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DIREITO AMBIENTAL

Para o 5.º Ano de Direito da Universidade Lusíadas de São


Tomé e Príncipe / 2013

O SURGIMENTO DA CONSCIENCIA AMBIENTAL

 A relação entre o Homem e a Natureza passa


necessariamente pelo equacionamento filosófico dessa
relação.
 Há cerca de dez séculos, o Homem exercia sobre a
Natureza um impacto relativamente moderado, que não
punha em causa, em termos substanciais, o equilíbrio
ecológico ou a existência, para as gerações futuras, dos
recursos naturais indispensáveis ao sustento da Espécie
Humana.
 O tempo foi decorrendo, civilizações sucederam outras,
foram efectuadas novas descobertas científicas, e a
intensidade da exploração dos recursos naturais foi
aumentando a um ritmo imparável, com especial ênfase
nos últimos seis séculos.
 A partir do século XV, a Europa enveredou na epopeia
da descoberta de novos horizontes, dando-se início à
exploração massiva dos fabulosos recursos naturais
encontrados nas Américas, em África e na Ásia.
 Na Inglaterra, dá-se a Revolução Industrial, que marca o
início oficial da era da industrialização, e novos
problemas ambientais surgem, derivados
essencialmente da presença de grandes fábricas nos
principais aglomerados urbanos. A população foi
abandonando os campos agrícolas e rumando em
direcção às cidades, na busca incansável de melhores
oportunidades. Surgiram gradualmente os chamados
bairros operários, onde viviam, com as respectivas
famílias, os trabalhadores das unidades fabris. Estes
bairros eram dotados de péssimas condições de higiene

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e salubridade, sendo, consequentemente, a esperança
de vida dos seus habitantes muito reduzidas.
 Emergiu, no contexto histórico do Liberalismo
Económico, o modelo individualista de relacionamento
com a natureza, segundo o qual esta só fazia sentido na
perspectiva de obejecto susceptível de apropriação pelos
particulares, sendo que o ambiente era concebido como
“bem livre e ilimitadamente renovável, disponível a toda
e qualquer forma de consumo dos particulares, que a
intervenção do homem nunca conseguia esgotar”.
 A partir do século XIX, começaram a aparecer os
primeiros movimentos e associações de protecção das
espécies animais e vegetais ou da natureza no seu todo.
 Só com a segunda metade do século XX, depois da 2.ª
Guerra Mundial, é que surgiram os grandes movimentos
mundiais de protecção do ambiente e de defesa da
ecologia, baseando-se numa filosofia em que a protecção
da Natureza deve ser feita em função da própria
Natureza e não apenas enquanto objecto útil ao Homem
e tendo presente o pressuposto que a causa ambiental é
verdadeiramente global. Foram, assim, lançadas as
bases da corrente ecocéntrica, defensora da protecção
do ambiente enquanto tal, independentemente do
proveito que o Homem dela retira.
 Em 1952, na cidade de Londres, capital da Grã-
Bretanha, deu-se o “smog”, designação atribuída a um
dos primeiros grandes desastres ambientais que
preencheram o século XX, provocando pressões elevadas
no Inverno, nevoeiros intensos e prolongados,
acumulação de enormes quantidades de fumo no ar,
causando morte à aproximadamente 1600 pessoas.
 Depois de várias chamadas de atenção da humanidade,
na década de 60, surge a problemática do ambiente,
decorrente da tomada de consciência das proporções
alarmantes que caracterizavam a degradação do meio
ambiente, devido, essencialmente, a três factores: a
urbanização acelerada, a rapidez do crescimento
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económico e a utilização insustentável de novas técnicas
de produção e de novos produtos. Entre os novos
produtos, destaca-se o petróleo, que tem estado
associado, pela negativa, a inúmeras catástrofes
ambientais em diversos pontos do mundo, como
consequência de acidentes com navios petroleiros.
 Em 1968, registaram-se dois marcos que importa reter:
o primeiro foi quando a OUA aprovou a Convenção
Africana sobre a Conservação da Natureza e dos
Recursos naturais, que tem por objectivo assegurar a
conservação, utilização e o desenvolvimento dos solos,
das águas, dos recursos florestais e faunísticos dos
Estados membros, tendo presente os princípios gerais
da conservação da natureza e os interesses das próprias
populações; o segundo foi a realização em França e na
Alemanha, de um enorme movimento de pretexto
estudantil, que ficou conhecido para a história como o
Maio de 68, no qual a problemática ambiental foi um
dos principais temas das reivindicações.

EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO DO AMBIENTE

 Se a vontade de dominar a Natureza é tão antiga quanto


o próprio homem, não se pode negar que a sua
protecção também remonta aos tempos mais antigos.
 Mas foi nos anos 60 do século XX que a protecção do
Ambiente foi catapultada para a ribalta da discussão
política, logo também para o Direito.
 De uma visão puramente antropocêntrica do Direito, nos
últimos anos tem-se passado a uma visão mais
abrangente que inclui o dever de preservação do meio
ambiente, os direitos dos animais, entre outros.
 No ano de 1972 foi realizada, em Estocolmo, Suécia, a I
Conferência Mundial sobre Meio Ambiente, marco inicial

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das reuniões envolvendo representantes de diversos
Estados para o debate sobre a questão ambiental no
mundo.
 Durante os anos 80, a discussão sobre a questão
ambiental frente ao desenvolvimento económico foi
retomada. E, em 1983, a Organização das Nações
Unidas, em Assembleia Geral, indicou a então Primeira-
ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland, para a
presidência da Comissão Mundial sobre o Meio
Ambiente e o Desenvolvimento (CMMAD), criada para
estudar o tema. Esta comissão, apresentou, em 1987,
seu relatório intitulado “Nosso futuro comum”, que
cunhou a expressão desenvolvimento sustentável.
 Em 1992, o Brasil recebeu e realizou a Conferência das
Nações Unidas para o Meio Ambiente e o
Desenvolvimento (CNUMAD), mais conhecida como
ECO-92 ou Rio-92, na qual participaram mais de 150
países. Esta é considerada uma das mais importantes
conferências sobre o assunto, na qual vários
documentos foram produzidos, entre eles a Convenção
da Biodiversidade e a Agenda 21.
 Em Junho de 2012 o Brasil será novamente anfitrião da
ONU, recebendo representantes de todo o planeta para
debater o futuro do Direito Ambiental, em conferência
que vem sendo chamada de "Rio + 20". Trata-se de um
período particularmente crítico para o Brasil, já que
enfrentam nos últimos anos uma série de retrocessos na
área ambiental.

DIREITO AMBIENTAL. CONCEITOS E DEFINIÇÕES.

 O Direito Ambiental pode ser considerado como um


ramo recente do Direito, pois apesar da inevitável
relação entre homem e o meio ambiente, este não tinha
a tutela jurídica necessária para a sua conservação,
afinal o homem mantinha uma visão antropocêntrica

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que o sustentava como o ser principal do planeta terra,
razão pela qual poderia explorar ilimitadamente todos os
recursos naturais.
 Foram após as catástrofes ambientais, a escassez dos
recursos naturais, o crescimento populacional, a
desigualdade social e outros problemas que o homem
atentou para o facto de que a sua existência dependia
da conservação dos recursos naturais, reconheceu
então, que estes são esgotáveis e que se torna
insustentável o desenvolvimento económico e social sem
a protecção do meio ambiente.
 Diante disso, ocorreu a evolução da visão meramente
antropocêntrica para o estágio da preocupação com o
meio ambiente ecologicamente equilibrado para as
presentes e futuras gerações, por isso que as mais
variadas Constituições Políticas regulam a relação entre
homem, desenvolvimento e meio ambiente.
 Ecologia é definida nas leis ambientais, como parte da
biologia que estuda a relação dos seres vivos entre si e a
destes com o espaço que lhes envolve, ou seja, o estudo
da casa dos seres vivos.
 Para efeitos jurídicos, o art. 17.º, da Lei n.º 10 / 99,
conceitua o Ambiente como um conjunto dos sistemas
físicos, químicos, biológicos e suas relações factores
económico, sociais e culturais com efeito directos ou
indirectos, mediato ou imediato, sobre os seres vivos e a
qualidade de vida do homem.
 Esse conceito legal, entretanto, restringe-se ao chamado
ambiente natural, dado a existência de outros tipos de
ambiente, tais como o ambiente artificial (as cidades por
exemplo), o ambiente cultural (as tradições culturais) e o
ambiente do trabalho.
 Direito Ambiental é um ramo do Direito que estuda as
relações jurídicas ambientais, observando a natureza
constitucional, difusa e transindividual dos direitos e
interesses ambientais, buscando a sua protecção e
efectividade.
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 O Direito Ambiental é também a área do conhecimento
jurídico que estuda as interacções do homem com a
natureza e os mecanismos legais para protecção do meio
ambiente. É uma ciência que estabelece relações
intrínsecas e transdisciplinares entre campos diversos,
como antropologia, biologia, ciências sociais,
engenharia, geologia e os princípios fundamentais do
direito internacional, dentre outros.
 Vale dizer que Direito difuso ou transindividual é todo
aquele que protege interesses que vão além dos
individuais e atingem um número indeterminado ou
indeterminável de indivíduos.
 Tais interesses tocam os indivíduos sem,
necessariamente, exigir que os mesmos pertençam a
grupos ou categoria determinada. Trata-se, por isso
mesmo, de um direito difuso, espalhado pela sociedade,
do qual todos são titulares.
 O direito ao meio ambiente saudável é também
considerado como um direito constitucional
fundamental.
 “O direito do meio ambiente é um direito a que
correspondem obrigações, mas, sendo direito de terceira
geração e não um direito social, diferencia-se deste no
momento em que as obrigações que lhe são
correspondentes não são apenas deveres públicos de
fazer (ou deveres do Estado), mas também deveres dos
próprios particulares, titulares do direito”.
 “Esse direito-dever, da categoria direito difuso, difere
ainda dos direitos de gerações anteriores, na medida em
que não nasce de uma relação contratual nem de um
status, como o de ser cidadão de determinado Estado.
Nasce da valorização do ser humano no final de século
XX, através da evolução dos direitos diante da
ampliação da protecção de âmbitos de vivência da
pessoa, anteriormente não protegidos ou não
privilegiados pelo direito”.

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VARIEDADES GERACIONAIS DE DIREITOS:

1ª Geração - Direitos individuais, civis, políticos, penais,


Constitucionais, habeas corpus, direito ao nome e cidadania
e direito ao voto.

2ª Geração – Direitos colectivos, sociais e económicos, ao


trabalho, providência social, ao salário, às férias, décimo
terceiro e demais direitos laborais.

3ª Geração – Direitos transindividuais e difusos, Direito


Ambiental, Direito do Consumidor, Direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado e direito a alimentos.

PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL E POLÍTICA


AMBIENTAL

O Direito Ambiental fundamenta-se em diversos princípios


tais como: acesso equitativo aos recursos naturais,
prevenção, reparação, qualidade, participação popular e
publicidade.

 O princípio do acesso equitativo aos recursos naturais,


os bens ambientais deve ser utilizado de forma a
satisfazer as necessidades comuns de todos os
habitantes da Terra, orientando-se sempre pela
igualdade de oportunidades na sua fruição. Além disso,
devem ser explorados de tal modo que não haja risco de
serem exauridos, resguardando-os para as futuras
gerações.

 O princípio da prevenção ou precaução prescreve que as


normas de direito ambiental devem sempre se orientar
para o facto de que é necessário que o meio ambiente
seja preservado e protegido como património público. A
prevenção aplica-se tanto a situações onde há certeza

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quanto aos riscos de danos ambientais, como às
situações onde existem dúvidas e incertezas.

Assim, se, por exemplo, na permissão ou autorização de


uma obra ou de um novo agrotóxico há incerteza sobre a
existência ou probabilidade de danos à saúde pública ou à
natureza, tal actividade, em observância ao princípio da
precaução, não deverá ser autorizada ou, pelo menos,
deverão ser tomadas medidas preventivas que afastem os
riscos. Enfim, prevenir é agir antecipadamente a fim de evitar
danos graves e irreparáveis ao meio ambiente.

O principal instrumento na aplicação deste princípio é o


Estudo de Impacto Ambiental.

 O princípio da reparação, decorrente do princípio da


prevenção, orienta que aquele que causar lesão a bens
ambientais deve ser responsabilizado por seus actos,
reparando ou indemnizando, de forma adequada, os
danos causados.

 O princípio da qualidade prescreve que as normas de


Direito Ambiental devem se orientar para o facto de que
o meio ambiente deve ter qualidade propícia a vida
saudável e ecologicamente equilibrada.

 O princípio da participação popular, decorre da


necessidade de uma democracia participativa, bem como
do facto de que cuidar do meio ambiente não é tarefa
apenas do Estado, mas de toda a sociedade civil. Assim,
é fundamental um espaço de diálogo e cooperação entre
os diversos actores sociais, seja para a formulação e
execução de uma política e de acções ambientais, seja
para a solução de problemas.

 Por sua vez, o princípio da publicidade ou da informação


decorre do princípio da participação e visa assegurar
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sua eficácia. Assim, toda a informação referente ao meio
ambiente é pública, vale dizer que qualquer cidadão
pode ter acesso a ela. A informação visa garantir ao
cidadão a possibilidade de tomar posições ou intervir em
determinada matéria relacionada com o meio ambiente.

Mais especificamente estes princípios se especializam nas


seguintes vertentes:
I – Acção governamental na manutenção do equilíbrio
ecológico, considerando o meio ambiente como um
património público a ser necessariamente assegurado e
protegido, tendo em vista o uso colectivo;
II – Racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do
ar;
III – Planeamento e fiscalização do uso dos recursos
ambientais;
IV – Protecção dos ecossistemas, com a preservação de áreas
representativas;
V – Controlo e zoneamento das actividades, potencial ou
efectivamente poluidoras;
VI – Incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologia
orientadas para o uso racional e a protecção dos recursos
ambientais;
VII – Acompanhamento do estado da qualidade ambiental;
VIII – Recuperação de áreas degradadas;
IX – Protecção de áreas ameaçadas de degradação;
X – Educação ambiental a todos os níveis do ensino,
inclusive a educação da comunidade, objectivando capacitá-
la para a defesa activa do meio ambiente.

Esses princípios estão consolidados na Constituição da


República Democrática de São Tomé e Príncipe, em que o
Estado Santomense elegeu como um dos objectivos
primordiais, a preservação do equilíbrio harmonioso da
Natureza e do Ambiente, consagrando o Direito ao Ambiente
como um Direito do Homem.

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DIREITO AMBIENTAL E DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL

 Normalmente o Direito Ambiental tenta conciliar a


produtividade, a livre concorrência, a propriedade
privada e a busca do pleno emprego com a preservação e
defesa do meio ambiente.
 O desenvolvimento sustentável é a tentativa de conciliar
produtividade e protecção ambiental atendendo “às
necessidades do presente sem comprometer a
capacidade das gerações futuras atenderem às suas”.
 “Isso implica a superação do modelo jurídico
estruturado sobre uma concepção patrimonialista de
jurisdicização de interesses e a incorporação de novas
concepções de Direito.

BENS AMBIENTAIS

 Os bens jurídicos ocupam um lugar central tanto no


Direito Privado, como no Direito Público. No Direito
Privado, temos os bens existentes no património de
pessoa física ou pessoa jurídica de Direito Privado,
regulados pelo Direito Civil.
 De outro lado, temos os bens públicos que tem como
titulares pessoas jurídicas de Direito Público e que são
regulados pelo Direito Administrativo. Os bens civis
atendem ao interesse privado e os bens públicos
orientam-se pelo interesse público.
 Há espécies de bens, como a vida, que são tutelados
pelo Direito Penal, que é um Direito Público.
 O bem ambiental é aquele de interesse difuso,
indispensável à manutenção da qualidade ambiental.
Sobrepõe-se à natureza jurídica pública ou privada que
um bem possa ter. Os titulares da posse ou propriedade
do bem ambiental devem ser ao mesmo tempo o poder
público e a sociedade civil.

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 Pode-se ter bem privado de interesse difuso e bem
público de interesse difuso.
 “A função ambiental da propriedade obriga todos os
proprietários, sejam eles públicos ou particulares, a
respeitarem as normas ambientais. Na análise da função
ambiental, o que diferencia o regime específico a actuar
sobre uma propriedade não é o sujeito desse direito,
mas o seu objecto.”.
 Quem detém um bem ambiental tem direitos e
obrigações de natureza ambiental, que se não
cumpridos, implicam responsabilidade objectiva ou civil
por danos ambientais.

DAS RESPONSABILIDADES

Responsabilidade Administrativa:
 Sobre os bens ambientais recaem o interesse difuso.
Entretanto os mesmos não deixam de ser tutelados por
normas de Direito Público, especialmente as
administrativas.
 Assim, a responsabilidade administrativa resulta da
infracção de normas administrativas sujeitando-se o
infractor a uma sanção de natureza também
administrativa tais como multa, advertência,
interdição de actividades, suspensão de benefícios,
etc.
 Para fazer valer suas normas, a administração pública
se vale do poder de polícia exercido sobre bens e
actividades que possam afectar a colectividade.
 As sanções administrativas requerem a instauração do
respectivo processo administrativo punitivo,
necessariamente contraditório com oportunidade de
defesa e estrita observância do devido processo legal.

Responsabilidade Criminal:

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 A responsabilidade criminal deriva do cometimento de
crimes ou contravenções, ficando o infractor sujeito a
multa (pena pecuniária) ou perda da liberdade (prisão).
 Só se constitui crime ecológico aquilo que estiver
definido em lei. Não existe crime sem definição legal
anteriormente prevista. Vale dizer que a acção penal
relativa aos crimes ecológicos é de natureza pública e só
pode ser proposta pelo Ministério Público, em
conformidade com o Código de Processo Penal.
 Os crimes ambientais são julgados e punidos, consoante
a previsão e punição previstas na respectiva lei em vigor
no país.

Responsabilidade Civil:
 A responsabilidade civil é aquela que impõe ao infractor
a obrigação de restituir os prejuízos causados pelas
condutas lesivas aos bens ambientais. Pode derivar da
lei (responsabilidade legal) ou do contrato
(responsabilidade contratual).
 Sem prejuízos das sanções administrativas ou penais, o
infractor deve quando previsto em lei ou contrato,
reparar pecuniariamente os danos causados ao meio
ambiente.
 A responsabilidade civil deve ser objectiva, isto é, não é
necessário provar a culpa do agente pela degradação ao
meio ambiente, mas sim o nexo de causalidade entre o
facto ou a conduta e o dano ecológico causado.

MEIOS PROCESSUAIS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL:

Acção Penal Ambiental


 Acção penal ambiental é pública e não condicionada,
sendo necessariamente o autor o Ministério Público.
 O processo segue as normas do Código de Processo
Penal.

Acções Cíveis
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 As acções cíveis em Direito Ambiental são cabíveis na
reparação dos danos causados ao meio ambiente
originados da responsabilidade objectiva.
 A parte legítima para intentar é especificamente aquele
que sofreu prejuízo pela acção ou omissão do infractor.

Acção popular
 Normalmente todo cidadão pode propor acção popular
visando anular actos lesivos ao património e ao meio
ambiente, ao património histórico e cultural, devendo
por isso, essa acção ser regulamentada.

SITUAÇÃO DO DIREITO E AMBIENTAL DE S.TOMÉ


E PRÍNCIIPE

 A questão do Ambiente constitui um dos


problemas centrais da época, sendo a sua
protecção uma preocupação prioritária dos
diversos Governos e Instituições Internacionais
com que São Tomé e Príncipe cooperam.
 Para o nosso país a semelhança de outros países,
o Ambiente representa o bem de toda a
humanidade, dado o seu carácter interdisciplinar
e multissectorial, cujos interesses são colectivos
ou difusos.
 São Tomé e Príncipe vem manifestando a sua
preocupação para com o ambiente a data da
independência, pois, já na Constituição Política de
1990, esta questão foi abordada, embora duma
forma genérica, tendo sido o início das actividades
para a preparação e formulação da Política
Nacional sobre o Meio Ambiente com vista a
obtenção de um Desenvolvimento Nacional
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Sustentado, motivado após a realização da
Conferência das Nações Unidas para o Meio
Ambiente no Rio de Janeiro em 1992.
 Assim, em consonância com a Constituição da
República Democrática de São Tomé e Príncipe, o
Estado Santomense elegeu como um dos
objectivos primordiais, a preservação do equilíbrio
harmonioso da Natureza e do Ambiente.
 A consagração constitucional do Direito ao
Ambiente, fez com que o mesmo seja visto como
um Direito do Homem, pois, em sede de Direitos
Sociais, todos têm direito à habitação e a um
ambiente de vida humana e o dever de o defender
(art. 49.º p.1º), incumbindo ao Estado programar
e executar uma política de habitação inserida em
planos de ordenamento do território ( art. 49.º
p.2º).
 De igual forma, todos têm direito à protecção da
saúde e o dever de a defender (art. 50.º p.1º),
incumbindo ao Estado promover a saúde pública
que tem por objectivo o bem estar físico e mental
das populações e a sua equilibrada inserção no
meio sócio-ecológico em que vivem, de acordo com
o Sistema Nacional de Saúde ( art. 50.º p. 2º).

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LEGISLAÇÃO AMBIENTAL EM VIGOR EM S.TOMÉ
E PRÍNCIPE

Lei de Base do Ambiente, Lei N.º 10/1999,


publicada em 31/12/99 no Diário da República n.º
15, 5º Suplemento

Esta Lei de Base estrutura-se de 67 artigos


distribuídos por 11 capítulos.

CONTEÚDO GERAL: Cria o quadro jurídico/legal da


gestão do ambiente na República
Democrática de São Tomé e Príncipe

IMPORTÂNCIA: A Lei Base do Ambiente reveste-se de


capital importância, por ser nela onde se define as
bases da política de ambiente para o
desenvolvimento sustentável e se estabelece os
princípios que orientam a República Democrática de
S. Tomé e Príncipe, no quadro da Constituição
Política e da Declaração do Rio, sobre Ambiente e
Desenvolvimento, conforme o seu art. 1.º (Objecto).

A Lei nº 10/1999 como mais genérico quadro jurídico-


legal para a conservação da natureza e defesa do
Direito do Ambiente, põe à disposição do cidadão e da
sociedade, os meios processuais de que necessita para
o exercício desse Direito, enunciando como preceito
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basilar, que ‘’ Todos os cidadãos têm direito a um
ambiente humano ecologicamente equilibrado e o
dever de o proteger ‘’ e, que ‘’ Incumbe ao Estado, por
meio de organismos próprios e por apelo a iniciativas
populares e comunitárias, promover a melhoria da
qualidade de vida, individual e colectiva dos cidadãos.

Realçam-se nesta Lei, os princípios do Utilizador –


Pagador, o do Poluidor – Pagador e o da
responsabilidade civil objectiva, relativamente à
obrigação de indemnização independentemente da
culpa, cuja aplicação constituem um enorme avanço
no direito positivo são-tomense em matéria da
protecção e conservação do Ambiente em geral.

Lei da Conservação da Fauna, Flora e Áreas


Protegidas, Lei N.º 11/1999, publicada em
31/12/1999 no Diário da República n.º 15 (5.º
Suplemento)

Estrutura-se em 47 artigos distribuídos por 6


capítulos.

CONTEÚDO GERAL: Adopta o quadro jurídico-legal


da conservação e protecção da fauna, flora e das
áreas protegidas no território da RDSTP.

IMPORTÂNCIA: A Lei da Conservação da Fauna,


Flora e das Áreas Protegidas ocupa um lugar de
destaque no direito positivo são-tomense, já que visa
essencialmente, a conservação das espécies animais,
vegetais e da diversidade biológica, e deve ser
entendida como um conjunto de medidas técnico-
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legais que permitem o desenvolvimento natural do
estado genético das populações animais, vegetais e
comunidade biótica, enquanto património nacional e
da humanidade, bem assim, a sua utilização social e
económica durável.

Lei de Floresta, Lei N.º 5/ 2001, publicada em


31/12/2001 no Diário da República n.º 8.

Estrutura-se em 76 artigos distribuídos por 14


capítulos.

CONTEÚDO GERAL: CRIA O REGIME JURÍDICO DAS


FLORESTAS DE SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE.

IMPORTÂNCIA: A importância da Lei de Florestas


reside no facto da permitir a organizar a
Administração Florestal do País, dotando-a de
mecanismos de controlo, fiscalização do processo de
produção, exploração, transporte e consumo de
madeira para diversas finalidades, prevenindo por
sua vez, a acção devastadora dos que utilizam de
forma irracional os recursos florestais com o
objectivo de se reduzir os excessos verificados no
processo de exploração e aproveitamento da madeira
e outros recursos florestais em São Tomé e Príncipe.

Lei de Pescas e Recurso Haliêutico, Lei Nº 9/2001


publicada em 31/12/2001 no Diário da República
n.º 8
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Estrutura-se de 86 artigos distribuídos por 8
capítulo.

CONTEÚDO GERAL: Adopta o quadro jurídico-legal


para o exercício da Pesca na RDSTP

IMPORTÂNCIA: A Lei de Pesca e Recurso Haliêutico


procede a definição dos princípios gerais da política
de conservação, exploração e gestão dos recursos
haliêuticos e ambiente aquático sob a soberania e
jurisdição de S.Tomé e Príncipe, conforme o seu
artigo 2º (Objecto do Diploma).

Decreto sobre a Extracção de Inertes nas Zonas


Costeiras e Rios, Decreto Nº 35/99, publicado em
31/12/99 no Diário da República nº 12

Este Decreto estrutura-se de 30 artigos distribuídos


por 8 capítulos.

CONTEÚDO GERAL: Estabelece O Regime Jurídico


Sobre a Extracção de Inertes na República
Democrática de São Tomé e Príncipe

IMPORTÂNCIA: Este Decreto concorre na definição


das condições objectivas e permitidas, à extracção de
inertes em todas as zonas costeiras e rios da
República Democrática de São Tomé e Príncipe,
aplicável à todos quantos exercem actividades de
extracção de areias, calcários, recifes e calhaus
nessas zonas, conforme o seu artigo 1.º (Objecto).

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Decreto Relativo à Gestão dos Resíduos Sólidos
Urbanos, Decreto Nº 36/1999, publicado em
30/11/1999 no Diário da República nº 12

O diploma estrutura-se em 43 artigos distribuídos


por 10 capítulos.
CONTEÚDO GERAL: Adopta o quadro jurídico-legal
da deposição, recolha, transporte, triagem, e destino
final a dar aos resíduos sólidos urbanos no território
da RDSTP.

IMPORTÂNCIA: Este diploma representa o meio de


prossecução de uma estratégia que tenha em vista
incentivar a menor produção de resíduos sólidos, o
desenvolvimento de processos tecnológicos que
permitam a sua reciclagem, a eliminação dos não
reciclados em condições de máximo aproveitamento
do seu potencial energético e outros, por um lado e
de adequada protecção do ambiente, por outro lado.

Regulamento sobre o Processo de Avaliação do


Impacto Ambiental, mediante Decreto Nº 37/1999,
publicado em 30/11/1999 no Diário da República
nº 12

O diploma estrutura-se em 20 artigos distribuídos


por 5 capítulos.

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CONTEÚDO GERAL: Adopta o quadro jurídico-legal,
que rege o processo de avaliação do impacto
ambiental no território da RDSTP.

IMPORTÂNCIA: O regulamento constitui uma


inovação total na ordem jurídica são-tomense ao
introduzir nela de forma clara e inequívoca novos
conceitos e regulando uma matéria até então, quase
desconhecida.

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Existem ainda, Lei nº3/91 de 31 de Julho que


estabelece o regime da Propriedade Fundiária e
Decreto-Lei Nº51/91 de 7 de Novembro que define
as regras de utilização e fixa os princípios gerais e
critérios de distribuição das terras que integram o
domínio privado do Estado e destinados à fins
agrícolas.

ORGÃOS MINISTERIAIS RESPONSÁVEIS PELA


EXECUÇÃO DAS POLÍTICAS AMBIENTAIS

 Ministério Dos Recursos Naturais e do Meio


Ambiente;
 Ministério das Obras Públicas, Infra-estruturas e
Urbanismo;
 Ministério da Agricultura, Pescas e
Desenvolvimento Rural;
 Ministério da Saúde;
 Direcção Geral do Ambiente;
 Direcção dos Serviços Geógrafos e Cadastrais;
 Direcção dos Recursos Naturais e Energia;
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 Instituto de Meteorologia;
 Empresa de Água e Energia;
 Direcção de Pecuária;
 Direcção das Florestas;
 Direcção das Pescas;
 ECOFAC (Programa de Conservação e Utilização
Racional dos Ecossistemas florestais da África
Central);
 Direcção da Saúde Pública.

Por: José António da Vera Cruz Bandeira, Jurista e


Professor de Direito Ambiental, para os Finalistas do
5.º Ano de Direito da Universidade Lusíadas de São
Tomé e Príncipe.

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