Você está na página 1de 55

Sumário

PRISÃO EM FLAGRANTE ...................................................................................................................... 3


PRISÃO PREVENTIVA ............................................................................................................................. 6
PRISÃO CAUTELAR – TÓPICOS DIVERSOS ..................................................................................... 15
PROVAS .................................................................................................................................................. 18
JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS ..................................................................................................... 28
OUTRAS TESES RELEVANTES ............................................................................................................ 31
OUTROS JULGADOS RELEVANTES .................................................................................................. 32
CRIMES CONTRA A PESSOA ............................................................................................................. 35
CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO ................................................................................................... 39
OUTROS TIPOS PENAIS ...................................................................................................................... 50

Olá, pessoal!

Esse é nosso e-book de jurisprudência do STJ (compilada) voltado para a PCERJ.

Busquei relacionar aqui os julgados do STJ que reputo mais importantes para a prova da
PCERJ, em direito penal e, principalmente, direito processual penal.

Além de compilar as teses e julgados, fiz algumas observações em alguns deles, apontando
eventuais teses que foram posteriormente superadas por mudança de entendimento, etc.

Bons estudos!

E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) 1


Prof. Renan Araujo
✅12h de revisão
✅02 simulados de 30 questões cada, comentados por escrito
✅BÔNUS: 3h de aula apenas sobre jurisprudência do STJ

Para saber mais sobre o curso de revisão, clique aqui:

https://www.hotmart.com/product/revisao-final-pcerj/T65184100G

Use o cupom EBOOK30 e garanta 30% de desconto! Somente para os 30 primeiros!

E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) 2


Prof. Renan Araujo
PRISÃO EM FLAGRANTE
JURISPRUDÊNCIA EM TESES – EDIÇÃO 120

1) Não há crime, quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível a sua
consumação. (Súmula n. 145/STF)

2) O tipo penal descrito no art. 33 da Lei n. 11.343/2006 é de ação múltipla e de natureza


permanente, razão pela qual a prática criminosa se consuma, por exemplo, a depender do caso
concreto, nas condutas de "ter em depósito", "guardar", "transportar" e "trazer consigo", antes
mesmo da atuação provocadora da polícia, o que afasta a tese defensiva de flagrante
preparado. – Essa tese foi posteriormente corroborada pelo art. 33, §1º, IV da Lei de
Drogas, incluído pela Lei 13.964/19 (pacote anticrime). Ou seja, a venda de droga a policial
disfarçado configura crime (não é crime impossível), caso haja elementos que indiquem
a prática criminosa antecedente (trazer consigo, ter em depósito, etc.).

3) No flagrante esperado, a polícia tem notícias de que uma infração penal será cometida e
passa a monitorar a atividade do agente de forma a aguardar o melhor momento para executar
a prisão, não havendo que se falar em ilegalidade do flagrante.

4) No tocante ao flagrante retardado ou à ação controlada, a ausência de autorização judicial


não tem o condão de tornar ilegal a prisão em flagrante postergado, vez que o instituto visa a
proteger o trabalho investigativo, afastando a eventual responsabilidade criminal ou
administrava por parte do agente policial.

5) Para a lavratura do auto de prisão em flagrante é despicienda a elaboração do laudo


toxicológico definitivo, o que se depreende da leitura do art. 50, §1º, da Lei n. 11.343/2006,
segundo o qual é suficiente para tanto a confecção do laudo de constatação da natureza e da
quantidade da droga.

6) Eventual nulidade no auto de prisão em flagrante devido à ausência de assistência por


advogado somente se verifica caso não seja oportunizado ao conduzido o direito de ser
assistido por defensor técnico, sendo suficiente a lembrança, pela autoridade policial, dos
direitos do preso previstos no art. 5º, LXIII, da Constituição Federal.

7) Uma vez decretada a prisão preventiva, fica superada a tese de excesso de prazo na
comunicação do flagrante.

E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) 3


Prof. Renan Araujo
8) Realizada a conversão da prisão em flagrante em preventiva, fica superada a alegação de
nulidade porventura existente em relação à ausência de audiência de custódia. - Tese
corroborada várias vezes:

(...) O entendimento desta Corte Superior de Justiça é de que "a não realização
de audiência de custódia no prazo de 24 horas não acarreta a automática
nulidade do processo criminal, assim como que a conversão do flagrante
em prisão preventiva constitui novo título a justificar a privação da
liberdade, ficando superada a alegação de nulidade decorrente da
ausência de apresentação do preso ao Juízo de origem. Precedentes." (RHC
n. 119.091/MG, Rel. Ministro Antonio Saldanha Palheiro, 6ª T., DJe 12/12/2019).
(...) (RHC 154.274/MG, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA,
julgado em 14/12/2021, DJe 17/12/2021)

9) Não há nulidade da audiência de custódia por suposta violação da Súmula Vinculante n. 11


do STF, quando devidamente justificada a necessidade do uso de algemas pelo segregado.

10) Não há nulidade na hipótese em que o magistrado, de ofício, sem prévia provocação da
autoridade policial ou do órgão ministerial, converte a prisão em flagrante em preventiva,
quando presentes os requisitos previstos no art. 312 do Código de Processo Penal - CPP. – Tese
SUPERADA. O STJ modificou seu entendimento posteriormente, passando a entender que
é vedado ao Juiz converter a prisão em flagrante em prisão preventiva de ofício, ou seja,
sem provocação. Vejamos:

(...) a Terceira Seção desta Corte firmou entendimento de que não é possível a
decretação da prisão preventiva de ofício em face do que dispõe a Lei
13.964/2019, mesmo se decorrente de prisão em flagrante e se não tiver
ocorrido audiência de custódia. Isso porque não existe diferença entre a
conversão da prisão em flagrante em preventiva e a decretação da prisão
preventiva como uma primeira prisão.
Precedente.
3. Embargos de declaração rejeitados.
(EDcl no AgRg no HC 653.425/MG, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA
TURMA, julgado em 16/11/2021, DJe 19/11/2021)

11) Com a superveniência de decretação da prisão preventiva ficam prejudicadas as alegações


de ilegalidade da segregação em flagrante, tendo em vista a formação de novo título ensejador
da custódia cautelar.

DECISÕES IMPORTANTES

E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) 4


Prof. Renan Araujo
1) A violação do domicílio para fins de prisão em flagrante exige que haja FUNDADA suspeita
de que, dentro da residência, esteja ocorrendo crime (ex.: ter droga em depósito). A mera
existência de denúncia anônima informando a existência de droga na residência, sem outros
elementos que a confirmem, não justifica o ingresso na residência, AINDA QUE os agentes
policiais efetivamente encontrem a droga no local:

1. É pacífico nesta Corte o entendimento de que, nos crimes permanentes, tal


como o tráfico de drogas, o estado de flagrância se protrai no tempo, o
que, todavia, não é suficiente, por si só, para justificar busca domiciliar
desprovida de mandado judicial, exigindo-se a demonstração de indícios
mínimos de que, naquele momento, dentro da residência, está-se ante
uma situação de flagrante delito.
2. Consoante o julgamento do RE 603.616/RO, não é necessária certeza quanto
à ocorrência da prática delitiva para se admitir a entrada em domicílio,
bastando que, em compasso com as provas produzidas, seja demonstrada a
justa causa na adoção da medida, ante a existência de elementos concretos que
apontem para o flagrante delito.
3. Hipótese em que os policiais, diante de denúncia anônima recebida,
dirigiram-se à residência paciente e avistaram seu rosto numa janela, ocasião
em que este correu para os fundos da casa, não obtendo êxito, naquele
instante, os policiais em adentrar naquela para detê-lo, porquanto o muro da
frente era alto, só o fazendo momentos após, encontrando no seu interior
"meio tijolo de cocaína, seis porções grandes de crack e 27 porções pequenas
de crack, além de uma balança de precisão e três facas com resquícios da droga.
No banheiro próximo à cozinha, havia um fundo falso atrás da porta, no chão,
onde foi encontrado mais um tijolo de cocaína", sem mais outras
demonstrações e indícios mínimos de que, naquele momento, dentro da casa,
estar-se-ia diante de uma situação de flagrante delito.
4. Nesse contexto, configura-se a nulidade da prisão em flagrante em virtude
das provas obtidas ilegalmente, por meio da entrada dos policiais em
domicílio alheio desprovida de mandado judicial, sendo necessária, de
acordo com a jurisprudência deste Tribunal, "a prévia realização de
diligências policiais para verificar a veracidade das informações recebidas
(ex: 'campana que ateste movimentação atípica na residência')" (AgRg no
HC 665.373/SP, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA,
julgado em 03/08/2021, DJe 10/08/2021).
(...)
(HC 696.084/SP, Rel. Ministro OLINDO MENEZES (DESEMBARGADOR
CONVOCADO DO TRF 1ª REGIÃO), SEXTA TURMA, julgado em 07/12/2021, DJe
13/12/2021)

E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) 5


Prof. Renan Araujo
2) Prisão em flagrante (sem violação de domicílio) em razão denúncia anônima – É
possível. O STJ entende que, recebendo denúncia anônima sobre situação de flagrante delito,
a polícia pode se posicionar e realizar o chamado “flagrante esperado”:

(...) Em relação à afirmada denúncia anônima que noticiava flagrante,


diferentemente do que ocorre para a instauração do Inquérito ou para a
adoção de providências cautelares de outra ordem, a formalização dos
informes advindos de fonte humana é desnecessária e não se coaduna com a
sistemática vigente, de informações recebidas pelo "disque-denúncia" ou por
outros meios de coleta de elementos informais. O propósito que imbuiu
eventual delator não é fator relevante e não há ato normativo que exija que
informações que desencadeiem averiguações prévias sejam formalizadas. Isso
porque a maneira como a informação chega à Autoridade Policial é
desinfluente. Tomando ela conhecimento da existência de um crime -
quanto mais em situação de flagrância -, é seu dever proceder ao exame
da veracidade da notícia, inclusive para evitar a perda da oportunidade.
(...)
(APn 843/DF, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, CORTE ESPECIAL, julgado em
06/12/2017, DJe 01/02/2018)

3) Prisão em flagrante por guardas municipais – O STJ entende ser possível, na medida em
que qualquer pessoa do povo poderia realizar a prisão em flagrante, de forma que nada
impede a realização da prisão em flagrante por guardas municipais:

(...) Com efeito, assente na jurisprudência deste Tribunal Superior que, "Nos
termos do artigo 301 do Código de Processo Penal, qualquer pessoa pode
prender quem esteja em flagrante delito, de modo que inexiste óbice à
realização do referido procedimento por guardas municipais, não
havendo, portanto, que se falar em prova ilícita no caso em tela.
Precedentes" (HC n. 421.954/SP, Quinta Turma, Rel.
Min. Reynaldo Soares da Fonseca, DJe de 2/4/2018).
(...)
(HC 681.625/SP, Rel. Ministro JESUÍNO RISSATO (DESEMBARGADOR
CONVOCADO DO TJDFT), QUINTA TURMA, julgado em 07/12/2021, DJe
15/12/2021)

PRISÃO PREVENTIVA
JURISPRUDÊNCIA EM TESES – EDIÇÃO 32

E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) 6


Prof. Renan Araujo
1) A fuga do distrito da culpa é fundamentação idônea a justificar o decreto da custódia
preventiva para a conveniência da instrução criminal e como garantia da aplicação da lei penal.
– Trata-se da fuga logo após o crime, para se furtar à aplicação da lei penal.

2) As condições pessoais favoráveis não garantem a revogação da prisão preventiva quando


há nos autos elementos hábeis a recomendar a manutenção da custódia.

3) A substituição da prisão preventiva pela domiciliar exige comprovação de doença grave, que
acarrete extrema debilidade, e a impossibilidade de se prestar a devida assistência médica no
estabelecimento penal. – Trata-se de tese que já foi corroborada várias vezes:

(...) A negativa de concessão de prisão domiciliar está amparada no


entendimento desta Corte Superior, no sentido de que, à luz do disposto
no art. 318, inciso II, do Código de Processo Penal, o Acusado deve
comprovar que se encontra extremamente debilitado por motivo de grave
estado de saúde e a impossibilidade de receber tratamento no
estabelecimento prisional, o que não ocorreu no caso.
7. Agravo regimental desprovido.
(AgRg no HC 702.485/GO, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em
23/11/2021, DJe 01/12/2021)

4) A prisão preventiva poderá ser substituída pela domiciliar quando o agente for
comprovadamente imprescindível aos cuidados especiais de pessoa menor de 06 (seis) anos
de idade ou com deficiência.

5) As medidas cautelares diversas da prisão, ainda que mais benéficas, implicam em restrições
de direitos individuais, sendo necessária fundamentação para sua imposição.

6) A citação por edital do acusado não constitui fundamento idôneo para a decretação da
prisão preventiva, uma vez que a sua não localização não gera presunção de fuga. – Não se
deve confundir “revelia” (no sentindo de não ter sido encontrado o réu) com “fuga”. A
fuga denota a intenção de se furtar à aplicação da lei penal. O fato de o réu não ter sido
encontrado não pode ser compreendido como presunção de que ele tenha fugido.

7) A prisão preventiva não é legítima nos casos em que a sanção abstratamente prevista ou
imposta na sentença condenatória recorrível não resulte em constrição pessoal, por força do
princípio da homogeneidade. – Tal princípio estabelece que a medida cautelar (e a prisão
preventiva é uma medida cautelar de caráter pessoal) não pode ser mais gravosa que a
eventual penal cominada ou imposta ao agente. Logo, se a pena cominada ao crime ou
imposta na sentença não resultaria em constrição pessoal, não seria admissível a prisão

E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) 7


Prof. Renan Araujo
preventiva como medida cautelar, eis que seria imposição de medida cautelar mais
grave que a própria e eventual futura pena.

8) Os fatos que justificam a prisão preventiva devem ser contemporâneos à decisão que a
decreta. – Trata-se do princípio da contemporaneidade. Para se decretar uma prisão
preventiva, é necessário demonstrar o risco que a liberdade do imputado representa
(periculum libertatis). Essa demonstração deve estar baseada em fatos novos ou
contemporâneos, de forma que, a princípio, não é lícita a decretação de prisão
preventiva tendo como fundamento fatos ocorridos em lapso temporal muito extenso
em relação à decisão.

9) A alusão genérica sobre a gravidade do delito, o clamor público ou a comoção social não
constituem fundamentação idônea a autorizar a prisão preventiva.

10) A prisão preventiva pode ser decretada em crimes que envolvam violência doméstica e
familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para
o fim de garantir a execução das medidas protetivas de urgência.

11) A prisão cautelar deve ser fundamentada em elementos concretos que justifiquem,
efetivamente, sua necessidade.

12) A prisão cautelar pode ser decretada para garantia da ordem pública potencialmente
ofendida, especialmente nos casos de: reiteração delitiva, participação em organizações
criminosas, gravidade em concreto da conduta, periculosidade social do agente, ou pelas
circunstâncias em que praticado o delito (modus operandi).

13) Não pode o tribunal de segundo grau, em sede de habeas corpus, inovar ou suprir a falta
de fundamentação da decisão de prisão preventiva do juízo singular.

14) Inquéritos policiais e processos em andamento, embora não tenham o condão de


exasperar a pena-base no momento da dosimetria da pena, são elementos aptos a demonstrar
eventual reiteração delitiva, fundamento suficiente para a decretação da prisão preventiva.

15) A segregação cautelar é medida excepcional, mesmo no tocante aos crimes de tráfico de
entorpecente e associação para o tráfico, e o decreto de prisão processual exige a especificação
de que a custódia atende a pelo menos um dos requisitos do art. 312 do Código de Processo
Penal.

E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) 8


Prof. Renan Araujo
DECISÕES IMPORTANTES

1) Condições pessoais favoráveis do agente (primariedade, bons antecedentes, etc.) não


impedem, por si sós, a decretação da prisão preventiva, caso presentes os motivos para tanto:

(...) 7. As condições subjetivas favoráveis do paciente, tais como


primariedade, bons antecedentes, ocupação lícita e residência fixa, por si
sós, não obstam a segregação cautelar, quando presentes os requisitos
legais para a decretação da prisão preventiva.
(...) (AgRg no HC 707.483/PR, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA,
QUINTA TURMA, julgado em 07/12/2021, DJe 13/12/2021)

2) Apesar do princípio da contemporaneidade (o motivo que enseja a decretação da prisão


preventiva deve ser “recente”), o STJ entende que há possibilidade de mitigação a tal
princípio, principalmente em duas situações:
§ Quando, ainda que mantido período de aparente conformidade com o Direito, a
natureza do delito indicar a alta possibilidade de reincidência (ex.: infrator não praticou
outros crimes recentemente, mas o crime em tese por ele praticado agora indica alta
probabilidade de reiteração futura);
§ Quando existam indícios de que ainda persistem atos de desdobramento da cadeia
delitiva inicial (ou repetição de atos habituais), como no caso de pertencimento a
organização criminosa;

(...) A regra da contemporaneidade comporta mitigação quando, ainda que


mantido período de aparente conformidade com o Direito, a natureza do delito
indicar a alta possibilidade de recidiva ou "ante indícios de que ainda persistem
atos de desdobramento da cadeia delitiva inicial (ou repetição de atos
habituais)", como no caso de pertencimento a organização criminosa (HC n.
496.533/DF, relator Ministro Rogerio Schietti Cruz, Sexta Turma DJe 18/6/2019).
5. Além disso,[a] necessidade de se interromper ou diminuir a atuação de
integrantes de organização criminosa enquadra-se no conceito de garantia da
ordem pública, constituindo fundamentação cautelar idônea e suficiente para
a prisão preventiva (HC n.
371.769/BA, Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, DJe
15/5/2017).
6. Concretamente demonstrada pelas instâncias ordinárias a necessidade da
custódia, não se afigura suficiente a fixação de medidas cautelares alternativas
7. Ordem denegada.

E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) 9


Prof. Renan Araujo
(HC 668.202/CE, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado
em 23/11/2021, DJe 25/11/2021)

3) Atos infracionais pretéritos podem ser valorados como fundamento para decretação
da prisão preventiva para a garantia da ordem pública? Sim. O fundamento da garantia da
ordem pública reside na necessidade de evitar a reiteração delitiva, e prognose sobre a maior
ou menor probabilidade de reiteração passa pela análise do passado do agente. Posto isso, o
STJ entende que maus antecedentes, reincidência, atos infracionais pretéritos ou até mesmo
outras ações penais ou inquéritos podem ser valorados para fins de justificar a decretação da
prisão preventiva para a garantia da ordem pública:

(...) Como sedimentado em farta jurisprudência desta Corte, maus


antecedentes, reincidência, atos infracionais pretéritos ou até mesmo
outras ações penais ou inquéritos em curso justificam a imposição de
segregação cautelar como forma de evitar a reiteração delitiva e, assim,
garantir a ordem pública.
(...) (HC 696.693/MG, Rel. Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO, SEXTA
TURMA, julgado em 07/12/2021, DJe 13/12/2021)

4) O descumprimento de medida cautelar pode ser utilizado, por si só, como


fundamento para a decretação da prisão preventiva? Sim. Entende o STJ que o
descumprimento de medida cautelar imposta como condição para a liberdade provisória (ex.:
monitoração eletrônica, proibição de frequentar certos lugares, etc.) demonstra, por si só, a
adequação da prisão preventiva (embora nem sempre o Juiz vá decretar a prisão preventiva,
podendo optar por substituir a medida cautelar diversa da prisão por outra, por exemplo):

(...) Ainda que a Lei 13.964/2019 não leve sempre a essa solução (art. 282, § 4º-
CPP), a jurisprudência desta Corte Superior firmou-se no sentido de que "o
descumprimento de medida cautelar imposta como condição para a
liberdade provisória, demonstra, por si só, a adequação da prisão
preventiva para conveniência da instrução criminal" (AgRg no HC
550.382/RO, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, DJe 13/3/2020).
2. Havendo a indicação de fundamentos concretos para justificar a custódia
cautelar, não se revela cabível a aplicação de medidas cautelares alternativas à
prisão, visto que insuficientes para resguardar a ordem pública: HC 325.754/RS
- 5ª T. - unânime - Rel.
Min. LEOPOLDO DE ARRUDA RAPOSO (Desembargador convocado do TJ/PE) -
DJe 11/09/2015 e HC n. 313.977/AL - 6ª T. - unânime - Rel. Min.
Maria Thereza de Assis Moura - DJe 16/03/2015.
3. Agravo regimental improvido.

E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) 10


Prof. Renan Araujo
(AgRg no HC 666.368/SP, Rel. Ministro OLINDO MENEZES (DESEMBARGADOR
CONVOCADO DO TRF 1ª REGIÃO), SEXTA TURMA, julgado em 24/08/2021, DJe
30/08/2021)

5) O Sistema Prisional Brasileiro se encontra em um estado de coisas inconstitucional,


reconhecido pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento da ADPF n. 347. A vaga numa
unidade carcerária é um bem escasso, que deve ser reservado para casos de extrema
necessidade – O STJ vem proferindo diversos julgados no sentido de que a prisão preventiva,
até mesmo em respeito ao art. 282, §6º do CPP, é medida cautelar pessoal de natureza
extrema, somente devendo ser decretada pelo julgador quando as medidas cautelares
diversas da prisão se mostrarem insuficientes, até pela necessidade de se evitar o
encarceramento desnecessário, que contribuiria para o agravamento da crise carcerária do
país:

(...) As medidas cautelares previstas no art. 319 do Código de Processo Penal


são espécie do gênero "medidas cautelares pessoais", dentre as quais se inclui
também prisão (preventiva), medida cautelar extrema, conforme o art. 282, §
6º, do Código de Processo Penal. A imposição de qualquer restrição cautelar,
nos termos do art. 282, I e II, do Código de Processo Penal, demanda a
demonstração da presença do fumus comissi delicti e do periculum libertatis,
devendo ser aplicada observando-se a necessidade e a adequação da medida.
Ou seja, diante da necessidade de acautelamento do processo, cumpre ao juiz
modular a restrição adequada, nos limites da necessidade do caso concreto.
3. A Lei n. 12.403/2011 ampliou as possibilidades de acautelamento do
processo, não sendo mais possível a imposição automática da prisão preventiva
para o jurisdicionado com anotações anteriores. A reincidência, os maus
antecedentes e o risco de reiteração, representados por ações penais em curso,
inquéritos, registros de prática de atos infracionais, por exemplo, devem ser
lidos em contexto com os fatos.
4. O Sistema Prisional Brasileiro se encontra em um estado de coisas
inconstitucional, reconhecido pelo Supremo Tribunal Federal no
julgamento da ADPF n. 347. A vaga numa unidade carcerária é um bem
escasso, que deve ser reservado para casos de extrema necessidade.
5. O histórico da paciente acena para a necessidade de se impor medida de
restrição. Entretanto, ao analisar a medida adequada, é preciso cotejar os fatos
com as medidas à disposição do juízo e verificar a mais adequada para o caso.
A paciente foi presa em flagrante com 0,893 g de maconha. Embora todo o
contexto narrado indique sua recalcitrância na comercialização de
entorpecentes, sendo desproporcional o seu encarceramento.
6. Ordem concedida, confirmando-se a liminar, para substituir a prisão
preventiva imposta à paciente por medidas cautelares a serem implementadas

E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) 11


Prof. Renan Araujo
pelo Juízo de origem, consistentes em: a) comparecimento mensal em Juízo
para informar e justificar suas atividades e b) proibição de ausentar-se da
comarca sem autorização judicial, sem prejuízo da aplicação de outras cautelas
pelo Juiz do processo ou de decretação da prisão preventiva, em caso de
descumprimento de qualquer das obrigações impostas por força das
cautelares ou de superveniência de motivos concretos para tanto.
(HC 542.113/GO, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado
em 05/03/2020, DJe 12/03/2020)

6) O desrespeito ao prazo de 90 dias para reavaliação da necessidade de manutenção da


prisão preventiva gera reconhecimento automático da ilegalidade da prisão? Não. O STJ
vem decidindo no sentido de que tal prazo não é peremptório, e que eventual atraso na análise
não implica reconhecimento automático da ilegalidade da prisão, tampouco liberação
automática do preso:

(...) Ora, é certo que em respeito ao princípio da dignidade humana, bem como
ao da presunção de não culpabilidade, o reexame da presença dos requisitos
autorizadores da prisão preventiva deve ser realizado a cada 90 dias, nos
termos da novel norma processual.
Contudo, não se trata de termo peremptório, isto é, eventual atraso na
execução deste ato não implica automático reconhecimento da
ilegalidade da prisão, tampouco a imediata colocação do custodiado
cautelar em liberdade.
(...) (AgRg no RHC 148.120/SP, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA,
QUINTA TURMA, julgado em 15/06/2021, DJe 21/06/2021)

7) Prisão preventiva e necessidade de reavaliação a cada 90 dias – competência do órgão


julgador que proferiu a decisão (Juiz ou Tribunal que decretou inicialmente a preventiva)
– O STJ vem reiteradamente decidindo que a revisão de ofício da necessidade de manutenção
da prisão preventiva a cada 90 dias cabe APENAS ao órgão emissor da decisão, ou seja, ao juiz
ou tribunal que decretou a custódia preventiva:

(...) Nos termos do parágrafo único do art. 316 do CPP, a revisão de ofício da
necessidade de manutenção da prisão cautelar a cada 90 dias cabe tão
somente ao órgão emissor da decisão, ou seja, ao juiz ou tribunal que
decretou a custódia preventiva.
(...) (AgRg no HC 692.009/MG, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA,
QUINTA TURMA, julgado em 19/10/2021, DJe 25/10/2021)

E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) 12


Prof. Renan Araujo
8) Prisão preventiva e necessidade de reavaliação a cada 90 dias – processo com sentença
condenatória já proferida – O STJ vem reiteradamente decidindo no sentido de que a
obrigatoriedade de revisão da necessidade da prisão preventiva a cada 90 dias (art. 316, § único
do CPP) somente se aplica até a prolação de sentença condenatória. Uma vez emitido Juízo de
culpabilidade em desfavor do acusado (com a prolação da sentença condenatória recorrível),
cessa a necessidade de reavaliação periódica da prisão cautelar:

(...) Esta eg. Corte Superior, quanto ao art. 316, parágrafo único, do CPP,
entende pela obrigatoriedade de revisão do decreto prisional, a cada 90
dias, seja pelo juízo ou pelo Tribunal que decretar a prisão preventiva,
dever que se estende até o proferimento de juízo de culpabilidade em
desfavor do constrito.
(...) (AgRg no RHC 150.457/SP, Rel. Ministro JESUÍNO RISSATO
(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJDFT), QUINTA TURMA, julgado em
26/10/2021, DJe 04/11/2021)

No mesmo sentido:

(...) A obrigação de revisar, a cada 90 (noventa) dias, a necessidade de se manter


a custódia cautelar (art. 316, parágrafo único, do Código de Processo Penal) é
imposta apenas ao Juiz ou Tribunal que decretar a prisão preventiva. Com
efeito, a Lei nova atribui ao "órgão emissor da decisão" - em referência expressa
à decisão que decreta a prisão preventiva - o dever de reavaliá-la.
7. Desse modo, encerrada a instrução criminal e prolatada a sentença
condenatória, como ocorreu no caso em apreço, é inaplicável o disposto
no art. 316, parágrafo único, do Código de Processo Penal, sem prejuízo de
que a impugnação à custódia cautelar - decorrente, a partir daí, da
sentença condenatória - continue sendo feita pelas vias ordinárias
recursais ou pelo manejo da ação constitucional de habeas corpus.
8. "[...] em uma interpretação sistemática, buscando manter a harmonia entre
as duas regras do CPP - parágrafo único do art. 316 e §1º do art. 387 - o dever
de reavaliar periodicamente, a cada 90 dias, a necessidade da prisão
preventiva cessa com a formação de um juízo de certeza da culpabilidade
do réu, declarado na sentença, e ingresso do processo na fase recursal. A
partir de então, eventuais inconformismos com a manutenção da prisão
preventiva deverão ser arguidos pela defesa nos autos do recurso ou por outra
via processual adequada prevista no ordenamento jurídico." (AgRg no HC
601.151/PB, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA,
julgado em 17/11/2020, DJe 23/11/2020).
(...)
(HC 661.055/PE, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em
22/06/2021, DJe 30/06/2021)

E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) 13


Prof. Renan Araujo
9) Reavaliação periódica da necessidade de manutenção da prisão preventiva:
desnecessidade de fundamentação complexa – O STJ vem reiteradamente decidindo no
sentido de que, não havendo alterações fáticas, a fundamentação da revisão da prisão
preventiva não exige a invocação de elementos novos, razão pela qual, é suficiente que as
decisões que mantêm as prisões preventivas contenham fundamentação mais simplificada do
que aquela empregada nas decisões que as decretaram:

(...) É assente nesta Corte Superior o entendimento no sentido de que,


"Mantidas as circunstâncias fáticas, a fundamentação da revisão da prisão
preventiva não exige a invocação de elementos novos, razão pela qual,
para o cumprimento do disposto no art. 316, parágrafo único, do CPP, é
suficiente que as decisões que mantêm as prisões preventivas contenham
fundamentação mais simplificada do que aquela empregada nos atos
jurisdicionais que as decretaram" (QO no PePrPr n. 4/DF, Corte Especial, Relª.
Minª. Nancy Andrighi, DJe de 22/06/2021).
(...) (AgRg no RHC 150.457/SP, Rel. Ministro JESUÍNO RISSATO
(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJDFT), QUINTA TURMA, julgado em
26/10/2021, DJe 04/11/2021)

10) Prisão preventiva e condenação pelo Tribunal do Júri – O simples fato de o acusado
ter sido condenado pelo Tribunal do Júri a pena igual ou superior a 15 anos autoriza a
execução provisória de pena ou imposição de prisão preventiva? Não. Para o STJ, é ilegal
a prisão preventiva, ou a execução provisória da pena, como decorrência automática da
condenação proferida pelo Tribunal do Júri:

1. Após o julgamento do STF, nas Ações Declaratórias de Constitucionalidade


43, 44 e 54, houve alteração legal no art.
492, I, alínea "e", do CPP, em 24/12/2019 (Lei 13.964, de 24/12/2019), no sentido
de que Presidente do Tribunal de Júri, em caso de condenação, "mandará o
acusado recolher-se ou recomendá-lo-á à prisão em que se encontra, se
presentes os requisitos da prisão preventiva, ou, no caso de condenação a uma
pena igual ou superior a 15 (quinze) anos de reclusão, determinará a execução
provisória das penas, com expedição do mandado de prisão, se for o caso, sem
prejuízo do conhecimento de recursos que vierem a ser interpostos".
2. Sobre esse tema, entretanto, vem decidindo esta Corte que é ilegal a
prisão preventiva, ou a execução provisória da pena, como decorrência
automática da condenação proferida pelo Tribunal do Júri (HC 538.491/PE,
Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 04/08/2020,
DJe 12/08/2020). A letra da Constituição, que não faz acepção de situações
jurídicas (art.5º, LVII), deve estender-se às decisões do Júri.

E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) 14


Prof. Renan Araujo
3. Agravo regimental improvido.
(AgRg no TP 2.998/RS, Rel. Ministro OLINDO MENEZES (DESEMBARGADOR
CONVOCADO DO TRF 1ª REGIÃO), SEXTA TURMA, julgado em 21/09/2021, DJe
27/09/2021)

PRISÃO CAUTELAR – TÓPICOS DIVERSOS


1) A eventual nulidade da prisão temporária fica superada com a decretação da prisão
preventiva – Entende o STJ que eventual nulidade relativa à prisão temporária não conduz à
colocação em liberdade do imputado se já foi decretada a prisão preventiva posteriormente
(pois o imputado, agora, estará preso por outro “título”, de forma que eventual nulidade da
prisão anterior não mancha a nova prisão cautelar decretada):

(...)O Superior Tribunal de Justiça é firme em assinalar que "a superveniente


decretação da prisão preventiva torna superada a alegação de nulidade da
prisão temporária" (RHC 54.876/SP, Rel.
Ministro Gurgel de Faria, 5ª T., DJe 1º/9/2015).
(...)
(AgRg no HC 629.879/SP, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA,
julgado em 22/06/2021, DJe 28/06/2021)

2) Prisão domiciliar para gestantes, puérperas ou mulheres que são mães ou


responsáveis por crianças ou pessoas com deficiência – Presunção de necessidade da
substituição da prisão preventiva pela prisão domiciliar – A negativa de prisão domiciliar
nesses casos somente poderia se dar em caso de crimes praticados por elas mediante violência
ou grave ameaça, contra seus descendentes ou, ainda, em situações excepcionalíssimas,
devidamente indicadas pelos juízes que denegarem o beneficio. O STJ, seguindo precedente
do STF, entendeu possível ainda flexibilização da própria prisão domiciliar, de forma a permitir
que se dê apenas no período noturno (assemelhando-se ao recolhimento domiciliar noturno),
para permitir o trabalho no período diurno e evitar a reiteração delitiva:

(...) 2. O regime jurídico da prisão domiciliar, especialmente no que pertine à


proteção da integridade física e emocional da gestante e dos filhos menores de
12 anos, e as inovações trazidas pela Lei n. 13.769/2018 decorrem,
indiscutivelmente, do resgate constitucional do princípio da fraternidade
(Constituição Federal: preâmbulo e art.3º).
3. Os artigos 318, 318-A e B do Código de Processo Penal (que permitem a
prisão domiciliar da mulher gestante ou mãe de filhos com até 12 anos
incompletos, dentre outras hipóteses) foram instituídos para adequar a
legislação brasileira a um compromisso assumido internacionalmente pelo
Brasil nas Regras de Bangkok. "Todas essas circunstâncias devem constituir

E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) 15


Prof. Renan Araujo
objeto de adequada ponderação, em ordem a que a adoção da medida
excepcional da prisão domiciliar efetivamente satisfaça o princípio da
proporcionalidade e respeite o interesse maior da criança. Esses vetores, por
isso mesmo, hão de orientar o magistrado na concessão da prisão domiciliar"
(STF, HC n.
134.734/SP, relator Ministro CELSO DE MELO).
4. Aliás, em uma guinada jurisprudencial, o Supremo Tribunal Federal passou a
admitir até mesmo o Habeas Corpus coletivo (Lei n. 13.300/2016) e concedeu
comando geral para fins de cumprimento do art. 318, V, do Código de Processo
Penal, em sua redação atual. No ponto, a orientação da Suprema Corte, no
Habeas Corpus n. 143.641/SP, da relatoria do Ministro RICARDO
LEWANDOWSKI, julgado em 20/2/2018, é no sentido de substituição da prisão
preventiva pela domiciliar de todas as mulheres presas, gestantes,
puérperas ou mães de crianças e deficientes, nos termos do art. 2º do ECA
e da Convenção sobre Direitos das Pessoas com Deficiências (Decreto
Legislativo 186/2008 e Lei 13.146/2015), salvo as seguintes situações:
crimes praticados por elas mediante violência ou grave ameaça, contra
seus descendentes ou, ainda, em situações excepcionalíssimas, as quais
deverão ser devidamente fundamentadas pelos juízes que denegarem o
beneficio.
(...)
7. Flexibilização das regras da prisão domiciliar. Possibilidade e necessidade.
Invoca-se, ainda, precedente do Ministro Ricardo Lewandowiski (HC n. 170.825,
julgado em 9/9/2019), para dar interpretação conforme ao regime da prisão
domiciliar e estabelecer a possibilidade de flexibilização dos seus termos, a fim
de permitir que a mulher beneficiada, única responsável pelas crianças
menores de 12 (doze) anos, tenha condições de cuidar da casa, dos filhos e de
trabalhar, ainda que informalmente, para o sustento da prole, evitando, assim,
a reiteração delitiva no ambiente doméstico.
8. Ponderando-se os interesses envolvidos no caso concreto, uma vez
preenchidos os requisitos objetivos insculpidos nos art. 318, V, 318-A e B do
Código de Processo Penal, é legítima a concessão da prisão domiciliar, que deve
ser flexível, e compreenderá: (i) recolhimento domiciliar de 22 horas às 6 horas
do dia seguinte; (ii) comparecimento em juízo, quando solicitado; e (iii) não
alteração do seu endereço sem prévia comunicação ao juízo; sem prejuízo da
fixação de outras cautelares, a critério e sob acompanhamento do Juízo de
primeiro grau.
9. Adequação legal, reforçada pela necessidade de preservação da integridade
física e emocional dos infantes. Precedentes do STF e do STJ.
10. Agravo regimental conhecido e não provido.
(AgRg no HC 669.834/SP, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA,
QUINTA TURMA, julgado em 07/12/2021, DJe 13/12/2021)

E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) 16


Prof. Renan Araujo
3) Prisão cautelar: possibilidade de utilização de fundamentação “per relationem” – A
decisão que decreta prisão cautelar deve ser devidamente fundamentada, como toda e
qualquer decisão judicial. Porém, isso não impede que o magistrado se valha da chamada
“fundamentação per relationem”, quando utiliza trechos de decisões pretéritas ou parecer
ministerial como razões para sua decisão, desde que a matéria tenha sido abordada pelo
próprio julgador, com menção a argumentos próprios. Ou seja, não pode o julgador se limitar
a utilizar a fundamentação per relationem, embora possa utilizá-la para endossar os
argumentos que ele próprio utilizou:

(...) É entendimento deste Tribunal a validade da "utilização da técnica da


fundamentação per relationem, em que o magistrado se utiliza de trechos
de decisão anterior ou de parecer ministerial como razão de decidir, desde
que a matéria haja sido abordada pelo órgão julgador, com a menção a
argumentos próprios" (RHC n. 94.488/PA, relator Ministro ROGERIO SCHIETTI
CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 19/4/2018, DJe 2/5/2018), exatamente como
na espécie, não havendo que falar em nulidade da decisão agravada.
(...) (AgRg no RHC 149.020/MG, Rel. Ministro OLINDO MENEZES
(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TRF 1ª REGIÃO), SEXTA TURMA, julgado
em 23/11/2021, DJe 29/11/2021)

4) A pandemia de COVID-19 ou o fato de o acusado fazer parte do grupo de risco relativo


à COVID-19 não autoriza, por si só, a concessão de liberdade ou deferimento de prisão
domiciliar, devendo ser analisadas as peculiaridades do caso:

(...) O fato de o Acusado constar em grupo de risco não autoriza, por si só e


automaticamente, a concessão da liberdade ou o deferimento de prisão
domiciliar, porquanto a Recomendação n. 62/2020 do Conselho Nacional
de Justiça não serve como salvo conduto indiscriminado, devendo ser
analisada a situação dos reclusos no sistema carcerário caso a caso, conforme
foi realizado na espécie.
(...) (AgRg no HC 637.287/MS, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado
em 14/12/2021, DJe 17/12/2021)

5) Prisão domiciliar e pessoa debilitada por motivo de doença grave – O STJ vem decidindo
que é lícito ao Juiz indeferir a substituição da prisão preventiva pela prisão domiciliar de
acusado que esteja extremamente debilitado por motivo de doença grave, quando for possível
o tratamento no próprio estabelecimento prisional, o que denotaria a desnecessidade da
medida humanitária (substituição pela prisão domiciliar):

(...) A negativa de concessão de prisão domiciliar está amparada no


entendimento desta Corte Superior, no sentido de que, à luz do disposto no art.

E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) 17


Prof. Renan Araujo
318, inciso II, do Código de Processo Penal, o Acusado deve comprovar que
se encontra extremamente debilitado por motivo de grave estado de
saúde e a impossibilidade de receber tratamento no estabelecimento
prisional, o que não ocorreu no caso, porquanto os documentos juntados aos
autos, em que pese demonstrarem que o Paciente possui enfermidades,
evidenciam que ele está recebendo o devido acompanhamento e tratamento
médico na unidade prisional. 4. Agravo regimental desprovido.
(AgRg no HC 700.022/RJ, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em
26/10/2021, DJe 04/11/2021)

PROVAS
JURISPRUDÊNCIA EM TESES – EDIÇÃO 105

1) As provas inicialmente produzidas na esfera inquisitorial e reexaminadas na instrução


criminal, com observância do contraditório e da ampla defesa, não violam o art. 155 do Código
de Processo Penal - CPP visto que eventuais irregularidades ocorridas no inquérito policial não
contaminam a ação penal dele decorrente.

2) Perícias e documentos produzidos na fase inquisitorial são revestidos de eficácia probatória


sem a necessidade de serem repetidos no curso da ação penal por se sujeitarem ao
contraditório diferido.

3) A decisão que determina a produção antecipada de provas com base no art. 366 do CPP
deve ser concretamente fundamentada, não a justificando unicamente o mero decurso do
tempo. (Súmula n. 455/STJ) – No caso de suspensão do processo em razão de o réu ter sido
citado por edital e não ter se defendido, o Juiz está autorizado a determinar a produção
antecipada de provas, desde que de maneira fundamentada (ex.: alguma testemunha
importante está debilitada e há risco de óbito), de forma que a mera alegação de que o decurso
do tempo traria prejuízos à instrução não é fundamento idôneo (ex.: o Juiz não pode alegar
que irá realizar a oitiva antecipada de todas as testemunhas só porque o passar dos anos pode
prejudicar as lembranças do ocorrido).

4) A propositura da ação penal exige tão somente a presença de indícios mínimos de


materialidade e de autoria, de modo que a certeza deverá ser comprovada durante a instrução
probatória, prevalecendo o princípio do in dubio pro societate na fase de oferecimento da
denúncia.

E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) 18


Prof. Renan Araujo
5) A incidência da qualificadora rompimento de obstáculo, prevista no art. 155, § 4º, I, do Código
Penal, está condicionada à comprovação por laudo pericial, salvo em caso de desaparecimento
dos vestígios, quando a prova testemunhal, a confissão do acusado ou o exame indireto
poderão lhe suprir a falta.

6) É válido e revestido de eficácia probatória o testemunho prestado por policiais envolvidos


em ação investigativa ou responsáveis por prisão em flagrante, quando estiver em
harmonia com as demais provas dos autos e for colhido sob o crivo do contraditório e da ampla
defesa.

7) O reconhecimento fotográfico do réu, quando ratificado em juízo, sob a garantia do


contraditório e ampla defesa, pode servir como meio idôneo de prova para fundamentar a
condenação. – Tese superada. O STJ, posteriormente, proferiu diversas decisões entendendo
que o reconhecimento fotográfico não pode servir de base à condenação, devendo ser
compreendido como medida meramente preliminar.

8) A folha de antecedentes criminais é documento hábil e suficiente a comprovar os maus


antecedentes e a reincidência, não sendo necessária a apresentação de certidão cartorária.

9) Para efeitos penais, o reconhecimento da menoridade do réu requer prova por documento
hábil. (Súmula n. 74/STJ)

10) O registro audiovisual de depoimentos colhidos no âmbito do processo penal dispensa sua
degravação ou transcrição, em prol dos princípios da razoável duração do processo e da
celeridade processual, salvo comprovada demonstração de necessidade.

JURISPRUDÊNCIA EM TESES – EDIÇÃO 111

1) É possível o arrolamento de testemunhas pelo assistente de acusação (art. 271 do Código


de Processo Penal), desde que respeitado o limite de 5 (cinco) pessoas previsto no art. 422 do
CPP.

2) O réu não tem direito subjetivo de acompanhar, por sistema de videoconferência, audiência
de inquirição de testemunhas realizada, presencialmente, perante o Juízo natural da causa, por
ausência de previsão legal, regulamentar e principiológica.

3) Em delitos sexuais, comumente praticados às ocultas, a palavra da vítima possui especial


relevância, desde que esteja em consonância com as demais provas acostadas aos autos.

E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) 19


Prof. Renan Araujo
4) Nos delitos praticados em ambiente doméstico e familiar, geralmente praticados à
clandestinidade, sem a presença de testemunhas, a palavra da vítima possui especial
relevância, notadamente quando corroborada por outros elementos probatórios acostados
aos autos.

5) É possível a antecipação da colheita da prova testemunhal, com base no art. 366 do CPP, nas
hipóteses em que as testemunhas são policiais, tendo em vista a relevante probabilidade de
esvaziamento da prova pela natureza da atuação profissional, marcada pelo contato diário com
fatos criminosos. – De forma complementar à tese nº 03 da edição 105 da jurisprudência em
teses, o STJ firmou entendimento no sentido de que a natureza da profissão da testemunha
(policial) é fundamento idôneo para a determinação da produção antecipada de provas, eis
que os policiais mais facilmente se esquecem dos casos, eis que lidam diariamente com fatos
criminosos.

6) Não há cerceamento de defesa quando a decisão que indefere oitiva de testemunhas


residentes em outro país for devidamente fundamentada. – Tese que deriva da interpretação
do art. 222-A do CPP, que estabelece que “as cartas rogatórias só serão expedidas se
demonstrada previamente a sua imprescindibilidade, arcando a parte requerente com os
custos de envio”. Obviamente esta tese é inaplicável ao interrogatório do réu, vez que é direito
subjetivo do acusado, como materialização da autodefesa.

7) É ilícita a prova colhida mediante acesso aos dados armazenados no aparelho celular,
relativos a mensagens de texto, SMS, conversas por meio de aplicativos (WhatsApp), e obtida
diretamente pela polícia, sem prévia autorização judicial. – Frise-se que se a apreensão do
aparelho decorreu do cumprimento de mandado de busca e apreensão, o acesso ao conteúdo
das mensagens pela autoridade policial será válido.

8) É desnecessária a realização de perícia para a identificação de voz captada nas


interceptações telefônicas, salvo quando houver dúvida plausível que justifique a medida.

9) É necessária a realização do exame de corpo de delito para comprovação da materialidade


do crime quando a conduta deixar vestígios, entretanto, o laudo pericial será substituído por
outros elementos de prova na hipótese em que as evidências tenham desaparecido ou que o
lugar se tenha tornado impróprio ou, ainda, quando as circunstâncias do crime não permitirem
a análise técnica.

10) O laudo toxicológico definitivo é imprescindível para a configuração do crime de tráfico


ilícito de entorpecentes, sob pena de se ter por incerta a materialidade do delito e, por

E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) 20


Prof. Renan Araujo
conseguinte, ensejar a absolvição do acusado. – Esta tese pode ser compreendida como
parcialmente superada. Embora o STJ entenda pela, a princípio, necessária realização do
laudo toxicológico definitivo, há decisões mitigando tal indispensabilidade (inclusive a própria
tese nº 11, que veremos adiante), sustentando que em casos excepcionalíssimos, é possível
a condenação por crime de tráfico de drogas mesmo sem a juntada do laudo toxicológico
definitivo aos autos, quando houver meios robustos de prova que evidenciem a materialidade
do delito de tráfico de drogas (AgRg no AREsp 1900493/MG, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI
CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 16/11/2021, DJe 22/11/2021).

11) É possível, em situações excepcionais, a comprovação da materialidade do crime de tráfico


de drogas pelo laudo de constatação provisório, desde que esteja dotado de certeza idêntica à
do laudo definitivo e que tenha sido elaborado por perito oficial, em procedimento e com
conclusões equivalentes.

12) É prescindível a apreensão e a perícia de arma de fogo para a caracterização de causa de


aumento de pena prevista no art. 157, § 2º-A, I, do Código Penal, quando evidenciado o seu
emprego por outros meios de prova. – Aqui há de se ter muito cuidado para não haver
confusão. Para que seja reconhecida a majorante do emprego de arma de fogo é desnecessária
a apreensão e perícia da arma. TODAVIA, se a defesa alega que a arma estava inapta para
disparar, desmuniciada ou que era arma de brinquedo (simulacro de arma de fogo), cabe à
defesa apresentar o material em Juízo para perícia.

DECISÕES IMPORTANTES

1) O reconhecimento fotográfico, conquanto seja admitido, não pode ser utilizado como
prova em processo penal, devendo ser visto como etapa antecedente a eventual
reconhecimento pessoal e, portanto, não pode servir como prova em ação penal, ainda que
confirmado em juízo:

“(...) 1. A Sexta Turma desta Corte Superior de Justiça, por ocasião do julgamento
do HC n. 598.886/SC (Rel. Ministro Rogerio Schietti Cruz), realizado em
27/10/2020, propôs nova interpretação do art.
226 do CPP, segundo a qual a inobservância do procedimento descrito no
mencionado dispositivo legal torna inválido o reconhecimento da pessoa
suspeita e não poderá servir de lastro a eventual condenação, mesmo se
confirmado o reconhecimento em juízo. Confiram-se, a propósito, as
conclusões apresentadas por ocasião do mencionado julgamento (HC n.
598.886/SC): (i) O reconhecimento de pessoas deve observar o procedimento
previsto no art. 226 do Código de Processo Penal, cujas formalidades
constituem garantia mínima para quem se encontra na condição de suspeito
da prática de um crime; (ii) À vista dos efeitos e dos riscos de um

E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) 21


Prof. Renan Araujo
reconhecimento falho, a inobservância do procedimento descrito na referida
norma processual torna inválido o reconhecimento da pessoa suspeita e não
poderá servir de lastro a eventual condenação, mesmo se confirmado o
reconhecimento em juízo; (ii) Pode o magistrado realizar, em juízo, o ato de
reconhecimento formal, desde que observado o devido procedimento
probatório, bem como pode ele se convencer da autoria delitiva a partir do
exame de outras provas que não guardem relação de causa e efeito com o ato
viciado de reconhecimento; (iv) O reconhecimento do suspeito por mera
exibição de fotografia(s) ao reconhecedor, a par de dever seguir o mesmo
procedimento do reconhecimento pessoal, há de ser visto como etapa
antecedente a eventual reconhecimento pessoal e, portanto, não pode
servir como prova em ação penal, ainda que confirmado em juízo.
(...)
(AgRg no REsp 1954785/RS, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA,
QUINTA TURMA, julgado em 28/09/2021, DJe 04/10/2021)

2) O STJ firmou entendimento no sentido de que o reconhecimento da menoridade do réu


exige prova por documento hábil, o que não se restringe à certidão de nascimento,
podendo ser utilizados outros documentos:

(...) A jurisprudência desta Corte Superior consolidou-se na compreensão de


que "para efeitos penais, o reconhecimento da menoridade do réu requer
prova por documento hábil" (Súmula 74/STJ), que não se restringe à certidão
de nascimento, sendo outros documentos dotados de fé pública
igualmente hábeis para a comprovação da idade. Precedentes.
4. Agravo regimental não provido.
(AgRg no HC 646.116/MG, Rel. Ministro OLINDO MENEZES (DESEMBARGADOR
CONVOCADO DO TRF 1ª REGIÃO), SEXTA TURMA, julgado em 17/08/2021, DJe
20/08/2021)

3) O STJ decidiu que é válida a realização de audiência de instrução e julgamento por


videoconferência em caso de réu solto, por conta da necessidade de distanciamento social
decorrente da pandemia de COVID-19:

(...) Embora o Réu esteja respondendo ao processo-crime em liberdade, a


realização da audiência de instrução e julgamento por videoconferência
está justificada pelo necessário distanciamento social como medida para
o combate e a prevenção de infecção do novo coronavírus. Precedentes.
(...)
(AgRg no HC 687.222/SC, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em
05/10/2021, DJe 11/10/2021)

E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) 22


Prof. Renan Araujo
4) O STJ firmou entendimento no sentido de que a realização do interrogatório do réu por
carta precatória não viola o princípio da identidade física do Juiz – O princípio da
identidade física do Juiz estabelece que o Juiz que presidir a instrução deverá proferir sentença
(salvo em casos excepcionais, como no caso de licença, aposentadoria, etc.). Assim, o STJ
entende que mesmo que o réu seja interrogado pelo Juízo deprecado (que apenas cumpriu a
carta) e sentenciado pelo Juízo deprecante (aquele perante o qual tramita o processo) isso não
representa violação ao princípio da identidade física do Juiz:

(...) A Terceira Seção deste Tribunal Superior firmou entendimento de que o


interrogatório do réu por meio de carta precatória não viola o princípio da
identidade física do juiz.
(...)
(…) (AgRg no AREsp 746.463/SP, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA,
julgado em 22/06/2021, DJe 29/06/2021)

No mesmo sentido:

(...) O interrogatório do réu por meio de carta precatória não ofende o


postulado da identidade física do juiz, sob pena de se criar entraves à
jurisdição favorecendo aqueles que pretendem se furtar a aplicação da Lei
(CC 99.023/PR, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, TERCEIRA
SEÇÃO, DJe 28/8/2009).
(...)
(AgRg no HC 541.871/SP, Rel. Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO, SEXTA
TURMA, julgado em 17/08/2021, DJe 24/08/2021)

5) O STJ entende que é válida a determinação da retirada do réu da sala de audiências,


quando sua presença puder causar temor, humilhação ou constrangimento a qualquer
declarante (vítima, testemunha, etc.), desde que seja justificada a impossibilidade de realização
do ato por videoconferência:

(...) 7. O art. 217 do Código de Processo Penal admite a retirada do réu da sala
de audiência quando qualquer declarante se sentir atemorizado,
humilhado ou constrangido com a sua presença, sem que se possa falar
em nulidade do ato processual. O acórdão combatido alinha-se ao
entendimento desta Corte Superior, porquanto as testemunhas "manifestaram
receio em prestar depoimento na presença dos sentenciados" tendo constado
ainda justificativa sobre a impossibilidade de realização por videoconferência.
(…) (AgRg no AREsp 746.463/SP, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA,
julgado em 22/06/2021, DJe 29/06/2021)

E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) 23


Prof. Renan Araujo
No mesmo sentido:

(...) Inexiste cerceamento de defesa na hipótese em que, sendo inviável a


oitiva do acusado por videoconferência, o Juiz, fundamentadamente,
determina a retirada do réu da sala de audiência por verificar que sua
presença causa temor e constrangimento à testemunha ou ao ofendido.
(...) (AgRg no AgRg no AREsp 1665658/DF, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK,
QUINTA TURMA, julgado em 24/11/2020, DJe 27/11/2020)

6) O STJ firmou entendimento no sentido de que, embora possa haver inversão eventual da
ordem de oitiva das testemunhas, em razão da expedição de carta precatória (ouvir as
testemunhas de defesa antes que alguma testemunha de acusação tenha sido ouvida por carta
precatória), isso não autoriza a realização do interrogatório antes da oitiva de qualquer
testemunha, pois o interrogatório do réu sempre deve ser o último ato da instrução, de
maneira que deve ser aguardado o retorno da carta para que seja realizado o interrogatório
do acusado:

(...) A Terceira Seção desta Corte Superior, no julgamento do HC-585.942, em


9/12/2020, decidiu que o interrogatório do imputado deve ser o último ato de
instrução, em consonância com os princípios do contraditório e da ampla
defesa, e com a jurisprudência consolidada na Suprema Corte.
2. Nessa perspectiva, deve prevalecer o entendimento de que ao dispor que
a expedição da precatória não suspenderá a instrução criminal, § 1º do art.
222 do CPP não autoriza a realização de interrogatório do em momento
diverso do disposto no art. 400 do CPP, é dizer, ao final da instrução. A
defesa impugnou a inversão da ordem do interrogatório a tempo e modo, o
que afasta a preclusão.
(...)
(AgRg no HC 686.418/SC, Rel. Ministro OLINDO MENEZES (DESEMBARGADOR
CONVOCADO DO TRF 1ª REGIÃO), SEXTA TURMA, julgado em 07/12/2021, DJe
13/12/2021)

7) O STJ firmou entendimento no sentido de que, nos crimes sexuais e também naqueles
praticados no contexto de violência doméstica e familiar, a palavra da vítima ganha
especial relevância, na medida em que esses crimes geralmente são praticados às escondidas,
sem testemunhas:

3. Nos crimes sexuais, a palavra da vítima possui especial relevo, tendo em


vista sobretudo o modus operandi empregado na prática desses delitos,
cometidos, via de regra, às escondidas. Precedentes.
4. Agravo improvido.

E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) 24


Prof. Renan Araujo
(AgRg no AREsp 1869638/MS, Rel. Ministro OLINDO MENEZES
(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TRF 1ª REGIÃO), SEXTA TURMA, julgado
em 19/10/2021, DJe 22/10/2021)

1. O STJ reconhece a relevância da palavra da vítima no tocante aos crimes


decorrentes de violência doméstica, em vista da circunstância de essas
condutas serem praticadas, na maioria das vezes, na clandestinidade.
Precedente. Incidência da Súmula n. 83 do STJ.
(...)
(AgRg no AREsp 1925598/TO, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA
TURMA, julgado em 26/10/2021, DJe 04/11/2021)

8) O STJ firmou entendimento no sentido de que é válida a determinação da produção


antecipada de provas consistente na oitiva de policiais, eis que a natureza da profissão
conduz a um esquecimento mais fácil dos eventos criminosos presenciados:

(...) No caso, a produção antecipada de prova oral foi determinada nos termos
da jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça, no sentido da
"necessidade da oitiva antecipada das testemunhas, que são agentes
policiais, tendo em vista a possibilidade de as provas se fragilizarem com
o esquecimento dos fatos pela própria natureza do ofício de quem atua
diariamente no combate à criminalidade." (RHC 97.893/RR, Rel. Ministro
ANTONIO SALDANHA PALHEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 17/12/2019, DJe
19/12/2019.) 3. Tal fundamento é válido, apto a determinar a antecipação de
provas, sem qualquer ofensa à Súmula n. 455 desta Corte, primeira parte ([a]
decisão que determina a produção antecipada de provas com base no artigo
366 do CPP deve ser concretamente fundamentada [...]).
4. Recurso ordinário em habeas corpus desprovido.
(RHC 128.325/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em
08/09/2020, DJe 22/09/2020)

9) Em casos excepcionais, é possível a condenação do acusado pelo crime de tráfico de


drogas sem o laudo toxicológico definitivo (somente com o laudo provisório), quando o
laudo provisório for capaz de indicar com certeza a materialidade delitiva:

(...) A Terceira Seção deste Superior Tribunal possui o entendimento de que,


somente em casos excepcionalíssimos, é possível a condenação por crime
de tráfico de drogas mesmo sem a juntada do laudo toxicológico definitivo
aos autos (EREsp n. 1.544.057/RJ. Rel. Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, 3ª
S., DJe 9/11/2016).

E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) 25


Prof. Renan Araujo
2. Embora ainda não tenha havido a juntada aos autos do laudo toxicológico
definitivo, há meios robustos de prova que evidenciam a materialidade do
delito de tráfico de drogas. Isso porque, embora o laudo de constatação haja
sido elaborado ainda na fase inquisitiva, conteve todas as informações
necessárias à comprovação, com segurança, de que as substâncias
apreendidas com o acusado se tratavam de cocaína e crack.
(...) (AgRg no AREsp 1900493/MG, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA
TURMA, julgado em 16/11/2021, DJe 22/11/2021)

10) O STJ possui entendimento no sentido de que se a defesa alega a ausência de potencial
lesivo da arma, cabe a ela a juntada aos autos para a realização de perícia:

(...) Pedido de exclusão da causa de aumento de pena prevista no inciso I do §


2°-A do Código Penal. A jurisprudência desta Corte é assente no sentido de que
a utilização de arma desmuniciada, como forma de intimidar a vítima do delito
de roubo, caracteriza o emprego de violência, porém não permite o
reconhecimento da majorante de pena, uma vez que está vinculada ao
potencial lesivo do instrumento, dada a sua ineficácia para a realização de
disparos.
Todavia, "se o acusado sustentar a ausência de potencial lesivo da arma
empregada para intimidar a vítima, será dele o ônus de produzir tal prova,
nos termos do art. 156 do Código de Processo Penal." (HC n. 96.099/RS, Rel.
Min. Ricardo Lewandowski, Tribunal Pleno, DJe de 05/06/2009). Na espécie,
caberia ao paciente demonstrar que a arma era desprovida de potencial lesivo,
o que não ocorreu na situação narrada na inicial (EREsp n. 961.863/RS, Terceira
Seção, Rel. Min.
Celso Limongi (Desembargador convocado do TJ/SP), Rel. p/ Acórdão Min.
Gilson Dipp, DJe de 6/4/2011).
(…) (AgRg no HC 665.770/GO, Rel. Ministro JESUÍNO RISSATO (DESEMBARGADOR
CONVOCADO DO TJDFT), QUINTA TURMA, julgado em 14/09/2021, DJe
24/09/2021)

11) O STJ firmou entendimento no sentido de que a simples apreensão de aparelho celular
por conta de prisão em flagrante não autoriza o acesso ao conteúdo das mensagens nele
contidas, que dependerá de autorização judicial ou do consentimento do proprietário do
aparelho:

(...) Os dados constantes de aparelho celular obtidos por órgão


investigativo ? mensagens e conversas por meio de programas ou
aplicativos (WhatsApp) ? somente são admitidos como prova lícita no
processo penal quando há precedente mandado de busca e apreensão

E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) 26


Prof. Renan Araujo
expedido por juiz competente ou quando há autorização voluntária de
interlocutor da conversa.
4. Não há nulidade na prova da participação delitiva do agente que se dá por
troca de mensagens com o corréu tendo o acesso sido autorizado tanto pela
autoridade judicial quanto pelo proprietário do aparelho.
5. A verificação da existência de indícios de autoria e materialidade delitiva
demanda reexame de fatos e provas, procedimento incompatível com a estreita
via do habeas corpus.
6. Agravo regimental desprovido.
(AgRg no HC 646.771/PR, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, QUINTA
TURMA, julgado em 10/08/2021, DJe 13/08/2021)

12) O STJ firmou entendimento no sentido de que a agenda telefônica, ou seja, o registro dos
contatos do proprietário do aparelho celular não está abrangida pela garantia do sigilo de
dados telefônicos, eis que é mera facilitação tecnológica (é uma simples caderneta de
contatos, só que virtual), de forma que o acesso a estes dados não depende de autorização
judicial:

(...) No caso, como autorizado pelo Código de Processo Penal ? CPP foi
apreendido o telefone celular de um acusado e analisados os dados
constantes da sua agenda telefônica, a qual não tem a garantia de
proteção do sigilo telefônico ou de dados telemáticos, pois a agenda é uma
das facilidades oferecidas pelos modernos aparelhos de smartphones a
seus usuários.
5. Assim, deve ser reconhecida como válida a prova produzida com o acesso à
agenda telefônica do recorrido, com o restabelecimento da sentença
condenatória, determinando-se que a Corte a quo continue a apreciar a
apelação.
6. Recurso especial provido.
(REsp 1782386/RJ, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA TURMA, julgado
em 15/12/2020, DJe 18/12/2020)

12) O STJ firmou entendimento no sentido de que, embora retratável a confissão, o Juiz poderá,
cotejando-a com os demais elementos dos autos, considerá-la para fins de condenação, pelo
princípio do livre convencimento motivado. Nesse caso, mesmo tendo havido retratação, caso
utilizada pelo Juiz a confissão como elemento de convicção para a condenação, fará jus o réu
à atenuante genérica do art. 65, III, “d” do CP:

(...) A confissão do Agravante de que exercia a traficância, efetivada na


fase policial, foi utilizada para fundamentar a condenação.
Portanto, ainda que tenha sido retratada em juízo, faz ele jus à atenuante da
confissão espontânea, a qual deve ser integralmente compensada com a

E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) 27


Prof. Renan Araujo
agravante da reincidência, nos termos da reiterada jurisprudência desta Corte
Superior.
(...) (AgRg no AREsp 1795241/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA,
julgado em 06/04/2021, DJe 15/04/2021)

JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS


JURISPRUDÊNCIA EM TESES – EDIÇÃO 93

1) Compete aos Tribunais de Justiça ou aos Tribunais Regionais Federais o julgamento dos
pedidos de habeas corpus quando a autoridade coatora for Turma Recursal dos Juizados
Especiais.

2) A aceitação pelo paciente do benefício da suspensão condicional do processo, nos termos


do art. 89 da Lei n. 9.099/95, não inviabiliza a impetração de habeas corpus nem prejudica seu
exame, tendo em vista a possibilidade de se retomar o curso da ação penal caso as condições
impostas sejam descumpridas.

3) No âmbito dos Juizados Especiais Criminais, não se exige a intimação pessoal do defensor
público, admitindo-se a intimação na sessão de julgamento ou pela imprensa oficial.

4) Não há óbice a que se estabeleçam, no prudente uso da faculdade judicial disposta no art.
89, § 2º, da Lei n. 9.099/1995, obrigações equivalentes, do ponto de vista prático, a sanções
penais (tais como a prestação de serviços comunitários ou a prestação pecuniária), mas que,
para os fins do sursis processual, se apresentam tão somente como condições para sua
incidência. (Tese julgada sob o rito do art. 543-C do CPC/73 TEMA 930)

5) A perda do valor da fiança constitui legítima condição do sursis processual, nos termos do
art. 89, § 2º, da Lei n. 9.099/95.

6) A suspensão condicional do processo e a transação penal não se aplicam na hipótese


de delitos sujeitos ao rito da Lei Maria da Penha. (Súmula n. 536/STJ)

7) A transação penal não tem natureza jurídica de condenação criminal, não gera efeitos para
fins de reincidência e maus antecedentes e, por se tratar de submissão voluntária à sanção
penal, não significa reconhecimento da culpabilidade penal nem da responsabilidade
civil.

E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) 28


Prof. Renan Araujo
8) A homologação da transação penal prevista no artigo 76 da Lei n. 9.099/1995 não faz
coisa julgada material e, descumpridas suas cláusulas, retoma-se a situação anterior,
possibilitando-se ao Ministério Público a continuidade da persecução penal mediante
oferecimento de denúncia ou requisição de inquérito policial. (Súmula Vinculante n. 35/STF)

9) O prazo de 5 (cinco) anos para a concessão de nova transação penal, previsto no art. 76, §
2º, inciso II, da Lei n. 9.099/95, aplica-se, por analogia, à suspensão condicional do processo.

10) É cabível a suspensão condicional do processo na desclassificação do crime e na


procedência parcial da pretensão punitiva. (Súmula n. 337/STJ)

11) Nos casos de aplicação da Súmula n. 337/STJ, os autos devem ser encaminhados ao
Ministério Público para que se manifeste sobre a possibilidade de suspensão condicional do
processo ou de transação penal.

JURISPRUDÊNCIA EM TESES – EDIÇÃO 96

1) A Lei n. 10.259/01, ao considerar como infrações de menor potencial ofensivo as


contravenções e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, não
alterou o requisito objetivo exigido para a concessão da suspensão condicional do processo
prevista no art. 89 da Lei n. 9.099/95, que continua sendo aplicado apenas aos crimes cuja pena
mínima não seja superior a 1 (um) ano.

2) É cabível a suspensão condicional do processo e a transação penal aos delitos que preveem
a pena de multa alternativamente à privativa de liberdade, ainda que o preceito
secundário da norma legal ultrapasse os parâmetros mínimo e máximo exigidos em lei para a
incidência dos institutos em comento. – Quanto à suspensão condicional do processo, se a
pena mínima for superior a 01 ano, mas houver previsão de pena de multa ALTERNATIVA (ex.:
reclusão de 02 a 05 anos OU multa), caberá o benefício do sursis processual. De igual forma,
de acordo com a referida tese, caberá transação penal mesmo que se trate de crime com pena
máxima superior a 02 anos, desde que haja previsão alternativa da pena de multa. Quanto a
este último ponto (transação penal), trata-se de um entendimento polêmico, pois a previsão
alternativa de multa não altera o “pior cenário” para o réu (que continua sendo a pena máxima
cominada). Já quanto ao sursis processual, acertado o entendimento, já que o critério é a pena
mínima, e ao cominar pena alternativa de multa, o legislador permite que o condenado não
receba nenhuma pena privativa de liberdade, somente a multa, de forma que a multa se
tornaria a “pena mínima” para o caso, ou seja, o “melhor cenário” em caso de condenação.

E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) 29


Prof. Renan Araujo
3) A suspensão condicional do processo não é direito subjetivo do acusado, mas sim um poder-
dever do Ministério Público, titular da ação penal, a quem cabe, com exclusividade, analisar a
possibilidade de aplicação do referido instituto, desde que o faça de forma fundamentada.

4) Se descumpridas as condições impostas durante o período de prova da suspensão


condicional do processo, o benefício poderá ser revogado, mesmo se já ultrapassado o prazo
legal, desde que referente a fato ocorrido durante sua vigência. (Tese julgada sob o rito do art.
543-C do CPC/73 - TEMA 920)

5) Opera-se a preclusão se o oferecimento da proposta de suspensão condicional do processo


ou de transação penal se der após a prolação da sentença penal condenatória.

6) O benefício da suspensão do processo não é aplicável em relação às infrações penais


cometidas em concurso material, concurso formal ou continuidade delitiva, quando a pena
mínima cominada, seja pelo somatório, seja pela incidência da majorante, ultrapassar o
limite de um (01) ano. (Súmula n. 243/STJ)

7) A existência de inquérito policial em curso não é circunstância idônea a obstar o


oferecimento de proposta de suspensão condicional do processo – Tal entendimento se dá
porque o art. 89 da Lei 9.099/95 estabelece como impeditivo para o oferecimento da proposta
o fato de o agente ter sido condenado ou estar sendo PROCESSADO por outro crime (logo,
estar sendo investigado em inquérito policial não impede a concessão do sursis processual).

8) A extinção da punibilidade do agente pelo cumprimento das condições do sursis processual,


operada em processo anterior, não pode ser valorada em seu desfavor como maus
antecedentes, personalidade do agente e conduta social.

9) É constitucional o art. 90-A da Lei n. 9.099/95, que veda a aplicação desta aos crimes
militares.

10) Na hipótese de apuração de delitos de menor potencial ofensivo, deve-se considerar a


soma das penas máximas em abstrato em concurso material, ou, ainda, a devida exasperação,
no caso de crime continuado ou de concurso formal, e ao se verificar que o resultado da adição
é superior a dois anos, afasta-se a competência do Juizado Especial Criminal.

11) O crime de uso de entorpecente para consumo próprio, previsto no art. 28 da Lei n.
11.343/06, é de menor potencial ofensivo, o que determina a competência do juizado especial

E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) 30


Prof. Renan Araujo
estadual, já que ele não está previsto em tratado internacional e o art. 70 da Lei n. 11.343/06
não o inclui dentre os que devem ser julgados pela justiça federal.

12) A conduta prevista no art. 28 da Lei n. 11.343/06 admite tanto a transação penal quanto
a suspensão condicional do processo.

OUTRAS TESES RELEVANTES


EDIÇÃO 69 (NULIDADES)
Tese 2) As nulidades surgidas no curso da investigação preliminar não atingem a ação penal
dela decorrente.

Tese 3) As irregularidades relativas ao reconhecimento pessoal do acusado não ensejam


nulidade, uma vez que as formalidades previstas no art. 226 do CPP são meras recomendações
legais – Tese superada. O STJ passou a entender que o descumprimento das formalidades
previstas no art. 226 (relativas ao procedimento de reconhecimento fotográfico), gera nulidade
do ato:

1. No julgamento do HC 598.886/SC, da relatoria do Min. Rogério Schietti Cruz,


decidiu a Sexta Turma, revendo anterior interpretação, no sentido de que se
"determine, doravante, a invalidade de qualquer reconhecimento formal -
pessoal ou fotográfico - que não siga estritamente o que determina o art.
226 do CPP, sob pena de continuar-se a gerar uma instabilidade e insegurança
de sentenças judiciais que, sob o pretexto de que outras provas produzidas em
apoio a tal ato - todas, porém, derivadas de um reconhecimento desconforme
ao modelo normativo - autorizariam a condenação, potencializando, assim, o
concreto risco de graves erros judiciários".
2. Na hipótese, percebe-se que o reconhecimento pessoal do imputado, ora
paciente, não obedeceu aos ditames do precedente mencionado (HC
598.886/SC) e, mais grave ainda, da própria norma processual em causa (art.
226 - CPP), porquanto a vítima o reconheceu por meio de fotografia veiculada
na impressa e, em nível policial, o reconheceu sem a apresentação de pessoas
semelhantes e sem a indicação de justificativa plausível acerca de
impossibilidade de realização do ato nos termos estabelecidos na norma legal.
(...) (HC 687.103/RN, Rel. Ministro OLINDO MENEZES (DESEMBARGADOR
CONVOCADO DO TRF 1ª REGIÃO), SEXTA TURMA, julgado em 16/11/2021, DJe
19/11/2021)

No mesmo sentido:

E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) 31


Prof. Renan Araujo
(...) Esta Corte Superior inicialmente entendia que "a validade do
reconhecimento do autor de infração não está obrigatoriamente vinculada à
regra contida no art. 226 do Código de Processo Penal, porquanto tal
dispositivo veicula meras recomendações à realização do procedimento,
mormente na hipótese em que a condenação se amparou em outras provas
colhidas sob o crivo do contraditório 3. Em julgados recentes, ambas as
Turmas que compõe a Terceira Seção deste Superior Tribunal de Justiça
alinharam a compreensão de que "o reconhecimento de pessoa,
presencialmente ou por fotografia, realizado na fase do inquérito policial,
apenas é apto, para identificar o réu e fixar a autoria delitiva, quando
observadas as formalidades previstas no art. 226 do Código de Processo
Penal e quando corroborado por outras provas colhidas na fase judicial,
sob o crivo do contraditório e da ampla defesa.
(...)
(AgRg no HC 631.240/SC, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA,
julgado em 14/09/2021, DJe 20/09/2021)

Tese 13) A falta de comunicação ao acusado sobre o direito de permanecer em silêncio é causa
de nulidade relativa, cujo reconhecimento depende da comprovação do prejuízo.

Tese 19) São nulas as provas obtidas por meio da extração de dados e de conversas privadas
registradas em correio eletrônico e redes sociais (v.g. whatsapp e facebook) sem a prévia
autorização judicial.

Tese 20) O compartilhamento de dados obtidos pela Receita Federal com fundamento no art.
6º da Lei Complementar n. 105/2001, mediante requisição direta às instituições bancárias no
âmbito de processo administrativo fiscal, é considerado nulo, para fins penais, se não decorrer
de expressa determinação judicial.

OUTROS JULGADOS RELEVANTES


Þ Interrogatório em sede policial e ausência de defesa técnica - O STJ firmou
entendimento no sentido de que a ausência de defesa técnica quando do interrogatório em
sede POLICIAL não gera nulidade, conforme entendimento pacífico do STJ:
“(...) 1. A jurisprudência deste STJ entende que não é necessária a presença de
advogado durante o interrogatório policial do réu.
(...) (AgRg no AREsp 1882836/SP, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA
TURMA, julgado em 24/08/2021, DJe 30/08/2021)

E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) 32


Prof. Renan Araujo
Þ Uso de documento falso: competência – O STJ firmou entendimento (posteriormente
sumulado, súmula 546) no sentido de que a competência para processar e julgar o crime de
uso de documento falso é firmada em razão da entidade ou órgão ao qual foi apresentado
o documento público, não importando a qualificação do órgão expedidor (ex.: se apresentado
perante órgão federal, a competência será da Justiça Federal):
Súmula 546 do STJ
A competência para processar e julgar o crime de uso de documento falso é
firmada em razão da entidade ou órgão ao qual foi apresentado o documento
público, não importando a qualificação do órgão expedidor.

Þ Prova emprestada: possibilidade de utilização no processo penal – O STJ firmou


entendimento no sentido de que é possível a utilização, no processo penal, de prova
emprestada de outro processo, desde que seja submetida ao contraditório:
“(...) 3. Nos termos da jurisprudência do STJ, "independentemente de haver
identidade de partes, o contraditório é o requisito primordial para o
aproveitamento da prova emprestada, de maneira que, assegurado às
partes o contraditório sobre a prova, isto é, o direito de se insurgir contra
a prova e de refutá-la adequadamente, afigura-se válido o empréstimo"
(EREsp 617.428/SP, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Corte Especial, julgado em
4/6/2014, DJe de 17/6/2014).
4. Agravo interno improvido.”
(AgInt no AREsp 1789309/MT, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE,
TERCEIRA TURMA, julgado em 01/06/2021, DJe 10/06/2021)

Þ Interrogatório judicial e inversão da ordem: nulidade relativa – Embora o


interrogatório deva ser o último ato da instrução, sua realização em momento diverso
configura nulidade relativa, devendo ser arguida a nulidade na própria audiência e
demonstrado o prejuízo que adveio para a defesa:
“(...) 2. Isso não obstante, esta Corte Superior já consolidou entendimento no
sentido de que, para se reconhecer nulidade pela inversão da ordem de
interrogatório, "é necessário que o inconformismo da Defesa tenha sido
manifestado tempestivamente, ou seja, na própria audiência em que
realizado o ato, sob pena de preclusão. Além disso, necessária a
comprovação do prejuízo que o réu teria sofrido com a citada inversão"
(...)
3. De igual forma, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal também é
assente em afirmar que a inversão na ordem do interrogatório do réu constitui
nulidade relativa e sujeita à preclusão. Nesse sentido, entre outros: HC
199.494, Rel. Min.

E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) 33


Prof. Renan Araujo
(...)
(RvCr 5.563/DF, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, TERCEIRA
SEÇÃO, julgado em 12/05/2021, DJe 21/05/2021)

Þ Lesão corporal grave e exame de corpo de delito complementar – Conforme


entendimento do STJ, o prazo de 30 dias previsto no § 2º do artigo 168 do CPP não é
peremptório, de forma que, mesmo depois da fluência do prazo de 30 dias, se houver
elementos que permitam a afirmação da ocorrência de lesões graves em decorrência da
agressão, nada impede que se faça o exame complementar:
“(...) III - A jurisprudência desta Corte considera que "O prazo de 30 dias a que
alude o § 2º do artigo 168 do C.P.P. não é peremptório, mas visa a prevenir que,
pelo decurso de tempo, desapareçam os elementos necessários à verificação
da existência de lesões graves. Portanto, se mesmo depois da fluência do
prazo de 30 dias, houver elementos que permitam a afirmação da
ocorrência de lesões graves em decorrência da agressão, nada impede que
se faça o exame complementar depois de fluído esse prazo" (HC n.
73.444/RJ, 1.ª Turma, Rel. Min. Moreira Alves, DJ de 11/10/1996.) (...) (AgRg no
HC 627.577/RJ, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em
25/05/2021, DJe 31/05/2021)

Þ Prisão domiciliar e detração – Nos termos do entendimento do STJ, o período em que


o acusado esteve em prisão domiciliar deve ser considerado como pena efetivamente
cumprida, em caso de futura condenação:
“(...) 3. Entende esta Corte que o período que o apenado permaneceu
preventivamente recolhido em prisão domiciliar deve ser considerado
para a detração da pena.” (...) (AgRg nos EDcl no AREsp 1674599/SP, Rel.
Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO, SEXTA TURMA, julgado em
14/10/2021, DJe 19/10/2021)

Þ Recolhimento domiciliar noturno e detração – Nos termos do entendimento do STJ,


o período de recolhimento domiciliar noturno imposto como medida cautelar diversa da prisão
deve ser reconhecido como pena efetivamente cumprida para fins de detração por constituir
restrição à liberdade de locomoção, nos termos do entendimento do STJ:
2. “(...) Reafirmo que recentemente a Terceira Seção desta Corte pacificou o
entendimento no sentido de que o período em que o réu esteve submetido
à medida cautelar de recolhimento domiciliar noturno, fiscalizado por
monitoramento eletrônico, deve ser computado para fins de detração.”
(AgRg no HC 631.989/DF, Rel. Ministro S EBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA,
julgado em 28/09/2021, DJe 30/09/2021)

E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) 34


Prof. Renan Araujo
Nesse caso, como a restrição à liberdade se dá apenas em certos horários, e não no dia
integralmente, devem ser as horas de recolhimento convertidas em dias, para fins de detração.

CRIMES CONTRA A PESSOA


JURISPRUDÊNCIA EM TESES – EDIÇÃO 130 (crimes contra a honra)

1) Para a configuração dos crimes contra a honra, exige-se a demonstração mínima do intento
positivo e deliberado de ofender a honra alheia (dolo específico), o denominado animus
caluniandi, diffamandi vel injuriandi.

2) Nos casos em que a inexistência da intenção específica de ofender a honra alheia é flagrante,
admite-se, excepcionalmente, em sede de habeas corpus, a análise da presença do dolo
específico exigido para a caracterização dos crimes contra a honra.

3) Para a caracterização do crime de calúnia, é indispensável que o agente que atribui a alguém
fato definido como crime tenha conhecimento da falsidade da imputação.

4) O crime de calúnia não se contenta com afirmações genéricas e de cunho abstrato, devendo
a inicial acusatória conter a descrição de fato específico, marcado no tempo, que teria sido
falsamente praticado pela pretensa vítima.

5) O juízo de admissibilidade, o processamento e a instrução da exceção da verdade oposta


em face de autoridades públicas com prerrogativa de foro devem ser feitos pelo próprio juízo
da ação penal originária que, após a instrução dos autos, admitida a exceptio veritatis, deve
remetê-los à instância decorrente da prerrogativa de função para julgamento do mérito. – A
exceção da verdade é um meio de defesa que pode ser usado na calúnia e na difamação
(excepcionalmente), de forma a se comprovar que o fato imputado era verdadeiro, com vistas
a afastar a tipicidade da conduta.

6) Não se admite a exceção da verdade quando o excipiente não consegue demonstrar a


veracidade da prática de conduta criminosa do excepto.

7) Expressões eventualmente contumeliosas, quando proferidas em momento de exaltação,


bem assim no exercício do direito de crítica ou de censura profissional, ainda que veementes,
atuam como fatores de descaracterização do elemento subjetivo peculiar aos tipos penais
definidores dos crimes contra a honra.

8) A ampla liberdade de informação, opinião e crítica jornalística reconhecida


constitucionalmente à imprensa não é um direito absoluto, encontrando limitações, tais como

E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) 35


Prof. Renan Araujo
a preservação dos direitos da personalidade, nestes incluídos os direitos à honra, à imagem, à
privacidade e à intimidade, sendo vedada a veiculação de críticas com a intenção de difamar,
injuriar ou caluniar.

9) A não recepção pela Constituição Federal de 1988 da Lei de Imprensa (Lei n. 5. 250/1967)
não implicou na abolitio criminis dos delitos contra a honra praticados por meio da
imprensa, pois tais ilícitos permanecem tipificados na legislação penal comum.

10) É concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do Ministério Público,


condicionada à representação do ofendido, para a ação penal por crime contra a honra
de servidor público em razão do exercício de suas funções. (Súmula n. 714/STF) – Logo, o
servidor ofendido poderá optar por ajuizar a queixa-crime ou oferecer representação,
autorizando o MP a denunciar o infrator.

11) Os deputados federais e os senadores gozam de imunidade parlamentar material, o que


afasta a tipicidade de eventuais condutas, em tese, ofensivas à honra praticadas no âmbito de
suas atuações político-legislativas (art. 53 da CF/1988), prerrogativa estendida aos deputados
estaduais, a teor do disposto no art. 27, § 1º, da CF/1988.

12) A imunidade em favor do advogado, no exercício da sua atividade profissional, insculpida


no art. 7º, § 2º, do Estatuto da OAB (Lei n. 8.906/1994), não abrange o crime de calúnia,
restringindo-se aos delitos de injúria e difamação.

13) A parte não responde por crime contra a honra decorrente de peças caluniosas,
difamatórias ou injuriosas apresentadas em juízo por advogado credenciado.

JULGADOS IMPORTANTES (crimes contra a pessoa como um todo)

1) Embora haja divergência doutrinária, o STJ pacificou entendimento no sentido de que a


ausência de motivo não pode ser equiparada ao motivo fútil para fins de qualificar o
homicídio, sob pena de configurar analogia in malam partem:

2. A jurisprudência desta Corte Superior não admite que a ausência de


motivo seja considerada motivo fútil, sob pena de se realizar indevida
analogia em prejuízo do acusado. Precedente.
(...)
(HC 369.163/SC, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA TURMA, julgado
em 21/02/2017, DJe 06/03/2017)

E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) 36


Prof. Renan Araujo
2) O STJ firmou entendimento no sentido de que as qualificadoras do feminicídio e do
motivo torpe podem coexistir num mesmo crime, pois possuem naturezas diversas:

(...) O acórdão combatido se alinha ao entendimento desta Corte Superior


segundo o qual "as qualificadoras do motivo torpe e do feminicídio não
possuem a mesma natureza, sendo certo que a primeira tem caráter
subjetivo, ao passo que a segunda é objetiva, não havendo, assim,
qualquer óbice à sua imputação simultânea" (HC n. 430.222/MG, relator
Ministro Jorge Mussi, Quinta Turma, julgado em 15/3/2018, DJe 22/3/2018).
6. Agravo regimental desprovido.
(AgRg no AgRg no AREsp 1830776/SP, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA
TURMA, julgado em 24/08/2021, DJe 30/08/2021)

3) A despeito de o agente não querer o resultado no dolo eventual, o STJ possui entendimento
no sentido de que o homícidio doloso por dolo eventual pode ser praticado por motivo
fútil ou torpe (ex.: José agride Pedro com na cabeça, usando um taco de beisebol. O fato se
deu por conta de desavenças envolvendo uma pizza. José alega que não teve dolo de matar.
Veja, mesmo que não tenha querido a morte, assumiu o risco ao agredir dessa forma na
cabeça, ou seja, dolo eventual. A conduta se deu por motivo fútil. Logo, perfeitamente
compatíveis):

(...) O dolo eventual é compatível, sim, com as qualificadoras subjetivas do


motivo torpe ou fútil. Precedentes.
2. A Corte de origem constatou que há indícios bastantes da existência de dolo
eventual por parte do agravante. Assim, a inversão do julgado, no ponto,
demandaria o reexame do conjunto fático-probatório dos autos, providência
inviável nesta instância especial, nos termos da Súmula 7/STJ.
3. Agravo regimental desprovido.
(AgRg no REsp 1926056/MS, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA,
julgado em 10/08/2021, DJe 17/08/2021)

4) Igualmente, o STJ entende que o dolo eventual é compatível com a qualificadora do meio
cruel:

(...) Inexiste incompatibilidade entre o dolo eventual e o reconhecimento


do meio cruel para a consecução da ação, na medida em que o dolo do
agente, direto ou indireto, não exclui a possibilidade de a prática delitiva
envolver o emprego de meio mais reprovável, como veneno, fogo, explosivo,
asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel (AgRg no RHC 87.508/DF, Rel.

E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) 37


Prof. Renan Araujo
Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em
23/10/2018, DJe 03/12/2018).
3. É admitida a incidência da qualificadora do meio cruel, relativamente ao fato
de a vítima ter sido arrastada por cerca de 500 metros, presa às ferragens do
veículo, ainda que já considerado ao reconhecimento do dolo eventual, na
sentença de pronúncia.
(...) (REsp 1829601/PR, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em
04/02/2020, DJe 12/02/2020)

5) Embora o tema não seja considerado uma unanimidade doutrinária, o STJ firmou
entendimento no sentido de que o dolo eventual é compatível com a figura da tentativa,
de forma que é possível a ocorrência de homicídio tentado praticado por dolo eventual:
2. Consoante o entendimento jurisprudencial desta Corte Superior, é
compatível com a imputação de homicídio tentado o dolo eventual
atribuído à conduta do acusado, hipótese na qual houve a demonstração
do consentimento no resultado por parte do agente.
(...)
4. Não obstante a existência de julgados desta Corte Superior a respeito da
incompatibilidade entre o dolo eventual e a qualificadora objetiva referente ao
recurso que dificultou a defesa da vítima, tem-se a recente orientação no
sentido de que: "elege-se o posicionamento pela compatibilidade, em tese, do
dolo eventual também com as qualificadoras objetivas (art. 121, § 2º, III e IV, do
CP). Em resumo, as referidas qualificadoras serão devidas quando constatado
que o autor delas se utilizou dolosamente como meio ou como modo específico
mais reprovável para agir e alcançar outro resultado, mesmo sendo previsível
e tendo admitido o resultado morte" (AgRg no AgRg no REsp 1.836.556/PR, Rel.
Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, Quinta Turma, julgado em 15/6/2021, DJe de
22/6/2021).
5. No caso, as instâncias de origem fundamentaram adequadamente a
preservação da qualificadora do recurso que dificultou a defesa da vítima,
notadamente diante dos suficientes indicativos de que os golpes de
instrumento cortante realizados pelo acusado teriam ocorrido de inopino, sem
a vítima esperar ataque semelhante, sendo incabível, portanto, a sua exclusão
no presente momento processual.
6. Agravo regimental improvido.
(AgRg no HC 678.195/SC, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA,
QUINTA TURMA, julgado em 14/09/2021, DJe 20/09/2021)

E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) 38


Prof. Renan Araujo
CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO
JURISPRUDÊNCIA EM TESES – EDIÇÃO 47
1) Consuma-se o crime de furto com a posse de fato da res furtiva, ainda que por breve
espaço de tempo e seguida de perseguição ao agente, sendo prescindível a posse mansa e
pacífica ou desvigiada. (Tese Julgada sob o rito do art. 543-C do CPC/1973 - TEMA 934)

2) Não há continuidade delitiva entre roubo e furto, porquanto, ainda que possam ser
considerados delitos do mesmo gênero, não são da mesma espécie – O STJ possui
entendimento majoritário no sentido de que crimes da mesma espécie, para fins de
continuidade delitiva, são aqueles que protegem o mesmo bem jurídico e se encontram no
mesmo dispositivo legal, na forma simples, qualificada ou privilegiada (ex.: furto e furto
qualificado):

(...) No caso dos crimes de roubo majorado e latrocínio, sequer é necessário


avaliar o requisito subjetivo supracitado ou o lapso temporal entre os crimes,
porquanto não há adimplemento do requisito objetivo da pluralidade de crimes
da mesma espécie. São assim considerados aqueles crimes tipificados no
mesmo dispositivo legal, consumados ou tentada, na forma simples,
privilegiada ou tentada, e além disso, devem tutelar os mesmos bens
jurídicos, tendo, pois, a mesma estrutura jurídica. Perceba que o roubo tutela
o patrimônio e a integridade física (violência) ou o patrimônio e a liberdade
individual (grave ameaça); por outro lado, o latrocínio, o patrimônio e a vida.
9. Habeas corpus não conhecido.
(HC 449.110/SP, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em
02/06/2020, DJe 10/06/2020)

Logo, para o STJ, exemplificativamente:


§ Latrocínio e roubo – Não são crimes da mesma espécie, pois o latrocínio protege
outro bem jurídico (vida) além do patrimônio.
§ Roubo e extorsão – Não são crimes da mesma espécie, pois, apesar de tutelarem o
mesmo bem jurídico (patrimônio), estão em dispositivos legais diferentes (art. 157 e
art. 158 do CP).

Porém, curiosamente, o STJ possui julgados reconhecendo que estupro (art. 213) e estupro
de vulnerável (art. 217-A) são crimes da mesma espécie para fins de continuidade delitiva:

(...) O entendimento do Tribunal de origem está em consonância com a


jurisprudência desta Corte, segundo a qual "para fins da aplicação do
instituto do crime continuado, art. 71 do Código Penal, pode-se afirmar

E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) 39


Prof. Renan Araujo
que os delitos de estupro de vulnerável e estupro, descritos nos arts. 217-
A e 213 do CP, respectivamente, são crimes da mesma espécie" (REsp
1767902/RJ, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em
13/12/2018, DJe 04/02/2019).
(...) (REsp 1939352/SC, Rel. Ministro OLINDO MENEZES (DESEMBARGADOR
CONVOCADO DO TRF 1ª REGIÃO), SEXTA TURMA, julgado em 26/10/2021, DJe
28/10/2021)

3) O rompimento ou destruição do vidro do automóvel com a finalidade de subtrair objetos


localizados em seu interior qualifica o furto. – Porém, se o rompimento recai sobre a própria
coisa (ex.: quebrar o vidro do carro para subtrair o próprio carro), não incide a qualificadora:

(...) Quando o rompimento ou a violência recai sobre a própria coisa objeto


do furto, a jurisprudência prevalente nesta Corte ainda é no sentido de
que não se aplica a qualificadora de destruição ou rompimento de
obstáculo.
3. [...] o entendimento desta Corte Superior de Justiça é no sentido de que a
incidência da qualificadora do art. 155, § 4º, inciso I, do Código Penal, pressupõe
conduta praticada pelo Réu objetivada à destruição ou ao rompimento do óbice
que dificulta a obtenção da coisa. Se o dano é contra o próprio objeto do furto,
sendo o obstáculo peculiar à res furtiva, não incide a majorante (AgRg no AREsp
n. 230.117/DF, Ministro Félix Fischer, Quinta Turma, DJe 3/3/2015 - grifo nosso).
4. Agravo regimental improvido.
(AgRg no REsp 1918935/DF, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA
TURMA, julgado em 14/09/2021, DJe 17/09/2021)

4) Todos os instrumentos utilizados como dispositivo para abrir fechadura são abrangidos
pelo conceito de chave falsa, incluindo as mixas.

5) É possível o reconhecimento do privilégio previsto no § 2º do art. 155 do CP nos casos de


crime de furto qualificado, se estiverem presentes a primariedade do agente, o pequeno valor
da coisa e a qualificadora for de ordem objetiva. (Súmula n. 511/STJ) (Tese julgada sob o rito do
Art. 543-C/1973 - TEMA 561) – Complementando o teor da súmula, prevalece que o abuso de
confiança configura qualificadora de natureza subjetiva, afastando a possibilidade de aplicação
do privilégio:

(...) A qualificadora do abuso de confiança, por ser de ordem subjetiva,


inviabiliza o reconhecimento da figura privilegiada do crime de furto.
(...) (AgRg no HC 655.120/PR, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, QUINTA
TURMA, julgado em 07/12/2021, DJe 14/12/2021)

E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) 40


Prof. Renan Araujo
Embora não se trate de ponto pacificado, também há julgados entendendo que a qualificadora
do emprego de fraude seria de natureza subjetiva:

(...) A qualificadora do emprego de fraude possui natureza subjetiva e, por


essa razão, por demonstrar maior gravidade da conduta, torna
incompatível o reconhecimento da figura privilegiada do furto,
independentemente do pequeno valor da res furtiva e da primariedade da
agravante.
(...)
(AgRg no REsp 1841048/MS, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA,
QUINTA TURMA, julgado em 10/12/2019, DJe 19/12/2019)

Como dito, com relação ao emprego de fraude ser qualificadora subjetiva, trata-se de ponto
controvertido, pois há, no próprio STJ, várias decisões reconhecendo que apenas a
qualificadora do abuso de confiança teria natureza subjetiva (logo, as demais não):

(...) 5. Nos termos da pacífica jurisprudência desta Corte, consolidada na


Súmula/STJ 511, é viável a incidência do privilégio na hipótese de furto
qualificado, desde que a qualificadora seja de caráter objetivo. Decerto, a única
qualificadora que inviabiliza o benefício penal é a de abuso de confiança
(CP, art. 155, § 4º, II, primeira parte).
(...) (HC 633.407/SP, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em
02/02/2021, DJe 08/02/2021)

6) A prática do delito de furto qualificado por escalada, destreza, rompimento de


obstáculo ou concurso de agentes indica a reprovabilidade do comportamento do réu, sendo
inaplicável o princípio da insignificância.

7) O princípio da insignificância deve ser afastado nos casos em que o réu faz do crime o seu
meio de vida, ainda que a coisa furtada seja de pequeno valor. – Embora a tese se refira a
pequeno valor, devemos entender “valor insignificante”, já que para eventual aplicação do
princípio da insignificância seria necessária a insignificância do valor (10% do salário mínimo
vigente à época do fato).

8) Para reconhecimento do crime de furto privilegiado é indiferente que o bem furtado


tenha sido restituído à vítima, pois o critério legal para o reconhecimento do privilégio é
somente o pequeno valor da coisa subtraída. – Assim, a ausência de restituição da coisa ou
reparação do dano não afastam a aplicação do privilégio, se presentes os requisitos, ou seja, a
primariedade do agente e o pequeno valor da coisa (não superior a 01 salário mínimo vigente
à época do fato).

E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) 41


Prof. Renan Araujo
9) Para efeito da aplicação do princípio da bagatela, é imprescindível a distinção entre valor
insignificante e pequeno valor, uma vez que o primeiro exclui o crime e o segundo pode
caracterizar o furto privilegiado.

10) É inadmissível aplicar, no furto qualificado, pelo concurso de agentes, a majorante do


roubo. (Súmula n. 442/STJ)

11) Para a caracterização do furto privilegiado, além da primariedade do réu, o valor do bem
subtraído não deve exceder à importância correspondente ao salário mínimo vigente à época
dos fatos.

12) O reconhecimento das qualificadoras da escalada e rompimento de obstáculo previstas no


art. 155, § 4º, I e II, do CP exige a realização do exame pericial, salvo nas hipóteses de
inexistência ou desaparecimento de vestígios, ou ainda se as circunstâncias do crime não
permitirem a confecção do laudo.

13) Reconhecido o privilégio no crime de furto, a fixação de um dos benefícios do § 2º do art.


155 do CP exige expressa fundamentação por parte do magistrado. – Frise-se que, uma vez
preenchidos os requisitos, o reconhecimento do privilégio é direito subjetivo do acusado,
cabendo ao Juiz, apenas, definir qual dos benefícios previstos no art. 155, §2º será concedido
ao agente, de forma fundamentada:

(...) Em relação à figura do furto privilegiado, o art. 155, § 2º, do Código Penal
impõe a aplicação do benefício penal na hipótese de adimplemento dos
requisitos legais da primariedade e do pequeno valor do bem furtado,
assim considerado aquele inferior ao salário mínimo ao tempo do fato. Trata-
se, em verdade, de direito subjetivo do réu, não configurando mera
faculdade do julgador a sua concessão, embora o dispositivo legal empregue
o verbo "poder".
(...) (HC 633.407/SP, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em
02/02/2021, DJe 08/02/2021)

14) A lesão jurídica resultante do crime de furto não pode ser considerada insignificante
quando o valor dos bens subtraídos perfaz mais de 10% do salário mínimo vigente à época dos
fatos.

15) Nos casos de continuidade delitiva o valor a ser considerado para fins de concessão do
privilégio (artigo 155, § 2º, do CP) ou do reconhecimento da insignificância é a soma dos bens
subtraídos.

E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) 42


Prof. Renan Araujo
JURISPRUDÊNCIA EM TESES – EDIÇÃO 51

1) Consuma-se o crime de roubo com a inversão da posse do bem, mediante emprego de


violência ou grave ameaça, ainda que por breve tempo e em seguida a perseguição imediata
ao agente e recuperação da coisa roubada, sendo prescindível a posse mansa e pacífica ou
desvigiada (Tese julgada sob o rito do art. 543-C do CPC/1973 - TEMA 916)

2) O aumento na terceira fase de aplicação da pena no crime de roubo circunstanciado exige


fundamentação concreta, não sendo suficiente para a sua exasperação a mera indicação do
número de majorantes. (Súmula n. 443/STJ)

3) Há concurso material entre os crime de roubo e extorsão quando o agente, após subtrair
bens da vítima, mediante emprego de violência ou grave ameaça, a constrange a entregar
o cartão bancário e a respectiva senha para sacar dinheiro de sua conta corrente.

4) Não é possível reconhecer a continuidade delitiva entre os crimes de roubo e de


extorsão, pois são infrações penais de espécies diferentes.

5) O roubo praticado em um mesmo contexto fático, mediante uma só ação, contra vítimas
diferentes, enseja o reconhecimento do concurso formal de crimes, e não a ocorrência de
crime único. – Havia discussão sobre a natureza do concurso de crimes nesse caso (ou eventual
reconhecimento de crime único). Porém, tal discussão encontra-se superada, já que o STJ
firmou entendimento no sentido de tratar-se de concurso formal próprio:

(...) A jurisprudência desta Corte é firme no sentido de que o delito de roubo,


praticado mediante uma única ação contra vítimas diferentes e em um
mesmo contexto fático, configura o concurso formal de crimes e não a
ocorrência de crime único, pois violados patrimônios distintos.
4. "Nos termos da jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça, o aumento
decorrente do concurso formal tem como parâmetro o número de delitos
perpetrados, dentro do intervalo legal de 1/6 a 1/2.
Nesses termos, aplica-se a fração de aumento de 1/6 pela prática de 2 infrações;
1/5, para 3 infrações; 1/4 para 4 infrações; 1/3 para 5 infrações e 1/2 para 6 ou
mais infrações" (HC 603.600/SP, Rel.
Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, DJe 14/9/2020).
(...) (AgRg no AREsp 1792317/SP, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA
TURMA, julgado em 03/08/2021, DJe 06/08/2021)

E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) 43


Prof. Renan Araujo
6) É prescindível a apreensão e perícia da arma de fogo para a caracterização de causa de
aumento de pena prevista no art. 157, § 2º, I, do CP, quando evidenciado o seu emprego por
outros meios de prova.

7) Cabe a defesa o ônus da prova de demonstrar que a arma empregada para intimidar a vítima
é desprovida de potencial lesivo.

8) A utilização de arma sem potencialidade lesiva, atestada por perícia, como forma de
intimidar a vítima no delito de roubo, caracteriza a elementar grave ameaça, porém, não
permite o reconhecimento da majorante de pena. – Resumidamente:
O emprego de arma de fogo sem potencialidade lesiva:
Þ Não caracteriza a majorante, mas serve para configurar a “grave ameaça” inerente ao
roubo;
Þ Cabe à defesa provar a ausência de potencialidade lesiva

9) O crime de porte de arma é absorvido pelo de roubo quando restar evidenciado o nexo de
dependência ou de subordinação entre as duas condutas e que os delitos foram praticados
em um mesmo contexto fático o que caracteriza o princípio da consunção – Como se vê,
a consunção de um (porte de arma de fogo) pelo outro (roubo majorado) somente se dará
quando um for praticado apenas como meio necessário para a prática do outro (ex.: José pega
um revólver emprestado apenas para praticar um roubo). Caso contrário, o agente responderá
pelos dois delitos em concurso material (ex.: José adquire uma arma de fogo e passa a transitar
com ela. Certo dia, resolve roubar uma loja de conveniência usando a arma. Nesse caso,
responderá pelos dois delitos).

10) A gravidade do delito de roubo circunstanciado pelo concurso de pessoas e/ou emprego
de arma de fogo não constitui motivação suficiente, por si só, para justificar a imposição de
regime prisional mais gravoso, na medida em que constituem circunstâncias comuns à espécie.

11) Não há continuidade delitiva entre roubo e furto, porquanto, ainda que possam ser
considerados delitos do mesmo gênero, não são da mesma espécie.

12) Não é possível o reconhecimento da continuidade delitiva entre os crimes de roubo


e latrocínio pois, apesar de se tratarem de delitos do mesmo gênero, não são da mesma
espécie, devendo incidir a regra do concurso material.

13) Há tentativa de latrocínio quando a morte da vitima não se consuma por razões alheias à
vontade do agente – Nos termos da súmula 610 do STF, o latrocínio se consuma quando, em

E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) 44


Prof. Renan Araujo
razão da violência empregada no contexto de roubo, ocorre o evento morte. Logo, se
evidenciado o dolo de matar no contexto de roubo, haverá latrocínio, ainda que a morte não
ocorra (latrocínio tentado, nessa hipótese):

(...) Conforme jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, havendo dolo de


roubar e dolo de matar para assegurar o roubo, está configurado o delito
de latrocínio na forma tentada no caso de a morte não se consumar por
circunstâncias alheias à vontade do agente. Precedentes.
(...) (AgRg no HC 653.040/SP, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA
TURMA, julgado em 23/11/2021, DJe 26/11/2021)

14) Há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda que não realize o agente a
subtração de bens da vítima. (Súmula n. 610/STF)

15) Há concurso formal impróprio no crime de latrocínio nas hipóteses em que o agente,
mediante uma única subtração patrimonial provoca, com desígnios autônomos, dois ou mais
resultados morte.

16) Nos crimes de roubo praticados em detrimento da Empresa Brasileira de Correios e


Telégrafos a fixação da competência é verificada de acordo com a natureza econômica do
serviço prestado na forma de agência própria, cuja competência é da Justiça Federal; ou
na forma de franquia, explorada por particulares, hipótese em que a Justiça Estadual
terá competência para julgamento dos processos. – O fundamento para tal tese reside no fato
de que, no caso de agência franqueada, não há danos financeiros à EBCT, pois, por força
contratual, a franqueada se responsabiliza por eventuais perdas, danos, roubos, furtos ou
destruição de bens cedidos pela franqueadora, não se configurando, portanto, real prejuízo à
Empresa Pública.

JURISPRUDÊNCIA EM TESES – EDIÇÃO 84

1) Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por este
absorvido. (Súmula n. 17/STJ)

2) O princípio da insignificância é inaplicável ao crime de estelionato quando cometido


contra a administração pública, uma vez que a conduta ofende o patrimônio público, a moral
administrativa e a fé pública, possuindo elevado grau de reprovabilidade.

E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) 45


Prof. Renan Araujo
3) Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar crime de estelionato praticado
mediante falsificação das guias de recolhimento das contribuições previdenciárias, quando
não ocorrente lesão à autarquia federal. (Súmula n. 107/STJ)

4) O delito de estelionato previdenciário (art. 171, § 3º do CP), praticado pelo próprio


beneficiário, tem natureza de crime permanente uma vez que a ofensa ao bem jurídico
tutelado é reiterada, iniciando-se a contagem do prazo prescricional com o último recebimento
indevido da remuneração.

5) O delito de estelionato previdenciário, praticado para que terceira pessoa se beneficie


indevidamente, é crime instantâneo com efeitos permanentes, iniciando-se a contagem do
prazo prescricional a partir da primeira parcela do pagamento relativo ao benefício indevido.

6) Aplica-se a regra da continuidade delitiva (art. 71 do CP) ao crime de estelionato


previdenciário praticado por terceiro, que após a morte do beneficiário segue recebendo o
benefício regularmente concedido ao segurado, como se este fosse, sacando a prestação
previdenciária por meio de cartão magnético todos os meses.

7) A devolução à Previdência Social da vantagem percebida ilicitamente, antes do recebimento


da denúncia, não extingue a punibilidade do crime de estelionato previdenciário, podendo,
eventualmente, caracterizar arrependimento posterior, previsto no art. 16 do CP.

8) O ressarcimento integral do dano no crime de estelionato, na sua forma fundamental (art.


171, caput, do CP), não enseja a extinção da punibilidade, salvo nos casos de emissão de
cheque sem fundos, em que a reparação ocorra antes do oferecimento da denúncia (art.
171, § 2º, VI, do CP) – No caso de estelionato consistente em emissão de cheque sem suficiente
provisão de fundos em poder do sacado, a reparação integral do dano antes do recebimento
da denúncia configura causa de extinção da punibilidade (inteligência da súmula 554 do STF).

9) O delito de estelionato é consumado no local em que se verifica o prejuízo à vítima. – Quanto


a este ponto, fundamental para a compreensão da competência territorial, é importante
destacar que, mesmo diante da consumação no local do prejuízo, a Lei 14.155/21 incluiu o §4º
no art. 70 do CPP (vigência a partir de 28.05.2021), estabelecendo que, nos crimes de
estelionato, quando praticados mediante depósito, mediante emissão de cheques sem
suficiente provisão de fundos em poder do sacado ou com o pagamento frustrado ou
mediante transferência de valores, a competência será definida pelo local do domicílio da
vítima, e, em caso de pluralidade de vítimas, a competência firmar-se-á pela prevenção.

E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) 46


Prof. Renan Araujo
10) Compete ao foro do local da recusa processar e julgar o crime de estelionato mediante
cheque sem provisão de fundos. (Súmula n. 244/STJ) – Diante do que foi dito anteriormente,
com o advento da Lei 14.155/21, que incluiu o §4º no art. 70 do CPP (vigência a partir de
28.05.2021), ficou superada a referida tese e a súmula 244 do STJ, já que a competência, hoje,
será do foro do lugar do domicílio da vítima.

11) A emissão de cheques pré-datados, como garantia de dívida e não como ordem de
pagamento à vista, não constitui crime de estelionato previsto no art. 171, § 2°, VI, do CP, uma
vez que a matéria deixa de ter interesse penal quando não há fraude, conforme a Súmula n.
246/STF.

12) O pagamento de cheque emitido sem provisão de fundos, após o recebimento da denúncia,
não obsta ao prosseguimento da ação penal. (Súmula n. 554/STF)

13) A utilização de papel moeda grosseiramente falsificado configura, em tese, o crime de


estelionato, da competência da Justiça Estadual. (Súmula n. 73/STJ) – Frise-se que se a
falsificação for tão ruim, tão grosseira, tão “tosca”, a ponto de não ser capaz de enganar
ninguém, haverá crime impossível.

JURISPRUDÊNCIA EM TESES – EDIÇÃO 87

1) O crime de extorsão é formal e consuma-se no momento em que a violência ou a grave


ameaça é exercida, independentemente da obtenção da vantagem indevida – Frise-se que
isso não impede a ocorrência do fenômeno da tentativa, eis que, por se tratar de crime
plurissubsistente, é possível o fracionamento do iter criminis, de forma que é possível que o
agente inicie a execução mas não consiga consumar o delito, por circunstâncias alheias à sua
vontade.

2) No crime de extorsão, a ameaça a que se refere o caput do art. 158 do CP, exercida com o
fim de obter a indevida vantagem econômica, pode ter por conteúdo grave dano aos bens da
vítima. – No crime de extorsão, a grave ameaça deve ser compreendida sob o prisma da vítima,
ou seja, se a vítima, considerando-se suas peculiaridades, poderia ter se sentido ameaçada.
Até por conta disso, o STJ possui julgados no sentido de que mesmo a ameaça de mal espiritual
(ex.: rezas, trabalhos espirituais, etc.), podem configurar grave ameaça no crime de extorsão,
desde que a vítima tenha se sentido ameaçada:

1. Orientação jurisprudencial no sentido de reconhecer como extorsão a


"ameaça de mal espiritual". (REsp n. 1299021/SP, Rel. Ministro ROGERIO
SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 14/2/2017, DJe 23/2/2017.) 2. A

E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) 47


Prof. Renan Araujo
"grave ameaça", elementar do delito de extorsão, consiste na intimidação que
atua na dimensão psicológica da vítima, considerando a influência de múltiplos
fatores.
(...) (AgRg no AREsp 1009662/RJ, Rel. Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO,
SEXTA TURMA, julgado em 03/04/2018, DJe 09/04/2018)

3) O delito de dano ao patrimônio público, quando praticado por preso para facilitar a fuga do
estabelecimento prisional, demanda a demonstração do dolo específico de causar prejuízo ao
bem público (animus nocendi), sem o qual a conduta é atípica. – A fuga do indivíduo preso, por
si só, não configura crime, posto que dependeria do emprego de violência contra a pessoa (art.
352 do CP). E se houver violência contra coisa? Não haveria crime de dano? De acordo com
a tese que ora trabalhamos, não, a menos que fique comprovado que o preso agiu como dolo
específico de causar prejuízo ao bem público (o que geralmente não ocorre, já que o preso está
mais preocupado em apenas fugir, naturalmente J).

4) A ausência de menção expressa ao patrimônio do Distrito Federal no art. 163, parágrafo


único, III, do Código Penal torna inviável a configuração da forma qualificada do crime de dano
quando o bem danificado for distrital, em virtude da vedação da analogia in malam partem no
sistema penal brasileiro. – Tese superada, na medida em que, atualmente, por conta da
alteração legislativa provocada pela Lei 13.531/17, o Distrito Federal constas expressamente
no referido dispositivo legal:

Art. 163 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia:


Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Dano qualificado
Parágrafo único - Se o crime é cometido:
(...)
III - contra o patrimônio da União, de Estado, do Distrito Federal, de Município
ou de autarquia, fundação pública, empresa pública, sociedade de economia
mista ou empresa concessionária de serviços públicos; (Redação dada pela Lei
nº 13.531, de 2017)

5) Não é possível a aplicação do princípio da insignificância nas hipóteses de dano


qualificado, quando o prejuízo ao patrimônio público atingir outros bens de relevância social e
tornar evidente o elevado grau de periculosidade social da ação e de reprovabilidade da
conduta do agente.

6) O crime de apropriação indébita previdenciária (art. 168-A do CP) é de natureza material e


exige a constituição definitiva do débito tributário perante o âmbito administrativo para
configurar-se como conduta típica.

E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) 48


Prof. Renan Araujo
7) O delito de apropriação indébita previdenciária constitui crime omissivo próprio, que se
perfaz com a mera omissão de recolhimento da contribuição previdenciária dentro do prazo e
das formas legais, prescindindo, portanto, do dolo específico.

8) A apropriação indébita previdenciária é crime instantâneo e unissubsistente, sendo a mera


omissão de recolhimento da contribuição previdenciária dentro do prazo e das formas legais
suficiente para a caracterização da continuidade delitiva.

9) É possível o reconhecimento da continuidade delitiva de crimes de apropriação indébita


previdenciária (art. 168-A do CP), bem como entre o crime de apropriação indébita
previdenciária e o crime de sonegação previdenciária (art. 337-A do CP) praticados na
administração de empresas distintas, mas pertencentes ao mesmo grupo econômico. – Tese
superada em razão de diversas decisões posteriores do STJ, em sentido contrário:

1. Os delitos de apropriação indébita previdenciária e de sonegação de


contribuição previdenciária, previstos, respectivamente, nos arts. 168-A e 337-
A do CP, embora sejam do mesmo gênero, são de espécies diversas;
obstando a benesse da continuidade delitiva.
2. Caso em que sobreleva a autonomia dos crimes praticados, uma vez que se
declarou falsamente os requisitos para obtenção do regime tributário
diferenciado (Simples Nacional), com a apropriação dos valores das
contribuições previdenciárias referentes aos empregados;
pressuposto que afasta o liame causal e, por conseguinte, a aplicação da
continuidade delitiva.
3. Agravo regimental desprovido.
(AgRg no REsp 1868826/CE, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA,
julgado em 09/02/2021, DJe 17/02/2021)

10) O pagamento integral dos débitos oriundos de apropriação indébita previdenciária, ainda
que efetuado após o recebimento da denúncia, mas antes do trânsito em julgado da sentença
condenatória, extingue a punibilidade, nos termos do art. 9º, § 2º, da Lei n. 10.684/03.

11) Aplica-se o princípio da insignificância ao crime de apropriação indébita previdenciária,


quando, na ocasião do delito, o valor do débito com a Previdência Social não ultrapassar o
montante de R$ 10.000,00 (dez mil reais), previsto no art. 20 da Lei n. 10.522/2002. – Tese
superada em razão de diversas decisões posteriores do STJ, em sentido contrário:

1. No julgamento da RvCr n. 4.881/RJ, a Terceira Seção concluiu, em julgamento


unânime, acompanhando entendimento do Supremo Tribunal Federal, que o
princípio da insignificância não se aplicaria aos crimes de apropriação

E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) 49


Prof. Renan Araujo
indébita previdenciária (art. 168-A do Código Penal) e de sonegação de
contribuição previdenciária (art. 337-A do Código Penal). Precedentes.
2. Agravo regimental provido para negar provimento ao recurso especial da
defesa.
(AgRg no REsp 1832011/MG, Rel. Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO,
SEXTA TURMA, julgado em 10/08/2021, DJe 16/08/2021)

12) O delito de receptação (art. 180 do CP), nas modalidades transportar, conduzir ou ocultar,
é crime permanente, cujo flagrante perdura enquanto o agente se mantiver na posse do bem
que sabe ser produto de crime.

13) No crime de receptação, se o bem houver sido apreendido em poder do acusado, caberá
à defesa apresentar prova acerca da origem lícita da res ou de sua conduta culposa (art.
156 do CPP), sem que se possa falar em inversão do ônus da prova.

14) Talonário de cheques pode ser objeto material do crime de receptação, dada a existência
de valor econômico do bem e a possibilidade de posterior utilização fraudulenta para obtenção
de vantagem ilícita.

15) É inaplicável o princípio da consunção entre os crimes de receptação e porte ilegal de


arma de fogo por serem delitos autônomos e de natureza jurídica distinta, devendo o agente
responder por ambos os delitos em concurso material.

16) Justifica-se a opção do legislador pela imposição de pena mais grave ao delito de receptação
qualificada em relação à figura simples pois a comercialização ou industrialização do produto
de origem ilícita lesiona o mercado e os consumidores.

OUTROS TIPOS PENAIS


JURISPRUDÊNCIA EM TESES - EDIÇÃO 151 – Crimes contra a
dignidade sexual (apenas as mais importantes)

2) Em delitos sexuais, comumente praticados às ocultas, a palavra da vítima possui especial


relevância, desde que esteja em consonância com as demais provas acostadas aos autos.

6) Após o advento da Lei n. 12.015/2009, que tipificou no mesmo dispositivo penal (art. 213 do
CP) os crimes de estupro e de atentado violento ao pudor, é possível o reconhecimento de

E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) 50


Prof. Renan Araujo
crime único entre as condutas, desde que tenham sido praticadas contra a mesma vítima
e no mesmo contexto-fático.

8) O crime de estupro de vulnerável se configura com a conjunção carnal ou prática de ato


libidinoso com menor de 14 anos, sendo irrelevante eventual consentimento da vítima para a
prática do ato, sua experiência sexual anterior ou existência de relacionamento amoroso com
o agente. (Súmula n. 593/STJ) (Tese julgada sob o rito do art. 543-C do CPC/1973 - TEMA 918)

9) O estado de sono, que diminua a capacidade da vítima de oferecer resistência,


caracteriza a vulnerabilidade prevista no art. 217-A, § 1º, do Código Penal - CP.

10) No crime de estupro em que a vulnerabilidade é decorrente de enfermidade ou deficiência


mental (art. 217-A, § 1º, do CP), o magistrado não está vinculado à existência de laudo pericial
para aferir a existência de discernimento ou a possibilidade de oferecer resistência à prática
sexual, desde que a decisão esteja devidamente fundamentada, em virtude do princípio do
livre convencimento motivado.

11) O beijo lascivo integra o rol de atos libidinosos e configura o crime de estupro se obtido
mediante emprego de força física do agressor contra vítima maior de 14 anos. – Nos parece
que a tese deve ser analisada à luz dos elementos do crime de estupro, ou seja, deve haver
emprego de violência ou grave ameaça à pessoa para a configuração do crime de estupro
nessas circunstâncias. Caso contrário, haverá crime de importunação ofensiva ao pudor.

JURISPRUDÊNCIA EM TESES - EDIÇÃO 152 – Crimes contra a


dignidade sexual (apenas as mais importantes)

2) Em razão do princípio da especialidade, é descabida a desclassificação do crime de estupro


de vulnerável (art. 217-A do Código Penal - CP) para o crime de importunação sexual (art. 215-
A do CP), uma vez que este é praticado sem violência ou grave ameaça, e aquele traz ínsito ao
seu tipo penal a presunção absoluta de violência ou de grave ameaça.

3) O delito de estupro de vulnerável (art. 217-A do CP) se consuma com a prática de qualquer
ato de libidinagem ofensivo à dignidade sexual da vítima.

4) A contemplação lasciva configura o ato libidinoso constitutivo dos tipos dos art. 213 e
art. 217-A do CP, sendo irrelevante, para a consumação dos delitos, que haja contato físico
entre ofensor e vítima.

5) É possível a configuração do crime de assédio sexual (art. 216-A do CP) na relação entre
professor e aluno. – O STJ passou a entender que a relação de ascendência do professor
perante o aluno é elemento que possibilita a configuração do crime de assédio sexual. Haverá,

E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) 51


Prof. Renan Araujo
ainda, majoração da pena, na forma do art. 226, II do CP (o que é bastante questionável, já que
especificamente no assédio sexual a ascendência é elemento do tipo, de forma que seu
reconhecimento como majorante configura inegável bis in idem).

6) A prática de crime contra a dignidade sexual por professor faz incidir a causa de aumento
de pena prevista no art. 226, II, do Código Penal, por sua evidente posição de autoridade e
ascendência sobre os alunos.

7) Não há bis in idem na incidência da agravante genérica do art. 61, II, f, concomitantemente
com a causa de aumento de pena do art. 226, II, ambas do CP, no crime de estupro. – Segundo
o STJ, é válida a aplicação concomitante da agravante e da majorante, não configurando bis in
idem, desde que fundamentadas em elementos diversos (ex.: a agravante aplicada pela relação
doméstica e a majorante pela ascendência inerente ao fato de ser padrasto da vítima):
(...) Não caracteriza bis in idem a utilização da agravante genérica prevista no
art. 61, inciso II, alínea "f", do Código Penal e da majorante específica do art.
226, inciso II, do Código Penal, tendo em vista que a circunstância utilizada
pelas instâncias ordinárias para agravar a pena foi a prevalência de
relações domésticas no ambiente familiar, enquanto para aumentá-la na
terceira fase, em razão da majorante específica, utilizou-se da condição de
padrasto da vítima, que são situações distintas. Precedentes.
4. Agravo regimental não provido.
(AgRg no REsp 1929310/SP, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA,
julgado em 24/08/2021, DJe 30/08/2021)

8) No estupro de vulnerável (art. 217-A, caput, do CP), a condição de a vítima ser criança é
elemento ínsito ao tipo penal, tornando impossível a aplicação da agravante genérica prevista
no art. 61, II, h, do Código Penal Brasileiro, sob pena de bis in idem.

9) O fato de o ofensor valer-se de relações domésticas para a prática do crime de estupro não
pode, ao mesmo tempo, ser usado como circunstância judicial desfavorável (art. 59 do CP) e
como agravante genérica (art. 61, II, f, do CP), sob pena de bis in idem.

10) No estupro de vulnerável, o trauma psicológico que justifica a valoração negativa das
consequências do crime (art. 59 do CP) é aquele cuja intensidade for superior à inerente ao
tipo penal.

11) No estupro de vulnerável, a tenra idade da vítima pode ser utilizada como
circunstância judicial do art. 59 do CP e, portanto, incidir sobre a pena-base do réu. – De
acordo com a referida tese, embora o estupro de vulnerável tenha como elemento do tipo a
idade da vítima (menor de 14 anos), a eventual tenra idade (03 anos, 04 anos, etc.) pode ser
utilizada como circunstância judicial desfavorável, de forma a aumentar a pena-base.

E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) 52


Prof. Renan Araujo
JURISPRUDÊNCIA EM TESES - EDIÇÃO 153 – Crimes contra a
dignidade sexual (apenas as mais importantes)

1) Aquele que adere à determinação do comparsa e contribui para a consumação crime de


estupro, ainda que não tenha praticado a conduta descrita no tipo penal, incide nas penas a
ele cominadas, nos exatos termos do art. 29 do Código Penal.

2) Nas hipóteses em que há imprecisão acerca do número exato de eventos abusivos à


dignidade sexual da vítima, praticados em um longo período de tempo, é adequado o
aumento de pena pela continuidade delitiva (art. 71 do CP) em patamar superior ao mínimo
legal. – Como regra, o aumento decorrente da continuidade delitiva ou do concurso formal de
crimes varia de acordo com a quantidade de crimes praticados (1/6 se são 2 crimes, 1/5 se são
3 crimes e assim por diante). Porém, em se tratando de crimes sexuais, caso haja imprecisão
sobre o número exato de eventos abusivos (muito comum na seara doméstica), é lícito ao Juiz
fixar aumento superior ao mínimo legal, presumindo, assim, a ocorrência de vários eventos,
dado o longo período de tempo.

3) Nos crimes de estupro ou de atentado violento ao pudor praticados com violência


presumida, não incide a regra da continuidade delitiva específica (art. 71, parágrafo único,
do CP), que condiciona a sua incidência às situações de emprego de violência real. – De acordo
com a referida tese, em se tratando de estupro com violência presumida (atualmente, estupro
de vulnerável sem violência real), o aumento em caso de continuidade delitiva seguirá a regra
geral (1/6 a 2/3) e não a regra especial prevista no art. 71, § único (1/6 até o triplo), pois tal regra
especial somente se aplica aos crimes dolosos, praticados contra vítimas diferentes, cometidos
com violência REAL.

4) A orientação da Súmula n. 593/STJ não importa na retroatividade de lei penal mais gravosa
(novatio legis in pejus) e apresenta adequada interpretação jurisprudencial das modificações
introduzidas pela Lei n. 12.015/2009.

5) A prática de conjunção carnal ou de atos libidinosos diversos contra vítima imobilizada


configura o crime de estupro de vulnerável do art. 217-A, § 1º, do CP, ante a impossibilidade
de oferecer resistência ao emprego de violência sexual.

6) O avançado estado de embriaguez da vítima, que lhe retire a capacidade de oferecer


resistência, é circunstância apta a revelar sua vulnerabilidade e, assim, configurar a prática
do crime de estupro previsto no § 1º do art. 217-A do Código Penal.

9) A conduta daquele que pratica conjunção carnal ou outro ato libidinoso com menor de 18
anos e maior de 14 anos em situação de prostituição ou de exploração sexual somente foi
tipificada com a entrada em vigor da Lei n. 12.015/2009, que incluiu o art. 218-B, § 2º, I,

E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) 53


Prof. Renan Araujo
no CP, não podendo a lei retroagir para incriminar atos praticados antes de sua entrada
em vigor – Frise-se que há julgados no STJ estabelecendo que a relação sexual com pessoa
menor de 18 anos e maior de 14 anos configura o crime em questão (art. 218-B, §2º, I do CP)
configura tal delito quando o infrator espontaneamente procura a vítima e oferece dinheiro
para o ato, ainda que esta (a vítima) não estivesse, até então, submetida a qualquer forma de
exploração sexual:
(...) O art. 218-B, § 2º, inciso I, do Código Penal, na situação de exploração sexual,
não exige a figura do terceiro intermediador. É lícito concluir que a norma traz
uma espécie de presunção relativa de vulnerabilidade das pessoas
menores de 18 e maiores de 14 anos.
Assim, quem, se aproveitando da idade da vítima, oferece-lhe dinheiro em
troca de favores sexuais está a explorá-la sexualmente, pois se utiliza da
sexualidade de pessoa ainda em formação como mercancia.
(...) (AgRg no AREsp 1477816/ES, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA
TURMA, julgado em 13/04/2021, DJe 16/04/2021)

(...) A leitura conjunta do caput e do § 2º, I, do art. 218-B do Código Penal


não permite identificar a exigência de que a prática de conjunção carnal
ou outro ato libidinoso com adolescente de 14 a 18 anos se dê por
intermédio de terceira pessoa. Basta que o agente, mediante pagamento,
convença a vítima dessa faixa etária a praticar com ele conjunção carnal
ou outro ato libidinoso.
3. Pela moldura fática descrita no acórdão impugnado vê-se claramente que o
recorrido procurou, voluntariamente, as vítimas e, mediante promessa de
retorno financeiro, as induziu à prática de conjunção carnal e de atos
libidinosos diversos, a evidenciar seu nítido intuito de exploração sexual das
adolescentes, o que justifica o restabelecimento de sua condenação.
4. Recurso provido para restabelecer a sentença monocrática, que condenou o
réu à pena de 5 anos e 4 meses de reclusão, em regime inicial semiaberto, como
incurso no art. 218-B, § 2º, I, do Código Penal.
(REsp 1530637/SP, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA,
julgado em 10/03/2020, DJe 17/03/2020)

10) O segredo de justiça previsto no art. 234-B do Código Penal abrange o autor e a vítima de
crimes sexuais, devendo constar da autuação apenas as iniciais de seus nomes.

13) Nos crimes sexuais praticados contra criança e adolescente, admite-se a oitiva da vítima
por profissional preparado e em ambiente diferenciado na modalidade do "depoimento sem
dano", prevista na Lei n. 13.431/2017, medida excepcional que respeita sua condição especial
de pessoa em desenvolvimento.

E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) 54


Prof. Renan Araujo
14) Na apuração de suposta prática de crime sexual, é lícita a utilização de prova extraída de
gravação telefônica efetivada pelo ofendido, ou por terceiro com a sua anuência, sem o
conhecimento do agressor.
__________
Bons estudos!
Prof. Renan Araujo

E-BOOK de Jurisprudência do STJ para o concurso da PCERJ (2022) 55


Prof. Renan Araujo

Você também pode gostar