas ciliares situados no interior da microbacia. Esta etapa teve
como objetivo principal, além da observação das características das paisagens naturais e
antrópicas, a validação dos dados gerados em laboratório.
Na terceira etapa houve a análise e discussão dos resultados da pesquisa em
laboratório. Através das informações recolhidas em campo foram estabelecidas comparações
com os resultados obtidos em laboratório (dados que serviram de base à confecção dos
mapas), com o objetivo de que as informações registradas nos mapas estivessem o mais
próximo da realidade atual da microbacia.
Ocorreu a elaboração da Carta Síntese que demonstrou as fragilidades ambientais de
acordo coma classificação nas seguintes unidades: Muito Fraca, Fraca, Média, Forte e Muito
Forte; tal classificação adaptada do modelo (procedimentos operacionais), criado por Ross
(1993), é um método adotado por esse autor para demonstrar os graus de fragilidade
ambiental aos processos erosivos sofridos por uma área.
Para Ross (1993), as fragilidades dos ambientes naturais são determinadas por
caraterísticas genéticas do relevo, entendendo que há relação direta entre equilíbrio dinâmico
e ações antrópicas. Este autor afirma que os desequilíbrios naturais se intensificaram a partir
do aumento das intervenções humanas com a exploração dos recursos da natureza.
Para a classificação das fragilidades da área de estudo, considerou-se o cruzamento
dos seguintes elementos: geologia, hipsometria, declividade, pedologia (solos). Foram
atribuídos pesos (de 1 a 5) para cada um desses elementos, classificando-os da seguinte
forma respectivamente: Muito Fraca, Fraca, Média, Forte e Muito Forte. A partir do
resultado do cruzamento dessas informações foi criado o quadro a seguir (Quadro 1),
focando nos elementos naturais já mencionados.
53

Quadro 01 – Graus de fragilidade atribuídos às classes: geologia, hipsometria,


declividade e pedologia (solos).

GEOLOGIA
Classes Grau de fragilidade
Arenito, tufo, lapili Muito Forte
Folhelo, arenito, siltito Forte
Arcóseo, argilito, siltito Média
Depósitos de areia e de argila Fraca
Depósitos de argila, areia e cascalho Fraca
HIPSOMETRIA
480 – 550 Muito Fraca
550 – 650 Fraca
650 – 750 Média
750 – 800 Forte
800 – 880 Muito Forte
DECLIVIDADE
0–3 Muito fraca
4 – 12 Fraca
13 – 20 Média
21 – 35 Forte
36 – 71 Muito Forte
PEDOLOGIA
Cambissolo háplico Forte
Neossolo quartzarênico Muito Forte
Neossolos flúvicos e litólicos Muito Forte
Latossolo vermelho-amarelo Média
Adaptado, Ross (1993)
Org. GUEDES, C. R. M. (2018)

Os resultados obtidos a partir do grau de fragilidade desses elementos, torna possível


estabelecer diagnóstico para uma visão sistêmica. Esses diagnósticos são decisivos, segundo
Ross (1993) para a tomada de decisão, planejamento e gestão da área analisada.
54

3. CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESPAÇO DA PESQUISA

Nesta contextualização espacial, buscar-se-á a caracterização da paisagem da área de


estudo, quanto a seus aspectos físicos (clima, geologia, pedologia, hipsometria, vegetação,
declividade, geomorfologia, hidrografia), utilizando-se da análise sistêmica. Também nesta
seção, serão feitas breves considerações sobre as características socioeconômicas e
socioambientais do município de Buritizeiro, MG.
A caracterização física da paisagem, além de considerar a análise sistêmica, será
realizada seguindo a proposta de Botelho (1999), uma vez que a autora propõe que em
estudos direcionados às áreas de microbacias é importante haver a análise de determinados
atributos físicos, como: clima, geologia, relevo, solos, rede de drenagem e vegetação, a fim
de que sejam diagnosticadas as potencialidades e limitações para os planos de uso e
ocupação.

3.1 Elementos da Paisagem da Microbacia Hidrográfica do Córrego das Pedras

3.1.1 Clima

A paisagem da microbacia hidrográfica do Córrego das Pedras é resultante da


dinâmica dos seus vários elementos, inclusive os climáticos, havendo irregularidades nas
precipitações no período de um ano. Quanto às temperaturas, estas se encontram mais altas
nos meses que registram maiores índices de precipitações e mais baixas nos meses em que
não ocorrem precipitações ou que ocorrem em menores índices. Considerar-se-á neste
trabalho, para a realização da análise climática, dados fornecidos pelo INSTITUTO
NACIONAL DE METEOROLOGIA - INMET (2018).
Em se tratando do clima, este pode ser definido como o período que corresponde à
soma do comportamento atmosférico em um longo período de 30 a 35 anos, em determinada
localidade, considerando que para se caracterizar o clima, recorre-se a uma abrangência de
dados superior aos dados referentes à análise das condições do tempo (AYOADE, 1992).
Neste trabalho, utilizou-se período semelhante, seguindo proposta desse autor3.

3
O período analisado compreende um total de 29 anos, devido não se encontrarem disponíveis no banco de
dados do INSTITUTO NACIONAL DE METEOROLOGIA (INMET), os dados (temperatura e precipitação)
referentes aos anos de 1986, 1987 e 1988.
55

Para a caracterização climática da área de Cerrado que abrange a área de estudo,


foram utilizadas as proposições de Nimer et al (1989), para as áreas de Cerrado da região de
Pirapora4. Segundo esses autores nos meses que correspondem à primavera e o verão as
temperaturas permanecem elevadas, e nos meses de inverno há pouca umidade do ar,
predominando valores referentes à precipitação no período de um ano em médias entre l.000
e 2.000 mm, no entanto mal distribuídas, comas chuvas se concentrando no verão.
Ainda para Nimer et al (1989), o tipo climático do Cerrado, é caracterizado como
subúmido, megatérmico, de área de transição entre o Cerrado e a Caatinga, havendo a
necessidade de irrigação para culturas que ocorram fora da estação do verão.
Segundo o IBGE (2012), o tipo de clima do município de Buritizeiro, onde se situa
a área de estudo, pode ser definido como tropical semiúmido, com 4 a 5 meses secos, e
apresenta temperatura média maior que 18ºC em todos os meses do ano, com verões
chuvosos e invernos secos.
Para a caracterização climática dessa microbacia, foram utilizados dados produzidos
pelo INMET (2018), fornecidos pela estação convencional Pirapora (a mais próxima da área
de estudo). Neste sentido, Varejão-Silva (2006), considera que é permitido estimar as
características climáticas para localidades que se situam em determinada área, utilizando-se
de outra fonte de dados, desde que se constate proximidade entre as áreas e que essas
características climatológicas sejam semelhantes às do local para o qual existem dados. Isso
ocorre, segundo o autor, devido principalmente à pouca disponibilidade de estações
meteorológicas.
A seguir é possível observar através dos gráficos apresentados, o comportamento das
precipitações como elemento pertencente ao clima. Importante destacar que, segundo
Almeida (2015), a região Norte de Minas Gerais (onde está localizada a área de estudo),
historicamente foi afetada por períodos secos, podendo apresentar índices pluviométricos
anuais inferiores a 1000 mm.
Com relação ao período analisado compreendido de 1989 a 1997, a partir de
informações a seguir (Gráfico 01), observa-se que por 5 anos as precipitações foram
inferiores a 1000 mm/ano, contrariando a estimativa de Nimer et al (1989) para área de
Cerrado e confirmando as estimativas de Almeida (2015) para o Norte de Minas Gerais.
Considera-se a partir da análise dos dados que o ano crítico foi 1990 com precipitação

4
Os autores não trazem a descrição do clima para o município de Buritizeiro, porém por questão de
proximidade utilizou-se a caracterização climática do município de Pirapora.
56

marcando índice de 633,1 mm e ainda é possível constatar que o ano de 1992 foi o único
em que ocorreram chuvas atingindo o valor máximo previsto para a área de Cerrado, os
2000 mm.

Gráfico 1 – Precipitação anual – 1989 a 1997 – Microbacia Hidrográfica


do Córrego das Pedras

Estação 83483 - PIRAPORA -MG


2000
1800
1600
1400
1200
mm

1000
800
600
400
200
0
1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997

Fonte: INMET, 2018.

O período analisado compreendido de 1998 a 2007, (Gráfico 02) a seguir, demonstra


uma melhor distribuição das precipitações, embora o ano que apresentou maior índice
registrou menos que 1600 mm e o ano de menor índice registrou 600 mm, nota-se que as
precipitações foram melhor distribuídas nesses 10 anos analisados, comparado ao período
anterior. Em apenas 4 anos o índice pluviométrico está abaixo de 1000 mm.
57

Gráfico 2 – Precipitação anual – 1998 a 2007 – Microbacia Hidrográfica


do Córrego das Pedras

Estação 83483 - PIRAPORA -MG


1600
1400
1200
1000
mm

800
600
400
200
0
1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

Fonte: INMET, 2018.

Com relação ao último período que se segue, de 2008 a 2017, (Gráfico 03) observa-
se a ocorrência de menor índice pluviométrico, considerando os 3 períodos analisados. Em
apenas 4 anos analisados esse índice foi igual ou superior a 1000 mm. O ano que apresentou
o maior índice pluviométrico foi 2011, quase atingindo 1400 mm e o menor índice
pluviométrico foi em 2017 atingindo um valor crítico, inferior a 400 mm.
58

Gráfico 3 – Precipitação anual – 2008 a 2017 – Microbacia Hidrográfica


do Córrego das Pedras

Estação 83483 - PIRAPORA -MG

1400
1200
1000
800
mm

600
400
200
0
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

Fonte: INMET, 2018.

Ao se analisar todo o período proposto, observa-se que o ano o qual apresentou maior
índice de precipitações foi 1992, este registrou índice superior a 2000 mm, e o ano que
apresentou menor índice foi 2017, não atingindo 400 mm.
É possível constatar que há irregularidades quanto à ocorrência das precipitações, já
que estas se apresentam mal distribuídas no período analisado. Através da observação a
seguir (Gráfico 4) e considerando os dados entre 1989 a 2017, observa-se que os meses de
ocorrência de maior volume de pluviosidade compreenderam de outubro a março e os meses
de ocorrência de menor volume de pluviosidade compreenderam de abril a setembro 5.

5
Embora observa-se um aumento da pluviosidade no mês de outubro, Scolforo et al (2008) consideram que a
estação chuvosa para a área de Cerrado se inicia em novembro e permanece até março; enquanto que a estação
seca, compreende de abril a outubro.
59

Gráfico 4 – Precipitação Mensal, Microbacia Hidrográfica do Córrego


das Pedras – Totais de 1989 a 2017 –

Estação 83483 - PIRAPORA -MG


7000
6000
5000
4000
mm

3000
2000
1000
0

Fonte: INMET, 2018.

Através das informações contidas no gráfico 5, observa-se que os meses de


ocorrência dos maiores índices de temperatura, compreenderam de setembro a fevereiro e os
meses de ocorrência de menores índices compreenderam de março a agosto. Pode-se
considerar que em setembro na estação da primavera, se inicia o aumento das temperaturas
que permanecem até fevereiro. No mês de março, ao se iniciar o outono, as temperaturas
começam a baixar, permanecendo até agosto.
A análise dos gráficos apresentados permitem a compreensão das características do
tempo, especialmente conforme (Gráficos 4 e 5), estes podem contribuir com planejamentos
no que se referem aos meses mais favoráveis às práticas da agricultura ou outras atividades
econômicas dependentes das condições climáticas, às quais exigem maior ou menor
quantidade de umidade e temperatura.
60

Gráfico 5 – Temperaturas Médias, Microbacia Hidrográfica do Córrego


das Pedras– Valores 1989 a 2017 –

Estação 83483 - PIRAPORA -MG


30

25

20
Temperatura º C

15

10

Fonte: INMET, 2018.

3.1.2 Geologia

A microbacia do Córrego das Pedras, se localiza segundo Almeida (1977) e Baggio


(2003) na área denominada de Cráton do São Francisco, Depressão Sanfranciscana (áreas
que compreendem a formação Três Marias e o extenso Grupo Bambuí, Neoproterozoico,
650 Ma).
Segundo Sgarbi (1989), citado por Baggio (2008), a bacia do São Francisco possui
forma alongada, com comprimento aproximado de 1100 km e largura de afloramentos em
torno de 200 km, posicionada entre 45° e 47° de longitude Oeste; considerando que a partir
da latitude 20° Sul, no oeste de Minas, prolonga-se para norte até a latitude 10° Sul, nas
proximidades dos estados do Piauí e Maranhão.

A Bacia do São Francisco é uma bacia proterozoica cujos limites adotados


são: oeste – Faixa de Dobramentos Brasília; leste – Faixa de Dobramentos
Araçuaí; norte – Arco do São Francisco; sul – Arco do Alto Parnaíba. Boa
parte da porção norte da Bacia do São Francisco está situada na face oeste
do estado da Bahia. Seu preenchimento sedimentar é representado,
principalmente, por rochas metassedimentares, mesoproterozoicas e
neoproterozoicas, (CPRM, 2010).
61

Segundo a CPRM (2010), no município de Buritizeiro, há diversidade geológica,


com a ocorrência de domínio das coberturas sedimentares Mesozoicas e Paleozoicas,
associadas a grandes e profundas bacias sedimentares, nesse domínio situa-se o Pico do
Itacolomy nesse município, o qual a natureza esculpiu o monumento natural (tido como
Ponto Turístico).
No norte de Minas Gerais, há domínio das coberturas Cenozoicas detritolateríticas
e esse domínio abrange áreas onde ocorrem processos de alteração intempérica, que dão
origem a coberturas ricas em detritos ferruginosos, presentes em diferentes relevos e é
composto por materiais diversificados, como por exemplo: aglomerado, laterita, areia, silte
e argila, CPRM (2010).
A microbacia do Córrego das Pedras, conforme (Figura 7), tem sua litologia
organizada sobre rochas compreendidas desde o Neoproterozoico (Era mais antiga) com a
ocorrência de arcóseo, argilito e siltito. Estas rochas do Neoproterozoico se concentram no
médio curso da microbacia, reduzindo a sua abrangência à medida que se aproxima da foz,
no rio São Francisco.
Há ocorrência de rochas do Mesozoico (Era intermediária), com litologia
compreendida em Arenito, tufo, lapili; folhelo, arenito, siltito. Estas rochas se concentram
no alto curso da microbacia.
Há também ocorrência de rochas do Cenozoico (Era mais recente) com presença de
depósitos de areia e argila e depósitos de areia, argila e cascalho. Ainda conforme a
observação do mapa, as rochas de origem Cenozoica além de caracterizar os litotipos mais
recentes se encontram nas áreas de deposição, mais próximas da foz do Córrego das Pedras
no rio São Francisco.
Os litotipos do Neoproterozoico são as rochas mais antigas, que segundo Baggio
(2003), estão inseridas nos domínios da Bacia Sanfranciscana, compreendem o Grupo
Bambuí e Três Marias (Neoproterozoico, 650 Ma).
62

Figura 7 – Mapa litológico da Microbacia do Córrego das Pedras


63

Através da tabela 1, é possível compreender como se distribuem os valores


quantitativos referente à distribuição da litologia na área de estudo. Os valores referentes ao
arcóseo, argilito e siltito dominam a maior parte da área com, 50,39%, compreendendo
rochas do Neoproterozoico. Seguidos pela classe: folhelo, arenito e siltito, dominando
42,95% da área, compreendendo rochas do Mesozoico.

Tabela 01 – Litologia Quantificada na Microbacia do Córrego das Pedras

Geologia Área km² Área %


Depósito de Areia e de Argila 3,72 3,32
Arcóseo, Argilito, Siltito 56,47 50,39
Arenito, Tufo, Lapili 3,64 3,25
Depósito de Argila, Areia, Cascalho 0,11 0,10
Folhelo, Arenito, Siltito 48,13 42,95
Total 112,07 100,00

Fonte: Org. GUEDES, C. R. M. (2018)

Para Santos (2004), conhecimentos sobre a geologia de uma área fornece


informações sobre a formação e como ocorreram os processos de evolução da superfície
terrestre. A partir dessa análise, segundo a autora, é possível se planejar interferências
antrópicas, considerando que esse planejamento é decisivo para a conservação dos recursos
naturais.

3.1.3 Pedologia

Para Guerra & Mendonça (2011), as características do solo, quanto a sua formação,
estão diretamente ligadas às taxas de remoção e deposição, tendo uma relação direta com o
relevo; em áreas onde o desgaste é mínimo, solos profundos irão se desenvolver e onde a
ação erosiva for mais intensa esses solos serão mais superficiais.
Para Ab’ Saber (2003), em geral os solos do Cerrado são pobres (latossolos e
lateritas) nas áreas dos interflúvios nos chapadões, mas com favoráveis condições climáticas
e topográficas, sendo sua área dominada por planaltos, com presença de ravinamentos,
64

apresentando feições geomórficas e fitogeográficas com paisagem monótona e


esporadicamente feições escarpadas.
Considerando-se que a área de estudo, a microbacia hidrográfica do Córrego das
Pedras está localizada em solo de Cerrado, os tipos encontrados compreendem: cambissolo
áplico, latossolo vermelho-amarelo, neossolos flúvico e litólico, neossolo quartzarênico,
conforme (Figura 8). Estes tipos de solos são caracterizados de acordo com a (EMBRAPA,
2018), da seguinte forma:
a) Cambissolo Áplico: cambissolos identificados normalmente em relevo forte
ondulados ou montanhosos, que não apresentam horizonte superficial A Húmico.
b) Latossolo Vermelho-Amarelo: compreende indivíduos de cores vermelho-
amareladas. Estrutura moderadamente desenvolvida em blocos subangulares. Embora, ainda
haja predomínio de geotita, entre os óxidos de ferro, os teores de hematita aumentam à
medida que os solos se tornam mais avermelhados.
c) Neossolos:

Litólico: abrange indivíduos rasos ou muito rasos, pouco desenvolvidos. Em


geral apresentam horizonte A diretamente sobre o substrato rochoso, em geral
são solos muito pobres e ácidos.
Flúvico: horizontes pouco desenvolvidos e / ou camadas estratificadas de
natureza argilosa, siltosa e / ou arenosa dependendo da natureza do sedimento,
horizonte superficial de cor escura com teores médios de matéria orgânica. Os
horizontes e / ou camadas apresentam cores vivas amareladas e / ou
avermelhadas. Corresponde a área de influência do rio São Francisco.
d) Neossolo quartzarênico: são também conhecidos como solos hidromórficos,
essencialmente arenoquartzosos, normalmente são profundos a muito profundos, com
textura areia franca ao longo de pelo menos 150 cm de profundidade ou até o contato lítico.
São excessivamente drenados.
A área de estudo, conforme (Figura 8), se compõe dos tipos de solos: cambissolo
áplico, latossolo vermelho-amarelo, neossolos litólico e flúvico, neossolo quartzarênico. O
neossolo quartzarênico ocupa a maior parte da área, compreendendo o alto e médio curso.
Ocupando parte do médio curso e o baixo curso, se encontram respectivamente, neossolos
flúvico e litólico e latossolo vermelho-amarelo. Finalmente, ocupando pequena área e
localizado no alto da microbacia, se encontra o cambissolo áplico.
65

Figura 8 – Mapa Pedológico da Microbacia do Córrego das Pedras


66

A partir da observação da tabela 2, constata-se que o tipo de solo de maior


ocorrência na área de estudo, trata-se do tipo neossolo quartzarênico, com 58,98%. Na área
de abrangência deste tipo de solo podem ser encontradas vegetação característica, diversas
veredas que compõem a paisagem e fornecem água para a microbacia.
O segundo tipo de solo de maior ocorrência, compreende o tipo, neossolos
flúvicos e litólicos, ocupando 28,56% da área e o baixo curso da microbacia.

Tabela 02 – Pedologia Quantificada na Microbacia do Córrego das Pedras

Solos Área km² Área %

Cambissolo háplico 5,75 5,13


Latossolo vermelho- 8,21 7,33
amarelo
Neossolosflúvico e 32,01 28,56
litólico
Neossolo quartzarênico 66,10 58,98

Total 112,07 100,00

Fonte: Org. GUEDES, C. R. M. (2018)

Para Casseti (1995), a forma do relevo condiciona a apropriação com a finalidade


de uso e ocupação e nessa apropriação do relevo, observa-se o comportamento da morfologia
e condições pedológicas; por exemplo, as áreas de potencialidades naturais como solos
férteis, são facilmente ocupadas para produção agrícola; no entanto, considera-se que ao se
detectar as vulnerabilidades, estas estão ligadas a situações antrópicas de uso e ocupação.
Segundo Baggio (2008), a fragilidade dos solos, tem relação direta com os fatores de ordem
geológica, geomorfológica, vegetacional e da forma como se manejam para diversos fins.
No caso da área de estudo, os principais usos desses solos são destinados à
pastagens e plantio de eucalipto. Nas áreas em que apresentam maiores umidades, são
favoráveis à ocorrência de solos com boa fertilidade natural, com alta porosidade e alta
capacidade de reter e fixar nutrientes, isto é um aspecto positivo para a prática agrícola local
(pequenas culturas), (CPRM,2010). No caso da área de estudo, tal situação pode ser
comprovada, pois há a ocorrência de pequenas culturas nas áreas de solos hidromórficos nas
proximidades das veredas.
67

3.1.4 Hipsometria

Os dados referentes à hipsometria (Figura 9), fornecem conhecimentos


complementares às formas de relevo, que no caso da área de estudo demonstram que essa
microbacia do alto ao médio curso, está localizada em sua maioria, em área de altitudes que
variam em 650 a 900m. No entanto do médio ao baixo curso, a microbacia compreende
altitudes de 488 a 700 metros.
Considera-se que as menores altitudes correspondem entre 488 e 500 m e se
encontram no baixo curso. Observa-se ainda que as maiores altitudes, de 850 a 900m se
encontram na área da nascente.
Verifica-se que as maiores altitudes são encontradas na cabeceira, à montante da
microbacia e as menores altitudes se encontram à jusante. As classes hipsométricas se
encontram distribuídas a seguir (Tabela 3), em que a maior parte da área 34,10%, se encontra
em altitudes de 700 a 750 metros. A segunda classe de altitudes que mais ocorre na área de
estudo se encontra entre 650 e 700 metros ocupando 20,56%.
68

Figura 9 – Mapa Hipsométrico da Microbacia do Córrego das Pedras


69

Tabela 03 – Hipsometria Quantificada na Microbacia do Córrego das Pedras

Hipsometria Área km² Área %

488 – 500 1,2215 1,09

500 – 550 20,4282 18,23

550 – 600 8,8852 7,93

600 – 650 14,3501 12,81

650 – 700 23,0371 20,56

700 – 750 38,2109 34,10

750 – 800 4,9356 4,40

800 – 850 0,8025 0,72

850 – 900 0,1904 0,17

Total 112,06 100,00

Fonte: Org. GUEDES, C. R. M. (2018)

Dados referentes à hipsometria e à clinografia são indispensáveis para nortear ações


referentes ao uso da terra. Tais ações auxiliam na prevenção de perdas de solos e em sua
conservação.

3.1.5 Clinografia (Fases do relevo)

Os dados que se referem à declividade (Figura 10), demonstram que essa microbacia,
possui em sua maior parte declives inferiores a 8% (concentrando-se entre 0 a 8 %), com
relevo caracterizado em sua maioria entre plano a suave. Quanto à classe de declividade mais
acentuada, os tons vermelhos no mapa, compreendem as áreas montanhosas e de escarpas,
correspondendo a pequenas áreas da microbacia, se concentrando principalmente em seu
médio curso e a noroeste desta.
70

Figura 10 – Mapa Clinográfico da Microbacia do Córrego das Pedras


71

Observa-se que as classes de declividade encontradas na área de estudo se distribuem


de acordo com os dados demonstrados na (Figura 10), classes estas, estabelecidas de acordo
com o IBGE (2010). A classe de declividade (4 – 8) suave ondulado, ocupa a maior parte da
microbacia abrangendo áreas do alto e baixo curso. A classe de (0 – 3) aplainado, também
abrange áreas do alto e baixo curso. As classes (9 – 12) ondulado e (13 – 20) forte ondulado
se concentram no médio curso da microbacia. As classes (21 – 35) montanhoso e (36 – 71)
escarpado se encontram em pontos isolados no médio curso e a noroeste da microbacia.
Importante considerar que as classes: aplainado e suave ondulado, são consideradas
a favorecerem ao uso intenso da terra, havendo recorrências atividades como
desmatamentos, pastagens e agricultura.
Com o intuito de conservação de Áreas de Preservação Permanente (APP), o Novo
Código Florestal Brasileiro, Lei 12.651/2012 estabelece normas de uso da terra de acordo
aos valores referentes à estrutura do relevo, considerando que: não é permitida a derrubada
de florestas, localizadas em áreas de inclinação entre 25 a 45 graus, somente sendo permitida
a exploração sustentável; em altitude superior a 1.800 (mil e oitocentos) metros, em qualquer
tipo de vegetação; nas encostas ou partes destas, com declividade superior a 45 graus.
Em contrapartida, Biasi (1992), estabelece classes clinográficas tendo como base a
legislação sobre o tema e seus processos de uso e ocupação, da seguinte forma: 5 - 12% é a
faixa usada como limite máximo em atividades de mecanização da agricultura; 12 – 30% é
o limite máximo para instalação da urbanização; valores superiores a 47%, não é permitida
a retirada da cobertura vegetal natural.

3.1.6 Geomorfologia

Os conhecimentos geomorfológicos permitem compreender a paisagem da superfície


terrestre de modo que esses conhecimentos possam ser utilizados a fim de se estabelecer
planos de uso da terra, visando minimizar impactos negativos, permitem também conhecer
as relações entre natureza e sociedade.
No contexto da área de estudo, Silva (2016), ao analisar a geomorfologia do
município de Buritizeiro junto a outros municípios do norte de Minas Gerais, afirmou que:
72

O Norte de Minas Gerais, em parcelas significativas de suas paisagens, se


apresenta recoberto por extensas superfícies aplainadas, muitas delas já
completamente degradadas, devido aos processos morfodinâmicos
vigentes. Dessa forma, elas assumem grande importância no entendimento
da dinâmica geomorfológica da região, se figurando como testemunhos (ou
heranças) da evolução cenozoica das paisagens norte-mineiras. Assim, as
superfícies de aplainamento se evidenciam como um tema de relevante
interesse dentro das ciências da terra, principalmente no campo da
geografia física, se materializando em fundamentais indícios da dinâmica
morfogenética norte-mineira. (SILVA, 2016, p. 527).

Segundo Baggio (2003) microbacias formadas por tributários do rio São Francisco
no município de Buritizeiro se encontram posicionadas dentro dos limites do Cráton do São
Francisco, mais especificamente na bacia cretácea do oeste mineiro. Nessas áreas as rochas
existentes compreendem a formação Três Marias e o Grupo Bambuí (Neoproterozoico, 650
Ma). Seguindo essa caracterização física, Baggio (2008), afirma que:

A Bacia Sanfranciscana apresenta uma evolução paleogeográfica


fortemente controlada pelos estágios tectônicos e magmáticos que
condicionaram os períodos de deposição, diagênese e erosão dos litotipos
representados no arcabouço geológico da bacia. (BAGGIO, 2008, p.15).

Valadão (2009), ao analisar as superfícies de aplanamento do Brasil Oriental,


constatou que a bacia do Rio São Francisco possui reduzida capacidade de desnudação. Este
autor caracterizou a sua área de estudo em 3 superfícies de aplanamento: Superfície Sul-
Americana (representada pelas chapadas e relevo menos desgastado), Superfície Sul-
Americana I ( área mais desgastada resultante do processo de denudação) e Superfície Sul-
Americana II (áreas de depressões fluviais), considerando-se que tais superfícies são
identificadas devido a presença de rochas sedimentares.
Neste sentido, observa-se que fatores geológicos/geomorfológicos, determinam a
dinâmica das paisagens, e que esta é resultante de um conjunto de elementos que,
combinados, integrados e harmônicos, compõem a natureza. É o que observa Christofoletti
(1980), ao se referir às transformações ocorridas na paisagem, ele lembra que os elementos
da paisagem possuem uma relação direta de dependência com relação ao clima.
73

A análise das formas e dos processos fornece conhecimento sobre os


aspectos e a dinâmica da topografia atual, sob as diversas condições
climáticas possibilitando compreender as formas esculpidas pelas forças
destrutivas e as originadas dos ambientes deposicionais.
(CHISTOFOLETTI, 1980, p.)

Para Casseti (1995), o comportamento geomorfológico da superfície terrestre ou a


forma do relevo condiciona a apropriação com a finalidade de uso e ocupação e nessa
apropriação do relevo observa-se o comportamento dessa morfologia.
A Geomorfologia da área da área de estudo, (Figura 11), é compreendida por 3
grandes classes: remanescentes de antigas superfícies, formas de dissecação, formas de
acumulação.
74

Figura 11 – Mapa Geomorfológico da Microbacia do Córrego das Pedras


75

Quanto aos remanescentes de antigas superfícies, abrange área compreendida entre


o alto e médio curso da microbacia, que são denominados: interflúvios tabulares, vertentes
ravinadas e superfície ondulada em planalto. Quanto às formas de dissecação, estão
localizadas entre o médio e baixo curso da microbacia e podem ser classificadas em: bordas
de patamar erosivo, colinas de topo plano, colinas com vertentes suaves, vertentes ravinadas
e vales encaixados, fundo de vales em “v” fechados. Quanto às formas de acumulação,
localizadas no baixo curso da microbacia, se classificam em: colina residual, patamares e
rampas de colúvio, terraços antigos, planície e terraços inundáveis.
Observa-se conforme(Tabela 4) a seguir, que os elementos geomorfológicos que
abrangem a maior parte da área de estudo, compreendem: superfície ondulada em planalto,
ocupando 27,46% da área; colinas com vertentes suaves com 19,87% da área e fundos de
vale em v, ocupando 9,36% da área.

Tabela 04 – Geomorfologia Quantificada na Microbacia do Córrego das Pedras

Geomorfologia Área km² Área %


Interflúvio Tabular 6,97 6,22
Superfície Ondulada em Planalto 30,78 27,46
Vertentes Ravinadas 6,66 5,94
Borda de patamar erosivo 0,78 0,69
Colinas de topo plano 9,29 8,29
Colinas com vertentes suaves 22,26 19,87
Fundos de vale em v 10,49 9,36
Colina residual 0,07 0,06
Vertentes ravinadas e Vales encaixados 3,34 2,98
Patamares e rampas de colúvio 9,32 8,32
Terraços antigos 4,65 4,15
Planícies e terraços inundáveis 7,45 6,65
Total 112,07 100,00
Org.:GUEDES, C. R. M. (2018)

A superfície ondulada em planalto ocupa a área de maiores altitudes da microbacia,


estando localizada em seu alto curso, as colinas com vertentes suaves ocupam em sua maior
76

parte o médio curso e os fundos de vale em “v” ocupam reentrâncias presentes no médio
curso que de acordo com os trabalhos de campo, caracterizam áreas dos canais das veredas
e córregos.
A área da nascente do Córrego das Pedras se encontra a 750 metros de altitude,
(Figura 12 e 13), embora observe-se cada vez mais a proximidade do plantio de eucalipto,
as águas ainda se encontram visualmente claras, com cor característica de vereda 6. Em
algumas áreas o avanço de voçorocas próximas ao canal fluvial apresenta ameaça de
aterramento, devido ocorrer intensa atividade erosiva na área, em consequência do tipo de
solo e da forma de relevo apresentando maiores declives. Essa intensa atividade de transporte
e sedimentação também é provocada pelas formas de uso da terra e pela ocupação de áreas
adjacentes por agricultura, favorecendo a ausência de cobertura vegetal.

Figura 12 – Nascente do Córrego Figura 13 – Nascente do


das Pedras Córrego das Pedras
8086928 N - 488051 E 8086928 N - 488051 E

Fonte: GUEDES, C. R. M. (2018)

A partir da imagem a seguir, (Figura 14) é possível ter a visão geral da microbacia
do Córrego das Pedras. Em altitude de 687 metros, é possível pressupor que a evolução da
paisagem, (as áreas mais altas), ocorre a partir dos processos de degradação. Há a presença
de ravinas que condicionam o desgaste dessas áreas mais altas e estes sedimentos destinam-
se naturalmente aos fundos dos vales em áreas de deposição.

6
De acordo com relatos de moradores que residem há aproximadamente 20 anos na comunidade, embora a
água ainda se encontra em notável quantidade próximo à nascente, em épocas passadas essa quantidade era
muito superior ao tempo presente. Fonte: trabalhos de campo.
77

Figura14– Visão Geral do interior da Microbacia do Córrego das Pedras


8081785 N - 495945 E

Fonte: GUEDES, C. R. M. (2018)

Na imagem a seguir (Figura 15), observa-se o encontro do Córrego Piraporinha com


o Córrego das Pedras e constata-se que a evolução da paisagem ocorre por deposição, em
altitude de 503 metros. A partir da imagem, percebe-se que ocorreu o aumento do volume
hídrico que se deu com o encontro dos dois cursos fluviais, há o aumento do índice de
turbidez e sedimentos resultantes da ocorrência de precipitação nas áreas das cabeceiras. Há
a formação de pequenas lagoas marginais nesse ponto do Córrego das Pedras e árvores de
grande porte (ingazeiros)7 fornecendo extensas áreas de sombras, com utilização das
margens do córrego para lazer nos fins de semana, construção de casas, aproveitamento do
solo para hortas e pomares.

7
A espécie ingá (Inga edulis) é encontrada com certa frequência, especialmente nas margens de rios e lagos,
medem até 15 metros, fornecem extensas sombras e possuem frutos comestíveis. Fonte:
http://www.arvores.brasil.br.
78

Figura 15– Encontro do Córrego Piraporinha com o Córrego das Pedras


8081668 N - 500783 E

Nota: Seta Vermelha: Córrego Piraporinha; Seta amarela: Córrego das Pedras
Fonte: GUEDES, C. R. M. (2018)

A compreensão da geomorfologia é fundamental para se compreender a dinâmica da


paisagem nas relações espaço-temporais de uma área. No entanto, observa-se que para o
entendimento da paisagem de forma integrada, é necessário que se agregue outros elementos
como: clima, geologia, pedologia, vegetação, por exemplo.

3.1.7 Vegetação

Quanto à caracterização da vegetação nativa da área de estudos, segundo Scolforo et


al (2008), é composta predominantemente pelo bioma Cerrado, o qual apresenta
diversidades de fitofisionomias e é resultado de 2 estações bem marcadas, sendo elas: a
úmida compreendendo de novembro a março e a seca compreendendo de abril a outubro. Há
a ocorrência dessas duas estações na área de estudo.
Observa-se na área de estudo, áreas de Cerrado com menor número de espécies
arbóreas e presença de gramíneas e outras áreas de Cerrado mais fechado, com maior número
de espécies arbóreas, como descrito por Scolforo et al (2008) ao caracterizar o Campo
Cerrado e Cerrado Sensu Stricto respectivamente. Há vegetação típica de Florestas-galeria,
79

vegetação mais densa acompanhando o curso dos vales e diversas veredas com presença do
buriti (Mauritia Vinífera e Mauritia Flexuosa) como descrito por Ab’Saber (2003).
Para Scolforo et al (2008), o Cerrado do município de Buritizeiro é composto pelos
estratos arbóreos: Campo Cerrado e Cerrado Sensu Stricto. Considerando-se, segundo o
autor, que estas fitofisionomias de acordo com indivíduos inventariados, são compostas
dentre outras por espécies como: pequi (Caryocar brasiliense), pau-terra (Qualea
grandiflora), cagaita (Stenocalyx dysentericus), paineira do Cerrado (Erioteca pubescens),
murici (Byrsonima verbascifolia), caviúna (Dalbergia miscolobium Benth). Importante
destacar que de acordo com o inventário, a composição florística desses dois estratos
arbóreos são semelhantes, havendo variações na recorrência de espécies.
Para Ab’Saber (2003), a região estudada se encontra no domínio dos Chapadões
Tropicais Interiores, compostos por Cerrados e Florestas-galeria8.Segundo o autor, essas
Florestas-galeria acompanham a trajetória realizada pelas veredas, estas recorrentes em meio
à vegetação de Cerrado, compondo um cenário mais úmido, com maior diversidade
faunística e florística.
Em busca da compreensão do conceito de Cerrado e sua origem, bem como outros
elementos que influenciam na sua existência, observou-se as proposições de Ab’ Saber
(2003). Este autor considera que o principal tipo fisionômico do bioma Cerrado constitui-se
principalmente por gramíneas, arbustos e árvores que se caracteriza da seguinte forma:

A vegetação dos cerrados, tendo se desenvolvido e se adaptado, em algum


momento do Quaternário (ou mesmo dos fins do Terciário), a essa estrutura
de paisagens, de planaltos tropicais interiorizados dotados de solos
lateríticos, e certamente um dos quadros da vegetação mais arcaicos do
país. À medida que a rede frouxa dos vales com drenagem perene se
expandiu, as florestas-galeria filiadas às grandes províncias florestais
contíguas (Mata Amazônica e Mata Atlântica e do Rio Paraná) têm-se
interpenetrado pelo vasto domínio dos cerrados. Da mesma forma que a
erosão fluvial e regressiva, a expansão das galerias florestais tem sido de
tipo remontante. (AB’ SABER, 2003, p.31)

Procurando trazer caracterizações referentes ao Cerrado, Ribeiro e Walter (2008),


consideram que este bioma ocupa uma vasta extensão territorial, correspondendo cerca de
23% do território brasileiro, por ocupar uma área de mais de (dois milhões de quilômetros
quadrados) 2 000 000 km2. É considerado o segundo maior bioma brasileiro em extensão

8
Florestas-galeria ou Matas de galeria, trata-se do mesmo tipo fitofisionômico, tal diferença na denominação
parte-se da escolha do autor, Ab’Saber e Ribeiro & Walter, respectivamente.
80

territorial e está localizado em áreas de altitudes que variam entre 300 e 1600 metros de
altitude. Ribeiro e Walter (2008), ainda consideram quanto à origem do bioma Cerrado:

Nestes períodos glaciais quaternários, tipicamente secos, sítios específicos teriam


possibilitado à manutenção de alguns remanescentes das florestas úmidas e a
expansão de florestas secas e formações vegetais mais abertas (campo, cerrado e
caatinga), por grandes extensões do continente, atingindo áreas que hoje
compreende o bioma Cerrado. (RIBEIRO & WALTER, 2008, p. 95)

Segundo Ab’Saber (2003), em áreas denominadas “interflúvios”, nas elevações dos


chapadões, predominam os solos pobres (latossolos e lateritas) e vegetação de cerrados,
cerradões e campestres, estas fitofisionomias se concentram até a base das vertentes, onde
se encontram com as florestas-galeria, comumente larga e contínua. Ainda, segundo o autor,
cada uma dessas fitofisionomias possuem posição específica na topografia, nos solos, nas
características climáticas e hidrológicas.
Foi possível constatar através dos trabalhos de campo a existência de fitofisionomias,
como, florestas-galeria acompanhando o curso das veredas, bem como de matas ciliares
seguindo às margens dos canais fluviais. No entanto, observou-se que estas se encontram
impactadas por ações antrópicas (principalmente pastagens) e vez ou outra, estas matas de
encontram de forma mais espessa.
Segundo Scolforo et al (2008), no município de Buritizeiro, com relação à
“prioridade para conservação da flora” este autor criou um tipo de classificação com o
objetivo de indicar o grau de vulnerabilidade da flora com relação a influências antrópicas.
Considerou que as fitofisionomias: Campo, Campo Cerrado e Cerrado apresentam “média
relevância regional”, no entanto, para a categoria Vereda considerou esta relevância sendo
“muito alta”. Ainda segundo o mesmo autor, encontram-se fragmentos de Floresta
Estacional Semidecidual nesse município e esta se encontra no grau “relevância média”.
Quanto ao “grau de conservação da flora nativa”, o autor considerou “muito baixo”,
observando-se com essa referência que a área do município é considerada de intensa
perturbação.
Nesse município, historicamente as veredas sofreram o impacto das ações antrópicas,
devido principalmente às políticas governamentais de ocupação das áreas de Cerrado que
ocorreram no Brasil. Assim sendo, autores como Melo (1992), Ab’Saber (2003), Gama
(2003), Chagas (2014), Baggio (2008), afirmam que estas veredas foram intensamente
impactadas a partir da década de 1960, com a introdução do modelo de agricultura comercial,
81

caracterizada pelos incentivos governamentais para o desmatamento dos cerrados e a


manutenção de intensas áreas de monoculturas.
Importante destacar que a nascente do Córrego das Pedras é composta por veredas e
estas se distribuem principalmente ao longo do alto e médio curso da microbacia
hidrográfica, fortalecendo com suas águas ao canal principal.
Nestas áreas, é possível constatar a presença de moradores denominados
“veredeiros”9. Estes se situam em comunidades que constroem suas casas nas proximidades
dos cursos d’água das veredas, com o objetivo de facilitar o seu acesso à água para uso
doméstico, criação de animais ou ainda pequenos cultivos10.
A vereda é um tipo de ecossistema que se desenvolve sob determinadas condições
de umidade nos cerrados, sendo identificadas como nascentes de rios, iniciando-se e
mantendo-se as grandes e pequenas bacias hidrográficas do Brasil, (MELO, 1992).
Segundo Ab’Saber (2003), localizadas em áreas de Cerrado, nas Planícies de Cimeira
ou Chapadões, as veredas são locais que predominam sedimentos arenosos nos bordos das
planícies de inundação e formam corredores com formações herbáceas, originando caminhos
para circulação animal, os corredores ecológicos.
Para Chagas (2014), a vereda é a mãe das águas do Cerrado, sendo considerada como
o maior e mais belo espetáculo cênico do mundo tropical, um oásis que mantêm e estabiliza
os demais cursos d’água do Cerrado. O subsistema vereda, segundo o autor é o santuário do
Cerrado, dotada de espécies endêmicas, como exemplo a palmeira do buriti (Mauritia
Vinífera e Mauritia Flexuosa). Nesse subsistema é possível encontrar frutos nas quatro
estações do ano, tornando-se um refúgio para a fauna silvestre e cumprindo seu papel
ecológico.
Na visão de Ribeiro e Walter (2008), as paisagens das veredas podem ser assim
definidas:
As Veredas são encontradas em solos hidromórficos, saturados durante a
maior parte do ano. Geralmente ocupam os vales ou áreas planas
acompanhando linhas de drenagem mal definidas, em geral sem murundus.
Também são comuns numa posição intermediária do terreno, próximas às
nascentes (olhos d'água), ou na borda de Matas de Galeria. (RIBEIRO &
WALTER 2008, p.129)

9
Para maiores detalhes sobre discussões referentes às comunidades tradicionais como os “veredeiros”,
consultar obras dos autores: João Batista de Almeida Costa, Carlos Alberto Dayrell e Carlos Walter Porto
Gonçalves.
10
Tal discussão será detalhada neste trabalho na análise do uso da terra da área da microbacia hidrográfica.
82

Com relação aos aspectos geomorfológicos das veredas, Ferreira (2005) citando
Boaventura (1978), afirma que no geral sua formação ocorreu a partir da interligação de
depressões circulares (pontos de exsudação), estas estando situadas em áreas mal drenadas
da Superfície Pleistocênica, com ocorrência de camada permeável superposta à camada
impermeável em superfícies de aplainamento dos chapadões. Este autor ainda considera que
nas veredas, os chapadões do Cerrado, podem ser caracterizados em vários tipos: Vereda de
Superfície Tabular e de Encosta, Veredas de Terraço, Veredas de Enclave, Veredas de
Patamar, Veredas de Cordão Linear, Veredas de Vales Assimétricos.
Ferreira (2005), considera que o Cerrado através de políticas de avanço das fronteiras
agrícolas, vem sendo ocupado de forma desordenada e acelerada, que pode ir muito além da
capacidade de resistência dos seus subsistemas naturais, como a vereda. Entende-se, segundo
o autor, que a partir disso, as expectativas para o bioma Cerrado sugerem-se sombrias,
devido às ameaças originadas desse modelo explorador de interação homem-natureza.
Neste sentido, considerando a problemática originada das relações homem-natureza,
ao analisar a paisagem da microbacia hidrográfica do Rio Formoso situado no município de
Buritizeiro, Viana (2006), relatou que influências antrópicas, como a exploração excessiva
das fontes naturais e o desmatamento para fins de agricultura e pastagens, principalmente,
afetaram diretamente as reservas de água doce, reduzindo drasticamente o número e o ciclo
de vida das veredas no Cerrado do município.
Na área de estudo, de acordo com as observações de campo (Figuras 16 e 17), é
possível identificar diversas áreas de veredas onde se localizam várias nascentes. Estas se
encontram ameaçadas pela presença de pastagem e proximidade de monoculturas
compreendendo áreas de eucalipto.
83

Figura 16 – Vereda do Córrego das Pedras

8086924 N - 487946E

Fonte: GUEDES, C. R. M. (2018)

Através da imagem (figura 17), é possível constatar que o plantio de eucalipto não
está de acordo com as normas vigentes no Novo Código Florestal Brasileiro, Lei
12.651/2012, com relação à distância permitida das áreas de nascentes. Esta deve ser
respeitada, observando-se a distância compreendida em no mínimo um raio de 50 metros. O
plantio de eucalipto encontra-se em área topograficamente mais elevada 11 em relação ao
nível da vereda, compreendendo área que deveria estar preservada, devido a riscos de erosão
e aterramento das nascentes. A atividade econômica relacionada à produção de eucalipto
(Figura 12) é praticada na fazenda Lança12, por empresas especializadas que atuam no ramo
da silvicultura com a finalidade de atender às indústrias siderúrgicas da região, como aquelas
situadas nos municípios de Pirapora e Várzea da Palma.

11
Topos de morros e arredores de veredas medindo 50m ou distância inferior até o ponto da nascente, de acordo
ao Novo Código Florestal Brasileiro, Lei 12.651/2012, são considerados Área de Preservação Permanente
(APP), portanto não devem ser desmatados.
12
A área denominada de Lança: I, II, III e IV, domina extenso território do município de Buritizeiro (Magno
et al 2012). Na área de estudo, este grupo de fazendas exercem atividades referentes à produção de madeira de
reflorestamento e atinge as cabeceiras de veredas, inclusive a vereda onde ocorre a nascente do Córrego das
Pedras. Fonte: Trabalhos de campo.
84

Figura 17–Em destaque, monocultura de eucalipto próxima ao Córrego das Pedras

8086924 N - 487946E

Fonte: GUEDES, C. R. M. (2017)

De modo geral no Brasil, as veredas sofrem com as ações de uso e ocupação que são
praticadas nas proximidades das mesmas e é indispensável a sua conservação, independente
de onde esteja localizada, nesse sentido a manutenção dessas, tanto na área da microbacia
do Córrego das Pedras, como no município de Buritizeiro, é de suma importância para
conservação dos recursos naturais, no caso desse estudo, considerando sua contribuição para
a bacia do rio São Francisco. Atualmente, discute-se mundialmente sobre a escassez da água
potável, no entanto, deve-se criar políticas públicas favoráveis à conservação desse recurso
tão necessário à vida.

3.1.8 Contextualização Socioeconômica e Socioambiental do município de Buritizeiro,


MG

O município de Buritizeiro, considerado o quinto maior município de Minas Gerais,


possui uma vasta área territorial de 7.218,401 km2, (IBGE, 2016). Sua população no último
censo, em 2010 registrou 26.922 habitantes e Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)
médio de 0,624 (PNUD, 2010).
85

Segundo IBGE (2017), com relação à emancipação política do município de


Buritizeiro, esta foi ocasionada pela Lei Estadual 2.764 de 30 de dezembro de 1962. Antes
de sua emancipação, foi distrito dos municípios de São Romão e Pirapora. Buritizeiro é
ligado ao município de Pirapora pela rodovia BR 365 e pela Ponte Marechal Hermes. Esta
última, considerada patrimônio histórico e cultural de MG, foi inaugurada em 1922.
O nome atual deste município está relacionado ao grande número da palmeira buriti
(mauritia vinífera e mauritia flexuosa), nome que foi consolidado à data de sua emancipação.
Anteriormente, esse município já foi denominado pelos seguintes nomes: São Gonçalo das
Tabocas, Santo Antônio das Tabocas, Pirapora d’Além São Francisco e São Francisco de
Pirapora (GAMA, 2003).
Segundo Gama (2003), a emancipação político/administrativa desse município é
datada de 10 de março de 1963, está situado à margem esquerda do rio São Francisco e sua
proximidade com a rodovia BR 365 facilita o escoamento da produção agropecuária do
município e municípios vizinhos. Segundo Vale (2018) também a via férrea presente no
Porto Seco da Companhia Vale em Pirapora-MG, facilita o escoamento dessa produção
agrícola do município de Buritizeiro, pois há o sistema logístico com a integração de portos
e ferrovias como: o conjunto de Ferrovias Norte Sul (FNS) e a Ferrovia Centro-Atlântica
(FCA), importantes no conjunto de vias brasileiras.
Ainda tecendo considerações sobre as produções desse município, embora a
produção agrícola e de silvicultura de Buritizeiro historicamente tenha dado sua parcela de
contribuição à produção nacional é indispensável mencionar que o modelo de produção
adotado causou prejuízos ambientais irreparáveis durante algumas décadas, dentre esses
prejuízos, inclui-se a degradação de nascentes, córregos e veredas, contaminação do solo e
da água, (BAGGIO, 2002).
Neste sentido, conforme (Baggio2003), há efeitos negativos dessas monoculturas no
meio ambiente biológico desse município. Como consequência desse processo de
crescimento das monoculturas, ocorrido entre as décadas de 1970/80 o qual foi acompanhado
por intensos impactos ambientais negativos no meio natural, se destaca a redução da
biodiversidade. A isto, soma-se os efeitos tóxicos dos fertilizantes e agrotóxicos utilizados,
além dos resíduos orgânicos que contaminam os solos e consequentemente os corpos
hídricos superficiais e subterrâneos. Esse autor ainda conclui que, a qualidade das águas que
servem à população local poderia estar comprometida pelo efeito conjugado do aumento do
86

assoreamento, da concentração de sólidos em suspensão e nitratos, além da presença de


agrotóxicos.
Observando-se que esses efeitos negativos no ambiente foram provocados pelo modo
de produção no campo, Gama (2003), afirma que o ciclo da economia no município de
Buritizeiro teve seu início em meados da década de 1970, quando o Cerrado começou a ser
desmatado para carvoejamento e se instalaram as primeiras empresas do ramo de
reflorestamento, Bradesplan, Mannesman e Plantar, explorando o Cerrado com o
reflorestamento de eucalipto e pinus, através de recursos disponibilizados pela
SUDENE13.Ainda segundo essa autora, já na segunda metade da década de 1990, iniciou-se
o desenvolvimento da agricultura, visado principalmente pelo potencial hídrico da região,
com cultivos principalmente de soja e café e em menores quantidades feijão e milho.
Observa-se que ocorreu nesse município efeitos negativos de origem antrópica, tais
como os efeitos citados por Ross (1993), quando descreveu os processos de exploração dos
recursos naturais.

“...a mecanização da agricultura em sistema de monocultura, a generalizada


implantação de pastagens, a intensa exploração de recursos e matérias-
primas como carvão, petróleo, recursos hídricos, minérios, tem alterado de
modo irreversível o cenário da Terra e levado com frequência a processos
degenerativos profundos da natureza.” (ROSS, 1993, p.63)

Mesmo diante desse modelo histórico de exploração, atualmente as principais


atividades econômicas do município ainda estão relacionadas à agricultura comercial,
silvicultura, pecuária extensiva e agricultura familiar (esta agricultura familiar, com
pequenas produções agrícolas que alimentam a tradicional feira ocorrida na área urbana de
Buritizeiro, aos domingos).
As políticas governamentais implantadas, com o incentivo dado à agricultura
comercial, expandiram as fronteiras do município e ao mesmo tempo trouxeram prejuízos à
população que habitava a zona rural. Grande parte das comunidades tradicionais que não
foram absorvidas pela agricultura comercial e pela silvicultura venderam suas pequenas
áreas de terras e foram morar na periferia de Buritizeiro e região. Como consequência houve

13
A SUPERINTENDÊNCIA DE DESENVOLVIMENTO DO NORDESTE(SUDENE), autarquia criada com
a finalidade de promover o desenvolvimento da região Nordeste do Brasil, juntamente com o norte de Minas
Gerais, utilizando-se de recursos financeiros federais, (FGV, 2018).
87

uma drástica transformação socioeconômica na paisagem urbana e rural do município


(GAMA, 2003).
Através da análise dos dados referentes à evolução do comportamento da população
do município de Buritizeiro, disponibilizados pelo (Gráfico 6), é possível observar que
ocorreram transformações no meio rural no período analisado. Tais transformações se deram
devido ao modelo socioeconômico implantado no meio rural do município, iniciado em
meados da década de 1970, e que foi aos poucos descaracterizando seu território. Ressalta-
se que a Revolução Verde14, trouxe o desenvolvimento do capitalismo no campo, porém em
contrapartida, trouxe prejuízos socioeconômicos, problemas ambientais (relacionados à má
conservação de veredas), prejuízos culturais, êxodo rural, levando a população rural a morar
na periferia da área urbana e acentuando ainda mais à má distribuição de renda.
É possível constatar através dos dados disponibilizados pelo gráfico, que na década
de 1970 a população rural era consideravelmente maior que a urbana, uma vez que o
município ainda configurava um modelo tradicional de ocupação do campo (pouca ou
ausência de máquinas, envolvimento maior de mão de obra humana). Na década de 1980, a
população urbana ultrapassou a população rural, já configurando o reflexo da mecanização
do campo, iniciada em meados da década de 1970. Nas décadas de 2000 a 2010, a quantidade
de população habitando a área urbana é muito mais acentuada, demonstrando que a
mecanização e o domínio do espaço rural pelas empresas do ramo agropecuário e silvicultor
se intensificaram.
Essa população vinda do campo, não se tratava de mão de obra qualificada e
tampouco foi absorvida pelas atividades econômicas urbanas. Segundo Gama (2003), eram
famílias de agricultores com baixa escolaridade que se sentiram atraídos pela venda de suas
pequenas propriedades para empresas do ramo agropecuário e se mudaram para a cidade,
porém ao se depararem com as dificuldades para conseguir emprego, voltaram para o campo
para trabalharem como “boia-fria15”, em condições insalubres. Ainda segundo a mesma
autora, a área urbana não estava preparada para absorver número tão intenso de população,

14
A Revolução Verde compreendeu a expansão das fronteiras agrícolas comandada por empresas, com a
existência de linhas de crédito, uso da mecanização e adubos químicos. Era tida como uma forma moderna de
produção agrícola, porém esse modelo trouxe grandes prejuízos socioeconômicos, culturais e ambientais,
Gama (2003).

15
Segundo o dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, boia-fria significa, trabalhador rural contratado
temporariamente, servindo-se de refeições que foram preparadas em casa e portanto são ingeridas frias.
88

então ocorreram efeitos como: desemprego, violência, ausência de mão de obra qualificada,
inchaço populacional na periferia, falta de saneamento básico dentre outros problemas.

Gráfico 6 – Evolução dos Valores Quantitativos Populacionais do Município de


Buritizeiro, no Período de 1970 a 2010

População do Município de Buritizeiro, 1970/2010


30000

25000

20000

15000

10000

5000

0
1970 1980 1991 2000 2010

População Total População Urbana População Rural

Fonte: IBGE, 2018.


Org. GUEDES, C. R. M. (2018)

O cenário socioeconômico do município, as políticas de organização do espaço rural


e as transformações ocorridas na área urbana colaboraram para os baixos valores referentes
ao Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)16, principalmente no que se refere ao (IDH)
de 1991, o qual registrou o menor valor com0,326, considerando-se os três períodos
analisados.
Analisando-se o (IDH) dos censos mais recentes: 1991, 2000 e 2010, estes indicaram
0,326, 0,497, 0,624 respectivamente, considerando-se que o município evoluiu do índice
baixo para o médio (IDH). Tais números comprovam que houve um período crítico e após

16
O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é utilizado pelo Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento desde 1993. Para o cálculo do (IDH) utiliza-se certos critérios de avaliação (renda,
expectativa de vida e educação). Para medir o (IDH), estima-se os valores do intervalo de 0 a 1, sendo
considerados de baixo desenvolvimento os valores encontrados que atingem menos de 0,499 pontos; de médio
desenvolvimento os que possuem notas de 0,500 até 0,799 e de alto desenvolvimento os valores que atingem
pontuação superior a 0,800;FGV (2018).
89

esse período ocorreu uma evolução gradativa desse (IDH), isso já no século XXI. Observa-
se a partir dos valores ofertados pelo (IDH), que houve certo avanço social, com relação a
renda, expectativa de vida e educação, e esta evolução social era o reflexo de melhorias nas
condições de vida da população. Tais resultados, dos melhores índices do (IDH) em 2000 e
2010, podem ter sido influenciados parcialmente pela implantação de políticas públicas de
combate a fome, como é o caso do Programa Bolsa Família17, já que este programa atende
valores expressivos da população do município.
Segundo o Ministério do Desenvolvimento Social MDS (2018), no município de
Buritizeiro 3.430 famílias são assistidas pelo programa citado acima. A esse número de
famílias cadastradas, é possível constatar traços de pobreza presentes nesse município, pois
o perfil da família para se cadastrar nesse programa, é normatizado pelos seguintes critérios:
renda por pessoa de até R$ 85,00, independentemente da idade; famílias com renda entre R$
85,01 e R$ 170,00 se estiverem em sua família crianças ou adolescentes de até 17 anos que
frequentem a escola regularmente,18 ou ainda as gestantes desprovidas de renda também têm
direito ao benefício. Considera-se que o valor recebido pela família cadastrada varia entre
R$ 39,00 a R$ 372,00 reais, dependendo do número de crianças/adolescentes e gestantes na
família, (MDS, 2018).
Com relação a essas questões socioeconômicas presentes nesse município, observou-
se através de informações adquiridas nos trabalhos de campo, que embora tenha havido
evolução dos valores referentes ao Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), ainda
existem problemas sociais, como esses referentes ao número de pessoas que necessitam ser
atendidas pelo Programa Bolsa Família ou ainda o fato de parte da população servir como
oferta de mão de obra barata (ausência de mão de obra qualificada 19). Considerando-se que
parte dessa mão de obra barata, é absorvida na área rural do município, em trabalhos

17
Segundo o Ministério do Desenvolvimento Social, MDS (2018), o programa Bolsa Família foi criado no ano
de 2003, atualmente atende 15 milhões de famílias brasileiras e tem como objetivo tirar as famílias do estágio
de estrema pobreza e combater a fome.

18
Observa-se, segundo o Ministério do Desenvolvimento Social, MDS (2018), como critério para se receber o
benefício, que o aluno esteja matriculado e frequente a escola regularmente. No entanto, não menciona sobre
a qualidade do rendimento desse aluno; segundo observação documental de alunos de escolas públicas do
município, é comum ocorrer reprovação envolvendo alunos que recebem o benefício. Os profissionais da
educação entendem que deveria ser regra do programa para com o aluno bolsista, a exigência do rendimento
escolar satisfatório. Fonte: arquivos de escolas públicas estaduais do município.
19
Constatam-se em escolas públicas do município de Buritizeiro, número expressivo de famílias que solicitam
transferência de seus filhos, estudantes da educação básica, ano a ano em épocas de colheitas, com destino ao
Noroeste de Minas Gerais e Triângulo Mineiro, às quais retornam com seus filhos ao município, tendo
finalizado o trabalho sazonal. Fonte: arquivos de escolas públicas do município.
90

insalubres em áreas de silvicultura, no corte de eucalipto, colheita e aplicação de agrotóxicos


em lavouras ou até realizando esses mesmos trabalhos sazonalmente em outros municípios
no Noroeste de Minas Gerais e Triângulo Mineiro.
O cenário do município de Buritizeiro, compõe-se por situações contraditórias, pois
ao mesmo tempo em que houve o incentivo para a instalação de empresas no campo que
iriam provocar o desenvolvimento econômico, como resposta houve o surgimento da
degradação ambiental, trabalhos insalubres, perdas culturais e desarranjos sociais.
Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, EMBRAPA (2007), dos
dez municípios produtores de carvão vegetal proveniente de silvicultura, 5 deles era de
Minas Gerais, estes compreendiam: Buritizeiro, João Pinheiro, Itamarandiba, Curvelo e Três
Marias. Em conjunto, ainda segundo a EMBRAPA (2007) esses municípios produziram
17,2% da produção nacional e 24,9% da produção estadual em 2005, considerando-se,
segundo a mesma fonte, que historicamente o estado de Minas Gerais liderou o consumo de
carvão vegetal do Brasil.
Apresenta-se o importante papel (representação econômica) que esse município
possui no ramo da silvicultura mineira e nacional. No entanto, observa-se a necessidade de
conservação de seus recursos, pois se trata de área dotada de importantes recursos naturais,
os quais, ao serem explorados, deveriam conciliar o desenvolvimento econômico e a
sustentabilidade.
Castro e Scariot (2005), consideram que a ausência de planejamento para gerenciar
o uso da terra e da água resultam em prejuízos ambientais como: rios e lençóis freáticos
contaminados devido métodos inadequados de exploração como, irrigação excessiva e
despejo de resíduos de agrotóxicos, resultando em salinidade, contaminação por arsênio,
fluoretos e outras toxinas. Estes autores complementam ainda que a agricultura é responsável
pelo consumo de 70% de toda a água consumida no mundo, porém grande parte dessa água
é desperdiçada antes de ser utilizada, comprovando a ausência de planejamento adequado
dos recursos da natureza.
O município de Buritizeiro é um território rico em recursos hídricos (Figura18) e
possui grande potencial quanto à ocorrência de veredas e nascentes, córregos, riachos e até
grandes afluentes do rio São Francisco, como o rio Paracatu e rio do Sono. Essa riqueza
hídrica faz com que o município seja dotado de grande potencial para o turismo, com práticas
de trilhas e passeios em córregos e cachoeiras.
91

Figura 18 – Rede Hidrográfica do Município de Buritizeiro, MG

Segundo boletins informativos de turismo do município, este faz parte do circuito


Guimarães Rosa de turismo de Minas Gerais, tendo como principais pontos turísticos: o
Balneário das Pedras e a Cachoeira das Andorinhas, ambos localizados na microbacia
92

hidrográfica do Córrego das Pedras, além de outros pontos como, cachoeiras no Córrego
Formoso, no Ribeirão do Areia e no Córrego Paulo Geraldo. Destacam-se também a Ponte
de Pedra, o Pico Itacolomi e os pontos turísticos culturais como: Fundação Caio Martins
(FUCAM), Ponte Marechal Hermes, Estação Ferroviária e o Sítio Arqueológico descoberto
em 1975, localizado à margem do Rio São Francisco.
Nesse município existem situações que se configuram como conflitos20
socioambientais, a existência desses conflitos possibilita reflexões com relação aos
processos de apropriação e gestão dos territórios rurais21. A ocorrência de denúncias sobre
esses conflitos propiciam o fortalecimento político/participativo das populações tradicionais
atingidas por situações excludentes de exploração econômico/ambientais. Entende-se que o
mapeamento dos conflitos socioambientais permite compreender as principais razões que
levam a sua existência, bem como estabelecer o perfil das comunidades envolvidas. No
entanto, observa-se a existência de conflitos por razões dessas apropriações, que não estão
presentes no mapeamento oficial do Brasil, bem como do estado de Minas Gerais, como é o
caso desse no município de Buritizeiro, MG.
A situação a seguir representa um conflito na área de estudo na margem esquerda do
Córrego das Pedras, caracterizada segundo o autor Magno et al (2012) como um conflito
ambiental. É o caso do assentamento São Francisco, onde há o desencontro entre a utilização
da terra e a conservação da natureza. Situado no município de Buritizeiro, MG o
assentamento rural foi criado em 1995, no entanto, observou-se situações contraditórias, no
que se refere ao assentamento não atender aos objetivos da política pública aplicada, com
relação à melhoria da qualidade de vida dos assentados, havendo controvérsias quanto ao
uso dos recursos naturais. O conflito não envolve mais a disputa pelo território, pois a área
já foi dividida pelo processo da reforma agrária entre os posseiros.
Segundo esse autor, tal assentamento encontra-se em área de vegetação de Cerrado,
com presença de veredas. Nestas é onde se localizam os solos mais férteis e os posseiros
praticam a agricultura. O conflito ambiental se situa em torno dessa problemática. Destaca-
se que a área que corresponde ao assentamento possui apenas 19,15% de sua vegetação
original. Neste sentido o órgão ambiental fiscalizador na região, o Instituto Estadual de

20
Os conflitos socioambientais se definem por caracterizar situações sociais e ambientais que envolvem
disputas entre indivíduos, grupos, comunidades e classes sociais, podendo se manifestar de forma violenta ou
não, essa disputa envolve o acesso a algum tipo de recurso natural, Brito et al (2011).

21
Para melhor compreensão dos processos de apropriação dos territórios rurais, sugere-se a leitura de obras do
autor: Bernardo Mançano Fernandes.
93

Florestas (IEF), no exercício de suas funções aplicou multas aos posseiros por crime contra
o patrimônio natural, por cultivar em áreas de veredas. Em resposta, houve o abandono do
assentamento, vendas dos lotes para o pagamento de multas, endividamento de famílias,
venda ilegal de lotes pela impossibilidade de se permanecer, diante dos conflitos existentes.
O município de modo geral possui diversas feições que representam conflitos
socioambientais, configurando-se como exemplos: questões relacionadas à conservação das
veredas, desmatamentos e carvoejamento em áreas naturais de Cerrado, desrespeito às Áreas
de Preservação Permanente (APP), utilização excessiva de agrotóxicos na agricultura e
contaminação das águas, conflitos envolvendo o uso da terra, plantio de eucaliptos em Área
de Preservação Permanente (APP), esgotamento de nascentes, sendo essas problemáticas
trazidas pelos autores, Gama (2003), Viana (2006), Baggio (2003;2008). Esses conflitos
ocasionam mudanças na paisagem, mudanças estas de forma temporária ou permanente e
que refletem a intensidade da exploração dos seus recursos.
94

4. ANÁLISE ESPAÇO-TEMPORAL DA PAISAGEM DA MICROBACIA


HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO DAS PEDRAS E SUAS FRAGILIDADES
AMBIENTAIS

A visão sistêmica será utilizada nesta seção como forma de abordagem para se
analisar as relações antrópicas de uso e ocupação das terras na microbacia hidrográfica do
Córrego das Pedras, pautando-se na importância da conservação dos recursos da natureza
embora diante da necessidade inevitável do desenvolvimento econômico.
Tais caracterizações permitirão análises quanto aos efeitos antrópicos em sua
paisagem natural, bem como suas correlações que ocasionam as complexidades perceptíveis
em sua paisagem. Destaca-se que para um planejamento eficaz no processo de uso e
ocupação das terras, é necessário que sejam adotados instrumentos e técnicas capazes de
fornecer uma dinâmica de uso, bem como de conservação dos recursos da natureza, causando
o mínimo de impactos negativos.
Para Ab’Saber (2003), diversos impactos antrópicos são gerados, em especial no
bioma Cerrado, pela ocorrência da substituição do ecossistema natural por diversos usos da
terra, os quais ocorrem sem planejamento. Ross (1993) afirma que sob a perspectiva do
planejamento econômico e ambiental do território é indispensável que as ações humanas
sejam planejadas, que esse planejamento em escala municipal, estadual, federal, bacia
hidrográfica ou qualquer outra unidade seja considerado como ponto de partida para as
potencialidades dos recursos naturais e humanos e as fragilidades presentes nos ambientes.
Neste sentido, procurando se estabelecer uma análise geral da área de estudo
considerando o recorte temporal estabelecido, 1987 a 2017, observa-se que essa área foi
palco de diversas transformações ocasionadas por ações antrópicas de uso de ocupação.
Observa-se também ao longo dos 30 anos analisados que a vegetação natural foi aos poucos
sendo substituída principalmente por pastagens. Com relação às veredas, no início do
período analisado, ocupavam área mais abrangente e a quantidade de água que se originava
na área de abrangência da microbacia era consideravelmente maior de acordo com relatos
de moradores. Para as áreas de eucalipto, percebe-se que não houve avanços consideráveis,
prevalecendo como atividade econômica principal a utilização da área para pastagem em
todo o período analisado.
95

Diversos autores discutem a importância do uso da terra de forma adequada, levando


a minimizar impactos causados com fins antrópicos. A área de estudo, tendo a pastagem
como principal uso da terra, sofre vulnerabilidades relacionadas à exposição do solo e
pisoteio dos animais, neste sentido, observa-se as considerações trazidas pelos autores a
seguir:
Para Santos (2004), as feições superficiais do terreno no que se refere ao solo ou ao
relevo determinam a adoção de técnicas mais adequadas de uso/conservação que serão
aplicadas. Cunha (2010), afirma que o uso da terra em uma área de bacia hidrográfica,
influencia diretamente os processos erosivos que alteram a dinâmica fluvial, estes
provocados principalmente por desmatamentos em suas margens, o autor ainda considera
que há constantes relações entre as condições ambientais dos rios e as atividades humanas.
Botelho e Silva (2004), mencionam que ao se planejar o manejo e uso da terra é
indispensável que se considere o contexto da bacia ou microbacia onde a área está inserida
e complementa que gradativamente o planejamento das propriedades rurais foi sendo
substituído pelo planejamento de uso da terra da bacia ou microbacia hidrográfica.
Guerra e Marçal (2014), lembram ainda que os planejadores devem estar atentos a
fatores físicos ao implementar suas políticas públicas que influenciam na paisagem. Para os
autores estudos realizados por geomorfólogos são fundamentais para implementação de
políticas públicas, assim como legislações específicas e regulamentos.
Ao se investigar os principais usos da terra presentes na microbacia hidrográfica do
Córrego das Pedras, é possível observar o nível de interferência antrópica na paisagem
natural. Tais informações são indispensáveis para análises de feições paisagísticas, bem
como da ocorrência de equilíbrios ou desequilíbrios. Em se tratando de área de Cerrado no
município de Buritizeiro, sua exploração historicamente se deu de forma predatória e com
ausência de planejamento adequado.
Ao se analisar a área de forma integrada, observa-se que os elementos da paisagem
não se encontram em relações dinâmicas entre si, as interferências antrópicas provocam
transformações nessa dinâmica causando principalmente ações que provocam
vulnerabilidades (como desmatamentos, erosões, assoreamentos) na dinâmica do sistema
ambiental que envolve a microbacia. A seguir, será analisado o uso da terra da área de estudo,
considerando o período de 1987 a 2017.
96

4.1 Uso e Ocupação das Terras da Microbacia Hidrográfica do Córrego das Pedras no
Ano de 1987

A partir da década de 1960, o município é marcado por intensos usos da terra para
diversos fins, com a introdução e desenvolvimento das atividades agroindustriais, como a
cultura de eucalipto, a agricultura comercial e pecuária. Usos estes resultantes dos incentivos
governamentais. Em se tratando da área de estudo, o uso da terra mais intenso se concentra
em atividades pecuárias, por fazendas localizadas na área ou mesmo pequenos proprietários,
assentados22 ou sitiantes23.
Ao se observar os dados referentes ao uso da terra do ano de 1987, conforme (Figura
19e Tabela 5) constata-se que a classe, pastos e vegetação rarefeita, possui um importante
papel no uso da terra, com um total de aproximadamente 31,3% da área da microbacia, essa
classe se distribui ao longo de toda a microbacia, ocupando áreas geomorfologicamente mais
íngremes como as vertentes ravinadas até as áreas de colinas e planícies. As áreas de cerrado
e afins correspondem a aproximadamente 59,1%, distribuindo-se junto às áreas de pastagens.
Para a classe, área desmatada, há aproximadamente 2,4%, demonstrando que naquele
momento não havia o plantio de eucalipto mas a terra já estava sendo preparada para tal fim;
para a classe, área degradada com exposição do solo, registrou-se 1,2%. Para as áreas de
veredas, registrou-se 5,8%.

22
Há na área de estudo, assentados em lotes já determinados pelo Incra, localizados na Fazenda São Francisco.
Fonte: trabalhos de campo.
23
Proprietários de áreas bem pequenas (sítios) que são utilizadas para lazer em fins de semana. Fonte: trabalhos
de campo.
97

Figura 19- Uso e Cobertura da Terra da Microbacia do Córrego das Pedras, 1987
98

Tabela 5: Uso e Cobertura da Terra, 1987

Uso da Terra 1987 Área km² %


Veredas 6,56 5,85
Área desmatada 2,78 2,48
Área degradada com exposição de solo 1,40 1,24
Cerrado e afins 66,22 59,11
Pasto e vegetação rarefeita 35,11 31,32
Total 112,07 100
Fonte: Org. GUEDES, 2018

4.2 Uso e Cobertura da Terra da Microbacia Hidrográfica do Córrego das Pedras no


Ano de 1997

Os dados do uso da terra referentes ao ano de 1997, conforme (Figura 20 e Tabela


6) constata-se que a classe de pasto e vegetação rarefeita continua a possuir valores
significativos no uso da terra, inclusive com um valor maior do que o período anterior
avaliado (1987), com um total de 42,6 % da área da microbacia. Para as áreas de cerrado e
afins correspondeu ao valor49,6 %, observando-se que houve a redução da sua área com
relação ao período anterior avaliado (1987). As áreas de eucalipto corresponderam a 3,3 %
e para as áreas de veredas houve redução com relação ao período anterior avaliado, passando
a 4,4 %.
99

Figura 20- Uso e Cobertura da Terra da Microbacia do Córrego das Pedras, 1997
100

Tabela 6: Uso e Cobertura da Terra, 1997

Uso da Terra 1997 Área km² %

Veredas 4,96 4,42

Eucalipto 3,78 3,37

Cerrado e Afins 55,6 49,61

Pasto e Vegetação Rarefeita 47,73 42,60

Total 112,07 100


Fonte: Org. GUEDES, 2018

4.3 Uso e Cobertura da Terra da Microbacia Hidrográfica do Córrego das Pedras no


Ano de 2007

Constata-se nos dados referentes ao uso da terra do ano de 2007, (Figura 21 e Tabela
7), que a classe de pasto e vegetação rarefeita continua a possuir valores significativos no
uso da terra, porém possui valor consideravelmente menor (24,1 %), com relação aos 2
períodos anteriores avaliados (1987 e 1997) com 31,3 e 46,6 % respectivamente. Para a área
de cerrado e afins o valor correspondeu a 68 % demonstrando que foi o período em que
ocorreu o melhor resultado dessa classe, considerando os períodos analisados, e redução da
área de pastagem. As áreas de eucalipto corresponderam a 2,6 % e para as áreas de veredas
houve aumento com relação ao período anterior avaliado, (1997) com 4,4 %, passando a 5,2
% em 2007. Observa-se que para o ano de 2007 houve aumento tanto das áreas de vegetação
de cerrado, quanto das áreas de Veredas. O aumento dessas áreas pode ser justificado,
segundo Magno et al (2012), por maior fiscalização nessa época, por parte dos órgãos
fiscalizadores, principalmente o (IEF) Instituto Estadual de Florestas, já que estava
ocorrendo o loteamento para distribuição de lotes pelo (INCRA) Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária.
101

Figura 21 - Uso Cobertura da Terra da Microbacia do Córrego das Pedras, 2007


102

Tabela 7: Uso e Cobertura da Terra, 2007

Uso da Terra 2007 Área km² %

Veredas 5,85 5,24

Cerrado e afins 76,21 68

Pasto e vegetação rarefeita 27,03 24,11

Eucalipto 2,98 2,65

Total 112,07 100


Fonte: Org. GUEDES, 2018

4.4 Uso e Cobertura da Terra da Microbacia Hidrográfica do Córrego das Pedras no


Ano de 2017

Embora para o período anterior analisado (2007), observou-se os melhores resultados


com relação à conservação do Cerrado, nos dados do uso da terra do ano de 2017, conforme
(Figura 22 e Tabela 8) constata-se que se registrou os piores resultados. Para a classe
eucalipto, houve aumento do seu cultivo, com relação ao período anterior avaliado (2007)
com 2,6 %, passando a 4,4 % em 2017. Quanto à classe cerrado e afins, esta registrou seu
menor número, com 37,2 %. Para a classe, pasto e vegetação rarefeita, observa-se o maior
número considerando todos os períodos analisados, com 49,2 %. Para a classe, vegetação
rarefeita e solo em exposição, observa-se o valor de 8,6 % e finalmente para a área de vereda,
observa-se acentuada redução para 0,38 %. A partir da observação dos dados, constata-se
que houve acentuada ação antrópica na área de estudo, principalmente com relação ao
aumento da área de pastagem que em 1987 correspondia a 31,3 % e em 2017 esse número
evoluiu para 49,2 %. Quanto à classe, solo exposto, em 1987 seu valor correspondia a 1,2 %
enquanto que em 2017 esse número evoluiu para 8,6 %.
103

Figura 22: Uso e Cobertura da Terra da Microbacia do Córrego das Pedras, 2017
104

Tabela 8: Uso e Cobertura da Terra, 2017

Uso da Terra 2017 Área km² %

Eucalipto 4,94 4,40

Cerrado e Afins 41,79 37,28

Vegetação Rarefeita e Solo em 9,74 8,69


Exposição
Pasto e Vegetação Rarefeita 55,20 49,25

Vereda 0,40 0,38

Total 112,07 100


Org. GUEDES, 2018

Vários foram os excessos de exploração ocorridos com relação ao uso da terra pela
agricultura comercial e silvicultura no país. Neste sentido, como forma de política pública
em defesa do meio ambiente e conservação dos recursos naturais e como meio de se criar
mecanismos legais no sentido de conter ações predatórias ao meio ambiente, em 2015, foi
criada a portaria n0 365, Ministério do Meio Ambiente - MMA/2015. Esta portaria objetiva
mapear e monitorar a vegetação brasileira em municípios onde ocorrem maiores explorações
econômicas de seus biomas. No caso do estado de Minas Gerais constam os municípios de
Buritizeiro e João Pinheiro. São objetivos da Portaria MMA 365/2015:

I- Mapeamento e monitoramento do desmatamento, incluindo


sua taxa;
II- Avaliação da cobertura vegetal e do uso das terras;
III- Monitoramento de queimadas;
IV- Restauração da vegetação e extração seletiva.
(PORTARIA MMA, 365/2015)

Na análise de 2017, onde houve os piores resultados com relação aos efeitos
antrópicos na área de estudo, ainda não foram constatados os efeitos da Portaria 365/2015.
Ao considerar esses efeitos antrópicos, observa-se usos intensos da terra com a finalidade de
pastagens, solo exposto, bem como cultivo de eucalipto.
105

Considerando a importância de haver planejamento nesse processo de uso e


ocupação de terras, Santos (2004), considerou que o planejamento permite observar nas
áreas que estarão sofrendo interferência, se estas estão recebendo a devida atenção, com
relação à proteção do solo de ações degradadoras como: erosões, voçorocas, desmatamentos
desnecessários, perda da capacidade de produção do solo; bem como se esses fatores
influenciam na qualidade e quantidade das águas presentes nessas áreas.
Para Botelho e Silva (2004), é importante a prática de técnicas de conservação do
solo, uma vez que, como resultado tem-se: aumento da cobertura vegetal, melhoria da
estruturação do solo, aumento da infiltração da água, redução do escoamento superficial e
de erosões, bem como, melhores resultados na produção.
Bigarella (2003); Botelho (2004), consideram que as áreas ocupadas por agricultura,
tendem a sofrer mais com problemas relacionados ao escoamento superficial com a
exposição do solo às gotas de chuva sem a cobertura de vegetação, enquanto que nas áreas
ocupadas com florestas e vegetação rasteira que protegem o solo, há maior infiltração. Os
mesmos autores ainda consideram que a ausência de práticas de conservação desgastam
excessivamente o solo.
Segundo Vitte e Guerra, usos e manejos inadequados do solo, quanto às formas de
produção econômicas destes, levam a ocorrências de intensos processos erosivos e em
muitos casos de caráter irreversível. No caso do município de Buritizeiro, observa-se que
compreende área rica em recursos naturais, tal fato faz com que sejam necessárias, na prática
dos diversos usos da terra, medidas como planejamento visando a conservação dos recursos
e fiscalização quanto ao cumprimento da legislação ambiental vigente.
Em se tratando dos recursos hídricos, especificamente, existe o fato da microbacia
do Córrego das Pedras pertencer à extensa bacia do Rio São Francisco. Diante das previsões
futuras de escassez, é necessário que o poder público assuma suas responsabilidades com
relação à atenção aos pequenos cursos d’água e nascentes. Tais ações terão impactos maiores
nas microbacias e grandes bacias hidrográficas, à medida que se tornarem rotineiras.
A existência do planejamento da área com relação aos diversos usos da terra, permite
que se conheça as fragilidades da área. A partir do conhecimento sobre essas fragilidades é
possível minimizar problemas como: solo exposto, perda de solo e seu empobrecimento pela
prática da agricultura, surgimento de voçorocas e outros; focando nas áreas que apresentam
características geomorfológicas mais propícias às práticas de uso e ocupação que se deseja
utilizar.
106

4.5 Fragilidades Ambientais

Determinar as fragilidades ambientais, segundo Ross (1993), é importante no sentido


de se estabelecer regras ao processo de uso de ocupação, pois trata-se de conhecer a
superfície a partir de suas propriedades geomorfológicas, observando-se o grau de
fragilidade da área analisada. A partir da classificação dessa fragilidade, é possível
determinar quais áreas sofrerão maiores impactos negativos, nos processos de interferências
antrópicas, para que se determine medidas de prevenção.
Para a área de estudo a seguir, foram determinados os graus de fragilidade, com o
objetivo de servir de subsídio aos planejadores, bem como às comunidades habitantes dessa
área, ao se estabelecer que tipo de uso e ocupação é o mais adequado. Observa-se (Figura
23), que na área a montante da microbacia, se concentram as classes: Muito forte, forte e
média fragilidade, indicando que deve-se adotar medidas de prevenção nas atividades de uso
da terra. Já a jusante da microbacia, existem as classes: fraca e muito fraca, concluindo-se
que nas práticas de uso da terra localizadas no baixo curso, minimizaria-se possibilidades de
perdas de solos e outros prejuízos ambientais.
Justificando-se a localização das classes de fragilidades e considerando aspectos
físicos, observa-se que a montante da área de estudo estão concentradas áreas mais íngremes
como as vertentes ravinadas e superfícies onduladas em planaltos, com presença isolada de
relevo escarpado e altitudes entre 900 e 700 metros, portanto que apresentam maiores
vulnerabilidades com relação aos usos da terra.
No médio curso da área de estudo, observa-se a presença de aspectos físicos como:
bordas de patamar erosivo, vertentes ravinadas e vales encaixados que são vulneráveis ao
uso antrópico, no entanto há as colinas de topo plano e colinas com vertentes suaves que
possuem topografia favorável à prática da agricultura. Nessa área, as declividades se
concentram entre 13 e 71 % havendo relevo forte e ondulado, montanhoso, e escarpado e
altitudes entre 600 e 750 metros.
A jusante da área de estudo, observa-se aspectos físicos relacionados a maior
resistência quanto aos usos da terra, pois há a formação de terraços antigos e planícies
inundáveis com altitudes até 500 metros, com relevo aplainado a suave e ondulado,
apresentando menores vulnerabilidades com relação aos usos da terra.
107

Figura 23 – Mapa das Fragilidades da Microbacia do Córrego das Pedras

Para se determinar as fragilidades foram necessários o cruzamento de dados


referentes a: geologia, declividade, solos e hipsometria e tais informações resultaram na
108

tabela a seguir (Tabela 9) demonstrando as classes de fragilidades, bem como no mapa das
fragilidades.
Percebe-se a partir da tabela que a maior parte da área 34,8 % compreende a classe
de Média fragilidade, a segunda classe que também ocupa área considerável é a de Forte
fragilidade abrangendo área de 25 %. Em seguida observa-se as classes: Fraca com 18,8%,
Muito Fraca 14,1 %, Muito forte 7,3 %. A partir dos resultados obtidos através dos dados,
depreende-se um alerta ao se introduzir determinados usos da terra na área analisada. São
necessárias análises criteriosas ao se planejar interferências antrópicas.

Tabela 9: Classes de Fragilidades, em Km2

CLASSES DE FRAGILIDADES Área km² %

Muito Fraca 15,90 14,18

Fraca 21,18 18,89

Média 39,04 34,83

Forte 28,03 25,01

Muito Forte 8,29 7,36

Total 112,07 100

Org.: GUEDES, C. R. M. (2018)

A seguir, serão discutidas algumas considerações sobre essas fragilidades e


interferências antrópicas de uso e ocupação dessa área. Algumas interferências presentes na
área ocorreram sem o devido planejamento adequado.

4.6 Relação entre Fragilidades Ambientais e Uso e Ocupação na Microbacia do


Córrego das Pedras

Na área que abrange a microbacia em estudo, foi possível observar que os plantios
de eucalipto se situam bem próximos às veredas ou em áreas topograficamente mais
elevadas, aumentando o risco de erosões e perdas de solos (Figura 25). Neste sentido, para
Guerra e Mendonça (2011) a ausência de planejamento do uso da terra causa a perda da
produtividade agrícola devido a prejuízos causados pela erosão. Influenciam também nesses
109

processos as propriedades físicas e químicas do solo, as declividades, ausência ou não de


cobertura vegetal, bem como a forma de manejo, se conservacionista ou não.
Ab’Saber (2003) lembra que partes notáveis de florestas naturais são suprimidas para
dar lugar à extensas áreas agrícolas, visando a conquista cada vez maior de espaços
econômicos agrários e que isso se deu principalmente em países tropicais em vias de
desenvolvimento. Esta prática se acelerou no Brasil na década de 1960, porém se tornando
mais acentuada a partir de 1970. Nessa época, segundo o mesmo autor, extensas áreas de
Cerrado no Brasil começaram a ser substituídas por silvicultura e agricultura comercial,
especialmente de café, soja, arroz e trigo, transformando as fronteiras agrícolas e
modificando extensas áreas rurais.
Na área de estudo (Figuras 24 e 25), além do aproveitamento do solo para o plantio
de eucalipto, observa-se também que esse plantio se encontra bem próximo da vereda e esta
corre riscos de aterramento devido a essa proximidade.

Figura 24– Plantio de eucalipto Figura 25 – Plantio de eucalipto


próximo à vereda
8086246 N - 489919 E
8086246 N - 489919 E

Fonte: GUEDES, C. R. M. (2018)

Atividades intensas de uso da terra são discutidas por diversos autores neste texto e
são tidas como causas para prejuízos ambientais diversos, como os diversos usos da terra
praticados na área de estudo. Para Guerra e Marçal (2014), os conhecimentos
geomorfológicos devem ser utilizados com o objetivo de minimizar e mitigar processos
referentes à conservação do solo e seus efeitos nos processos de uso e ocupação,
110

principalmente erosões, às quais possuem duas causas principais: causas naturais e


antrópicas, no entanto, estas últimas têm ações mais intensas.
Para Bertone e Neto (1985), no Brasil, os fatores que mais contribuem para a
existência de solos improdutivos e erosões hídricas estão relacionados a ações antrópicas
como: queimadas de restos culturais, excesso de atividades ligadas ao pastoreio ou o plantio
de culturas que esgotam os solos. Esses autores ainda consideram que a ausência das plantas
potencializa o impacto da gota de chuva, sendo este o principal motivo da erosão hídrica.
A ausência de cobertura do solo demonstra que esta área se tornou vulnerável,
provocando o surgimento de voçorocas (Figura 26).A construção de uma estrada, a
intensidade do desgaste provocado pelas gotas de chuvas ao atingir o solo e o escoamento
superficial, ocasionou o aumento da área desgastada com o passar dos anos, que devido ao
solo exposto, teve acentuado o fenômeno erosivo e consequente assoreamento do canal da
vereda nas proximidades dessa área.
A ausência da cobertura vegetal provoca a redução da quantidade de água
subterrânea, pois ocasiona escoamentos superficiais mais rápidos e em maiores quantidades,
tais características, segundo o autor reflete nas produções agrícolas e na disponibilidade de
água, em quantidade e qualidade (BIGARELLA, 2003).

Figura 26-Voçoroca localizada próxima ao canal do Córrego das Pedras


8086829 N - 488870 E

Fonte: GUEDES, C. R. M. (2018)


111

A pecuária (Figura 27) é a principal atividade econômica praticada na área de estudo,


em alguns casos a área de vereda dá continuidade às áreas de pastagens e essas sofrem com
o pisoteio dos animais. Atividades de uso da terra ligadas ao pastoreio, são tidas como
causadoras de impactos ambientais negativos e por trazerem vulnerabilidades 24 ao solo.
Atividades de produção de carvão vegetal (Figura 28) também estão presentes com a
utilização de madeira de eucalipto para a fabricação do carvão, na imagem observa-se a
proximidade do plantio.

Figura 27- Área de pastagem Figura 28– Carvoaria próxima à


destinada à criação de gado bovino área de eucalipto
8083533 N - 492319 E 8083797 N - 494632 E

Fonte: GUEDES, C. R. M. (2018)

Ao longo dos canais das diversas veredas presentes na microbacia, existe a presença
de moradores que constroem suas casas próximas às veredas 25, com a finalidade de melhor
acesso a água, conforme (Figura 29). Também junto aos solos das veredas essa água é
aproveitada para a prática da agricultura local pelas comunidades, conforme (Figura 30). Há

24
Segundo Casseti (2005), ao se referir a essas fragilidades, denominou-as de vulnerabilidades, definindo-as
como um subsídio fornecido pela compartimentação do relevo, sob a perspectiva da geomorfologia,
entendendo-a como suscetibilidade erosiva, considerando para a ocorrência desses processos erosivos, tanto
condições naturais quanto certos usos das terras. Para esse autor, os estudos sobre os diferentes graus de
vulnerabilidade (ou fragilidades) do relevo, fornece elementos para se produzir mapas estabelecendo planos de
manejo sustentável e conservação ambiental.
25
Segundo o Novo Código Florestal Brasileiro Lei 12.651/2012, permanecem atividades agrossilvipastoris, de
ecoturismo e de turismo rural em Áreas de Preservação Permanente (APP) rurais consolidadas até 22 de julho
de 2008.
112

pequenas produções agrícolas, com a utilização de formas tradicionais, onde os moradores


demonstram preocupações com a manutenção das águas das veredas.
Nesse contexto, da conservação dessas áreas naturais e considerando-se as normas
vigentes no Novo Código Florestal Brasileiro Lei 12.651/2012, devem ser preservadas as
áreas de reserva legal e as áreas de preservação permanente (APP), sendo que 35% da
vegetação nativa de qualquer imóvel situado em área de Cerrado deve ser preservada para
reserva legal. O mesmo Código Florestal regulariza a localização dos imóveis situados nas
Áreas de Preservação Permanente (APP) em área rural, onde é autorizada a continuação das
atividades agrossilvipastoris, de ecoturismo e de turismo rural em áreas rurais consolidadas
até 22 de julho de 2008, porém é obrigatória a recomposição da mata ciliar dos cursos
d’água, respeitando as devidas restrições do manejo sustentável.
Nesse contexto, para qualquer intervenção de uso das terras, o proprietário ou
ocupante da propriedade rural deverá ter atenção às normas previstas no Novo Código
Florestal Brasileiro, pois terá a obrigação de reparar o dano causado, sem prejuízo das
responsabilidades previstas em lei.

Figura 29- Em destaque, residência Figura 30- Pequena cultura de


localizada à margem da vereda mandioca nas proximidades da vereda
8086924 N - 487946 E 8085463 N - 490758 E

Fonte: GUEDES, C. R. M. (2018)

A seguir (Figura 31), cachoeira localizada no Córrego das Pedras, conhecido ponto
turístico do município de Buritizeiro. Nesta, praticam-se o turismo ecológico, com a
utilização de trilhas para pedestres e ciclistas. O município faz parte do Circuito Guimarães
113

Rosa de turismo, com páginas informativas e guias de orientações sobre os atrativos


turísticos no município.

Figura 31: Cachoeira localizada no Córrego das Pedras, prática do turismo ecológico
8085714 N - 4991708 E

Fonte: GUEDES, C. R. M. (2018)

O Córrego das Pedras abrange tanto a área rural quanto a área urbana do município.
Próximo à foz este encontra-se com a área urbana e suas águas possuem sentido cultural, já
que tradicionalmente as mulheres as utilizam para a lavagem de roupas, costume antigo que
perdura até nos dias atuais.
A seguir (Figura 32), observa-se que a margem do Córrego das Pedras na área urbana,
encontra-se apenas com algumas árvores representando as matas ciliares. No Balneário das
Pedras, localizado também na área urbana (Figura 33), há de acordo com a imagem grande
volume de água devido a ocorrência de chuvas (mês de dezembro). Essa cachoeira artificial
é tida como ponto turístico na cidade e está localizada no pequeno espaço urbano por onde
passa o Córrego das Pedras.
114

Figura 32 - Margem do Córrego Figura 33- Balneário das


das Pedras na área urbana Pedras, cachoeira artificial, área
urbana
8082015 N - 0503825 E 8082015 N - 0503825 E

Fonte: GUEDES, C. R. M. (2018)

A forma do relevo em alguns pontos da área de estudo, favorece à existência de


cachoeiras onde há a prática do turismo ecológico, porém, como já mencionado, há diversas
formas de apropriação da área de acordo com as feições que favorecem às diversas atividades
de uso da terra. Para Casseti (1995), a forma do relevo condiciona a apropriação com a
finalidade de uso e ocupação, nessa apropriação do relevo, há o comportamento da
morfologia e condições pedológicas; por exemplo, as áreas de potencialidades naturais como
solos férteis, são facilmente ocupadas para produção agrícola. No entanto, segundo o autor,
deve-se detectar as vulnerabilidades, pois estão ligadas a situações de uso e ocupação.
Pela análise dos diversos usos que se faz de um espaço, pode-se perceber o grau de
antropização daquela paisagem natural e tais informações são fundamentais, pois permitem
diagnósticos e identificam as potencialidades e fragilidades de uma área. No caso da
microbacia em estudo, observou-se fragilidades agravadas pelo uso da terra de forma
inadequada, (principalmente em se tratando da pecuária e cultivo de eucalipto), o que levou
a retirada de partes notáveis da vegetação original de Cerrado e veredas, no entanto ainda se
constata que a área possui potencialidades para o turismo ecológico, devendo ser executado
de forma sustentável, pois há a ocorrência de cachoeiras e veredas que merecem ser
conhecidas e preservadas.
115

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho procurou analisar a dinâmica da paisagem da microbacia hidrográfica


do Córrego das Pedras quanto a aspectos naturais e antrópicos caracterizando a geologia,
pedologia, geomorfologia, hipsometria, declividade, hidrografia e uso da terra; bem como
identificando o uso e ocupação da terra em análise espaço-temporal compreendendo 30 anos.
A partir do levantamento dessas informações foram apontadas as fragilidades
correlacionando elementos da paisagem natural ao uso e ocupação da terra.
Observa-se atualmente a necessidade de ações no que se refere à conservação dos
recursos hídricos, neste sentido, destaca-se a necessidade de se criar mecanismos com a
finalidade de manter esses recursos naturais, utilizando-se de ferramentas como a análise da
paisagem de forma integrada a partir dos seus elementos naturais e antrópicos.
Nesse trabalho, destacou-se a importância da análise integrada do ambiente a partir
do mapeamento dos elementos físicos e antrópicos que compõem a paisagem, com o auxílio
do geoprocessamento. Os elementos físicos dessa paisagem foram utilizados para fins de
elaboração do mapa das fragilidades, pois a partir da compreensão das fragilidades naturais,
estas fornecem subsídios ao planejamento ambiental e interferências antrópicas de forma
sustentável.
A partir do recorte territorial da área de estudo e de suas feições naturais foi possível
estabelecer as áreas que representam potencialidades e as áreas que representam as
fragilidades, observou-se que estas últimas são agravadas por ações de uso de ocupação. Em
se tratando dos diversos usos e ocupação, a área se compõe principalmente por usos da terra
ligados à pecuária, plantio de eucalipto ou ainda solo exposto. Nesse cenário, observa-se a
presença de perturbações nos elementos que compõe essa paisagem ao se estabelecer uma
abordagem sistêmica, considerando-se que essas perturbações ocorrem por ações antrópicas.
As potencialidades estão ligadas à exploração das riquezas naturais ligadas ao
turismo ecológico e prática de trilhas com o objetivo de descobrir a beleza das inúmeras
cachoeiras e veredas.
Com relação às características ambientais recorrentes, de acordo com observações de
campo, as veredas26 se encontram impactadas, uma vez que há intensa proximidade entre

26
De acordo com relatos da comunidade, as águas das veredas reduziram-se com o passar dos anos, à medida
que as plantações de eucalipto aumentaram sua produção e avançaram sobre as nascentes. Esses relatos
confirmam os resultados da análise espaço-temporal, onde estes resultados demonstraram o intenso uso da terra
nos últimos 30 anos.
116

estas e os cultivos de eucalipto e pastagens, notando-se o não cumprimento de leis ambientais


vigentes. Na área há presença de processos erosivos, assoreamentos, ausência de matas
ciliares e esses são fatores que comprometem o equilíbrio ambiental e influenciam na
disponibilidade de água em quantidade e qualidade.
A partir da evolução do uso da terra na análise espaço-temporal e dos trabalhos de
campo, observou-se que os diversos usos se intensificaram nos últimos 30 anos, uma vez
que a maior parte da área de estudo se encontra impactada e apenas algumas áreas
apresentam condições ambientais favoráveis.
Há necessidade de se destinar atenção à proteção dos recursos naturais dessa área, já
que a maioria desse território que envolve a microbacia se encontra nos graus de fragilidade:
média com 39,04 km2 e forte com 28,03 km2, considerando um total de 112,07 km2. Essa
fragilidade se refere à susceptibilidade de uma área ao processo erosivo e é agravada pelas
diversas atividades de uso da terra já mencionadas.
Importante relatar que diversas veredas foram visitadas na área de estudo, estas em
sua maioria situadas no alto e médio curso da microbacia, constatando-se o importante papel
exercido por elas em processos de contribuição sistêmica, como alimentadoras do Córrego
das Pedras. Algumas dessas veredas se encontram impactadas e não mais exercem sua
função de colaborar ao curso fluvial principal, no entanto outras se encontram ativas perante
aos usos intensos da terra e exercem a sua função mesmo diante da redução de sua
capacidade hídrica.
Essas veredas, se preservadas, representam relevante potencialidade para a área,
junto às cachoeiras existentes ao longo do curso do Córrego das Pedras. Estas possuem
grande importância ao ecoturismo do município, onde se praticam trilhas (pedestres, ciclistas
e motociclistas). O cenário atual sugere preocupação, caso não sejam tomadas medidas de
proteção para o equilíbrio das paisagens. Entende-se que os recursos naturais devem ser
explorados adequadamente, causando o mínimo de impactos negativos e que as leis
ambientais devam ser aplicadas e fiscalizadas, principalmente no que tange aos usos da terra
com finalidades comerciais aos ocupantes de áreas mais extensas (maiores produtores e
usuários dos recursos naturais). É necessário que se crie mecanismos e metodologias
adequadas à conservação dos recursos hídricos.
Toda a sociedade necessita da segurança hídrica, esse fato faz com que sejam
necessárias ações de forma participativa, envolvendo moradores existentes na área da
microbacia, desde os pequenos aos grandes produtores. Espera-se que este trabalho sirva de
117

subsídio ao se realizar planos de ação destinados a essa área e a estudos futuros, cuja proposta
esteja vinculada à conservação das paisagens naturais, à gestão sustentável das
potencialidades e fragilidades existentes tanto na área de estudo quanto no município. É
necessário lembrar que os recursos naturais clamam por políticas públicas, no caso da
presente pesquisa, procura-se chamar à atenção para a importância de se conservar as
microbacias que alimentam os rios maiores, neste caso, a bacia do Rio São Francisco.
118

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