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SÍNDROME DE TOURETTE
SÍNDROME DE TOURETTE
1 Introdução..........................................................................................................6
2 Metodologia.......................................................................................................7
3 Desenvolvimento...............................................................................................8
3.1História............................................................................................................8
3.2 Diagnóstico....................................................................................................8
3.3 Quadro clínico..............................................................................................12
3.4 Tratamento...................................................................................................13
3.5 Associação da ST com outros transtornos..................................................13
3.6 Diferenças entre TOC, TDAH e ST..............................................................14
3.6.1 Transtorno Obsessivo Compulsivo...........................................................14
3.6.2 Transtorno de Deficit de Atenção com Hiperatividade..............................14
3.6.3 Síndrome de Tourette...............................................................................15
3.7 Principais causas da Síndrome de Tourette................................................15
4 Conclusão.......................................................................................................16
5 Referências Bibliográficas..............................................................................17
1 Introdução
A ST é uma síndrome de natureza neuropsiquiátrica que constitui o espectro
dos transtornos de tiques. Os tiques são vocalizações ou movimentos repentinos,
regulares, rápidos, não ritmados e estereotipados. Os tiques são comuns na
infância, e o sexo masculino costuma ser mais afetado do que o feminino, com a
proporção de 2:1. Quando o indivíduo refere múltiplos tiques motores e vocais, os
prognósticos equivalem às particularidades da síndrome de Tourette (DSM-5, 2014).
A ST se estabelece como uma perturbação complexa. Constitui-se como um
distúrbio genético (Loureiro et al. 2005), manifesta múltiplos tiques motores; os
tiques podem variar sua frequência, mas persistem por mais de um ano desde o
início do primeiro tique; o início ocorre antes dos 18 anos de idade; e a perturbação
não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma ou a outra condição médica (DSM-5,
2014).
Acreditou-se, ainda, durante muito tempo, que a ST não se constituísse como
um distúrbio, mas sim como “um jeito meio nervoso de ser” (Hounie e Petribú, 1999),
portanto, o objetivo do presente trabalho é realizar uma revisão literária sobre os
principais aspectos relacionados a ST, descrevendo o percurso histórico do
reconhecimento da síndrome, esclarecendo como se dá seu diagnóstico,
relacionando-a com outras patologias e apresentando propostas de explicação
etiopatogênicas.
2 Metodologia
Trata-se de uma reflexão fundamentada em um estudo de revisão literária,
baseando-se na busca meticulosa por artigos científicos.
A análise retrata uma abordagem crítico-reflexiva de cunho descritivo. Cujo
foco se dá a respeito da importância no conhecimento da ST e seus diversos
aspectos, e ainda, os impactos presentes na vida dos indivíduos que dispõem
a síndrome.
Para a construção do presente estudo se empregaram na busca os termos
“Tourette” ou “ST”, “TOC” e “SGT”. Selecionaram-se artigos originais e revisados
para compor o processo. Vários artigos foram encontrados ao decorrer da busca,
durante a análise foram selecionados os artigos que abordavam a síndrome de
Tourette como parte ou totalidade dos temas centrais, além de seus diversos
aspectos. Excluíram-se os artigos que se limitaram à relatos de casos e aqueles
cujos conteúdos não eram compatíveis à finalidade do estudo.
Alguns artigos não resultantes da pesquisa inicial foram incluídos, em razão
de seu caráter relevante para o desenvolvimento da análise do tema.
3 Desenvolvimento
3.1 História
A patologia conhecida hoje como síndrome de Tourette (ST), foi descrita pela
primeira vez pelo médico francês Jean Marc Gaspard Itard em 1825 (Ferreira, 2011).
Posteriormente, em 1884, esta patologia recebeu o nome de síndrome de Gilles de
la Tourette (ST), proveniente de Georges Albert Edouard Brutus Gilles de la
Tourette, interno de Charcot no Hospital de la Salpêtrière, responsável pelo relato da
patologia como um distúrbio caracterizado por tiques múltiplos, com uso involuntário
ou inapropriado de palavras obscenas (coprolalia) e a repetição involuntária de um
som, palavra ou frase de outrem (ecolalia) (MATTOS e ROSSO. 1995).
Segundo Hounie e Petribú (1999), a ST desenvolve comprometimento
psicossocial, que causa intenso sofrimento aos portadores e seus familiares. Sua
incidência foi considerada baixíssima até pouco tempo, uma justificativa seria em
razão de casos subdiagnosticados (Teixeira et al. 2011), em que muitas vezes, não
se procurava atendimento pela intensidade leve do transtorno.
Atualmente, tem-se como concreto que a ST não se limita apenas a um
distúrbio manifesto através de tiques motores e vocais, mas também é caracterizado
por complexas alterações neurocomportamentais (TEIXEIRA et al. 2011).
3.2 Diagnóstico
Embora a ST venha sido estudada a mais de 100 anos, ainda não foi
esclarecida a causa da doença, a princípio existe um forte indício do fator genético e
fatores neurológicos.
Hounie e Miguel (2012), entendem que para receber esse diagnostico, é
necessária a presença de tiques vocais e motores durante a evolução da doença,
que devem durar pelo menos um ano e ter um impacto importante na vida do
paciente.
O diagnóstico é basicamente clínico baseado nos sinais e sintomas, não
existem marcadores biológicos e nenhum teste laboratorial específico, de acordo
com Santos (2015).
Conforme citado Hounie e Miguel (2012), em alguns casos, os tiques podem
se manifestar secundariamente a uma doença que afete o sistema nervoso central,
como infecções, intoxicações ou efeito de algumas substâncias e outras lesões
identificáveis.
Denominam-se tiques aos movimentos involuntários, paroxísticos, rápidos,
arrítmicos, repetitivos, estereotipados e sem propósito, frequentemente, precedidos
por urgência premonitória, sensações ou desconforto na região afetada (Shprecher
D, Jankovic J. 2009). A urgência premonitória, presente em, aproximadamente, 90%
dos adultos e 37% das crianças, costuma ser temporária, de difícil caracterização e
que alivia ou desaparece com a realização do movimento (LECKMAN J.F, WALKER
D.E, COHEN D.J. 1993; SINGER H.S. 2010).
Os tiques iniciam-se, mais frequentemente, na infância ou na adolescência
podendo ser transitórios ou persistir na idade adulta, quando tendem a se estabilizar.
Em alguns casos, podem remitir completamente (Leckman J.F, Peterson B.S, King
R.A. 2001). A gravidade do quadro é atingida entre os 8 e os 12 anos de idade
(Singer H.S, 2010). É raro o início ocorrer na idade adulta, mas é possível naqueles
geneticamente predispostos, geralmente, desencadeados por exposição a evento
estressante, a drogas ou a agentes infecciosos ou, ainda, se existiram tiques na
infância ou se há presença de história familiar (Robertson M.M, 2000). Por vezes,
podem ser suprimidos voluntariamente por longos períodos, o que pode indicar certo
grau de controle consciente. Quando isto ocorre, resulta em grande tensão
emocional, necessidade irresistível de realizar o movimento e períodos de
exacerbação (SHAPIRO E, SHAPIRO AK. 1986).
De acordo com a fenomenologia, podem ser divididos em motores ou fônicos,
e em simples ou complexos quando comprometem um ou mais agrupamentos
musculares, podendo, ainda, ser discretos ou intensos (Shapiro E, Shapiro AK,
1986; Juncos JL. 2004). Os fônicos são produzidos pela passagem do ar através do
nariz, da boca ou da orofaringe (SHPRECHER D, KURLANR.2002).
De acordo com Jankovic J (1997) e, Muthugovindan D e Singer H ( 2009), os
motores podem ser clônicos ou rápidos e tônicos ou lentos, tiques distônicos.
Os tiques rápidos incluem movimentos, tais como: piscar repetitivo, torcer o
nariz, elevar os ombros, balançar a cabeça, entre outros. Já os lentos manifestam-se
por movimentos de torção ou compressão de um determinado segmento corporal,
produzindo posturas mantidas semelhantes ao blefaroespasmo ou à distonia cervical
(Shprecher D, Kurlan R, 2009). Os tiques motores e fônicos podem persistir durante
todos os estágios do sono. Os tiques motores simples são movimentos repetitivos
como piscar exageradamente ou balançar a cabeça. Os tiques fônicos simples se
manifestam por sons inarticulados como fungar ou pigarrear. Os tiques motores
complexos envolvem padrões sequenciais ou ações coordenadas, que podem se
assemelhar a movimentos com algum propósito, como tocar em objetos várias
vezes, cheirar, pular, fazer gestos obscenos (copropraxia). De acordo com
Shprecher D, Kurlan R. (2009) e Jankovic J. (1997), Os tiques fônicos complexos
têm significado linguístico através de sílabas, palavras ou mesmo frases, geralmente
obscenas (coprolalia) ou lembrando sons emitidos por animais, como o latir, por
exemplo. Pode, ainda, haver palilalia e ecolalia. Os tiques motores podem afetar
qualquer segmento corporal, mas predominam no cefálico, envolvendo as pálpebras
ou partes da face. Podem se espalhar pelo pescoço, ombros, tronco, membros e
pés, como uma aparente migração rostrocaudal, como citado por Leckman JF, et al
(1993) e por Abdo WF (2010).
O tique transitório se manifesta na infância ou adolescência com distúrbios
motores, flutuantes em intensidade, com menos de 12 meses de duração (Haddad
M. 2000. Aproximadamente 24% das crianças apresentarão tique por 1 mês durante
o período escolar (Snider LA, et al. 2002). O tique crônico ocorre tanto na infância
quanto na idade adulta, mas dura mais de 12 meses e envolve não mais que três
grupos musculares. Não flutuam em intensidade. Nestes casos, costuma haver
distúrbios do comportamento associado de acordo com Singer HS (2010) e Juncos
(2004).
Várias outras condições genéticas ou neurodegenerativas podem determinar
tiques, tais como a doença de Wilson, a doença de Huntington ou a
neuroacantocitose. Traumatismo cranioencefálico, AVC, encefalopatia isquêmica,
infecções do SNC e doenças autoimunes também podem estar relacionadas. O uso
crônico de certas medicações tais como neurolépticos, lamotrigina, carbamazepina,
cafeína, cocaína, entre outros, podem, também, causar touretismo (SINGER HS.
2010).
A síndrome de Gilles de la Tourette é uma desordem genética crônica iniciada
na infância ou na adolescência por tiques motores e fônicos, simples ou complexos,
que duram mais de 7 meses ao ano e que, geralmente, estão associados a
comorbidades como déficit de atenção com ou sem hiperatividade, transtorno
obssessivo-compulsivo ou transtorno do controle do impulso. Sua incidência é de,
aproximadamente, 1% (ROBERTSON MM, et al.2009).
Segundo Singer HS (2010) e Pringsheim T. (2008), a etiopatogenia dos
tiques permanece obscura, no entanto, há fortes evidências que apontam para o
envolvimento genético complexo, ainda que o modo de herança seja desconhecido.
O diagnóstico é, habitualmente, clínico sem a necessidade de propedêutica
armada, exceto se progressivos ou se iniciarem na idade adulta. Nesses pacientes,
temos que afastar, por exemplo, a doença de Huntington, a doença de Wilson, a
doença de Parkinson ou, até mesmo, doenças psiquiátricas. Ainda, em relação ao
diagnóstico, os tiques podem não se manifestar durante a consulta, pois a
ansiedade do paciente pode suprimi-los. Filmar estes pacientes sem a presença do
médico costuma ser útil nessas situações (POSTON KL, FRUCHT SJ. 2008).
A disfunção da neurotransmissão dopaminérgica é implicada no processo em
função da boa resposta terapêutica aos neurolépticos, mas outros
neurotransmissores parecem, também, estar envolvidos. Recentes estudos por
imagem têm evidenciado disfunções nos núcleos da base e nos lobos frontais, bem
como alterações nas vias dopaminérgicas (PRINGSHEIM T. 2008).
A diminuição dos tiques pode acontecer quando o indivíduo está concentrado,
emocionalmente equilibrado ou mesmo durante o sono (SINGER HS.2010)
Pringsheim T, et al. (2008) e Juncos JL. (2004), dizem que em certas
situações, torna-se difícil fazer o diagnóstico diferencial com outras hipercinesias,
tais como o mioclono, com a coreia ou mesmo com a distonia. Favorece o
diagnóstico o fato de os tiques poderem ser inibidos voluntariamente e a presença
da urgência premonitória. Os tiques motores complexos devem ser diferenciados
das estereotipias, tipicamente, observadas no autismo, no retardamento mental, na
síndrome de Rett, nas psicoses, na cegueira e na surdez cortical (Mansueto CS,
Keuler DJ. 2005), sendo mais duradouras e menos paroxísticas
(MUTHUGOVINDAN D, SINGER H. 2009).
3.4 Tratamento
Segundo Hounie e Petribú (1999), o tratamento da Síndrome de Tourette
consiste em duas abordagens associadas: o tratamento psicossocial e o
farmacológico. Para dar início ao tratamento deve ser feita uma avaliação dos
tiques, vendo a frequência, intensidade, localização e complexidade e interferência
na vida diária. É necessário analisar e investigar os ambientes em que a pessoa
diagnosticada vive.
Ainda não existe um medicamento para um tratamento curativo, em caso de
medicação os remédios servem para aliviar os sintomas e antes do paciente ser
sujeitado ao tratamento é feito um julgamento criterioso para ver a necessidade da
medicação.
Hounie e Petribú (1999), citam que o tratamento medicamentoso de escolha
para a ST são os antagonistas da dopamina, ou seja, os neurolépticos.
Neuralépticos são usados no tratamento de esquizofrenia, mas também eficientes
para casos de manias e delírios.
Singer e Walkup et al. (1991), Hounie e Petribuú (1999) citado por apenas 60%
dos portadores requerem medicação supressiva de tiques.
O tratamento psicossocial envolve orientações para aqueles que convivem
junto com a pessoa diagnosticada, tanto os pais como familiares, são fornecidas
informações sobre a doença e modos de lidar com o doente.
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