Você está na página 1de 4

PROF.

VÍTOR MENEZES

Recebi alguns e-mails perguntando sobre o teorema de Chebyshev.


Na verdade, em nem sei se, realmente, é assim que escreve o nome do tal teorema (já
o vi escrito de outras maneiras). De todo modo, vejamos do que se trata.
Imagine o seguinte problema:
Numa sala de aula com vários alunos, há uma criança com 1,46 m. Pergunta: esta
criança é alta ou baixa (em comparação com seus colegas)?
Difícil responder à pergunta, não? Parece que faltam dados para respondermos.
Vamos fornecer um dado adicional. A altura média na sala de aula é de 1,50 metros.
Vamos reformular a pergunta: numa sala de aula em que a altura média é de 1,50 m,
uma criança com altura de 1,46 é alta ou baixa?
Você já se acha em condições de responder à pergunta?

Considere duas possíveis configurações de salas de aula (as alturas estão expressas em
metros):
Sala A Sala B
1,44 1,40
1,46 1,42
1,47 1,44
1,48 1,44
1,48 1,45
1,48 1,45
1,48 1,46
1,49 1,47
1,49 1,48
1,49 1,49
1,50 1,50
1,50 1,52
1,51 1,52
1,52 1,53
1,52 1,53
1,53 1,55
1,53 1,56
1,53 1,59
1,55 1,60
1,55 1,60

A partir da tabela acima, pode-se calcular a média e o desvio padrão das alturas (em
metros):

www.pontodosconcursos.com.br
PROF. VÍTOR MENEZES

Sala Sala B
A
Média 1,5 1,5
Desvio padrão (valores aproximados) 0,03 0,06

Note que, apesar das médias nas duas salas serem iguais, na sala A é mais razoável que
classifiquemos a tal criança com baixa. Ele é o segundo menor da turma. Mas não
apenas isto. As idades, na turma A, têm uma dispersão pequena (baixo desvio padrão).
Ou seja, as idades estão bastante concentradas em torno da média (=1,5m). Numa
classe assim, quem tem 1,46 m está significativamente distante da altura média de 1,5.
Na sala ‘A’, a criança em análise está a mais de um desvio padrão da média.
Basta ver que:
1,5 − 1,46 = 0,04
A criança analisada tem altura 0,04 m inferior à média. E o desvio padrão das idades,
nesta sala, é de 0,03 m.
Na sala B, a situação é diferente. Embora a altura média também seja de 1,5, lá os
dados estão mais dispersos. O desvio padrão é mais elevado. Na sala B há muitas
crianças com altura bem abaixo de 1,50m. E também tem vários grandalhões, com
1,60m. Estes grandalhões compensam os mais baixos, e a idade média fica em 1,5m.
Pois bem, na sala B, a criança analisada já não seria considerada tão baixa assim.
Basta notar que, agora, ela está a menos de um desvio padrão da média.

Voltemos para a sala A. O desvio padrão é de 0,03. A média é de 1,5.


1,5 − 0,03 = 1,47
Alunos abaixo de 1,47 m estão a mais de 1 desvio padrão da média. Há apenas dois
alunos nesta situação. Um deles é a criança em análise (com altura de 1,46).
Na sala B, o desvio padrão é de 0,06. A média é de 1,5.
1,5 − 0,06 = 1,44
Alunos com altura inferior a 1,44 m estão a mais de 1 desvio padrão da média. Há
apenas dois alunos nesta situação. E a criança em análise não pertence a este grupo.
Interessante notar que, nas duas salas, temos dois alunos cujas alturas são inferiores à
média menos 1 desvio padrão.
Com base neste exemplo, podemos concluir que o desvio padrão é uma boa medida
de quão afastado um determinado valor está da média dos dados.
Pois bem, a idéia do teorema de Chebyshev passa mais ou menos por aí.
Este teorema nos dá um valor mínimo para a proporção θ de dados que distam menos
de k desvios padrão da média.
A fórmula é:

www.pontodosconcursos.com.br
PROF. VÍTOR MENEZES

1
θ ≥ 1−
k2
A fórmula só vale para k > 1 .

Assim, a proporção de valores que distam menos de 2 desvios padrão da média é de:
1 1
θ ≥ 1− 2
⇒ θ ≥ 1 − 2 ⇒ θ ≥ 0,75
k 2
Mais de 75% dos dados distam menos de 2 desvios padrão da média.
Analogamente, para k=5, temos:
1 1
θ ≥ 1− 2
⇒ θ ≥ 1 − 2 ⇒ θ ≥ 0,96
k 5
Mais de 96% dos dados distam menos de 5 desvios padrão da média.

Para ilustrar a sua aplicação, segue resolução da questão abaixo, tirada do AFRF 2003.

As realizações anuais Xi dos salários anuais de uma firma com N empregados


produziram as estatísticas

Seja P a proporção de empregados com salários fora do intervalo [R$ 12.500,00; R$


16.100,00]. Assinale a opção correta.
a) P é no máximo 1/2
b) P é no máximo 1/1,5
c) P é no mínimo 1/2
d) P é no máximo 1/2,25
e) P é no máximo 1/20

Vamos reescrever o intervalo dado em termos de desvios padrão.


Podemos dizer que:
12.500 = 14.300 − 1.800
Portanto:
12.500 = 14.300 − 1,5 × 1.200
12.500 = 14.300 − 1,5 × S
Analogamente, podemos dizer que:

www.pontodosconcursos.com.br
PROF. VÍTOR MENEZES

16.100 = 14.300 + 1.800


16.100 = 14.300 + 1,5 × 1.200
16.100 = 14.300 + 1,5 × S
Na verdade, queremos saber qual a proporção de valores fora do intervalo

[X − 1,5S ; X + 1,5S ]
Primeiro passo:
Vamos encontrar qual a proporção θ de valores que está dentro deste intervalo.
Dentro deste intervalo, temos os valores que estão a menos de 1,5 desvios padrão da
média.
Para encontrar θ , usamos o teorema de Chebyshev.
1
θ ≥ 1−
k2
1
θ ≥ 1−
1,5 2

Logo, a proporção P de valores que está fora do referido intervalo (ou seja, estão a
mais de 1,5 desvios padrão da média) é:
P ≤ 1−θ
 1 
P ≤ 1 − 1 − 2 
 1,5 
1
P≤
1,5 2
1
P≤
2,25
Resposta: D.

Este teorema nos fornece apenas uma aproximação. Já foi bastante exigido em provas.
Contudo, considerando que tem sido cada vez mais usual a cobrança de distribuições
de probabilidades em provas de concursos, creio que este teorema acabe aparecendo
com menos freqüência.

Mudando de assunto: nosso curso de estatística para o ICMS SP já foi lançado no site.
São 9 aulas. As 5 primeiras já estão disponíveis.

Inté!

www.pontodosconcursos.com.br

Você também pode gostar