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HELEN FEUSER FERNANDES

SIMULAÇÃO NUMÉRICA DE FISSURAS EM VIGAS DE CONCRETO ARMADO

JOINVILLE
2012
HELEN FEUSER FERNANDES

SIMULAÇÃO NUMÉRICA DE FISSURAS EM VIGAS DE CONCRETO ARMADO

Trabalho de Conclusão apresentado ao Curso


de Engenharia Civil do centro de Ciências
Tecnológicas, da Universidade do Estado de
Santa Catarina, como requisito para obtenção
do grau de Bacharel em Engenharia Civil.

Orientador: Itamar Ribeiro Gomes

JOINVILLE
2012
HELEN FEUSER FERNANDES

SIMULAÇÃO NUMÉRICA DE FISSURAS EM VIGAS DE CONCRETO ARMADO

Trabalho de Conclusão apresentado ao Curso de Engenharia Civil do Centro de


Ciências Tecnológicas, da Universidade do Estado de Santa Catarina, como
requisito para obtenção do grau de Bacharel em Engenharia Civil. Aprovada em 20
de novembro de 2012.

Banca Examinadora:

Orientador: __________________________________________________________
Prof. Dr. Itamar Ribeiro Gomes
Universidade do Estado de Santa Catarina

Membro: ____________________________________________________________
Prof. Msc. Nelson Álvares Trigo
Universidade do Estado de Santa Catarina

Membro:____________________________________________________________
Prof. Dra. Marianna Coelho Lorencet
Universidade do Estado de Santa Catarina

Joinville, 20 de novembro de 2012


Dedico este trabalho aos meus pais
Ivonete Elísio e Hermógenes
Fernandes que me ensinaram a fé e o
amor aos livros.
AGRADECIMENTOS

Primeiramente à Deus que foi a minha grande sustentação nestes anos


de faculdade.
Aos meus pais, Ivonete Elísio e Hermógenes Fernandes que me deram
a vida, que foram os meus primeiros professores. Ensinaram-me o respeito, a justiça
e a gratidão. Sempre me deram liberdade de escolha e me ensinaram a
responsabilidade que isso acarreta. Acima de tudo pelo amor incondicional.
Aos meus melhores amigos, Heitor Elísio Fernandes e Carlos Vinicios
Opelt, pelo incentivo, pelas conversas e até mesmo pelas broncas. E sem dúvida,
por acreditarem mais em mim do que eu mesma.
Ao meu orientador e professor, Dr. Itamar Ribeiro Gomes, por toda a
dedicação despendida nesse trabalho. Agradeço a paciência, todos os
ensinamentos e a confiança.
Ao professor Msc. Nelson Álvares Trigo e a professora Dra. Marianna
Coelho Lorencet que aceitaram prontamente o convite para comporem a banca de
avaliação desse trabalho.
Seria injusto agradecer agora a apenas 4 ou 5 amigos da faculdade.
Muitos me ajudaram, em relação a estudos, dicas, conselhos, ou me fazendo rir.
Sendo colegas que estudaram ou não comigo na mesma fase, do curso de
engenharia civil ou de outro curso. Obrigada pela amizade!
Á todos os professores do Departamento de Engenharia Civil, que
contribuíram de diversas formas para a minha formação acadêmica.
À Universidade do Estado de Santa Catarina, em especial ao Centro de
Ciências Tecnológicas pela qualidade de ensino.
À todos, muito obrigada!
“Comece fazendo o que é necessário,
depois o que é possível, e de repente,
você estará fazendo o impossível”.
(São Francisco de Assis)
RESUMO

Vigas de concreto armado são um tipo de elemento estrutural conhecido


por suportar principalmente esforços de flexão e de cisalhamento. Um bom projeto
estrutural é aquele que leva a viga a trabalhar de forma fissurada, utilizando
racionalmente os materiais e de forma segura, sem uma ruptura brusca. O presente
trabalho tem como objetivo criar um modelo matemático que simule o
comportamento mecânico de vigas de concreto armado. Para este fim, foi
desenvolvida a análise no estado plano de tensões de uma viga biapoiada com duas
cargas concentradas simetricamente, conhecido como ensaio de quatro pontos. O
estudo foi efetuado utilizando conceitos de plasticidade e da mecânica da fratura.
Através do programa computacional Marc Mentat, adotando um processo
incremental-iterativo, que utiliza o Método dos Elementos Finitos, foram obtidas a
máxima deflexão da viga no centro do vão para diversas cargas verticais aplicadas.
Também foi efetuada uma comparação com trabalhos experimentais e outros
modelos numéricos para validar o método aqui proposto. Observou-se que a
metodologia utilizada para a incorporação das fissuras não apresentou resultados
satisfatórios, pois não houve propagação significativa ao longo do processo
incremental de cargas.

Palavras chave: Elementos finitos. Concreto armado. Mecânica da fratura.


Plasticidade.
ABSTRACT

Reinforced concrete beams are a type of structural element known to


support mainly bend and shear loads. A well designed project is the one that leads
the beam to work in a cracked way, using materials carefully and in a safe way,
without a sudden break. The present research aims to create a numerical model that
simulates the mechanical behavior of a reinforced concrete beam. Therefore, the
analysis was developed in plane stress state of a simple supported beam with two
symmetrically concentrated loads. The study was performed utilizing concepts of
plasticity and fracture mechanics. Through the computacional program Marc Mentat,
adopting an incremental iterative process, that uses the finite element method, the
deflections of the beam in the center of the span were obtained to various
configurations. Also a comparison was made with other previous experimental works
and other numerical models to validate the method proposed here. Finally, it was
observed that de methodology for incorporating the fissures did not provide
satisfactory results.

Key words: Finite elements. Reinforced concrete beams. Fracture mechanics.


Plasticity.
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 10
1.1 APRESENTAÇÃO DO TEMA .......................................................................... 10
1.2 JUSTIFICATIVA ............................................................................................... 11
1.3 OBJETIVOS ..................................................................................................... 11
1.3.1 OBJETIVOS GERAIS ................................................................................... 11
1.3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ......................................................................... 11
1.4 METODOLOGIA .............................................................................................. 12
1.5 ESTRUTURA DO TRABALHO......................................................................... 12
2. REVISÃO ............................................................................................................ 14
3. CONCRETO ARMADO ....................................................................................... 20
4. ELEMENTOS FINITOS ...................................................................................... 26
4.1 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 26
4.2 DISCRETIZAÇÃO ............................................................................................ 26
4.3 GRAUS DE LIBERDADE ................................................................................. 27
4.4 MATRIZ DE RIGIDEZ ...................................................................................... 28
4.5 CONDIÇÕES DE CONTORNO........................................................................ 31
4.6 ETAPAS DE ANÁLISE ..................................................................................... 31
4.7 TRABALHOS VIRTUAIS .................................................................................. 31
5. PLASTICIDADE ................................................................................................. 34
5.1 HIPÓTESES BÁSICAS .................................................................................... 34
5.2 CONCEITOS FUNDAMENTAIS DA PLASTICIDADE ...................................... 38
5.3 CRITÉRIOS DE ESCOAMENTO ..................................................................... 41
5.3.1 CRITÉRIO DE VON MISES .......................................................................... 41
5.4 ENDURECIMENTO ......................................................................................... 42
5.4.1 ENDURECIMENTO ISOTRÓPICO ............................................................... 42
5.4.2 ENDURECIMENTO CINEMÁTICO ............................................................... 43
5.4.3 ENDURECIMENTO MISTO .......................................................................... 44
5.5 NORMALIDADE ............................................................................................... 44
5.6 MATRIZ CONSTITUTIVA ELASTOPLÁSTICA ................................................ 45
6. MECÂNICA DA FRATURA E SOLUÇÃO DO PROBLEMA NÃO LINEAR ....... 48
9

6.1 MECÂNICA DA FRATURA LINEAR ................................................................ 48


6.1.1 TAXA DE LIBERAÇÃO DE ENERGIA .......................................................... 50
6.1.2 CAMPO DE TENSÕES ................................................................................. 51
6.2 VCCT ............................................................................................................... 53
6.2.1 PROPAGAÇÃO AUTOMÁTICA DE FISSURAS ........................................... 54
6.3 SOLUÇÃO DO PROBLEMA NÃO LINEAR ...................................................... 55
6.4 ALGORITMO DE SOLUÇÃO ........................................................................... 56
7. RESULTADOS E DISCUSSÕES ....................................................................... 60
7.1 VALIDAÇÃO DO PROGRAMA COMPUTACIONAL ........................................ 60
7.2 MODELO DE REFERÊNCIA ........................................................................... 62
7.3 MODELO ADOTADO ....................................................................................... 66
7.4 RESULTADOS ................................................................................................. 70
8. CONCLUSÃO ..................................................................................................... 75
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 76
10

1. INTRODUÇÃO

1.1 APRESENTAÇÃO DO TEMA

Os elementos estruturais mais comuns na engenharia civil são as vigas.


Em uma estrutura de concreto armado, são as vigas que detém a maior quantidade
de unidades, sejam elas vigas baldrames, vigas de transição ao suportar novos
pilares ou mesmo vigas convencionais do andar tipo.
Normalmente, suportam apenas cargas verticais, resultando em esforços
de cisalhamento e flexão. Para compreender melhor o comportamento estrutural e
facilitar a construção, geralmente as vigas são barras prismáticas e retas. Ao
adicionar armaduras longitudinais e transversais, aumenta-se consideravelmente as
resistências aos esforços de tração e compressão e cortante desses elementos
estruturais.
De acordo com a NBR 6118 (ABNT, 2003), as vigas de concreto armado
são dimensionadas no domínio III, ou seja, elas trabalham fissuradas e a ruptura do
concreto ocorre simultaneamente com o escoamento do aço. Dessa forma, há um
aproveitamento integral da resistência dos dois materiais (situação ideal), sem correr
o risco de uma ruptura brusca. Pode-se dizer que a viga “avisa” antes de romper,
além de ser um dimensionamento mais econômico.
Além da fissuração esperada devido ao cálculo no domínio III, em se
tratando de patologias de estruturas, há diversos fatores que podem ocasionar a
fissuração em vigas, sendo a mais comum à falha humana durante as fases de
projeto e execução. Mesmo seguindo todas as normas de cálculo estrutural e os
procedimentos corretos durante a execução (montagem da forma, concretagem),
pode haver a retração do concreto, falta de hidratação, escorregamento da
armadura, falta de armadura entre outros. Porém, no presente trabalho a análise
refere-se apenas as fissurações devido aos esforços mecânicos.
A utilização de programas computacionais, tanto na análise estrutural
como no projeto de elementos de concreto, aumenta a segurança e a confiabilidade
do processo, pois se pode testar várias combinações de seções transversais e tipos
de apoios, simular o comportamento da estrutura de maneira mais real, com os
vários elementos interagindo entre si.
11

1.2 JUSTIFICATIVA

Segundo NBR 6118 (ABNT, 2003), a fissuração dos elementos de


concreto armado é consequência da hipótese de cálculo e das características do
concreto, pois as estruturas trabalham com fissuras causadas pela baixa resistência
à tração do concreto, cerca de 10% apenas do que este resiste à compressão.
Porém, qualquer comportamento estrutural que ultrapasse os limites
aceitáveis em relação à segurança, deve ser investigado. Se necessário, submetidos
a aplicações de técnicas de reforços ou outras soluções que melhor convenham à
situação. Por ocorrer com certa frequência, torna-se necessário o conhecimento
mais apurado das fissurações em elementos de concreto armado para que se possa
distinguir a fissuração superficial da estrutural.

1.3 OBJETIVOS

Nos itens seguintes, serão apresentados os objetivos para a realização


deste trabalho.

1.3.1 OBJETIVOS GERAIS

O objetivo deste trabalho é criar um modelo matemático que simule o


comportamento mecânico de vigas de concreto armado, principalmente a obtenção
da curva carga/deslocamento.

1.3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

O presente trabalho tem como objetivos específicos:


 Determinar as distribuições de fissuras em vigas de concreto
armado;
 Comparação da curva carga/deslocamento obtida pelo programa
com dados experimentais e com modelos de outros autores;
 Obter, de forma mais precisa, os deslocamentos máximos
provocados.
12

1.4 METODOLOGIA

As etapas necessárias para a elaboração desse trabalho são:


 Revisão bibliográfica;
 Estudar os modos de ruptura de vigas de concreto armado na
literatura técnica;
 Estudar o método dos elementos finitos;
 Estudar os conceitos básicos da teoria da plasticidade e mecânica
da fratura;
 Criar modelos, utilizando o programa computacional Marc Mentat,
de vigas de concreto armado;
 Comparar os resultados do modelo com os dados experimentais e
resultados de outros autores;
 Conclusões e sugestões.

1.5 ESTRUTURA DO TRABALHO

No Capítulo 1, será feita uma breve apresentação do trabalho em relação


ao tema, a justificativa (o porquê do trabalho), os objetivos (gerais e específicos) e a
metodologia utilizada para alcançar os resultados almejados.
No Capítulo 2 haverá uma breve revisão de outros autores, cujos
artigos/pesquisas se utilizaram de conceitos e abordagens semelhantes ao presente
trabalho.
O Capítulo 3 terá como principal tema o concreto armado. Suas
características, propriedades físicas e mecânicas necessárias para discorrer os
demais capítulos.
O Capítulo 4 tratará do Método dos Elementos Finitos (MEF) que é como
muitos programas computacionais resolvem as simulações estruturais. Serão
abordados de forma simplificada os conceitos de discretização, graus de liberdade,
matriz de rigidez, condições de contorno, etapas de análise e trabalhos virtuais.
No Capítulo 5 serão apresentados conceitos de Plasticidade. Sendo
apresentadas as hipóteses básicas, conceitos fundamentais da plasticidade, critérios
de escoamento. No item dos critérios optou se por dois critérios em especial, sendo
eles von Mises para os aços e comportamento linear para o concreto. Após os
13

critérios de escoamento, será abordado o conceito de endurecimento e os três tipos:


isotrópico, cinemático e misto. Uma breve explicação sobre normalidade e por
último, a matriz constitutiva elastoplástica.
O Capítulo 6 tratará da Mecânica da Fratura. Da mecânica da fratura
linear, da taxa de liberação de energia, sobre o campo de tensões, o método VCCT
e a propagação automática de fissuras que esse método proporciona. Além de um
item sobre a solução do problema não linear e o algoritmo de solução.
No Capítulo 7, serão apresentados os resultados e as discussões
envolvidas em torno dos parâmetros utilizados para a resolução do elemento
numérico.
E por último, no Capítulo 8 serão expostas as conclusões do trabalho e
sugestões para trabalhos futuros.
14

2. REVISÃO

Os elementos estruturais de concreto armado são dimensionados no


estádio III, onde é assumida uma forma de ruptura compatível com os domínios de
ruptura da ABNT NBR 6118 (2003). Para lajes e pilares a fissuração não é
problema, pois se sabe que as cargas atuantes nas lajes são superdimensionadas e,
para pilares, há predominância da compressão em níveis tais que impede que a
fissuração exponha a armadura ao ambiente (isto não se refere a problemas de
corrosão devido ao baixo recobrimento). Ao contrário, para vigas os domínios de
deformação (normalmente armado) usados para o dimensionamento impõe certo
grau de fissuração, pois dessa maneira tem-se o aproveitamento máximo da
resistência dos materiais. Evidentemente, este grau de fissuração deve ser
posteriormente verificado no estádio II (de utilização), e o dimensionamento da
seção ajustado para cumprir as exigências da norma.
De acordo com Silva, Pimentel e Barbosa (2003), através de visitas
técnicas em 14 edifícios residenciais na cidade de João Pessoa, puderam constatar
os problemas patológicos de maior gravidade para elementos estruturais de
concreto armado. O maior objetivo era constatar a causa e estabelecer se a origem
era na fase de projeto, de execução ou de utilização. As principais patologias
encontradas devido à redução de vida de utilização da estrutura são: a corrosão da
armadura, as flechas excessivas e as fissuras decorrentes dessas. Afirmam que, em
100% dos casos estudados, houve falha humana na fase de execução,
caracterizada pelo descumprimento do projeto com alterações improvisadas na obra
e em mais de 50% dos casos houve falha humana na fase de projetos por
dimensionamentos ou materiais especificados de forma equivocada. Constataram
que, pela norma de estruturas de concreto, as edificações como as que foram
analisadas deveriam ter uma vida útil de projeto de no mínimo 50 anos, porém todos
apresentavam patologias com uma média de idade de 7,1 anos.
Em 2006, um estudo realizado através de simulação numérica via Método
dos Elementos Finitos (MEF) por Brisotto, d`Ávila e Bittencourt, constatou o
comportamento pós-fissuração de vigas de concreto armado. No trabalho foi
utilizado um modelo de transferência de tensão por aderência. O modelo adotado
para a armadura foi do tipo elasto-plástico com endurecimento e o elemento finito
empregado era quadrilátero bidimensional de cinco nós, realizando duas
15

interpolações em conjunto, uma para os deslocamentos e outra para as


deformações. A malha era composta de 20 elementos (5x4), figura 2.2. Para
comparação foram realizados ensaios experimentais com 4 vigas simétricas, todas
com a mesma armadura, o mesmo carregamento, diferentes apenas nas larguras da
alma figura 2.1.

FIGURA 2.1 – Detalhamento das vigas.

FONTE: BRISOTTO, D’ÁVILA E BITTENCOURT (2006).

A armadura longitudinal inferior era composta por quatro barras de 20


mm de diâmetro, com tensão de escoamento, , e a longitudinal
superior consistia em duas barras de 8 mm de diâmetro com tensão de escoamento,
16

. Os estribos com diâmetro de 6 mm e tensão de escoamento,


.
Os resultados obtidos foram a variação das flechas e das tensões na
armadura longitudinal inferior nos elementos 5 (próximo ao apoio) e 17 (ponto de
simetria) ao longo do carregamento. A variação da tensão no concreto e a evolução
do número de fissuras. Através dessa pesquisa, Brisotto, d`Ávila e Bittencourt,
puderam concluir com a simulação e os resultados experimentais das vigas
submetidas aos esforços de flexão e cisalhamento, que os modelos puderam
representar com certa aproximação frente aos resultados experimentais.

FIGURA 2.2 – Discretização do modelo.

FONTE: BRISOTTO, D’ÁVILA E BITTENCOURT (2006).

Outro estudo, realizado por Araújo (2004), pôde comparar o método


bilinear do CEB (Comité Euro-International du Béton), fórmula prática do CEB/90
(Comité Euro-International du Béton – FIP Model Code 1990) e a fórmula do ACI
(American Concrete Institute) adotada na atual NBR 6118 (2003) em relação ao
cálculo simplificado das flechas, avaliando a precisão desses métodos. Araújo
concluiu que se podem calcular as flechas iniciais por qualquer um dos métodos
analisados, pois apresentam concordância entre os modelos simplificados. Porém,
quando se refere à deformação do concreto, o método da NBR 6118 não reproduz
de forma satisfatória os efeitos das deformações. A NBR 6118 subestima as flechas
das vigas pouco solicitadas e superestima as flechas mais solicitadas, quando se
encontram em um estado mais avançado de fissuração, figura 2.3.
17

FIGURA 2.3 – Flecha total dos diferentes métodos.

FONTE: ARAÚJO (2004).

Nogueira, Coda e Venturini (2011) apresentam uma análise de vigas de


concreto armado, através do método dos elementos finitos. Levando em
consideração, a não linearidade dos materiais: concreto e aço e os mecanismos de
resistência ao cisalhamento. Para isso utiliza a hipótese da viga de Timoshenko,
onde em vigas curtas o efeito da deformação do cisalhamento não pode ser
desprezado. As funções interpoladoras escolhidas são de terceiro grau para os
deslocamentos transversais e de segundo grau para rotações decorrentes da flexão.
Foi adotado o modelo de dano de Mazars, pois a fissuração degrada a rigidez do
material refletindo diretamente em sua resposta estrutural. Esse modelo quantifica a
intensidade de degradação. O aço é considerado um material elasto-plástico com
encruamento isotrópico positivo com lei constitutiva bi-linear, figura 2.4.
18

FIGURA 2.4 – Comportamento não-linear do aço.

FONTE: NOGUEIRA; CODA; VENTURINI (2011).

Os autores também levam em consideração o efeito pino, que se trata da


contribuição, das barras que compõem a armadura longitudinal, à resistência ao
esforço cortante. Trata-se de uma força resultante de corte e flexão local das barras
da armadura, quando interceptadas por uma fissura. Portanto, considera-se que as
barras da armadura longitudinal são como vigas apoiadas sobre uma base
deformável do concreto, como figura 2.5 (NOGUEIRA; CODA; VENTURINI, 2011).

FIGURA 2.5 – Hipótese das vigas apoiadas sobre uma base deformável do concreto.

FONTE: NOGUEIRA; CODA; VENTURINI (2011).

Através desse artigo, Nogueira, Coda e Venturini (2011) puderam


comprovar a coerência do modelo mecânico, em relação aos resultados
19

experimentais, utiliza ainda, elementos unidimensionais através do Método dos


Elementos Finitos (MEF), e a resistência da armadura transversal, como também o
efeito do pino de acordo com a mecânica do dano. A maior vantagem que o modelo
apresentou foi a adaptação dos mecanismos de resistência ao cisalhamento para
um elemento finito de barra, sem a necessidade de acrescentar elementos bi-
dimensionais. Com isso, os tempos de processamento em todas as análises foram
muito pequenos.
20

3. CONCRETO ARMADO

A primeira experiência com resultados próximos aos encontrados


atualmente no concreto armado, em relação aos materiais, foi realizada por Monier
em 1861. Ele conseguiu êxito em suas obras após fabricar um jarro e em seguida
realizou, sem nenhum embasamento teórico, a construção de diversas peças, como
tubos e lajes. As normas para cálculo e construção surgiram com E. Mörsch em
1902, e suas ideias principais ainda continuam válidas, deve-se frisar, contudo,
fornecem um dimensionamento a favor da segurança. O Brasil não deu contribuição
na descoberta do concreto armado, porém sua arquitetura arrojada e criativa
incentivou a descoberta de soluções tecnológicas tanto na área de projetos quanto
de materiais (SÜSSEKIND, 1989).
O concreto armado costuma ser uma solução mais viável
economicamente do que as estruturas metálicas, a não ser quando se trata de
grandes vãos. O uso do concreto armado tem suas vantagens como a facilidade de
modelagem e fabricação, resistência a diversas solicitações, mão de obra e
materiais baratos, manutenção de baixo custo. Suas desvantagens se referem ao
peso próprio elevado, além do concreto apresentar pequena resistência à tração,
aumentando assim à possibilidade de fissuração e consequentemente corrosão das
armaduras.
O sucesso da junção do aço com o concreto se deve a grande aderência
entre os dois, forçando-os a trabalharem juntos, na transmissão de esforços. Os
coeficientes de dilatação são muito próximos também, o do concreto se encontra
entre 0,9 e 1,4 x , enquanto que o aço possui α = 1,2 x , essa
diferença é muito pequena, para variações de temperatura não superiores a 50°C.
Através do recobrimento, o concreto confere ao aço proteção, evitando a corrosão
da armadura. O recobrimento é adotado de acordo com o ambiente em que será
executada a obra, esse valor é determinado pela Classe de Agressividade Ambiental
(CAA) que pode ser I, II, III ou IV, sendo I o ambiente menos agressivo e IV o mais
agressivo (SÜSSEKIND, 1989).
O concreto possui algumas propriedades mecânicas mais importantes,
sendo uma delas a resistência à compressão, , que pode ser determinada após
uma série de ensaios normatizados, onde resultará numa curva de Gauss. A figura
3.1 apresenta essa distribuição (NBR 6118, ABNT 2003).
21

FIGURA 3.1 – Distribuição normal do concreto.

FONTE: Adaptado de PINHEIRO (2010).

A figura 3.1 é conhecida como a curva de Gauss. Nela encontram-se


valores tais como a resistência média, , e a resistência característica do concreto
a compressão, .O também pode ser definido como o valor da resistência que
tem 5% de probabilidade de não ser alcançado.
A relação entre a tensão e a deformação pode ser considerada muitas
vezes linear, utilizando a Lei de Hooke. Para o concreto, pode não existir a parte
retilínea da curva como mostra a figura 3.2. Quando não houver dados mais
precisos sobre o concreto, pode-se calcular o módulo de elasticidade tangente
inicial, , por ensaios, ou se não houver esses, pela expressão dada em Mpa, para
idade de referência de 28 dias.

FIGURA 3.2 – Curva do concreto.

FONTE: PINHEIRO (2010)


22

(3.1)

Já o módulo de elasticidade secante, , tem função nas análises


elásticas de projeto, na determinação de esforços e verificação de estados limites de
serviço, sendo calculado pela equação:

(3.2)

A relação entre a deformação transversal de um elemento de concreto, ,


e a longitudinal, , para uma carga no regime elástico, é conhecida como coeficiente
de Poisson, , definida pela equação 3.3. A faixa de valores sugeridos na norma
para esse coeficiente é entre . A massa específica, , para fins de
cálculo pode se adotar 2400 kg/m³ para concreto simples e 2500 kg/m³ para
concreto armado (NBR 6118, ABNT 2003).

(3.3)

O aço sofreu várias evoluções durante os anos, em vista da melhor


aderência com o concreto, recebeu nervuras com o intuito de reduzir as fissurações
e mudanças também em sua composição em relação ao carbono. Mais carbono na
composição confere maior resistência, porém o torna mais frágil. As barras de aço
mais utilizadas na construção civil são basicamente a CA-50 e a CA-60 com tensões
de escoamento mínimas iguais a 5000 kg/cm² e 6000 kg/cm² respectivamente
(SÜSSEKIND, 1989).
Se não houver dados do fabricante ou dados de ensaio, pode se adotar
210 Gpa como módulo de elasticidade. A característica mais lembrada do aço é a
resistência à tração, como apresentada pela figura 3.3 para o aço CA50A, para aços
da categoria A.
23

FIGURA 3.3 – Diagrama do aço.

FONTE: PINHEIRO (2010).

Os elementos estruturais conhecidos como vigas, são aqueles onde o


esforço predominante é a flexão. Para suportar os esforços aplicados, dimensiona-
se a viga para que a seção dela seja suficiente para resistir às cargas, de maneira
econômica. A armadura longitudinal tem a função de resistir os esforços de flexão e
a armadura transversal à força cortante. Para diminuir a fissuração, as vigas que
possuírem altura maior que 60 cm devem utilizar a armadura de pele, sendo que
essa atinge melhor seu objetivo quando dividida em mais barras de diâmetros
menores (NBR 6118, ABNT 2003).
Para melhor compreensão do efeito que a flexão causa na viga, pode se
exemplificar com um conjunto grande de ensaios denominados “ensaio de Stuttgart”,
utilizando a teoria clássica de Mörsch. Na figura 3.4, tem-se uma viga biapoiada,
com duas cargas pontuais simétricas. No diagrama de momento obtém-se uma
flexão pura, ou seja, a ausência do cisalhamento.
24

FIGURA 3.4 – Teoria clássica de Mörsch.

FONTE: PINHEIRO (2010).

Por esse modelo clássico de flexão simples, há diversos tipos de ruptura.


a) Ruptura por flexão: onde a peça se encontra “subarmada”, levando o
aço a ultrapassar o limite de escoamento, por conseguinte, o
afastamento da linha neutra, diminuindo a região comprimida da peça,
levando a uma ruptura por esmagamento da região comprimida.
Quando a peça está “superarmada”, pode haver a ruptura por flexão
também, sendo o concreto comprimido em demasia e rompendo por
esmagamento novamente, porém sem o aviso da viga;
b) Ruptura por cisalhamento, por tração: acontece mais comumente, a
peça tende a se dividir em partes pela falta da armadura transversal
para suportar os esforços cortantes;
c) Ruptura por compressão da mesa: esse tipo de ruptura é
consequência do item b, onde a insuficiência da armadura transversal
pode levar ao escoamento do aço com maior facilidade, esmagando
assim a região comprimida do concreto, mesmo esse sendo submetido
a menores esforços que o meio do vão da viga;
d) Ruptura por falta de ancoragem: quando a ancoragem não foi prevista
na armadura longitudinal acima dos apoios, a viga fica sujeita a
fissuração pelo deslocamento das barras, entrando assim em colapso;
25

e) Ruptura de cisalhamento, esmagamento da biela comprimida: quando


a base da viga, , for pequena para suportar os esforços atuantes de
compressão e somado a isso tiver esforços de tração perpendicular,
então ocorrerá ruptura por esmagamento (SÜSSEKIND, 1989).
A figura 3.5 ilustra esses modos de ruptura.

FIGURA 3.5 – Tipos possíveis de ruptura numa viga.

FONTE: SÜSSEKIND (1989).


26

4. ELEMENTOS FINITOS

4.1 INTRODUÇÃO

Os avanços tecnológicos permitiram a modernização mecânica e a


evolução de produtos anteriormente manufaturados. Porém, com produtos mais
complexos, os problemas se tornam complexos também. Na área de estruturas isso
não é diferente. Arquiteturas ousadas revelam a necessidade de métodos que
representem o comportamento estrutural, permitindo prever possíveis patologias
ainda na fase de projeto.
O Método dos Elementos Finitos (MEF) proporciona uma abordagem
diferenciada da clássica, onde estruturas contínuas são calculadas como discretas,
produzindo uma grande quantidade de equações, necessitando assim de programas
computacionais para auxiliar nos cálculos. O princípio básico desse método é a
divisão do componente estrutural em pequenos elementos, onde os elementos são
ligados apenas por seus nós de contorno e os deslocamentos nestes nós são as
variáveis básicas do problema.

4.2 DISCRETIZAÇÃO

Há estruturas que por si só são discretas, como é o caso das treliças


(conexões articuladas) e pórticos (conexões rígidas), porém as que não são, devem
primeiramente ser discretizadas. Após a idealização da estrutura, deve-se separá-la
em elementos através de nós (discretização). Sendo que, muitas vezes a dificuldade
se encontra em entender o comportamento da peça em vista das tensões atuantes.
A análise do sistema discreto apresenta certas dificuldades em relação às cargas,
pois essas só podem ser aplicadas nos nós, portanto, utiliza-se a transferência das
cargas atuantes no elemento para os nós através de equivalência estática. Como
são utilizadas cargas equivalentes, nem sempre há uma correspondência direta dos
esforços com os elementos. Ou seja, no nó não é aplicada a carga exata atuante,
por isso, a precisão aumenta proporcionalmente ao número de nós, como mostra a
figura 4.1, apresentando elementos bidimensional e unidimensional, com geometrias
diferentes e números de nós variados (ALVES FILHO, 2000).
FIGURA 4.1 – Elementos unidimensional e bidimensional com números de nós variados.
27

Há algumas leis que devem ser ressaltadas:


a) Equilíbrio de forças: a estrutura estará em equilíbrio se os elementos
assim estiverem, faz-se uma equação de equilíbrio para cada
elemento isoladamente, garantindo o equilíbrio global;
b) Compatibilidade de deslocamentos: as extremidades conectadas ao
nó devem apresentar os mesmos deslocamentos, caso contrário, a
estrutura estaria “abrindo”, ou seja, apresentaria uma descontinuidade
localizada;
c) Comportamento do material: as forças internas crescerão linearmente,
ou, à medida que as deformações crescerem.

4.3 GRAUS DE LIBERDADE

O grau de liberdade se refere à possibilidade de movimento atribuída ao


nó. Na figura 4.2, é apresentado um elemento unidimensional com força aplicada,
e , e os deslocamentos nos nós, e . Vista dessa forma, pode-se dizer que há
infinitos graus de liberdade possíveis em um corpo, porém, para simplificação dos
cálculos, supõem-se apenas uma quantidade finita de elementos. No entanto, há
estruturas que precisam de mais e outras de menos números de nós, cabe ao
projetista o bom senso de estipular o mínimo necessário para que o resultado seja
aceitável (MCGUIRE, GALLAGHER, ZIEMIAN, 2000).

FIGURA 4.2 – Força aplicada no nó, deslocamento dos nós.


28

4.4 MATRIZ DE RIGIDEZ

O desafio da análise matricial está em determinar a matriz de rigidez, ou


seja, a relação entre as cargas atuantes e os deslocamentos resultantes. Para que
isso seja possível, se faz analogias em relação ao comportamento linear das molas,
através da lei de Hooke, equação 4.1. A mola é o elemento mais simples, pois
transmite apenas esforços axiais e, portanto, o deslocamento gerado é axial (ALVES
FILHO, 2000).

{ } [ ] { } (4.1)

Sendo:
{ } Vetor com as cargas nodais;
[ ] Matriz de rigidez da estrutura;
{ } Vetor com os deslocamentos nodais.

Na analogia feita com a barra da treliça, se tem conhecimento das forças


aplicadas e ao invés do coeficiente de rigidez da mola, , se tem as propriedades
geométricas e do material. São eles: a área, , o módulo de elasticidade, e o
comprimento da barra, . Novamente a incógnita é o deslocamento. Conhecendo-se
os deslocamentos, podem-se calcular as deformações, e a partir dessas as tensões.
A matriz de rigidez deverá ser quadrada e simétrica, como mostra a figura 4.3.
29

FIGURA 4.3 – Comparação da montagem da Matriz Rigidez de um elemento de barra com um


elemento de mola.

FONTE: ALVES FILHO (2000).

Costuma-se utilizar matrizes para representar as quantidades envolvidas,


pois os programas computacionais executam as mesmas operações de forma
semelhante, facilitando a manipulação dos dados. Para cada elemento deverá existir
uma matriz de rigidez. Utilizando a soma topológica de matrizes se obterá a matriz
global de rigidez. O tamanho da matriz de rigidez global é igual ao número de graus
de liberdade do sistema completo. (MCGUIRE, GALLAGHER, ZIEMIAN, 2000).
Na figura 4.4, se tem a montagem da matriz de rigidez global de uma
mola e na figura 4.5, de forma mais genérica, a soma topológica de matrizes de
rigidez.
30

FIGURA 4.4 – Montagem da matriz de rigidez global de uma mola.

FONTE: ALVES FILHO (2000).

FIGURA 4.5 – Soma topológica de matrizes de rigidez.

FONTE: MSC SOFTWARE CORPORATION (2010).


31

4.5 CONDIÇÕES DE CONTORNO

Como mostrado na figura 4.3, é apresentada a matriz de rigidez de uma


barra de treliça, se somada cada coluna dessa o resultado será zero, sendo esse um
exemplo particular. Isso é consequência de um sistema indeterminado,
matematicamente é uma característica de matriz singular, ou seja, fisicamente
significa que se aplicada alguma força nesse corpo, este não terá restrição nenhuma
e, portanto, estará em movimento. As condições de contorno impedem os graus de
liberdade do corpo rígido e torna possível a solução única. Elas são impostas ao
sistema, para descrever matematicamente como são as condições externas ao
corpo, por exemplo, os apoios, cargas, uniões, temperatura externa (MCGUIRE,
GALLAGHER, ZIEMIAN, 2000).

4.6 ETAPAS DE ANÁLISE

Pode-se dividir em três partes a solução do problema estrutural pelo


método dos elementos finitos (MEF):
- Pré-processamento: identificação estrutural, discretização e aplicação
das condições de contorno;
- Processamento: resposta do programa computacional às condições
estabelecidas no pré-processamento, através dos deslocamentos (principalmente),
deformações e tensões obtidos;
- Pós-processamento: visualização dos resultados, análise dos dados
resultantes, além de comparações com trabalhos semelhantes.

4.7 TRABALHOS VIRTUAIS

Trabalhos virtuais é um termo generalizado que incluem dois princípios


distintos, eles são: deslocamentos virtuais e forças virtuais. O princípio dos trabalhos
virtuais estabelece que o trabalho realizado pelas tensões internas na deformação
virtual do corpo (trabalho virtual interno) é igual ao trabalho realizado pelas forças
exteriores nos deslocamentos virtuais dos seus pontos de aplicação (trabalho virtual
externo), sendo assim um sistema conservativo. As deformações e os
deslocamentos num sistema deformável são compatíveis com as restrições se e
32

apenas se o trabalho virtual externo for igual ao sistema de trabalho virtual interno
(equação 4.2) para todo o sistema de forças virtuais e tensões e satisfizer as
condições de equilíbrio (MCGUIRE, GALLAGHER, ZIEMIAN, 2000).

(4.2)

É premissa básica do método, que os deslocamentos em qualquer ponto


do elemento possam ser calculados pela equação 4.3, sendo { } o vetor
deslocamento em um ponto qualquer, { } o vetor que representa os deslocamentos
nos nós e [ ] a matriz de interpolação ou de forma entre os vetores ou matriz
interpoladora (MCGUIRE, GALLAGHER, ZIEMIAN, 2000).

{ } [ ] { } (4.3)

A equação 4.3, sendo substituída na equação deformação-deslocamento


4.4, sendo { } o vetor deformação e [ ] como operador diferencial:

{ } [ ]{ } (4.4)

resulta em,

{ } [ ][ ]{ } (4.5)

A derivada da matriz de interpolação, [ ], resulta na matriz [ ]:

{ } [ ]{ } (4.6)

Substituindo a equação 4.6 na equação 4.7 proveniente também da Lei


de Hooke (tensão-deformação), obtém-se, sendo [ ] a matriz constitutiva:

{ } [ ]{ } (4.7)

{ }=[ ] [ ] { } (4.8)
33

Aplicando então os conceitos dos trabalhos virtuais, através da equação


4.2, sendo trabalho um escalar, é necessária a transposta da matriz para que a
operação matricial seja válida, como também o incremento virtual :

(4.2)

{ } { } (4.9)

∫{ } { } (4.10)

Substituindo na equação 4.10, as equações 4.8 e 4.6, tem-se:

∫ [ ]{ } [ ][ ]{ }
∫{ } [ ] [ ][ ]{ }

{ } ∫[ ] [ ][ ] { } (4.11)

Os vetores dos deslocamentos virtuais são retirados da integral, pois


esses independem dos limites de integração. Igualando a equação 4.11 com a
equação 4.9, tem-se:

{ } { } { } ∫[ ] [ ][ ] { }

{ } ∫[ ] [ ][ ] { } (4.12)

Sabendo-se que a integral representa a matriz de rigidez [ ] do elemento.


34

5. PLASTICIDADE

De maneira geral, podemos classificar os problemas não lineares na


mecânica do contínuo em três categorias:

 Não linearidade física;


 Não linearidade geométrica;
 Não linearidade por mudança de status.

No primeiro tipo de não linearidade, a física, a relação constitutiva do


material é não linear. Exemplo clássico deste tipo de não linearidade é o concreto,
cuja curva tensão-deformação é não linear mesmo no regime elástico. No segundo
tipo de não linearidade, a estrutura deforma-se muito em relação a sua configuração
inicial. Tradicionalmente, para vigas de concreto armado, deslocamentos maiores
que a metade da altura da seção transversal são considerados como grandes
deslocamentos e este tipo de não linearidade deve ser adotada. E no terceiro tipo, é
englobada qualquer mudança durante o processo de carga da estrutura, tais como a
inclusão de novos tipos de carga e/ou apoios, contato entre os corpos, construção
incremental, etc.
A teoria da plasticidade enquadra-se na não linearidade física. Essa teoria
utiliza vários critérios de ruptura para estabelecer se os pontos são elásticos ou
plásticos e uma série de procedimentos para controlar os pontos já plastificados.
Atualmente, a teoria clássica da plasticidade foi estendida para corpos sob grandes
deformações e possui diversas subcategorias: plasticidade para pequenas
deformações (hipo-plasticidade), plasticidade no regime de grandes deformações
(hiper-plasticidade), e para materiais viscosos (visco-plasticidade) pode ocorrer tanto
grandes deformações como pequenas.
Ao longo deste capítulo serão apresentados, de maneira sucinta, os
conceitos básicos da teoria clássica da plasticidade, além dos critérios de ruptura
utilizados tanto para o concreto, quanto para a armadura.

5.1 HIPÓTESES BÁSICAS

A partir de um corpo de prova cilíndrico submetido a um ensaio de tração


simples, figura 5.1, pode-se definir:

→ carga aplicada, variando no tempo t;


→ comprimento inicial;
→ comprimento da barra deformada;
→ área inicial;
35

→ área da barra deformada;


diâmetro inicial;
diâmetro da barra deformada.

Para pequenas deformações, define-se a deformação longitudinal, como:

(5.1)

A deformação específica transversal:

(5.2)

E a tensão normal:

(5.3)

FIGURA 5.1 – Corpo de prova cilíndrico submetido a ensaio de tração.

FONTE: CALLISTER (2002).


36

Plotando os valores de tensão versus deformação , para cargas


monotonicamente crescentes, ter-se-á o gráfico mostrando na figura 5.2. A partir do
gráfico, observam-se as seguintes características:

a) Um comportamento elástico linear até o ponto (figura 5.2 a),


caracterizado pelo módulo de elasticidade longitudinal e um
coeficiente de Poisson (lei de Hooke), tal que:

(5.4)

(5.5)

b) A partir de (figura 5.2 a) o material apresenta um comportamento


não linear, e aparece como consequência de deformações
plásticas (isto é, não recuperáveis) para tensões mais altas. Nesse
trecho a Lei de Hooke não pode ser utilizada. A tensão (figura 5.2
a) é a maior tensão que pode ser aplicada sem produzir
deformações permanentes;

c) Ao realizarem-se ciclos de carga e descarga após o escoamento


inicial, aparecerá um ciclo de histerese como indicado por
(figura 5.2 a). Este ciclo é bastante delgado e não é levado em
consideração pela teoria clássica, que assume que a descarga e
recarga acontecem ao longo de uma linha (figura 5.2 b) com
inclinação igual ao módulo de elasticidade longitudinal .

A taxa de deformação longitudinal específica total pode ser escrita como

̇ ̇ ̇ (5.6)

onde ̇ é a taxa de deformação longitudinal elástica e ̇ é a taxa de deformação


longitudinal plástica. Esta equação é conhecida como a hipótese da aditividade de
deformações, e é clássica para a plasticidade de pequenas deformações.
37

FIGURA 5.2 – Relação tensão – deformação

FONTE: Adaptado de SOUZA NETO, PERI ́ , OWEN (2008).

A relação dos materiais elasto-plásticos é dada por:

– (5.7)

na qual é a tensão total, e é o módulo de elasticidade longitudinal do material.


38

É comum a utilização de taxas em plasticidade:

̇ ̇ ̇ ̇ (5.8)

Sendo ̇ ·, ̇ ·, ̇ ·, isto é, derivadas parciais das variáveis

em relação ao tempo.

Onde ̇ é a taxa da tensão total, ̇ é a taxa de deformação longitudinal


elástica e ̇ é a taxa de deformação longitudinal plástica.

OBSERVAÇÃO:
Em plasticidade, assume-se que a deformação não seja função da
velocidade de carga. Em consequência, o tempo indica apenas a ordem em que os
eventos ocorrem.

5.2 CONCEITOS FUNDAMENTAIS DA PLASTICIDADE

O objetivo final da teoria da plasticidade é estabelecer uma relação


constitutiva elastoplástica da forma:

̇ ̇ (5.9)

onde é o tensor de tensões totais , é o tensor constitutivo


e é o tensor de deformações totais . A fim de determinar a
forma do tensor constitutivo, utiliza-se:

a) Uma relação tensão-deformação correspondente ao regime elástico (linear)


da forma:

̇ ̇ ̇
̇ ̇ [ ]=[ ]=[ ̇ ̇ ̇ ] (5.10)
̇ ̇ ̇

onde ̇ é a taxa de tensões total, é o tensor de constantes elásticas do


material e ̇ é a taxa de deformações infinitesimais;
39

b) Um critério de escoamento que caracteriza a transição entre o regime elástico


e o elasto-plástico dado por uma certa combinação das componentes do
tensor . Este critério, também chamado de função de escoamento, pode
ser genericamente representado pela relação abaixo:

(5.11)

À medida que os valores de e mudam, a equação (5.11) representa


diferentes superfícies que, segundo foi exposto anteriormente, modelam o processo
de endurecimento.
Assume-se ainda a existência de um estado virgem do material, isto é,
antes da aplicação das cargas tem-se e
A superfície representada pela equação (5.11) será fechada, de tal modo
que os pontos internos correspondem a estados elásticos de
tensão, os pontos sobre a superfície correspondem a estados
plásticos de tensão e pontos externos à superfície correspondem à estados de
tensões inacessíveis (SCHMIDT, 2006).
Neste trabalho, emprega-se, como é usual, a expressão superfície de
carga (no endurecimento isótropo) para especificar as superfícies de escoamento
após a inicial.

c) Critério de consistência:
Durante o processo de deformação elastoplástica, as componentes do
tensor de tensões { } nos pontos que estão sofrendo deformações permanentes
devem permanecer sobre a superfície de carga. Esta condição é assegurada,
tomando-se a derivada total em relação ao tempo da expressão (5.11) e igualando-
se a zero:

̇ ̇ ̇ (5.12)

d) Critério de carga e descarga:


Como o material apresenta diferentes comportamentos para o processo
elástico (PE), processo plástico (PP) e o processo de descarga (PD), deve-se
distingui-los para que se possam aplicar as respectivas equações.
No caso uniaxial, é fácil de caracterizar intuitivamente os processos de carga
e descarga. No caso multiaxial, ao contrário, podemos ter situações em que
algumas componentes de carga e descarga devem ser rigorosamente
estabelecidas usando a superfície de carga. Se num dado instante temos
e ̇ , naturalmente no instante seguinte ter-se-á
, caracterizando assim uma descarga. Durante a
descarga tem-se que ̇ , de modo que ̇ e ̇ (OWEN, HINTON,
1980). Assim a descarga é caracterizada por:
40

̇ (5.13)

Tem-se carga quando

̇ (5.14)

A situação em que

̇ (5.15)

é denominada carga neutra.


No espaço de tensões, onde representa o vetor gradiente normal à
superfície , os três casos têm uma representação geométrica simples e útil,
conforme figura 5.3.

FIGURA 5.3 – Representação geométrica dos processos de carga, descarga e carga neutra.

FONTE: GOMES (1990).

Através de resultados experimentais Hill (1950) apud Gomes (1990),


apoiados pelas teorias microestruturais, provou-se que, dependendo do material, a
deformação plástica não altera o volume, por exemplo, os aços:

̇ (5.16)
41

5.3 CRITÉRIOS DE ESCOAMENTO

Vigas de concreto armado podem ser modeladas como corpos no estado


plano de tensões, com relativa precisão. O estado plano de tensões é
tradicionalmente utilizado para o cálculo de vigas que tenham uma relação entre
espessura e comprimento na ordem de 1/10 . Para a armadura (aço), pode-se
utilizar o critério de von Mises, normalmente empregado para materiais metálicos.
A seguir, apresentam-se em detalhes os critérios de von Mises.

5.3.1 CRITÉRIO DE VON MISES

Von Mises estabelece que a plasticidade começa quando o segundo


invariante do tensor de tensões desviatória, , atinge um valor crítico, ou seja:

√ (5.17)

Sendo definido por

(5.18)

Onde é o tensor de tensões desviatórias, que para o estado plano de


tensões pode ser escrito como:

(5.19)

[ ]

O termo representa uma tensão de escoamento variável no tempo,


em função de um parâmetro que modela o endurecimento do material. Pode-se
reescrever o critério de Von Mises, como:

(5.20)

Ou no espaço de tensões principais (ver figura 5.4).

(5.21)
42

FIGURA 5.4 – Projeções das superfícies dos critérios de falha de Tresca e de von Mises.

FONTE: LUBLINER (2006)

5.4 ENDURECIMENTO

Após a tensão de escoamento inicial do material ter sido atingida, se o


ponto plastificado sofrer um processo de descarga e recarga, o material escoará
com uma nova tensão de escoamento. Este fenômeno, denominado de
endurecimento ou amolecimento, dependendo se a nova tensão de escoamento é
maior ou menor, respectivamente, do que a tensão de escoamento inicial. Para
modelar este comportamento do material, a função de escoamento se expande para
o caso de endurecimento ou se contrai, para o caso do amolecimento.
Apresenta-se a seguir os tipos de endurecimento encontrados na teoria
da plasticidade:

a) Endurecimento isotrópico;
b) Endurecimento cinemático;
c) Endurecimento misto.

5.4.1 ENDURECIMENTO ISOTRÓPICO

No endurecimento isotrópico a superfície muda de tamanho sem mudar a


forma. O nome isótropo deve-se exatamente a forma constante da superfície. A
figura 5.6 mostra este critério.
43

FIGURA 5.6 – Endurecimento isotrópico.

FONTE: Adaptado de OWEN; HINTON (1980).

A tensão de escoamento para o critério de von Mises considerando


endurecimento isotrópico, é definida como:

̇ (5.25)

Onde ̇ é um escalar e é a primeira tensão de escoamento.

5.4.2 ENDURECIMENTO CINEMÁTICO

No endurecimento cinemático, há um movimento rígido da superfície de


escoamento no espaço de tensões. A expressão correspondente a este tipo de
endurecimento é,

(5.26)

Onde e é definido por

̇ ̇ (5.27)

A figura 5.7 representa este tipo de endurecimento. Neste trabalho foi


usado o critério de endurecimento isotrópico que é o mais comumente encontrado
na literatura e o de estudo matemático mais fácil. Como inconveniente, ele não leva
em conta o efeito Bauschinger, reduzindo assim a validade dos resultados obtidos,
apenas aos casos em que tal efeito é pouco importante.
44

FIGURA 5.7– Endurecimento cinemático.

FONTE: Adaptado de OWEN; HINTON (1980).

5.4.3 ENDURECIMENTO MISTO

É atribuído uma expressão uniforme e um movimento de carga rígido à


função de escoamento.
Como a intenção é modelar vigas de concreto submetidas à cargas
monotonicamente crescentes, somente o endurecimento isotrópico será utilizado
neste trabalho.

5.5 NORMALIDADE

De acordo com Owen e Hinton (1980), uma relação entre tensão e


deformação plástica pode ser escrita

̇ (5.28)

onde é um escalar não negativo e é uma função escalar denominada potencial


plástico. Para metais, os resultados experimentais indicam que se cumpre o critério
da normalidade, isto é,

(5.29)

A expressão 5.28 fica

̇ (5.30)

Este princípio indica que as componentes da taxa de deformação plástica


são proporcionais às correspondentes componentes do gradiente da função de
escoamento no espaço de tensões .
45

5.6 MATRIZ CONSTITUTIVA ELASTOPLÁSTICA

De acordo com Gomes (1990), a condição que impõe que os pontos já


plastificados mantenham-se sobre a superfície de carga, expressa pela equação
5.12, pode ser reescrita da forma:

̇ ̇ (5.31)

Onde ̇ representa o vetor taxas de deformações, para o estado plano de


tensões, escrito da seguinte forma:

{ ̇} { ̇ ̇ ̇ } (5.32)

O vetor fica expresso como:

{ } { } (5.33)

Sendo conhecido na literatura por vetor de fluxo e a constante é dado


por

̇ (5.34)

A partir da aditividade de deformações (equação 5.6), e da relação


constitutiva elástica, escrita em função das taxas de tensões elásticas e a taxa de
deformações elásticas, tem-se:

̇ ̇ ou ̇ ̇ (5.35)

onde é a matriz constitutiva elástica do estado plano de tensões, ou seja,

[ ] (5.36)

Da normalidade

̇ (5.37)

Pode-se escrever que

̇ ̇ (5.38)
46

Pré-multiplicando toda equação por

̇ ̇ (5.39)

O primeiro termo do lado direito da equação pode ser colocado em função


da equação (5.31). Assim pode-se escrever

̇ (5.40)

Isolando , obtém-se

̇
(5.41)

Mas como a taxa de deformação elástica é

̇ ̇ ̇ (5.42)

Pode-se substituir a expressão 5.42, na relação constitutiva 5.35, a qual


se torna:

̇ ̇ ̇ (5.43)

Lembrando, porém a expressão da normalidade 5.37, e substituindo em


5.43 tem-se:

̇ ̇ (5.44)

Que pela expressão 5.41 chega-se a relação constitutiva elasto-plástica

̇ [ ] ̇ (5.45)

Ou

̇ ̇ (5.46)

Onde

(5.47)

Assim, determinamos uma relação entre a taxa de tensões totais e a taxa


de deformações totais, da forma da equação 5.9. Pode-se notar, observando a
equação 5.47, que a matriz constitutiva depende do tensor de tensões, isto é, da
47

história de tensões no ponto, e não é mais uma constante, como na análise elástica,
ver equação 5.10.
48

6. MECÂNICA DA FRATURA E SOLUÇÃO DO PROBLEMA NÃO LINEAR

Uma grande parte das rupturas em componentes estruturais ocorre


devido a defeitos já existentes nos materiais. Isto é verdade especialmente para o
concreto e a argamassa, pois através de dados experimentais, provou-se que há
uma grande quantidade de microfissuras ao redor dos agregados.
O objeto de estudo da mecânica da fratura é o comportamento estrutural
de corpos com defeitos. Neste contexto, pode-se determinar a resistência do corpo
fissurado, estudando a propagação da fissura ao longo da história de cargas,
estabelecendo assim o modo de ruptura final do corpo.
A mecânica da fratura pode ser dividida em:
- Mecânica da fratura linear;
- Mecânica da fratura não linear.
A principal diferença entre a mecânica da fratura linear e não-linear é o
tamanho da zona de plastificação na ponta da fissura. Se este tamanho for pequeno
(caso de materiais frágeis), então se pode utilizar a mecânica da fratura linear, caso
contrário, usa-se a mecânica da fratura não linear (materiais dúcteis).
Como a mecânica da fratura é utilizada para modelar o comportamento
mecânico do concreto, somente será dada atenção à mecânica da fratura linear. As
armaduras serão modeladas por elementos de treliça, utilizando o critério de von
Mises, elasto-plástico com endurecimento.

6.1 MECÂNICA DA FRATURA LINEAR

A mecânica da fratura linear pressupõe a existência de uma fissura e


examina as condições sob as quais acontece o crescimento da fissura. Em
particular, determina o comprimento no qual a fissura se propaga, para uma carga
especificada e determinadas condições de contorno. Os conceitos da mecânica da
fratura são originários de Griffith, cujos trabalhos tratam de materiais somente
frágeis. Griffith estabeleceu que, para que aconteça a propagação de fissuras, a taxa
de liberação de energia elástica deve ser pelo menos igual à taxa de energia
necessária para a criação de uma nova superfície de fissura. Esse teorema foi
estendido por Irwin, que adicionou a ele quantidades limitadas de ductilidade. Nas
considerações de Irwin, tem-se que a deformação plástica está confinada a uma
pequena região próxima a ponta da fissura. Os conceitos básicos apresentados por
Griffith e Irwin tratam do balanço de energia entre a energia de deformação e o
49

trabalho necessário para a criação de uma nova superfície de fissura. Este balanço
de energia pode ser dado pela taxa de liberação de energia:

(6.1)

é definido como:

(6.2)

onde , é a energia de deformação e é o comprimento da fissura. depende da


geometria da estrutura e do carregamento instantâneo (atuante), mas não como eles
variam no processo de fratura atual ou como eles são alcançados. é chamada de
tenacidade à fratura do material e é determinada a partir de experimentos. Pode-se
observar que a taxa de liberação de energia não é em função do tempo e sim uma
taxa da energia potencial em relação ao comprimento da fissura (MSC SOFTWARE
CORPORATION, 2010).
Uma importante característica da equação (6.1), que pode ser utilizada
em critérios de fratura, é que a fissura cresce quando atinge o valor crítico .
De acordo com Ba ̌ ant e Planas (1997) o equilíbrio da energia requer,
para um processo quasi-estático:

(6.3)

Notações alternativas encontradas na literatura para a resistência do


crescimento a fissura é quando é histórico-dependente e e (taxa de
liberação de energia crítica) quando o material não depende do histórico de
fissuração. é a taxa de liberação de energia e a variação do comprimento da
fissura.

Pelo critério de fratura, tem-se:




Portanto, se a energia requerida é menor que a disponível, então a fissura


não cresce (e a estrutura é estável). Se a energia disponível é igual à requerida,
então a fissura cresce estaticamente, isto é, com inércia desprezível (e a estrutura
pode ou não ser estável, dependendo da variação ). Se a energia disponível
excede àquela requerida, então a estrutura é instável e a fissura ocorrerá
dinamicamente.
50

6.1.1 TAXA DE LIBERAÇÃO DE ENERGIA

Considerando um corpo de prova elástico plano em que o comprimento


da fissura pode tomar qualquer valor, por definição o trabalho realizado por
qualquer força é:

(6.4)

Para uma situação em equilíbrio e dado qualquer comprimento de fissura


, existe uma única relação entre o equilíbrio de forças e o deslocamento, onde:

Sendo o deslocamento da carga e a energia de deformação


elástica armazenada.
De acordo com Ba ̌ ant e Planas (1997) para um processo amplo, onde
tanto , quanto podem variar. A definição de pode ser escrita:

(6.5)

{[ ] [ ] } (6.6)

Sendo a espessura do corpo, e os índices subscritos na equação


indicam variáveis constantes durante o processo.
Pelo teorema de Castigliano, tem-se:

[ ] (6.7)

Então a primeira parcela dos dois termos em (6.6) em um processo de


equilíbrio cancela:

{[ ] } (6.8)

[ ] (6.9)

Este resultado mostra que a taxa de liberação de energia depende


apenas das condições de contorno e da geometria.
51

6.1.2 CAMPO DE TENSÕES

O campo de tensões perto da ponta da fissura para um material linear


elástico é expresso por:

(6.10)

onde é a descontinuidade perto da ponta da fissura, sendo r a distância radial do



ponto analisado e é uma função da posição polar. O fator é denominado de
fator de intensidade de tensão e a propagação da fissura ocorre quando o fator de
intensidade de tensão é igual ou maior que a propriedade do material (MSC
SOFTWARE CORPORATION, 2010). A figura 6.1 apresenta as tensões atuantes na
ponta de uma fissura.

FIGURA 6.1 – As tensões que estão atuando na frente de uma fissura que está carregada.

FONTE: CALLISTER (2002)

Há três possibilidades de modos de fratura na mecânica da fratura: o


modo de abertura , de deslizamento e de rasgamento , figura 6.2. O modo
mais crítico é normalmente o modo I e em muitos casos os demais não são
considerados.
52

FIGURA 6.2 – Modos de propagação da fissura.

FONTE: Adaptado de MSC SOFTWARE CORPORATION (2010).

A conexão entre a taxa de liberação de energia e o fator de intensidade de tensão é


dada, no modo I (MSC SOFTWARE CORPORATION, 2010), por:

(6.11)

(6.12)

A figura 6.3 ilustra o estado plano de tensões e o estado plano de


deformações.

FIGURA 6.3 – Região plástica para o estado plano de tensões e estado plano de deformações.

FONTE: Adaptado de GROSS; SEELIG (2006).


53

6.2 VCCT

A opção VCCT (Virtual Crack Closure Technique), como método para


representar a propagação da fissura, oferece uma forma mais simples e mais ampla
para a obtenção da taxa de liberação de energia:

(6.2)

onde é a variação da energia de deformação pelo comprimento da fissura .


Considerando um simples elemento finito como a figura 6.4:

FIGURA 6.4 – Malha de elementos finitos para o Método VCCT.

FONTE: MSC SOFTWARE CORPORATION (2010).

Supondo uma análise para o modelo, pode-se calcular a taxa de liberação


de energia como:

(6.13)

Aqui é a força que mantém a fissura fechada (resiste à abertura) e a


abertura da fissura . No VCCT (Virtual Crack Closure Technique) apenas se analisa
com fissura fechada, e usa o deslocamento de abertura para o nó mais próximo da
ponta da fissura.
Com as coordenadas x, y, z no sistema local da ponta da fissura, ver
figura 6.2, se obtém:

(6.14)

(6.15)
54

(6.16)

e a taxa de liberação de energia total como:

(6.17)

Para uma malha com elementos finitos quadráticos, pode-se incluir a


contribuição dos nós intermediários, como a figura 6.5:

(6.18)

FIGURA 6.5 – Malha de elementos finitos quadráticas, contribuição dos nós intermediários.

FONTE: MSC SOFTWARE CORPORATION (2010).

Para o caso em que os nós intermediários não se encontram no meio da


aresta do elemento, os deslocamentos para esses nós são interpolados para os
locais adequados (MSC SOFTWARE CORPORATION, 2010).

6.2.1 PROPAGAÇÃO AUTOMÁTICA DE FISSURAS

A opção VCCT permite que a propagação de fissuras seja automática. Há


dois tipos de análises disponíveis para essa propagação automática, sendo elas,
crescimento por fadiga e crescimento direto.
No presente trabalho foi utilizada a propagação direta. Para este caso, é
especificada uma resistência ao crescimento da fissura (resistência à fratura) para
cada fissura. Quando o critério de crescimento da fissura é cumprido, a propagação
acontece, ver critérios de propagação, item 6.1. Isso ocorre dentro de um incremento
de carga, que itera até não ocorrer mais a fissuração (MSC SOFTWARE
CORPORATION, 2010).
55

6.3 SOLUÇÃO DO PROBLEMA NÃO LINEAR

Após a formulação da teoria da plasticidade e da mecânica da fratura e da


inclusão destas formulações no método dos elementos finitos, tem-se a necessidade
de resolver um problema não linear. A seguir são apresentadas as expressões
básicas do problema e alguns pseudocódigos para facilitar o entendimento global do
problema.
De acordo com Gomes (1990), o problema não linear será sempre
resolvido por um processo incremental-iterativo das cargas externas. Serão
aplicados incrementos de carga na estrutura, e como há uma tendência da curva
(resposta) se afastar do equilíbrio, é efetuado um procedimento iterativo para corrigir
esse afastamento.
Analisar-se-á o procedimento incremental para equações do tipo:

(6.13)

Pode-se reduzir a equação 6.13 a uma série de problemas lineares da


forma

[ ] { ̇} { ̇} (6.14)

para os quais já existem métodos e programas eficientes.


É conveniente reescrever a equação 6.13 da forma:

̇ ̇ (6.15)

onde é um escalar . Derivando a expressão 6.15 em relação a


tem-se:

̇
̇ (6.16)
̇

ou

[ ] { } (6.17)

Numericamente, a equação 6.17 é resolvida para incrementos finitos por:

[ ]{ } { } { } (6.18)

onde [ ] é a matriz tangente da estrutura e

{ } { } { } (6.19)
56

o vetor de deslocamentos nodais, e o subíndice o atual passo da solução e que se


refere ao incremento de ou , isto é

(6.20)

{ } { } { } (6.21)

A aplicação da equação 6.18 é equivalente à integração de 6.17 pelo


método de Euler.
Solucionando o sistema 6.18 para um determinado { }, obtém-se um
{ }. Lembrando as equações 4.8 e 4.6 tem-se:

{ } [ ][ ]{ } (4.8)

{ } [ ]{ } (4.6)

onde { } pode ser obtido a partir de { }.


O valor final da tensão em cada passo , será

{ } { } { } (6.22)

6.4 ALGORITMO DE SOLUÇÃO

A seguir descreve-se o programa computacional do método incremental.


O programa foi desenvolvido de tal maneira que ao final da primeira etapa de cargas
tenha-se o primeiro ponto de integração plastificado. De acordo com Gomes (1990),
as etapas do método incremental são:

a) Arbitra-se um vetor de cargas P com componentes aplicadas nos nós


e nas direções desejadas. A proporção numérica adotada entre as
diversas componentes é mantida constante até o fim do cálculo. Para
este carregamento resolve-se o problema de forma elástica, obtendo
deslocamentos e tensões elásticas, bem como as tensões
equivalentes correspondentes;

b) Seleciona-se a máxima tensão equivalente ( ), calcula-se a


relação e multiplica-se por esta relação os vetores de
deslocamentos, tensão e cargas. Tem-se assim plastificado o primeiro
ponto, ou seja, aquele a que corresponde à máxima tensão
equivalente. Chama-se ao vetor de carga resultante desta operação
de ;
57

c) Calcula-se a matriz elasto-plástica , conforme foi visto no capítulo


5, item 5.6, para os pontos já plastificados e, a partir daí, uma nova
matriz de rigidez para o elemento plastificado ou parcialmente
plastificado;

Esta operação repetir-se-á no início de cada etapa usando as tensões


que foram encontradas na etapa anterior.

d) O próximo passo é modificar a matriz de rigidez global da estrutura.


Isto é feito retirando-se a contribuição, correspondente à etapa
anterior, do elemento que já estava plastificado ou que plastificou na
etapa atual, e acrescentando-se a nova contribuição de cada elemento
plastificado à matriz de rigidez global;

e) O programa calcula a energia , pelo método VCCT, e compara o


resultado com a resistência à propagação da fissura ( ). Se for
maior do que , então a fissura é incrementada por um valor mínimo
especificado como dado do programa;

f) Escolhe-se o incremento de carga adequado. Este será sempre


dado por uma certa fração de . No programa, se este incremento
não é dado, é tomado como ;

g) Resolve-se a matriz de rigidez global (obtida em “d”) submetida ao


vetor de cargas (obtido em “e”). O resultado é todo o vetor de
deslocamentos ;

h) Obtido o vetor , determina-se os incrementos de deformações e


tensões da seguinte forma:

{ } { }{ } (6.23)

{ } { }{ } (6.24)

i) O próximo passo do programa é a determinação do valor para


cada ponto de integração. Este é o valor necessário para fazer com
que a tensão equivalente no ponto de integração, em fase elástica,
atinja linearmente, na etapa considerada, a tensão de escoamento do
material. Se o ponto estiver na região plástica, deve-se determinar em
que lado da poligonal ele se encontra bem como o valor de
necessário para que seu estado de tensões atinja o próximo vértice.
58

Para determinar o valor de , deve-se aplicar o critério de Mises, para o


escoamento inicial, considerando o acréscimo ocorrido no vetor devido à
aplicação de . Para o estado plano de tensões a equação 5.20 torna-se:

( ) ( ) ( ( ))
( ) (6.27)

Desenvolvendo esta equação pode-se calcular o valor de

√ | || |
| |
(6.28)

onde

( ) ( ) ( ) (6.29)

( ) (6.30)

( ) ( ) ( ) (6.31)

onde | | indicam que a grandeza deve ser tomada em seu valor absoluto e o sinal
positivo dentro da raiz quadrada é devido à . O sinal negativo antes da raiz
quadrada não tem sentido, pois resultaria em , ou seja, um acréscimo de
carga negativa.

j) De todos os valores de calculados conforme foi visto na etapa h,


escolhe-se o menor deles que se denominam de . O incremento
de carga é necessário para levar o ponto de integração ao
escoamento ou ao próximo vértice conforme esteja elástico ou
plástico.

Se o valor de for maior que 1 (um) faz-se .


Além deste primeiro controle, existe outro que tem a finalidade de
controlar o aumento das tensões, nos pontos de integração já plastificados, não
permitindo que a tensão equivalente dos acréscimos de tensão seja maior que 8%
da tensão de escoamento inicial. Quando isto ocorre, adota-se um novo que
satisfaça esta condição, ou seja

(6.32)
59

Para o caso de material elasto-plástico perfeito, quando todos os pontos


de integração estiverem plastificados, todos os serão nulos. Neste caso, adota-
se o valor de calculados por 6.32. Isto permite continuar a análise depois que
todos os elementos estiverem plastificados.
Calculado o volta-se ao item c e repete-se o processo.
Este procedimento para calcular o é específico para o critério de von
Mises. Para outros critérios de ruptura adota-se um procedimento mais geral,
denominado de mapeamento de retorno.
60

7. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Nos capítulos anteriormente (capítulos 3, 4, 5 e 6), foram introduzidos


conceitos de elementos finitos, plasticidade e mecânica da fratura, que serão agora
utilizados de forma prática.
Para comprovar a eficácia das teorias expostas neste trabalho, tomou-se
como modelo comparativo os resultados experimentais e numéricos apresentados
no artigo de Brisotto, D`Avila e Bittencourt (2006). Este artigo foi escolhido, dentre
tantos outros, para comparação, por ser um estudo de modelos de vigas de concreto
armado onde, tanto os efeitos de flexão e cisalhamento estão presentes como
também o estudo da propagação de fissuras. Esse trabalho apresenta o
detalhamento da viga e sua armadura e a discretização adotada na viga. Têm-se
também as propriedades mecânicas do concreto e do aço e como resultado, gráficos
carga x deslocamento (flecha máxima). Com todos os dados necessários
disponíveis, pode-se utilizá-lo como balizador do modelo apresentado.
O programa computacional utilizado para a criação do modelo proposto
foi o Marc Mentat, pois a Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) tem a
licença desse programa. Do contrário, há outros programas comerciais disponíveis
que poderiam efetuar os mesmos procedimentos.
Os elementos finitos utilizados para a discretização do concreto foram o
linear, quadrilátero de quatro nós e para a armadura, o elemento linear de dois nós,
ver figura 4.1.

7.1 VALIDAÇÃO DO PROGRAMA COMPUTACIONAL

Para validar o programa, foram feitos diversos testes com vigas


biapoiadas e carga concentrada no meio do vão (ver Figura 7.1) e comparou-se os
resultados fornecidos pelo programa computacional com a fórmula da Resistência
dos Materiais. No programa Marc Mentat as vigas foram consideradas no estado
plano de tensões. As figuras 7.1 e 7.2 mostram uma das vigas testadas.

FIGURA 7.1 – Viga biapoiada com carga concentrada no meio do vão.


61

FIGURA 7.2 – Viga de concreto, testando o programa.

Dados da viga de concreto:


62

Pode-se comprovar a coerência dos resultados do programa


computacional, pois a diferença entre os deslocamentos foi de apenas de 3%. Esta
pequena diferença é devido as concentrações de tensões nas regiões da carga P e
nos apoios. Como o estado plano de tensões, implementado no programa Marc
Mentat, consegue captar estas concentrações, o valor fornecido pelo programa deve
ser considerado mais preciso.

7.2 MODELO DE REFERÊNCIA

Os resultados experimentais retirados do artigo de Brisotto, D’Avila e


Bittencourt (2006), foram obtidos de um trabalho anterior, de Leonhardt e Walther
(1962), para uma série de quatro vigas simétricas (ET1, ET2, ET3 e ET4),
simplesmente apoiadas e com duas cargas concentradas simetricamente. O
detalhamento das vigas é apresentado pela figura 7.3, as medidas são dadas em
centímetros.
O que diferencia as quatro vigas, é o tamanho da alma, sendo a primeira
viga de 30, a segunda de 15, a terceira de 10 e por último uma viga com a
espessura da alma de 5 centímetros. A altura das vigas e o comprimento delas é
igual em todos os modelos, sendo estes 35 e 300 (de vão) centímetros,
respectivamente. As quatro vigas foram armadas igualmente, tanto
longitudinalmente quanto transversalmente, apesar de possuírem diferentes larguras
de alma.
Nas quatro vigas, a armadura longitudinal inferior é composta por quatro
barras de 20 mm de diâmetro, divididas em duas camadas, com tensão de
escoamento . A armadura longitudinal superior possui apenas uma
camada com duas barras de 8 mm de diâmetro com tensão de escoamento,
. Os estribos tem diâmetros de 6 mm, espaçados a cada 5 cm (do
balanço até o apoio) e espaçados a cada 11 cm (no meio do vão), com tensão de
escoamento, .
As propriedades mecânicas do concreto são:

 Coeficiente de Poisson –
 Resistência à tração - ;
 Resistência à compressão –
 Módulo de elasticidade - ;
 Energia de fratura - .

Para os resultados numéricos, Brisotto, D’Avila e Bittencourt (2006),


utilizaram uma malha de 20 (5x4) elementos, figura 7.4. O elemento finito utilizado
foi o QMITC (Quadrilateral with Mixed Interpolation of Tensorial Components). Este
elemento é quadrilátero bidimensional de cinco nós, baseado no método de
63

interpolação mista. Sendo adotada uma interpolação para os deslocamentos e outra


para as deformações e realizam-se as duas interpolações em conjunto, figura 7.5.

FIGURA 7.3 – Detalhamento das vigas propostas.

FONTE: BRISOTTO, D’AVILA E BITTENCOURT (2006).

FIGURA 7.4 – Malha adotada.

FONTE: BRISOTTO, D’AVILA E BITTENCOURT (2006).


64

FIGURA 7.5 – Elemento QMITC.

FONTE: Adapatado de BRISOTTO, D’AVILA E BITTENCOURT (2006).

Pela figura 7.3, tem-se quatro seções de vigas. Optou-se como modelo a
viga ET1, pois há maior quantidade de resultados apresentados e sua geometria é
mais simples que as demais.
A figura 7.6 mostra a evolução da flecha ao longo do carregamento, de
acordo com os dados experimentais e o modelo proposto.
O número total de fissuras ao longo do carregamento no elemento 17
(figura 7.2) é apresentado na figura 7.7. A primeira geração de fissuras acontece
para uma carga igual a 19 KN e a segunda geração de fissuras surge para uma
carga de 48 KN.
Na figura 7.8, compara-se as tensões nos estribos, entre os valores
obtidos experimentalmente e pelo modelo proposto. A região analisada é entre 38 e
71 centímetros a partir do apoio.

FIGURA 7.6 – Flechas obtidas experimentalmente e pelo modelo proposto – ET1.

FONTE: BRISOTTO, D’AVILA E BITTENCOURT (2006).


65

FIGURA 7.7 – Número total de fissuras no elemento 17 x carga aplicada – ET1.

FONTE: BRISOTTO, D’AVILA E BITTENCOURT (2006).

FIGURA 7.8 – Comparação das tensões nos estribos, entre os resultados obtidos experimentalmente
e o modelo proposto.

FONTE: BRISOTTO, D’AVILA E BITTENCOURT (2006).


66

7.3 MODELO ADOTADO

Na interface do programa são apresentadas diversas opções para o


usuário. Para a representação da viga de concreto armado utilizou-se o estado plano
de tensões, apesar de esse estado ser mais utilizado para chapas, onde a espessura
é muito menor que o comprimento. Mesmo podendo haver erro no cálculo, optou-se
por essa aproximação pelo fato da espessura da viga estudada ser menor que 1/10
do comprimento.
O elemento escolhido para representar o concreto foi o linear
(quadrilátero de quatro nós) e para o aço foi o elemento linha (treliça) (figura 4.1). No
modelo numérico de Brisotto, D’Avila e Bittencourt (2006), não mostra como foi
representada a armadura na malha de elementos finitos (figura 7.4). Portanto,
seguiu-se a representação dada pelo modelo experimental (figura 7.3).
Para a representação de uma viga de concreto armado biapoiada e com
duas cargas concentradas não seria necessário uma malha tão refinada. Porém,
optou-se por fazer uma malha de 7.616 (272x28) elementos de concreto, mais 1.476
elementos de treliça para o aço, para respeitar a representação exata dos
espaçamentos dos estribos do modelo experimental, do ponto de aplicação das
cargas e dos apoios. Como não foi dado o espaçamento entre as barras da
armadura longitudinal inferior e nem o recobrimento, a medida arbitrada foi de 2,5
cm para ambas.
A razão entre a base e a altura do elemento finito deve sempre ser mais
próxima de um possível, para não haver a distorção da malha. Com essa malha,
cada elemento ficou com 1,25 cm de base e de altura, dando uma razão de
exatamente um. Assim, evita-se erros originários da distorção da malha.
Para o concreto, a plasticidade foi negligenciada, porém, na a armadura
foi incorporado o modelo de von Mises com endurecimento isotrópico. Como na viga
há três tipos de aços distintos, foram utilizados curvas de endurecimento diferentes
(tensão- x deformação plástica - ).
Os valores do gráfico da figura 7.10, para as armaduras longitudinais e do
estribo, foram tiradas de Luecke et al. (2005). Os aços escolhidos para adotar as
curvas de endurecimento apresentavam as tensões de escoamento próximas as dos
aços das armaduras da viga aqui estudada.
As propriedades mecânicas do concreto e do aço são as mesmas
utilizadas no trabalho de Brisotto, D’Avila e Bittencourt (2006). Porém, os dados que
não foram apresentados no artigo foram arbitrados. A figura 7.11, apresenta a tela
de entrada das propriedades dos materiais do programa computacional Marc
Mentat.

Propriedades mecânicas do concreto:


;
;
;
67

Propriedades do aço:
Para o estribo:
– refere-se à soma
transversal da armadura, as duas hastes verticais;

Para a armadura longitudinal inferior:


– refere-se à soma das
duas barras longitudinais na mesma camada, para cada camada;

Para a armadura longitudinal superior:


– refere-se à soma das
duas barras longitudinais na mesma camada, para cada camada;

Para todos os aços foram considerados os seguintes valores arbitrados:


;
.

Na figura 7.9 apresenta o modelo adotado já discretizado, com as


características geométricas e do material. Podem-se observar as armaduras
longitudinais e transversal.

FIGURA 7.9 – Modelo discretizado, concreto e armaduras longitudinais e transversal.


68

FIGURA 7.10 – Curvas de endurecimento das armaduras longitudinais e transversal.

Curva de endurecimeto
700

650

600
Tensão (N/mm²)

550

500
Estribo
450
Longitudinal Inferior
400
Longitudinal Superior
350

300
0 0,02 0,04 0,06 0,08 0,1
Deformação Plástica

FIGURA 7.11 – Tela de entrada de propriedades dos materiais – Programa


Computacional Marc Mentat.
69

No trabalho de Brisotto, D’Avila e Bittencourt (2006), os autores


desenvolveram um programa que incorpora automaticamente fissuras em locais de
maiores tensões na viga. Com o programa computacional Marc Mentat isto não é
possível, deve-se introduzir manualmente um conjunto de fissuras na região de
interesse. Dessa forma, foram criadas cinco fissuras ao longo da viga, onde o
programa define a fissura por meio do nó localizado em sua ponta. As fissuras foram
colocadas uma em cada apoio, outra no centro da viga e outras duas simetricamente
colocadas a 5 cm de distância do eixo de simetria da viga. Sabe-se que no meio do
vão as fissuras se propagarão no modo I, conforme figura 6.2, considerando o
material homogêneo. Nos apoios haverá ocorrência de uma propagação mista no
modo I/modo II, sendo o modo II evidenciado devido à concentração de tensões de
cisalhamento. O modo III não ocorre nesse tipo de viga, pois esse é característico de
estruturas sob torção (fora do plano). Na figura 7.12, é mostrada a tela da entrada de
dados para a propagação de fissuras VCCT.

FIGURA 7.12 - Tela de entrada de dados para propagação de fissuras VCCT – Programa
Computacional Marc Mentat.
70

7.4 RESULTADOS

A figura 7.13 apresenta a deformação da viga devido à carga central


aplicada e a flecha máxima no meio do vão.
Na figura 7.14, são apresentadas as três curvas de carga x deslocamento.
Uma do modelo numérico de Brisotto, D’Avila e Bittencourt (2006), a carga-
deslocamento resultante do modelo numérico aqui proposto e o balizador dos dois
métodos, o modelo experimental.

FIGURA 7.13 – Flecha máxima no meio do vão do modelo proposto.


71

FIGURA 7.14 – Comparação das flechas no centro do vão.


140

120

100
Carga (KN)

80

60 Experimental

Brisotto
40
Proposto
20

0
0 2 4 6 8 10 12 14
Deslocamento (mm)

Nas figuras 7.15 e 7.16 são mostradas as propagações das 5 fissuras


incorporadas ao modelo.

FIGURA 7.15 – Aproximação das fissuras propagadas no centro do vão. Modo I de propagação de
fissuras.
72

FIGURA 7.16 – Aproximação da fissura propagada nos apoios. Modo misto de propagação, I e II.

Como as flechas máximas no meio do vão do modelo proposto se


mostraram muito diferentes do resultado experimental, não se sentiu a necessidade
de apresentar os valores das tensões nas armaduras. Todas as tensões obtidas
foram muito baixas e o aço não apresentou sinais de escoamento, como era
esperado. A viga demonstrou um comportamento muito mais rígido do que o modelo
experimental. As fissuras pararam de se propagar ao encontrarem a armadura.

7.5 JUSTIFICATIVAS E DISCUSSÕES

Como apresentado na figura 7.14 o modelo proposto demonstrou apenas


comportamento linear. Até o regime linear a viga apresentou resultados muito
próximos do modelo experimental e do modelo numérico de Brisotto, D’Avila e
Bittencourt (2006). Dessa forma, pode-se notar um comportamento muito mais rígido
no modelo proposto do que no modelo experimental.
Uma das hipóteses para esse resultado é a falta de representação do
concreto em compressão. Inicialmente uma das metodologias do trabalho aqui
exposto era a inserção de plasticidade no concreto, mas como no artigo de
referência não era utilizada essa metodologia, decidiu-se excluir essa possibilidade.
Como o programa desenvolvido por Brisotto, D’Avila e Bittencourt (2006)
gera automaticamente as fissuras durante o modelamento numérico, não se sabe
qual a quantidade de fissuras incorporadas ao modelo. Em trabalhos experimentais,
quando há o estudo de fissuração de vigas, chega-se a mapear dezenas delas.
Portanto, como foram colocadas apenas 5 fissuras ao longo da viga, e estas não
propagaram o suficiente para diminuir a rigidez da viga, essa não apresentou
grandes tensões.
73

Na figura 7.17, apresenta um gráfico com a relação carga x deslocamento


para a variação da quantidade de fissuras no modelo. Pode-se observar que apenas
para cargas acima de 140KN a quantidade de fissuras incorporadas ao modelo
começam a fazer diferença nos resultados das flechas.

FIGURA 7.17 – Gráfico carga x deslocamento para diferentes quantidades de fissuras incorporadas
ao modelo numérico.
200

180

160

140

120
Carga (KN)

100
Sem fissura
80
1 fissura
60 3 fissuras
40 5 fissuras
20

0
0 1 2 3 4 5
Deslocamento (mm)

No arquivo OUTPUT, que o programa computacional Marc Mentat fornece


com as saídas de dados, apresentou valores muito pequenos para taxa de liberação
de energia na ordem de , enquanto a resistência ao crescimento era
(ver equação 6.3). Porém em alguns dos testes feitos com o programa, houve a
propagação dinâmica da fissura, . Ver figura 7.18.
74

FIGURA 7.18 – Propagação dinâmica da fissura no modelo-teste.

Quando submetido a grande quantidade de carga, o modelo proposto


apresenta plasticidade principalmente na armadura longitudinal superior e inferior,
ver figura 7.19.

FIGURA 7.19 – Deformação plástica equivalente total do modelo proposto para cargas muito
elevadas.
75

8. CONCLUSÃO

Neste trabalho comparou-se o modelo numérico, para uma viga de


concreto armado biapoiada com cargas concentradas simetricamente, com outras
abordagens numéricas disponíveis na literatura e com resultados experimentais.
Utilizou-se a teoria da plasticidade e a mecânica da fratura para representar o
comportamento não linear da viga.
Pode-se observar uma boa concordância com relação à curva carga-
deslocamento na região elástica. Porém, o modelo se demonstrou muito rígido em
relação ao modelo experimental. Dessa forma, a região plástica não foi
representada. Houve divergência nos deslocamentos máximos encontrados da
região plástica. Essa divergência pode estar relacionada à falta de propagação das
fissuras incorporadas ao modelo.
Quanto à distribuição de fissuras, foram colocadas cinco fissuras ao longo
da viga, em locais onde se tinha conhecimento do seu modo de propagação. Apesar
das fissuras não terem tido uma propagação significativa, o modo de propagação
esperado foi comprovado. Além de um dos modelos testados ter apresentado uma
fissura dinâmica.
Atesta-se, portanto, que o modelo proposto fornece resultados seguros
apenas para a região elástica.
No caso de trabalhos futuros, pode-se aprimorar o modelo matemático
aqui proposto estudando novas formas de implementação de fissuras na viga.
Adicionar plasticidade ao concreto através do critério de escoamento de Mohr-
Coulomb ou de Drucker-Prager. Pode-se estudar um modelo mais sofisticado de
elementos finitos como o tridimensional e por último, aconselha-se o
desenvolvimento de uma análise experimental a fim de variar as configurações de
armadura na viga estudada.
76

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