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Fernanda Monego1, Franciele Maboni2, Agueda Castagna de Vargas3, Ronnie Antunes de Assis4
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Médica Veterinária, Universidade Federal de Santa Maria/ Santa Maria, RS. Cep 97105-900, Av. Roraima, prédio 44, sala 5137. E-
mail: fernandamonego@mail.ufsm.br
2
Graduanda em Medicina Veterinária da UFSM.
3
Médica Veterinária, Professora Adjunta, UFSM.
4
Médico Veterinário, Laboratório de Anaerobiose da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais.
quatro membros, ausência dos reflexos flexores teve acesso foram as fontes potenciais de contami-
anteriores e posteriores e preservação das sensi- nação, uma vez que as aves podem adquirir a toxina
bilidades dolorosas superficial e profunda e tempe- pela ingestão de invertebrados mortos ou larvas
ratura de 39,6ºC. O proprietário do animal relatou presentes na matéria orgânica em decomposição
a existência de um depósito de lixo nas proximida- (HARIHAN; MITCHELL, 1977).
des de sua residência e, que na noite anterior à Relato semelhante foi feito por Farrow et al
observação dos sinais clínicos o animal havia tido (1983) quando isolaram o Clostridium botulinum e
acesso a este local. posteriormente detectaram a toxina tipo C em um
Durante a permanência no HCV o animal cão que após ingerir carcaças de patos apresentou
foi mantido com fluidoterapia, antibioticoterapia e progressiva paralisia de neurônio motor inferior.
cuidados higiênicos. Os sinais de melhora foram O resultado negativo da segunda colheita
observados a partir do sexto dia (alimentou-se e pode ser explicado pela absorção e metabolização
ficou em estação) e a recuperação completa da toxina em sua maior parte, principalmente
ocorreu no nono dia, sendo dado alta ao mesmo. naqueles animais doentes há algum tempo. Deve-
Amostras de sangue foram assepticamente se atentar para o fato de que uma resposta negativa
obtidas sem anticoagulante no dia em que o animal não significa que a doença não tenha ocorrido
foi apresentado à consulta (primeira colheita) e (DUTRA; DÖBEREINER, 1995). Em contra partida,
quatro dias após (segunda colheita), e enviadas em três relatados apresentados por Tjalsma (1990)
ao Laboratório de Bacteriologia da UFSM, para aná- a toxina estava presente nos soros no primeiro e
lise biológica. No laboratório estas amostras foram no terceiro dia de colheita.
centrifugadas durante 10 minutos à temperatura Devido às características da absorção da
ambiente para a obtenção de alíquotas de soro. toxina e da alta sensibilidade à mesma, em relação
Para a verificação da presença de toxina foi ino- ao bioensaio em camundongos, os resultados labo-
culado intraperitonialmente 0,5 ml deste soro em ratoriais são em até mais de 90% dos casos,
dois grupos de camundongos da raça Swiss, linha- negativos para a toxina botulínica quando se utiliza
gem Webster, pesando 18 a 22 gramas. Alíquotas material colhido de animais em quadro de intoxi-
adicionais do soro da primeira colheita foram homo- cação, inclusive experimental (DUTRA; DÖBE-
geneizadas com antitoxinas padrões homólogos de REINER, 1995). Outro método laboratorial que vêm
Clostridium botulinum tipos A-E (NIBSC, WEY- sendo utilizado é o teste de microfixação de com-
BRIDGE, UK) conforme Tammemagy; Grant (1967) plemento, que busca identificar o tipo de toxina pre-
e inoculadas como o procedimento anteriormente sente no material examinado, com auxílio de anti-
descrito. toxinas botulínicas C e D. Segundo Dutra et al.
(1993) este tem se mostrado bem mais sensível
RESULTADOS E DISCUSSAO que o bioensaio.
A ausência da prática de destruir cadáve-
Os camundongos inoculados com soro da res de animais nas propriedades rurais e o signi-
primeira colheita apresentaram paralisia, “cintura ficativo índice de mortalidade causado pelo botu-
de vespa”, e morte 12 a 24 horas após a inoculação. lismo contribui para a intensificação da conta-
Os inoculados com soro da segunda colheita não minação ambiental pelos esporos de Clostridium
manifestaram qualquer alteração, permanecendo botulinum (DUTRA et al, 2005), este fato justifica a
vivos durante um período de observação de 4 dias. provável contaminação do cão pelo lixo presente
Por meio da técnica de soroneutralização em ca- próximo à propriedade.
mundongos, a toxina foi identificada como perten-
cente ao tipo C, sendo detectada somente na COMENTÁRIOS
primeira colheita.
Com base no histórico, sinais clínicos e Diante dos resultados obtidos constatou-
pela técnica de soroneutralização em camun- se que o êxito no diagnóstico laboratorial de botu-
dongos, permitiu-se firmar o diagnóstico de botulis- lismo em caninos pode estar relacionado ao tempo
mo canino. À semelhança desta investigação, re- decorrido entre o início das manifestações clínicas
centemente no país, Nascente et al (2005) des- e a obtenção das amostras.
creveram um caso de botulismo ocasionado pela Pelos aspectos epidemiológicos dos tra-
toxina do tipo C, em um cão com três anos de balhos citados alerta-se para a possibilidade de
idade em Pelotas-RS, Brasil. A ingestão de carcaças ocorrência de botulismo canino principalmente em
de aves mortas ou a água do açude que o animal propriedades onde os animais têm acesso a car-
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