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ISPCAN

Curso: Economia / Período: Laboral/Manhã


Aula nº 5 IVº ano Professor: Jonivánio Cassuada

Tema: O problema da justiça

- Enquadramento histórico
O fenómeno Justiça é originário da mitologia grega, todavia outras civilizações já
advogavam a justiça de acordo com a sua cultura e sociedade. O tema apresentará a ideia de
Aristóteles sobre justiça, o conceito de justiça social, os quatro argumentos de Cícero, as
visões de justiça em Pascal, David Hume e Hans Kelsen.

Partindo do pressuposto Aristotélico, a justiça é uma igualdade proporcional:


tratamento igual entre os iguais, e desigual entre os desiguais, na proporção de sua
desigualdade. Este fenómeno na perspectiva de Aristóteles é: “De facto, o conceito de justiça
é impreciso, sendo muitas vezes definido a CONTRARIU SENSU, depende do homem, é
subjectivo (...) e equidade é sinónimo de justiça” (Livro V da Ética a Nicômaco).

Conceito de justiça social

Toda construção política-moral, sobretudo social baseada na igualdade de direitos e


na solidariedade coletiva, isto é, um cruzamento entre o pilar económico e o pilar social. O
conceito de justiça social surge no século XIX, referindo às situações de desigualdade social,
e define a busca de equilíbrio entre as partes desiguais, por meio da criação de proteções a
favor dos pobres e dos mais fracos. Por exemplo, enquanto a justiça comutativa e corretiva de
Aristóteles defende os fortes e os iguais, a justiça destributiva chamada de justiça social
defende os fracos e os desiguais (Durkheim, Rawls e Marx).

Os quatro argumentos de Cícero

Marco Túlio Cícero (106-43 a.C.). Filósofo, orador, escritor, advogado e político
romano. Para Cícero, a justiça se confunde com a lei mas deve-se estabelecer distinções, pois
a lei pode eventualmente ser justa e a justiça nunca pode ser lei.
O 1º Argumento. Cícero: “Se a justiça é fundada sobre uma convenção de interesses,
então ela não pode ser estável”. Quer dizer então que os interesses são maléficos e errados?
– Bem, simplesmente para Cícero quer dizer que a justiça não é uma só, ela pode mudar; quer
dizer também que os interesses dos homens podem ser conflitantes e, as forças que lutam

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sobre esses interesses podem se inverter. Quando se diz que a justiça é uma questão de
convenção, então deve se explicar o que uma CONVENÇÃO quer dizer – nesta linha de
pensamento Cíceriano, uma CONVENÇÃO quer dizer o interesse do mais forte (conforme já
defendera Trosimarco e Glauco, pensadores e filósofos gregos). Dito de outro modo, na hora
em que o forte ficar fraco e fraco ficar forte então a justiça se inverterá, logo, a justiça não
pode se fundar na convenção de um mero interesse.

O 2º Argumento. Cícero: “Se a justiça fosse simples convenção e se ela significasse


obediência temerosa à lei, as virtudes que não são obediência temerosa à lei não existiriam,
ora elas existem”. Ou a virtude não é medo ou tudo é justo por convenção através do medo,
por exemplo; um professor não mete a mão na bunda de uma aluna porque tem virtude e não
necessariamente medo (tem o valor de respeito, princípios racionais e morais). Por outro
lado, imagine a Madre Teresa de calcutá, uma grande madre que passou e dedicou a sua vida
ajudando os outros (se pensares que essa madre fez caridade porque tinha medo da lei divina e
justiça de Deus e não porque foi virtuosa, então a tua análise é ao mínim o ousadia estupida).
Será que Madre Teresa de calcutá não foi virtuosa? Será que fez tudo por que tinha medo das
leis e de Deus?

O 3º Argumento. Cícero: “Dizer que o justo e o injusto são resultados de uma


convenção, significa que a verdade se define por decreto, ora, a verdade não se decreta nem
pela maioria e nem mesmo pela unanimidade”. Bom, o quê que Cícero quer nos explicar com
essa frase? – Cícero nos explica que a justiça não está no acordo, não está aqui, mas sim em
um outro lugar, ou seja, a verdade e a justiça não estão em uma decisão, estão em outro lugar
(Cícero concorda com Platão, “Mundo das ideias”).

O 4º Argumento. Cícero: “Se não existisse justiça fora das leis, fora das convenções,
fora dos acordos, fora dos pactos, então não poderíamos julgá-los (…), mas nós podemos
julgá-los”. Por exemplo, imagine uma mãe que explora a sua filha em lenocínio1para ter
alimentos em casa e as duas concordam. Repara que isso é ílicito e, portanto, nós podemos
julgar esse acordo da mãe e da filha, quer dizer que se a justiça fosse só uma questão de
acordo, pactos e convenções então não poderíamos julgar esse acordo ílicito. Logo, para
Cícero existe uma justiça para além das leis (Justiça NÃO-CONVENÇÃO).

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Justiça no pensamento de Pascal

Blaise Pascal (1623-1662) foi um filósofo cristão, teólogo, inventor, físico e


matemático francês. Pascal escreveu uma obra chamada “PENSAMENTOS” e diz de forma
simplória: “(...) a justiça e a força são absolutamente complementares, e ao invés de se
contradizerem ambas se interligam, não se enfrentam e nem se reduzem, existindo
mutuamente, são indissociáveis”. Mas como assim, será isso verdade? Pascal diz que o ideal
seria que a justiça fosse forte e a força fosse justa. Eis a frase famosa de Pascal: “A justiça
sem a força é impotência e a força sem a justiça é tirania”, PENSAMENTOS, p. 16.

David Hume (1711-1776), filósofo e historiador escocês, foi, juntamente com


Adam Smith e Thomas Reid, entre outros, uma das figuras mais importantes do
chamado iluminismo escocês. Hume escreveu uma obra gigantésca intitulada de TNH
(Tratado da Natureza Humana) e na última parte “Sobre a Moral” ele nos apresenta a
relexão sobre justiça dizendo: “É empírico de que a justiça é uma convenção, ou seja, já
observei de que a justiça nasce de convenção humana”. Hume nos afirma de que existe uma
espécie de necessidade de justiça na sociedade e isso ocorre porque esta necessidade é
consequência de certas condições materiais muito claras, pois se elas desaparecerem também
desaparece a necessidade de justiça. Quais são essas condições de justiça? – São: condições
do homem, isto é, as paixões e afectos e, aquilo que o homem busca no mundo. Para
evidenciar a primeira condição, a justiça convenção pressupõe que o homem seja dotado de
uma generosidade restrita (a satisfação dos próprios prazeres e que são circunstanciais,
importa quem não te aborrece), por exemplo: Não é errado do ponto de vista de Hume um
índio aniquilar mil angolanos que não pertencem à sua raça. A segunda condição para que
haja justiça tem a ver com a escassez dos recursos naturais do mundo, pois o homem é
dotado de generosidade restrita; é por isso que existe a propriedade como uma manifestação
da justiça porque existe escassez. Explica Hume, tanto é assim que quando não há escassez
não há propriedade; por exemplo, o ar, a água e a terra são elementos vitais e, como existem
de maneira abundante não há necessidade de justiça. Simplificando, se tiver generosidade
restrita e escassez, então surge a justiça. Se tudo no mundo for abundante então não há
necessidade de justiça. Quanto maior a escassez de recursos maior será a necessidade de
justiça e a proteção da propriedade.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Arron, R. - As etapas do pensamento sociológico. (págs: 297-298, a superestrutura e
infraestrutura)

ARISTÓTELES, E. Livro V da Ética a Nicômaco.

Cícero, M. T. DE LEGIBUS. Os 4 Argumentos sobre a justiça.

Durkheim, E. - Divisão Social do trabalho. São Paulo, Ed. Martin Claret, 2002

HUME, D. Tratado da Natureza Humana; Livro 3: "Da Moral", reflexão sobre justiça.

KELSEN, Hans. (1998) O problema da justiça. São Paulo, Martins Fontes. p 321

KELSEN, Hans. (2000c). A Ilusão da Justiça. São Paulo, Martins Fontes. p 12

LANDO LAU, R. Sistemas de Filosofia do Direito. Texto editora. 1ª edição, Luanda: 2010

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