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REMOND, René. Uma história presente. In: Por uma história política. 2. ed.

Rio
de Janeiro: Editora FGV, 2003. p. 12-36.

JULIANA SANTOS DE SOUSA1

Dono de uma considerável trajetória intelectual, René Remond (1918-2007),


desenvolveu ao longo de sua vida uma série de atividades e pesquisas ligadas aos
campos de estudo da História Politica, da vida religiosa e do mundo intelectual Francês
na época Contemporânea. Em meio a sua extensa lista de ocupações cabe ressaltar que
além de ter sido um renomado historiador francês, foi também cientista político,
especialista na área de economia política, presidente da Université de Nanterre e da
Fondation Nationale des Sciences Politiques, e professor na Université de Paris-X-
Nanterre e no Institut d’ Études Politiques.

O historiador René Remond desempenhou um papel de grande importância, na


renovação do Campo de estudos da História das Ideias Política, visto que por ser
especialista da área trouxe a essa inúmeras contribuições. Enquanto cientista Político,
participou intensamente tanto da produção de textos de cunho acadêmico e livros que
tratavam sobre questões relacionadas à esfera política e religiosa, quanto da organização
de obras de outros autores que também se dedicavam a mesma área de pesquisa e
atuação. Entre tantas obras importantes, podemos destacar o livro Por uma História
Política. Este foi escrito por um grupo de historiadores e pesquisadores do campo da
História Política e organizado pelo também historiador René Remond. E é justamente
sobre esta obra que dialogaremos no presente trabalho. Trataremos em especial e mais
especificamente sobre o primeiro capitulo do livro que foi intitulado como “Uma
História Presente”. Este se apresenta como uma proposta para analisarmos mesmo que
brevemente as três importantes fases que constituíram o trajeto percorrido pela História
Política até a época contemporânea, a fim de compreendermos como se deu esse
processo, entendermos quais foram as suas causas e possíveis implicações.

Ao dizer que “A História, cujo objeto precípuo é observar as mudanças que


afetam a sociedade, e que tem por missão propor as explicações para elas, não escapa

1
Graduanda do IV bloco do Curso de Licenciatura Plena em História Pela Universidade Estadual do
Piauí/ Campus Professor Possidônio Queiroz/ Oeiras-PI
ela própria a mudança” (Remond, 2003.p.13), o autor deixa evidente que a História que
apresenta as mudanças, as modificações e transformações que aconteceram com os
grupos sociais, e com suas formas de organização, social, cultural, econômica e política
ao longo do tempo, também passou por transformações. Nesse sentido, através da
analise de suas palavras podemos constatar que se a História não é estável, quem a
escreve, nesse caso o historiador, é menos ainda. Cada historiador, por pertencer a seu
próprio tempo, carrega em si características particulares associadas à temporalidade que
esta inserido, assim sendo é certo que o mesmo, trabalha a partir das perspectivas
socioculturais, ideológicas e políticas de seu tempo, de sua época. E é levando esta
perspectiva em consideração, que o historiador Remond nos propõe avaliar as supostas
modas intelectuais das diversas gerações de historiadores que guiaram o desenvolver do
campo disciplinar da História das Ideias Políticas até os dias da contemporaneidade.

Para isso, em um primeiro momento apresenta de forma clara e problematizada


que durante o século XIX esta se tornara um campo de conhecimento promissor e muito
prestigiado pela sociedade intelectual e elitista, principalmente devido à ascensão dos
ideais nacionalistas que eram difundidos e predominantes naquele período. Mas adiante,
explica que, com o advento da Escola dos Annales em meados do século XX, este
próspero momento vivenciado pela História Política entra em declínio e esta passa a ser
desvalorizada e alvo de critica entre muitos historiadores, que ingressam em uma
tentativa de desenvolver uma história que fuja dos padrões estipulados pela
historiografia tradicional, uma História factual e linear, o silenciamento da História
Política ocorreu em prol de uma abertura para os dias de auge da História Econômica e
Social. Em seguida, apresenta a ultima fase, a que compreende o momento em que a
História Política é novamente resgatada pelos pesquisadores, devido à renovação teórica
metodológica do campo de estudos Históricos, a partir de então esta passa por uma
reavaliação que a possibilita ser outra vez valorizada dentro e fora do mundo científico,
mesmo que os historiadores ainda não tenham entendido sua real importância ou
significação.

Embora a História Politica tenha recebido novamente destaque entre as demais


ciências sociais, Romond ainda nos propõe refletir se esta reviravolta na forma de
produzi-la e concebe-la não seria mais uma vez algo momentâneo e passageiro. Para
entendermos isso melhor e o porquê desta reavaliação no campo historiografia da
História Política, o autor procura situar o referido processo em uma noção de
temporalidade, pois de acordo com suas palavras a justificativa para essas mudanças são
encontradas na realidade analisada, e na visão de quem a analisa e toma como objeto de
estudo, ou sendo mais precisamente nas variações que ocorrem nos ideais políticos
ideológicos, e nas concepções próprias do pesquisador (Remond, 2003.p.14). E foi para
as mencionadas variações que o autor destina o encaminhar de sua análise,
problematizando as criticas que foram externadas a Historia política tradicional, e em
seguida o momento de sua renovação, quando passa a ser uma disciplina de extrema
importância no campo Historiográfico.

Com base na definição atribuída a Historia Politica tradicional pelo autor,


torna-se notório que esta além de servir aos interesses do Estado, expressava as relações
de força e poder exaltando as ideologias da classe dominante, se configurava portanto,
em um instrumento de dominação e alienação social. Talvez a melhor explicação para
justificar o interesse dos historiadores em trilhar por esse caminho, fosse justamente
acessibilidade às fontes para suas pesquisas, estas eram encontradas e acessadas com
muita facilidade, inclusive por serem referente ao Estado, para onde se dirigiam todos
os olhos da sociedade. Remond faz ao decorrer do texto um apanhado geral sobre as
criticas direcionada ao ramo da historiografia política, criticas essas que estavam por
sua vez, associadas a uma série de questões sobre a relação entre o mundo político e as
demais esferas da vida social, eram criticas voltadas para a desconstrução desta história
imóvel que não acompanhava as mudanças da sociedade, e que privilegiava somente o
particular, dando visibilidade somente aos grandes homens e não ao coletivo. Mas assim
como esta sociedade se direcionava rumo a transformações, a um novo modo de vida, as
novas gerações de pesquisadores também se direcionavam, mas esses eram em direção a
novas perspectivas para as pesquisas e estudos historiográficos, e é neste cenário que se
configura a renovação teórica e metodológica da História, que em conjunto coma
mudança na percepção dos sujeitos (que passam a ver a política com outros olhos)
também contribui para a renovação da História Politica.

A nova História deixava de dar atenção aos fatos e acontecimentos


momentâneos para se dedicar ao estudo das estruturas de longa duração, as mais
estáveis, o que se mostrava contrario aos objetivos da História Política, e assim essa era
vista como uma História que não abarcava a realidade. Após apresentar algumas das
principais criticas da História Política, o autor segue refletindo sobre o retorno, ou
renascimento deste campo disciplinar, trazendo suas possíveis explicações, como por
exemplo, as transformações que passam a sociedade com o advento e consequências da
Grande Guerra, a expansão ou ampliação do mundo político, do poder, da autonomia
concedidas e/ou atribuídas ao Estado, esse que passa a ser visto de outra maneira tanto
pela História quanto pela própria sociedade, passa a ter maiores responsabilidades para
atender as demandas da vida e opinião pública e privada. São com essas explicações que
René Remond também justifica que esse reaparecimento da História Política não será
apenas uma modinha intelectual passageiro, mas sim um fenômeno duradouro, pois a
política passa a interferir e influenciar toda a sociedade. Saímos então de um momento
em que a História Política não explica nada, para um momento no qual ela explica e é
chamada para resolver toas as questões sociais, a política passa a se relacionar e a
intervir em todas as esferas que constituem a vida social. E um dos aspectos que
propiciou esta mudança na forma de conceber a História Política foi sua ligação às
demais ciências sociais, através dessas, o ramo da historiografia recebeu muitas
contribuições, como por exemplo, novas possibilidades de objetos, problemas, fontes e
instrumentos para suas pesquisas e ensino.

Com base em tudo que foi discutido, podemos reconhecer que a História das
Ideias Políticas é marcada por momentos prosperidade, de valorização, e por momentos
de crises e silenciamento. Nesse sentido independentemente da intencionalidade que
este ramo do conhecimento pretenda alcançar, algo que devemos considerar é que este é
o fruto de uma construção histórica e temporal. O que não devemos permitir é que
desvalorizemos a importância das demais áreas de conhecimento para a explicação da
realidade e retornemos a historiografia tradicional, por ter ocorrido essa renovação na
Historia Politica e ela ter se destacado em relação às demais, pois esta auxilia na
compreensão da sociedade, mas não traz todas as explicações para a sua História no
tempo. E ao mesmo tempo, não podemos negar a importância que a política tem para a
vida do individuo. E daí surge à importância de termos contato com o texto de René
Remond, este termina por se tornar uma espécie de referencia para que possamos
compreender o trajeto da História das Ideias Política até os dias atuais e entendermos
principalmente qual a sua importância para a sociedade e o tempo presente.

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