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Excelentíssimo Senhor Juiz Presidente do Tribunal Regional do

Trabalho da Terceira Região.

LEOPOLDO MOURÃO AMARAL, brasileiro, casado,


residente e domiciliado à Praça Monsenhor José Amantino dos
Santos, nº 85, Sabinópolis, Minas Gerais, inscrito no CPF sob o
nº 056.409.206-10, por seus procuradores ao final assinados,
consoante instrumento de mandato em anexo, vem, respeitosamente,
à presença de Vossa Excelência, com fulcro no estabelecido pela
Lei nº 1.533, de 31 de dezembro de 1.951, no artigo 5º, inciso
LXIX, da Carta Constitucional da República e ainda no artigo 678,
inciso I, alínea “b”, item “3”, impetrar o presente

MANDADO DE SEGURANÇA, com pedido de LIMINAR INAUDITA ALTERA PARS,

contra ato da Excelentíssimo Juiz Presidente da Junta de


Conciliação e Julgamento de Guanhães, Minas Gerais, Dr. Lucas
Vanucci Lins, pelos fatos e fundamentos seguintes:

I. DOS FATOS

Ajuizada, perante a Junta de Conciliação e


Julgamento de Governador Valadares, ação trabalhista movida por
JUVENAL DOS SANTOS CARVALHO, foi a mesma julgada procedente,
conforme se infere dos documentos inclusos, e, após o trânsito em
julgado da sentença condenatória, iniciou-se a execução de título
judicial, donde se apurou o valor de liquidação equivalente a
R$47.458,22 (quarenta e sete mil, quatrocentos e cinqüenta e oito
reais e vinte e dois centavos).
De se dizer que à época, instalou-se nova
Junta na cidade de Guanhães que passaria ser a competente para
dirimir os conflitos oriundos de Sabinópolis/MG, como no caso em
questão.

Expedido o mandado executivo, após diligência


de citação, procedeu o sr. Oficial de Justiça na penhora de bens
do executado, ora impetrante, impondo o ônus e constrição sobre
um imóvel situado à Praça Monsenhor Amantino, nº 85, Centro,
Sabinópolis, registrado no competente cartório sob o nº 04,
matrícula nº 09, livro nº 02, às fls. 768.

Curiosamente, este imóvel é o mesmo que


reside o impetrante, e tal fato fora alegado ao sr. Meirinho, a
fim de se impedir a realização de ato processual nulo de pleno
direito, à luz da lei nº 8.009/90.

Qual não foi o seu espanto, o sr. Oficial


lavrou o auto de penhora, certificando todavia que o impetrante
recusou-se a firmar o termo de depósito (documento incluso),
devolvendo o mandado à secretaria para que se tomassem as
diligências de direito.

Apesar da nulidade gritante, que aquele


momento se evidenciava, o processo teve seu trâmite regular,
restando ao impetrante argüir judicialmente a nulidade do ato,
que não repousava à época somente à impenhorabilidade do bem, mas
também à ausência de depositário fiel, e a não realização de
intimação para fins de embargos.

Com efeito, a súplica do mesmo foi recebida e


processada como se Embargos à Execução fosse, mesmo não tendo
este sido intimado para tal.

Muito embora as fortes alegações do


impetrante, houve por bem, o ilustre juiz, de julgar os
“Embargos” improcedentes sob o fundamento de que não existiu
provas suficientes sobre o alegado (impenhorabilidade dos bens
penhorados), dando prosseguimento ao andamento do feito,
determinando a realização de praça, para alienação pública do
imóvel já discriminado que se realizará em primeiro pregão no dia
de hoje (18.06.97).

Irresignado com a determinação daquele


julgador, requereu o impetrante a retratação do despacho,
noticiando mais uma vez o incidente causado pela nulidade que se
impunha cristalina, anexando, sobretudo, certidão do cartório de
registro de imóveis competente.

A retratação não foi concedida, ao


entendimento do juiz, de que a questão encontrava-se superada com
o trânsito em julgado da decisão dos “Embargos do Devedor”.

Desta decisão, interpôs-se o recurso de


Agravo de Petição, o qual, recebido, foi intimada à parte
contrária para apresentação de contra-razões, porém sem que se
suspendesse os efeitos da execução que se prosseguia, e sem que
se determinasse a não realização da praça que, salvo por
acolhimento deste writt, procederá no dia de hoje.

Em apertada síntese, estes são os fatos


originários, que desencadearam, venia permissa, a prática de ato
ilegal por parte da MM. JCJ.

II. PRELIMINARMENTE - DO CABIMENTO DO MANDAMUS

Tendo em vista que os recursos obreiros em


sua maioria possuem efeito apenas devolutivo, plenamente possível
a impetração deste remédio heróico, para a concessão do efeito
suspensivo, mormente pelo fato de que a suspensão da praça, não
implicará, de imediato, qualquer prejuízo para o exequente.

Contudo, se realizada a praça antes de que


possam ser saneadas as irregularidades apontadas, o que espera
ocorrer quando do conhecimento do Agravo de Petição, os prejuízos
que podem vir a ser acarretados ao impetrante tornar-se-ão
irreparáveis, posto que está prestes a ver tomado imóvel onde
coabita com sua família, passando a integrar as filas dos
inúmeros Movimentos dos Sem Tetos.

Tal fato, entretanto, poderá ser evitado por


V.Exa. se deferida a liminar deste mandamus concedendo o efeito
suspensivo ao recurso, suspendendo-se por conseqüência a
realização da hasta pública.

Por estas simples linhas, concessa venia,


sobressai a possibilidade jurídica de utilização do mandado de
segurança, na hipótese, aliado ao fato de que presentes os
requisitos processuais do seu cabimento, quais sejam, fumus boni
iuris e periculum in mora.

III. DO FUMUS BONI IURIS

Ilustre Julgador, o ato praticado pela


Autoridade Judicial, in casu, o Juiz Presidente da Junta de
Conciliação e Julgamento de Guanhães, data maxima venia, está
revestido de ilegalidade.

É que, confirmando-se a decisão de 1º grau,


estará o impetrante sendo privado de imóvel de sua titularidade,
tido como impenhorável, sem que seja obedecido o devido processo
legal (art. 5º, inc. LIV da CF/88):

LIV - “ninguém será privado da liberdade ou de seus


bens sem o devido processo legal”;

Não obstante, tem-se que a matéria em questão


está pendente de recurso, ou seja, todavia não transitou em
julgado, e o efeito suspensivo deve ser concedido para que ao
impetrante seja deferido o legítimo exercício do direito de
defesa (art. 5º, inc. LV da CF/88):

LV - “aos litigantes, em processo judicial ou


administrativo, e aos acusados em geral são assegurados
o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos
a ela inerentes;”

Não obstante a isto, a interposição de


recursos é exercício regular de direito da parte - artigo 897, da
CLT - e a decisão não poderá ser definitiva enquanto não ocorrer
o trânsito em julgado.

O fumus boni iuris no entanto, não se esgota


do acima alegado.
Com efeito, do que se depreende da
documentação acostada à presente, verifica-se da certidão
expedida pelo Cartório de Registro de Imóveis de Sabinópolis que
o imóvel penhorado é residencial em sua essência, além de ser o
único imóvel registrado em propriedade do impetrante.

Verdadeiramente, aquele imóvel é constituído


de 02 (dois) pavimentos, onde, além de residir o impetrante,
também opera um pequeno comércio, não desmembrado, no entanto,
para fins de unidade residencial, sendo que tal fato não o
descaracteriza como residencial e impenhorável, à luz do art. 1º
da lei nº 8.009/90:

art. 1º - “O imóvel residencial próprio do casal ou da


entidade familiar é impenhorável e não responderá por
qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal,
previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos
cônjuges ou pelos pais ou filhos que sejam seus
proprietários e nela residam, salvo nas hipóteses
previstas nesta lei.
Parágrafo único: A impenhorabilidade compreende o
imóvel sobre o qual se assentam a construção, as
plantações, as benfeitorias de qualquer natureza e
todos os equipamentos, inclusive os de uso
profissional, ou móveis que guarnecem a casa, desde que
quitados.”

As nulidades que albergam o pretendido pelo


impetrante são tantas que maculam todo o processo havido até o
presente momento, a partir da efetivação da penhora.

O auto de penhora não contém depositário


fiel, e por si só anularia o ato ou o tornaria ineficaz para fins
de direito, pois, reportando-se ao art. 664 do Cód. Proc. Civil,
somente “considerar-se-á feita a penhora mediante a apreensão e
depósito dos bens, lavrando-se um só auto...” que conterá, sob
pena de nulidade, à luz do art. 665 do mesmo diploma legal, “a
nomeação do depositário...”.

Inexiste no auto em cotejo nomeação válida e


depósito efetuado, pois, houve recusa do impetrante em firmar tal
compromisso. Recusa esta não injustificada, pois, é corrente em
todos os níveis da população que o direito brasileiro congratulou
a residência familiar.

As nulidades não param por aí; não há no auto


de penhora intimação para oposição de Embargos do Devedor. E nem
poderia haver, pois o oficial de justiça devolveu o mandado à
secretaria para que se tomassem as medidas judiciais cabíveis.

Ou seja, não havendo depósito, a penhora não


se perfez, evidentemente, e portanto, não se completou com a
intimação do devedor para oposição de defesa (Embargos).

Portanto, como considerar que a questão em


discussão encontra-se superada com o trânsito em julgado da
decisão de fls. 296 (sentença de embargos)?

Tal mácula prejudica todo o processo de


Embargos que se formou, após a primeira manifestação do
impetrante. Isto porque, de acordo com alegação do mesmo, e
amparado pelo princípio de que para se declarar a nulidade de
penhora basta simples petição dirigida ao juízo da execução,
havendo desnecessidade de oposição de Embargos.

Até porque, não poderia opor Embargos sem que


fosse intimado para tal.

Diante de todas as alegações acima, nasce o


fumus boni iuris suficientemente apto a ensejar o deferimento
liminar deste mandado de segurança, para que seja recebido o
Agravo de Petição em seu efeito suspensivo, evitando-se por fim a
realização de ato revestido de ilegalidade desde o seu
nascedouro.

Acresça-se a isto o fato de que o impetrante


não é na verdade mal pagador de suas obrigações, pois do valor
executado, já quitou metade das parcelas, restando inadimplidos
aproximados R$23.992,45 (vinte e três mil, novecentos e noventa e
dois reais e quarenta e cinco reais) por absoluta falta de
condições financeiras, e cujo acordo para minorar as prestações
devidas tornou-se frustrado por objeção do próprio exequente que
só admite a quitação integral do débito, mesmo em dias de crise
como o que vivemos atualmente.
Fato este corrobora e atesta uma boa vontade
do impetrante em honrar toda sua dívida, ciente que se encontra
de suas obrigações; não se tratando de pessoa inadimplente
contumaz, mas de cidadão que busca sobreviver à duras penas, às
custas do pequeno comércio familiar que procura manter intacto ao
arrocho e pressão do quadro econômico pintado pela política de
estabilização financeira do país.

IV. DO PERICULUM IN MORA

O risco iminente, que autoriza a concessão da


liminar, já ficou claramente evidenciado, pois a realização da
praça se dará no dia de hoje, 18.06.97 às 14:05hs.

Tal fato somente é merecedor de acautelamento


por V.Exa., na análise imediata da quaestio, esperando o
impetrante, seja concedida a liminar em tempo hábil, todavia,
para suspender a realização de hasta pública que pode se
realizar, eivada de vícios que poderão inclusive desmitificar a
seriedade desta justiça especializada.

V. DOS PEDIDOS

Face a todo o exposto e em razão da ofensa


literal a diversos dispositivos de lei, requer a impetrante se
digne Vossa Excelência de

LIMINARMENTE

conceder efeito suspensivo ao Agravo de Petição manejado,


suspendendo-se por lógica conseqüência, até final decisão, , a
realização da praça que realizar-se-á neste dia (18.06.97) às
14:05hs; expedindo-se para tanto informe da liminar (no caso de
deferimento), à Junta de Conciliação e Julgamento de Guanhães/MG,
via fac-símile, telefone, telex, telegrama, ou qualquer outro
meio urgente de comunicação não vislumbrado nesta ocasião.
Requer outrossim, que V.Exa. expeça-se ofício
à ilustre Autoridade Coatora para que preste as informações que
entenda devidas, e por fim a citação do Sr. JUVENAL DOS SANTOS
CARVALHO para vir aos autos, na condição de litisconsorte
necessário, em seu endereço, sito à Fazenda Gameleira,
Sabinópolis, Minas Gerais.

Por derradeiro, requer o prosseguimento do


feito até final decisão, quando se espera venha a ser
definitivamente concedida a SEGURANÇA, eximindo o impetrante e
sua família, da constrangedora situação de se tornar alijada de
sua residência, largada às ruas da cidade, engrossando as filas
dos diversos movimentos do sem teto, antes de regular trâmite
processual trabalhista.

Dá-se à causa o valor de R$1.000,00 (hum mil


reais).

Termos em que pede o seu deferimento.


Belo Horizonte, 18 de junho de 1.997.

Peter de Moraes Rossi


OAB/MG 42.337

Gustavo Oliveira de Siqueira


OAB/MG 56.963

Roger Sejas Guzman Junior


OAB/MG 63.386

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