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MONTES CLAROS/2018
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MONTES CLAROS
2018
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Bibliografia: f. 118-125.
Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes,
Programa de Pós-Graduação em Geografia/PPGEO, 2018.
Defesa: 26/07/2018.
BANCA EXAMINADORA:
_______________________________________________________________
Profª. Drª. Maria Ivete Soares de Almeida – Orientadora – UNIMONTES
_____________________________________________________________
Prof. Dr. Gabriel Alves Veloso - UFPA
_______________________________________________________________
Prof. Dr. Marcos Esdras Leite UNIMONTES
AGRADECIMENTOS
Ao DEUS Pai, Filho e Espírito Santo, aos seus anjos prometidos a nós no Salmo 91,
disponíveis para que invoquemos para nos guardar.
À Maria, mãe de JESUS e nossa mãe, sempre presente em nossas vidas e em nossas orações
no grupo do Rosário. Agradeço a todos os amigos os quais oramos juntos.
Às minhas irmãs por sempre torcerem por mim e em especial a Cecy pela disponibilidade.
À Professora Dra. Maria Ivete Soares de Almeida, pela paciência ao me orientar, receba o
meu agradecimento especial.
Ao Sr. Antônio Cândido pelo acompanhamento nos trabalhos de campo e por compartilhar
com satisfação seus conhecimentos sobre a área de estudo.
Aos colegas de Curso, em especial aqueles os quais tivemos mais afinidades, agradeço pela
parceria e conhecimentos compartilhados.
(GÊNESIS, 1:29-31)
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RESUMO
ABSTRACT
Studies that involve the analysis of elements of the landscape in an integrated way, allow the
understanding of the geographical space under various aspects, be they physical or anthropic,
in a spatio-temporal dynamics. These anthropic interferences cause in the landscape, in its
process of use and occupation the excessive exploitation of natural resources. In Brazil,
environmental problems related to these overuse intensified since the 1960, with the
introduction of agroindustrial government public aimed at advancing the agricultural,
forestry, and livestock frontiers, reflecting their impacts on watershed and watershed areas
in refers to the quantity and quality of water available. In this sense, the area of study is in
the context of these public, with intense landscape modifications as a consequence of
anthropic explorations. The objective of this work is to analyze in a systemic and integrated
way, the landscape of the hydrographic basin of Córrego das Pedras, in relation to natural
and anthropic aspects. The methodology consisted of bibliographical research seeking the
theoretical foundation based on Landscape studies, the General Theory of Hydrographic
Systems, Geosystems, Basins and Microbacies. For better information, the Geographic
Information System (GIS) was used. The ArcGIS 10.2 program was used to generate
thematic maps for physical and anthropic characterization, aiming at an integrated analysis
of the study area. For the physical characterization, climatic and vegetative aspects were
analyzed and the following maps were generated: geology, pedology, hypsometry, slope and
geomorphology and as a result of the analysis of these physical aspects, the map of the
fragilities resulted. Land-use maps were developed for the space-time analysis of
anthropogenic effects, including the periods of: 1987, 1997, 2007, 2017. After the
elaboration of these maps, the field validations were performed in the laboratory. It was
observed that the area of the microbasin under study is in intense land use, with occurrences
of eucalyptus silviculture, soil exposed and mainly for livestock purposes, that cover areas
of Cerrado as well as of sidewalks. The characterization of the environmental fragility was
performed according to Ross (1993), justifying that such characterization allows the
integrated analysis of natural elements based on their degree of fragility. It was observed
that from the upper to the middle course of the microbasin, the following fragility classes
are found: medium, strong and very strong, and it is where most of the most intense trails
and land uses are located. It is hoped that this study will contribute to the understanding of
the dynamics of the various elements that make up river basins and watersheds, and to help
public planning and management public to conserve natural resources and prevent future
environmental damage.
LISTA DE FIGURAS
Figura 21 - Uso da Terra da Microbacia do Córrego das Pedras – 2007 ....................... 101
Figura 22 - Uso da Terra da Microbacia do Córrego das Pedras – 2017 ....................... 103
Figura 23 - Mapa das Fragilidades da Microbacia do Córrego das Pedras .................... 107
Figura 24 - Plantio de Eucalipto ................................................................................. 109
Figura 25 - Plantio de Eucalipto Próximo à Vereda .................................................... 109
Figura 26 - Voçoroca Localizada Próxima ao Canal do Córrego das Pedras ............... 110
Figura 27 - Área de Pastagem Destinada à Criação de Gado Bovino ........................... 111
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LISTA DE TABELAS
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 –Precipitação Anual – 1989 a 1997 – Microbacia do Córrego das Pedras ...... 56
Gráfico 2–Precipitação Anual – 1998 a 2007 – Microbacia do Córrego das Pedras ...... 57
Gráfico 3–Precipitação Anual – 2008 a 2017 – Microbacia do Córrego das Pedras ...... 58
LISTA DE QUADROS
LISTA DE SIGLAS
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 18
4.1 Uso e Ocupação das Terras da Microbacia Hidrográfica do Córrego das Pedras no Ano
de 1987 ......................................................................................................................... 96
4.2 Uso e Ocupação das Terras da Microbacia Hidrográfica do Córrego das Pedras no Ano
de 1997 ......................................................................................................................... 98
4.3 Uso e Ocupação das Terras da Microbacia Hidrográfica do Córrego das Pedras no Ano
de 2007 ........................................................................................................................ 100
4.4 Uso e Ocupação das Terras da Microbacia Hidrográfica do Córrego das Pedras no Ano
de 2017 ........................................................................................................................ 102
4.6 Relação entre Fragilidades Ambientais e Uso e Ocupação das Terras na Microbacia do
Córrego das Pedras .................................................................................................... 108
INTRODUÇÃO
ocupam áreas localizadas nas cabeceiras das veredas que deveriam estar protegidas para
absorver as águas trazidas pelas precipitações.
As alterações presentes nessa microbacia, demonstram a existência de desequilíbrios
entre elementos dessa paisagem, tais desequilíbrios, provocados por ações de uso e
ocupação. Para Bertrand (2004), esses elementos da paisagem, compreendidos em:
ecológicos, hidrológicos, pedológicos, climáticos, morfológicos, fitogeográficos e
antrópicos devem estabelecer importantes inter-relações para o equilíbrio da paisagem,
considerando que há relação direta entre harmonia e a estabilidade desses elementos.
Ao considerar as transformações sofridas pelas paisagens ao longo dos tempos,
estima-se que a sua dinâmica possui duas causas principais: naturais e antrópicas. Sabe-se
que a dinâmica da natureza modifica e transforma a paisagem, porém as ações
antropogênicas aceleram esses processos, que resultam em alterações de diferentes formas e
intensidade, isso produz inúmeros efeitos negativos nos sistemas ambientais.
Nesse contexto, a paisagem e sua dinâmica natural e antrópica já era percebida no
século XIX por Humboldt, que elaborou seu conceito clássico, já considerando que a
paisagem compreendia o “caráter integrado e único do espaço.” Então, uma das formas de
se estudar a paisagem de maneira integrada, segundo o alemão Bertalanffy no século XX, é
utilizar a proposta metodológica fundamentada na TGS (Teoria Geral dos Sistemas). Esta
teoria foi difundida a partir da segunda metade do século XX, por volta de 1968 e afirmava
sobre a constante interdependência existente entre os elementos de um sistema ou mesmo a
relação de reciprocidade entre eles.
Quanto à Teoria dos Geossistemas, Bertrand (2004), propôs defini-la como uma
categoria espacial em que se inclui a ação antrópica, e sua estrutura e dinâmica seriam
resultado da interação entre: potencial ecológico (clima, hidrologia, geomorfologia);
exploração biológica (vegetação, solo, fauna) e ação antrópica, em uma relação de
recorrentes interdependências, realizando trocas constantes de energia entre seus elementos.
Os elementos de um sistema podem ser estabelecidos de acordo com o interesse do
pesquisador e a natureza da pesquisa; neste trabalho, optou-se por analisar estes elementos:
clima, vegetação, geologia, pedologia, geomorfologia, hipsometria, declividade, uso da terra
e suas relações de interdependência, por se tratar da análise da dinâmica da paisagem de uma
microbacia hidrográfica.
Entende-se que a microbacia hidrográfica em estudo, é resultado da combinação de
elementos formadores da sua paisagem. A Teoria Geral dos Sistemas e a Teoria dos
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Geossistemas são fundamentos que irão nortear neste trabalho os estudos sobre a paisagem
dessa microbacia.
A microbacia do Córrego das Pedras está inserida na área da extensa bacia
hidrográfica do rio São Francisco, ocupando uma superfície de aproximadamente 112,07
km2, com cobertura natural de Cerrado. Esta cobertura natural, até os dias atuais, veio sendo
substituída por pecuária, cultivos de eucalipto e agricultura familiar, tanto na área da
microbacia, quanto no município de Buritizeiro onde está localizada, este conta com
inúmeras veredas e córregos que transformam a paisagem e contribuem para com as riquezas
hídricas do rio São Francisco.
Torna-se necessário destacar que no município de Buritizeiro, onde está situada a
área da microbacia em questão, autores como Gama (2003), Viana (2006), Baggio (2003;
2008), ao estudarem a microbacia hidrográfica do Rio Formoso que é também formada por
tributários que alimentam o rio São Francisco, constataram que a paisagem desta microbacia
sofreu intensos impactos causados pelas políticas governamentais de ocupação das áreas de
Cerrado, políticas estas que compreenderam a expansão do capitalismo no campo e avanço
das fronteiras agrícolas. Elas foram implantadas no Brasil a partir da década de 1960 e mais
intensamente a partir da década de 1970, tais políticas causaram destruição do bioma
Cerrado, para dar lugar às carvoarias, à extensas áreas de reflorestamento principalmente de
eucalipto, à agricultura comercial e pecuária extensiva.
Pesquisas realizadas por Fonseca et al (2011), analisaram a qualidade da água da
microbacia hidrográfica do Córrego das Pedras, área de estudo analisada nesse trabalho,
constatando a necessidade de monitoramento ambiental por não haver o cumprimento da
Resolução CONAMA 357/2005, quanto às concentrações de PH (Potencial
Hidrogeniônico), que se encontravam abaixo do permitido. Observou-se como possíveis
causas, dentre outras, a diluição de rejeitos da granja suína direto no curso do córrego e
resíduos (agrotóxicos) originados da prática de monoculturas próximas às margens e no
entorno da microbacia.
Nesse município, como resultado dos efeitos antrópicos, constata-se o
comprometimento das reservas de água doce, com redução da quantidade e qualidade dessas
águas ou até esgotamento de nascentes. Estas compreendem áreas de veredas, sendo
identificadas como cabeceiras ou nascentes de pequenos rios, iniciando-se e formando as
microbacias, que contribuem ou contribuiriam com a manutenção da extensa bacia
hidrográfica do rio São Francisco.
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1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Nesta seção, buscar-se-á estudar análises conceituais e referencial teórico que servirá
de base às discussões sobre à dinâmica da paisagem da microbacia hidrográfica do Córrego
das Pedras, Buritizeiro, MG, considerando-a como uma unidade de paisagem. Para tanto,
serão abordados os seguintes temas: paisagem, a teoria geral dos sistemas, a teoria dos
geossistemas, bacia hidrográfica como unidade de paisagem e microbacias hidrográficas.
Para essas discussões, considerar-se-á a origem epistemológica dos temas, bem como as
diversas formas de abordagens trabalhadas pelos autores, em busca da compreensão dos
elementos da paisagem e das transformações ocorridas na paisagem da microbacia em
estudo. A seguir será realizada breve discussão sobre esses temas, procurando enfatizar os
seus fundamentos, conceitos e as suas contribuições na abordagem da paisagem da
microbacia.
Segundo o mesmo autor, considera-se uma grande evolução que o homem tenha passado a
ser elemento importante inserido na paisagem. Ao considerar a problemática da paisagem
sob o olhar da geografia física, esta buscou conciliar interesses sociais e ecológicos na busca
pelo desenvolvimento sustentável, sobretudo já no final do século XX.
Para Guerra & Marçal (2014), os conceitos de paisagem variam de acordo às
abordagens que se quer enfatizar, esses conceitos vão desde a abordagem estético-descritiva
à discussões mais científicas. Quanto à abordagem estético-descritiva, esta se refere às
primeiras ideias sobre os fenômenos naturais até meados do século XIX; enquanto que a
abordagem científica, se refere ao conceito construído com a influência de outras ciências,
resultando na sua definição como Ciência da Paisagem.
De acordo com Christofoletti (1999), o termo alemão landschaft possuía uma
conotação científica como também um caráter estético-descritivo, apresentando de forma
mais ampla a integração de elementos da paisagem. Ressalta ainda que nas duas primeiras
décadas do século XX ocorreu maior tendência para estudos de elementos físicos da
paisagem, valorizando estudos relacionados à topografia, morfologia, cobertura vegetal,
estabelecendo-se distinções entre a paisagem natural e a paisagem cultural.
Almeida (2015) ao analisar diversas definições de paisagens, a partir de vários
autores, considera que ao serem analisados estes conceitos de paisagem, repletos de
diferentes leituras, se destacam duas formas básicas de interpretação: a paisagem vista como
um fenômeno cultural e a paisagem vista como um fenômeno natural, porém, sabe-se que
ela é social e natural.
Casseti (2005) afirma que ao proceder à análise da paisagem, deve-se considerar os
seguintes componentes: a natureza da rocha, o clima, o poder orogênico, a vida das plantas,
dos animais e dos homens, demonstrando os efeitos antropogênicos nas modificações
ocorrentes na natureza, considerando o tempo histórico. Para esse autor, também Tricart
(1979) tratou o relevo como um elemento importante da paisagem.
Segundo considerações de Dalbem (2005), o termo paisagem, historicamente
apresenta diversos significados, porém no século XX, suas definições vêm ocupando seu
espaço no que se refere a estudos, tanto de natureza física quanto de aspectos socioculturais,
com isso criou-se um novo paradigma holístico ambiental.
Para Guerra e Marçal (2014), retomando o século XIX a paisagem era analisada no
sentido de uma abordagem descritiva e morfológica, tendo como base, os naturalistas. No
entanto, em meados do século XX se inicia uma visão integradora, considerando os
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elementos que compõem essa paisagem. Após esse período, segue-se a aplicação da Teoria
Geral dos Sistemas como uma nova forma de se analisar e interpretar a paisagem sob o olhar
sistêmico e integrador analisando a sua dinâmica.
Estevez et al (2011) consideram que a teoria sistêmica utilizada como uma
abordagem teórico metodológica, agregada ao estudo da paisagem, torna possível o
conhecimento da estrutura vertical e horizontal da paisagem, como também a sua dinâmica,
tendo em vista as relações estabelecidas entre seus elementos, sejam eles naturais ou
antrópicos.
Para Rodriguez et al (2007), a paisagem ao ser concebida como um sistema, significa
percebê-la como um todo, especialmente a dinâmica dos seus elementos, suas inter-relações,
compreendendo-os como partes integradoras daquele sistema em uma visão dialética,
admitindo a existência de uma organização sistêmica. Segundo o autor, a partir dessa visão
é possível conceber planejamentos ambientais adequados.
Nesse contexto, segundo Bertrand (2004) a paisagem pode ser definida por diversos
elementos, sendo que nesta, pode-se conter definições envolvendo a dinâmica de elementos
físicos, biológicos e antrópicos. Considera ainda que as paisagens naturais podem ser
extensamente modificadas pela ação antrópica, que a explora e a modifica de acordo às suas
necessidades. Bertrand (2004) propõe ainda que:
O autor citado complementa sobre a importância das inter-relações que devem existir
entre os fatores: ecológicos, hidrológicos, pedológicos, climáticos, morfológicos e
fitogeográficos, para o equilíbrio dos elementos da paisagem, enfatizando a relação entre
harmonia e a estabilidade desses elementos. Portanto, a paisagem é resultante da interação
entre o potencial ecológico, exploração biológica e ação antrópica.
Almeida (2015) descreve que historicamente, o conceito de paisagem foi introduzido
e analisado por diversos autores, todavia tais autores tratavam do tema de forma a atender
suas expectativas conforme o objeto de estudo que seria analisado naquela oportunidade.
Alguns tratavam a paisagem em seus aspectos naturais outros em seus aspectos culturais.
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Casseti (1995), propõe que a paisagem pode ser considerada um fator de integração
de parâmetros físicos, bióticos e socioeconômicos e vem sendo empregada em análises que
envolvem impactos ambientais em diferentes empreendimentos com relevantes resultados.
Estes possibilitam conhecer as potencialidades e fragilidades que envolvem o espaço natural,
buscando a compreensão integrada dos componentes da análise.
Para Ab’ Saber (2003), a paisagem é uma herança moldada pela natureza, (paisagem
natural) e pelo homem (paisagem cultural). No contexto da paisagem cultural o autor propõe
que os indivíduos são responsáveis pelas mudanças que causam na paisagem; daí
ponderarem por um modelo de gestão equilibrada da área que sofrerá interferência. Seguindo
essa abordagem das mudanças na paisagem, o autor enfatiza os impactos antrópicos gerados
pela substituição dos ecossistemas naturais por diversos usos da terra, em especial no bioma
Cerrado.
Para Christofoletti (1999), a paisagem compreende o campo de pesquisa da
Geografia onde são analisados: sistemas ambientais físicos e socioeconômicos, bem como a
dinâmica dos seus elementos. Guerra e Marçal (2014) complementam que de acordo aos
estudos soviéticos, a visão sistêmica dos elementos que compõem a paisagem, proporcionou
maiores possibilidades de reflexão e compreensão dos sistemas naturais e seus elementos.
Para Rodriguez et al (2007), ao analisar a dinâmica da paisagem focando em seus
elementos, concluiu que é indispensável considerar o tempo, o conjunto de processos
recorrentes, a resistência ou não dos seus elementos a esses processos, sua morfologia,
radiação solar, precipitações recebidas e sua dinâmica, destacando que a paisagem
(interagindo efeitos naturais e antropogênicos) se encontra em constante e contínuo
desenvolvimento/transformação.
Para que seja compreendido o conceito de paisagem, consideram-se as contribuições
trazidas pelos diversos autores, onde os mesmos estabelecem que é indispensável mencionar
a importância da análise sistêmica nesses estudos. Este permitiu a compreensão da paisagem,
bem como sua análise geográfica sociedade/natureza, buscando os efeitos das inter-relações
de elementos naturais e antrópicos. Entende-se que o conceito de paisagem, bem como a
delimitação de unidades de paisagem, favorecem a uma proposta de visão holística,
avaliando seus elementos de forma integrada, como proposto por Bertran (2004). Para o
autor, a paisagem deve ser vista como um todo homogêneo, e nesta paisagem se inclui a
unicidade entre sociedade e natureza.
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A (TGS) Teoria Geral dos Sistemas ou abordagem sistêmica será utilizada neste
trabalho como pressuposto teórico-metodológico para se compreender que o estudo das
interações que ocorrem entre os diversos elementos de um sistema, pode ser aplicado em
diversas ciências, como por exemplo na Geografia. No caso da aplicação dessa teoria em
estudos geográficos, como é o caso deste trabalho, parte-se da análise de elementos físicos
(geologia, pedologia, geomorfologia, hipsometria, declividade, hidrografia) e antrópicos
(uso das terras) dos sistemas ambientais que compõem a paisagem da microbacia
hidrográfica do Córrego das Pedras.
A Teoria Geral dos Sistemas (TGS) ou Teoria Sistêmica, surgiu com o cientista
alemão Ludwig Von Bertalanffy, no século XX, por volta de 1901, porém somente se
difundiu a partir da década de 1950, influenciando diversas ciências no que se refere a sua
organização e funcionalidade, bem como facilitando integrações e conceitos entre as várias
ciências. Em sua obra: “Teoria General de Los Sistemas”, Bertalanffy (1968), demonstra as
diversas possibilidades de aplicações da Teoria Geral dos Sistemas na matemática, na
psicologia, nas ciências sociais, humanas, biológicas, tecnológicas, dentre outras.
Segundo Rodrigues (2001), a Teoria Geral dos Sistemas, proposta por Bertalanffy,
tinha como objetivo a pesquisa científica dos sistemas nas diversas ciências, sua aplicação
tecnológica e ainda, discussões quanto a um novo modelo científico que estaria sendo criado.
Para Neto (2008), Bertalanffy demonstra preocupações com relação ao possível
esgotamento e às limitações de propostas metodológicos da ciência clássica, compreendendo
a utilidade do estudo integrado de elementos, distanciando-se de ideias separativas e
reducionistas.
Nesse contexto, na Teoria Geral dos Sistemas (TGS), segundo Bertalanffy (1968),
considera-se que há constante interdependência entre os elementos de um sistema ou relação
de reciprocidade, no intuito de atingir um mesmo objetivo, permitindo a organização do todo
e não simplesmente das partes independentes. Considera-se ainda que os sistemas vivos são
sistemas abertos, estes se encontram em constante intercâmbio, realizando interações
permanentes.
Para Tricart (1977), os sistemas possuem dinâmica própria, bem como cada
fenômeno nele incorporado, o qual pode ser também considerado como um sistema,
recebendo a denominação de subsistema e definindo relações de taxonomia. Para esse autor,
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não há limite inferior para os subsistemas, pois sempre há descobertas de partículas cada vez
menores, considera-se o universo como limite superior.
Tricart (1977), define sistema, como sendo um instrumento eficaz para a realização
de estudos relacionados ao meio ambiente, pois oferece recursos para as técnicas de
investigação, como por exemplo a visão de conjunto. Esta oferece o caráter dinâmico como
meio de se compreender os sistemas ambientais.
Na Ciência Geográfica, esses sistemas de acordo com Casseti (1995), caracterizam-
se por serem sistemas naturais, onde ocorrem regularmente processos de interação e
interconexão entre os elementos desse sistema em que o homem é tido como ser integrante
e responsável pela organização espacial e social.
Para Neto (2008), o pensamento sistêmico que é utilizado em estudos geográficos
tem por objetivo compreender o quanto se torna complexa a explicação de como se organiza
um sistema, segundo suas interações, interdependências entre seus elementos, ao mesmo
tempo possuindo relações dinâmicas entre si; considerando relações interativas entre homem
e natureza.
Segundo Batista et al (2014), analisando conceitos da visão sistêmica a partir de
diversos autores, afirmam que:
Para Ross (1995), a Teoria Geral dos Sistemas é uma concepção teórica que embasa
análises referentes a unidades de sistemas naturais ou antrópicos. Nela estão envolvidos
estudos sobre os fluxos de matéria e energia que envolvem componentes, sejam originados
na natureza sejam causados por ações humanas. Esses componentes, segundo o autor são
determinados por leis da física ou da química, definindo sua funcionalidade e resultando em
um equilíbrio dinâmico ou em desequilíbrio temporário.
Christofoletti (1980), define que um sistema pode ser determinado como um conjunto
de elementos e suas relações mútuas de interdependência. Neste sentido, entende-se que a
Teoria Geral dos Sistemas, aproximou-se da Geografia Física especificamente no sentido de
definir os conceitos de paisagem e de geossistema. Nascimento & Sampaio (2005), definem
as relações existentes entre Geografia Física, Geossistema e a dinâmica entre seus elementos
da seguinte forma:
A Teoria dos Geossistemas será utilizada neste trabalho como forma de abordagem
para se compreender as interações entre os elementos físicos (geologia, pedologia,
geomorfologia, hipsometria, declividade, hidrografia) e antrópicos (uso das terras), da
paisagem da microbacia hidrográfica do Córrego das Pedras, compreendendo que as relações
contidas nos elementos que compõem os geossistemas, devem ser analisadas de forma
sistêmica.
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corredor ecológico. E a ausência dessas matas ciliares causaria desequilíbrios ambientais que
afetariam a vida dos animais, das plantas, dos seres humanos e a qualidade das águas.
Segundo Botelho & Silva (2011), o valor da bacia hidrográfica se tornou bastante
notável, como unidade de análise, pois nesta é possível realizar avaliações de forma
integrada principalmente no que se refere às ações humanas e o equilíbrio ecológico.
Segundo Cunha (2010), a gestão sustentável ao ser aplicada em uma bacia
hidrográfica deve conciliar mudanças antropogênicas e proteção ambiental. Delimitar a
escala espacial de trabalho dentro da bacia hidrográfica, bem como o grau de intensidade, se
total, parcial ou mínimo. No entanto, segundo a mesma autora os fatores abióticos que
compreendem a forma do canal e a hidrologia, somados à qualidade da água, são
considerados os fatores mais relevantes; pois estes, sendo recuperados, há o retorno da fauna
e flora.
Para Fernandes (2013), as unidades de paisagens devem ser geridas, visando
principalmente: a preservação, a recuperação e a geração de renda; resultando em avaliação
das terras segundo a sua capacidade de uso, com o aproveitamento da paisagem que favorece
ao ecoturismo, controle nas atividades agrosilvipastoris e identificação de áreas de risco; tais
procedimentos têm resultados satisfatórios quando o objetivo proposto é a conservação dos
recursos naturais.
Conhecer os elementos da paisagem com suas potencialidades e fragilidades, bem
como a dinâmica de uso e ocupação das terras da área da bacia hidrográfica podem conduzir
a políticas públicas, visando o planejamento e gestão dos sistemas ambientais. Diante do
exposto, percebe-se a evolução de conceitos, métodos e técnicas em diferentes espaços e
tempos na busca por um entendimento da paisagem como local das relações de trocas entre
os meios biótico, abiótico e antrópico.
Embora este estudo esteja relacionado a uma microbacia hidrográfica, tornaram-se
necessárias algumas discussões conceituais sobre o tema, “bacia hidrográfica”, pois tratam
de discussões necessárias à compreensão do uso da microbacia como unidade de estudo ou
que influenciaram a possibilidade da microbacia ser utilizada para tal finalidade.
Observa-se que para tratar de forma legal situações específicas referentes às
microbacias hidrográficas, principalmente no que tange ao planejamento, gestão e
aproveitamento socioeconômico em âmbito local, foi criado o Decreto 94.076/1987 que
institui o Programa Nacional de Microbacias Hidrográficas (PNMH), sob a responsabilidade
do Ministério da Agricultura.
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Botelho & Silva (2004), esclarecem que a utilização do termo “microbacia” está
relacionado às práticas de projetos de manejo e conservação do solo em área rurais, em que
o planejamento das propriedades rurais foi aos poucos sendo substituído pelo planejamento
das microbacias onde estas propriedades estavam localizadas, no entanto, consideram que
as dimensões da área da microbacia se encontram entre 0,8 e 700 km2. Esses autores, ainda
consideram que:
“... microbacia é toda bacia hidrográfica cuja área seja suficientemente
grande, para que se possam identificar as inter-relações existentes entre os
diversos elementos do quadro socioambiental que a caracterizam, e
pequena o suficiente para estar compatível com os recursos disponíveis
(materiais, humanos e tempo), respondendo positivamente à relação
custo/benefício existente em qualquer projeto de planejamento. ”
(BOTELHO & SILVA, 2004, p.157)
Botelho & Silva (2011) lembram que não há consenso entre pesquisadores quanto à
dimensão da microbacia ou sua definição conceitual, no entanto esta vem sendo utilizada
por profissionais da área ambiental, principalmente em projetos que envolvem planejamento
e gestão.
Segundo Silva (1994), o manejo integrado, envolvendo planejamento ambiental em
microbacias hidrográficas no Brasil, se iniciou por volta da década de 1980 e possui um
conjunto de possibilidades como também de limitações. Esta abordagem em microbacias se
trata de escala local e regional, buscando interferências na organização territorial de acordo
às condições naturais.
Nesse contexto, foi criado o Decreto 94.076/1987 que instituiu o Programa Nacional
de Microbacias Hidrográficas PNMH, sob a responsabilidade do Ministério da Agricultura,
tendo em vista um aproveitamento agropecuário eficaz dessas áreas, por meio de práticas
coerentes de utilização dos recursos naturais, em seu artigo 20 descreve como objetivos:
2 MATERIAIS E MÉTODOS
do Gentil pela margem esquerda, Córrego Brejinho e Córrego Piraporinha pela margem
direita.
O Córrego das Pedras, (área de estudo), conforme (Figura1), é um afluente da
margem esquerda do rio São Francisco, localiza-se na porção leste de Buritizeiro, MG,
possuindo aproximadamente 20 quilômetros de extensão. Sua nascente compreende área de
vereda situada na zona rural do município, percorre área de vegetação de Cerrado e
posteriormente depara-se com a área urbana (pequena parte do seu curso próxima à foz) e
logo em seguida deságua no rio São Francisco.
Bacias e Microbacias Hidrográficas, tendo como base os seguintes autores como referencial
teórico principal: Bertalanffy (1968), Bertrand (2004), Christofoletti (1980, 1981, 1999),
Troppmair (2006), Botelho (1999), Botelho & Silva (2004), Cunha 2010, Ab’ Saber (2003),
Ross (1993), Guerra & Mendonça (2011), Guerra & Marçal (2014), Casseti (1995, 2005),
Guerra (2010), Tundisi (2008), dentre outros.
Os principais materiais utilizados compreenderam: Software do Sistema de
Informação Geográfica ArcGIS1; Microsoft Excel; cartas topográficas; câmera fotográfica;
imagens de satélite, aparelho geodésico do Sistema de Posicionamento Global (GPS).
A área de estudo foi delimitada e foi elaborado mapa com informações sobre a rede
de drenagem, rodovias com maior proximidade, áreas urbanas e o limite da microbacia
hidrográfica. Tais informações foram extraídas a partir de imagens de satélites e cartas
topográficas. Utilizou-se da carta 1:250.000 SE-23-X-A.
Para fins de caracterizar os elementos da paisagem: geologia, pedologia,
geomorfologia, hipsometria, declividade, hidrografia e uso da terra, ocorreu a seleção,
análise e a interpretação de imagens de satélite, bem como outros procedimentos que
envolveram as geotecnologias, utilização de software do Sistema de Informação Geográfica
ArcGIS 10.2, para assim ocorrer a elaboração de mapas e dados quantitativos referentes à
área de estudos.
Para fins de identificar os diversos tipos de uso da terra no período de 30 anos, foram
confeccionados mapas de uso da terra, a partir de imagens de satélite Landsat 5 e 8, (órbita
219, ponto 72), representando os seguintes períodos: 1987, 1997, 2007 e 2017.
Para se correlacionar os elementos da paisagem natural às formas de uso da terra,
foram observados aspectos antrópicos que ocasionaram (alterações) aos elementos da
paisagem natural.
Para a identificação e diagnóstico das fragilidades na área da microbacia, foi adotado
como referência a proposta de Ross (1993) e foi elaborada a carta síntese das fragilidades da
área da microbacia.
A seguir serão detalhados os materiais cartográficos e os procedimentos utilizados:
Os procedimentos metodológicos para elaboração do mapa Geomorfológico,
conforme (Figura 3), consistiram em: realização de download das imagens de satélite e dados
SRTM-X, com a interpolação das imagens SRTM - X de 30 para 10 metros; houve a geração
1
O laboratório da Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES), possui licença para uso do
programa ArcGIS.
48
2
A escolha dessas bandas ocorreu devido apresentarem melhor contraste para a elaboração da imagem para a
classificação supervisionada.
50
nomenclaturas dos sistemas de solos para a atual classificação dos solos brasileiros e a
elaboração final do mapa de solos.
formas de uso e ocupação, condições ambientais, principais vias de acesso, localização das
moradias na área rural e urbana, bem como a observação das condições ambientais do
Cerrado, das veredas e matas ciliares situados no interior da microbacia. Esta etapa teve
como objetivo principal, além da observação das características das paisagens naturais e
antrópicas, a validação dos dados gerados em laboratório.
Na terceira etapa houve a análise e discussão dos resultados da pesquisa em
laboratório. Através das informações recolhidas em campo foram estabelecidas comparações
com os resultados obtidos em laboratório (dados que serviram de base à confecção dos
mapas), com o objetivo de que as informações registradas nos mapas estivessem o mais
próximo da realidade atual da microbacia.
Ocorreu a elaboração da Carta Síntese que demonstrou as fragilidades ambientais de
acordo coma classificação nas seguintes unidades: Muito Fraca, Fraca, Média, Forte e Muito
Forte; tal classificação adaptada do modelo (procedimentos operacionais), criado por Ross
(1993), é um método adotado por esse autor para demonstrar os graus de fragilidade
ambiental aos processos erosivos sofridos por uma área.
Para Ross (1993), as fragilidades dos ambientes naturais são determinadas por
caraterísticas genéticas do relevo, entendendo que há relação direta entre equilíbrio dinâmico
e ações antrópicas. Este autor afirma que os desequilíbrios naturais se intensificaram a partir
do aumento das intervenções humanas com a exploração dos recursos da natureza.
Para a classificação das fragilidades da área de estudo, considerou-se o cruzamento
dos seguintes elementos: geologia, hipsometria, declividade, pedologia (solos). Foram
atribuídos pesos (de 1 a 5) para cada um desses elementos, classificando-os da seguinte
forma respectivamente: Muito Fraca, Fraca, Média, Forte e Muito Forte. A partir do
resultado do cruzamento dessas informações foi criado o quadro a seguir (Quadro 1),
focando nos elementos naturais já mencionados.
53
GEOLOGIA
Classes Grau de fragilidade
Arenito, tufo, lapili Muito Forte
Folhelo, arenito, siltito Forte
Arcóseo, argilito, siltito Média
Depósitos de areia e de argila Fraca
Depósitos de argila, areia e cascalho Fraca
HIPSOMETRIA
480 – 550 Muito Fraca
550 – 650 Fraca
650 – 750 Média
750 – 800 Forte
800 – 880 Muito Forte
DECLIVIDADE
0–3 Muito fraca
4 – 12 Fraca
13 – 20 Média
21 – 35 Forte
36 – 71 Muito Forte
PEDOLOGIA
Cambissolo háplico Forte
Neossolo quartzarênico Muito Forte
Neossolos flúvicos e litólicos Muito Forte
Latossolo vermelho-amarelo Média
Adaptado, Ross (1993)
Org. GUEDES, C. R. M. (2018)
3.1.1 Clima
3
O período analisado compreende um total de 29 anos, devido não se encontrarem disponíveis no banco de
dados do INSTITUTO NACIONAL DE METEOROLOGIA (INMET), os dados (temperatura e precipitação)
referentes aos anos de 1986, 1987 e 1988.
55
4
Os autores não trazem a descrição do clima para o município de Buritizeiro, porém por questão de
proximidade utilizou-se a caracterização climática do município de Pirapora.
56
marcando índice de 633,1 mm e ainda é possível constatar que o ano de 1992 foi o único
em que ocorreram chuvas atingindo o valor máximo previsto para a área de Cerrado, os
2000 mm.
1000
800
600
400
200
0
1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997
800
600
400
200
0
1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
Com relação ao último período que se segue, de 2008 a 2017, (Gráfico 03) observa-
se a ocorrência de menor índice pluviométrico, considerando os 3 períodos analisados. Em
apenas 4 anos analisados esse índice foi igual ou superior a 1000 mm. O ano que apresentou
o maior índice pluviométrico foi 2011, quase atingindo 1400 mm e o menor índice
pluviométrico foi em 2017 atingindo um valor crítico, inferior a 400 mm.
58
1400
1200
1000
800
mm
600
400
200
0
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
Ao se analisar todo o período proposto, observa-se que o ano o qual apresentou maior
índice de precipitações foi 1992, este registrou índice superior a 2000 mm, e o ano que
apresentou menor índice foi 2017, não atingindo 400 mm.
É possível constatar que há irregularidades quanto à ocorrência das precipitações, já
que estas se apresentam mal distribuídas no período analisado. Através da observação a
seguir (Gráfico 4) e considerando os dados entre 1989 a 2017, observa-se que os meses de
ocorrência de maior volume de pluviosidade compreenderam de outubro a março e os meses
de ocorrência de menor volume de pluviosidade compreenderam de abril a setembro 5.
5
Embora observa-se um aumento da pluviosidade no mês de outubro, Scolforo et al (2008) consideram que a
estação chuvosa para a área de Cerrado se inicia em novembro e permanece até março; enquanto que a estação
seca, compreende de abril a outubro.
59
3000
2000
1000
0
25
20
Temperatura º C
15
10
3.1.2 Geologia
3.1.3 Pedologia
Para Guerra & Mendonça (2011), as características do solo, quanto a sua formação,
estão diretamente ligadas às taxas de remoção e deposição, tendo uma relação direta com o
relevo; em áreas onde o desgaste é mínimo, solos profundos irão se desenvolver e onde a
ação erosiva for mais intensa esses solos serão mais superficiais.
Para Ab’ Saber (2003), em geral os solos do Cerrado são pobres (latossolos e
lateritas) nas áreas dos interflúvios nos chapadões, mas com favoráveis condições climáticas
e topográficas, sendo sua área dominada por planaltos, com presença de ravinamentos,
64
3.1.4 Hipsometria
Os dados que se referem à declividade (Figura 10), demonstram que essa microbacia,
possui em sua maior parte declives inferiores a 8% (concentrando-se entre 0 a 8 %), com
relevo caracterizado em sua maioria entre plano a suave. Quanto à classe de declividade mais
acentuada, os tons vermelhos no mapa, compreendem as áreas montanhosas e de escarpas,
correspondendo a pequenas áreas da microbacia, se concentrando principalmente em seu
médio curso e a noroeste desta.
70
3.1.6 Geomorfologia
Segundo Baggio (2003) microbacias formadas por tributários do rio São Francisco
no município de Buritizeiro se encontram posicionadas dentro dos limites do Cráton do São
Francisco, mais especificamente na bacia cretácea do oeste mineiro. Nessas áreas as rochas
existentes compreendem a formação Três Marias e o Grupo Bambuí (Neoproterozoico, 650
Ma). Seguindo essa caracterização física, Baggio (2008), afirma que:
parte o médio curso e os fundos de vale em “v” ocupam reentrâncias presentes no médio
curso que de acordo com os trabalhos de campo, caracterizam áreas dos canais das veredas
e córregos.
A área da nascente do Córrego das Pedras se encontra a 750 metros de altitude,
(Figura 12 e 13), embora observe-se cada vez mais a proximidade do plantio de eucalipto,
as águas ainda se encontram visualmente claras, com cor característica de vereda 6. Em
algumas áreas o avanço de voçorocas próximas ao canal fluvial apresenta ameaça de
aterramento, devido ocorrer intensa atividade erosiva na área, em consequência do tipo de
solo e da forma de relevo apresentando maiores declives. Essa intensa atividade de transporte
e sedimentação também é provocada pelas formas de uso da terra e pela ocupação de áreas
adjacentes por agricultura, favorecendo a ausência de cobertura vegetal.
A partir da imagem a seguir, (Figura 14) é possível ter a visão geral da microbacia
do Córrego das Pedras. Em altitude de 687 metros, é possível pressupor que a evolução da
paisagem, (as áreas mais altas), ocorre a partir dos processos de degradação. Há a presença
de ravinas que condicionam o desgaste dessas áreas mais altas e estes sedimentos destinam-
se naturalmente aos fundos dos vales em áreas de deposição.
6
De acordo com relatos de moradores que residem há aproximadamente 20 anos na comunidade, embora a
água ainda se encontra em notável quantidade próximo à nascente, em épocas passadas essa quantidade era
muito superior ao tempo presente. Fonte: trabalhos de campo.
77
7
A espécie ingá (Inga edulis) é encontrada com certa frequência, especialmente nas margens de rios e lagos,
medem até 15 metros, fornecem extensas sombras e possuem frutos comestíveis. Fonte:
http://www.arvores.brasil.br.
78
Nota: Seta Vermelha: Córrego Piraporinha; Seta amarela: Córrego das Pedras
Fonte: GUEDES, C. R. M. (2018)
3.1.7 Vegetação
vegetação mais densa acompanhando o curso dos vales e diversas veredas com presença do
buriti (Mauritia Vinífera e Mauritia Flexuosa) como descrito por Ab’Saber (2003).
Para Scolforo et al (2008), o Cerrado do município de Buritizeiro é composto pelos
estratos arbóreos: Campo Cerrado e Cerrado Sensu Stricto. Considerando-se, segundo o
autor, que estas fitofisionomias de acordo com indivíduos inventariados, são compostas
dentre outras por espécies como: pequi (Caryocar brasiliense), pau-terra (Qualea
grandiflora), cagaita (Stenocalyx dysentericus), paineira do Cerrado (Erioteca pubescens),
murici (Byrsonima verbascifolia), caviúna (Dalbergia miscolobium Benth). Importante
destacar que de acordo com o inventário, a composição florística desses dois estratos
arbóreos são semelhantes, havendo variações na recorrência de espécies.
Para Ab’Saber (2003), a região estudada se encontra no domínio dos Chapadões
Tropicais Interiores, compostos por Cerrados e Florestas-galeria8.Segundo o autor, essas
Florestas-galeria acompanham a trajetória realizada pelas veredas, estas recorrentes em meio
à vegetação de Cerrado, compondo um cenário mais úmido, com maior diversidade
faunística e florística.
Em busca da compreensão do conceito de Cerrado e sua origem, bem como outros
elementos que influenciam na sua existência, observou-se as proposições de Ab’ Saber
(2003). Este autor considera que o principal tipo fisionômico do bioma Cerrado constitui-se
principalmente por gramíneas, arbustos e árvores que se caracteriza da seguinte forma:
8
Florestas-galeria ou Matas de galeria, trata-se do mesmo tipo fitofisionômico, tal diferença na denominação
parte-se da escolha do autor, Ab’Saber e Ribeiro & Walter, respectivamente.
80
territorial e está localizado em áreas de altitudes que variam entre 300 e 1600 metros de
altitude. Ribeiro e Walter (2008), ainda consideram quanto à origem do bioma Cerrado:
9
Para maiores detalhes sobre discussões referentes às comunidades tradicionais como os “veredeiros”,
consultar obras dos autores: João Batista de Almeida Costa, Carlos Alberto Dayrell e Carlos Walter Porto
Gonçalves.
10
Tal discussão será detalhada neste trabalho na análise do uso da terra da área da microbacia hidrográfica.
82
Com relação aos aspectos geomorfológicos das veredas, Ferreira (2005) citando
Boaventura (1978), afirma que no geral sua formação ocorreu a partir da interligação de
depressões circulares (pontos de exsudação), estas estando situadas em áreas mal drenadas
da Superfície Pleistocênica, com ocorrência de camada permeável superposta à camada
impermeável em superfícies de aplainamento dos chapadões. Este autor ainda considera que
nas veredas, os chapadões do Cerrado, podem ser caracterizados em vários tipos: Vereda de
Superfície Tabular e de Encosta, Veredas de Terraço, Veredas de Enclave, Veredas de
Patamar, Veredas de Cordão Linear, Veredas de Vales Assimétricos.
Ferreira (2005), considera que o Cerrado através de políticas de avanço das fronteiras
agrícolas, vem sendo ocupado de forma desordenada e acelerada, que pode ir muito além da
capacidade de resistência dos seus subsistemas naturais, como a vereda. Entende-se, segundo
o autor, que a partir disso, as expectativas para o bioma Cerrado sugerem-se sombrias,
devido às ameaças originadas desse modelo explorador de interação homem-natureza.
Neste sentido, considerando a problemática originada das relações homem-natureza,
ao analisar a paisagem da microbacia hidrográfica do Rio Formoso situado no município de
Buritizeiro, Viana (2006), relatou que influências antrópicas, como a exploração excessiva
das fontes naturais e o desmatamento para fins de agricultura e pastagens, principalmente,
afetaram diretamente as reservas de água doce, reduzindo drasticamente o número e o ciclo
de vida das veredas no Cerrado do município.
Na área de estudo, de acordo com as observações de campo (Figuras 16 e 17), é
possível identificar diversas áreas de veredas onde se localizam várias nascentes. Estas se
encontram ameaçadas pela presença de pastagem e proximidade de monoculturas
compreendendo áreas de eucalipto.
83
8086924 N - 487946E
Através da imagem (figura 17), é possível constatar que o plantio de eucalipto não
está de acordo com as normas vigentes no Novo Código Florestal Brasileiro, Lei
12.651/2012, com relação à distância permitida das áreas de nascentes. Esta deve ser
respeitada, observando-se a distância compreendida em no mínimo um raio de 50 metros. O
plantio de eucalipto encontra-se em área topograficamente mais elevada 11 em relação ao
nível da vereda, compreendendo área que deveria estar preservada, devido a riscos de erosão
e aterramento das nascentes. A atividade econômica relacionada à produção de eucalipto
(Figura 12) é praticada na fazenda Lança12, por empresas especializadas que atuam no ramo
da silvicultura com a finalidade de atender às indústrias siderúrgicas da região, como aquelas
situadas nos municípios de Pirapora e Várzea da Palma.
11
Topos de morros e arredores de veredas medindo 50m ou distância inferior até o ponto da nascente, de acordo
ao Novo Código Florestal Brasileiro, Lei 12.651/2012, são considerados Área de Preservação Permanente
(APP), portanto não devem ser desmatados.
12
A área denominada de Lança: I, II, III e IV, domina extenso território do município de Buritizeiro (Magno
et al 2012). Na área de estudo, este grupo de fazendas exercem atividades referentes à produção de madeira de
reflorestamento e atinge as cabeceiras de veredas, inclusive a vereda onde ocorre a nascente do Córrego das
Pedras. Fonte: Trabalhos de campo.
84
8086924 N - 487946E
De modo geral no Brasil, as veredas sofrem com as ações de uso e ocupação que são
praticadas nas proximidades das mesmas e é indispensável a sua conservação, independente
de onde esteja localizada, nesse sentido a manutenção dessas, tanto na área da microbacia
do Córrego das Pedras, como no município de Buritizeiro, é de suma importância para
conservação dos recursos naturais, no caso desse estudo, considerando sua contribuição para
a bacia do rio São Francisco. Atualmente, discute-se mundialmente sobre a escassez da água
potável, no entanto, deve-se criar políticas públicas favoráveis à conservação desse recurso
tão necessário à vida.
13
A SUPERINTENDÊNCIA DE DESENVOLVIMENTO DO NORDESTE(SUDENE), autarquia criada com
a finalidade de promover o desenvolvimento da região Nordeste do Brasil, juntamente com o norte de Minas
Gerais, utilizando-se de recursos financeiros federais, (FGV, 2018).
87
14
A Revolução Verde compreendeu a expansão das fronteiras agrícolas comandada por empresas, com a
existência de linhas de crédito, uso da mecanização e adubos químicos. Era tida como uma forma moderna de
produção agrícola, porém esse modelo trouxe grandes prejuízos socioeconômicos, culturais e ambientais,
Gama (2003).
15
Segundo o dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, boia-fria significa, trabalhador rural contratado
temporariamente, servindo-se de refeições que foram preparadas em casa e portanto são ingeridas frias.
88
então ocorreram efeitos como: desemprego, violência, ausência de mão de obra qualificada,
inchaço populacional na periferia, falta de saneamento básico dentre outros problemas.
25000
20000
15000
10000
5000
0
1970 1980 1991 2000 2010
16
O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é utilizado pelo Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento desde 1993. Para o cálculo do (IDH) utiliza-se certos critérios de avaliação (renda,
expectativa de vida e educação). Para medir o (IDH), estima-se os valores do intervalo de 0 a 1, sendo
considerados de baixo desenvolvimento os valores encontrados que atingem menos de 0,499 pontos; de médio
desenvolvimento os que possuem notas de 0,500 até 0,799 e de alto desenvolvimento os valores que atingem
pontuação superior a 0,800;FGV (2018).
89
esse período ocorreu uma evolução gradativa desse (IDH), isso já no século XXI. Observa-
se a partir dos valores ofertados pelo (IDH), que houve certo avanço social, com relação a
renda, expectativa de vida e educação, e esta evolução social era o reflexo de melhorias nas
condições de vida da população. Tais resultados, dos melhores índices do (IDH) em 2000 e
2010, podem ter sido influenciados parcialmente pela implantação de políticas públicas de
combate a fome, como é o caso do Programa Bolsa Família17, já que este programa atende
valores expressivos da população do município.
Segundo o Ministério do Desenvolvimento Social MDS (2018), no município de
Buritizeiro 3.430 famílias são assistidas pelo programa citado acima. A esse número de
famílias cadastradas, é possível constatar traços de pobreza presentes nesse município, pois
o perfil da família para se cadastrar nesse programa, é normatizado pelos seguintes critérios:
renda por pessoa de até R$ 85,00, independentemente da idade; famílias com renda entre R$
85,01 e R$ 170,00 se estiverem em sua família crianças ou adolescentes de até 17 anos que
frequentem a escola regularmente,18 ou ainda as gestantes desprovidas de renda também têm
direito ao benefício. Considera-se que o valor recebido pela família cadastrada varia entre
R$ 39,00 a R$ 372,00 reais, dependendo do número de crianças/adolescentes e gestantes na
família, (MDS, 2018).
Com relação a essas questões socioeconômicas presentes nesse município, observou-
se através de informações adquiridas nos trabalhos de campo, que embora tenha havido
evolução dos valores referentes ao Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), ainda
existem problemas sociais, como esses referentes ao número de pessoas que necessitam ser
atendidas pelo Programa Bolsa Família ou ainda o fato de parte da população servir como
oferta de mão de obra barata (ausência de mão de obra qualificada 19). Considerando-se que
parte dessa mão de obra barata, é absorvida na área rural do município, em trabalhos
17
Segundo o Ministério do Desenvolvimento Social, MDS (2018), o programa Bolsa Família foi criado no ano
de 2003, atualmente atende 15 milhões de famílias brasileiras e tem como objetivo tirar as famílias do estágio
de estrema pobreza e combater a fome.
18
Observa-se, segundo o Ministério do Desenvolvimento Social, MDS (2018), como critério para se receber o
benefício, que o aluno esteja matriculado e frequente a escola regularmente. No entanto, não menciona sobre
a qualidade do rendimento desse aluno; segundo observação documental de alunos de escolas públicas do
município, é comum ocorrer reprovação envolvendo alunos que recebem o benefício. Os profissionais da
educação entendem que deveria ser regra do programa para com o aluno bolsista, a exigência do rendimento
escolar satisfatório. Fonte: arquivos de escolas públicas estaduais do município.
19
Constatam-se em escolas públicas do município de Buritizeiro, número expressivo de famílias que solicitam
transferência de seus filhos, estudantes da educação básica, ano a ano em épocas de colheitas, com destino ao
Noroeste de Minas Gerais e Triângulo Mineiro, às quais retornam com seus filhos ao município, tendo
finalizado o trabalho sazonal. Fonte: arquivos de escolas públicas do município.
90
hidrográfica do Córrego das Pedras, além de outros pontos como, cachoeiras no Córrego
Formoso, no Ribeirão do Areia e no Córrego Paulo Geraldo. Destacam-se também a Ponte
de Pedra, o Pico Itacolomi e os pontos turísticos culturais como: Fundação Caio Martins
(FUCAM), Ponte Marechal Hermes, Estação Ferroviária e o Sítio Arqueológico descoberto
em 1975, localizado à margem do Rio São Francisco.
Nesse município existem situações que se configuram como conflitos20
socioambientais, a existência desses conflitos possibilita reflexões com relação aos
processos de apropriação e gestão dos territórios rurais21. A ocorrência de denúncias sobre
esses conflitos propiciam o fortalecimento político/participativo das populações tradicionais
atingidas por situações excludentes de exploração econômico/ambientais. Entende-se que o
mapeamento dos conflitos socioambientais permite compreender as principais razões que
levam a sua existência, bem como estabelecer o perfil das comunidades envolvidas. No
entanto, observa-se a existência de conflitos por razões dessas apropriações, que não estão
presentes no mapeamento oficial do Brasil, bem como do estado de Minas Gerais, como é o
caso desse no município de Buritizeiro, MG.
A situação a seguir representa um conflito na área de estudo na margem esquerda do
Córrego das Pedras, caracterizada segundo o autor Magno et al (2012) como um conflito
ambiental. É o caso do assentamento São Francisco, onde há o desencontro entre a utilização
da terra e a conservação da natureza. Situado no município de Buritizeiro, MG o
assentamento rural foi criado em 1995, no entanto, observou-se situações contraditórias, no
que se refere ao assentamento não atender aos objetivos da política pública aplicada, com
relação à melhoria da qualidade de vida dos assentados, havendo controvérsias quanto ao
uso dos recursos naturais. O conflito não envolve mais a disputa pelo território, pois a área
já foi dividida pelo processo da reforma agrária entre os posseiros.
Segundo esse autor, tal assentamento encontra-se em área de vegetação de Cerrado,
com presença de veredas. Nestas é onde se localizam os solos mais férteis e os posseiros
praticam a agricultura. O conflito ambiental se situa em torno dessa problemática. Destaca-
se que a área que corresponde ao assentamento possui apenas 19,15% de sua vegetação
original. Neste sentido o órgão ambiental fiscalizador na região, o Instituto Estadual de
20
Os conflitos socioambientais se definem por caracterizar situações sociais e ambientais que envolvem
disputas entre indivíduos, grupos, comunidades e classes sociais, podendo se manifestar de forma violenta ou
não, essa disputa envolve o acesso a algum tipo de recurso natural, Brito et al (2011).
21
Para melhor compreensão dos processos de apropriação dos territórios rurais, sugere-se a leitura de obras do
autor: Bernardo Mançano Fernandes.
93
Florestas (IEF), no exercício de suas funções aplicou multas aos posseiros por crime contra
o patrimônio natural, por cultivar em áreas de veredas. Em resposta, houve o abandono do
assentamento, vendas dos lotes para o pagamento de multas, endividamento de famílias,
venda ilegal de lotes pela impossibilidade de se permanecer, diante dos conflitos existentes.
O município de modo geral possui diversas feições que representam conflitos
socioambientais, configurando-se como exemplos: questões relacionadas à conservação das
veredas, desmatamentos e carvoejamento em áreas naturais de Cerrado, desrespeito às Áreas
de Preservação Permanente (APP), utilização excessiva de agrotóxicos na agricultura e
contaminação das águas, conflitos envolvendo o uso da terra, plantio de eucaliptos em Área
de Preservação Permanente (APP), esgotamento de nascentes, sendo essas problemáticas
trazidas pelos autores, Gama (2003), Viana (2006), Baggio (2003;2008). Esses conflitos
ocasionam mudanças na paisagem, mudanças estas de forma temporária ou permanente e
que refletem a intensidade da exploração dos seus recursos.
94
A visão sistêmica será utilizada nesta seção como forma de abordagem para se
analisar as relações antrópicas de uso e ocupação das terras na microbacia hidrográfica do
Córrego das Pedras, pautando-se na importância da conservação dos recursos da natureza
embora diante da necessidade inevitável do desenvolvimento econômico.
Tais caracterizações permitirão análises quanto aos efeitos antrópicos em sua
paisagem natural, bem como suas correlações que ocasionam as complexidades perceptíveis
em sua paisagem. Destaca-se que para um planejamento eficaz no processo de uso e
ocupação das terras, é necessário que sejam adotados instrumentos e técnicas capazes de
fornecer uma dinâmica de uso, bem como de conservação dos recursos da natureza, causando
o mínimo de impactos negativos.
Para Ab’Saber (2003), diversos impactos antrópicos são gerados, em especial no
bioma Cerrado, pela ocorrência da substituição do ecossistema natural por diversos usos da
terra, os quais ocorrem sem planejamento. Ross (1993) afirma que sob a perspectiva do
planejamento econômico e ambiental do território é indispensável que as ações humanas
sejam planejadas, que esse planejamento em escala municipal, estadual, federal, bacia
hidrográfica ou qualquer outra unidade seja considerado como ponto de partida para as
potencialidades dos recursos naturais e humanos e as fragilidades presentes nos ambientes.
Neste sentido, procurando se estabelecer uma análise geral da área de estudo
considerando o recorte temporal estabelecido, 1987 a 2017, observa-se que essa área foi
palco de diversas transformações ocasionadas por ações antrópicas de uso de ocupação.
Observa-se também ao longo dos 30 anos analisados que a vegetação natural foi aos poucos
sendo substituída principalmente por pastagens. Com relação às veredas, no início do
período analisado, ocupavam área mais abrangente e a quantidade de água que se originava
na área de abrangência da microbacia era consideravelmente maior de acordo com relatos
de moradores. Para as áreas de eucalipto, percebe-se que não houve avanços consideráveis,
prevalecendo como atividade econômica principal a utilização da área para pastagem em
todo o período analisado.
95
4.1 Uso e Ocupação das Terras da Microbacia Hidrográfica do Córrego das Pedras no
Ano de 1987
A partir da década de 1960, o município é marcado por intensos usos da terra para
diversos fins, com a introdução e desenvolvimento das atividades agroindustriais, como a
cultura de eucalipto, a agricultura comercial e pecuária. Usos estes resultantes dos incentivos
governamentais. Em se tratando da área de estudo, o uso da terra mais intenso se concentra
em atividades pecuárias, por fazendas localizadas na área ou mesmo pequenos proprietários,
assentados22 ou sitiantes23.
Ao se observar os dados referentes ao uso da terra do ano de 1987, conforme (Figura
19e Tabela 5) constata-se que a classe, pastos e vegetação rarefeita, possui um importante
papel no uso da terra, com um total de aproximadamente 31,3% da área da microbacia, essa
classe se distribui ao longo de toda a microbacia, ocupando áreas geomorfologicamente mais
íngremes como as vertentes ravinadas até as áreas de colinas e planícies. As áreas de cerrado
e afins correspondem a aproximadamente 59,1%, distribuindo-se junto às áreas de pastagens.
Para a classe, área desmatada, há aproximadamente 2,4%, demonstrando que naquele
momento não havia o plantio de eucalipto mas a terra já estava sendo preparada para tal fim;
para a classe, área degradada com exposição do solo, registrou-se 1,2%. Para as áreas de
veredas, registrou-se 5,8%.
22
Há na área de estudo, assentados em lotes já determinados pelo Incra, localizados na Fazenda São Francisco.
Fonte: trabalhos de campo.
23
Proprietários de áreas bem pequenas (sítios) que são utilizadas para lazer em fins de semana. Fonte: trabalhos
de campo.
97
Figura 19- Uso e Cobertura da Terra da Microbacia do Córrego das Pedras, 1987
98
Figura 20- Uso e Cobertura da Terra da Microbacia do Córrego das Pedras, 1997
100
Constata-se nos dados referentes ao uso da terra do ano de 2007, (Figura 21 e Tabela
7), que a classe de pasto e vegetação rarefeita continua a possuir valores significativos no
uso da terra, porém possui valor consideravelmente menor (24,1 %), com relação aos 2
períodos anteriores avaliados (1987 e 1997) com 31,3 e 46,6 % respectivamente. Para a área
de cerrado e afins o valor correspondeu a 68 % demonstrando que foi o período em que
ocorreu o melhor resultado dessa classe, considerando os períodos analisados, e redução da
área de pastagem. As áreas de eucalipto corresponderam a 2,6 % e para as áreas de veredas
houve aumento com relação ao período anterior avaliado, (1997) com 4,4 %, passando a 5,2
% em 2007. Observa-se que para o ano de 2007 houve aumento tanto das áreas de vegetação
de cerrado, quanto das áreas de Veredas. O aumento dessas áreas pode ser justificado,
segundo Magno et al (2012), por maior fiscalização nessa época, por parte dos órgãos
fiscalizadores, principalmente o (IEF) Instituto Estadual de Florestas, já que estava
ocorrendo o loteamento para distribuição de lotes pelo (INCRA) Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária.
101
Figura 22: Uso e Cobertura da Terra da Microbacia do Córrego das Pedras, 2017
104
Vários foram os excessos de exploração ocorridos com relação ao uso da terra pela
agricultura comercial e silvicultura no país. Neste sentido, como forma de política pública
em defesa do meio ambiente e conservação dos recursos naturais e como meio de se criar
mecanismos legais no sentido de conter ações predatórias ao meio ambiente, em 2015, foi
criada a portaria n0 365, Ministério do Meio Ambiente - MMA/2015. Esta portaria objetiva
mapear e monitorar a vegetação brasileira em municípios onde ocorrem maiores explorações
econômicas de seus biomas. No caso do estado de Minas Gerais constam os municípios de
Buritizeiro e João Pinheiro. São objetivos da Portaria MMA 365/2015:
Na análise de 2017, onde houve os piores resultados com relação aos efeitos
antrópicos na área de estudo, ainda não foram constatados os efeitos da Portaria 365/2015.
Ao considerar esses efeitos antrópicos, observa-se usos intensos da terra com a finalidade de
pastagens, solo exposto, bem como cultivo de eucalipto.
105
tabela a seguir (Tabela 9) demonstrando as classes de fragilidades, bem como no mapa das
fragilidades.
Percebe-se a partir da tabela que a maior parte da área 34,8 % compreende a classe
de Média fragilidade, a segunda classe que também ocupa área considerável é a de Forte
fragilidade abrangendo área de 25 %. Em seguida observa-se as classes: Fraca com 18,8%,
Muito Fraca 14,1 %, Muito forte 7,3 %. A partir dos resultados obtidos através dos dados,
depreende-se um alerta ao se introduzir determinados usos da terra na área analisada. São
necessárias análises criteriosas ao se planejar interferências antrópicas.
Na área que abrange a microbacia em estudo, foi possível observar que os plantios
de eucalipto se situam bem próximos às veredas ou em áreas topograficamente mais
elevadas, aumentando o risco de erosões e perdas de solos (Figura 25). Neste sentido, para
Guerra e Mendonça (2011) a ausência de planejamento do uso da terra causa a perda da
produtividade agrícola devido a prejuízos causados pela erosão. Influenciam também nesses
109
Atividades intensas de uso da terra são discutidas por diversos autores neste texto e
são tidas como causas para prejuízos ambientais diversos, como os diversos usos da terra
praticados na área de estudo. Para Guerra e Marçal (2014), os conhecimentos
geomorfológicos devem ser utilizados com o objetivo de minimizar e mitigar processos
referentes à conservação do solo e seus efeitos nos processos de uso e ocupação,
110
Ao longo dos canais das diversas veredas presentes na microbacia, existe a presença
de moradores que constroem suas casas próximas às veredas 25, com a finalidade de melhor
acesso a água, conforme (Figura 29). Também junto aos solos das veredas essa água é
aproveitada para a prática da agricultura local pelas comunidades, conforme (Figura 30). Há
24
Segundo Casseti (2005), ao se referir a essas fragilidades, denominou-as de vulnerabilidades, definindo-as
como um subsídio fornecido pela compartimentação do relevo, sob a perspectiva da geomorfologia,
entendendo-a como suscetibilidade erosiva, considerando para a ocorrência desses processos erosivos, tanto
condições naturais quanto certos usos das terras. Para esse autor, os estudos sobre os diferentes graus de
vulnerabilidade (ou fragilidades) do relevo, fornece elementos para se produzir mapas estabelecendo planos de
manejo sustentável e conservação ambiental.
25
Segundo o Novo Código Florestal Brasileiro Lei 12.651/2012, permanecem atividades agrossilvipastoris, de
ecoturismo e de turismo rural em Áreas de Preservação Permanente (APP) rurais consolidadas até 22 de julho
de 2008.
112
A seguir (Figura 31), cachoeira localizada no Córrego das Pedras, conhecido ponto
turístico do município de Buritizeiro. Nesta, praticam-se o turismo ecológico, com a
utilização de trilhas para pedestres e ciclistas. O município faz parte do Circuito Guimarães
113
Figura 31: Cachoeira localizada no Córrego das Pedras, prática do turismo ecológico
8085714 N - 4991708 E
O Córrego das Pedras abrange tanto a área rural quanto a área urbana do município.
Próximo à foz este encontra-se com a área urbana e suas águas possuem sentido cultural, já
que tradicionalmente as mulheres as utilizam para a lavagem de roupas, costume antigo que
perdura até nos dias atuais.
A seguir (Figura 32), observa-se que a margem do Córrego das Pedras na área urbana,
encontra-se apenas com algumas árvores representando as matas ciliares. No Balneário das
Pedras, localizado também na área urbana (Figura 33), há de acordo com a imagem grande
volume de água devido a ocorrência de chuvas (mês de dezembro). Essa cachoeira artificial
é tida como ponto turístico na cidade e está localizada no pequeno espaço urbano por onde
passa o Córrego das Pedras.
114
CONSIDERAÇÕES FINAIS
26
De acordo com relatos da comunidade, as águas das veredas reduziram-se com o passar dos anos, à medida
que as plantações de eucalipto aumentaram sua produção e avançaram sobre as nascentes. Esses relatos
confirmam os resultados da análise espaço-temporal, onde estes resultados demonstraram o intenso uso da terra
nos últimos 30 anos.
116
subsídio ao se realizar planos de ação destinados a essa área e a estudos futuros, cuja proposta
esteja vinculada à conservação das paisagens naturais, à gestão sustentável das
potencialidades e fragilidades existentes tanto na área de estudo quanto no município. É
necessário lembrar que os recursos naturais clamam por políticas públicas, no caso da
presente pesquisa, procura-se chamar à atenção para a importância de se conservar as
microbacias que alimentam os rios maiores, neste caso, a bacia do Rio São Francisco.
118
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122
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123
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